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Máximo Pacheco
otimismo, mas com cautela
Máximo Pacheco Presidente da International Paper do Brasil
A explosão da pior crise econômica dos últimos 70 anos trouxe mudanças ainda mais surpreendentes e pro- fundas do que a queda de pesos-pesados, como os bancos de investimentos Lehman Brothers e Merrill Lynch. Um ano após a crise, a configuração econômica do mundo está repleta de novidades ― recebidas com boas-vindas por uns, temidas por outros e vistas com ressalvas e certo grau de desconfiança por muitos. A China transformou-se na maior nação exportadora do mundo, superando a Ale- manha e deixando os Estados Unidos em terceiro lugar. Os países emergentes cresceram ainda mais aos olhos de investidores. Brasil, China e Rússia se tornaram credores do FMI. De forma lenta e gradual, países como Alemanha e França se recuperam da crise e já mostram sinais de cres- cimento após meses de recessão. Apesar de funcionarem como uma injeção de ânimo, esses acontecimentos devem ser recebidos com prudência. Se, no geral, o cenário é de recuperação, acredito que é necessário adicionar um ele- mento a todo esse otimismo: a boa e velha cautela. A eco- nomia levará certo tempo para retornar ao patamar ante- rior, e a possibilidade do aumento do desemprego, com o consequente corte de consumo, ainda representa ameaça.
No que diz respeito ao setor de papel e celulose no Brasil, o cenário não é diferente. Dados preliminares de julho indicam sinais de melhora no setor. A produção de celulose cresceu 3,7% em relação a junho, e, no acumu- lado de janeiro a julho de 2009, foi 0,7% superior aos volumes do mesmo período do ano passado. Quanto ao papel, a produção nacional cresceu 3,3% em julho, em comparação ao mês anterior, com destaque para os resul- tados dos segmentos de papéis de embalagem e de papel para imprimir e escrever. No entanto, enfrentamos um pri- meiro trimestre difícil, com alterações no comportamen- to dos segmentos. O mercado doméstico, por exemplo, apresentou uma redução de 3% no consumo de papel não revestido, no primeiro semestre de 2009 em comparação a 2008, e houve aumento de importação em função do escoamento da produção de outros países para a América Latina. No acumulado, a produção ainda não chegou aos patamares de 2008, mas a diferença tem diminuído a cada mês. Nos dois primeiros trimestres, as exportações de papel 9
cresceram. Esse aumento não foi acompanhado pela recei- ta, em função dos preços reduzidos. Entretanto, os resulta- dos devem se mostrar mais positivos nos próximos meses. Vale ressaltar que o superávit da balança do setor de celu- lose e papel foi de US$ 2 bilhões - 12% do resultado total da balança comercial brasileira. Além disso, o fato de o setor de papel ser um dos mais competitivos segmentos da indústria brasileira no mercado internacional também contribui para uma visão otimista dos meses que estão por vir. O Brasil possui importantes diferenciais em relação aos concorrentes globais: 100% da produção nacional de papel têm como matéria-prima árvores provenientes de florestas plantadas e renováveis, além de certificadas por órgãos reconhecidos internacionalmente, como o Cer- flor, homologado pelo Programme for the Endorsement of Forest Certification - PEFC, o que significa que são maneja- das de acordo com os mais rigorosos critérios de sustenta- bilidade. Além disso, em razão de fortes investimentos em P&D, o país se tornou líder no uso de eucalipto e de pínus, principais espécies usadas para a produção de papel. Atual- -mente, essas plantações originam, respectivamente, cerca de 41m³ e 35m³ anuais de madeira por hectare. A alta pro- dutividade garante menor demanda por novas áreas. Como resultado, os espaços cultivados abrangem apenas 0,2% das terras agricultáveis do território brasileiro.
Calcula-se que a conjuntura econômica para os próxi- mos meses seja positiva, e a retomada, em ritmo lento e gradual, continue a acontecer. Mas é importante continuar a agir de modo responsável. Não é possível controlar con- dições externas, mas podemos administrar nossos custos, usar os recursos disponíveis com disciplina e preparar nossas empresas e profissionais para condições complexas e desafiadoras. Independentemente do clima e das con- dições de mercado, algumas lições empresariais devem permanecer, como a ética, a transparência, o respeito às pessoas e o desenvolvimento sustentável. O cumprimento dessas regras é o que torna empresas perenes e resistentes a turbulências. Com a casa arrumada, seguindo as leis da economia e usando o bom senso, fica mais fácil enfrentar a crise. No primeiro ano da eclosão da maior crise das últimas décadas, é bom não se esquecer disso.