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painéis crises
sempre existiram e estão à nossa volta
Crises sempre existiram. São oriundas basicamente de medidas, posturas, políticas erradas que descontrolam, de alguma forma, famílias, empresas e países. Neste momento, vivemos uma crise globalizada, que teve sua origem nos Estados Unidos. O efeito mundial é devido à economia americana ser a mais forte e com influência em todos os continentes. Alguns países copiaram esse modelo errado e contribuíram para aumentar a dimensão da crise. A crise das hipotecas, como foi chamada, disparou uma epidemia de inadimplência no setor de financiamento imobiliário nos EUA e teve consequências que se alastraram entre os bancos e o mercado financeiro mundial. Ela teve origem no final dos anos 90 e ficou bastante aparente a partir de 2007, nos EUA. Baixas taxas de juros e grande quantidade disponível de capital nacional e estrangeiro estimularam enormemente o consumo, principalmente no setor imobiliário residencial. Com isso, o preço das casas inflou como uma
Gilson Berneck Presidente da Berneck Painéis e Serrados
bolha.
Entre 1997 e 2006, o preço de uma casa típica americana subiu 127%. Muitos consumidores pegaram a segunda hipoteca em cima de parte das casas que tinham pago, com preços inflados. Tais títulos foram empacotados e revendidos securitizados no mercado de capitais. Aproximadamente 80% das hipotecas americanas emitidas para toma- dores subprime, ou seja, aqueles com cadastro fraco, sem garantias ou renda suficiente, foram feitas com taxas de ju- ros ajustáveis, pós-fixadas. Com o excesso de oferta de residências e inúmeros novos lançamentos, o preço das casas começou a cair por acúmulo de estoque – lei da oferta e da procura. Com o preço dos ativos caindo e as taxas de juros subindo, os compradores não conseguiram mais refinanciar suas dívidas e ficaram inadimplentes. Por consequência, mais casas foram retomadas pelos bancos e mais oferta houve no mercado. E os títulos securitizados ruíram na sua origem. Esse foi o coração da crise. Nos últimos 20 anos, observamos uma verdadeira gastança de forma desmedida, tanto nos EUA como na Comunidade Europeia, com a uni- ficação da região e a elevação dos padrões de vida. Creio que muitos se questionam: de onde vem tanta riqueza?
Com certeza, houve um verdadeiro descompasso entre gastos e moedas devidamente lastreadas, e isso também é reflexo dentro desse momento que estamos vivendo. Penso que não será num intervalo de um ou dois anos que a crise será debelada e uma solução, encontrada. Não existem soluções mágicas. Serão necessários entre cinco e dez anos para que o mundo se ajuste e encontre caminhos de prosperidade. A história nos mostra que ninguém comete erros sem pagar por eles. Nesse caso de mundo globalizado, todos, em um primeiro momento, fomos e seremos mais ou menos afetados. É importante estarmos atentos ao que virá, pois seguramente oportunidades ocorrerão dentro de uma nova ordem mundial. Não pensar, necessariamente, somente em coisas novas, diferentes, mas sim fortalecer e viabilizar onde já somos fortes. Valores fundamentais mais claros e bem estabelecidos para esse novo tempo serão
necessários, mas certamente não poderão se distanciar da ética, da moral, do respeito e dos outros princípios básicos para uma convivência harmoniosa e que possibilitam o desenvolvimento do homem e do mundo.
A crise ainda não acabou. Especificamente o setor de painéis reconstituídos tipo MDP (medium density particleboard), ou painel de partículas de média densidade e MDF/ HDF(medium/high density Fiberboard), ou painel de fibras de média/alta densidade, ainda administra os problemas do excesso de capacidade instalada. Nos últimos dois anos, oito novas linhas entraram em funcionamento, e mais duas estão em andamento neste ano, praticamente duplicando a capacidade de produção de painéis no Brasil. Com o excesso de oferta, o preço caiu aproximadamente 25%, as produções foram reduzidas para acomodar parte dessas novas instalações. Fusões e vendas estão acontecendo entre as empresas do segmento, e o fechamento de linhas obsoletas e de menor rendimentos deverá ocorrer. Novos nichos de mercado estão sendo desenvolvidos para consumir esse excesso. Com os preços mais baixos, produtos serão substi- tuídos, exportações viabilizadas, e para alguns, a crise será superada. Crises sempre existiram e estão à nossa volta.