Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal
“Atingimos um recorde absoluto de 5,2 mil milhões de exportações” Pelo oitavo ano consecutivo, o setor da Indústria Têxtil e do Vestuário (ITV) português continua a crescer, o que faz dele um exemplo para o mundo. Num recorde absoluto, as exportações atingiram os 5,2 mil milhões de euros. Apesar de estarmos a viver um momento positivo, Paulo Vaz, diretor-geral da Associação do Têxtil Portugal (ATP) é muito claro. Pela frente há trabalho para fazer e as empresas têm de se diferenciar não pelo preço, mas sim pelos produtos, moda, design, inovação, intensidade de serviço, orientação ao cliente e apostar na internacionalização.
preço. O preço é importante, mas não é o foco, temos de diferenciar os produtos pela moda, design, inovação, intensidade de serviço, orientação ao cliente e mais esforço na internacionalização, participando em feiras e explorando novos mercados, de modo a que este trajeto positivo de crescimento se mantenha.
Sofia Abreu Silva OPINIÃO PÚBLICA: Qual o balanço que podemos fazer do ano passado em relação à Indústria Têxtil e do Vestuário? PAULO VAZ: Os números do ano passado ainda não estão fechados, mas a nossa estimativa aponta para 5,2 mil milhões de exportações, o que é um recorde absoluto em termos de vendas ao exterior deste setor, desde que há registos históricos. O melhor score tinha sido atingido em 2001, mas com o dobro dos trabalhadores e de empresas que hoje temos. Dezasseis anos depois superamos essa meta de forma muito clara e é um ano para celebrarmos. Em 2016, conseguimos antecipar, em quatro anos, a meta prevista no Plano Estratégico para 2020 ao atingirmos os 5 mil milhões de euros. Agora, em 2017, não só confirmamos esse mesmo score, como ainda o alargamos. É o oitavo ano, desde 2009, de permanente
recuperação e a fasquia está, cada vez, mais alta. Esta é a fase mais positiva de sempre, mas o setor não se pode acomodar… Claro. Não se pode achar que o trabalho está feito, porque nunca está. O setor tem de estar, permanentemente, em modernização e em adaptação à realidade do mercado. Deve antecipar tendências para poder beneficiar com isso. Os anos em que sofremos mais, entre 2001 e 2009, foram anos em que fomos apanhados pelo impacto da globalização, pela liberalização do comér-
Falou na questão da rentabilidade, esta é ainda uma indústria de salários baixos… Eu diria que a indústria, de uma maneira geral, foi sempre mais mal paga que os serviços. O que estamos a assistir hoje é a uma alteração de perfil, porque as indústrias vão ter cada vez menos mão-de-obra. Tínhamos muitas indústrias com muita mão de obra intensiva que estão a passar para indústrias de capital intensivo, o que significa que há menos pessoas a trabalhar, mas faz-se mais com menos. Este é um setor que vai ver, progressivamente, as suas remunerações subir, porque a falta de mão de obra determina a cio, pela abertura da Europa a Leste, subida dos salários. pela adoção do euro e, a menos esperada, crise económico-financeira Sente hoje que a moda portuguesa internacional, mas estes sinais esta- é muito acarinhada pelos portuguevam já no horizonte e muitas empre- ses? Hoje, temos hoje múltiplos prosas ou os ignoraram ou gramas na televisão sobre o têxtil, a minimizaram. Apesar de estarmos a moda e a costura... viver um momento bom, de clara re- Há um trabalho estratégico que a cuperação, há um trabalho que ATP lançou, há alguns, que passa ainda está por fazer que é ganhar por recolocar e revalorizar a imagem rentabilidade. O setor tem de ter do têxtil e do vestuário em Portugal. empresas a ganhar mais dinheiro e O setor nem sempre foi bem tratado, a fazer produtos com valor acrescen- muitas vezes pela classe política, tado mais significativo. O futuro é por alguns líderes de opinião e continuar a investir no valor e deixar orientadores de tendências que esde vez, como a maioria das empre- creviam sobre o assunto a partir do sas já o fizeram, a concorrência pelo conforto dos gabinetes da capital e
que nunca puseram os pés numa fábrica. Confundiam esta indústria de ponta, com alta incorporação tecnológica, com empresas de vão de escada. Esse preconceito passou também para alguma comunicação social. Também houve alguns responsáveis associativos, patronais e sindicais, que gravaram a imagem de um setor que parecia que estava sempre em dificuldade e sempre a pedir apoios e subsídios, com baixos salários e pouco atrativo para jovens profissionais e empreendedores. Hoje, felizmente, o discurso político quando quer citar setores que são exemplares falam no têxtil e no calçado. Eu tenho feito périplos, um pouco por todo o mundo, ao ser convidado por universidades, escolas de negócios, associações patronais, feiras industriais e palestras para explicar o case study da recuperação do têxtil e vestuário português. A indústria portuguesa é, então, um modelo? Há um reconhecimento, um pouco por todo o mundo, que esta indústria pode ser um exemplo a ser seguido por muitos países. É um país desenvolvido que teve capacidade para se reindustrializar naquilo que eram as suas indústrias mais tradicionais, pelos drives da inovação, da moda, do design, do serviço. Tudo isso somado tem vindo a promover uma imagem melhor do setor em que a intenção é internamente atrair novos valores e talentos, seja como profissionais e empreendedores; e externamente posicionar-nos superiormente para que o setor possa vender cada vez mais e melhor. »»»»»continua pub