4 minute read
Ricardo Berger
centros de P&D a crise
no setor florestal
A preocupação com o meio ambiente e, particularmen- te, com a destruição das matas pode ter uma trégua, em razão da crise financeira mundial. A recessão iniciada no segundo semestre de 2008 jogou o mundo em um clima de recessão econômica, com redução da demanda e queda nos preços dos produtos. Muito embora o governo brasi- leiro tenha empregado medidas para minimizar o efeito da crise na economia nacional, como redução da taxa de juros e de alguns impostos e desenvolvido algumas políticas de incentivo para setores específicos, as análises sobre o com- portamento dos preços e produções evidenciam que a cri- se econômica ainda persiste no país. Reflexos da crise são sentidos nos indicadores do PIB, que vêm mostrando taxas negativas de crescimento, ainda que cada vez menores. Não há como negar a existência de uma crise econômica, e é bastante difícil de prever o seu verdadeiro fim.
Até poucos meses atrás, existia uma grande preocupa- ção em saber se o planeta tinha condições de atender a de- manda mundial de produtos e serviços. Hoje, a pergunta é: para quem vender? Infelizmente, o setor florestal não pas- sou e não está passando incólume a essa crise. Para muitas empresas florestais, a sobrevivência tem sido desafiadora; para outras, nem tanto assim. O segmento de celulose e pa- pel, setor extremamente tecnificado e capitalizado, iniciou o ano esperando uma grande retração de sua demanda nacional e internacional. Dados indicam que a produção de celulose sofreu nos dois primeiros trimestres do ano uma queda de 0,3% na sua produção. As exportações de celulose, no entanto, tiveram um acréscimo de 18%. No setor de papéis, a produção encolheu 3,9%, e as exportações, 7,4%. As expectativas são de que haja uma retomada gradual dos negócios nos meses futuros, notadamente no mercado internacional. Os investimentos deverão continuar nos próximos anos; até 2015, cerca de US$ 20 bilhões. As perspectivas, apesar da crise, são otimistas para o setor. Os efeitos da crise também atingiram o setor de carvão vegetal, devido à menor demanda de ferro, o que tem parcialmente parado ou reduzido a atividade siderúrgica nacional. A menor demanda de carvão provocou a queda dos preços nas principais praças produtoras e consumidoras do produto.
O carvão teve uma queda acentuada de preços, chegan- do a mais de 50%, dependendo da região. O preço, que era de R$ 160 a R$ 190 por metro de carvão, em agosto de 2008, caiu para algo como R$ 75 por metro de carvão, em fevereiro de 2009. O setor siderúrgico ainda não iniciou de forma significativa uma recuperação, para trazer os bons ventos ao setor produtivo de carvão vegetal. O setor de cha- pas de madeira vem enfrentando a crise de forma distinta. Os produtores de madeira compensada vêm, desde meados do ano de 2008, vivenciando uma crise bastante séria.
O setor optou por uma estratégia de vincular a sua pro- dução ao mercado internacional. Dessa forma, com a eclo- são da crise financeira e seus efeitos sobre o setor produti- vo, notadamente nos Estados Unidos, país que absorvia a maior parte da produção brasileira de madeira compensada, fez-se com que o setor tivesse que vivenciar uma de suas maiores crises. Nos últimos meses, a luta não está sendo pa- ra vender, mas, principalmente, para sobreviver. No merca- do interno, o setor está tendo que se defrontar com produtos concorrentes, como as chapas de madeira reconstituídas: MDF, MDP e OSB. Essas empresas, mais tecnificadas e ca- pitalizadas, estão conseguindo suplantar a crise, buscando novos espaços junto ao mercado nacional. Embora sujeitas ao crescimento do país, estão escapando dos mercados internacionais e de uma situação de política cambial, de Real fortalecido frente ao Dólar. Estão cuidadosamente desenvolvendo nichos de mercado e consolidando seus espaços adquiridos. Assim, tornam mais complicado o crescimento do setor de madeira compensada, que poderá ter sua sobrevivência seriamente afetada a curto prazo.
A crise acabou? Provavelmente, não. A curto prazo, podem-se esperar pequenas melhorias no crescimento da economia, porém, para efetivamente encerrá-la, existe um grande desafio, não só para o governo, que está a gerenciar taxas de juro elevadas, déficit publico crescente, dívida pública elevada e um câmbio extremamente valorizado pelo Real. O setor privado vai ter que investir na disciplina operacional e financeira. É uma oportunidade de colocar a casa em ordem, reordenando prioridades e estabelecendo estratégias para um crescimento seguro e sustentável.