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Kátia Abreu
Consolidados os indicadores econômicos do primeiro semestre do ano, é hora de avaliar os reflexos da crise fi- nanceira mundial nos diversos setores da economia bra- sileira. Certamente, todos os segmentos foram atingidos, com abrangência e graus diferenciados. O tempo que cada setor levará para se recuperar também será diferente, de- pendendo das políticas adotadas pelo governo federal para a manutenção do consumo interno e das peculiaridades de cada atividade. No caso da agropecuária, o setor levará um pouco mais de tempo para se recuperar. O setor foi capaz de dar respostas imediatas às demandas que recebeu. Manteve a balança comercial superavitária mesmo em período de crise. Mas é bom lembrar que a nossa produção é anual, o que plantarmos agora trará resultados somente em 2010.
Mas o cenário era, então, muito promissor. A demanda por insumos cresceu mundialmente, e os preços dispara- ram. Os fertilizantes, por exemplo, dobraram de preço entre uma safra e outra. Assim, a demanda por crédito também aumentou. Nesse mesmo período, o mercado mudou. A agroenergia ascendeu com força, o dólar desvalorizou em todas as economias, e as commodities dispararam no mer- cado internacional. Foi o início da crise para o setor. O que era para ser positivo ― alta dos preços ― acabou trazendo dificuldades. Como boa parte da produção é comercializa- da no mercado futuro, as tradings, grandes financiadoras do setor, tiveram que cobrir as margens negociadas nas bolsas, reduzindo a oferta de crédito para o plantio da safra
Presidente da CNA e Senadora da República
2008/09. A crise financeira mundial atingiu o setor nesse momento, agravando ainda mais o cenário. O crédito desa- pareceu. As dívidas alavancadas em dólar trouxeram gran- de endividamento às agroindústrias. O nível tecnológico das lavouras caiu. O clima, por sua vez, castigou os estados do sul do país, reduzindo a safra de grãos brasileira em 10 milhões de toneladas. Essa é a safra da crise. Plantada e colhida com dificuldades, comercializada em período de preços cadentes, mas relativamente equilibrados pelo dó- lar, e com retração das compras externas, à exceção da soja.
A escassez de crédito da crise é temporária, conjuntural, será solucionada quando a confiança no mercado melhorar. A escassez de crédito para o setor agropecuário é estrutural, decorre da ineficiência da política agrícola e de um modelo já ultrapassado. Além disso, a tributação, o risco à garantia do direito de propriedade e os gargalos da logística são pro- blemas crônicos, que minam a competitividade do nosso setor. Tal conjuntura nos faz acreditar que a atividade agro- pecuária levará um pouco mais de tempo para se recuperar. Mas, apesar da crise, a tendência do setor é de crescimento nos próximos anos. O mundo passa por um forte processo de urbanização, o que, inevitavelmente, elevará a demanda por alimentos. Somos a última fronteira agrícola e possuí- mos áreas para o plantio sem precisar desmatar sequer um hectare. Assim, a crise ainda não acabou no campo, mas o cenário melhorou. E o Brasil, entre os países emergentes, sairá na dianteira da recuperação da economia mundial.