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Antonio Sergio Alipio
velhos dilemas, novas crises
A crise financeira que balançou o mundo encontrou um Brasil diferente. É verdade. Até porque o setor de ce- lulose também contribuiu para que o país se tornasse me- nos vulnerável às intempéries econômicas do que já foi no passado. A crise pode até estar de saída, mas o cenário ainda é restritivo. Além disso, nesse episódio, há impor- tantes ensinamentos que apontam oportunidades de me- lhoria desafiadoras, tanto para a iniciativa privada quanto para o governo. Quais são os alicerces desse setor no Bra- sil? Como isso contribui para a resistência e a superação desse negócio em momentos de crise? O setor de celulose brasileiro é um caso de sucesso das políticas públicas de longo prazo, que vislumbraram não só um forte elemen- to para equilibrar a balança comercial, mas também uma fórmula de levar o impacto socioambiental e econômico gerado pelo negócio às localidades nas quais estão sedia- das suas empresas, para criar uma cadeia produtiva capaz de transformar positivamente a realidade da região onde atuam.
Desde o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, na década de 50, o setor sempre fez parte das pautas estraté- gicas do governo federal. Assim, sempre gerou resultados que justificassem esse cuidado. Êxito completo não é, pois há um longo caminho a ser trilhado, mas vale um destaque: quantos empreendimentos podem ostentar a ousada relação de 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono (tCO 2 ) de estoque para 300 mil tCO 2 de emissões (base 2007) em suas operações? E esse dado se refere apenas à Veracel, alinhado ao Documento de Posicionamento sobre as Nego- ciações de Mudanças Climáticas e Ações do Governo Bra- sileiro (Aliança Brasileira pelo Clima – Setembro de 2009), no qual se destaca a matriz energética limpa do Brasil e sua contribuição para a concentração de gases causadores do efeito estufa, que é extremamente baixa em relação à maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Nesse contexto, o desmatamento pesa contra o Brasil, e a experiência dos plantios comerciais faz frente a esse desafio com o manejo florestal responsável e a preserva- ção ambiental. Desde quando os portugueses começaram a explorar o pau-brasil na Costa do Descobrimento, não há registro de uma única atividade econômica que tenha in
Antonio Sergio Alipio Presidente da Veracel Celulose
vestido tanto em recuperação da Mata Atlântica quanto o setor de celulose. Somente a Veracel, em proporção de um para um com o plantio comercial, mantém 104 mil hecta- res de área protegida para a preservação ambiental. Des- ses, mais de 3 mil hectares eram pasto, onde hoje há uma vegetação de cerca de um metro de altura, composta por espécies nativas que quase desapareceram. Essa regenera- ção vai unir importantes fragmentos de mata nativa e criar corredores ecológicos. É a cultura do eucalipto que está viabilizando essa transformação. Quem sabe as próximas gerações conhecerão algo que nós mesmos não tivemos a oportunidade de ver? Apesar da demonstração de vitalida- de e potencial do setor nacional, o mercado é quem dita as regras, e a crise colocou as empresas de celulose à prova. Na Europa, o fechamento de unidades produtivas de papel confirmou o auge da crise, freou os projetos de expansão e forçou a redução de investimentos e atividades. Um remé- dio amargo, quando a expectativa era expandir a produção brasileira e gerar mais empregos e impostos.
Diante de medidas tão drásticas, para colocar em ope- ração novas linhas de produção de celulose, é necessá- rio primeiro identificar sinais sólidos de recuperação da economia mundial. Ao entrar no último trimestre do ano, a palavra de ordem ainda é cautela. O que não significa inércia nem pessimismo. Tudo leva a crer que 2010 se- rá diferente. Para citar um fruto profícuo desse cenário, a criação da Fibria abre um novo capítulo na história da indústria brasileira. Por fim, é importante registrar que a crise financeira é um dos itens na agenda do setor de celulose. Apesar do alinhamento com as estratégias de desenvolvimento e das contribuições econômicas e so- cioambientais do negócio, há um espaço importante a ser preenchido. Já se tornou um clichê, mas é necessário in- sistir: mesmo com a evolução apresentada na produção já alcançada pelo país, ainda falta equalizar as políticas públicas e o amparo da legislação; falta dinamizar os pro- cedimentos legais e administrativos relacionados ao setor; falta avançar nas discussões; sair dos debates ideológi- cos e do conflito pouco construtivo para estabelecer um ambiente favorável ao desenvolvimento sustentável ― se não imune ― e fortalecido contra eventuais crises. São as ações que geram os resultados.