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Mário Campos Filho, Fórum Nacional e Siamig
Essa volatilidade do nosso principal produto competidor torna necessária a regulação da participação dos biocombustíveis em nossa matriz energética pela sua característica de ciclos, restrições climáticas, competição com outras culturas, restrições de ambientes de produção, comuns às commodities agrícolas. Estamos no caminho certo. A regulação, que está entrando em seu terceiro ano de implementação, mostra-se robusta e consistente, precisando apenas de pequenos ajustes para que os seus objetivos sejam alcançados e tenham um importante papel na redução de emissões, mitigando as mudanças climáticas que não são mais peças de ficção, mas uma realidade que nos assombra, exigindo soluções imediatas e sem retorno.
O caminho é longo, mas, dessa vez, temos a demanda devidamente direcionada, que nos faz focar no outro lado dessa equação, para atendermos a essas demandas, que exigirão pesados investimentos em todos os processos de produção dos biocombustíveis e do açúcar ao longo das próximas décadas.
Enquanto a demanda de etanol parece estar mais sedimentada, com um horizonte mais previsível em comparação com décadas passadas, o açúcar ainda se mostra inserido em um mercado imperfeito, com todos os elementos que o caracterizam. Possuímos barreiras tarifárias e não tarifárias nos principais mercados consumidores, sendo algumas delas travestidas de certificações ambientais.
Grandes países produtores derramam enormes recursos na forma de subsídios agrícolas, distorcendo a oferta do produto, associado a um mercado em transformação pela busca de uma alimentação saudável e demais mudanças de hábitos alimentares, embora o açúcar ainda seja uma fonte de energia barata e acessível, sustendo os níveis de crescimento da demanda.
Nesse cenário, o Brasil deverá manter sua participação de mercado, assumindo a função de ser o regulador, uma vez que a capacidade de mover a produção entre etanol e açúcar poderá ser um importante aliado para contrabalancear os excessos advindos de climas favoráveis ou de políticas de subsídios em desalinho com os preços de mercado.
O setor de açúcar, que já cresceu no passado a taxas acima de 1,5% ao ano, agora caminha para crescimentos mais modestos, ao redor de 1% ao ano. Para um mercado de 180 milhões de toneladas, é um volume ainda expressivo a ser ofertado de forma contínua. Nos próximos dez anos, o Brasil conquistará uma demanda adicional próxima de 11 milhões de toneladas de açúcar, equivalentes a 80 milhões de toneladas a mais de cana a serem processadas.
As metas do programa RenovaBio visam à redução das emissões de CO2 de nossa matriz de transporte de veículos leves e já está definida para os próximos 10 anos. Essa redução de emissões está lastreada na necessidade da emissão de 95 milhões de CBIOs, em 2031, que serão gerados pela comercialização do biodiesel e principalmente do etanol combustível.
Hoje, a comercialização de todos os tipos de etanol, das diversas fontes de produção, corresponde a 89% das emissões de CBIOs, e, portanto, serão responsáveis pela geração de 84 milhões de CBIOs em 2031.
Prevendo um aumento da participação da produção de etanol de milho dos atuais 15% para 20% do total dos biocombustíveis, ainda precisaremos que 69% dos CBIOs a serem gerados sejam provenientes de etanol de cana.
Será necessária a emissão de 65 milhões de CBIOs provenientes da produção de etanol de cana, que correspondem à produção de 50 milhões de m³. Para atingir essa meta, é exigido um acréscimo de 25 milhões de m³ sobre os volumes de produção atual, proveniente da cana-de-açúcar.
Para suprir a produção adicional de etanol, precisaremos processar 305 milhões de toneladas de cana nos próximos 10 anos. Temos um desafio gigantesco pela frente.
Somadas as necessidades de suprimento do mercado de açúcar e a demanda de etanol combustível originadas pelo programa RenovaBio, será necessário produzir mais 385 milhões de toneladas de cana à nossa produção atual.
Rupturas tecnológicas fazem parte do nosso processo de produção e serão fatores decisivos a contribuir para o crescimento do setor, de forma sustentável.
Os desafios para as áreas agronômicas e industrial estão lançados, e a consistente demanda será um grande incentivo para alcançarmos esses objetivos, o que posiciona, mais uma vez, o setor sucroalcooleiro como um dos pilares para o crescimento da nossa economia, tão fundamental à estabilidade social, além de se consolidar como um importante polo gerador de emprego e renda. n