Jornal O Ponto - junho de 2004

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01 - Capa - Patrícia e Rafa

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Caminhoneiros são obrigados a tomar drogas para cumprir prazos de entrega Rafael Werkema

PNUD mostra preferência a ditaduras Pesquisa feita durante dois anos em 18 países da América Latina mostra que os latinos estão insatisfeitos com o sistema democrático. O relatório “A Democracia na América Latina - Rumo a uma democracia de cidadãos e cidadãs” entrevistou 19 mil pessoas e 54,7% delas responderam preferir um regime autoriário capaz de resolver os problemas econômicos ao democrático. Segundo o cientista político Carlos Ranulfo o maior problema dos países latinos é a desigualdade social que as ditaduras não conseguem resolver. página 3

Para suportar jornadas de trabalho de até 72 horas consecutivas em um trajeto de 3200 quilômetros, caminhoneiros de todo país estão se dopando para permanecerem acordados durante as viagens. Eles usam o “rebite”, drogas a base de anfetaminas, inibidoras de sono. O caminhoneiro Magno Alves, de 27 anos, diz que se não tomar a droga não consegue cumprir os prazos de entrega. E ainda afirma que o governo, empresários e transportadoras têm conhecimento do uso e do mal causado, mas são indiferentes. No Brasil existem cerca de 1 milhão e 800 mil caminhoneiros, de acordo com dados da Fetcemg, Federação das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais. páginas 12 e 13

Estado não dá subsídio para educação infantil

Mulheres estão fumando mais do que os homens

Das 23 milhões de crianças de zero a seis anos existentes no Brasil, apenas seis milhões estão matriculadas em creches e escolas, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Inep. A falta de políticas públicas é o que compromete a educação dessas crianças.Em Belo Horizonte, o déficit é de 60 mil vagas. página 6

Mesmo o número de fumantes tendo diminuído no Brasil, uma pesquisa feita pela Associação Brasileira Comunitária Para a Prevenção do Abuso de Drogas, Abraço, constatou que as mulheres estão fumando mais. O percentual passou de 18% para 25%. O número total de fumantes no país é de 31 milhões, oito milhões são mulheres. página 10

Há 32 anos, Valdecir Conceição Souza vive dentro da boléia do caminhão e durante 23 usou rebite. Hoje sofre de taquicardia e tem seu sistema nervoso debilitado por causa da droga. Ele reclama das condições em que vivem os caminhoneiros no Brasil e da falta de assistência do governo. “O governo tem que olhar para o caminhoneiro”, cobra. Infoarte: Rafael Werkema

Resistência ao

Informais não têm direitos trabalhistas

Imperialismo

Com o desemprego, trabalhadores vêem na informalidade uma forma de ganhar o sustento, mas ficam sem direitos previstos na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Os governos estadual e municipal deixam de arrecadar com qualquer forma de comércio que não pague impostos. página 5

Fidel Castro em seu último discurso em Havana recebeu mais uma vez o apoio de mais de um milhão de pessoas na Praça da Revolução para refutar as pressões de presidente norte-americano George W. Bush contra a autodeterminação do povo cubano páginas 8 e 9

Preço de ingresso é alto para torcedores [ página 12 ]

BH sedia fórum de Pedagogia em julho [ página 15 ]

Cachaça ganha espaço entre bebidas finas A terceira bebida destilada mais consumida no mundo, está ganhando espaço entre as mais finas. Isso devido a um aumento na divulgação e no controle de qualidade. A Ampaq, Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade, é uma das responsáveis por esse sucesso.Em Minas existem mais de 8.466 alambique. página 16

Sistema de escambo cresce entre brasileiros [ página 4 ]


02 - Opinião - Patrícia

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Editora e diagramadora da página: Patricia Giudice

2 OPINIÃO

O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Foto montagem: João Perdigão

Os vampiros e a catarse humana Tereza Perazza 7º período Há duas semanas veio à tona mais um caso de corrupção no Brasil. A “vampirada” está sugando solta. Um grande cartel formado por oito empresas produtoras de hemoderivados. Falsificavam licitação: trocavam envelopes, fixavam mínimo e máximo, combinavam quem ia ganhar e perder... Uma verdadeira suruba. Esse caso até que já está na mídia há um bom tempo, tendo em vista a grande rotatividade de fatos do mesmo porte “vampirístico”. Teve Waldomiro, teve as contas suíças de Maluf, teve a Ong Ágora, do amigo do Lula, Mauro Dutra. Um caso abafando o outro... Pena que Lula não pode usar a carta de um eminente ataque terrorista toda vez que algo abala teu governo, como faz nosso vizinho lá de cima. Agora, o que faz um sacana? (Ps: uso sacana para não usar malandro, porque malandro virou senso comum e não gera o mesmo impacto; e porque não se pode usar filho da puta). Alguém tão mesquinho e ganancioso que passa por cima de tudo e todos? Essa ânsia de poder vem de onde? Essas características vieram com o “capitalismo selvagem”? Não... Elas criaram o “capitalismo selvagem”. Isso é a gente, esses sacanas somos

Se a polícia é corrupta, de quem é a culpa?

nós. O homem é o seu próprio lobo, como disse, há quase 400 anos, Thomas Hobbes. Está cheio de vampirinhos por aí. A diferença é que não são punidos. Só. Porque desviar bilhões ou colar em uma prova é a mesma coisa. A sacanagem não deve ser medida de forma alguma, porque aí ela recebe limites. Aí você pode ser sacana até aqui com a mamãe e o papai, até ali com o “amigo” e até acolá com um cara que vai te prestar um tal serviço. E por essa lógica, a máfia do vampiro não fez nada de errado. Estava sendo sacana nos limites possíveis de sacanagem que são aceitáveis a toda uma sociedade, representada pelo poder público o qual eles sacanearam. Esse povo tava contando com a máxima de que tudo acaba em pizza no país. Daqui a dois meses a palavra vampiro vai voltar ao seu local de praxe nos contos da Anne Rice. E sabe porque? Porque a gente deixa. Porque vamos sofrendo e gozando, como nos ensina o sacana macaco Simão. Mas não é assim que deve ser. Devemos ter revolta, indignação e ânsia por um novo. Estamos fazendo a história. E nesse momento nossa história é de apatia e gozo. E nem eu e nem você estamos imunes a tal comportamento. E aí? Até quando você agüenta sofrer e gozar?

Paradigmas onipresentes João Perdigão 7º período A falta de mobilização dos movimentos reivindicatórios por uma sociedade mais justa atualiza seu atraso decano a cada dia que uma propaganda de um novo celular ou carro invade os olhos, ouvidos e mentes. Mesmo em Belo Horizonte, uma capital da mídia alternativa, com mais de 40 rádios comunitárias. Todo tipo de campanha que previne a sociedade de seus próprios males implica em um projeto ainda mais eloqüente partindo dos grandes detentores de concessões de mídias. As próprias faculdades com seus cursos de Comunicação (nada Social) contribuem para a apatia vigente almejando formar seus alunos para serem meros biais, datenas e olivettos da vida. Obviamente, os estudantes que interessam-se por uma vertente mais crítica da vida acadêmica conseguem assimilar os conceitos teóricos para ampliar seus horizontes. Porém, será que assimilar um conceito sensato para um herdeiro de uma tradição coronelista não seria nada mais do que acirrar seu cancrado ódio neonazista aos sem-terra? Mais ricos ainda ficam os reacionários que aprendem esta frágil estrutura de comunicação com

professores marxistas e depois vomitam todo seu refugo intelectual em peças apelativas, sexistas e violentas. Enquanto você está lendo este texto, nenhuma decisão está sendo tomada no país para promover a queda das concessões de rádio e TV feitas desde a ditadura até a promulgação da constituição de 1988. Em sua cadeia de rádios e emissoras de televisão no Maranhão, o ex-presidente da república José Sarney não paga nem mesmo os direitos autorais que 30% de outras emissoras brasileiras estão pagando aos artistas. Sarney é o exemplo-mor da desarticulação da oposição e da descredibilidade política da qual o país passa, apoiando seu antigo desafeto, Luís Inácio Lula da Silva. Críticas ao governo vigente são sempre corriqueiras, mas com quase metade do mandato cumprido, Lula não dá privilégio concreto à causa social que tanto prega. As causas das minorias vão sendo deixadas para a próxima vez, sempre. O FMI continua dando palpite na nossa soberania, um governo que era estilingue se transforma em vidraça. E hoje os jovens nascidos depois dos anos de chumbo já puderam ver o tanto que cansa ver a história se repetindo.

Daniel Gomes 2º período

Esperança comercializada Patrícia Giudice 8º período Ainda não se sabe a formula perfeita para o bom jornalismo. Aquele que entretém sem alienar, informa sem impor juízo de valor e educa sem limitar o conhecimento. Em um Brasil de mais de 170 milhões de habitantes a grande maioria não tem acesso nem ao jornalismo fragmentado que circula na tv e rádio. Impresso e Internet, nem se cogita o acesso. A comunicação popular, assídua na época da ditadura militar, ainda é a forma de jornalismo que mais se aproxima do que é necessário em um país que se encontra assolado na pobreza e à mercê da indústria cultural. De caráter abrangente, enriquecedor, informativo e de resistência, ela reúne cidadãos, dá voz ao povo, dribla a pauta da grande imprensa e constrói uma identidade humanística nas pessoas que são envolvidas por ela. Por viver em mundo capitalista, em que o valor da notícia se tornou caro para a maioria da população, a comunicação popular morreu. Um estudo feito na região do Barreiro em Belo Horizonte mostrou como a fórmula ainda vigente não está dando certo. Cultura se transforma em produto, concursos de beleza são atrativos financeiros para um jornal que se denomina popular, reportagens se decodificam em publicidades explicitamente partidárias. A esperança de que este tipo de comunicação ain-

da resistisse se desfez e deu lugar a uma melancolia e questões do tipo: quando o mercado, o Estado, vai aceitar cidadãos críticos, que lutam pelos seus direitos sem medo de serem repreendidos? Não há espaço hoje para jornais feitos pela comunidade, que denuncia os governos, o sistema, a própria sociedade e as multinacionais empregadoras destes mesmos cidadãos. As pessoas marginalizadas estão sem voz, sem o mecanismo antes existente em que ele podia desabafar. Estão sem ler a poesia que o outro do bairro vizinho fez, a música que o desconhecido compôs, a notícia que amanhã poderá fazêlo sofrer menos ao ir para o trabalho em um ônibus lotado ou procurar um posto de saúde à beira da morte. O cidadão não é mais cidadão. Transformouse em consumidor, aquele que toma Coca-cola, usa Benetton, acessa o New York Times pela Globo.com, assina a Veja e a Folha de São Paulo (em Minas Gerais), vai a um restaurante alemão, toma cerveja aguardando que a mulher da propaganda caia aos seus pés, e o pior, continua achando que felicidade é sinônimo de ganhar na loteria e se emburrece cada vez mais. Quem desfruta excludente vício, não existe, não é mais cidadão. E a forma mais justa encontrada foi disseminada por estas mesmas pessoas que não fazem nada além de consumir. E os “menos favorecidos” continuam à margem de toda a situação social sem poder, ao menos, falar.

A grande farsa do Dia D Mariana Alves 4º período Seis de junho, domingo, a mídia mundial voltou os holofotes para a comemoração do Dia D, na França. Esse mesmo dia em 1944 teria representado o início da reaçào à Alemanha Nazista, o que na verdade significa uma grande mentira. O fato é que esse dia não poderia marcar a reação ao nazismo, porque isso já vinha acontecendo, e o protagonista dessa luta era a União Soviética. A hipocrisia da comemoração solene estabelece o “sucesso” de mais uma das manobras norte-americanas para efetuar, numa visão maniqueísta do mundo, o seu lugar no altar. Na realidade histórica a URSS já estava em combate mortal contra o nazismo há muito tempo, mas para o governo dos EUA a necessidade de “libertar a Alemanha e o planeta” ia estrategicamente começar no tal Dia D. Então será mesmo que o Dia D foi o dia mais importante do começo da derrota nazista? Ou foi a entrada dos Estados Unidos na Guerra que já tinha começado? A resposta está em fatores históricos, como por exemplo, o “Cerco a Stalingrado”, que foi a primeira vitória dos sovietes contra os nazistas, antes mesmo dos EUA pensar em expulsá-los do território francês. Mas para um país que almejava ser o grande império mundial, era ne-

cessária a contribuição do que era a mais forte divisão entre o bem e mal. A história capitalista demonstra seu círculo vicioso na manipulação para sustentar seus fracos ideais, que aparecem e desaparecem, conforme o momento histórico. Mas por que a comemoração permanece até hoje? Imagino que pelo mesmo motivo que Cuba até hoje sofre com as mentiras que os Estados Unidos insistem em manter e renovar. Retomando para as falsidades vinculadas pelo representante de Estado norte-americano, o Senhor Bush, que esmaga desde Cuba, Iraque e Palestina. Sem esquecer de todo o seu quintal na América Latina, em que financiou as Diatduras do Chile, Brasil e Argentina. E ainda, para não deixar no passado, o recente golpe ao governo popular da Venezuela, Hugo Chaves. A tentativa dos Estados Unidos em ser o verdadeiro xerife da humanidade, mostra que seu alimento principal é a corrupção dos chefes de outras nações, e a grande farsa até mesmo de fatos históricos. Mas se não fosse os EUA quem seria? Ao certo, se tivessemos nesta sociedade seria outro, e com os mesmos suportes. Portanto, é notório que os pilares desse império foi construído em cima de massacre, sangue, genocídio, alienação, injustiças, hipocrisias, farsa e, para aumentar ainda mais meu dicionário, outro termo:oportunismo.

Você confia na polícia? Você se sente confortável na presença da polícia? Você acha que ela age com a violência necessária? Se você respondeu não a essas três questões, comece a pensar mais profundamente sobre o assunto e tente rever seus conceitos. Não é de hoje, a mídia retrata dia após dia, o comportamento violento e corrupto das corporações policiais no Brasil. Todo mês, há um bombardeio de reportagens, sejam elas de mídia impressa ou televisiva, acusando a polícia de abuso de poder, maus-tratos e violência excessiva. Comparações absolutamente descontextualizadas são a base dessas reportagens. Em recente matéria de capa de uma revista de circulação nacional, a base de comparação para demonstrar a ineficácia da polícia brasileira foi a dos Estados Unidos. Segundo a reportagem, a cada morte em ações policiais americanas, a polícia brasileira acumula quatro. Ora, como comparar números absolutos se eles são relativos? Segundo o sociólogo e pesquisador da Fundação João Pinheiro, Eduardo Batitucci, com a preparação da polícia dos Estados Unidos, um oficial americano morreria em aproximadamente três (!) dias no Brasil. É fácil perceber então como a polícia age da forma como a sociedade anseia. Se a polícia brasileira é violenta, é por causa da demanda da sociedade, e o policial faz parte da sociedade. Que jogue a primeira pedra quem nunca desejou a desgraça dos que são agentes da barbárie. Além desse fator, há outros agravantes que contribuem para a ineficácia da polícia: a estrutura da profissão. Ainda segundo Batitucci, o policial americano ganha uma média de R$ 10 mil por mês. O policial brasileiro, quando muito, ganha R$ 1.500 ao mês. Com que condição um cidadão que tem como função manter a ordem social, inclusive com o uso da violência, pode desempenhar bem seu papel? A profissão de policial guarda um alto grau de periculosidade, devido á natureza das ações. O policial mal preparado e mal pago vai cometer falhas, agindo aquém do que se espera dele. Se ao menos o jornalismo que se diz de qualidade procurasse mostrar que a própria sociedade é culpada por aquilo que ela vê na mídia, talvez não estivéssemos às voltas com uma polícia com a qual supostamente não podemos contar. Com matérias que apenas degradam a civilidade de nosso país, depoimentos soltos de casos que são exceções, envolvendo em sua maioria pessoas pobres (assim como os próprios policiais, que são pobres também), a mídia perpetua mais uma doença social sem nenhum compromisso com a verdade.

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Coordenação Editorial: Profª.Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) e Prof. Leovegildo P. Leal (Redação Modelo) Monitoras do Jornalismo Impresso: Patrícia Giudice, Sinária Ferreira e Isadora Troncoso Doehler Monitor da Redação Modelo: Renato Torres

Monitores da Produção Gráfica: Rafael Werkema e Marcelo Bruzzi Projeto Gráfico: Prof. José Augusto da Silveira Filho Tiragem desta edição: 5000 exemplares Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127 e-mail: oponto@fch.fumec.br

Centro Universitário Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro BH/MG Prof. Eugênio Frederico Macedo Parizzi Presidente do Conselho Curador Profª. Divina S. Lara Vivas Reitora do Centro Universitário Fumec

Prof. Amâncio F. Caixeta Diretor Geral da FCH/Fumec Profª. Audineta Alves de Carvalho Diretora de Ensino Prof. Benjamin Alves Rabello Filho Diretor Administrativo Prof. Alexandre Freire Coordenador do Curso de Comunicação Social


03 - Política - Cleyton

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Editor e diagramador da página: Cleyton Ferreira

POLÍTICA 3 Latinos querem regime autoritário O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Pesquisa da ONU com 19 mil cidadãos da América Latina mostra descrença com a democracia Déborah Arduini e Gabrielle Costa 4º Período O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançou este ano o relatório “A Democracia na América Latina - Rumo a uma Democracia de cidadãos e cidadãs”, que afirma a insatisfação da população da América Latina com o sistema democrático. A pesquisa mostra que 54,7% dos latino-americanos trocariam a democracia por um regime autoritário se ele fosse capaz de resolver os problemas econômicos. A pesquisa foi feita por dois anos, em 18 países, com cerca de 19 mil cidadãos latinos. Para o cientista político Carlos Ranulfo, representante do Departamento de Ciências Políticas da UFMG, a ditadura não resolve os problemas de ordem econômica, nem de desigualdade social e muito menos a pobreza. Segundo ele, um dos grandes problemas dos países latinos democratas é a desigualdade social. De acordo com Ranulfo, as pessoas que têm poucos recursos ou que são marginalizadas não podem aproveitar da liberdade de organização que a democracia proporciona para buscarem os seus interesse, pois al-

gumas vezes nem conseguem se mobilizar. “Se a desigualdade for menor, que é o caso da Europa e dos Estado Unidos, as pessoas têm mais possibilidades de disputarem as coisas na democracia”, comenta. Golpes Ranulfo acredita que a democracia latina ainda é muito jovem. “A maioria dos países só agora está começando a ter uma democracia estável. Eles tinham um período de democracia, depois tinham uma ditadura”, diz. Na análise do sociólogo Décio Valadares, professor de sociologia da Fumec, o continente latino ainda correria um risco de cair numa ditadura. “A América Latina não está vacinada contra golpes”, comenta. Já Ranulfo acha que o problema seria outro. “Eu acho que o risco hoje não é a ditadura, mas sim que as democracias tenham muitos problemas ou então se tornem menos democráticas”, diz. O cientista político dá como exemplo o Peru, quando Fujimori fechou o congresso, controlava a imprensa, ameaçava partidos políticos e depois quando disputou eleição e ganhou apoiado pelo povo. “A população achava que um líder forte resolveria o problema, um grande engano”, relata. No re-

Dados do Brasil são incoerentes no relatório do PNUD

Votando a favor da ditadura 54,7% trocariam a democracia pelo autoritarismo

58,1% acham que o presidente tem poder para quebrar as leis

Pesquisa feita em 18 países da América Latina,com 19 mil pessoas FONTE: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-ONU)

latório, 58,1% dos latino-americanos entrevistados concordaram que o presidente possa ignorar as leis. Para 64,7% dos entrevistados, os governantes não cumprem o que prometem porque mentem para ganhar as eleições. Apoio democrático O documento concluiu que os democratas, embora sejam em maior proporção na Améri-

ca Latina (43%), não são a maioria: há 30,5% de ambivalentes e 26,5% de não-democratas. Os democratas são os que mostraram uma atitude permanentemente positiva em relação à democracia nos três aspectos apurados: apoio às instituições representativas, apoio à democracia como sistema de governo e apoio a limitações ao poder do presidente. Os ambivalentes apóiam institui-

ções como o Congresso e os partidos, mas são favoráveis à centralização do poder no presidente, que é considerado acima das leis. Os não-democratas, por fim, mostram-se contrários aos preceitos democráticos nos três aspectos pesquisados e são os que mais concordam com frases como “não importa se um governo é autoritário, desde que ele resolva os problemas”.

Dívida de Minas é de R$150 milhões

O Brasil se encontra em 15º lugar no nível da adesão de sua população aos princípios democráticos, no relatório do PNUD. Porém, se destacou como primeiro lugar na evolução do processo eleitoral e no acesso pelo voto a cargos públicos. Para Carlos Ranulfo, cientista político e representante do Departamento de Ciências Política da UFMG, o resultado é um pouco paradoxal, pois foi feito em 2002, época em que a população estava com grandes expectativas em relação à democracia no Brasil. O país encontrava-se em ano eleitoral e, segundo ele, a população estava com uma grande perspectiva de vitória do Lula. De acordo com as informações retiradas do site do PNUD (www.pnud.org.br), Maristela Baioni, analista de projetos do programa, afirma que “o documento divulgado serve de alerta para a sociedade brasileira”. Segundo ela, é necessário melhorar o debate no país com o objetivo de sair de uma democracia eleitoral e chegar à uma democracia de cidadania.

O que são os precatórios

Lima Sander

Ludmila Rodrigues, Lina Sander e Thatyane Ferreira 6º Período O Estado de Minas Gerais deve, atualmente, algo em torno de R$150 milhões de reais em precatórios. A dívida foi contraída pelo não pagamento dos créditos trabalhistas de exfuncionários e de empresas prestadoras de serviços, os chamados precatórios. Para que possam receber a dívida é necessário abrir um processo, que após ser analisado por um juiz do Tribunal Regional do Trabalho, vai passar a ser chamado de precatório. Porém, somente até o ano de 1993, o pagamento referente aos débitos trabalhistas por parte do governo mineiro era efetuado regulamente. Com a implantação do Plano Real em junho de 1994, e o controle da inflação, que che-

gava a 1500% ao ano, os precatórios emitidos já não sofriam diminuição de seus valores. Após o reajuste da dívida com juros e correção, os valores subiram muito, momento no qual o Estado cessou o pagamento de seus precatórios. Segundo a juíza de conciliação, Ângela Castilho de Souza Rogedo, desde início de 1995 que o estado de Minas Gerais simplesmente parou de pagar as dívidas. “Todas as medidas contribuíram para o acúmulo de precatórios pendentes de pagamento, gerando protestos contínuos por parte dos advogados e reclamantes, que começaram a desacreditar nas decisões do Judiciário, uma vez que não havia mecanismos suficientemente fortes para pressionar o governo de Minas Gerais a quitar suas dívidas com os credores”, explicou a juíza.

nº de precatórios

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Gráfico do número de precatórios pagos após o Plano o Real

3600 2700

800 0

tempo

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Maio/95 Maio/2000 Maio/2004

Precatório é um documento que representa uma dívida líquida e certa, originária de uma ação que gerou uma condenação da União. Nele, estarão informações como: o motivo da reclamação que resultou no crédito, a data em que foi analisado pelo juiz, a discriminação do valor total devido e a assinatura do juiz que a expediu. Após todos esses trâmites, uma audiência entre o juiz conciliador e a parte credora é marcada para que o valor da dívida seja recalculado. O novo valor estará adicionado de juros e correção monetária. Assim que a sentença contendo o valor atual for assinada pelo juiz, ela é encaminhada ao presidente do Tribunal de Justiça, que solicitará o pagamento ao órgão devedor. A solicitação deve ser feita até junho para que o ente devedor possa incluir a dívida no orçamento do ano seguinte. Ludmila Rodrigues

Juízo Auxiliar de Conciliação agiliza o pagamento de antigas dívidas públicas Ludmila Rodrigues, Lina Sander e Thatyane Ferreira 6º Período Na tentativa de resolver o problema dos precatórios, o Tribunal Regional do Trabalho, após longas negociações com a Ordem dos Advogados do Brasil e a Procuradoria do Estado de Minas Gerais, resolveu criar em março de 2000, o Juízo Auxiliar de Conciliação em Precatórios. Este juízo teria como função organizar em ordem cronológica todas as dívidas pendentes e, por meio de uma negociação entre as partes (no caso, o Estado e o credor), a precatória seria quitada. Para que isso acontecesse, o Estado teria que concordar em disponibilizar um certo valor por mês, para a quitação das dívidas. Após um acordo com o TRT, o estado concordou em disponibilizar R$2.5 milhões por mês.

Segundo a juíza Ângela Castilho, na época em que foi criado o juízo, eram mais de cinco mil processos sem solução e alguns aguardavam há dez anos para receber seus créditos. Para ela, a criação do Juízo permitiu a resolução rápida de antigas dívidas à população. “Em menos de três anos de funcionamento, o juízo conciliador solucionou quase 5 mil processos e a expectativa agora é de zerar todos ainda pendentes. A grande preocupação é ressarcir os valores aos credores”, explica a juiza. Central de Menor Valor Também foi criada uma central conciliadora para precatórias de dívidas de baixo valor. O juiz e coordenador da Central, Raimundo Messias Júnior, diz que é considerado de menor valor os precatórios que envolvem até 30 salários

mínimos para débitos municipais e até 40 salários mínimos para precatórios estaduais. “Desde que foi criada em 2003, a central decidiu dar prioridade para negociações com dívidas de natureza alimentar, como ex-funcionários”, completa o juiz. Mais de 300 credores já receberam, através da Central de Menor Valor, os débitos de precatórios pagos pelo Estado e município. A fila envolve mais de 3,5 mil processos a pagar e um montante de mais de R$12 milhões. “Somente após a iniciativa do TRT em criar as centrais que as dívidas voltaram a ser pagas pelo governo. Caso não fossem criadas, os precatórios estariam acumulados até hoje”, comenta a técnica judiciária e membro da assessoria de precatórios, Patrícia Calábria. O Estado disponibiliza R$500 mil à Central de Pequenos Va-

lores, e Belo Horizonte repassa R$100 mil. Pagamento Em 2001, as análises dos cálculos da dívida se tornaram mais rígidas, e muitos erros foram encontrados. Esses valores eram corrigidos antes da audiência de negociação, que serve apenas para o juiz explicar os cálculos usados para chegar no valor do crédito atual. Após a audiência, o credor pode resgatar o valor da dívida em 48 horas, em qualquer agência bancária autorizada. A lei determina que o pagamento seja previsto em orçamento público, para que seja feita a quitação da dívida no ano seguinte à sentença proferida pelo Juízo Auxiliar de Conciliação. A não quitação desses débitos poderá resultar em pedidos de intervenção nos estados ou nos municípios.

Ângela Castilho fala sobre a desinformação dos credores

Credores desconhecem lei sobre pagamentos estaduais Dentre vários processos julgados pelo Juízo de Conciliação de Precatórios, existem vários casos em que a maioria dos credores desconhecem do que trata um precatório. Grande parte dos credores sabe que possue dívidas a receber, mas não entende o lado funcional da tramitação. A juíza da Central de Conciliação, Ângela de Souza Castilho Rogedo, conta que muitos credores chegam à audiência e não

entendem a maioria dos termos utilizados e, quase sempre, desconfiam de que os cálculos feitos estão inadequados. “Quando isso acontece, sugerimos ao credor a remarcação de sua audiência por um prazo de no máximo uma semana, para que ele retorne acompanhado de um advogado ou um contabilista de sua confiança. Assim, os esclarecimentos serão prestados e ele não se sentirá prejudicado na negociação”, afirma a juiza.


04 - Economia - Carlos Conti

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Editor e diagramador da página: Carlos Conti

4 ECONOMIA Comércio adota escambo na crise

O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

A falta de empregos e a alta da inflação faz crescer o sistema de escambo na economia brasileira Agnus Morais

Solange Leal 6º período Quinhentos anos depois do descobrimento do Brasil, a mais antiga das práticas comerciais, o escambo, volta a ganhar força no mercado brasileiro. De acordo com a Associação Internacional de Reciprocidade Comercial, a troca de produtos e serviços movimenta informalmente no país cerca de R$ 800 milhões. E pelas estimativas deste instituto, a tendência de expansão do segmento de permuta é ainda maior: o potencial na América Latina é de 10% ao ano. Em Minas Gerais não há estatísticas, mas o escambo se expande consideravelmente em todo Estado. Na região central de Belo Horizonte, mais precisamente na Esquina dos Aflitos, como é conhecido o encontro da avenida Olegário Maciel com rua dos Caetés, cerca de 20 pessoas oferecem diariamente serviços e produtos usados, que vão desde roupas a câmeras antigas, aparelhos telefônicos, peças para carro, fogões, geladeiras, dentre outros. As mercadorias invadem as calçadas e tudo pode ser negociado. Bernardino Oliveira dos Santos, de Itaúna, interior de Minas, trabalha todos os dias, de 6 hs às 19h, mas diz que seu lucro é muito pouco. “Isto aqui é só porque estou desempregado, não dá quase retorno nenhum”, lamenta. Já José Ferreira diz que é uma questão de sorte.“Veio um rapaz aqui com uma bicicleta velha precisando de um som. Nós

trocamos e ninguém gastou nada”, conta. Silvana Araújo, economista e consultora técnica da Federação do Comércio de Minas Gerais, conceitua escambo como uma forma de economia destinada a produzir o bem estar coletivo e não a acumulação de riqueza. É um conceito difundido mundialmente que se sustenta na idéia da solidariedade. Silvana explica ainda que o crescimento do escambo é uma questão de sobrevivência devido à falta de alternativas dentro do mercado formal. “É um mercado marginal que vai se fortificando em cima de uma realidade bastante cruel. As pessoas buscam um incremento a mais para sua renda, que está totalmente desfacelada por uma situação macroeconômica diversa para o trabalhador”. Alavaisa de Araújo, telefonista, faz uso do subsídio da empresa onde trabalha para realizar trocas em sacolão, padarias e açougues. Ela diz que utiliza esta forma de comércio porque é uma opção para adquirir os produtos que precisa. “Eu sempre faço contas de tudo que vou comprar e dos lugares que aceitam vales-transporte e vales-refeição. Costumo trocar porque diminui meus gastos”, afirma. A Argentina foi precursora desta nova tendência comercial. Mas o primeiro clube de troca surgiu em 1995, durante a crise financeira mexicana. No Brasil, chamado de RGES (Rede Global de Escambo Solidário), já somam 800 grupos.

Internet e boletins agilizam sistema de trocas na capital Ao contrário da feira que promove as trocas de forma pontual, ainda que freqüentemente, o boletim e o site têm a função de permitir as trocas de forma ininterrupta, informa Paloma Parentoni, presidente do Grupo de Troca em Belo Horizonte. Ela explica que ambos conterão os nomes, os contatos, as ofertas de produtos, serviços e outras informações pertinentes ao grupo de trocas, funcionando mesmo como um catálogo acessível a qualquer hora.

Para Paloma, a diferença entre eles é que o boletim, sendo impresso, é uma alternativa eficiente para aqueles que não têm acesso à internet. A presidente do grupo ressalta que “em tempo de crescimento de grandes shoppings para a classe alta, a classe baixa tem outras alternativas”. Ela conclui informando que “o site está em processo de criação e acreditamos que até o fim de abril ele estará no ar, o que possibilitará o feitio do nosso boletim”.

Centro Cultural cria espaço de trocas em BH

Em Minas Gerais não há estatísticas, mas o escambo se expande em todo em Estado

Serviços adotam o escambo Não só de mercadorias vive o escambo, há também a troca de serviços. Na região central da capital existem muito salões de beleza que recebem vales-transporte e vales-refeição pelos serviços prestados. Lourdes Maria, que trabalha há sete anos em um salão na avenida dos Tamoios, disse que recebe esporadicamente este tipo de moeda.“A gente aceita para ajudar as pessoas, porque com eles não compramos os produtos que utilizamos aqui”. Engana-se quem acredita que somente na região

central e na periferia é realizada esta prática. Na Savassi, bairro considerado de pessoas com poder aquisitivo alto, também existem trocas de serviços. No salão Sirley, na avenida Getulio Vargas, o gerente Marcelo Duarte optou pela troca de serviços para atrair um número maior de clientes. “O movimento caiu muitos e os clientes não têm dinheiro”, explica. O pagamento pode ser feito com vales-refeição e valestransporte, que tem um desconto de vinte centavos. Segun-

Peças de reposição em falta

do o gerente, não há como prever um faturamento mensal, porque os vales são transferidos para os funcionários e para compras do salão. Em São Paulo, pais têm se oferecido para prestar serviços às escolas particulares em troca da mensalidade do filho. Para não perder alunos, colégios passaram a aceitar a proposta. “Os pais se oferecem para fazer qualquer coisa: lavam banheiro e até trabalham na cozinha”, declara Diane Cley Cundiff, diretora do Colégio Santa Maria.

Alguns grupos de troca, como o Casa da África, têm importância cada vez maior na sociedade. Criado em setembro de 2003, este grupo de troca já possui 200 integrantes, que tem o compromisso de produzir e consumir as trocas, facilitando o consumo dentro da comunidade. A idéia de formar a Casa da África partiu de seis amigos, dentre eles o angolano Ibrahima Gaye.“O propósito é ter um grupo de amigos, que trocam serviços e produtos sem precisar do auxilio de dinheiro”, explica Ibrahima. O Movimento promove encontros para que as pessoas possam se conhecer e trocar livros, discos, roupas e outros objetos que não são utilizados. O escambo é realizado de forma que seus integrantes, através de uma lista de contatos, realizem trocas também de serviços no decorrer da semana como aula de inglês, terapia, consultas médicas, serviços de design gráfico, entre outros. Estas trocas devem se basear numa relação de horas de trabalho de no máximo quatro por um. Ou seja, uma hora de serviço deve valer, no máximo, quatro horas de um outro, informa o africano. Para o angolano, os membros do grupo, por definição, não podem somente produzir e não consumir, porque se acumulariam papéis que não valem nada em outros espaços de intercâmbio. “Tampouco podem somente consumir e não produzir, porque a pessoa não teria como obter esses produtos e serviços”, completa. Ibrahima ressalta também que existem clubes de troca no bairro São Paulo e na região de Venda Nova. “È interessante que as pessoas iniciem atividades como estas em suas comunidades. A gente tem muita coisa guardada que pode ser útil para outras pessoas”. O Grupo de Troca Casa da África fica na rua Leopoldina, número 48, bairro Santo Antônio, e os encontros são realizados às terças-feiras sempre no horário de 20h 30 ás 22 horas.

Peças importadas seis vezes mais caras que as nacionais

Alexis Lino

No Brasil, segundo o Detran, morrem mais de 42 mil pessoas por ano em acidentes automobilísticos. Cerca de 25% são provocados por falhas nos automóveis e defeitos de fabricação. Nos carros importados o preço das peças em oficinas especializadas chegam a ser seis vezes superior ao de carros nacionais, denuncia os donos de oficinas em BH. Os principal vilão do alto preço são as peças importadas, mas

Lina Sander e Ludmilla Rodrigues 6º período Quando uma montadora deixa o país, a rede de concessionárias é rapidamente afetada, fechando as portas ou mudando de marca. Com isso, o proprietário do veículo sofre com a dificuldade em fazer a manutenção, principalmente pela ausência de peças de reposição no mercado. A lei obriga as montadoras a manterem um estoque, mas esta exigência não define um período fixo. A disponibilidade de peças de reposição é limitada porque a fabricação de peças de reposição é considerada secundária em comparação com os equipamentos originais. Especialmente durante a introdução de novos produtos ou nos momentos em que a demanda supera a capacidade, os fabricantes são resistentes a usar a capacidade de que dispõe para fabricar peças de reposição cuja demanda é incerta. Para Modesto Filho, a reposição de peças originais para os veículos é um verdadeiro des-

existem outros fatores como impostos altos e a margem da concessionária. “O farol do Alfa Romeu que custa em torno de R$ 860, a mesma peça para um Gol custa R$ 124”, afirma Cristiano Fonseca Monteiro, dono de oficina mecânica. “Além disso, normalmente os carros importados apresentam pouco volume de vendas, o que desmotiva o produtor local a fabricar peças”, conclui Cristiano Fonseca.

Mineiros usam o “jeitinho brasileiro” nas oficinas Consumidores não conseguem comprar peças novas porque a fabricação é secundária

respeito ao bolso do consumidor. “Tenho um Santana, ano 90, e por não encontrar uma peça para o vidro do farol dianteiro tive de comprar um farol completo”. Segundo Joaquim dos Santos, vendedor de uma auto-peças, o mercado para carros novos também está fraco devido os altos preços. “Se para os novos está ruim, imagina para os com 15 anos de fabricação.

Há uma grande procura por peças de carros antigos, porém peças usadas”, ressalta o vendedor. A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor defende que peças de reposição devem ser comercializadas por um período mínimo de dez anos após a fabricação. Maria Lúcia de Souza, representante fiscal da entidade, diz que todos produtos disponíveis no

mercado devem ter suas peças para reparos garantidas. “Mesmo após um produto sair de linha, suas peças devem obrigatoriamente ser fabricadas e comercializadas”. Maria Lúcia avisa ainda que todos consumidores que se sentirem lesados por não encontrar peças que tenham saído de linha a menos de dez anos, devem procurar o Procon Municipal.

Por causa dos altos preços de peças de carros, muitos motoristas optam pelas peças retificadas, ou seja, o reciclamento das peças usadas. Elas custam em média, a metade do preço de uma peça original. “A peça com defeito é retirada do automóvel e levada à retífica onde é corrigido o defeito, mas que pode trazer problemas”, diz Tácio Almeida,mecânico. Ele afirma que a durabilidade da peça retificada

é menor e que ela pode até estragar outras peças do carro. Para Cristiano Monteiro, dono de oficina, a retificação não garante a segurança de uma peça nova. “Geralmente estas peças são usadas em carros mais velhos”, completa. Segundo o código se Defesa do Consumidor, o importador deve responder pelas peças dos carros que vende e disponibiliza-las de forma correta aos seus consumidores.


05 - Economia - Felipe

09.06.04

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Editor e diagramador da página: Felipe Castanheira

ECONOMIA 5 Desemprego incentiva informalidade O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Trabalhadores são obrigados a entrarem em um tipo de negócio que extingue os direitos trabalhistas Arquivo O Ponto

Rafael Werkema 6º Período O remanejamento de camelôs e toreros da região central da Capital, que vem sendo realizado pela PBH, trouxe à tona novamente a discussão sobre o comércio informal. O problema é que a falta de informações e de dados tem contribuído para o mal entendimento da população em relação ao assunto. Segundo o economista e professor-assistente da Newton Paiva, Hélio Berne, a informalidade está ligada àquilo que os governos municipais e estaduais deixam de arrecadar com esse tipo de comércio. “O comércio informal movimenta a economia, mas o Estado não arrecada em cima dele”, afirma Berne. A partir daí, é possível perceber que o comércio informal não se resume a camelôs e toreros: todos aqueles que trabalham sem contribuir com tributos para o Estado (como o INSS) são hoje informais. É o caso da comerciante Ilce Duarte, 53 anos. Desempregada há seis anos e meio, ela vive da venda das peças de crochê produzidas artesanalmente, mas

conta com a ajuda financeira dos filhos. Segundo Duarte, o artesanato foi o único meio encontrado por ela para o problema do desemprego, e que é praticamente impossível encontrar um trabalho, devido sua idade. “O mercado prefere os mais novos”, afirma. Ela não contribui com INSS, não tem férias e nem fundo de garantia. “Trabalho de segunda a segunda, mas não vou ter direito a aposentadoria por tempo de serviço”, conta. O economista Hélio Berne aponta as legislações trabalhista e tributária como fatores importantes que contribuem para o aumento do comércio informal no país. “Para a empresa contratar um funcionário, ela tem que pagar encargos trabalhistas, que são bem altos”. Ele acredita que hoje, o custo de uma empresa para manter um trabalhador ganhando um salário mínimo pode chegar a R$ 600. Denílson Batista, 28 anos, trabalha há cinco em uma barraca no Centro. Ele não é dono do ponto e não recebe os benefícios de um trabalhador de carteira assinada. “Foi a única opção que achei quando a empresa que trabalhava faliu”, conta.

Comércio irregular tem dois lados, segundo economista Para o economista e professor-assistente da Newton Paiva, Hélio Berne, existem pontos negativos e positivos que cercam o comércio informal. Segundo ele, a informalidade é prejudicial ao Estado porque a maior parte dos trabalhadores que estão nesse tipo de comércio não contribui para a Previdência Social. “Esses trabalhadores terão direito a receber uma aposentadoria quando tiverem 65 anos, e isso faz com

que o déficit da Previdência Social aumente”, afirma. Mas Hélio Berne vê o comércio informal como um “mal necessário”, já que é uma alternativa para o desempregado. “Na medida em que o Estado não gera emprego com carteira assinada, o trabalhador procura outras alternativas de trabalho. E o trabalhador hoje não escolhe onde ele vai trabalhar, ele escolhe o que aparece”, opina o economista.

Estado inoperante é responsável

Informalidade movimenta uma boa parte da economia mineira

Imprevisibilidade incomoda “Quem vive do comércio informal vive inseguro”, afirma a comerciante Ilce Duarte. Segundo ela, a incerteza se vai ou não ter dinheiro no final do mês é estressante. “Eu tenho meus compromissos fixos, como as contas de água, luz, telefone, mas não sei se terei dinheiro para pagá-los”, reclama. Duarte fatura em média R$300 por mês, mas esse valor varia de acordo com a época do ano. Ela diz que, se surgisse a oportunidade, voltaria a traba-

lhar com carteira assinada, mesmo que fosse para ganhar um salário mínimo, ou seja, R$260. Mas esta não é a opinião da camelô Ana Jesus, 52 anos. Faturando cerca de R$ 1500 mensais brutos, ela diz que não voltaria a trabalhar com carteira assinada para ganhar um salário. “Sei que no comércio informal não tenho direitos trabalhistas, mas é impossível viver com R$260”, afirma. Segundo ela, quando os gastos são colocados no papel, o lucro já

não é tão grande. “Tenho que pagar uma pessoa para guardar minhas mercadorias, sem contar a minha alimentação, a dos meus filhos que trabalham comigo, passagem de ônibus, e outros custos fixos”, relata. O caso de Marcelo Martins, 20 anos, é um pouco diferente. Ele trabalha desde os 12 anos como funcionário de um camelô e guardador de mercadorias. “Ajudei minha mãe a comprar sua casa e tudo que tenho hoje é fruto do trabalho informal”, afirma.

Grandes do varejo se enfrentam Marcelo Aragão

Flávio Peixe 6º Período

“O Extra veio para estimular a concorrência, e o consumidor acaba atraído por muitas promoções” Alexandre Dias, administrador

“As coisas no Carrefour abaixaram bastante. Tem muito mais produtos em oferta” Walter Navarro, jornalista

Desde a inauguração do Extra Belvedere, “oferta” virou a palavra do momento em Belo Horizonte. A nova unidade do Extra fica próxima do seu principal concorrente, o Carrefour - BH Shopping. Na disputa pelos clientes, os hipermecados reduziram seus preços e investiram em promoções. A guerra de preços entre as duas principais redes de varejo da capital se espalhou pelos supermercados da cidade. “Quando duas grandes lojas disputam entre si, os concorrentes são obrigados a acompanhar e quem ganha com isso é o consumidor. Funciona como um efeito dominó”, destacou o superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues. “Comprei mais que normalmente e gastei em média R$30 a menos”, calcula o administrador Alexandre Dias que trocou o Carrefour pelo Extra. Mesmo sem mudar de supermercado o jornalista Walter Navarro, continuou a fazer suas compras na rede francesa e notou diferença na nota fiscal; “As coisas aqui abaixaram. Tem mais produto em oferta.” O Carrefour nega ter alterado os preços em função do novo Extra. Manteve as promoções regulares, não só na loja do BH Shopping como em todas as unidades do estado. Apesar de não admitir, o novo

anúncio da rede francesa mostra que o Carrefour está disposto a manter seus clientes. A propaganda traz o slogan “Carrefour é assim, não tem concorrente”, nos outdoors afixados por toda a cidade, inclusive ao lado do seu concorrente na BR 040. Para acompanhar essa “guerra”, os supermercados estão com novidades. O Hiper Via Brasil, com unidades na Pampulha e no Big Shopping, já anunciou que vai cobrir todas as promoções dos concorrentes. “O que está acontecendo é uma disputa direta entre o Carrefour e o Extra, mas toda a concorrência é obrigada a se adaptar”, acrescentou o gerente de marketing Álvaro Barreto. O Super Nosso usa a mesma estratégia. “Toda inauguração é a mesma coisa. Chama a atenção pela curiosidade, mas o Super Nosso já tem tradição de cobrir ofertas e vamos cumprir o compromisso”, informou via assessoria de marketing. Para o superintende da Amis, essa “briga” é saudável. “É bom para todo o setor, já que a corrida para melhorar o atendimento deixa as lojas mais modernas e joga o nível do varejo para cima”, afirma. Quase todos os produtos que constam nos encartes do hipermercado Extra estão com preços reduzidos também nos concorrentes. Esta é uma medida estratégica para atrair os clientes, e os preços não se manteram baixos por muito tempo.

Inauguração do Extra estimulou ofertas na capital Marcelo Aragão

Carrefour reagiu com campanha publicitária

Comércio informal é sinônimo de polêmica. Isso porque muita gente associa a informalidade somente a camelôs e toreros. Mas é possível perceber que o comércio informal vai além disso: ele é muito maior, amplo. O vendedor de bala no ônibus sobrevive do comércio informal; a costureira que trabalha no quintal de sua casa, também sobrevive do comércio informal. O desemprego é, sem dúvida, um dos principais motivos que leva o trabalhador a entrar na informalidade. E ele não quer saber se terá ou não direito a férias, a FGTS etc. Ele só quer sobreviver. E na hora em que esses trabalhadores começam a faturar, o Estado decide proibir o comércio informal no Centro. Ele atende à burguesia, mas não atende o trabalhador que precisa sobreviver. Por que o Estado não incentiva as empresas a contratarem as pessoas com carteira assinada? Para o economista Hélio Berne, mudar a legislação tributária é uma solução. Mas é preciso uma mudança mais profunda: é preciso parar de privilegiar uma burguesia que culpa o comércio informal pela crise econômica que todos estão passando. É preciso cobrar das autoridades mais emprego. Cobrar um salário mínimo digno. Quem sobrevive com R$260? E, enquanto as mudanças não ocorrem, as pessoas vão sobrevivendo com a venda de crochês, balas, bugingangas. Já que não tem emprego, elas se viram de alguma maneira.

Rede Extra teve entraves durante a construção A construção do Extra Belvedere foi cheia de entraves. O Pão de Açúcar adquiriu o terreno para a construção do Extra, há cerca de quatro anos, e foi obrigado a adiar o início das obras diversas vezes. Após uma longa batalha judicial o grupo brasileiro conseguiu derrotar os franceses, que tentavam impedir a efetivação do projeto. A obra durou pouco mais de três meses e envolveu também a construção de um retorno próximo ao hipermercado. O Extra Belvedere,agora em funcionamento tem mais de 9200 metros quadrados, e 950 vagas no estacionamento e além de estimular a concorrência varejista gera mais de 500 empregos diretos e 4000 indiretos. Desde o início do projeto o Grupo Pão de Açucar, proprietários da rede Extra de hipermercados procuraram atender aos requisistos solicitados pelas comissões de meio ambiente a prefeitura de Belo Horizonte. No entanto foi inaugurado sem ter recebido o alvará de liberação para o funcionamento. Hoje a situação do hipermercado já esta regularizada junto a prefeitura. Desde que o terreno foi comprado para a construção do hipermercado a comissão de meio ambiente esteve com fiscalização pesada sobre a obra, alegando que a construção poderia abalar a estrutura da BR 040.


06 - Educação - Fabiana Sampaio

09.06.04

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Editora e diagramadora da página: Fabiana Sampaio

6 EDUCAÇÃO Faltam 60 mil vagas na escola infantil em BH

O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Fabiana Sampaio

A educação de crianças de zero a seis anos não é realidade para a grande maioria delas; em BH maior parte do atendimento é privado Sônia Bittencourt 6º período A educação de crianças de zero a seis anos está longe de ser uma prioridade nas políticas públicas, apesar dela ser um dever do Estado, garantido pela Constituição de 1988 e reafirmado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os brasileiros de zero a seis anos somam cerca de 23 milhões e apenas seis milhões estão matriculados em creches e pré-escolas, segundo dados do INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, de 2002. Em BH, faltam 60 mil vagas e a maior parte do atendimento público é feito pela rede privada comunitária e filantrópica através de convênios com a prefeitura. Segundo a técnica da Gerência de Coordenação Política Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, Beatriz de Fá-

tima Pereira, o governo do Estado repassou aos municípios, através de acordo, a responsabilidade de prover o ensino infantil. E BH não tem dado conta da demanda, na maioria dos casos, apenas subsidia e regulamenta a educação das crianças. Existem apenas 55 creches e pré-escolas próprias da rede Municipal, e 24 na rede Estadual. Há cerca de 194 instituições nas redes privadas comunitárias e filantrópicas que mantém convênio com a Prefeitura e que atendem cerca de 20 mil crianças. Elas recebem um valor que varia de acordo com a idade da criança, e vai de R$88 a R$46, para o atendimento integral. “O valor repassado à rede conveniada é insuficiente assim como o numero de instituições”, critica o coordenador do Movimento de Luta Pró-Creche, Maurício Pereira, que promove ações com o objetivo de melhorar o ensino infantil.O conselho tutelar é quem faz, na maioria das vezes,

a indicação das crianças para o atendimento nas instituições. Segundo Beatriz, o número de instituições deve ser ampliado somente em agosto. Lucimar Pereira, empregada doméstica, mãe de duas filhas gêmeas de quatro anos, conta que somente em abril conseguiu vaga para elas em uma instituição. Elas são atendidas pela Creche Nosso Abrigo, que é mantida por doações de empresas e moradores do bairro Cruzeiro, onde se localiza, e atende 48 crianças em tempo integral, com um custo médio de R$120 reais. Ela vem tentando se conveniar a prefeitura, mas falta verba para fazer as adaptações necessária. A coordenadora do grupo de Educação Infantil do CAPE (Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação), Mayrce Silva, explica que as instituições devem passar por uma vistoria para avaliar os aspectos físicos dos estabelecimentos, além de terem uma proposta pedagógica.

Creche Nosso Abrigo, mantida por doações, atende apenas 48 crianças de baixa renda Camila Costa Val

Psicopedagoga defende mudança no ensino infantil

Criança na sala de aula é garantia de desenvolvimento

A psicopedagoga Cláudia Maria Mazzoni, criadora do Clic, (Centro Lúdico de Interação e Cultura), defende uma educação infantil diferente dos modelos aplicados hoje, típicos escolar, com carga horária pré-determinada, salas de aula com mesinhas e carteiras, uniformes, seqüência de atividades, concepção de formação baseado em ensino-aprendizagem e na lógica da produção. “Crianças precisam de espaço para brincar, há uma institucionalização precoce da vida dessas crianças, tenta-se passar conceitos intelectualizados, não experimentalizados”, contesta. Para Claudia esses ambientes informam mais do que formam, ou até deformam porque não atendem as crianças no que realmente precisam. Segundo a psicopedagoga, no Clic, que existe há oito anos, brincar é o objetivo central e a pedagogia está a serviço do lúdico. “É no

É consensual entre os especialistas que a socialização da criança com outros colegas, e com professores tem papel importante no processo de educação dos pequenos de zero a seis anos. Para a psicopedagoga do Colégio Marista Dom Silvério, Eliane Brandão, isso proporciona uma vivência de diferentes papéis, e trabalha o emocional afetivo. “Trabalhamos com brinquedos pedagógicos e introduzimos o motor, o pular, soltar obstáculos e o letramento para a escrita e a leitura”, conta. A pedagoga, Mayrce Silva Freire ressalta que o ambiente escolar contribui para o desenvolvimento integral da criança. “Por deficiência de formação ou por falta de tempo, os pais não estão atentos a essa questão”, afirma. Mayrce também ressalta que é preferível que a criança esteja em um espaço escolar do que deixála em casa sujeita à influência da

âmbito da brincadeira que a criança constrói todo o seu pensamento e a partir dela é que são engendradas todas as regras sociais”, justifica. Cláudia afirma que é urgente reconfigurar esse segmento. “Não quer dizer que temos que voltar a fase espontaneísta das creches, mas também esse modelo escolar que aí está não cabe mais”. E o custo, segundo Claudia, seria muito menor do que o modelo da escola convencional, já que não é preciso um espaço super estruturado e sim espaços de convivência em grupo. Claudia já propôs um projeto de reformulação da educação infantil à Prefeitura no ano passado, quando foi chamada para prestar uma consultoria, no entanto, não houve engajamento. “Eles querem pessoas para alfabetizar, você alfabetiza uma criança em duas horas, o difícil é letrar”, critica Claudia.

CLIC: proposta pedagógica que privilegia o brincar

Estudantes colocam UEMG em xeque Fabiana Sampaio

Daniela Salgado Paula Emannuella 4º período Uma das principais reivindicações dos estudantes da Uemg, (Universidade Estadual de Minas Gerais), a melhoria na infra-estrutura da Universidade, só será atendida quando o novo campus, que está em construção no bairro Cidade Nova, for concluído, é o que afrma a pró-reitora de Planejamento de Gestão e Finanças, Maria Celeste Cardoso Pires. No entanto, a estudante Amanda Tolomelli, presidente do Diretório Acadêmico de pedagogia, afirma que o governo não citou a Universidade, mesmo sendo Estadual, como meta no Plano Plurianual de Ação Governamental, que estabelece os gas-

tos durante o período de mandato. O que deixaria a instituição sem o investimento. Segundo Maria Celeste, a Uemg, que é de responsabilidade da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, não se difere de nenhum órgão público, e o que há, é a insuficiência de renda da atual administração. Maria Celeste reconhece a precariedade atual e reafirma que a situação será resolvida com a transferência das aulas para a o novo Campus. Já a vice-reitora, Janete Gomes, defende que a reitoria tem lutado para que as instituições sejam contempladas nas políticas públicas e diz que embora esteja previsto no artigo 206 da Norma Constitucional, a autonomia financeira, pedagógica e didática, a Universidade não tem essa autonomia. “O finan-

ciamento é liberado muito abaixo do esperado”, afirma. Os estudantes reivindicam ainda, eleição da reitoria por voto direto. Segundo Amanda a reitoria é decidida sem a participação dos estudantes. A vice reitora Janete rebate que as eleições são definidas por uma legislação federal, e que antes é feita uma consulta a comunidade estudantil, para que então a lista seja votada pelos Conselhos, cabendo ao governador escolher o nome dos três indicados. Estudantes relatam também que o governo teria vendido o terreno do Campus Nova Gameleira ao Expominas e que poderiam ficar sem local para assistir às aulas. Maria Celeste explica que de fato há uma autorização de venda, mas que até o momento, ela não se concretizou.

Prédio da Pedagogia: alunos reclamam da infra-estrutura

televisão e com uma pessoa sem capacitação.“Os programas transmitidos, são inadequados e alienantes”, completa Mayrce. A psicopedagoga Cláudia Maria Mazzoni também destaca a importância da socialização com crianças, pelo fato do adulto ter um universo distinto. “Quem socializa uma criança é a outra criança por isso, têm que ser oferecidos espaços de convivência em grupos, mais espontâneos”, afirma Claudia, que é contra o pragmatismo das escolas infantis. “A criança é muito simples, ela precisa apenas de pessoas que lhe escutem e de ambientes que atendam sua necessidade lúdica”, defende. Ela também compartilha da crítica feita a televisão pois, segundo ela, a criança não tem consciência das conseqüências do que está vendo. “Ela vê as cenas da guerra, mas não vê a dor e isso é muito perigoso”, analisa.

Proposta para reorganização O deputado Domingos Sávio do PSDB, apresentou relatório propondo fontes de financiamento e uma emenda à Constituição para reorganizar a Uemg. A proposta prevê que as Instituições do interior terão de se manifestar como integrantes de um sistema de entidades associadas ou se desvincularem da UEMG, garantindo a esta a incorporação dos recursos repassados pelo governo. Foi proposto também o aprimoramento dos convênios com a parceria público privada, e o Fundo de Apoio ao Estudante, para ajudar a permanência de alunos carentes nos cursos. Segundo a aluna, Amanda Tolomelli, essa proposta impõe também que os estudantes restituam depois o valor com juros ou através de prestaçao de serviço para a universidade.


07 - Tecnologia - Peixe

09.06.04

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Editor e diagramador da página: Flávio Peixe

TECNOLOGIA 7 Indefinições atrasam TV digital O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Mercado de US$100 bilhões movimenta discussões sobre padrão a ser usado no Brasil

Negócio da China A criação do padrão brasileiro surgiu depois que a China, país mais populoso do mundo, desistiu da adoção de um padrão já existente, para criar um padrão exclusivo para o país. O objetivo chinês é criar um modelo próprio de transmissão, mais moderno e flexível, para ser usado também em soluções móveis, como celulares. O novo padrão permitirá aos chineses usufruir, não apenas de televisões com alta definição, mas de serviços personalizados e novos recursos na telefonia móvel. O padrão não será similar e nem baseado nos modelos existentes. De acordo com a Universidade Tsinghua, em Pequim, responsável pela criação do novo sistema, os padrões atuais apresentam resul-

tados que não satisfazem as necessidades chinesas, em especial o padrão americano. Segundo o governo chinês, o novo padrão vai atender a demanda do país nos níveis tecnológico e social. O debate sobre o sistema a ser adotado, conduzido atualmente pela Anatel, reúne técnicos, pesquisadores e representantes das emissoras de televisão. A tarefa é analisar os aspectos técnicos, econômicos e sociais da adoção do padrão das transmissões no Brasil. Após a definição do governo, ainda serão necessários outros 18 meses até a implantação da TV digital por aqui. O modelo de negócio da TV digital envolve a escolha do padrão tecnológico, a inclusão da população ao novo meio e, principalmente, a consolidação de um pólo de produção de sistemas, aparelhos e componentes para este mercado. Entre os requisitos para a criação de uma padrão brasileiro está a possibilidade de que a população possa continuar utilizando os televisores atuais através de um sistema de decodificação.

Anatel debate padrões atuais Os lobbies que disputam o mercado tem seus defensores, que incluem, interesses de governos e indústrias de equipamentos e de conteúdo para TV. O sistema americano (ASTC) foi o primeiro nas transmissões, foi direcionado para o HDTV, e tem qualidade muito maior do que a da transmissão analógica. Porém, o sistema exige aparelhos caros, na faixa de US$1.500, contra US$200 de uma TV comum. Na prática, um programa de HDTV pode ser visto em receptores não-HDTV, mas há perda de qualidade de imagem e de som. O padrão, atualmente, não permite aplicações móveis, como TV no carro e vídeo em celulares e palms. O DVB, padrão europeu permite seis modos de transmissão. Utiliza-se o nível de resolução SDTV, em formato de tela muito parecido com os receptores atuais. A transmissão somente em SDTV permite em uma única freqüência, transmitir até seis

programas. O modelo de negócios europeus privilegia a oferta de programas e serviços, como acesso à Internet e TV por assinatura. A qualidade é pouco melhor que a transmissão analógica, mas permite receber sinal digital utilizando TVs comuns ligadas a decodificadores -cujo preço está em torno de US$150 e televisores digitais de menor custo. O DVB-T comporta a recepção por dispositivos móveis, mas não opera satisfatoriamente quando transmite, para TV e sistemas móveis ao mesmo tempo. O padrão japonês é o mais novo. O ISDB-T tem como base a tecnologia européia, e segundo seus defensores, é superior ao DVB por não sofre interferências, o que melhora as transmissões em conjunto com dispositivos móveis. Os primeiros testes de campo com a TV digital no Japão começaram em 99, mas o sistema só entrou em operação comercial no segundo semestre de 2003.

Prós e Contras Os sistemas americano e europeu têm a vantagem de já estarem em uso há certo tempo, o que garante a estabilidade o padrão e de serem usados em transmissões para grandes populações. Contra o sistema japonês está o fato de ainda estar em período de teste e de não ter sido testado em transmissões em larga escala. A criaçào de um padrão brasileiro garantiria uma migração gradativa para o novo formato de transmissão. Dessa forma os impactos econômicos e sociais seriam minimizado, uma vez que o novo padrão se adequaria às necessidades da população. Na última audiência pública realizada pela Anatel, 12 das 32 propostas foram a favor do ISDB. A Abert (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão) foi a principal defensora do padrão japonês, que apresentou melhor resultado nos quesitos alta definição e mobilidade.

Arte: Daniel Washington

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Padrões em disputa ATSC

Desde de 2003, a novela da TV digital no Brasil se arrasta sem definição do caminho a ser seguido. Depois de quatro anos de debate sobre qual padrão tecnológico deve ser adotado pelo país, o presidente Lula determinou ao ministério das Comunicações estudos sobre a viabilidade de se desenvolver uma tecnologia nacional para no novo sistema de transmissões televisivas. “O Brasil tem meios de desenvolver um padrão próprio de televisão. Estamos numa discussão. Vamos acrescentar um quarto padrão e ver o que é melhor” disse Miro Teixeira que na época ocupava o cargo de ministro das comunicações. Depois da solicitação feita pelo presidente Lula, diversas reuniões com executivos das emissoras de TV do país foram feitas para discutir a possibilidade de desenvolvimento do padrão nacional. No início desse ano, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou que há estudos de estender a possibilidade de criação de um novo padrão em conjunto com os países do mer-

cosul. Enquanto isso, o Brasil continua estudando os sistemas digitais do Japão, dos Estados Unidos e da Europa. Os lobbies em torno desses padrões buscam arrematar um mercado, que projeta para os próximos dez anos, uma movimentação de US$ 100 bilhões no país, no caso do Mercosul optar pela craição do novo sistema, esse valor triplica.

DVB

Alessandra Frenkiel 6º Período

O sistema americano é o pioneiro. Atualmente, está voltado para transmissões em alta definição. Permite a transmissão de vários programas ao mesmo tempo em um só canal e serviços online.

O padrão europeu também permite a compressão de vários programas no mesmo canal de transmissão simultaneamente e é compatível com serviços de dados e telefonia móvel

Dimensão dos mercados já definidos Países

ATSC

Canadá, Coréia do Sul, EUA, Taiwan* e Argentina*

140

285

União Européia, Austrália, Nova Zelândia, Cingapura, Índia

205

270

Japão

45

100

DVB

ISDB

Lares com TV (milhões)

Nºatual de TVs (milhões)

ISDB

Padrão

Sistema mais recente, o japonês é moldado para integração com telefonia móvel de alta velocidade. Também suporta compressão de canais simultâneos e serviços de dados.

(*) podem rever seus padrões Fonte: Fundação CPqD (Dados de 2002)

Novo sistema traz qualidade e interação Apessar de a grande maioria das pessoas não ter idéia do que seja a TV digtal na prática, a nova tecnologia vai revolucionar a forma como o telespectador se relaciona com a televisão. Afinal, a forma de transmissões televisivas é praticamente a mesma desde o surgimento das primeiras emissoras, na década de 50 A tecnologia digital permite a transmissão simultânea de vários programas em um mesmo canal. Outra mudança é resolução das imagens, que são muito superiores ao que se tem hoje no mercado. Na TV digital as telas são diferenciadas, com formato retangular, mais próximo às telas de cinema. No modo HDTV (Tv de alta Definição) a resolução pode chegar até 1.920 por 1.080 pixels, Isso é seis vezes maior do que a resolução dos aparelhos atuais. No sinal SDTV (TV de Definição Padrão), a resolução é pouco superior à da TV comum, mas a qualidade técnica da transmissão é muito maior. A qualidade do som também dá um salto ao passar para o digital, é o mesmo que comparar um disco de vinil a um CD.

A TV digital também permite aplicações baseadas em alta velocidade de transmissão de dados, no aumento dos canais disponíveis e na possibilidade de interação. A combinação de TV com as tecnologias de dados permite acesso à Internet, a compras online (T-Commerce) e a serviços bancários (T-Banking). O processo de digitalização aumenta em muito o número de canais para transmissão, na verdade a disponibilidade é muito maior do que as próprias redes necessitam. Por esse fato, as redes de TV podem usar o sistema para se transformarem em portais de entrada para serviços e aplicações. Um exemplo dessa interação seria a possibilidade de comprar, em tempo real, objetos usados na cenografia de um programa, o figurino usado pela personagem da novela, ou ainda experimentar a possibilidade participar de votações em programas de debates ou em um reality show. Hoje isso só é possivel através de outros meios como telefone e internet.


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Editora da página: Sinária Ferreira

8 ESPECIAL

Mariana Alves e Sinária Ferreira 4º e 8º períodos

O

bloqueio do governo dos Estados Unidos que dura 45 anos é enfrentado quotidianamente pelo povo cubano, e mesmo com essa medida ofensiva contra Cuba, o presidente Fidel Castro conseguiu alfabetizar 98% da população e levar 30% ao ensino superior, além de oferecer toda assistência médica ao povo cubano. Segundo o maestro cubano Néstor Lombida, que reside no Brasil, o ensino superior só não atingiu um número maior de toda a população devido à política do governo estadunidense contra seu país. “Temos 2% de analfabetismo porque os Estados Unidos obrigou à Cuba”, diz Lombida se referindo ao bloqueio que reduz de forma ofensiva os recursos econômicos que impede o desenvolvimento e a satisfação das necessidades básicas como alimentação, serviços médicos e educacionais para a população. Com todas as investidas do atual governo Bush contra o regime e o povo cubano, como a ampliação de US$ 7 milhões para US$ 36 milhões para a manutenção dos organismos anti-Cuba. O presidente Bush também quer aumentar o acesso de opositores cubanos a transmissões de rádios e TVs norte-americanas dirigidas à ilha, além de reprimir o fluxo de dólares para Havana destinados a parentes dos cubano que residem nos Estados Unidos. Ainda assim o apoio à Fidel pela população é majoritário, segundo o professor de Relações Internacionais da PUC, Javier. Para o músico cubano Néstor Cordero, a revolução cubana é uma ameaça à hegemonia estadunidense devido a seu caráter socialista. “Meu país foi formado no sacrifício, dentro de uma ideologia muito forte, se não fosse a estrutura do governo de priorizar as conquistas sociais Cuba não teria sobrevivido”, afirma. Fidel Castro liderou a conquista e ainda hoje tem apoio da população de seu país. Em seu último discurso em Havana, Castro reuniu cerca de 1 milhão e 200 mil cubanos em frente ao escritório da Seção de Interesses dos EUA contra a política anunciada pela administração Bush em relação à Cuba. Em seu discurso Fidel se refere ao governo Bush: “Tudo o que se escreve de direitos humanos em seu mundo e no de seus aliados, que compartilham o saque do planeta, é uma colossal mentira. Bilhões de seres humanos vivem com fome, sem alimentos suficientes, medicamentos, roupas, sapatos, moradias, em condições subumanas, sem conhecimentos mínimos e informações suficiente para compreender sua tragédia e a do mundo em que vivem”. Fidel continua firme às ideologias da revolução cubana e conta com a participação ativa de seu povo. De acordo com o professor de música Néstor Cordero a formação da identidade do povo cubano vem desde a independência da Espanha e depois dos EUA, “com isso foi criando uma força, um desejo constante no povo de não se deixar dominar e foi mantido ao longo das décadas até o surgimento do movimento revolucionário de Fidel”, relata Cordero. Segundo ele em momento algum houve resistência pelo povo cubano às idéias castristas. “Chega um momento que a população não suporta mais as injustiças, hoje, cada vez mais os Estados Unidos vêm fazendo uso do seu poderio, das injustiças e falam que estão levantando a bandeira da liberdade”, diz Cordero. O músico relata que as idéias revolucionárias começaram com o criador do Partido Revolu-

O PON Belo Horizonte –

A rev cionário Cubano, José Martí. “Ele fundou o partido, e era justamente para denunciar o império. Martí falava da importância de impedir que os Estados Unidos estendesse sua força no mundo”, afirma. Antes da revolução de Castro, o país vivia na miséria, “no analfabetismo, na exploração total, na fome e o capitalismo favorecendo somente os ricos”, conta Cordero. Segundo ele o então governo cubano de Fulgêncio Batista era condizente com a política dos Estados Unidos. “O exército de Batista foi um dos mais sanguinários, assassinavam os jovens estudantes”. A insatisfação com esse governo levou Fidel e seus companheiros às lutas, greves, clandestinidade até obter a vitória com o movimento revolucionário. Quando Fidel chega ao poder em 1959 acontece uma série de atentados, ações provocadas pelos Estados Unidos para desestabilizar o recém formado governo, segundo Néstor Cordero. Hoje, organizações internacionais fazem denúncias de abusos em Cuba contra os direitos humanos, segundo o professor Javier. “O governo cubano agiu de maneira drástica contra os dissidentes cubanos e foi criticado pelos países europeus e pelo México”, afirma Javier. Segundo o professor Javier, a Argentina votou contra Cuba na época do governo Ménem. “Os Estados Unidos nesses organismos tentam convencer os outros países para condenar Cuba”, afirma. Fidel durante seu discurso em Havana critica a posição do governo Bush com relação aos direitos humanos. “O senhor não tem moral ou qualquer direito de falar em liberdade, democracia e direitos humanos, já que detém poder suficiente para destruir a humanidade e dele se vale para tentar implantar uma tirania em nível mundial, ignorando e destruindo a Organização das Nações Unidas, violando os direitos de qualquer país, realizando guerras de conquista para se apoderar dos mercados e recursos do mundo, impondo sistemas políticos e sociais decadentes e anacrônicos, que levam a espécie humana ao abismo”. Para o maestro Lombida os direitos humanos são desrespeitados quando há países que têm sua cultura própria e são obrigados a adaptarem ao jeito de pensar dos Estados Unidos. “O que estão fazendo no Iraque é uma grande covardia, pessoas que não têm como se defender estão sendo massacradas”, diz Lombida. Segundo Javier, apesar da exposição das fotos que mostram maus tratos a presos iraquianos, o governo Bush para não manchar sua imagem perante a opinião pública com a aproximação da eleição, conseguiu contornar a situação punindo os culpados. “A posição do governo Bush foi de assumir os abusos e condenar os culpados”, afirma Javier. A linha dura contra Cuba começou quando a revolução de Castro expropriou as empresas norteamericanas que exploravam Cuba, de acordo com Javier. “Depois da guerra fria, os Estados Unidos continuam a pressionar para que Cuba renuncie ao comunismo e se adapte à hegemonia”, diz. Para Javier o governo dos Estados Unidos não se vê ameaçado por Cuba, mas a revolução foi um fator complicado para a potência. “Uma potência não pode ter um país inimigo a poucas milhas, territorialmente e economicamente inferior”, observa. Para Lombida os Estados Unidos sentem a “ameaça de um sistema social que demonstrou que não precisam deles para sobreviver, e isso é um exemplo ruim”.

A revolução cub de Fidel Cas A identidade latino-americana Patrícia Giudice 8º período Foi a bordo de uma motocicleta que o cubano Ernesto Che Guevara conheceu a América Latina. Viajou pelo Chile, Argentina, Colômbia e descobriu que no meio continente de vários países havia um só povo. De raízes culturais fortes, patriota e sofrido. Ele descobriu um povo marcado pelo colonialismo e por cruéis ditaduras, mas que luta diariamente por igualdade. Che se tornou um revolucionário e lutou pela unificação do povo latino. Unificar não significa implantar blocos econômicos, esta demanda do capitalismo que visa o livre comércio e, acima de tudo, o lucro. Mas sim, os motivos pelos quais o fizeram também lutar, as peculiaridades culturais, a história em comum e o semelhante caminho a percorrer. Ele viu um povo que vive na miséria dos problemas sociais e que convive com a apatia dos governos ditos democratas e passou a buscar justiça. Em “Diários de motocicleta” sentimos a formação de um processo humanístico de uma pessoa que lutaria até a morte contra o imperialismo, contra o massacre de cidadãos que precisam de nada mais do que romper com suas origens coloniais. E fazer a sua política, a sua cultura, baseadas na realidade em que vivem, e não no que se desfruta do outro lado do oceano ou um pouco mais acima. É preciso romper com os padrões que os estadunidenses e europeus teimam em impor, e construir um sentido para a emancipação e a criação de uma identidade genuinamente latina. Assim o cubano encontrou as suas raízes, e deixou ensinamentos que ultrapassam o solitário sentimento de mudar. Mostrou que revolucionar é morrer por um ideal que abarca milhares de pessoas que estão prestes a serem ignoradas por um sistema que as vêem como míseros fantoches, fazedores de capital. Ele cobiçava o socialismo que faria o povo livre, igual e latino. Que suas palavras não se calem, que seu ideal nunca se perca e Viva la revolución!


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Diagramadores: Rafael Werkema e Sinária Ferreira

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O PONTO zonte – Junho/2004

volução VIVE ubana há 45 anos se mantém firme sob o comando astro, que tem o apoio da população contra os EUA Os ideais revolucionários que transformaram a ilha

Um país criado no sacrifício e na luta diária do seu povo

A soberania cubana incisa nos discursos travados pelas lideranças políticas tem respaldo na maioria dos cubanos. Isso tem influências por causa da formação da identidade cubana. Desde a colonização dos espanhóis e as lutas de libertação, o povo criou um nacionalismo combativo ao bloqueio estadunidense. Para José Rodrigues, diretor da Associação José Martí, a identidade cubana teve seu início nas guerras de independência contra a Espanha. “O povo cubano sempre foi muito resistente à questão da colonização. E José Martí, um dos lideres políticos da época, já fazia uma crítica ao imperialismo.” O cubano Néstor Cordeiro acrescenta “a formação da identidade vem desde das duas independência ( da Espanha e dos EUA), com isso foi criado uma força, um desejo constante no povo de não se deixar dominar”. Com a independência de Cuba, os Estados Unidos percebe que há um grande campo comercial e infiltra no país. “Cuba deixa de ser uma colônia da Espanha para virar uma neo-colônia dos EUA. Com a instalação do governo norte-americano até o surgimento das lutas revolucionárias, os governos cubanos foram instalados sempre respondendo aos interesses dos EUA”, ressalta Cordeiro. José Rodrigues explica que a lógica de dominação americana estabeleceu a relação dos produtos cubanos. “O país foi incumbido de produzir para o mercado americano, era produzida a cana-de-açúcar dentro de uma medida recomendada pelos EUA”, diz. A reação do povo veio com o Partido Revolucionário Cubano (PRC), que denunciava o império. José Martí foi um dos fundadores, e desempenhou um papel importante na construção da identidade. Martí acreditava que só é possível ser livre se o povo for culto. Para Rodrigues para acontecer uma revolução é preciso ter condições objetivas e subjetivas. “As condições objetivas, o Brasil por exemplo, tem. O desemprego, miséria, pobreza, etc. Agora não tem um fator fundamental e decisivo no processo de transição revolucionaria, que é a consciência da população e dos movimentos organizados.” O que para ele é a diferença do povo cubano, que conheceram, na construção da identidade, o pensamento Martiano. A resposta cubana ao imperialismo estadunidense foi a vitória da revolução, liderada por Fidel Castro em 1959. “O valor de Cuba na perspectiva social mudou com a revolução”, afirma o maestro cubano Néstor Lombida. Ele conta que quando o sistema mudou toda a população começou a perceber principalmente porque Cuba conseguiu alfabetizar o país. “ O fato de unificar a educação do país, a pessoa que mora na zona rural tem amesma educação daquele que mora no centro da cidade”, diz Lombida. O maestro relata que a preocupação social se insere na formação do profissional. “O indivíduo cumpre seu serviço social, porque tem de retribuir à sociedade por não pagar pelo estudo”, diz. Lombida conta que o cubano não cursa na universidade para ganhar dinheiro ou ter um diploma, mas para prestar um serviço ao país na construção de uma sociedade justa e sólida. “Aprendemos a ser disciplinados socialmente; é a visão que tem a maioria dos cubanos”, diz Lombida. A construção de uma identidade calcada nos valores humanísticos e a resistência à dominção transformou o povo cubano. Para Lombida o processo de cosolidação do sistema foi primordial para obter os resultados. “Foram medidas e eu sei que são drásticas, mas era para conseguir que a sociedade não fosse envolvida num mundo que não tivesse uma resposta social” relata. Para José Rodrigues os ideais cubanos estão na universalização da América Latina. “A lógica da identidade cubana não está desprendida da latino-americana, que busca caracterizar a América com uma visão de todos os povos.” diz.

A vitória de 1959 do movimento revolucionário marca um novo começo na história cubana. “Foi um movimento nacional que obteve a vitória em primeiro de janeiro de 1959, data que Batista foge do país”, explica Cordero. A ilha situada na América Central com aproximadamente 11 milhões de habitantes governada há 45 anos por Fidel, após a derrubada do governo de Fulgêncio Batista marcado pela corrupção e o apoio aos Estados Unidos. Fidel acompanhado de seu irmão Raúl Castro, Ernesto Che Guevara enter outros revolucionários viviam em lutas armadas, greves e clandestinidade, durante o governo de Batista, segundo o músico cubano Néstor Cordero. “Com a formação do exército rebelde, liderado por Fidel, eles viviam refugiados nas cordilheiras, na região montanhosa de Cuba. Instalam uma estação de rádio e começam as lutas clandestinas, muitos jovens naquela época se juntaram à força revolucionária de Fidel. Criaram o exército com as roupas verdes, usavam barbas como a que Fidel usa ainda hoje, porque não tinham como fazê-las”, diz Cordero. Ele conta que os camponeses ofereciam comida para Fidel e os companheiros. E apesar de muitos terem sido mortos, o exército se fortalecia cada vez mais em combate ao governo de Batista. A partir daí a construção de uma Cuba justa foi uma luta constante, segundo Cordero, “na época Fidel não era representante do país, mas o povo queria ele no poder”. Ele explica que foi uma época de extrema tensão da política internacional com a instalação de mísseis em Cuba com a abertura das relações com a União Soviética e o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos. No país que tentava se reerguer depois do governo corrupto de Batista, a miséria do povo era a realidade da maioria. “Houve uma migração de cubanos para os Estados Unidos, justamente de pessoas que tinham posses como: médicos, donos de cassinos, donos de hotéis, todos instalam seu poderio financeiro sobretudo em Miami”, conta Cordero. Antes do bloqueio a ilha era o parque de diversão dos estadunidenses, “ao final Cuba era um grande prostíbulo, mulatas bonitas como no Brasil, tabaco, rum, praias belíssimas”, diz o maestro cubano Néstor Lombida. A idéia de que a ilha de Cuba, pérola do Caribe, era um prolongamento do território estadunidense fez com que este entrasse na luta contra a Espanha na época da colonização de Cuba. A partir de então, de maneira constante e sistemática, os Estados Unidos vêm aplicando políticas contra Cuba com o objetivo de tornar a ilha mais um Estado de seu território, controlando sua economia, suas riquezas, sua política, como na ocasião em que apoiou o governo de Fulgêncio Batista. Então acontece a revolução cubana e Fidel levanta a bandeira do nacionalismo e “diz ao governo norte-americano: põe a mão em Cuba e eu destruo vocês”, segundo Lombida. Cordero conta que três anos após Fidel chegar ao poder, “foi a época da campanha de alfabetização em 1962 que transformou Cuba no primeiro país da América Latina livre do analfabetismo”. Ele diz que devido às medidas extremas do governo estadunidense e a desestabilização do modelo socialista, Cuba ficou isolada. “Chegamos a um ponto de extrema necessidade, carências materiais, se fosse um outro país teria entrado em um colapso total, mas, meu país foi formado no sacrifício, dentro de uma ideologia muito forte. Se não fosse a estrutura do governo de priorizar as conquistas sociais, Cuba não teria sobrevivido”, afirma Cordero. Maestro Lombida afirma que Cuba ainda hoje passa por muita dificuldade, “sobrevive com fome, com pobreza, mas não tem pessoas na rua. Mesmo tendo a pobreza não tem miséria, todo mundo come a mesma coisa, ainda que de forma reduzida”, explica.


10 - Saude - Sheilla

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Editora e diagramadora da página: Sheilla Matos

10 SAÚDE As mulheres fumam cada vez mais

O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Atualmente elas são mais vulneráveis às doenças causadas pelo cigarro do que o sexo oposto Ana Maria Caixeta

Kattiúscia Costa 6º período De acordo com a coordenadora de comunicação da Abraço (Associação Brasileira Comunitária Para a Prevenção do Abuso de Drogas), Ariane Campos Pinheiro, uma pesquisa realizada em todo o Brasil, mostrou que houve uma diminuição do número de fumantes no país. Essa diminuição ocorreu em todas as faixas etárias, exceto no sexo feminino. Neste, houve um aumento passando, de cerca de 18%, para 25% o percentual de mulheres fumantes. Como o número total de fumantes no país gira em torno de 31 milhões, verifica-se que quase oito milhões são mulheres. Segundo Ariane existem várias implicações nesse problema que tornam a situação ainda mais grave. Um deles é que, geralmente, as mulheres ficam mais tempo dentro de casa do que os homens, prejudicando, com o chamado “tabagismo passivo”, aqueles que com elas convivem, principalmente os filhos. Isto sem falar no mau exemplo, pois a mãe que fuma perde muito de sua autoridade diante de seus filhos, principalmente para lhe falar sobre os males provocados pelo uso de outras drogas. Além disso, há outros fatores em relação à mulher fumante que devem ser levados

em consideração. Por exemplo, se a mulher fuma durante a gravidez, há prejuízos para o feto e o bebê pode ter o tamanho e o peso diminuídos, com reflexos no seu desenvolvimento físico e mental. Já existem pesquisas indicando que, quando a mãe fuma, a possibilidade de ter filhos fumantes é maior do que a do pai fumante. Outro fato sugestivo é a preferência feminina pelos chamados cigarros de baixo teor, que têm menos nicotina e alcatrão e, por isso, são chamados de light ou cigarros suaves. Em toda a história do tabagismo nunca houve farsa maior do que essa dos cigarros de baixo teor. O fato é que, o tabagista dependente, está acostumado com uma certa quantidade de nicotina circulante no sangue que deve ser reposta em intervalos regulares. Quando ele passa a fumar o light, o teor de nicotina diminui e o fumante tende a repô-lo fumando um maior número de cigarros, com maior regularidade, isto é, aumenta o número de cigarros que fuma. Fumante há 40 anos, Maria Imaculada da Cunha Pereira, concorda com essas informações. “Um dia resolvi fazer um teste para ver se conseguia parar de fumar, e troquei o meu cigarro por um light. O resultado que obtive foi que fumei o dobro naquele dia, pois não ficava satisfeita”, diz a fumante.

Mulher corre maior risco de câncer de pulmão Kattiúscia Costa 6º período

Consumo de cigarros diminui entre os homens mas aumenta entre o sexo feminino

O tabaco é o grande inimigo Sílvia Silveira 6º período O câncer de pulmão é um dos mais letais. Mas não é só com o câncer de pulmão que as fumantes devem se preocupar, o fumo também dobra a probabilidade de câncer de mama, aumenta em cinco vezes o risco de câncer de colo do útero e triplica a incidên-

cia de ataques cardíacos e derrames, é o que diz a assessora de comunicação da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Gisele Bicalho Resende. No que diz respeito às doenças, a mulher fumante fica mais sujeita à osteoporose e tem dobrado a sua possibilidade de vir a sofrer infarto do miocárdio, diz a coordenadora de comunicação da

Abraço Ariane Campos Pinheiro. Segundo o oncologista Wagner Brant, mesmo as mulheres que não fumam, mas que são expostas à fumaça do cigarro, têm maior possibilidade de desenvolver um tumor do que homens que nunca fumaram. As mulheres são em média duas vezes mais suscetíveis a ter essas doenças do que os homens.

Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), mulheres fumantes podem ter maior probabilidade de desenvolver câncer de pulmão do que homens que fumam uma quantidade similar. O grande inimigo e principal causador do câncer de pulmão é o cigarro, e a principal causa desse aumento está relacionado ao fato de as mulheres terem começado a fumar mais cigarros nos últimos trinta anos. Até a década de 70 era raríssimo fazer um diagnóstico dessa doença nas mulheres. Entre estas, preponderava o câncer de mama e de útero; o câncer de pulmão raramente era encontrado. Enquanto isto, entre os homens, o câncer de pulmão há várias décadas liderava as estatísticas. De acordo com o oncologista Wagner Brant, o índice de mortes causadas por essa doença também aumentou entre as mulheres, matando mais que os cânceres de mama e útero. “Não se sabem as causas, mas suspeita-se que hormônios sexuais femininos, como o estrógeno, interfiram no metabolismo de substâncias químicas do cigarro”, diz o oncologista.

Cresce o número de tuberculosos nos países subdesenvolvidos Arquivo O Ponto

Willian Chaves 4º período Segundo a assessora de imprensa da SMSA-BH (Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte), Maria das Graças Rodrigues de Oliveira, cerca de um terço da população mundial encontra-se infectada pelo microrganismo da tuberculose, havendo oito milhões de casos novos e três milhões de mortes anuais, sendo mais de 95% nos países em desenvolvimento. O Brasil e mais 21 países subdesenvolvidos detêm 80% dos casos mundiais (o Brasil ocupa o 14º lugar). As mortes são mais numerosas nos países pobres do que nos economicamente desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, morrem de tuberculose, por ano, apenas seis pessoas em cada 100.000 habitantes. No Brasil, em 1970, a mortalidade foi de 25 pessoas por grupo de 100.000 habitantes. Atualmente, não se sabe ao certo qual a taxa de mortalidade por tuberculose nos países subdesenvolvidos, mas a quantidade de tuberculosos nos países da América Latina é estimada entre 0,3 de 1,3% da população total. No Brasil são 50 milhões de pessoas infectadas pela doença, estimados cerca de 130 mil casos novos por ano, mas apenas cerca de 90 mil são notificados. De acordo com a assessora da SMSA-BH, a tuberculose predomina na faixa etária produtiva - 70% dos casos ocorrem entre 15 e 59 anos de idade. O número de óbitos anuais está em torno de seis mil, o equivalente a 16 mortes por dia. No país, cerca de 8% dos casos de tuberculose têm infecção pelo HIV e 20 % a 40% dos portadores de HIV têm tuberculose associada. O HIV, mais conhecido como vírus da AIDS, ajuda no desenvolvimento da bactéria da tuberculose.

Anualmente, seis mil novos casos são notificados em MG

A doença em BH Willian Chaves 4º período Em Minas Gerais, são notificados anualmente cerca de seis mil novos casos. Desses casos, foram constatados 77% de cura, cerca de 10% de abandono de tratamento e 9% de óbitos. De acordo com assessora da SMSA-BH (Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte), Maria das Graças, na região Metropolitana de Belo Horizonte, são registrados cerca de dois mil novos casos por ano, constatados 82% de cura, 8% de abandono do tratamento e 5% de óbitos. Em 2002 a Secretaria, registrou 1184 casos entre a população da capital. “Em abril de 2003, não tínhamos informação sobre o encerramento do tratamento de 20,7% dos casos. Entre o restante verificou-se 72,3%

de cura, 12% de abandono do tratamento e 8,5% de óbitos”, afirma Maria das Graças. O Ministério da Saúde em parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde lança nacionalmente uma proposta de ação, visando o controle da tuberculose, com ampla mobilização técnica, política e social. De acordo com Graça, essa estratégia consiste na liberação de recursos financeiros, na descentralização das ações e a reorganização dos serviços através do Programa de Saúde da Família, do governo federal, visando a garantia do fornecimento da medicação, a implantação do tratamento supervisionado, a disseminação dos conhecimentos técnicos mais modernos a todos os profissionais de saúde do país e o estabelecimento de parcerias com a sociedade civil.


11 - Esporte - Frederico

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Editor e diagramador da página: Frederico Mesquita

ESPORTE 11 Preço de ingresso esvazia estádios O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Valor de R$ 15 estipulado pela CBF e Clube dos 13 provoca indignação de torcedores de Minas Ricardo Guimarães

Felipe Torres e Igor Francis 1º Período O Campeonato Brasileiro de futebol deste ano vem se caracterizando pela ausência de público nos estádios. Esta constatação tem se confirmado rodada a rodada neste início do torneio. A média de torcedores nos jogos está baixa e, ao que tudo indica, isso vem acontecendo em decorrência do aumento no preço dos ingressos, da violência, da transmissão de jogos pela TV e da má estrutura dos estádios. Os clássicos que antigamente levavam 40, 50 e até 100 mil espectadores, agora não atraem nem 6 mil. Essa é a nova realidade do futebol brasileiro. A decadência começa atingir o esporte mais popular do país, afinal, quem está disposto a ir ao estádio com a família, pagar R$15,00 por pessoa, correr o risco de sofrer algum tipo de violência e ainda por cima não ter nenhum conforto? Até o torcedor mais fanático está pensando duas vezes. O empresário Adilson Torres, 49 anos, diz que não leva seus filhos mais aos estádios de futebol, pois não se sente seguro. “Não vou mais aos estádios principalmente pela falta de segurança. A paixão pelo esporte tornou-se uma aventura perigosa e desgastante. Além disso, o ingresso é caro, o estacionamento ruim, banheiros precários e o uso de bebidas alcoólicas e de drogas é constante”, desabafa Adilson. Com a crise financeira que abala o país e o alto custo dos

ingressos, presenciar o time do coração de perto deixou de ser o programa predileto dos domingos, pelo menos é o que garante o analista de públicos da Rádio Itatiaia, Sebastião Pereira, mais conhecido como Tião das Rendas: “A cada ano que passa o torcedor tem freqüentado menos os estádios de futebol. Este ano, em especial, o preço de quinze reais fez o torcedor mineiro sumir do Mineirão. Só para se ter uma idéia, ano passado a média de público era de 23 mil torcedores por partida, enquanto que nesse ano nenhum jogo dos clubes mineiros no Brasileirão teve mais de 6 mil pagantes. Se não baixarem para dez reais o preço dos ingressos, essa situação vai permanecer durante todo o campeonato. Não há mais uma atração para as pessoas que gostam do esporte. Se assim continuar, o público do futebol brasileiro será o pior de toda sua história”, ressaltou. O preço dos ingressos é decidido em comum acordo entre a entidade máxima do futebol no país, CBF (Confederação Brasileira de Futebol), a União dos Grandes Clubes do Futebol Brasileiro (Clube dos 13) e todos os respectivos clubes que disputam o Campeonato Brasileiro de futebol. Muitos clubes questionam que esta quantia de quinze reais está provocando a evasão dos estádios de futebol, pois para o torcedor que recebe R$260,00, este valor é inviável, devido ao baixo poder aquisitivo que a maioria dos trabalhadores brasileiros possuem.

Reajuste de percentual é 50%

Estádio vazio demonstra a insatisfação dos torcedores com o aumento dos ingressos

Esporte radical se populariza Laura Aguiar

Amanda Vidigal, Carolina Jardim, Laura Aguiar e Mariana Goulart 1º Período Enquanto aumenta o número de pessoas à procura de aventuras e esportes radicais, faltam profissionais para atender esta demanda. Segundo o agente de turismo, Bruno Wendling está havendo sim, uma expansão de agências especializadas em ecoturismo e esportes como o Bungee Jumps. “Mas ainda faltam profissionais especializados e capacitados para atuarem nesta área, já que os esportes radicais estão se popularizando cada vez mais”, afirma Bruno. De acordo com o agente de turismo, a procura pelas modalidades varia de pessoas com 18 a 50 anos e é feita tanto por grupos de amigos, como por empresas comerciais. Os estudantes selecionavam países como a Austrália e Nova Zelândia para viajar e fazer intercâmbio, pois encontravam como diferencial e atratativo os famosos Bungee Jumps. Atualmente não é necessário ir tão longe. A rotina e o estresse da cidade urbanizada ou até mesmo a simples busca pela adrenalina têm levado as pessoas a fugirem deste espaço e aderir a prática dos esportes radicais. No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro são os principais redutos, mas brevemente Minas Gerais poderá se unir a eles, devido ao grande potencial ecológico que o Estado apresenta. Grandes cachoeiras e inúmeras montanhas garantem esse futuro promissor, que proporciona aos atletas a prática de atividades como o canyoning, rapel, tiroleza, rafting, escaladas, arvorismo, trekking, entre outros.

O vôo de parapente é uma das muitas modalidades que integra os esportes radicais

Quinze reais é o preço mínimo do ingresso para o Campeonato Brasileiro de 2004, o que caracteriza um aumento de 50% no bilhete que custava dez reais neste mesmo período do ano passado. Esse fator está sendo decisivo para a diminuição de torcedores nos estádios brasileiros, pelo menos é o que pensa o estudante de jornalismo Caio Márcio, de 20 anos. “O preço do ingresso no campeonato brasileiro está muito caro e visa atrair apenas a elite”, critica Márcio. A assessoria do Atlético informou que o Clube dos 13 vai protocolar um pedido para a revisão desse preço. Para atrair seu público de volta aos estádios, o Galo implantou o projeto “Sócio Torcedor”, onde os adeptos do clube pagam R$ 25,00 por mês e ganham os ingressos para assistir a todos os jogos do time no Mineirão. O Cruzeiro acha que deveria haver uma flexibilidade ao estipular o preço dos ingressos. “Em algumas ocasiões os ingressos poderiam ser mais baratos, como nos jogos do final de mês ou quando houver excesso de partidas nas semanas”, sugeriu Valdir Barbosa, assessor de imprensa do Cruzeiro Esporte Clube. Por outro lado, Valdir acha que R$ 15,00 é justo, pois o clube arca com uma série de despesas mensais.

Aventureiros invadem Cipó Situada 90 quilômetros a nordeste de Belo Horizonte, na região sul da Cordilheira do Espinhaço, a Serra do Cipó é considerada pelos praticantes de esportes radicais como um dos dez melhores lugares no Brasil para exercer estas atividades. Isso porque a região abriga um parque nacional que possui agrupamentos rochosos e inúmeras cachoeiras, ou seja, um complexo perfeito para a prática deste tipo de esporte. No Parque é permitido apenas a entrada a pé, de bicicleta ou a cavalo, que podem ser alugados na portaria, bicicleta (R$ 5,00) cavalo (R$ 15,00). A visita ao Parque é permitida das 8 da manhã às 17h, com o número limite de 150 pessoas por dia. O ingresso custa R$ 3,00 por pessoa. A Cachoeira das Congonhas, com 20 metros de altura, é um dos lugares mais pro-

curados pelos fãs do rapel. Para chegar até o local são 5 quilômetros de caminhada na serra e o passeio todo leva cerca de sete horas. Outra cachoeira belíssima é a da Farofa, considerada por muitos a cachoeira mais bonita do Brasil. Para os praticantes de Mountain Bike, modalidade esportiva que utiliza bicicletas para percorrer lugares onde há contato direto com a natureza, a Serra do Cipó é um lugar imperdível, com trilhas de vários graus de dificuldade e paisagens deslumbrantes, perfeita para quem curte pedalar por caminhos que cortam florestas, rios e montanhas. Já o Morro da Pedreira, com grandes paredões e cavernas calcárias, se tornou o paraíso dos escaladores, com escaladas móveis e grampeadas, que podem variar de 5 a 8 graus de dificuldade. Laura Aguiar

Rafting: sinônimo de emoção Popularizado no final da década de 80 na Europa, o rafting se tornou um dos principais esportes, tanto para adultos quanto para crianças, que curtem emoção e adrenalina associados à natureza. A prática desta atividade consiste na descida de corredeiras utilizando botes, remos e muita força. Os rios são classificados de acordo com o grau de dificuldade que eles proporcionam aos atletas, de 1 a 6 pontos. No Brasil a maioria tem entre 2 a 4 graus. Enquanto na Europa os primeiros praticantes utilizavam

botes salva vidas, hoje os adeptos desta atividade radical fazem uso de botes de borracha, constituídos de um tecido chamado trefiladol, que por sua vez, é muito mais resistente, leve e à prova de afundamento. Os botes medem 5,5 metros e pesam 100 quilos. O rafting é uma modalidade que demanda um grande esforço físico por parte do atleta, não é recomendado para menores de 14 anos ou para adultos cuja saúde possa ser prejudicada. Cada bote comporta um mínimo de 8 e máximo de 10 pessoas. Alguns aces-

sórios são indispensáveis para realizar uma descida segura, como colete salva-vidas, capacete, remos, corda de resgate e calçados emborrachados. As reservas florestais são preferidas pelos praticantes, sendo refúgio para as pessoas que vivem em meio ao agitado cotidiano dos grandes centros urbanos. Em Minas Gerais, muitas agências de viagem fornecem o serviço para quem deseja praticar esta modalidade. Os preços variam de 40 a 50 reais por pessoa, dependendo do tempo dos percursos, que geralmente variam de 1 a 6 horas.

Serra do Cipó é procurada por muitos praticantes do rapel


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Editores: Rafael Werkema e Sinária Ferreira

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O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

REBITE: Rafael Werkema

Caminhoneiros viajam dopados para garantir o sustento de suas famílias e arriscam suas vidas e a de outros nas estradas Fabiana Sampaio, Julia Chaves, Juliana Cotti e Rafael Werkema 6º Período

C

Para cumprirem prazos de entrega das cargas, caminhoneiros fazem uso do rebite indiscriminadamente nas estradas

O dia-a-dia nas rodovias Rafael Werkema

“Toda vez que pego no volante do caminhão, começo uma vida nova”, emociona-se Valdecir Conceição Souza, capixaba, 54 anos. De boléia de caminhão, 32. Casado e quatro filhos. Já passou por vários obstáculos e quase morreu baleado em uma tentativa de assalto. Hoje, sofre problemas de saúde pelo uso de rebite durante 23 anos, e sua batalha diária pela sobrevivência o esgota: “o caminhoneiro não tem tempo para comer”, declara indignado. “Quem lucra é o empresário”, reclama. Ele ganha cerca de R$600 para viajar daqui a São Paulo. Desse valor, R$300 são usados para o combustível e manutenção, R$80 para o agenciador e R$50 para o carregador. Os restante é o que sobra para o caminhoneiro, usados também para despesas como remédios, alimentação. “O governo tem que olhar para o caminhoneiro”, diz Valdecir. “Já fiquei 70 dias sem ver minha família”, enfatiza. Hélio Rezende, caminhoneiro há 13 anos, casado e dois

filhos. Não usa rebites, mas sabe que isso faz com que ele perca as poucas cargas que surgem. “Não quero que meus filhos levem essa vida. Por isso coloquei-os em uma escola em Conselheiro Lafaiete. Sempre falo para estudarem, para que não passem o que eu tenho que passar todo dia”. Mas Hélio exalta sua profissão: “é uma profissão digna e tenho orgulho dela”. O estado físico do caminhoneiro Geraldo Miguel, 52 anos e 22 de estrada, é um exemplo da batalha diária enfrentada pela maior parte da categoria. Ele ficou parado no Posto Chefão (BR 040 – saída para o Rio de Janeiro) durante dois dias a espera de um reboque. Almoçou e dormiu dentro da boléia. Nem tomar banho ele pôde. “Durmo de duas a três horas por noite e trabalhar nesse horário é melhor, pelo valor de frete, que é maior”, relata. Geraldo ainda acusa as empresas de transporte: “Elas não conseguem manter o frete com o preço do diesel”.

easa, sábado, 8 de maio de 2004. O caminhoneiro Magno Alves, 27 anos, está desde sexta-feira com uma carga de abacaxi e aguarda que ela seja descarregada. Sua previsão não é otimista, já que é bem provável que ele passe o fim de semana esperando que a empresa responsável descarregue o produto. Magno revela o que todos têm conhecimento e que, no entanto, continua sendo alvo de indiferença do governo, de empresários e transportadoras: “eu tomo rebite para trabalhar!”. Magno consome uma droga inibidora de sono a base de anfetaminas. Ele dirige dopado, prejudicando sua saúde e colocando em risco sua vida e a dos motoristas que viajam pelas estradas do Brasil. Mas ele não faz isso por opção, e sim por obrigação: “se eu não tomar, eu não consigo cumprir o prazo de entrega”, conta. As condições de trabalho dos caminhoneiros são as principais causas para o uso do rebite. Para suportar jornadas absurdas de trabalho, como cumprir um trajeto de 3200 quilômetros de Fortaleza a São Paulo em 72 horas, eles precisam da droga para permanecer acordados e, assim, atendem à voracidade de seus patrões que visam com o cumprimento do prazo - o lucro. A concorrência com os outros colegas de profissão é acirrada. Se um se nega a transportar uma carga, o outro imediatamente, aceita o trabalho. “A pressão é muito grande. O transportador chega e fala: preciso disso para amanhã. Se eu não aceitar, como sustento meus filhos?”, questiona Valdecir Conceição

Souza, 54 anos, que viajou por nove cidades de Minas em apenas dois dias. De acordo com dados da Federação das Empresas de Transporte de Carga de Minas Gerais (Fetcemg), existem hoje cerca de 1 milhão e 800 mil caminhoneiros no Brasil. Cerca de 800 mil são autônomos e acredita-se que a maior parte usa rebite. “Por serem autônomos, eles fazem o próprio horário”, afirma Jésu Ignácio de Araújo, presidente da Fetcemg. José Natan, presidente do Sindicato da União Brasileira de Caminhoneiros (SUBC), afirma que o uso da droga vai de acordo com a consciência de cada caminhoneiro e da empresa que o contrata. Mas o problema é mais amplo e abrange desde os governos estadual e federal, que não exercem uma fiscalização competente dessas relações de trabalho e assim acabam “alimentando” um sistema de trabalho que privilegia o lucro acima de qualquer coisa, até o que Natan chama de “ganância dos donos das transportadoras e das empresas”. As relações de trabalho que envolvem caminhoneiros, transportadoras e empresários são perversas e resultado da impotência e conivência do Estado, porque envolve principalmente questões econômicas. “Se tem uma promoção de leite no Carrefour de BH na sexta, as transportadoras soltam o carreteiro lá em Porto Alegre na quinta-feira”, explica Natan. O que significa que o caminhoneiro vai ter que rodar a noite inteira para cumprir a promessa de lucro da carga. “É pegar ou largar”: essa é a frase mais ouvida pelos caminhoneiros, segundo Valdecir Conceição Souza. Ele reclama da pressão diária que enfrenta, e culpa não só as transportadoras, mas principalmente o governo brasileiro que “fechou os olhos” para a profissão. Infoarte: Rafael Werkema e Marcelo Bruzzi

Números de acidentes • Em 2003 foram registrados pela Polícia Rodoviária Federal 16.618 acidentes. 10.449 pessoas ficaram feridas e 889 morreram. • Pelo menos 40% dos acidentes tiveram caminhões envolvidos. • Estimativas do Programa Pare do Ministério dos Transportes revelam que os acidentes de trânsito são o segundo maior problema de saúde pública do País e 62% dos leitos de traumatologia dos hospitais são ocupados por acidentados no trânsito. • A imprudência dos motoristas e as péssimas condições são os principais responsáveis pelos acidentes.

“A vida de caminhoneiro é dura”, lamenta Geraldo Miguel


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Diagramadores: Rafael Werkema e Sinária Ferreira

GERAL 13

O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

MORTAL Rafael Werkema

Rafael Werkema

Prazos a cumprir ditam as regras Jésu Ignácio de Araújo, presidente da Fetcemg, acha que as transportadoras não têm culpa pelo uso de rebites pelos caminhoneiros autônomos. “As transportadoras têm que cumprir os prazos estabelecidos pelo cliente. Então, elas acabam contratando os caminhoneiros que, com medo de perder o negócio, se sujeitam a fazer o trabalho”, relata. Ele ainda acha que a economia estagnada do país é a responsável pelas péssimas condições de trabalho do caminhoneiro. “O trabalhador entrega sua carga e pega um outro serviço sem se preocupar se está ou não em condições de dirigir, com medo de ficar sem trabalho”, exemplifica Araújo. Mas as transportadoras poderiam ajudar a combater o problema, já que, de acordo com dados da Fetcemg, 95% dos caminhoneiros do Brasil estão cadastrados nas empresas de transporte de carga do país. Bastava cadastrá-los em um único sistema e passar a monitora-los, para saber quando foi feita sua última viagem e se o caminhoneiro tem condições de transportar uma nova carga. Nem mesmo as soluções superficiais, como coibir o uso de rebite, têm sido executadas pelo governo. Fiscalização Segundo Aristides Júnior, chefe da assessoria de imprensa da Polícia Rodoviária Federal (PRF), as polícias estadual e federal não têm meios técnicos para fiscalizar se o caminhoneiro usa rebite ou não. “O policial pode até encontrar os comprimidos dentro do caminhão, mas como podemos prendê-lo se o rebite não é um narcótico, como a cocaína, por exemplo.”, indaga Júnior. Outro problema também é que a PRF não tem nenhum aparelho que comprove que o caminhoneiro esteja “arrebitado”, como por exemplo, o bafômetro, que revela se o motorista está ou não alcoolizado.

Existe ainda uma outra questão, que é a do tráfico dos medicamentos que são de uso controlado, vendidos apenas com retenção de receita médica. No entanto, os motoristas dizem que compram nas próprias farmácias sem a apresentação de qualquer receita e até mesmo em postos nas rodovias, além de conseguirem com qualquer companheiro de estrada. Esse problema já foi levado aos órgãos competentes pela reportagem “Eles estão drogados”, da revista Quatro Rodas, de dezembro de 1997, mas até hoje não foi resolvido. “Isso é narcotráfico”, afirma o ex-caminhoneiro Roberto da Mota, que comprava seu rebite em farmácias e postos de gasolina. Projeto ineficiente Desde dezembro de 1996 tramita na Câmara um Projeto de Lei que “dispõe sobre o tempo de direção dos motoristas de caminhões e ônibus trafegando em rodovias”. A proposta proíbe que os motoristas dirijam ininterruptamente por mais de quatro horas e define a jornada de trabalho diária de oito horas. Mas Jésu de Araújo, presidente da Fetcemg, acredita que esse projeto deve privilegiar somente os caminhoneiros funcionários de empresas, já que se tem um maior controle sobre esse tipo de trabalhador. Ele afirma que grande parte das empresas tem controle do número de horas de trabalho de cada funcionário por meio de um sistema via satélite, e que a maioria dos caminhoneiros autônomos não têm esse equipamento, por isso, a dificuldade de fiscalização. Segundo José Natan, presidente da SUBC, inúmeras cartas já foram protocoladas junto à Presidência da República e ao Ministério Público Federal, denunciando o excesso de horas trabalhadas e a pressão abusiva que condicionam os motoristas ao uso indiscriminado dos rebites.

“Segurança, só da força divina”, afirmam Hélio Rezende e Sérvulo Pires, caminhoneiros e amigos de estrada

Estradas ruins e falta de fiscalização Estradas em condições ruins, policiamento e fiscalização insuficientes e ineficazes, insegurança, assaltos e escassez de postos de paradas, também fazem parte da batalha diária da categoria. Se por sorte, o caminhoneiro consegue achar uma vaga em um dos postos da rodovia, ele pensa duas vezes se pára ou não, com medo de fechar os olhos e acordar com um revólver apontado para dentro da cabine. O exemplo acima é comum e revela que esses problemas contribuem para o uso de rebite. Para os caminhoneiros, acaba sendo melhor andar “dopado” do que ficar parado em postos, sujeitos aos freqüentes assaltos. O caminhoneiro sergipano, Waldemir Dantas, 55 anos, denuncia o abandono das estradas. “Ás vezes você vai de Belo Horizonte a Ma-

to Grosso sem ver nenhum poli- queira dormir, ele não consegue”, cial e quando algum pára, você denuncia o presidente do SUBC, dá cinco reais e eles nem olham José Natan. Segundo ele, no trea documentação. A polícia rodo- cho que vai de Belo Horizonte a viária é ineficiente”, conclui. Wal- Brasília (cerca de 700 Km), é posdemir diz que sível encontrar não toma rebite, “Você vai de em média apemas conhece nas 10 guardas outras combina- Belo Horizonte a rodoviários. ções, como be- Mato Grosso “Precisamos ber café com code mais policiais ca-cola e até co- sem ver nenhum e de pessoas que mer goiabada policial” conscientizem o com sal. “Segucaminhoneiro rança, só da forsobre os males ça divina”, afir- Waldemir Dantas, 55 anos, causados pelo mam os cami- caminhoneiro rebite”, apela Jonhoneiros Hélio sé Natan. Rezende, 34 e Sérvulo Pires, 41. Poucos têm a noção exata da Eles reclamam do policiamento importância do caminhoneiro. e criticam: “os bandidos têm ar- Uma interrupção no sistema de ma melhor do que o exército”. transportes terrestre seria capaz “Não tem lugar para parar e de paralisar o país. Produtos dimesmo que o caminhoneiro versos e essenciais entrariam em

escassez. É o que enfatiza o presidente do SUBC José Natan, que há 11 anos luta pela categoria à frente do Sindicato. “O governo tem que investir nas estradas, que já estão abandonadas há mais de dez anos”, reclama Jésu Ignácio de Araújo, presidente da Fetcemg. A falta de união da categoria é sem dúvida, um agravante para os problemas diários enfrentados pelos caminhoneiros. Roberto da Mota, ex-caminhoneiro, diz: “a gente é capaz de parar o país!”. Enquanto empresa e transportadores lucram com a degradação das condições de trabalho do caminhoneiro, o governo dá as costas para um problema que não se resume ao uso do rebite, mas que abrange a precariedade do trabalho da classe. Infoarte: Rafael Werkema

A desgraça de quem usa ou já usou Rafael Werkema

Quando não perdem a vida em acidentes trágicos nas estradas, os caminhoneiros “arrebitados” podem ficar inválidos e com sérias complicações. É o caso do ex-caminhoneiro Roberto da Mota, 67 anos, aposentado há 15 por invalidez. Roberto teve suas veias do coração dilatadas e sofreu derrame. Além disso, teve que se submeter a uma cirurgia cardiovascular. “Hoje eu tomo uma média de 28 medicamentos por dia pra controlar a hipertensão, taquicardia e uma série de conseqüências“, relata. “Todo motorista que você ouve falar que morreu ao volante, é infarto fulminante provocado por essas porcarias”, acrescenta. Roberto colocava 20 comprimidos de Preludin em um litro de uísque e ia tomando em doses. “A caloria do álcool em contato com o remédio te dá um choque no sangue, um calor no corpo, co-

mo se você tivesse tomando uma injeção pra aquecer”, explica. “Tomei rebite durante 23 anos e hoje sinto na pele as conseqüências”, confessa o caminhoneiro Valdecir Conceição Souza que sofre de taquicardia. Ele diz que, além disso, a droga atacou o seu sistema nervoso: “A gente fica mais estressado, e só não tomo mais porque meu corpo já não agüenta”. Magno Alves, 27 anos, que usa rebite desde os 20 anos, diz que todos os caminhoneiros que conhece tomam. “No dia seguinte o efeito é de cansaço e aí você toma novamente para agüentar e na medida que vai viciando, tem que aumentar a dose”, confessa. Segundo o médico psiquiatra Arnaldo Madruga, isso acontece porque a tolerância do organismo humano aumenta com o uso contínuo da droga.

O que é rebite É o nome vulgar dado aos medicamentos à base de anfetaminas e anfetaminóides indicados para o tratamento da obesidade. São usados indiscriminadamente pelos caminhoneiros para perderem o sono. Segundo o médico psiquiatra, Arnaldo Madruga, a droga provoca um falso efeito de resistência. “A pessoa vai enfraquecendo e tendo uma relação de resistência muito virtual porque a excitabilidade do sistema nervoso central faz com que ele se sinta mais e mais resistente pra continuar dirigindo”, explica. Os principais danos causados que surgem ao longo do tempo, são a taquicardia, hipertensão, problemas nos rins e fígado e, em alguns casos a droga pode levar ao infarto e derrame. Entre as alterações psíquicas está a irritabilidade, um dos fatores responsáveis pelos desastres com os caminhoneiros, chamado de blecaute. “Ele chegam a uma estafa, a um nível de cansaço tão grande que acontece o bleJuliana Cotti caute. Uma escuridão total e eles apagam” descreve o psiquiatra. Ele relata também que o reflexo da pessoa se altera, o que facilita a ocorrência de acidentes. A combinação dos remédios com bebidas alcoólicas potencializa seus efeitos.

Roberto da Mota tomou rebite durante 18 anos


14 - Fumec - Marcelo Aragao

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Editor e diagramador da página: Marcelo de Aragão

14 FUMEC Arte barroca em pauta na Fumec

O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Concertos, peças teatrais, palestras e debates movimentam a 1ª semana de estudos mineiros Rodrigo Mascarenhas

Juliana Morato 3º período A primeira semana de Estudos Mineiros na Fumec foi marcada por um ciclo de palestras, debates e apresentações sobre Minas Gerais. A abertura foi em 25 de maio com um concerto de Música Mineira, realizado pelo Trio Barroco, composto por Alberto Sampaio, Moacir Laterza Filho e Ângelo Vasconcelos. Depois foi realizada uma mesa redonda no teatro Phoenix, na FCH, onde os palestrantes Fernando Correa Dias e Luciano Cortez debateram a visita dos modernistas a Minas Gerais e a construção do paradigma para a cultura brasileira. As palestras deram ênfase à comemoração dos 80 anos da vinda dos modernistas de São Paulo a Minas Gerais em 1924. Tal expedição foi de grande importância para a retomada e/ou releitura da estética da arte barroca em todo o país. O professor e sociólogo Fernando Correa Dias fez um breve histórico da situação de Minas desde 1920. Ele ressaltou a importância da Semana da Arte Moderna em 1922, que marcou o início da proliferação das artes e literatura modernistas, além de mencionar o grande poeta Mário de Andrade, personalidade indispensável na construção da história cultural de Minas Gerais. Correa Dias afirmou ainda que é inquestionável o fato de se co-

nhecer o Barroco para compreender a história de nosso Estado. “A caravana dos modernistas mineiros e paulistas contribuíram para a recuperação de um de nossos maiores patrimônios culturais; o Barroco”. Entre os modernistas mineiros que acompanhavam a caravana, foram citados Carlos Drummond de Andrade, João Afonso, Ermílio Moura, Martin de Almeida e Abgar Renaut. Luciano Cortez falou da necessidade da construção mineira para a construção geral, fazendo uma gênese de toda a cultura brasileira no século XX. Estudos Mineiros A palestra do dia 26 foi comandada pelo professor e mestre em Letras, Paulo Sérgio Malheiros, que relacionou Mário de Andrade ao Barroco Mineiro. Malheiros falou da necessidade que se tinha naquela época de criar uma identidade cultural própria para os brasileiros, rompendo com as artes tradicionais fortemente influenciadas pelas correntes européias. O professor Paulo Sérgio retratou a importância de Mário de Andrade para a cultura mundial. Formado em piano, crítico de música, escritor, poeta, entre outras, Mário sempre procurou acabar com a mesmice das artes no Brasil, incentivou o expressionismo, fez com que o país ficasse a par das vanguardas e trabalhou com uma dualidade entre passado e futuro, antigo e moderno (arte

barroca). “A cultura mineira sempre foi muito significativa no universo brasileiro, principalmente no que diz respeito às artes”, afirmou Paulo Sérgio. A palestra foi ilustrada com um vídeo sobre a Semana da Arte Moderna de São Paulo, em 1922. A professora Adalgisa Arantes fechou o ciclo das palestras fazendo um paralelo entre o Barroco e a arquitetura vernacular: Minas Gerais no século XVIII ao primeiro quartel do século XIX. Ela procurou mostrar o ecletismo e a simplicidade em obras de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. “Sensibilizar a comunidade acadêmica para certas concepções arquitetônicas que estão em via de desaparecimento; muitas delas sendo demolidas e incompreendidas é o principal objetivo da palestra”, afirmou ela. Satisfeito com a receptividade dos estudantes à primeira semana de Estudos Mineiros, o professor e coordenador do projeto, Décio Valadares, enfatizou a necessidade de se criar uma atividade intelectual mais ampla e atrativa para os alunos da Universidade Fumec. “É fundamental conhecer a formação da sociedade mineira para se ter uma visão mais clara, e consequentemente entender melhor nossa sociedade atual”, acrescentou o professor Décio. O encerramento da primeira semana de Estudos Mineiros ficou por conta do grupo de teatro da Fumec, Facamolada, com a peça: “Tupi or not Tupi”.

Ciclo de palestras na Fumec discute a arte barroca e a cultura mineira para o Brasil Sérgio Lucarelli

Novo DA estimula projetos culturais na FCH-Fumec Fernanda Cristina e Antônio Lima 3º Período O Diretório Acadêmico do curso de Comunicação Social, criou um departamento para desenvolver projetos culturais. Duas das propostas iniciais em discussão são o “Dia Cultural”, que acontecerá semanalmente no pátio da FCH, e o programa radiofônico “A Hora do intervalo” que será transmitido nas pausas entre as aulas. Segundo a presidente do DA, a estudante do 4º período de jornalismo, Mariana Alves, esse trabalho tem a intenção de estimular as manifestações artísticas dos estudantes. “O objetivo é promover a integração dos alunos, atraindo a atenção para o departamento cultural e as-

sim possibilitar a criação de novos projetos e eventos”, explica. Para o Presidente do Diretório Acadêmico de Engenharia da Fumec, Guilherme Bastos “A cultura e o centro universitário estão interligados e sem ela não há manifestação dos pensamentos”. O professor do curso de Comunicação Social, Leovegildo Leal, sugere a criação de um mural qualificado onde os alunos possam exibir suas aptidões artísticas e intelectuais. “Sou contra a instalação de alto falantes e a exibição de bandas. Acho que devem ser priorizados a reflexão e o contato primário entre as pessoas. Este contato possui um valor insubstituível que irá se perder com estas práticas”.

TV Assembléia é tema de tese de mestrado Anderson Azevedo 6º período

Os palestrantes Sérgio Arreguy, Araceli Mesquita e Edmundo Bravo

Alunos de PP criam seu dia Isadora T. Doehler 7º período

Espaço de divulgação de novas tendências artísticas Atualmente existem na Fumec vários movimentos musicais criados pelos alunos. Com estilos variados, integrantes dessas bandas acreditam que esses projetos desenvolvidos pelo DA serão um novo campo de divulgação. O estudante de jornalismo Olavo Barbi, que é integrante da banda de reggae Jacanarana, acredita que esses projetos irão estimular o surgimento de várias manifestações culturais dentro da universidade “Acho ótimo esse tipo de iniciativa, pois atitudes como essas estão sendo esquecidas nos últimos anos. Estudo aqui há um ano e meio e nunca houve nenhuma aber-

tura pra a apresentação da minha banda”, comenta Olavo. Para o estudante de comunicação Social da Fumec e promotor da banda de reggae Ogaia, Bruno Favoreto “É muito interessante para as bandas que estão na estrada terem esse espaço. Para os alunos será um momento de diversão”, prevê. A estudante de psicologia Raquel Branco, integrante da banda Forró de Saia acha que a música irá promover a aproximação das pessoas, além disso, “esse será um bom projeto de divulgação pois muita gente não conhece nossa banda” ressalta Raquel.

Os alunos do curso de Publicidade e Propaganda da FCHFumec que fazem parte da Eixo Z, agência laboratório do curso de Comunicação Social, desenvolveram um projeto sob a orientação do coordenador da Agência Modelo e professor de Marketing I, Admir Borges, que lançou o Dia Nacional do Estudante de Publicidade e Propaganda. Para o lançamento do dia 31 de março como sendo do estudante de PP, um debate sobre ética e estética foi realizado no espaço Phoênix e contou com a participação de Edmundo Bravo, premiado publicitário mineiro, Sérgio Arreguy, publicitário e professor de Legislação e Ética da Fumec e Araceli Mesquita, diretora de criação da agência 2004 Criações. Essa iniciativa teve como objetivo mos-

trar a importância da boa formação dos profissionais, que devem ter consciência de que o conhecimento, a ética e a estética devem andar sempre juntos no exercício da profissão. O aluno Igor Carone, que faz parte da agência Eixo Z e que ajudou a fundar a data comemorativa, explicou as intenções do evento. “Resolvemos colocar em pauta a dialética entre a ética e a estética para o estudante refletir sobre esses conceitos, que são muito importantes para o comunicador que, como formador de opinião, tem que ter muita responsabilidade. O público alvo do nosso evento foram os estudantes, e nós convidamos pessoalmente os alunos de outras faculdades.” O publicitário palestrante Edmundo Bravo, criticou a falta de ética dentro e fora da profissão: “o grande problema que existe é que as relações no mun-

do estão deterioradas, as pessoas nem escandalizam mais com a falta de ética. Os valores éticos não têm como ser exclusivamente introduzidos pela escola, eles começam em casa.” Ele acredita que o mercado deveria evitar a veiculação de campanhas anti-éticas: “eu acho que deve vir do anunciante a iniciativa de não publicar anúncios anti-éticos. É um mau negócio para o anunciante ser visto dessa forma. A princípio ele ainda vai receber lucro, mas a longo prazo vai ter sua imagem queimada no mercado. ” A criação do dia do estudante de Publicidade e Propaganda contou com o apoio da Abraep (Associação Mineira de Estudantes de Publicidade e Propaganda), AMP (Associação Mineira de Propaganda), com os Clubes de Criação de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, entre outras instituições do meio.

Os canais de televisão do poder legislativo foram tema de estudo da professora de Telejornalismo do curso de Comunicação Social, da FCH/Fumec, Letícia Renault, que defendeu sua tese de mestrado sobre o assunto. O resultado do estudo é o livro Comunicação e política nos canais de televisão no Poder Legislativo. “A idéia da pesquisa era unir a minha experiência em reportagem de televisão e fazer uma reflexão sobre a questão política, assunto que sempre me despertou grande interesse.”, ressalta. Letícia Renault escolheu estudar a TV Assembléia de Minas Gerais e a TV Senado por estes serem os primeiros canais deste segmento. A preocupação da professora era entender o significado das mensagens destes canais para o público. “Queria saber quais as vantagens que um cidadão comum tem com esse tipo de canal, e quais são os benefícios que eles trazem para a sociedade”. Letícia Renault usou como foco de sua pesquisa as transmissões feitas ao vivo. “Quando se vê uma informação ou imagem ao vivo, temos uma maior possibilidade de perda de poder. O legislativo perde um pouco sobre a cena deles, pois não tem a interferência da edição”, explica. O livro da professora Letícia Renault será lançado no dia 15 de junho na Assembléia Legislativa de Minas Gerais.


15 - Fumec - Anderson Azevedo

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Editor e diagramador da página: Anderson Azevedo

FUMEC 15 Fumec faz revitalização em Mariana O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Estudantes de arquitetura estão desenvolvendo projetos para recuperação da cidade histórica Divulgação / Márcio Eustáquio

Cristiano Faris e Marcelo lMassensini 1º Período A Universidade Fumec assinou um convênio para participar das atividades de revitalização da cidade de Mariana, localizada a 115 quilômetros de Belo Horizonte. O acordo foi oficializado em maio deste ano durante as comemorações de um ano da Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais, em Mariana. “A criação dessa associação mostra que as cidades históricas chegaram a conclusão que passam por muitos problemas comuns e a solução de um município pode atender a outros”, diz a coordenadora do curso de Arquitetura Urbanismo, Andréia Vilela Arruda, que esteve presente no evento. Participam desse projeto a Prefeitura local, o Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA) e o da Estrada Real, a Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais e a Fundação Mineira de Educação e Cultura Fumec, que foi representada pela reitora Raquel Soares Silva. Através deste convênio os alunos de arquitetura vão colocar em prática toda teoria do curso.”Vamos aliar o nosso ensino para o mundo real em paralelo com o trabalho da comunidade”, explica Andréia Vilela. O objetivo do convênio é

estabelecer um conjunto de diretrizes para que possa serem feitos programas e projetos em áreas de interesses comuns. De imediato, serão restaurados os monumentos e patrimônio históricos e culturais da cidade e posteriormente o turismo. O convênio tem duração de 12 meses e começa a entrar em prática a partir das realizações de seminários, que vão acontecer ainda nesse mês, para discutir todas as possibilidades de trabalho. Para a professora Maria Cristina Simão, uma das responsáveis pelo surgimento do convênio, essa oportunidade fará com que a Fumec amplie seu universo. “Através dele estaremos aproximando a pratica da teoria e colocando os alunos em contato com uma realidade que eles podem explorar e acha soluções. Mariana é um grande laboratório”, explica. Apesar de recente, os alunos de arquitetura já pensam em desenvolver projetos explorando as possibilidades do convênio. A estudante de arquitetura, Marina Vidigal Amorim, resolveu mudar o foco do projeto final de graduação para atender uma das necessidades de Mariana. “Estava fazendo um um centro de recreação para crianças e adolescentes em Belo Horizonte, porém descobrir que em Mariana havia uma carência e transferir o estudo para lá”, diz.

A praça das igrejas São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo também terá a sua arquiteura restaurada

1ºFórum Nacional de Pedagogia será realizado em Belo Horizonte Alessandra Frenkiel e Flávio Peixe 6º período De 11 a 14 de julho Belo Horizonte, sedia o 1º Fórum Nacional de Pedagogia no Marista Hall. O fórum é voltado para educadores de diferentes níveis de ensino e espaços escolares e não escolares, docentes e gestores das agências formadores de pedagogos, pesquisadores da área, graduados, em pedagogia e pós-graduandos da área de educação. A idéia de criar um evento voltado para profissionais da educação surgiu em 2001, por iniciativa da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) com o Fórum de Educação e o tema: Pedagogo que profissional é esse? “Era um espaço para discutir as questões atinentes a formação do pedagogo”, explica a professora do curso de Pedagogia da FCH/Fumec, Maria da Penha Esteves. O Fórum de educação evoluiu, e este ano terá abrangência nacional. “Agora de forma mais organizada, o encontro se propõe a definir um espaço que

periodicamente vai discutir questões da pedagogia”, acrescenta Maria da Penha que também faz parte da coordenação do evento. Em sua nova versão, o Fórum Nacional de Pedagogia amplia a discussão de 2001 e incorpora temas referentes a perspectivas de formação e atuação do pedagogo, reflexões sobre a base de formação dos profissionais e a legislação vigente. Entre os objetivos do fórum, está o resgate da identidade do profissional de pedagogia. Participação da Fumec Segundo Ricardo Bahia, coordenador do curso de pedagogia da FCH/Fumec, a participação da instituição no evento é importante pelo fato de ser um fórum de âmbito nacional. Além do apoio a universidade atua na coordenação. “Dos três coordenadores gerais, uma é professora da Fumec, na coordenação científica temos um professor e na comissão de apoio mais dois docentes da FCH”, ressalta Ricardo. O curso de pedagogia da Fumec foi criado há 32 anos e foi primeiro da faculdade a ser reconhecido pelo MEC.

Durante o evento serão ministrado pequenos cursos que complementam o fórum. Os cursos serão são voltados para educação de jovens e adultos e serão ministrados pelas professoras Valéria Barbosa de Resende e Vera Lúcia Nogueira da Fumec. O evento ainda servirá como ambiente para debater a questão da identidade do educador no Brasil contemporâneo. “Enquanto no Japão o professor é o profissional melhor remunerado, no Brasil a pedagogia é vista como uma profissão secundária”, diz Ricardo Bahia. Maria da Penha completa: “A pedagogia comparada a outras ciência é muito desvalorizada, mas sabe-se da sua importância na formação de todos os níveis profissionais.” Ricardo Bahia afirma que a educação é um processo que não está ligado apenas a jovens e adultos, e que está presente desde a pré-escola até os níveis de pós-graduação. Ele afirma que atualmente os cursos de pedagogia estão muito presos às leis, e voltado exclusivamente para a formação de professores de ensino fundamental.


16 - Cultura - Bárbara

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Editora e diagramadora da página: Bárbara Albuquerque

16 CULTURA Cachaça: a mais popular das chiques

O PONTO Belo Horizonte – Junho/2004

Terceira bebida mais apreciada no mundo, a aguardente ganha espaço entre os destilados finos Agnus Morais

Antônio Lima, Fernanda Cristina e Mariana Celle 3º e 1º Períodos Pinga, aguardente, caninha, marvada, branquinha, cachaça... Mesmo com tantas denominações, a cachaça ganhou espaço no mercado de bebidas finas. A cachaça é hoje, o terceiro destilado mais vendido no mundo e passou a ser, oficialmente, a bebida tipicamente brasileira, segundo dados Indi (Instituto de Desenvolvimento Industrial). Assim como o vinho nos países europeus, a nossa pinga ganhou um aliado na divulgação e no controle de qualidade - a Ampaq, Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade. A associação é a responsável pela criação do programa de apoio à produção e ao desenvolvimento da cachaça, Pró-cachaça, plano que tem o objetivo de desmarginalizar a bebida. “O projeto tem como princípio básico aprimorar e zelar pela qualidade da legítima bebida brasileira”, afirma Luiz Peixoto Cury, presidente da Ampaq. Minas Gerais é o maior produtor de cachaça artesanal no Brasil, o estado que mais aprecia e contabiliza litros de cachaça. Possui cerca de 8.466 alambiques e produz 200 milhões de litros por ano. As regiões Norte, Jequitinhonha e Rio Doce são as maiores produtoras, responsáveis por 63% da produção do Estado. Com isso, a cachaça é cada vez mais lembrada como um ícone da cultura mineira. A bebida teve seus altos e baixos, de acordo com o momento histórico vivenciado. Atualmente, ganha prestígio e é servida em festas no Brasil e mundo. O que se vê são cachaças mais caras e valorizadas, comparando-se a vinhos ou uísques. A Havana, do produtor Anísio Santiago, ganhou nome e é considerada a melhor cachaça do mundo e patrimônio de Minas Gerais. Uma garrafa chega a custar R$ 200, e há quem

diga que vale a pena pagar o preço. Segundo Antônio Lacerda, apreciador de cachaças, a qualidade em pingas como essa é indiscutível. “Quando tomamos uma cachaça de qualidade, não sentimos nem mesmo o seu teor alcoólico. É a pura cultura mineira”, ressalta Antônio. Responsável pelo incentivo à produção de cachaça, o INDI desenvolveu projetos a fim de aumentar a qualidade do produto. Isso porque o público apreciador da bebida está cada vez mais exigente. Segundo Marcelo Furtado, técnico de desenvolvimento do INDI , o consumo de cachaça em Minas era maior que sua produção. Percebendo o aumento da demanda, foram desenvolvidos 170 projetos de incentivo. “A produção da cachaça é feita buscando reaproveitar os materiais. O vinhoto é utilizado como fertilizante, e o bagaço na produção de combustível, usado nos próprios alambiques”, ressalta Marcelo. Um pouco de história A cachaça surgiu no Brasil nos tempos coloniais. Tornouse uma moeda corrente na comercialização de escravos trazidos da África para trabalharem nos engenhos. A bebida era muito apreciada, principalmente, em Minas Gerais, devido ao clima frio da serra, a fim de amenizar a temperatura. A cachaça concorria com o vinho de Portugal, o que a tornou um símbolo de resistência à dominação portuguesa. No início da república, a moda européia vigorava no Brasil e a cachaça foi deixada de lado, sendo considerada bebida boêmia e pejorativa. Em 1922, com a semana da arte moderna, a cultura brasileira foi resgatada com a valorização de alguns elementos culturais, entre eles, a cachaça. A partir daí foi iniciado uma melhoria na qualidade deste produto símbolo nacional. Percebeu-se o seu aspecto artesanal e a arte do cultivo desta bebida.

A bebida é um líquido puro e cristalino que sai hoje dos alambiques direto para os tonéis de carvalho europeu

Em 1922, com a semana da arte moderna, a cultura brasileira foi resgatada com a valorização de elementos culturais, entre eles a cachaça

Valorizada, a cachaça conquista pessoas e é cada vez mais consumida

A arte de produzir na fazenda Mariana Celle

No interior de Minas Gerais, em um sítio a 220 quilômetros de Belo Horizonte, próximo a Tiradentes, fabrica-se a verdadeira cachaça mineira desde 1971. ‘Seu’ João Ferreira conta com satisfação como é o processo de fabricação de sua “caninha”, atualmente fabricada somente para vendas nas redondezas ou por hobby. A fabricação começa em agosto ou setembro, pois é quando a produção de cana-de-açúcar é mais elevada e a cachaça rende mais. A produção da cachaça do ‘seu’ João começa quando a cana é cortada e levada ao engenho. Lá é moída, depois sua garapa (caldo de cana) é colocada em um tanque com fubá diluído em água. O fubá deposita-se no fundo do tanque e, após cinco dias, esta mistura fermenta, mas somente ao completar vinte dias poderá ser retirada. O fubá ajuda muito nesta fermentação. “Quando estufa uma espuma, está no ponto”, afirma o produtor. Após a fermentação, a mistura passa para o alambique, o qual tem capacidade para 40 litros. De acordo com ele, o alambique deve ser de cobre ou níquel, para garantir que a cachaça fique apurada e com a qualidade esperada. O alambique é tampado com um capelo, uma espécie de tampa-funil. Este deve ficar coberto de água, para dar pressão. Este conjunto é aque-

cido à lenha, com o fogo controlado. Depois a cachaça circula pela serpentina e desce até o cano, já resfriada. “A primeira que sai com 25ºc é a ‘cachaça da cabeça’, a mais forte”, diz ‘seu’ João. A cachaça é utilizada de 18ºc a 25ºc, mas a ideal é de 18ºc a 20ºc. Como tudo em Minas Gerais, a cachaça do seu João também tem história. O nome da cachaça, “Caninha do Livramento”, foi escolhido pela forma como as pessoas da região chamam a cachaça (caninha). “Livramento”, devido ao sítio onde a cachaça é fabricada estar localizado próximo a Igreja de Nossa Senhora do Livramento, de 250 anos. A igreja está entre os municípios de Prados e Dores de Campos, no alto de um morro. Lá, o ‘seu’ João e sua esposa - que são devotos - cuidam para manter o patrimônio de mais de dois séculos. O litro de sua cachaça é vendido por R$1,50. ‘Seu’ João diz que ajuda um pouco no orçamento da casa. Próximo ao sítio dele também há outras opções de cachaça. Uma delas é a cachaça Tabarôa, fabricada desde 1987 em Vitorino Veloso (conhecido popularmente por “Bichinho”), município de Prados, a 8km de Tiradentes. O bagaço da cana é usado para fazer papel reciclado. O litro desta pinga custa, em média, R$ 15,00.

Sr. João, mostrando como produz sua cachaça

Do interior de Minas para os paladares do mundo Aclamada em verso e prosa, a cachaça mineira é posta com elegância entre as bebidas mais conhecidas e degustadas no mundo todo. Entre elas estão a Vale Verde e a Minha Deusa, produzidas na Fazenda Vale Verde. Os empresários do ramo lançaram um projeto que busca fazer dela um cartão de visita nacional. O ex-empresário da Coca-Cola, Luís Otávio Possas Gonsalves, pensou numa alternativa para conseguir maior lucro e valorização desta cachaça, transformando a Fazenda Vale Verde em um parque ecológico. Lá é encontrada uma mistura de alquimia, ecologia, turismo e relaxamento. O parque está localizado na região metropolitana de Belo Horizonte e precisou de investimentos de cerca de R$1 milhão. Os alambiques e as etapas de produção ficam abertos a visitação do público. Segundo o gerente da fazenda, Rafael Gonsalves Horta, a Vale Verde recebe 1,5 mil pessoas, de todo o mundo, por mês. O parque possui viveiros com grande diversidade de espécies de pássaros exóticos e coloridos, orquidário e lago artificial com peixes. De acordo com Rafael, o carro chefe da fazenda é a ca-

chaça Vale Verde, mas a parte ambiental também tem ganhado destaque. A bebida é constituída de um líquido puro e cristalino que sai dos alambiques direto para os tonéis de carvalho europeu. Assim a aguardente adquire sua cor dourada e o sabor. Com a sofisticação da cachaça, vários produtos começaram a ser produzidos, garantindo a afirmação do critério de qualidade. Assim como uma bela taça de vinho, foi desenvolvido um vasilhame destinado à degustação. Ele permite uma maior concentração de aromas e percepção dos sabores. O produto foi resultado de uma parceria do INDI, Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais, com a Cristaleria Strauss. A taça é feita a mão e foi trazida de Blumenau. E um produto do tipo pode ser usado para grandes degustações. O parque conta com o Museu da Cachaça, que possuí 1.500 garrafas, algumas do início do século 20, onde a história da bebida foi resgatada. A Vale Verde produziu 208 mil litros de cachaça no último ano. A Alemanha é o maior consumidor internacional da cachaça produzida na fazenda.


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