Famalicenses nas seleções de vela, basquetebol e ciclismo Famalicense Rui d’Orey Branco concluiu doutoramento nos EUA e sagrou-se campeão de râguebi
Duas paixões solidificadas em aventura americana Filipe Jesus Houve carimbo famalicense na festa do título de râguebi nos Estados Unidos da América (EUA) na última temporada. Rui d’Orey Branco foi peça fundamental para a vitória do Huns na Major League Rugby e despediu-se da melhor forma de uma aventura em que a componente desportiva andou de braço dado com os deveres académicos. O feito alcançado num país que para muitos está no topo do imaginário foi a pedra de toque de uma experiência enriquecedora a todos os níveis. Além da inesquecível performance desportiva, o famalicense concluiu o doutoramento em medicina veterinária e espera agora, como revelou em exclusivo ao OPINIÃO SPORT, aproveitar este tirocínio em território americano para contribuir para o desenvolvimento do râguebi, bem como do setor agropecuário em Portugal. No entanto, a ligação a estes dois mundos começou bem lá atrás na vida de Rui d’Orey Branco. “Comecei a jogar râguebi aos 15 anos por influência de um professor e de uns familiares que praticavam a modalidade. Logo no primeiro treino percebi que o râguebi é muito mais do que um desporto, pois torna-se único pelas relações que se criam”, começou por referir. A par da paixão pela modalidade despontou ainda o interesse pela medicina veterinária. Sempre disponível para conciliar as duas áreas, Rui d’Orey Branco ingressou na Universidade do Porto e a entrada no CDUP (Centro de Desporto da Universidade do Porto) foi um passo praticamente inevitável. As presenças nas seleções jovens (dos sub-16 até aos sub-20) e a posterior chamada aos treinos da equipa principal portuguesa em plena fase de apuramento para o Campeonato do Mundo 2007 motivaram-no a abrir mais um capítulo na vida. “Percebi que não dava para conciliar as duas vertentes. Se quisesse perseguir o sonho de ir ao Mundial teria de me mudar para Lisboa”, confidenciou. O Grupo Desportivo (GD) Direito recebeu-o de braços abertos e as rotinas alteraram-se: passou a ter dois a três treinos por dia e isso influenciou a dinâmica em termos académicos. “Tinha pouco tempo para estudar e, por isso, tive de criar uma equipa à minha volta para ajudar a suprir as minhas falhas na faculdade”, frisa. Internacional com apenas 20 anos – “num dos dias mais bonitos da minha vida” – Rui
d’Orey Branco foi afetado por alguns problemas físicos e a faculdade ganhou maior protagonismo. Ainda assim, os responsáveis portugueses não lhe perderam o rasto e, recuperado em termos clínicos, continuou a ver incluído o seu nome nas convocatórias. Capitão em equipa de profissionais A vertente académica falou, entretanto, mais alto e o estado do Texas, nos EUA, foi o destino escolhido para completar o doutoramento. “Quando cheguei pensei que seria o fim da minha carreira no râguebi”, admitiu, não deixando esmorecer a paixão pela modalidade: “entretanto, mandei um email para um clube próximo da minha residência e incorporei-me numa equipa na qual joguei a um nível mais baixo do que estava habituado. Foi uma época bem mais rica em termos sociais”. Rui d’Orey Branco não ficou totalmente satisfeito com esta etapa da vida e abraçou novo projeto. “Por gostar de competição e apontar ao máximo que posso, decidi, no ano seguinte, mudar-me para os Huns, uma equipa do meio da tabela da 1ª Divisão”. A chegada coincidiu com a compra do clube por parte de dois investidores, que tinham “o objetivo de criar uma equipa forte no Texas”. Com o estatuto de amador entre uma grande maioria de profissionais, o famalicense foi nomeado capitão de uma equipa orientada por um técnico com bastante cartel na modalidade. As contingências universitárias levaram-no a abdicar da posição de capitão, mas isso não o impediu de erguer o troféu de campeão no final da temporada. “Na final estavam entre 7 a 8 mil pessoas. Infelizmente, não pude jogar porque torci um pé antes desse jogo, mas senti-me parte integrante da vitória”, confessou, vincando ter levado algo na bagagem que fez parte da fórmula de sucesso do Huns: “O GD Direito deu-me compromisso e mentalidade vencedora e transportei isso para a equipa”. À margem do sucesso desportivo – prevê que os EUA se tornem uma das potências do râguebi mundial nos próximos 15/20 anos - a experiência teve ainda um forte cariz social: “estive no estado mais conservador dos EUA, no qual presenciei situações de racismo e xenofobismo. As mentalidades são bem diferentes”, afirma, aplicando uma placagem a ideias pré-concebidas: “o melhor local para viver é mesmo em Portugal”.
Regresso a Portugal para fazer crescer o râguebi … e a agropecuária A marcante passagem pelo râguebi americano ainda levou Rui d’Orey Branco a ponderar “tornar-se profissional de râguebi nos EUA”. Contudo, o regresso a Portugal já tem data marcada. “Este é um ano muito importante para o râguebi português pois vamos jogar para o apuramento para o Mundial do Japão, em 2019”. O jogador assinou pelo GD Direito e espera que o panorama da modalidade sofra um salto qualitativo nos próximos anos: “é preciso mudar mentalidades. Temos de cultivar e educar o público, realizando ações junto das escolas”. Na perspetiva de melhoria, entende que a ida ao Mundial “seria a projeção necessária para a criação de um projeto sólido”. Já a nível profissional, Rui d’Orey Branco irá apostar na agropecuária, manifestando a esperança de “trazer novas ideias para minimizar a atual deficiência de produção no setor”.