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Ricardo Guedes Coelho Lopes
visão estratégica celulose & papel Opiniões competência crise sim, mas não de
Os dois últimos anos, 2008 e 2009, serão recordados por muito tempo, acima de tudo, como lição valiosa a ser utilizada para um futuro melhor. A crise financeira inter- nacional abalou a indústria. No setor de celulose, eu diria que a crise foi muito mais de preço do que de demanda. A excelente posição de competitividade dos produtores nacionais foi fundamental para a preservação e eventual ganho de mercado internacional. É claro que o mercado como um todo, e não só o setor de celulose, ainda tem contas de custos financeiros sendo acertadas, decorrentes de operações não industriais que precisaram ser realiza- das, mas, com sua enorme capacidade de superação, é so- mente uma questão de tempo.
A experiência do Brasil no passado mostra que remédios “amargos” valeram a pena, pois permite que se posicione melhor quando esses ciclos de crise se apresentam. A força e flexibilidade do país têm sido vitais para enfrentar momentos difíceis desde o final de 2008. E agora, no terceiro trimestre de 2009, começa a apresentar os primeiros sinais de recuperação econômica, ainda modestos, sem dúvida, e que não devem nos deixar eufóricos e nem permitir que baixemos a guarda, mas são indicadores de que todos estão no caminho certo e nele devemos seguir. As empresas estão fazendo sua parte, e o Estado, com sua volúpia arrecadadora, poderia fazer mais, pois suas tímidas e pontuais iniciativas de baixar impostos em alguns setores da economia mostraram que os negó- cios se pagam mantendo o motor da economia girando e preservando empregos.
Fomos surpreendidos por alguns países ditos compe- titivos, com fortes leis de mercado, sem histórico de in- terferência do Estado na economia, que adotaram ações, que, no passado, recriminavam: com subsídios a produ- tores e ajuda financeira a setores e empresas das suas re- giões. Essas ações são alvos de críticas de produtores de outras regiões, que se veem prejudicados, pois seus esfor- ços para ganhos de produtividade são atingidos por esses mecanismos de ajuste de mercado.
No setor de celulose, isso também aconteceu nos paí- ses da América do Norte, criando, assim, um artifício de competitividade, que, esperamos, seja removido já em 2010.
Sobre o passado, nada pode ser feito, a não ser tirar lições para futuras crises. Mais crises no futuro? A história mostra que há ciclos em todas as áreas, e na economia e nas organizações não é diferente. O difícil é prever quan- do e de que forma acontecerão. Há como se basear em comportamentos e dados históricos que envolveram as crises que já aconteceram para se tentar projetar quando se dará a próxima. Mais difícil ainda é projetar a mag- nitude delas, o quão grandes podem ser. Mas esse é um processo dinâmico e, ao se estudar os ciclos do passado, nota-se que o intervalo entre “crises” vem diminuindo ao longo tempo, ou seja, é possível que a próxima crise aconteça mais rapidamente em relação aos intervalos das que existiram no passado. É para assustar? Absolutamente não. E os produtores nacionais estão dando mostra disso ao anunciarem grandes projetos de produção de celulose para os próximos 10 a 15 anos. E isso é sinal de confiança e competência.
O setor de celulose brasileiro é e continuará sendo competitivo e tem capacidade de disputar mercado com gigantes mundiais, o que tem feito de forma brilhante e continuará a fazer. Não tenho a menor dúvida.
A crise acabou? Em alguns setores da economia, bra- sileira ou mundial, creio que ainda restam passos a serem dados, ajustes a serem feitos. No setor de celulose, a crise de preços ainda não acabou, pois o setor depende de dois fatores: preço internacional - como toda commodity - e taxa de câmbio, ambos são itens não controláveis pelas empresas. Mas já há sinais de recuperação, pelo menos a curto prazo. A crise de competência nunca atingiu o setor produtor de celulose, assim, só nos resta ser cada dia mais competitivos e eficientes, e, para isso, as empresas brasi- leiras ainda contam com ingredientes importantíssimos: nosso clima, nossa tecnologia e nossa gente. E aí, conve- nhamos, “não tem pra ninguém”!