Jornal O Ponto - julho de 2004

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01 - Capa - Patrícia

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Quem te protege? Maria Fiuza

É um consenso dizer que a polícia brasileira é violenta e que não existe segurança pública. Mas qualquer ato indevido da mesma polícia é motivo para insatisfação da sociedade. A mídia explora quando um policial se envolve em alguma situação de abuso de poder, agressão ou morte. Mas de quem é a culpa se a polícia é condenada como despreparada e violenta? A sociedade tem um papel importante na busca por um modelo adequado de policiar, assim como a mídia e, principalmente, o Estado. Observações, como a da tenente da Polícia Militar de MInas Gerais, Paola Lopes, precisam ser refletidas. “A sociedade brasileira pede que a polícia seja violenta na proteção de seus bens, mas quando ela age assim contra o vizinho, o parente, ela toma outras posições”. Páginas 8 e 9

Arquivo O Ponto

Morte de Brizola faz lembrar anos de ditadura no Brasil Em 1964, a capital mineira estava prestes a ouvir Leonel Brizola falar em um comício invadido pela direita. O episódio, conhecido como “a noite das cadeiradas”, acabou em pancadaria envolvendo a polícia que repreendeu a mul-

Indústria de leite e derivados polui mais em Minas

tidão com gases . O presidente nacional do Partido Democrático Trabalhista foi marcado pelo radicalismo e valentia durante todos os anos que esteve presente. Faleceu aos 82 anos no último dia 21. página 3

Minas Gerais é responsável por cerca de 30% da produção nacional de laticínios, por isso, é também o estado que mais joga resíduos sólidos e poluentes nos rios e na atmosfera. O engenheiro ambiental Augusto Machado Soares diz que o maior responsável pelos impactos é o soro do leite que resta da produção de queijos. “Ele tem o potencial poluidor cem vezes maior do que o esgoto doméstico”, afirma. página 13

Direitos dos domésticos são descumpridos por patrões Muitos empregadores ainda insistem em não assinar a carteira de trabalho de pessoas que atuam em casas de família. Outras exigências também não são cumpridas, como férias e 13º salário, previstas na Consolidação das

Leis Trabalhistas. Desde 11 de dezembro de 1972 a lei 5.859 está em vigor no Brasil, mas muitos não desfrutam dela. Só em Minas Gerais existiam, em 2000, mais de 600 mil trabalhadores desta página 7 área.

Jornal dos Bairros ainda é símbolo da voz do povo

Aumento da frota de veículos dificulta controle de tráfego Dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais constatam aumento do número de veículos e condutores na capital mineira. De 2002 para 2003 foram mais 41 mil automóveis trafegando em Belo Horizonte. No último dado constam 792 mil.

A consequência é o trânsito caótico e constantes congestionamentos nas vias da cidade. A falta de espaços para estacionamento também se torna um problema, principalmente na região do hipercentro. página 6

Jogadores brasileiros se destacam na Europa [ página 10 ]

CAPITAL IMUNDA A poluição visual ainda é um problema que afeta a maioria das cidades brasileiras. Em Belo Horizonte, a falta de políticas públicas é reflexo do governo que se anula diante do caos. Três secretarias municipais são responsáveis, mas nenhuma delas sabe informar páginas 4 e 5 sobre o assunto.

Fundado em 1976 na região do Barreiro, em Belo Horizonte, o Jornal dos Bairros durou apenas até 1983, mas se perpetuou como ícone da luta popular por igualdade e justiça social. Símbolo da comunicação popular, ele era feito por jornalistas e pela própria comunidade. Se caracterizou como um instrumento de mobilização e contraposição ao governo imposto pelos militares no Brasil. página 16

Colapso do Estado em PAI promove eventos MG leva a parcerias e beneficia alunos [ página 3]

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02 - Opinião - Carlos Fillipe

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Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

2 OPINIÃO

O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Quem matou a informação? Mariana Alves 4º Período “Quem matou Lineu?” Essa foi a grande pergunta da mídia as vésperas do último capítulo da novela global. Celebridade representa mais uma concreta inserção da banalidade e desvalorização humana na televisão. Porém, esse (apesar da importância do tema) não é o ponto central, pelo menos não é o que deu impacto aos jornais de sexta e sábado. O que indigna aqueles que tem uma preocupação maior com o que está acontecendo com os meios de comunicação brasileiros. A cobertura dada, não só pela Globo, e tão pouco pelos adeptos da “imprensa marrom”, mas pelos veículos que se colocam do lado “sério” do jornalismo, foi tão grande que mereceu até a capa de alguns jornais. O que faz o jornal dar grandes espaços para coberturas como essa? Será que a desculpa vai cair de novo no povo? Ou será que algum editor desinformado vai dizer que não tinha outra coisa mais importante para colocar. O que aconteceu foi um assassinato da informação e da função do jornalista, que não seria cobrir fim de novel. Mas parece que para a grande mídia esse papel do jornalismo é bem naturalizado. Este tipo de assunto sai do entretenimento para ganhar o

Papel da televisão para a sociedade brasileira atual

jornal sem nenhum estranhamento. E não dá mais para acreditar que eles publicam o que o povo quer (aliás, posição defendida pelos personagens dessa novela). Enquanto os veículos jornalísticos abriram para tais publicações, incluindo também os jornais mineiros, alguns outros assuntos ficam cerceados por outros interesses. A triste situação para um leitor de tais jornais é que sua informação está, cada vez mais, sendo engolida pela Indústria Cultural. E para o profissional, outro alarmante estado, que jornal está tão vendido para o mercado que nem mesmo consegue sustentar matérias de domínio público que não seja o último capítulo de Celebridade. O entretenimento (e aqui não estou falando de qualidade) não é parte do jornalismo e ponto final. Não se pode aceitar uma inversão de significados tão brutal, com tanta naturalidade. Pior do que ter uma sociedade desigual, é ter a banalização disso, e ainda, sendo reificado por aqueles que nos informam. Aqueles que são o primeiro a dizer que representam a sociedade, que zelam pela credibilidade. Pra quê? Parece que os empresários da mídia pouco se preocupam comos assuntos de interesse público, que perde espaço para a ficcional e ladainha das 9h.

Poder da mídia na indústria cultural Carlos Fillipe Azevedo 5º período Na sociedade em que vivemos uma das principais formas de poder atuante é o poder simbólico e os recursos utilizados por ele são os meios de informação e de comunicação. Esse poder tem, através dos meios de comunicação, a capacidade de moldar as relações sociais e a também de intervir e mudar os rumos dos acontecimentos de nossa sociedade. É nesse contexto que surge a Indústria Cultural, que é fruto de uma sociedade capitalista e industrializada, onde até mesmo a cultura e o conhecimento é comercializado. Os produtos da mídia nos trazem uma realidade fragmentada, que consiste no que é interessante a ela transmitir, com objetivo de atingir na maioria das vezes o aumento do lucro. A partir do momento em que vivemos essa realidade recortada a mídia irá reforçar as normas sociais vigentes em nossa sociedade, promovendo um conformismo funcional na população. Ao consumirmos os produtos da Indústria Cultural ocorre o processo de despolitização do indivíduo que o torna alienado, ou seja, o individuo não é levado a pensar sobre o que está acontecendo com ele

e nem sobre a totalidade dos fatos ao seu redor. Sendo assim os meios de comunicação assumem uma postura autoritária, dirigindo o consumidor ao invés de colocar-se a sua disposição. O homem passa a ser tão manupulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do seu trabalho. As pessoas estão cada vez mais preocupadas em estar recebendo o maior número possível de informações da mídia e não necessariamente com o conteúdo dessas informações, o que interessa é estar “bem informado”. A todo o momento somos “bombardeados” por informações, porém não são todas elas que irão nos trazer o conhecimento das coisas que estamos procurando. O conhecimento passa a ser uma coisa funcional, ou seja, aprendemos algo para determinado momento. Os consumidores dos produtos da mídia não podem perder a capacidade de se indiginar com o que está acontece em sua volta e de tentar mudar a situação vigente. Se todos continuarmos a ser as “marionetes” da industria cultural nosso destino vai continuar o mesmo. Continuaremos a seguir os modismos impostos pela a maioria dos meios de comunicação.

Rafael Werkema 6º período

Nova versão de Palhaçada Tereza Perazza 7º período A votação do valor do salário mínimo na Câmara e no Senado foi, no mínimo – perdoe o trocadilho necessário -, uma mostra de pior espécie do escárnio absurdo que acontece na política brasileira atualmente. A oposição comemorou os R$ 275; a base retrocedeu aos R$ 260. De forma séria, como disse Lula. Se por séria ele quer dizer com a mesma seriedade com que uma criança de cinco anos chora e rouba um pirulito de outra que puxou o seu cabelo, então a votação foi séria, sim. Painéis no Rio e em BH acompanhavam a guerra de braço para definir quem é mais forte, alto e loiro naquele ninho de cobras. Essa votação serviu para comprovar algo que todos já sabíamos: o menor interesse em qualquer votação de projetos do Legislativo é com o projeto em si. O valor do mínimo tanto faz como tanto fez. A todo o momento da votação, estavam cuspindo nas nossas caras. A questão nunca foi se os 180 milhões de famintos e pobres no Brasil iam conseguir comprar uma pizza no final do mês com esse aumento irrisório. A questão foi, e é, qual é o poder da bancada do governo no Senado e na Câmara; qual é o poder da oposição e quem tem mais força para manipular quem. Quantas obras receberam verbas para uma prática inexistente, em troca de votos? Quan-

tas casas de praias de prefeitos, deputados e todas as outras cobras, ganharam auxílio de verba pública para a construção de sua piscina? Piscina na qual estes e seus filhos irão nadar e mijar: aprendendo desde pequeno a mijar no Brasil. Enquanto isso, projetos importantes como a regionalização da programação da mídia (PL 256/1991) e a despenalização do aborto (PL 1135/1991) estão há 13 anos parados, esperando entrar na pauta de votação do dia. Contrapondo, os senadores estão correndo contra o tempo para votar a diminuição de 5.062 cadeiras de vereadores (PEC 55-A/2001) até o dia quatro de julho, para que não entre em vigor a medida do Tribunal Superior Eleitoral, diminuindo em 8.528 as vagas de vereadores no Brasil. Não... Perder a mamata? Jamais! É disso que se faz a nossa política: de interesses, de jogatina... O Brasil, afundado em infantilidades, retrocedeu e esqueceu o sentido de política, do fazer política. Foi-se o tempo em que existia a política grega, a civilidade. Hoje temos é malandragem, sacanagem, corrupção e falta de ética, onde rojetos de interesse da sociedade são ignorados pelos políticos e nem fazem parte da pauta de discussão da mídia, da roda de bar, das organizações sociais... Como conseqüência, e com conivência (nunca esqueça que somos coniventes: eu, você...), 180 milhões com cara de palhaço, pinta de palhaço. Será esse o amargo fim?

Mineiros no brasileirão Bernardo Motta 5º Período O Campeonato Brasileiro de 2004 está sendo um dos mais equilibrados dos últimos anos. Não que todos os times estão demonstrando um ótimo futebol, mas sim pela falta de um grande time. Perdendo seus grandes jogadores para países europeus, os times brasileiros estão passando por um momento difícil e o que resta a eles, é apostar nas categorias de base, em jogadores em fim de carreira ou em desconhecidos. A briga pelo título brasileiro este ano promete ser acirrada e dificilmente veremos o que aconteceu ano passado onde o Cruzeiro e o Santos dispararam e o campeão foi conhecido de forma antecipada. Outra disputa que promete muita emoção e a disputa do rebaixamento, onde neste ano, quatro times irão para a segunda divisão. O Cruzeiro espera neste ano repetir o feito do ano passado e novamente ser campeão brasileiro. Muitas mudanças ocorreram do time do ano anterior para o deste ano. As principais alterações foram às saídas do técnico Luxemburgo e a do “talento azul” Alex. A equipe agora dirigida pelo técnico Emerson Leão possui um bom elenco e a diretoria promete ainda a contratação de um zagueiro e de um camisa dez para substituir o ex-ídolo da torcida. Dentre as equipes que

estão na primeira divisão, o Cruzeiro é um dos favoritos para ganhar o título já que possui uma boa base, e é uma das poucas equipes no futebol brasileiro que cumpre suas responsabilidades financeiras em dia. A única dúvida que fica na cabeça do torcedor cruzeirense e de saber quais jogadores ainda serão negociados. Para os atleticanos o campeonato brasileiro não é das melhores. Depois de perder o Mineiro para o seu maior rival e do começo irregular do time no Campeonato Brasileiro, a torcida alvinegra esta desconfiada da equipe. Com um “caminhão” de contratações feitas pela diretoria para este ano, na grande maioria de jogadores desconhecidos, e o treinador ainda não definiu quais são os jogadores titulares da equipe. O Atlético precisa de um camisa dez que possa chegar e resolver os problemas de criação da equipe, já que a torcida não agüenta as inconstantes apresentações entre Tucho e Dejair. Outro problema do Galo está no ataque que até agora não achou um companheiro para o Alex Mineiro, sendo assim a torcida ainda compra uma contratação de um matador. Em resumo, o Cruzeiro tem tudo para brigar pelo título ou pelo menos por uma vaga na Libertadores, já o Atlético, se continuar do jeito que está, vai ficar lutando para não cair ou no máximo almejar uma vaga para a Copa Sulamericana do ano que vem.

87,7%: esta é o porcentagem segundo os dados IBGE , de famílias que possuem televisores em casa no Brasil. No primeiro momento, este número não parece assustador, já que estamos no século XXI e pressupomos que estamos na era da tecnologia. E isso não deixa de ser verdade. Mas essa porcentagem passa a ser preocupante a partir do momento em que ela, segundo o IBGE, supera a quantidade de fogões e geladeiras nas residências dos brasileiros. Isto significa: o brasileiro tem tevê em casa mas não têm geladeira, fogão, saneamento básico, etc. E a partir daí começa-se a questionar: que papel a televisão exerce no nosso país? Para iniciarmos um debate sobre a televisão, precisamos, primeiramente, falarmos da importância da “imagem” na sociedade. Contrariando a propaganda de uma marca de refrigerante, imagem é tudo sim. Temos, por natureza (desde os primórdios, com os desenhos nas cavernas), a atração por imagens. Conseguimos associar as coisas com mais facilidade através de imagens. A mensagem, composta por imagens, é mais fácil de ser entendida. Daí é possível entender o poder da tevê não só no Brasil, mas no mundo todo. Quando escutamos alguma notícia no rádio, nossa mente transforma tudo aquilo em uma imagem. Temos tempo para imaginar, raciocinar. Na televisão é mais complicado fazer isso. Ela já nos dá a imagem toda mastigada, pronta para ser consumida sem abrir espaço para nossa imaginação. A tevê no Brasil tem um papel de entretermento. Ela diverte e informa a população. Através das novelas, ela emociona, comove. Mas ela também possui um papel muito mais importante do que entreter e informar: ela forma a opinião da população. Quem não se lembra do dia em que o Brasil inteiro chorou a morte de um presidente que não chegou a governar? Ou então do famoso caso em que a principal rede de televisão, a Globo, elegeu o presidente Fernando Collor de Melo? A influência da tevê sobre a sociedade brasileira é assustadora. Ela ultrapassa a função de divertir e informar. Mas quando falamos de formar opinião, parece que estamos falando em um sentido otimista. Pelo contrário: a televisão pode ser vista, para a Teoria Crítica, como uma forma de reforçar o domínio de uma elite hegemônica. Usando as palavras de Adorno, a televisão reifica um fato e o torna uma realidade natural para o ser humano. A população, ao ver tevê, pode até se chocar com a cena de um assalto. Mas a televisão não nos dá espaço para questionar essa realidade.

ERRATA Che Guevara é de nacionalidade argentina e não cubana conforme a edição anterior.

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Coordenação Editorial: Profª.Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) e Prof. Leovegildo P. Leal (Redação Modelo) Monitoras do Jornalismo Impresso: Patrícia Giudice e Sinária Ferreira Monitor da Redação Modelo: Renato Torres

Monitores da Produção Gráfica: Rafael Werkema e Marcelo Bruzzi Projeto Gráfico: Prof. José Augusto da Silveira Filho Tiragem desta edição: 3000 exemplares Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127 e-mail: oponto@fch.fumec.br

Centro Universitário Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro BH/MG Prof. Eugênio Frederico Macedo Parizzi Presidente do Conselho Curador Profª. Divina S. Lara Vivas Reitora do Centro Universitário Fumec

Prof. Amâncio F. Caixeta Diretor Geral da FCH/Fumec Profª. Audineta Alves de Carvalho Diretora de Ensino Prof. Benjamin Alves Rabello Filho Diretor Administrativo Prof. Alexandre Freire Coordenador do Curso de Comunicação Social


03 - Política -Patrícia

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Editora e diagramadora da página: Patrícia Giudice

POLÍTICA 3 Morte de Brizola relembra ditadura O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

José Maria Rabêlo conta quando a direita invadiu um comício em 1964 e impediu Leonel de falar Rafaela Araújo 6º período Faleceu na noite do dia 21 de junho, aos 82 anos, o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola. Figura de grande expressão na história política do país, Brizola participou dos mais importantes acontecimentos políticos do Brasil nos últimos 60 anos. Entrou na política com apenas 23 anos fundando o Partido Trabalhista Brasileiro. Antes de sua morte, era ocupava o cargo de presidente nacional do PDT, partido que fundou em 1979, quando voltou do exílio. A notícia de sua morte comoveu o país e desencadou manifestações de pesar de várias camadas da sociedade. Até mesmos os brasileiros que jamais votaram nele, foram tocados por uma lembrança carinhosa. Em todas as regiões do país políticos de todos os partidos e tendências fizeram homenagens a um dos maiores líderes da esquerda brasileira. Seu papel Para o jornalista Délio Rocha, Brizola foi uma importante figura política, "não há o que negar, seja você a favor ou contra". Segundo ele a Cadeia da Legalidade de 61 "foi o feito político que transformou Brizola em uma liderança nacional”. O movimento liderado por Brizola, a partir de suas proclamações na Rádio Guaíba de Porto Alegre, convocou o país a reagir contra o golpe que tentou impedir a posse de João Goulart na Presidência da República, após a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 61. Personalista e carismático Brizola colecionava aliados e inimigos políticos. Sonhou com um socialismo, feito de liber-

dade e educação para todos, e com um Estado forte e centralizado. Posicionou-se contrariamente ao regime militar, batalhou pela anistia aos exilados políticos da ditadura. Teve papel fundamental na luta pelas diretas-já e em outros embates por um país mais justo e de fato democrático. Por todo este passado, Brizola cumpriu o seu papel na construção da sociedade brasileira. Quase um comíssio José Maria Rabêlo, jornalista e companheiro de Brizola desde 1958, conta que em 1964 Brizola esteve em Belo Horizonte para realizar um Comício da Frente Parlamentar Nacionalista, que seria realizado na Secretaria de Estado da Saúde, onde é hoje o Minascentro. Segundo o jornalista, a direita começou a ocupar o auditório da secretaria desde as 5 horas da tarde, 3 horas antes do início do comício. A esquerda indignada com a postura de seus opositores decidiu tomar o palco e deu início a um conflito que ficou conhecido como "a noite das cadeiradas". Com o pretexto de acabar com o episódio de pancadaria a polícia invadiu o auditório e utilizou gases para dispersar a multidão que se encontrava no local. Brizola discursou nas escadarias. Rabelo afirma que Brizola era um "um homem incorruptível, destemido e com grande visão política." Qualidades que segundo ele "distinguem Brizola da maioria dos políticos brasileiros". Para José Maria Rabelo, a imprensa mineira deveria, com a morte do político, ter retomado toda a longa história que ele viveu entre a política e o Estado. “Acho que a mídia não cumpriu seu papel na cobertura da morte de Brizola”, reclama o amigo.

"Novas ilhas, novos rios, novos vulcões fazem de [ nosso continente uma nova geografia. Queremos, nova [ agricultura, outras forças juvenis, uma sociedade mais [ pura, novos protagonistas da [ história que está [ nascendo e que temos o dever de [ construir. Quem pode estar contra [ a nova vida? Celebramos a chegada [ de Brizola no cenário [ da América como uma deslumbrante [ aparição de nossas [ esperanças. Político carismático, Leonel Brizola lutou desde 1945 por socialismo e igualdade no Brasil

59 anos de atuação política Sua primeira atuação na política nacional foi aos 23 anos, em 1945, no então fundado Partido Trabalhista Brasileiro, seguindo os passos de Getúlio Vargas. Tinha orgulho de suas raízes populares e, durante a universidade de engenharia, era avesso ao discurso elitista da maioria dos alunos. Em 1954 foi eleito deputado federal pelo PTB gaúcho. Em 55, se tornou prefeito de Porto

Alegre e em 1958 iniciou seu mandato como governador do Rio Grande do Sul. Sua trajetória, desde este início até o fim, foi marcada por coragem e radicalismo. Já no Rio de Janeiro como deputado federal, em 1964, teve Carlos Lacerda como seu rival político, mas perdeu para os militares e foi cassado. Foi exilado e voltou ao Brasil em 1979 fundando do Partido Demo-

crático Trabalhista (PDT). Governou o Rio duas vezes e perdeus outras duas as eleições para presidente. Nos últimos dez anos, seu partido perdeu força na esquerda nacional. Sua última atuação, além de presidente do PDT, foi a ferrenha oposição ao atual presidente e ao Partido dos Trabalhadores, sendo citado como fonte no escândalo publicado no New York Times sobre Lula.

Estamos cansados da [ rotina de miséria, de ignorância, de [ injustiça econômica: abramos o caminho [ àqueles que encaram [hoje a possível construção do [ futuro."

Pablo Neruda

Divulgação

PPP beneficia setores Mariana Alves e Guillermo Tangari 4º período Para tentar reverter o quadro de colapso do Estado, o governo federal elaborou o Projeto de Lei de Parceria Público-Privado (PPP), que está em tramitação no Senado. A expectativa é que se aprovado, contará com uma verba de cerca de R$36 bilhões de reais. O projeto trata-se de substituir o investimento público para o setor privado. Para o deputado estadual do PT, Chico Simões, a parceria retrata a situação em que o governo federal se encontra, devido à lógica neoliberal implanta nos últimos governos. “O Estado está na falência, fruto dessa política implementada, principalmente, no fim da década de 80 e início da de 90”. Ele ressalta que o projeto beneficiará o setor privado e não a sociedade civil. “O que move a iniciativa privada é o lucro. Jamais ela irá participar de qualquer parceria se não tiver um retorno garantido”, completa. Investimentos O projeto já foi aprovado pelo Congresso Nacional, e espera a votação no Senado Federal. Para o governo as parcerias público-privado permitem várias oportunidades de investimentos, suprindo demandas de áreas como segurança pública e infraestrutura. A perspectiva é colocar o setor público e o setor privado mais eficientes, buscando melhores resultados e redução dos prazos de execução.

Para o economista Fernando Nogueira, a solução não está no PPP, e sim na reestruturação dos autos juros, que prejudicam o crescimento do país. “Acredito que a parceria não seja a melhor saída principalmente porque ela vem do pensamento liberal,mas devido à conjuntura atual é aceitável.” Para Chico Simões, com a implantação das parcerias o Estado acaba perdendo o seu significado. “Desde Fernando Collor o conceito de Estado mudou aqui no Brasil trazendo o política de diminuí-lo. Chegando ao ponto de ridicularizar as ações do Estado para ganhar a opinião pública” diz. Minas x Brasil Segundo a Deputada Estadual Jô Moraes (PCdoB), as parcerias refletem a derrota da política neoliberal já que o setor privado não se interessa por este projeto e atenta para as diferenças do aprovado em Minas e o que está em tramitação no Senado. “O projeto que o Aécio apresentou tinha um caráter de beneficiar as empresas em detrimento do Estado, o que não acontece com o projeto nacional que estabelece critérios para o privado”. Um dos aspectos do PPP no Brasil é que os procedimentos de contratação devem respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, e garantir que os pagamentos sejam criados por meio de fundos específicos de ativos públicos, geridos pelo setor privado.

Minas é pioneira de implantação do projeto no Brasil O governo mineiro anunciou em dezembro de 2003 um conjunto de medidas que deram início à implementação da Programa de Parceria PúblicoPrivada (PPP) no Estado. O governador Aécio Neves sancionou a lei que institui o PPP e autoriza a constituição do Fundo de Capitalização do programa criando a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig). O orçamento inicial para o projeto é de R$ 70 milhões referentes a capitalização de 1,5 bilhões de ações preferenciais da Companhia Energética de Minas Gerais, Cemig. O programa possibilita contratos de colaboração entre o Estado e iniciativa privada, no qual o setor produtivo participa da implantação e desenvolvimento de obras, serviços ou empreendimentos públicos, bem como a exploração e gestão de atividades geradas pelos investimentos. O governo vai buscar apoio da iniciativa privada para cinco projetos prioritários definidos como a construção de seis penitenciárias, obras de saneamento básico nas regiões de menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), recuperação da infra-estrutura da MG050, construção do Centro Administrativo do governo e do campus Universidade Estadual (Uemg) em Belo Horizonte.

Segundo Jô Moraes, o projeto de Minas tem o caráter de beneficiar as empresas privadas

Resultado não é igual em todos os países O modelo de Parceria Público-Privado já foi adotado por vários países tendo a Inglaterra como pioneira. A experiência internacional conta com um histórico de mais de uma década. A criação do PPP em países como Portugal, Holanda, África do Sul, Canadá, e ainda em países da América Latina, o México e Chile, teve diferentes resultados. O governo português se associou a empreendedores privados para a exportação de rodovias e lhes garantiu retorno mínimo da receita dos pedágios. Com a garantia, os projetos foram superdimensionados, prevendo um tráfego que só ocorrerá a longo prazo. Em conseqüência, o Estado deverá de-

sembolsar recursos não previstos no Orçamento, com o prejuízo de outros serviços que deverá prestar à população. Com as notícias trazidas de Portugal, setores do governo federal, aconselharam a reestruturação do projeto. Para a deputada estadual Jô Moraes (PCdoB), o Estado tem que garantir o controle sobre o setor privado. “É preciso estabelecer critérios na implatação do PPP para que o Estado não fique na mão da iniciativa privada”. O governo inglês, em2001 havia assumido compromissos da ordem de 100 bilhões de libras em contratos de PPP com vencimentos até 2026. O compromisso decorreu de utilidades já consumidas ou recursos já des-

pendidos. Mas as obrigações contratuais que se tornaram devidas na medida em que os serviços contratados junto à iniciativa privada sejam entregues deverão obedecer a parâmetros de qualidade acordados. Para o advogado, especialista em experiência internacional, Antônio Corrêa Meyer, “essa característica da PPP privilegia a eficiência, pois só haverá desembolso do estado mediante contrapartidas previamente definidas.” Já para a Jô Moraes essa política neoliberal estabelece uma relação prejudicial para o Estado. “Esta lógica de parcerias, não é interessante para o Estado nem para a iniciativa privada, que só a fará em retornos à curto prazo”.


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4 CIDADE

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POLUIÇÃO

VISUAL Arquivo O Ponto

Propaganda agressiva: ruas de Belo Horizonte repletas de placas e faixas, descaracterizando a capital Arquivo O Ponto

Publicidade irregular desrespeita construções tradicionais de Belo Horizonte e agride os olhos dos cidadãos

“Áreas públicas, cyberespaço e todos os tipos de espaços estão cada vez mais sobrecarregados de informação. Tal informação não está, necessariamente, fazendo seu trabalho de comunicar, e de fato pode estar fazendo exatamente o oposto. Alguns lugares no universo urbano se tornaram cidades repletas de luzes, anúncios e letreiros que ofuscam e no cyberespaço deparamo-nos com um piscar mareante de imagens, efeitos e mensagens. A tecnologia tornou estas mensagens mais fáceis de produzir, mas não necessariamente mais comunicativas. É necessário incorporar boas técnicas de comunicação, começando por entender a hierarquia da mensagem no contexto geral do projeto. Comunicação se torna poluição quando mensagens críticas são obliteradas através de volume, quando existe tanta informação que o receptor já não vê nada. Se você quer que as pessoas recebam uma mensagem, oferecer uma avalanche de informação não é o caminho, porque se elas são inundadas com muitas mensagens podem acabar não captando nenhuma delas.” Texto da diretora de marketing Roseane Severo, retirado no site www.htmistaff.org/artigos/178.pbp


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CIDADE 5

O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Daniel Gomes

Bárbara Albuquerque, Renata Quintão e Thiago Lemos 6º período As palavras de Roseane Severo abrem espaço para a discussão sobre um problema que atinge Belo Horizonte e outras cidades do país: a poluição visual. Os belorizontinos que passam por avenidas como Raja Gabáglia, Pedro II, Afonso Pena e Amazonas se deparam diariamente com uma propaganda irregular que torna ainda mais caótica a poluição visual da cidade. “Manter a cidade limpa”: essa é uma frase muito falada pelas autoridades. Mas a falta de iniciativa do poder público é tão visível quanto o problema. Quando três secretarias públicas se mostram despreparadas para assistir e fiscalizar o que é “visual”, comprova o que a cegueira autoritária não quer ver. As secretarias de Meio Ambiente, Regulação Urbana e Atividades Urbanas se perdem em meio à desorganização e à falta de informação sobre a questão. A palavra lixo se torna muito ampla quando consideramos os problemas de poluição dos centros urbanos. E a poluição visual talvez seja uma das maiores dificuldades enfrentadas nas cidades. Ganha-se em excesso de informação e perde-se em conhecimento real. O grande número de cartazes e propagandas acaba por interferir no entendimento da informação, além de ser uma invasão à privacidade do cidadão. Os problemas causados à comunidade pela poluição visual ficam claros, mas fica a dúvida se as autoridades responsáveis conseguem enxergar isso. A Secretaria de Serviços Urbanos possui, desde 1977, um setor para tratar da elaboração de um código de posturas. Segundo Marieta Cardoso, integrante do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam), existiam decretos sobre a questão imobiliária, passeios e edificações, contudo, não adiantava nada ter a legislação de uma norma se não havia fiscalização. O órgão público responsável pela fiscalização é a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH). Segundo Marieta, a Câmara Municipal simplesmente legisla, e a prefeitura é responsável pela implantação dessa lei. E isso não ocorre como deveria. Com o crescimento contínuo e descontrolado da cidade, a PBH não manteve recursos para controlar a questão visual da cidade da forma como era feita em 1977. “É preciso criar um órgão responsável pela fiscalização para que o código de posturas, que foi regulamentado em julho do ano passado, seja cumprido”, afirma. O novo código de posturas reportou antigos decretos e elaborou outros novos para que houvesse uma adequação às mudanças sociais de Belo Horizonte. Essas mudanças e a evolução geográfica acarretam diferentes mudanças na estrutura da cidade. “A prefeitura precisa evoluir junto com esse processo”, alerta. Para Marieta, uma das alternativas possíveis para a solução desse problema seria a democratização da legislação. “A população não tem conhecimento nem do problema da poluição quanto mais da solução”. Uma alternativa para o problema seria a divulgação do código de posturas em escolas, universidades, veículos de comunicação e associação de bairros. Mas a questão atual é a de que acesso das leis é restrito a quem às faz. Marieta Cardoso acredita que, se a questão da poluição visual seguisse o exemplo da divulgação do programa de meio ambiente, o assunto, com certeza, cairia nas mãos e consciência do próprio cidadão, que é o mais eficiente fiscalizador da

cidade. O órgão responsável pela fiscalização dentro da Prefeitura é a Secretaria de Atividades Urbanas. Mas faltam iniciativas para cuidar de um problema grave, totalmente ignorado pelas autoridades. As leis federais, estaduais e municipais sobre os temas, mesmo sem acompanhar o crescimento da cidade, são claras, porém as irregularidades são comuns e o poder público não tem estrutura para resolver o problema. Não existe controle efetivo sobre propagandas irregulares e sons prejudiciais ao meio ambiente. Leonardo Castriota, ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) conta que, antes do código de posturas, as legislações sobre a poluição visual ficavam perdidas dentro das diversas leis e decretos que deveriam ser executados pela prefeitura, mas não foram. Agora que o código foi regulamentado, a questão continua encoberta. Mas Leonardo acredita que a população poderia ajudar a colocar em prática a fiscalização e estimular a “limpeza visual” dos centros urbanos. “A população não cuida do espaço que usufrui pelo simples fato de não ser motivada e penalizada pela infração que comete todos os dias nos espaços públicos. É necessário um programa de conscientização para que o próprio cidadão ajude a prefeitura na fiscalização”, afirma. Um bom exemplo é Curitiba, onde foi desenvolvido um projeto de revitalização do patrimônio, no qual a prefeitura isentava os comerciantes que cumprissem o projeto e penalizava aqueles que não o fizessem. Leonardo diz ainda que “Ética é um exercício diário, se todos os dias a população fosse educada para não poluir, a incidência de um simples papel no chão reduziria consideravelmente. Já foi provado que quando o espaço é bem conservado o indivíduo se sente constrangido em sujar e poluir esse espaço”, conta. A estação de metrô de Belo Horizonte é uma boa demonstração disso. Como o espaço é bem conservado, o usuário mantém a limpeza e conservação das estações. Segundo Leonardo, isso refuta a idéia de que as classes média e baixa são as que menos se preocupam com a estética urbana. É necessário que a prefeitura desenvolva um projeto de revitalização no centro de BH, mostrando que a melhor propaganda é a conservação do espaço de vendas. “É preciso mostrar a população quão bonito é o centro da cidade e que, se bem conservado e bem tratado, será a própria propaganda do comércio central”, finaliza. A discussão da fiscalização sobre a poluição visual é polêmica e obscura. Segundo o gerente da Secretaria de Fiscalização Urbana da Regional Sul, Willian Rodrigues, a real fiscalização é feita pelas denúncias. Só com a ajuda do cidadão pode haver uma solução. A pessoa que quiser denunciar qualquer tipo de poluição deve entrar em contato com a regional referente a seu bairro. Em abril, foram registradas 262 denúncias em todas as regionais. Só na região centro-sul foram 56 denúncias. Mas o maior problema, segundo Willian, é que não existe um controle específico da poluição visual, pelo menos enquanto medidas não forem tomadas. É justamente essa falta de medidas que torna o problema ainda mais grave. Como não existe uma entidade definida como responsável pelo problema, a situação perde o controle. A prefeitura não assume a responsabilidade da falta de organização e, como os outros órgãos, “empurra o problema com a barriga”.

Ignorância e descaso agravam o problema Na Lei Orgânica de Belo Horizonte não existe referência sobre a questão da poluição visual. Há apenas a lei 4253 de dezembro de 1985, decreto nº 5893 de julho de 1988, que possui os artigos nº 75 e 76 que compreendem a questão da poluição visual. Acontece que nada é feito e, como o Comam é um órgão deliberativo, só libera licenciamentos para projetos ambientais. Nada se faz para sanar o problema. Por isso, em 2003, foi criado o código de posturas. Nesse código constam várias normas para solucionar a poluição visual, só que, mais uma vez, não há fiscalização. Com isso, o problema acumula. Ninguém se responsabiliza e a questão é repassada de secretaria em secretaria, buscando um suposto responsável. A dificuldade em tornar possível uma estrutura que funcione faz com que os centros urbanos se tornem verdadeiros “lixões visuais”. A regulamentação do Código de Posturas de nada adiantou. Sérgio Olímpio, gerente da empresa Cor & Arte Propagandas, admite conhecer a lei, mas nunca foi informado nem notificado pela fiscalização da Secretaria de Fiscalização de sua regional. Sérgio afirma que apesar dos seus clientes saberem sobre a pos-

sibilidade de multas, não deixam de fazer publicidade irregular. “Na avenida Pedro II, nos finais de semana, costuma se observar um número exagerado de faixas de uma mesma empresa atravessadas de um canto ao outro da rua. Atrapalha até a sinalização de trânsito. Mas acho que não deveriam existir multas, pois geralmente não existe fiscalização adequada”, relata. O comerciante Adriano Ângelo, proprietário do restaurante Mineiro Grill, diz que as propagandas não atrapalham o espaço público. “Era melhor se pudesse colocar em qualquer lugar, mas a prefeitura não deixa. As faixas deixam o lugar mais bonito, mais colorido. O problema é que a própria prefeitura não cumpre a lei, a BHtrans coloca cartazes em qualquer lugar”, indigna-se. A falta de informação com relação às leis é a principal aliada da poluição visual. A prefeitura de Belo Horizonte deveria desenvolver um projeto de conscientização para que a própria população possa ajudar a combater todo tipo de poluição. Se nem mesmo a prefeitura se organiza e divulga as chamadas “leis”, como é que a população poderá cumpri-la? Mais uma vez a falta fiscalização e organização são os pecados de uma administração falha.

“É necessário um programa de conscientização para que o cidadão ajude a prefeitura na fiscalização” Leonardo Castriota, ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) Daniel Gomes

“É preciso criar um órgão responsável pela fiscalização para que o código de posturas, que foi regulamentado em julho do ano passado, seja cumprido” Marieta Cardoso, integrante do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam)

Legislação

Visual

Artigo 75 - Compete à Secretaria Municipal de Meio Ambiente julgar casos de situações existentes e sobre a conveniência de implantação de qualquer obra, equipamento ou atividade que venha a causar uma intrusão visual significativa, capaz de agredir a estética urbana, inclusive as agressões ao vernáculo, causar poluição visual ou interferir em monumentos históricos e na qualidade de vida dos cidadãos. Artigo 76 - Todo e qualquer plano de intervenção urbana para disciplinar a colocação de veículos de divulgação de anúncios ao público deverá ser submetido à aprovação do COMAM.”

CEGUEIRA PÚBLICA


06 - Cidade - Daniel

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Editor e diagramador da página: Daniel Gomes

6 CIDADE Escassez de vagas gera desconforto

O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Aumento da frota de veículos em Belo Horizonte dificulta organização e controle do tráfego Arquivo O Ponto

Mariana Hilbert 5º período Mais de 792 mil veículos circularam mensalmente por Belo Horizonte no ano de 2003. Em 2002, foram cerca de 751 mil veículos. Dados como este, do setor de estatística do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), revelam que o aumento gradativo de veículos e, conseqüentemente, de condutores, faz com que o sistema de trânsito da capital fique cada vez mais caótico e dificulte a organização e controle dos locais de estacionamento nas principais vias públicas. Uma das categorias que mais convivem com essa dificuldade é a dos taxistas. Humberto Prado, que trabalha há 21 anos no ramo em Belo Horizonte, diz que todas as vias da capital ficam superlotadas em determinados períodos do dia. Ele enfatiza ainda que o local onde encontra mais problemas para estacionar é a avenida Afonso Pena. Já Paulo Loureiro Juliano, taxista, acredita que a solução para esse problema seria o uso de transportes alternativos como forma de desobstruir as vias de maior circulação de veículos. “As pessoas deveriam usar mais o metrô, o ônibus e o táxi. Só assim o problema de estacionamento seria solucionado em BH”, afirma. Uma das formas para atenuar o problema de escassez de vagas, utilizada em Belo Horizonte é o uso do sistema de estacionamento rotativo. De acordo com a supervisora de apoio gerencial do departamento de estacionamento rotativo da BHTrans, Silvana Barcelos Guimarães, o sis-

tema de talões só é implantado nas vias onde a demanda é maior que a oferta de vagas, tais como as regiões hospitalares, centro e da Assembléia Legislativa e os bairros, Savassi, São Pedro, Funcionários, Barro Preto, Barreiro, Mangabeiras, Floresta, Barroca e Venda Nova. “As regiões de comércio, hospitalares ou de bancos sempre são as mais movimentadas e o rotativo é um pedido da comunidade”, explica. A implantação do rotativo é feita através de estudos dos hábitos de trânsito nas vias da cidade. Segundo Silvana, “as regiões com alto índice de nãocumprimento das regras de trânsito passam a ser controladas pelo sistema rotativo. As irregularidades mais comuns são a fila dupla, parada em ponto de ônibus ou locais de estacionamento proibido”. Para a supervisora da BHTrans, o sistema melhora consideravelmente a oferta de vagas, mas ainda existe um alto índice de infrações porque muitos motoristas arriscam e não colocam o talão. Outro problema apontado por Silvana é a atuação dos flanelinhas. “Eles não contribuem e muitas vezes incentivam os motoristas a não colocar o talão. A prefeitura tem um sistema de venda de talões mais baratos para os guardadores para que eles possam revender por um preço mais justo, mas eles continuam a cobrar um preço abusivo”. Situação se agrava a cada ano Além da grande dificuldade de encontrar vagas no centro de Belo Horizonte, o cidadão ainda tem de arcar com o aumen-

to indiscriminado da frota de veículos na capital mineira. Segundo o Relatório Consolidado da Pesquisa Origem e Destino 2001/2002, divulgado no mês de junho pela Fundação João Pinheiro, de 1991 a 2002, a taxa de crescimento da frota de carros de Belo Horizonte foi 4,16% ao ano. Já o aumento da população em si foi de apenas 1,07%. Para agravar ainda mais a situação, de acordo com o relatório, o belo-horizontino está andando mais de carro. O índice do uso de automóveis como meio de deslocamento aumentou 7,4%, enquanto o aumento do uso dos transportes coletivos como o ônibus e o metrô foi de 3,9% e 4,1% respectivamente. O relatório mostra que Belo Horizonte abriga hoje uma frota de 751.085 carros. Há uma média de três habitantes por veículo, já que a cidade conta com uma população de 2,27 milhões. Para o engenheiro de transportes da BHTrans, João Ernani Antunes, o resultado do relatório mostrou que as condições para uma saturação do tráfego na região metropolitana de Belo Horizonte tendem a se agravar em poucos anos. “A saturação também gera poluição, aumento de acidentes, desperdício de tempo e combustível, sem contar o estresse causado pelo trânsito”, alerta. Segundo Antunes, as prefeituras da Grande BH precisam dar continuidade aos projetos de implantação de rede integrada de transporte com prioridade ao uso do ônibus.Isso pode contribuir para que o problema seja solucionado.

Aumento da frota de carros na capital agrava o problema da escassez de vagas

Relação carro/vaga no hipercentro de BH

Fonte: FJP e BHTRANS

Crescimento da frota de veículos (1991-2002)

4.16%/ano

Frota de veículos na capital (2002)

751.085

Quarteirões regulamentados

473

Vagas físicas

12.459

Vagas rotativas

67.721

Rotatividade média (veículo/vaga)

3,5 (Abril/04)

Taxa de ocupação média

50,9% (abril/04)

Privativos lucram com vagas Coletivos são criticados O grande número de veículos que circulam por Belo Horizonte contribui para o aumento do uso de estacionamentos-garagem. Os principais motivos para o uso desses estacionamentos são a escassez de vagas no hipercentro e a falta de segurança nas vias públicas. Apesar de ser uma alternativa cada vez mais utilizada, o preço cobrado nestes locais é considerado abusivo. A supervisora de apoio gerencial do departamento de estacionamento rotativo da BHTrans, Silvana Barcelos Guimarães, afirma que “a vantagem do talão de rotativo é que a pessoa pode ficar uma, duas ou cinco horas e o preço é o mesmo, diferente dos estacionamentos-garagem, que cobram pela hora fracionada”. Para tentar minimizar esse problema, a

BHTrans faz uma pesquisa entre esses estacionamentos para encontrar o preço mais justo para o consumidor. O advogado Marcos Lorenço Capanema alerta para o fato de que não existe nenhuma lei que regulamente um preço máximo a ser cobrado pelos estacionamentos. Para ele os preços são abusivos. “O consumidor deve pagar somente por aquilo que ele usa. Com o sistema de hora fracionada isso não ocorre”, explica Lorenço. De acordo com Wellington Silva, funcionário de um estacionamento-garagem na rua Alagoas, no bairro Savassi, os usuários questionam o preço cobrado mas mesmo cobrando taxas altas, os estacionamentos da capital estão sempre cheios. Segundo Wellington, cerca de

300 veículos utilizam diariamente o estacionamento em que ele trabalha. A estudante Bárbara Campolina Carvalho Silva diz que não tinha o costume de utilizar estacionamentos-garagem, mas mudou o hábito depois de ter seu carro arrombado na rua Uberaba. “Depois de ter meu carro arrombado fiquei preocupada com a segurança. No final das contas o preço pago nestes estacionamentos vale a pena”, defende. Para o professor de administração, José Márcio Ribeiro, a maior dificuldade é encontrar estacionamento e sentir-se seguro com o carro na rua. “Optei por utilizar os estacionamentos pagos por causa da dificuldade de encontrar vagas e da insegurança de deixar o veículo em via pública”, lamenta.

“Outra forma de descongestionar as ruas é estimular o uso do transporte público e apostar no aperfeiçoamento e manutenção das frotas”. Esta é a opinião da supervisora da BHTrans, Silvana Barcelos. “Acabamos de colocar 200 ônibus novos nas ruas, o que colabora com a diminuição do tempo das viagens e faz com que as pessoas deixem os carros em casa e utilizem o transporte coletivo”, esclarece. O Sistema de Transporte Coletivo conduz diariamente um milhão e 400 mil usuários por ônibus em BH. A estrutura envolve 300 linhas controladas por 50 empresas, que operam uma frota de 2.874 mil veículos com idade média de cinco anos e oito meses. Apesar do grande número de veículos para atender a popula-

ção, falta eficiência. A diarista Maria Margareth Gomes, que não possui carro e tem que ir do centro à Nova Contagem, se queixa principalmente da conservação e pontualidade dos carros. “A maioria dos ônibus que pego está com problemas de conservação. Se não bastasse isso, ainda tenho que esperar horas no ponto. Isto é um absurdo, inclusive porque muitas pessoas como eu dependem do ônibus”. A fisioterapeuta Sandra Mara Paim também reclama do transporte público da capital, mas acredita que a melhor forma de ir ao centro é de ônibus. “Sempre que tenho que ir ao centro, opto por deixar o carro em casa e uso o ônibus. Além de achar dificuldade para estacionar acho as ruas perigosas demais para parar o carro”.

Um recurso utilizado para a manutenção contínua da frota são as vistorias feitas em todos os veículos. As principais fontes de financiamento para essa operação são a tarifa do transporte coletivo, que cobre 99,8% dos custos, e a cessão de espaços para veiculação de propagandas nos ônibus, responsável pelos outros 0,2%. Já o serviço de táxi conta com mais de seis mil veículos, que transportam diariamente 120 mil passageiros, enquanto o metrô atende 108 mil pessoas. Além deles, o belo-horizontino dispõe do transporte suplementar. Das 38 linhas existentes, 27 estão em operação com uma frota de 239 veículos. Elas ligam bairros sem passar pelo centro da cidade, cumprindo horários e itinerários estabelecidos pela Prefeitura.

Arquivo O Ponto

Flanelinhas fazem curso para trabalharem em Belo Horizonte

Flanelinhas credenciados são uma segurança para os motoristas que param nas ruas

As atividades de lavador e guardador de carros são regulamentadas no município desde 1994. De acordo com o idealizador do projeto de credenciamento desta categoria em Belo Horizonte, Raul Guilherme, hoje são quase 1.500 trabalhadores cadastrados. A capacitação é feita em parceria com o Centro Universitário de Ciências Gerenciais (UNA), através de um curso realizado a cada três meses, no qual os alunos recebem noções de abordagem e ética, cidadania, relações humanas, direitos do consumidor, noções dos códigos civil e penal e das leis de trânsito. Raul Guilherme enfatiza que a prefeitura não se responsabi-

liza por qualquer dano causado por aqueles credenciados nesse projeto e não estipula o valor a ser cobrado. “A PBH apenas se responsabiliza pelo licenciamento. Os possíveis danos causados a um veículo são responsabilidade dos flanelinhas” Outro aspecto enfatizado pelo curso é o fato de o pagamento ser opcional. O advogado Marcos Lorenço explica que “o flanelinha não pode exigir qualquer tipo de pagamento. Isso é considerado crime de extorsão com uma pena de quatro à dez anos de prisão e multa”, alerta. Na opinião do professor José Márcio Ribeiro, o projeto de

credenciamento elaborado pela prefeitura não é eficaz e apenas reafirma a situação atual. “A sociedade não precisa da figura do guardador de carros porque para suprir a segurança das vias públicas existe a polícia. A atividade de flanelinha não deveria existir e na minha opinião a prefeitura apenas oficializou um problema”, constata. Claudinei Alves, flanelinha credenciado, acha que a atividade é importante. “Além de tomar conta dos carros nós evitamos que os motoristas sejam multados. No curso de capacitação da prefeitura nós aprendemos as regras de trânsito e, na rua, sabemos orientar as pessoas”, defende.


07 - Economia - Renata Quintão

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Editora: Renata Quintão / Diagramador: Flávio Peixe

ECONOMIA 7 Domésticos: classe sem direitos O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto2004

Maioria dos empregados do setor tem direitos desrespeitados Anderson Azevedo, Sônia Bitencourt, Solange Leal 6º período Depois de seis anos de trabalho em uma casa de família, a empregada doméstica identificada pelo nome fictício de Maria resolveu acionar a justiça para receber os seus direitos. “A minha ex-patroa disse que eu não tinha direito a carteira assinada. Nunca reclamei, pois tinha medo de perder o meu emprego”. Quando foi demitida, há três anos, Maria resolveu se informar dos seus direitos e descobriu as trapaças da patroa. Casos iguais a esse ainda são realidade e rendem milhares de processos semanais na justiça do trabalho. Apesar da lei que regulamenta a profissão dos empregados domésticas ter entrado em vigor no ano de 1972, ainda hoje ela não é respeitada e continua apenas no papel. Empregada ou empregado doméstico é todo aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou família, que pode ser tanto na residência principal ou de lazer, como casa de praia, de campo, sítio, etc. Assim, enquadram-se também como empregados domésticos os motoristas particulares, vigias, caseiros, babás, faxineiras e outros. Segundo dados do IBGE, somente no estado de Minas Gerais, havia no ano de 2000, cerca de 623 mil pessoas desenvolvendo serviços domésticos. A luta pelos direitos dos domésticos tem sido árdua e muitas vezes ignorada. Com tratamento legal diferenciado do trabalhador comum, as dúvidas são sempre constantes quando se faz relação com os direitos previstos na lei 5.859 de 11/12/1972. Segundo o professor de Direito do Trabalho da Universidade Fumec e diretor da 27º Vara da Justiça do Trabalho de Minas Gerais, Márcio Rocha Branco, esta desigualdade se encerra devido à proximidade entre o empregador e o empregado, laços de amizade e fidelidade. Ele destaca porém, que essa relação está evoluindo. “A relação entre a família e a empregada doméstica mudou no sentido de ser mais profissional. Hoje a pessoa exerce a profissão não somente como uma válvula de escape para uma pessoa não qualificada”. Os direitos do trabalhador doméstico ainda não podem ser colocados no mesmo patamar dos profissionais comuns, devido à estrutura da função. Porém uma revisão na lei faz-se necessária. Geralda Lopes de Oliveira, do Movimento de Donas de Casas (MDC), em Belo Horizonte, afirma que a legislação não é completa. “Há muitos itens que o empregado seletista tem direito e que o empregado doméstico não tem. Por exemplo, o acidente doméstico”, lamenta. A lei de regulamentação do empregado tem pontos incoerentes. Na questão referente à férias, a lei estabelece 20 dias, porém há um adendo que diz que a “Justiça vem entendendo” que o doméstico tem direito a 30 dias. Para o descanso somente é dado um dia de folga, preferencialmente aos

domingos, mas a “Justiça vem entendendo” que o doméstico tem direito a folga nos feriados e dias santos. A Justiça entende e não regulamenta pontos que são importantes e já estão sendo colocados em prática por alguns empregadores. A questão fica a mercê da interpretação do juiz e da tendência da jurisprudência dominante, caso a empregada entre com um processo contra o patrão. De outro modo, não tem direitos. O professor Márcio Branco acredita, entretanto, que a tendência é que haja a equiparação de direitos e que a relação do trabalhador doméstico vai se aprimorar cada vez mais. Mas a atual situação desses trabalhadores do lar ainda é mais preocupante, pois os empregadores não cumprem a legislação existente, que dirá itens facultativos e que não estão normatizados. Hélio Chagas, há 17 anos no setor de recebimento de reclamações verbais da Justiça do Trabalho de Belo Horizonte conta que a maioria das reclamações são oriundas da não assinatura da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). Benefícios como FGTS, concedidos em termos facultativos, podem estar longe de serem cumpridos. Marcio Branco acredita que esses itens vão se tornar obrigatórios. “O 13º (salário) não apareceu de um dia para o outro. Ele era uma faculdade para os empregadores, que teve a necessidade de ser normatizado, porque cada empregador estava dando a gratificação de forma diferenciada”, explica o professor. A convivência da empregada doméstica com a família faz com que exista uma troca afetiva entre empregador e empregado, criando vínculos que fazem com que este último seja tratado como um membro da família. Lucilene Cardoso, 37 anos, trabalha há dez meses no bairro Santa Lúcia, em Belo Horizonte, e conta que tem uma ótima relação com seu patrão.“Quando meu patrão viaja a casa fica sob minha responsabilidade. Durante o período em que ele está fora mudo para lá com minha família”. Antes se de tornar a tia que encantou as crianças com seus programas na TV, a apresentadora Tia Dulce também trabalhou como empregada doméstica. “Comecei com 12 anos e naquela época era comum meninas pobres trabalharem em casa de família. Meus patrões eram muito meus amigos. O meu salário quem recebia era a minha mãe, porém, sempre me davam restos de comida para levar para casa”, lembra Dulce, que exerceu essa profissão por três anos. Agora a situação se inverteu. A ex-apresentadora de TV virou patroa e vê a profissão com seriedade. “Acho a função de empregada doméstica uma das atividades mais bonita que se tem na categoria de trabalho. Pois são a elas que entregamos as coisas mais importantes da nossas vidas, que é são nossa família e nosso lar”. Já a advogada do MDC, Geralda Lopes Oliveira, alerta sobre a relação entre patrão e empregados. “Apesar de incentivar os laços de amizades é importante que a relação não substitua os direitos do trabalhador

Anderson Azevedo

“As domésticas estão satisfeitas com aquilo que não é repeitado e por isso não participam da nossa associação” Maria Ilma - presidente do Sindicato dos Empregados Domésticos

Anderson Azevedo

Arte: Marcelo Bruzzi

•Carteira de trabalho devidamente assinada e anotada desde

o primeiro dia de trabalho; •Salário mensal nunca inferior ao salário mínimo fixado em lei; •Férias a cada 12 meses de serviço, devendo ser concedida nos 12 meses que se seguirem ao vencimento, a critério do empregador;

Principais direitos do empregado doméstico •Um dia de repouso por semana, depreferência aos domingos; •Décimo terceiro salário (gratificação de natal), a ser pago 50% da remuneração do mês anterior, entre os meses de fevereiro e novembro e o saldo restante até o dia 20 de dezembro; •Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) opcional - empregador decide.

Sindicato conscientiza Agências facilitam classe de seus direitos seleção de pessoal Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de BH, Maria Ilma Ricardo, o movimento, que é responsável pela lei que regulariza a profissão, está sendo reestruturado. “Por motivo de saúde, tive que fechar a sua sede. Porém ele nunca parou, pois na minha casa continuei esclarecendo, por telefone, as dúvidas sobre a profissão”, informa a presidente. A idéia de montar o sindicato surgiu quando Maria Ilma, em 1973, participou da terceira edição do Congresso de Trabalhadores Domésticos. A aceitação do movimento foi grande e as empregadas domésticas passaram a ganhar espaço na mídia. “Cheguei a participar por dois anos de um quadro semanal no programa ‘O Povo na TV’ produzido pela TV Alterosa. Graças a esse programa conseguimos atingir o interior do estado e abrir associações em várias cidades. Viajávamos para Brasília para lutar pelos nossos direitos”, relembra. Entre as reivindicações do sindicato, estão a obrigatoriedade do fundo de garantia, o seguro desemprego e a defini-

ção da jornada de trabalho, que atualmente é feita num acordo verbal entre empregado e empregador. “A luta é grande e temos que levar em consideração que as leis são criadas pelos nossos patrões. Nossas conquistas contaram com a participação de todo país”, ressalta. Conscientizar Segundo Maria Ilma, o sindicato atualmente trabalha para conscientizar a doméstica do seu valor como pessoa e profissional. “Sofremos discriminação porque somos mulheres e domésticas, muitas vezes por sermos negras e às vezes por morarmos em uma favela”, lamenta. A conscientização é apontada pelo sindicato como o primeiro passo para mudar essa realidade. Segundo o especialista em Direito do Trabalho, Márcio Branco, o direito na justiça do trabalho em relação ao assédio sexual também está sendo mais exercido. “A conscientização de se fazer exercer seu direito traduz um aumento significativo do conhecimento desta falta, porque ela existe e muitas vezes não é denunciada”, afirma.

O número de agências de empregos para domésticos tem crescido consideravelmente nos últimos anos em Belo Horizonte. Para atrair a atenção dos empregadores algumas adotam métodos que garantem a credibilidade do serviço. Na agência SOS Patroa & Doméstica, o cuidado com as candidatas ao emprego é rigoroso. “Exigimos todos os documentos, checamos as referências e pedimos um atestado de antecedentes criminais. No surgimento de qualquer dúvida em relação ao caráter da futura empregada, ela é descartada”, explica a proprietária Maria Lúcia Lima. Seleção Quando a agência iniciou as suas atividades há oito anos, havia um projeto de cursos de especialização para formação do empregado. “Esse projeto não foi adiante porque as patroas não abriam mão das empregadas durante o serviço”, justifica a proprietária. Na seleção de pessoal, a contratante passa as características da pessoa que procura para o emprego. Através da ficha de cadastro é analisado

“A função de empregado doméstico não é somente uma válvula de escape para uma pessoa não qualificada” Márcio Rocha Azevedo Branco - Professor de Direito do Trabaho da Universidade Fumec e diretor da 27º Vara da Justiça do Trabalho de Minas Gerais

quem se encaixa nesse requisito. “Trabalhar com perfil é perfeito pois a patroa passa o que ela quer e oferecemos pessoas compatíveis aos interesses”, diz Maria Lúcia. Auxílio O Movimento das Donas de Casas e Consumidores de Minas Gerais vem realizando uma prestação de serviço informando as empregadas domésticas mineiras sobre os seus direitos trabalhistas previstos em lei. “Trata-se de uma consultoria sobre a legislação, com esclarecimento dos direitos e deveres do empregado e empregador”, explica Sandra Medeiros, diretora administrativa do movimento. Segundo Geralda Lopes Oliveira, advogada responsável pelo serviço, o sistema tenta melhorar a relação entre ambas as partes. “A empregada doméstica é uma pessoa que a patroa deve tratar como amiga, pois é muito estreito o relacionamento da profissional com a família. Com o tempo ela toma conhecimento da vida dos patrões e vai criando uma ligação que pode até ser afetiva”, ressalta.

Anderson Azevedo

“As diaristas se auto discriminam e não gostam que assinem suas carteiras como domésticas” Tia Dulce - ex doméstica


08 e 09 - Especial - Sinária

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Editora e diagramadora da pág

8 ESPECIAL

O Belo Horizonte

Ação assegu A sociedade exige segurança e ações mais enérgicas no combate ao crime; ao mesmo tempo condena o uso da força e da violência da polícia mostrada pela mídia. Qual o equilíbrio dessa ações na atividade policial?

Daniel Gomes 2º Período

A

polícia brasileira é violenta. Esse é um consenso geral no que diz respeito à segurança pública no Brasil. E quando a polícia age de forma indevida, a primeira manifestação social contra aquele ato parte da mídia, em sua função de fiscalizar e denunciar erros dos órgãos públicos. A distorção dos fatos atrapalha a credibilidade da polícia. É manchete nos jornais, nas rádios e na TV, o fato de um policial ter agredido um infrator, ter matado a tiros um traficante ou ter abusado de sua autoridade em alguma situação. “A mídia busca o pior caso que ela puder encontrar com as piores fotos para poder publicar”, diz o sociólogo especialista em segurança pública e pesquisador da Fundação João Pinheiro, Eduardo Batitucci. Mas afinal, quais são as razões para a população e a própria mídia concluírem que a polícia é violenta? E qual o papel desses dois agentes na construção de uma polícia mais eficiente e justa? Na cobertura das violações policiais de qualquer natureza, a mídia tende a abordar apenas o fato em si, desconsiderando as causas e as próprias conseqüências da ação. Segundo Batitucci, “na medida em que a mídia é responsável e contextualiza os problemas com os quais está lidando, ela contribui de uma forma muito clara para poder aumentar a capacidade do cidadão de pensar os problemas da sociedade”. O sociólogo afirma que a polícia faz o que a sociedade quer que ela faça. “A gente acha muito ruím que a polícia seja violenta, mas a gente acha muito bom que ela proteja de forma violenta a nossa propriedade”, diz. A tenente e psicóloga da Polícia Militar de

Minas Gerais, Paola Lopes, ressalta a incoerência da sociedade brasileira. “Ela pede que a polícia seja violenta na proteção de seus bens, mas quando a mesma age com violência contra o vizinho, o parente, ela toma outra posição”, acusa. De acordo com Frederico Marinho, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), existe uma pressão por parte da opinião pública e da mídia no sentido de achar que o crime deve ser combatido de forma violenta. “Quando a mídia enfoca a polícia ou o crime, ela é sempre muito pontual, é o homicídio que aconteceu ontem”, salienta. Batitucci acredita que o comportamento da mídia tende a criar um consenso. “Ou a pessoa fica a favor da polícia, pois acha que ela deve ser violenta mesmo, ou fica a favor de quem é reprimido por ela. Isso cria uma visão na qual não existe meio termo e não permite chegar a uma conclusão para que aquilo mude”. O sociólogo diz que o policial que mata durante uma ação não é o profissional especializado para ações mais enérgicas. “Esse policial tem um preparo diferenciado do policial comum que está ali para ser visto, para promover uma segurança subjetiva. É o chamado policiamento preventivo ou ostensivo”, revela. Segundo a tenente Lopes, “o pessoal especializado do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), da Rotam (Rota Ostensiva Municipal), tem uma ação mais enérgica. Deles se exige essa postura”, afirma. A responsável pela Delegacia de Mulheres de Belo Horizonte, delegada Joana Margareth, acredita que o uso da violência e da tortura física e psicológica é desnecessária na apuração de crimes. “Há diversos policiais que investigam crimes com uma té

cnica apurada sem ter que usar da violência”, avalia. As condições de trabalho do policial brasileiro geram insatisafações tanto na população que os olham como incacitados no combate ao crime; quanto para o segmento que embate em greves e manifestações por melhores condições de trabalho e salários. Um dos parâmetros mais utilizados para comparação são as polícias dos países de primeiro mundo. No entanto, esse tipo de comparação, se não identifica o problema, o piora ainda mais. Eduardo Batitucci crê que não se pode comparar. “Não se pode comparar a polícia americana com a brasileira. Os contextos, as formas de trabalhar, os valores da sociedade, tudo é completamente diferente”, ressalta. “Claro que existem casos de abuso de poder, de violência, mas a cada dia as polícias ficam mais violentas porque a sociedade fica mais violenta e exige o mesmo da polícia”. Uma coisa alimenta a outra”, conclui. O sociólogo afirma que o oficial americano morreria em três dias trabalhando no Brasil. “O treinamento do policial americano não é adequado para o contexto da nossa sociedade”, ressalta. Segundo ele, um policial americano em início de carreira ganha em torno de R$10 mil por mês. Para os padrões americanos, não é um bom salário mas o policial pode viver com o mínimo de conforto. “Já no Brasil, é impossível viver com conforto com R$1200, e é isso o que ganha um soldado da polícia com 10 anos de corporação”, de-

nuncia. A situação do policial se complica quando é obrigado a se instalar com sua família no meio de uma favela e, portanto, ao lado do traficante a quem ele combate. “Se ele prende o traficante durante o dia, a noite sua esposa e filhos estão mortos”, explica Batitucci. “O policial é esperado nas esquinas por pessoas que querem se vingar dele. Eles precisam morar bem até por uma questão de segurança”, reclama a delegada Joana Margareth. O sociólogo Batitucci destaca a importância do profissional da polícia na sociedade e o quanto ele é desvalorizado. “O policial é uma pessoa autorizada a fazer uso legítimo da violência, então ele precisa ter tranqüilidade para fazer isso”, diz. Segundo a delegada Joana Margareth, “se você dá poder para uma pessoa desestruturada, isso pode gerar graves conseqüências”. Ela afirma que o policial deveria ser afastado do serviço mais freqüentemente para aliviar o estresse da profissão. Segundo ela, os maus salários e moradias não justificam a falta de profissionalismo, mas devem ser pensados meios de mudar isso. A psicóloga da PMMG, Paola Lopes, revela que “nós temos problemas dentro da polícia, como alcoolismo e o próprio estresse, que é intrínseco à profissão. Então temos de acompanhar para prevenir desvios”, completa. A delegada Joana Margareth afirma que conhece policiais que tomam remédios controlados, fazem terapia por conta própria, mas continuam trabalhando porque têm que sobreviver. “Eles tinham de ser avaliados e, enquanto não tivessem estrutura para voltarem às ruas, não o fariam”, sugere. Frederico Marinho, pesquisador do Crisp, crê que exista uma pressão dentro das instituições para a prevenção e resolução dos crimes. “Esse é o trabalho da polícia, complexo e difícil de avaliar. Um erro da polícia é muito mais sério do que o de outro profissional qualquer. Os eventos onde a polícia foi o agente da violência têm um impacto negativo forte na população”, revela. Para a tenente Lopes, é um erro pensar que o responsável pela segurança pública é apenas a PM, ou o sistema de segurança pública como um todo. “Pelo contrário, a sociedade tem que sair desse lugar e estabelecer parcerias”, argumenta. Os Conselhos de Segurança Pública (Conseps), são criados em bairros ou regionais e, junto da PM, fazem reuniões e direcionam o trabalho da polícia. “É esse o caminho para que as parcerias dêem certo”, afirma.

População tem medo da polícia O Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp) realizou o primeiro estudo de vitimização na capital mineira no ano de 2002. O estudo consiste em traduzir os crimes que não recebem ocorrências policial, a chamada “cifra negra”. A pesquisa é feita em diversos países europeus, além dos Estados Unidos e Canadá. Segundo o pesquisador do Crisp, Frederico Marinho, há uma diferença entre a taxa de vitimização e a taxa oficial de crimes. “Invariavelmente, a primeira será maior do que a segunda em qualquer lugar do mundo”, afirma. A primeira pesquisa de vitimização de Belo Horizonte aponta uma diferença grande entre a taxa de vitimização e a taxa de crimes oficiais. “Essa é uma forma de avaliar a polícia”, segundo Marinho. “Se a razão entre uma taxa e outra é muito maior do que o padrão encontrado em outros países, significa que o desempenho da polícia é insuficiente”, conclui.

Salvo casos como agressões domésticas ou na vizinhança, que são resolvidos sem intervenção externa, o que se conclui é que a população não confia plenamente na polícia e acaba não reportando o crime ou a agressão. “No questionário perguntamos se a pessoa foi vítima de agressão ou extorção por parte da polícia”, explica o pesquisador. Segundo Marinho, essas pesquisas feitas com a população sobre o desempenho da polícia, geralmente apontam para a insatisfação com o trabalho de segurança pública. As avaliações das polícias Civil e Militar são separadas e as respostas indicam um despreparo das polícias. Ao se fazer uma análise dos crimes em Minas Gerais, percebe-se que os crimes violentos estão aumentando. De acordo com Marinho, “isso implica necessariamente que as estratégias adotadas pelas instituições de segurança pública são, em alguma medida, ineficazes”, revela. “A legitimidade das institui-

ções de segurança pública junto à população não é alta. As pessoas se sentem inseguras”, completa Marinho. Marinho acredita que para se construir uma política de controle do crime, mais importante do que ter recursos é fazer um diagnóstico. Para isso, o Crisp oferece cursos para profissionais da área de segurança, como o de Analista de Crimes. Com um diagnóstico preciso através de análise de dados disponíveis, é mais fácil abordar o problema. “No curso, oferecemos ferramentas para o policial trabalhar com as informações que as próprias organizações produzem”, conta. Segundo o pesquisador, o curso já foi dado no Mato Grosso, no Rio Grande do Sul, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Marinho revela que Belo Horizonte está dividida em três setores: bairros, favelas e favelas violentas, onde a incidência de crimes é maior. Segundo ele, o crescimento da taxa de crimes se restringe a algumas áreas da capital.

“Algumas áreas da capital, que tem um perfil muito específico, que é o homem, jovem, de classes D e E, estão sujeitas a uma taxa muito mais elevada de crimes do que a da Colômbia, por exemplo”, compara. De posse de dados como esse, um bom analista pode encontrar soluções mais eficazes e duradouras. O Crisp atua também na análise do banco de dados da Ouvidoria. “O relatório da analise não está pronto, em linhas gerais, faz uma análise do perfil do policial agressor, a natureza da agressão, o percentual de casos encaminhados para o Ministério Público e casos arquivados”, relata o pesquisador. Para marinho, o sistema prisional brasileiro é fálido. “De uma forma geral existe uma cultura de que a punição tem de acontecer antes mesmo da pessoa ser condenada ou chegar na penitenciária”. Segundo ele, nas pesquisas de opinião é fácil perceber que a sociedade aprova a pena de morte e o trabalho braçal na prisão.


08 e 09 - Especial - Sinária

7/2/04

12:42 PM

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gina: Sinária Ferreira / Fotos: Maria Fiuza

ESPECIAL 9

PONTO – Julho/Agosto/2004

ra proteção? União das polícias Civil e Militar

Aécio Neves recorre à força do Exército para patrulhar a capital Daniel Simão e Sérgio Nicácio Período Situações como a ocorrida em Belo Horizonte, quando tropas do exército a pedido do governador Aécio Neves começaram a patrulhar as ruas da capital mineira, tem sido um tanto quanto raras, desde a queda do regime militar nos anos 80. Policiais militares, civis, e parte dos bombeiros e agentes penitenciários de Minas paralisaram suas atividades no início de junho deste ano, insatisfeitos com o aumento dos salários de 6% fixado pelo governo mineiro para as categorias. Em 1997 quando cabos e soldados de baixa patente se revoltaram contra um reajuste concedido apenas para os oficiais pelo então governador Eduardo Azeredo, cerca de 87% das incursões militares se justificavam na necessidade de conter ou de pelo menos acalmar sublevações violentas. De acordo com dados do Departamento de Assuntos Culturais do Exército (DAC), nunca foram constatadas intervenções como as ocorridas em Minas visando a manutenção da ordem pública, devido a falta de policiamento adequado decorrente de greve, que durou até meados de junho de 2004. Pesquisa feita no ano de 2002 pelo mesmo órgão, já apontava para a diversificação das formas de utilização do exército em todo o Brasil. Os acontecimentos em Minas Gerais, parecem ter gerado uma nova concepção de utilização do exército. O Brigadeiro aposentado, George Almeida Magalhães, participante da segunda guerra mundial, afirma que nunca imaginou ver o exército agindo de forma tão diferenciada como tem visto ultimamente. “Na minha época o exército aplicava a ordem e a lei de outra forma. Não se via militares circulando em cidades por falta de policiamento”. Para o ex-comandante da marinha Ernesto Vingues Marques, não se pode permitir que o exército seja utilizado como mero instrumento político, sendo convocado para fazer o papel que não é dele por incompetência dos governos. “Não se pode utilizar o exército para encobrir lacunas políticas”, afirma. No entanto o Senado, durante a intervenção em Belo Horizonte aprovou o projeto de lei que garante

a participação do Exército, Marinha e Aeronáutica na defesa da segurança pública e no combate ao crime organizado. O ministro da defesa, José Viegas, afirma que o projeto não concede ao exército poder de polícia. “Não é verdade que o exército disponha de poder de polícia em áreas urbanas. Isso não está contemplado no projeto”. O comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, destacou a importância da nova lei e acentuou que ‘‘ela dá o suporte legal necessário para que as forças possam cumprir sua missão constitucional’’. A decisão do legislativo, explicitou a incapacidade dos governos federais de conterem a crescente onda de violência observada nos últimos anos. Segundo dados do Instituto Nacional de Criminalidade, ações criminosas têm se tornado cada vez mais freqüentes nas grandes capitais e tem se espalhado para o interior. Em São Paulo o índice de criminalidade subiu 7% no período de janeiro de 2002 a março de 2004, número parecido com os coletados em Porto Alegre e Salvador, que tiveram a violência aumentada em 5 e 6% respectivamente . A cidade do Rio de Janeiro teve o maior aumento 8,5%. Outra questão reside no fato de que a disponibilização de contingente militar para ações de combate ao crime nos estados, pode dificultar ainda mais as negociações históricas envolvendo policias e governos. Isso porque as reivindicações salariais e melhoria nas condições de trabalho são

Nova formação dos profissionais da PMMG Daniel Gomes 2º Período

O oficial da Polícia Militar, ao sair da Academia tem graduação que equivale a um curso superior. A formação dura quatro anos, o que inclui um ano de estágio monitorado. Segundo a tenente e psicóloga da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), Paola Lopes uma das responsáveis pela formação dos policiais que vão às ruas, o Ministério da Justiça elaborou um documento que norteia todas as polícias no que diz respeito às suas bases curriculares. “As bases são comuns e o que permeia essas bases, orientando a formação, são os direitos humanos e a polícia comunitária,” afirma. Segundo a tenente, o maior público das academias é jovens entre 20 e 25 anos. Ela afirma que os policiais veteranos por ter experiência de prática podem ser um empecilho na formação dos mais novos. “O contato do aspirante com os veteranos faz com que eles se desviem um pouco de sua formação acadêmica, mas acredito que essa nova forma de fazer polícia está sendo disseminada por novos oficiais, que tem uma cabeça nova”, avalia. Segundo a tenente, pessoas com um nível sócio-econômico e cultural mais elevado estão procurando as corporações militares, o que torna a preparação mais eficiente. “Mais de 50% dos novos alunos que entraram na academia já passaram pela faculdade e alguns têm até pós-graduação”. A psicóloga acredita que isso se deve ao mercado de trabalho saturado e à estabilidade que o emprego garante.

Em 2003, uma comissão mapeou as competências da PM conhecimento, habilidade e atitude. Segundo a tenente Lopes, o mapeamento mostrou que o profissional deve saber conversar e ter um forte poder de argumentação. “Ele vai administrar conflitos o tempo todo. Em ocasiões específicas, ele vai fazer o uso da força e das armas, mas tudo dentro do contexto dos direitos humanos”. A psicóloga afirma que o currículo policial está sendo direcionado com base no mapeamento para indicar a boa formação do profissional. “Ele não pode querer fazer justiça com as próprias mãos. O policial, quando não está preparado se vê em uma situação crítica, faz uso da força. Acredito que se ele estiver seguro e for bom profissional, não vai ter esse descontrole”, conclui.

pautas policiais. De acordo com o cabo da PMMG, Júlio César a situação está se tornando insustentável para o policial. “Policial tem filho para criar e família para cuidar, e corre risco de vida o tempo todo”, afirma. Discutível ou não, exemplos de intervenção militar como a ocorrida em Minas pode dar novos rumos à política nacional contra a violência. Para Júlio César, independentemente da questão salarial o auxílio no combate ao crime pelo exército sempre será bem vindo. “Quanto mais gente, melhor”, conclui. Segundo, o Instituto Mineiro de Dados 42% dos mineiros concordam com a atuação das tropas militares e julgam que elas são necessárias para manutenção da ordem, em virtude da greve das polícias. Os outros 58% acham, no entanto, que o desembarque de tropas no estado é desnecessário, e que isso de alguma forma, demonstra a incapacidade do governo de impedir que situações como a atual falta de segurança pública, chegue a extremos. Para Carlos Bonides Lacerda, ex-comandante do exército região sudeste, os governos sabendo da existência do exército, muitas vezes não se esforçam para resolver esse tipo de questão. “Não adianta questionar o uso do exército nessas situações, mas a postura dos governos”, afirma.

Daniel Gomes 2º Período A integração entre as polícias Civil e Militar, a exemplo do que ocorre em vários países, teoricamente poderia facilitar a resolução e prevenção de crimes nas grandes capitais. A PM tem cerca de 40 mil e a PC cerca de 10 mil homens no Estado. Entretanto, profissionais das polícias e especialistas são contra a idéia de junção das duas forças. A delegada Joana Margareth não acha que a união seja possível pois a PM é uma polícia ostensiva e a PC é uma polícia científica. “A PM tem sua distinção Militar. A PC não, ela trabalha em silêncio. Acho difícil haver uma junção das duas pela disparidade no comando”, diz. A delegada afirma que um grande passo foi dado pela união do Centro de Informações da PM e o Centro de Processamento da PC. Dessa forma, as informações são cruzadas rapidamente. De acordo com Frederico Marinho, pesquisador do Crisp, “a comunicação, a inteligência das polícias, quem trabalha com análise de dados tem de trocar informações”. A psicóloga da PMMG, Paola Lopes, acredita que as polícias estão caminhando muito bem. “Acho que a criação da Secretaria de Defesa Social foi uma boa medida e ela consegue juntar os esforços de uma forma eficiente”. Segundo ela, na Academia de Polícia, é promovido um treinamento integrado entre cada batalhão e sua respectiva seccional da PC. “Sabemos que isso é um grão de areia, mas o primeiro passo é a integração”, esclarece. O sociólogo Eduardo Batitucci aponta o caminho: “O que tem de ser feito é integrar operacionalmente as duas organizações e aparar as arestas que elas têm. Onde começa uma e acaba a outra. O conflito entre as duas se encontra aí”. Para ele, as polícias podem funcionar de forma independente. “Quando há seguimento da ação da PM, essa ação vai desaguar na PC”. Para ele o erro da sociedade é enxergar apenas as polícias. “A polícia faz parte da estratégia do Estado para controlar o crime”, conclui.


10 - Esportes - Fuscaldi

7/2/04

12:09 PM

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Editor e diagramador da página: Rodrigo Fuscaldi

10 ESPORTES

O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Europa se rende aos jogadores brasileiros Na última temporada, brasileiros conquistam títulos nos principais campeonatos europeus Antônio Carvalhaes

João Paulo da Pieve e Vinícius Almeida 4º período A última temporada do futebol europeu teve como destaque grandes craques brasileiros, tanto nos campeonatos nacionais, quanto nas principais copas européias. Os maiores campeonatos nacionais da Europa foram conquistados por times que contaram com jogadores “brazucas” em seus elencos. Na Itália, o Milan sagrou-se campeão com Kaká, Serginho, Dida e Cafu. Na Espanha, o Valência venceu com o futebol de Fábio Aurélio e Ricardo Oliveira. Na Alemanha, o Weber Bremen, do artilheiro Aílton, conquistou o título. Na Campeonato Francês, o Lyon, de Cláudio Caçapa, Juninho Pernambucano e Sony Anderson, chegou na frente. A Copa dos Campeões, considerado o torneio mais importante do continente, foi vencido pelo Porto, de Portugal, que tem quatro jogadores brasileiros em seu elenco, Derlei, Maciel, Carlos Alberto e Deco. O último, inclusive, foi considerado o melhor jogador da competição e já está nas cogitações do Chelsea, da Inglaterra. Não é de hoje que brasileiros vêm alcançando o sucesso no velho mundo. Na década de 90, nada mais nada menos que três atletas ganharam o título de melhor jogador do mundo, em eleição feita pela Fifa. Coincidentemente, os três venceram a eleição quando atuavam pelo Barcelona, da Espanha. Romário conquistou em 94, Rivaldo em 99 e Ronaldo em 96 e 97. O fenômeno, como é conhecido Ronaldo, voltou a receber o prêmio em 2002, quando atuava pelo Real Madri e se sagrou campeão Mundial e artilheiro daquela Copa pela Seleção Brasileira. Além do mais,

foi o único jogador mundial a receber a honra três vezes. Esse ano, dois atletas conquistaram um maior prestígio ainda encantando toda Europa com seus gols e dribles desconcertantes. Já são, inclusive, os favoritos a receber o prêmio da Fifa em 2004. São eles, Ronaldinho Gaúcho, do Barcelona, e Kaká, do Milan, que durante a última temporada européia, surpreenderam todo o mundo suas jogadas desconcertantes. Para Douglas Vieira, estudante de jornalismo, esse sucesso deve-se à estrutura encontrada nos clubes, além dos salários em dia e uma maior obediência tática. “Os jogadores chegam lá, treinam e jogam em campos maravilhosos, recebem em dia, recebem atenção muito especial no clube, tendo um melhor rendimento dentro de campo”, analisa Douglas. Já para o jornalista André Kfouri, o calendário ajuda muito, além dos brasileiros realmente serem os melhores do mundo: “Lá se joga apenas uma vez por semana e os jogadores brasileiros, sendo bem preparados como são, ganhando massa muscular, explosão, não tem pra ninguém. Nós somos os melhores do mundo”, afirma. Mesmo com toda estrutura e todo dinheiro que o futebol europeu oferece, alguns brasileiros não se adaptam. Às vezes,o motivo á o clima, a culinária, a dificuldade de se comunicar ou, até mesmo, a saudade de amigos e familiares. “Mesmo com todos os fatores a favor, alguns não se adaptam por vários motivos. Grandes jogadores com grande potencial não alcançaram o sucesso na Europa. Alex é um grande exemplo, já que teve uma passagem ruim na Itália, voltou ao Brasil e foi o melhor jogador do ano de 2003”, relata André Kfouri.

Perdidos no anonimato Cada vez mais cedo, jogadores brasileiros saem do país precocemente para jogar fora. Esse mercado de jogadores, que antes se concentrava nos principais países da Europa, se expandiu. Países de menor expressão no futebol, como Japão, Arábia Saudita, Suécia e Rússia contratam craques do futebol brasileiro. Alguns são levados ainda antes de chegar à idade de profissional. Tanto que foi criada uma lei, que impede que o jovem saia do país antes de completar 18 anos. De acordo com o site da Confederação Brasileira de Futebol, CBF, desde junho de 2003 até agora, 27 jogadores foram negociados com exterior, sendo que 19 deles em times de países pouco tradicionais no futebol. São os casos do meia Theco, ex-Coritiba, que atua na Arábia Saudita; do atacante Marques, exAtlético-MG, atualmente no Japão, além do lateral esquerdo Kleber e do meia Souza, que jogam na Rússia. Esses jogadores são seduzidos pelas enormes ofertas salariais oferecidas com a oportunidade de se estabelecer financeiramente, mesmo que a consequência seja sumir da mídia brasileira e mundial. O especialista e estudioso do futebol, Marcelo Tadeu Freitas, discorda de negociações precoces de jogadores com times desconhecidos: “Muitos desses jogadores que vão embora tem qualidade para chegar até à Seleção, mas se

“escondem” nesses times e não são observados. É muito difícil de obter muitas informações sobre esses jogadores”, afirma Tadeu. A maioria das pessoas que vivem dentro do futebol tem a opinião de que os jogadores que se aventuram nesses países sem tradição no futebol estão em busca de um paraíso. Entretanto, a decepção é quase certa, já que a promessa de um boa vida e boas condições de trabalho quase nunca é verdadeiramente cumprida. O caso do zagueiro Cris, ex-jogador do Cruzeiro, é um ótimo exemplo. O atleta que, recentemente, se transferiu para o longínquo futebol da Ucrânia, foi atraído pela ótima proposta financeira. O próprio Cris já teve uma passagem pela Europa. Há alguns anos, o jogador se transferiu do Cruzeiro para o Bayer Leverkussen, da Alemanha. A possibilidade de uma grande carreira no continente europeu não se concretizou devido à falta de adaptação do atleta. O clima, a distância da família e dos amigos, além da falta da mídia do futebol, são os maiores fatores de desistência. Essas negociações são facilitadas pela má fase financeira que se encontram os clubes brasileiros. Basta o jogador se destacar em uma temporada para ser negociado. Nos dias atuais, os jogadores não são mais um patrimônio do clube e sim uma moeda de troca.

Alex se transferiu para o futebol da Turquia, depois de ter sido o melhor jogador do ano de 2003, pelo Cruzeiro

Clandestinos invadem Europa anualmente um censo dos jogadores "clandestinos". Na época, 253 atletas sem registro na entidade foram atuar no exterior. Nos dois anos seguintes, 312 jogadores "clandestinos" embarcaram para a o continente europeu. A Alemanha foi o destino mais frequente em 2003. No total, 91 atletas "clandestinos" deixaram o Brasil para tentar a carreira no exterior em 34 países. O segundo lugar no ranking ficou com Portugal, com 64 jogadores. O terceiro foi a Suíça, com 60.

Em 1998, 93 atletas sem registro foram jogar no país. Em 1999, foram 88. Em 2000, os O ano de 2003 marcou o alemães contrataram 80 atletas recorde de exportação de jo"clandestinos". gadores de futebol brasileiros No ano passado, os alemães chamados "clandestinos". ficaram em terceiro lugar no De acordo com documenranking de transferências ofitos do Departamento de Reciais da CBF, com 41 jogadogistro e Transferência da CBF, res contratados. 363 jogadores sem registro na Os salários não são milioentidade deixaram o país para nários, já que a maioria recebe atuar no exterior. cerca de US$ 1.000. Apesar de atuarem de forEm 2001, Portugal foi o ma lícita nos países onde espaís europeu que mais contratão radicados, os jogadores de tou atletas brasileiros "oficiais". futebol recebem o rótulo de Os clubes portugueses levaram "clandestinos" pelo 171 atletas do Brasil fato de as transferên- “Essa aventura nos países para jogar no seu cias terem sido conpaís. O Japão ficou cretizadas, inicial- europeus nem sempre em segundo lugar no mente, sem o conhe- pode ser considerada uma ranking, com 45 jocimento da CBF, que gadores brasileiros age como um cartó- experiência de vida” contratados. Portugal rio do futebol brasitambém ficou em leiro. primeiro no ranking O número é qua- Álvaro Quintino da volta. Ou seja, 64 se a metade ao de joatletas de futebol deigadores oficialmente transferiAlém de países que notada- xaram o futebol português pados para o exterior em 2003, mente investem em futebol, al- ra o Brasil. No total, 363 joga736. Este grupo é formado por guns atletas "clandestinos" foram dores fizeram o caminho inatletas que já eram reconheci- atuar em destinos considerados verso em 2003. A Suíça ficou dos pela CBF antes de saírem exóticos para o mundo da bola, em segundo lugar, 60 jogadodo território brasileiro. como Moçambique e Líbia. res voltaram de lá. Os "clandestinos" revelam A maioria dos "clandestiO chefe do Departamento uma outra realidade do futebol nos" também deixa o país de Registro e Transferência da nacional. A maioria dos atletas para jogar em clubes sem CBF, Álvaro Quintino, disse atuava no país no futebol de expressão e de paíse de peri- que não existe uma forma de várzea, à margem do registro feria no exterior. No caso da conter esse tipo de transferênformal. Alemanha, quase todos os atle- cia. “Os atletas não são fedeA CBF só consegue identi- tas foram jogar em times que rados, não são registrados. Paficar os atletas de futebol no disputam ligas regionais. Os ra a CBF, não estão vivos. Se exterior porque seus clubes alemães lideram o ranking dos bem que essa aventura nos procuram registrá-los no Bra- "clandestinos" desde a pri- países europeus nem sempre sil depois de contratá-los. meira edição do levantamen- se pode considerar vida”, iroDesde 1998, a CBF faz to da CBF. niza Álvaro. Rodrigo Fuscaldi 6º período

Empresas patrocinam craques da bola Além dos salários exorbitantes, alguns jogadores de futebol, quando estão de folga, “mudam” de profissão e assumem um cargo que, a pouco tempo, não se imaginava que fossem assumir. Os craques que estão em evidência no cenário mundial do futebol são os novos garotos propaganda das grandes empresas, principalmente, de material esportivo. A maior fornecedora de material esportivo do mundo, a Nike, investe muito em publicidade e aposta nos grandes craques do futebol, como Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Totti e Figo, para gravar seus comerciais com a idéia de que os melhores usam a melhor marca. Já a Adidas aposta em Kaká e Zidane. Mas esses craques não “vendem” apenas material esportivo. Sua imagem é utilizada em comerciais de refrigerantes, celulares e, também, no mundo da moda. O último catálogo da grife “Dolce & Gabbana”, uma das marcas de alta-costura mais famosas do mundo, teve, ao invés de modelos, jogadores de futebol como vitrine. Os brasileiros Cafu, Adriano e Kaká, ao lado dos italianos Vieri e Canavarro, foram as estrelas.


11 - Esportes - Fuscaldi

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Editor e diagramador da página: Rodrigo Fuscaldi

ESPORTES 11

O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Falta de apoio prejudica esporte adaptado Investimentos escassos contribuem para o sucateamento do esporte para deficientes físicos Renata Quintão

Daniela Reis e Paula Emmanuella 4º período A falta de apoio do governo estadual na área esportiva para deficientes físicos dificulta o treinamento, devido ao preço elevado dos aparelhos necessários. Segundo o presidente da Associação do Deficiente de Contagem, Maurício Alves Peçanha, a falta de investimento dos governos estadual e municipal faz com que seja preciso pedir ajuda às empresas privadas. Entretanto, o patrocínio, assim como em todos os esportes, é muito difícil. Chegou a propor às autoridades na Conferência Nacional do Esporte, realizada em Brasília, no último mês de junho, que as entidades que incentivarem o esporte serão isentas de impostos. Propôs, também, que as entidades do esporte adaptado recebam incentivos das loterias estaduais e federais. Segundo a assessora de Planejamento e Esporte do Estado de Minas Gerais, Rosemary Teixeira, a Secretaria de Esportes disponibiliza, por ano, aproximadamente R$ 18 milhões para investimentos em atividades esportivas, incluindo projetos sociais como o “Segundo Tempo” e “Curumins”. O problema é que não há recursos específicos destinados ao esporte adaptado, o que piora a situação.

Giovani Eustáquio, que teve as pernas amputadas quando criança, pratica o basquete especializado. Ele afirma que, mesmo adorando o esporte, a situação está caótica. A atividade, segundo Giovani, necessita de um maior investimento, devido aos altos custos de equipamentos, cadeiras de rodas, profissionais e infraestrutura. De acordo com o Censo 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui cerca de 24,5 milhões de deficientes físicos, ou seja, a cada 100 brasileiros, 14 possuem algum tipo de deficiência (cegueira, paralisia cerebral, surdez, dentre outros). Apesar de não haver dados oficiais, estimativas feitas por entidades ligadas ao deficiente afirmam que apenas 10% têm acesso ao esporte adaptado. O número de atletas é tão pequeno que associações buscam recursos, divulgações e apoios para melhoria dos centros adaptados, para contribuir na evolução dos atletas e do esporte. Um exemplo disso é a chegada do vôlei adaptado em cadeiras de rodas à Minas Gerais, experiência que era realizada apenas no Rio de Janeiro. “ O esporte mudou minha vida tanto na parte física e, principalmente, na psicológica, pois me ajudou a reintegrar na sociedade”, afirmou Giovani.

Esporte é a saída para deficientes físicos

A Associação Mineira de Deficientes Físicos incentiva a prática do esporte adaptado

Desprestígio é a marca da tradicional Copa América Bernardo Macedo e Rafael Francisco 4º período A Copa América 2004, que vai ser disputada no Peru do dia 6 ao 25 de julho, está sendo bastante questionada. O interesse mercadológico da competição desperta desconfiança em torcedores e na imprensa. A Copa vai ser disputada quase simultaneamente com as eliminatórias. Com isso, a comissão técnica da Seleção Brasileira decidiu dar um descanso para os principais atletas do time, que já estavam desgastados devido à forte temporada européia que enfrentaram. As ausências de Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Kaká e Ronaldinho Gaúcho confirmam que a tradicional Copa América já não seduz tanto os brasileiros. O desprestígio das grandes seleções sul-americanas em relação à Copa América abre uma discussão sobre a necessidade de se disputar essa competição a cada dois anos. O interesse dos patrocinadores parece falar mais alto e a disputa acontecendo nesse curto intervalo de tempo acaba desgastando a sua imagem e sua qualidade. Assim como o Brasil, a Argentina também não contará com todas as suas estrelas. A disputa da Olimpíada de Atenas deve ser priorizada e alguns jogadores importantes no cenário de futebol devem ficar em repouso. À partir de 1987, a Copa América passou a ser disputada a cada 2 anos. As edições anteriores aconteciam de 4 em 4 anos, como a Copa do Mundo. A 42ª edição da Copa, que acontece esse ano, será sediada pelo Peru. Para muitos especialistas, a antiga fórmula deixava a competição mais disputada e valorizada. Muitas opiniões se formam ao redor dessa questão e algumas hipóteses acabam sendo levantadas.

As emissoras de TV e os patrocinadores parecem se aproveitar da precária situação financeira do futebol sul-americano e dominam o calendário do continente. Seleções de peso, como o Brasil e a Argentina, tem a maioria de seus jogadores atuando na Europa, onde a temporada terminou recentemente. O período de férias desses atletas é prejudicado em decorrência da Copa América. Além disso, a disputa por uma vaga nas Eliminatória da Copa do Mundo de 2006 está em pleno andamento. A inconveniência que um torneio como esse causa para esse países acaba deixando a competição com caráter de um torneio “caça-níquel”, como se diz na gíria do futebol. O jornalista Alberto Rodrigues já cobriu a Copa América e revela os motivos da disputa estar tão desmotivada: “As confederações de futebol têm um claro interesse financeiro na promoção da Copa América. As emissoras de TV têm o poder de definir até os horários dos jogos, porque no final das contas, são elas e os patrocinadores que proporcionam a receita do campeonato”, conta o radialista. O lateral Dedê, do Borussia Dortmund, está de férias em Belo Horizonte e conta que alguns jogadores que querem conquistar seu espaço abririam mão das férias para servir à Seleção: “O Brasil tem muitos jogadores em condições de jogar na Seleção e, como titulares não estarão presentes, os convocados tentarão agarrar essa chance para não sair mais”, conta o ex-jogador do Atlético. O aposentado Carlos Silva, torcedor brasileiro, esteve presente na edição de 1989, que foi disputada no Brasil, e disse que a Copa América deveria ser mais organizada. Ele lembra que para as Seleções mais fracas a disputa sul-americana é a chan-

ce de conquista de títulos: “Algumas Seleções evoluíram muito, como é o caso da Venezuela. Como esses times têm muitos jogadores jovens, a Copa América serve como uma chance de ganhar experiência”, disse o torcedor. A Confederação Brasileira de Futebol, CBF, não se pronuncia sobre o assuntos e confirma a participação do Brasil. A Copa América 2004 será disputada por 12 países: Peru, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Argentina, Uruguai, México, Equador, Brasil, Paraguai, Costa Rica e Chile. Goleadas A Copa América sempre foi marcada pela rivalidade entre os países sul-americanos. Apesar dessa característica de disputa, a Copa América já teve grandes goleadas. O radialista Alberto Rodrigues fez questão de ressaltar a goleada do Brasil sobre a Costa Rica, em 1977: “Ronaldinho e Romário formavam o ataque dessa Seleção e, nesse ano, o Brasil levou o título”, relembra o locutor. A Seleção Brasileira venceu por 5 a 0. As grandes goleadas da Copa América foram as seguintes: 1º) Argentina 12 x 0 Equador (Uruguai, 1942) 2º) Argentina 11 x 0 Venezuela (Argentina, 1975) 3º) Brasil 10 x 1 Bolívia (Brasil, 1949) 4º) Uruguai 9 x 0 Bolívia (Peru, 1927) 5º) Brasil 9 x 0 Colômbia (Peru, 1957) 6º) Argentina 9 x 1 Colômbia (Chile, 1945) 7º) Brasil 9 x 1 Equador (Brasil, 1949) 8º) Brasil 9 x 2 Equador (Chile, 1945) 9º) Argentina 8 x 0 Paraguai (Chile, 1926) 10º) Brasil 8 x 1 Bolívia (Peru, 1956)

Seleção Brasileira busca sexto título Frederico Cadar e Vinícius Azevedo 4º período Entre os dias 6 e 25 de julho será disputada a 41ª edição da Copa América. O Peru será o país sede do campeonato, que vai contar com a participação de 12 países da América Latina. Na 1ª fase, os países latino-americanos se dividirão em três chaves, com quatro seleções em cada, classificando- se os dois primeiros de cada grupo e os dois melhores terceiros colocados. Na 2ª fase, se enfrentam num sistema de mata-mata, de onde sairá o campeão do torneio. Argentina e Uruguai, com 14 títulos cada, são os maiores vencedores do principal torneio das Américas. O Brasil, com seis conquistas, Paraguai e Peru, com dois troféus cada um, Bolívia e Colômbia, com um título cada, são os outros ganhadores da competição.Em 1975, a competição conhecida como Campeonato Sul-Americano de Seleções, passou a ser chamado oficialmente de Copa América. Em 1987, a competição passou a ser disputada a cada dois anos. Na edição de 1989, o anfitrião Brasil quebrou um jejum de 40 anos, e ficou com o título. No Chile, em 1991, a Argentina venceu o Brasil e conquistou o seu 13º título da competição. Em 1993, a Copa América ganhou mais dois convidados por edição, visando ampliar a disputa para a América Latina. México e Estados Unidos, da Concacaf, entraram na disputa. Neste mesmo ano, o México, calouro na competição, chegou à final, mas acaba sendo derrotado pela forte Seleção da Argentina, então bicampeã. Nos anos seguintes, Japão, Honduras e Costa Rica foram algumas seleções convidadas

pela Conmebol. Em 1995, o Uruguai, atuando em casa, venceu o Brasil na final e conquistou seu 14º título e se igualou à Argentina em número de conquistas. Na Bolívia, em 1997, o Brasil venceu os donos da casa na final e sagrou-se campeão da Copa América daquele ano. Em 1999, no Paraguai, a Seleção Brasileira derrotou os uruguaios na decisão e conquistou o bicampeonato e o 6º título da sua história na competição. Já em 2001, atuando em casa, a Colômbia venceu o México na final e conquistou seu 1º título na Copa América. Os mexicanos, juntamente com a Seleção da Costa Rica, representarão o futebol da América Central, nesta edição da Copa América. Lima, Trujillo, Chiclayo, Piura, Tacna e Arequipa são as cidades que receberão os jogos da competição. A final acontecerá no dia 25 de julho, na capital Lima. A Seleção Brasileira, na 1ª fase, ficará hospedada em Arequipa, cidade há 2.335 metros de altitude. Juntam-se ao Brasil na chave C, Paraguai, Chile e Costa Rica. O Brasil, juntamente com a Argentina, são os principais favoritos ao título. O Peru, que atua em casa, juntamente com Colômbia, Venezuela e Bolívia, que fazem boas campanhas nas eliminatórias, correm por fora. Além deles, os mexicanos, que sempre se apresentam bem na competição, também têm chance. O Uruguai, que faz péssima campanha nas eliminatórias sul-americanas e passa por uma crise, provavelmente deve apenas ser um dos figurantes da competição, juntamente com Costa Rica, Colômbia, Equador e Bolivia. Será mais uma edição, onde toda a tradição do futebol das Américas entrará em campo.

Segundo fontes do IBGE, o esporte adaptado surgiu com atividades competitivas para portadores de deficiência auditiva. Entretanto, só no final da Segunda Guerra Mundial oficializou-se o esporte para deficientes físicos, devido as mutilações e amputações sofridas pelos soldados. O esporte chegou ao Brasil em 1958, com a fundação de clubes no Rio de Janeiro e em São Paulo. Atualmente, estimase que apenas 10% dos portadores de deficiências físicas pratiquem esporte. As modalidades como atletismo, arco e flecha, basquete, bocha, ciclismo, futebol e hipismo não são convencionais, embora exista uma preocupação dos professores e técnicos para que o esporte não seja descaracterizado, visando sempre o bem-estar do esportista. A prática do esporte adaptado desenvolve em seus portadores a independência, a auto-estima. Revela, ainda, potencialidades e limitações, melhora a força e a resistência muscular, aprimora a coordenação motora, previne deficiências secundárias, além de contribiuir com a socialização com outros grupos esportivos.

Regulamento da competição ajuda pequenos Confira o confrontos entre as Seleções, pela primeira fase da Copa América: 1 ª fase: Grupo A: 06/07 Venezuela x Colômbia 06/07 - Peru x Bolívia 09/07 - Peru x Venezuela 09/07 - Colômbia x Bolívia 12/07 - Peru x Colômbia 12/07- Venezuela x Bolívia Grupo B: 07/07 - Argentina x Equador 07/07 - México x Uruguai 10/07 - Argentina x México 10/07 - Uruguai x Equador 13/07 - Argentina x Uruguai 13/07 - México x Equador Grupo C: 08/07 - Brasil x Chile 08/07 - Costa Rica x Paraguai 11/07 - Brasil x Costa Rica 11/07 - Paraguai x Chile 14/07 - Brasil x Paraguai 14/07 - Costa Rica x Chile Na segunda fase, chamada de quartas-de-final, o 2º colocado do Grupo A enfrenta o 2º do Grupo B. O 1º do Grupo A joga contra o 2º melhor colocado entre os terceiros de todos os grupos. O 1º do Grupo C enfrenta o melhor terceiro colocado. E, fechando os confrontos das quartas-de-final, o 1º colocado do Grupo B enfrenta o 2º do Grupo C. As disputas das partidas semifinais e final da Copa América de futebol serão disputadas na capital do Peru, Lima. A definição dos terceiro e quarto colocados da competição será conhecida na cidade de Cuzco.


12 - Saúde - Carlos Fillipe

7/2/04

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Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

12 SAÚDE Cirurgias de estômago estão em alta

O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Forma radical de controle de peso é usada indiscriminadamente no combate à obesidade Flávio Peixe

Rafael Amaral Mendonça e Vanessa Roland 4º Período A obesidade é um dos maiores problemas da atualidade e chega a atingir um terço da população mundial. Seja por uma alimentação inadequada, ou por problemas genéticos, hormonais, metabólicos ou ainda em pessoas que possuem algum distúrbio psiquiátricos. Essas pessoas que apresentam uma quantidade de quilos acima do ideal e que não conseguem perder peso com atividades fisicas ou dietas, estão recorrendo a um método de diminuição de peso radical que é a diminuição do estômago. Segundo o Dr. Garrido Junior, um dos maiores especialistas do país na área, a cirurgia tem aumentado nos últimos anos. Calcula-se que já foram feitas no Brasil uma média de 12 mil operações e que o número de cirurgiões especialistas da área tenha subido de 140 para 500 médicos nos últimos anos. Os médicos alertam que a cirurgia somente é indicada às pessoas que sofrem de obesidade mórbida, ou seja, pessoas que estão com muitos quilos acima do ideal e correm risco de morte em decorrência disso. Muitas pessoas com dificuldade de perder peso, e por questão de estética e vaidade, fazem o uso desse recurso para perder peso facilmente mas neste caso a cirurgia não é indicada. O principal critério para a indicação da operação é para pessoas que apresentarem um excesso de 50% do peso ideal. O IMC( índice de massa corporal) é outro indicativo, esse índice é calculado da seguinte conta: divisão do peso pela altura ao quadrado, se o resul-

tado for acima de 35 a operação é permitida. Segundo o endocrinologista, Dr. Marcos Pereira “o principal objetivo da cirurgia é a melhora na qualidade de vida e condições de saúde dos pacientes, e não a aparência, nem a solução para os problemas emocionais ou para a elevação da auto-estima”. Apesar do novo estilo de vida e do cardápio mais leve os obesos comemoram os resultados da operação e demonstram um aumento na auto-estima. João Álvares, 55, fez a cirurgia em julho de 2003 que perdeu 45 quilos diz que “ Minha vida mudou totalmente, passei a me alimentar menos e não sinto a menor fome”, ele também afirma que chegou em uma fase que está perdendo pouco peso e por isso procura se alimentar de maneira mais saudável. Os médicos recomendam uma preparação e um acompanhamento psicológico. Para o médico endocrinologista Márcio Mancini, presidente da Associação brasileira para o estudo da obesidade (Abeso), alerta que é comum uma dificuldade de adaptação alimentar dos pacientes, por isso afirma ser importante fazer uma triagem psicológica antes da cirurgia. Mesmo com complicações que podem ocorrer por causa dessa operação, a satisfação das pessoas é muito grande. A publicitária Maria José Braga, 35, que pesava 120 quilos e reduziu o seu peso para 84 quilos. Ela ficou em coma por dois meses, passando por um sério risco de morrer e não se arrependeu, “toda cirurgia tem riscos, eu tinha sérios problemas de saúde, que poderiam me tirar a vida, por isso foi melhor arriscar”, disse Maria.

Cresce o número de pessoas obessas que procuram cirurgias para redução de estômago no Brasil Infográfico: Rafael Werkema

Principais técnicas de redução de estômago OPERAÇÃO Banda Gástrica

MÉTODO UTILIZADO

REDUÇÃO

Prótese de silicone é "amarrada” no estômago criando uma câmara de 20ml, com passagem de 1,2cm. O estômago é cortado e grampeado, reduzindo sua capacidade para 20ml.

35 a 40% do peso

Scopinaro

O estômago é reduzido a 1/4 do seu tamanho e religado ao intestino num ponto onde a absorção do alimento é menor.

30 a 35% do peso

Balão Intragástrico

Um balão de silicone introduzido e depois inflado com cerca de 400 a 600ml de solução fisiológica ocupando 1/3 do esômago.

10 a 15% do peso

Foto-Capella

PSF atua em 713 cidades mineiras Arquivo O Ponto

Clarissa Guarçoni e Maria Cristina Chaves 4º Período O programa Saúde da família (PSF) foi implantado em 1994 com o objetivo de fazer a conversão do modelo assistencial vigente, introduzindo na Unidade Básica de Saúde uma equipe constituída por agentes comunitários, um médico, um enfermeiro e um auxiliar de enfermagem. A diretora da atenção básica/PSF, Maria Rizoneide de Araújo, destaca que o principal desafio do programa é mudar o paradigma da doença para a saúde. O foco do trabalho passa a ser a saúde, compreendida de uma forma mais ampla, de acordo com a Maria “ temos que nos preocupar com a vida das pessoas, saber ouvir, conhecer a história das famílias, seus problemas e sonhos. tudo isso faz parte da saúde do ser humano”. Atualmente, 2.571 equipes do Saúde da Família atuam no Estado em 713 cidades, cerca de 80% dos munincípios. Mas a população de cada localidade ainda não é totalmente contemplada. Estima-se que dos 18 milhões de habitantes de Minas Gerais, 48% estão recebendo atendimento ofertado pelas equipes do PSF. Para a enfermeira Marília Dolores Peres, que atua na profissão há mais de 20 anos, nos conta como foi a experiência de ser coordenadora do PSF no interior de Minas, “trabalhei no município de Taquaraçu de Minas, existe uma grande diferença entre o PSF do interior e

na capital. Deveriam ser criados dois programas distintos. No interior, são os idosos que são mais beneficiados. A equipe é formada por um médico, por mim e um agente de saúde. Cada agente deve visitar de 600 casas por mês, caso essa meta não seja cumprida, o programa é suspenso na cidade”, relata. Marília aponta que na zona rural a locomoção, condições das estradas dificultam o trabalho, os agentes de saúde são mal remunerados e muitas vezes não possuem o preparo suficiente. O critério de seleção dos agentes é ter mais de 18 anos e residir na cidade, “os agentes fazem apenas uma semana de treinamento na capital. Acredito que o ideal seria que cada um fizesse um curso de reciclagem para ficar capacitado e bem mais preparado” diz Marília. A experiência brasileira com o modelo de atenção voltado para o PSF tem proporcionado mudanças positivas na relação entre os profissionais de saúde, na estruturação dos serviços de saúde. O Ministério da Saúde vem apliando suas parcerias com as Secretárias Estaduais e Municipais de Saúde para o desenvovimento do PSF através dos Pólos de Capacitação, de modo aumentar o processo de qualificação em serviços dos profissonais que compõe o Saúde da Família. O Programa se destaca pela estratégia de reorganização da atenção básica, na lógica da vigilância à saúde centrada na melhora da qualidade de vida da população.

20% do peso

Enfermeiras que atuam no Saúde da Família estão mais próximas dos pacientes

As conquistas

do PSF

•Aumento da homogeneidade das coberturas vacinais em crianças menores de um ano de idade (com vacinas do calendário básico), atingindo na maioria dos municípios a meta de 95%. •Ampliação da faixa do aleitamento materno. Hoje 69% das mães atendidas pelas equipes que amamentam seus bebês até os quatro meses. •Maior controle dos diabéticos e hipertensos, o que demonstra um maior cuidado com a população de risco. •Ampliação da realização do exame do teste do pezinho, que é feito em 100% dos bebês atendidos pelas equipes do PSF. •Aumento do número de consultas, principalmente, pediátricas e ginecológicas. •Aumento das visitas domiciliares. Cada família recebe no mínimo uma visita mensal. Fonte: Sistema de Informação de Atenção Básica - SIAB

A importância dos profissionais na prática do PSF O Programa Saúde da Familia no interior funciona da seguinte forma: a cidade é dividida em microrregiões. A partir disso, define-se o número de integrantes das equipes, lembrando que existe um médico e uma enfermeira, o que varia é o número de agentes. O agente faz o cadastro das famílias e todas são visitadas, tendo ou não necessidade. No interior população sempre é muito receptiva com a equipe do PSF. Pensa-se na possibilidade de um assistente social e um psicólogo compor a equioe do PSF. Isto porque, em muitos casos, o problema não é só a saúde. Deve-se levar em conta o lado psicológico do paciente. Muitas vezes, os próprios médicos e enfermeiros fazem esse papel de psicólogos escutando os problemas dos pacientes. É importante destacar a atuação dos enfermeiros, entre os componentes da equipe, pode-se afirmar que esse profissional tem a formação mais próxima do desejado para o trabalho no Saúde da Família. A atuação dos profissionais é de extrema relevância para a consolidação do programa. Cabe ao profissional de enfermagem a organização da prestação da assistência, planejamento e supervições e nas ações de diagnósticos da comunidade. O PSF se destaca como estrátegia de reorganização da atenção básica, representando uma concepção de saúde centrada na qualidade de vida.


13 - Ambiente - Peixe

7/2/04

12:16 PM

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Editor e diagramador da página: Flávio Peixe

AMBIENTE 13 Laticínios entre os que mais poluem O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Falta de tratamento de esgoto das indústrias de lactoderivados aumenta os níveis de poluição Flávio Peixe

Bruna Cruz e Daniel Ferreira 4º Período A Cadeia Agroindustrial do Leite no Brasil é uma das mais importantes na economia do país. Minas Gerais é o estado que mais produz, cerca de 30%, seguido por São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiânia e Paraná que juntos representam os outros 70% do total. Esses dados seriam animadores se não fosse o fato de que a indústria de laticínios é considerada uma das que mais polui. Isso porque gera efluentes líquidos, resíduos sólidos e emissões atmosféricas; poluentes originários de diversas atividades exercidas nas indústrias. Ao serem lançados no meio ambiente são seriamente impactantes. Segundo dados do SebraeMG, a produção de leite em 2002 foi de 21.1 milhões de litros, sendo o consumo de 127,4 litros por habitante ao ano. Em 2001 o Brasil exportou 2,3 toneladas de queijo, correspondendo aproximadamente a 12% das exportações de lacticínios. Os efluentes líquidos são considerados os principais responsáveis pela poluição por laticínios. Essas substâncias, geralmente jogadas nos rios, são desde o leite ácido, perdas de produtos, água, produtos usados em limpezas de equipamentos, tubulações, lubrificantes, sem contar os esgotos sanitários.

De acordo com o engenheiro ambiental Augusto Machado Soares, o soro do leite, resultante da produção de queijos, é o maior vilão, pois tem potencial poluidor cem vezes maior do que o do esgoto doméstico. “Uma fábrica que produz uma média de 300 mil litros de soro por dia polui mais do que uma cidade de cem mil habitantes”. Machado, que desenvolve um projeto sobre poluição ambiental no leste de Minas, alerta ainda que o estado possui mais de 1.200 laticínios sem qualquer tratamento de seus resíduos, que são lançados à revelia no meio ambiente. Há também a poluição atmosférica causada pela queima de óleo das caldeiras que emitem os óxidos de enxofre, nitrogênio, hidrocarbonetos, monóxidos de carbono, entre outros. “O problema está nas más condições das caldeiras, na maioria dos laticínios, que eliminam fuligens e causam danos aos habitantes das cidades próximas” acrescenta Augusto. Pouco se discute a respeito do problema, os efluente continuam a ser despejados nos rios sem tratamento. A legislação vigente sobre as águas nacionais baseia-se na Resolução nº 20 do Conama, que estabelece normas e padrões para a qualidade das águas e o lançamento de efluentes nos corpos das águas, o problema recai sempre sobre a má fiscalização.

Ações buscam minimizar problemas

Falta de tratamento de esgoto gerado pela produção de laticínios aumenta poluição

Para resolver o problema da poluição pelos laticínios, a Copasa desenvolveu ETEs (estações de tratamento de esgoto) do Ribeirão Arrudas e do Córrego do Onça. A ETE do Arrudas, localizada na região da Margazânia (Sabará),ocupa uma área de 63,84m2 e atende a uma poulação inicial de um milhão de pessoas. A estação do Córrego do Onça será construída na região do Ribeiro de Abreu, com investimento de 48 milhões de reais. A conclusão das obras está prevista para setembro de 2004. Com essas duas estações em funcionamento, os esgotos de Belo Horizonte e de Contagem serão tratados antes de serem lançados no Rio das Velhas. O tratamento consiste em separar a parte líquida da sólida do esgoto e tratar cada uma delas, reduzindo ao máximo a carga poluidora. Outra medida acordada entre os governos foi a realização de uma série de projetos na área de Proteção Ambiental Urbana e Industrial, dando início ao Projeto Minas Ambiente, cujo objetivo consiste em buscar soluções para tipologias industriais, previamente selecionadas e abrange indústrias de pequeno e médio porte instaladas em Minas.

Governo lança novo projeto para formar educadores ambientais Willian Chaves 4º Período Preocupado com a formação dos profissionais que atuam na área ambiental brasileira, o governo federal vai oferecer capacitação a professores e estudantes, através da Coordenação de Educação Ambiental (Coea), da Secretaria de Educação Continuada e Diversidade (Secad/MEC). Serão oferecidos os cursos de Formadores I e II que possibilitarão aos participantes atuar em pólos regionais das escolas, multiplicando informações sobre o meio ambiente. Ainda esse mês o MEC vai realizar em Brasília uma oficina para construir a metodologia de formação e material didático. Para o engenheiro ambiental e coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Fumec, Sérgio Roman, o projeto é uma ótima proposta para a conscientização da população na proteção ao meio ambiente. “Os projetos idealizados pelo governo ou até mesmo pela iniciativa privada deve começar sempre pelas escolas, porque a educação em crianças é mais resultante que a reeducação adultos, as próprias crianças já com uma concepção

de preservação acabam por chamar atenção de seus pais ou qualquer adulto, provocando um sentimento de ‘vergonha’ nesse adulto determinando assim que ele mude seu comportamento”, relata Roman. A turma Formadores I terá de quatro a seis técnicos por estado, que serão responsáveis para passar as informações em sua região, ou seja, serão os interlocutores do MEC para programas de educação ambiental. Esses técnicos serão indicados pelas secretarias de Educação e Meio Ambiente estaduais e municipais, mas com pré-requisitos de que trabalhem com educação ambiental e que tenham prática de formação de professores. Participarão outras instituições como: ONGs e representantes de conselhos das Comissões Organizadoras de Meio Ambiente. Segundo Roman, a integração entre ONGs e estudantes, viabiliza o processo de mudança de comportamento, podendo assim a organizações trabalharem com liberdade e recursos. “A união de governos federal, estadual e municipal e a participação de ONGs, faz com que o projeto se torne mais eficaz e com resultados positivos,

integrando também a grande peça chave desse projeto que é o estudante, tornando-o um participante ativo na contribuição da preservação do meio ambiente”. O curso formadores II será ministrado a professores escolhidos pela secretaria estadual de Educação que vão atuar diretamente com professores e alunos da rede pública. Além da criação do programa, o MEC ainda vai contribuir com doação de livros e material didático-pedagógico para os participantes além de uma ajuda de custo, como passagens e diárias, para os professores que participarem do programa de capacitação. Com a Cartilha de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola, o governo dá seqüência à Conferência Infanto-Juvenil de Meio Ambiente, realizada no final ano passado em 16 mil escolas de educação básica. Os projetos visam parcerias contra a degradação e o reaproveitamento de material reciclável. Futuramente se rão criadas, em quase todo território brasileiro, indústrias de reaproveitamento de material, coordenado pelas comissões formadas pelos cursos de capacitação do MEC. Arquivo O Ponto

Pensamento O seu não é de mais ninguém. Você decide falar, guardar, mudar. Basta pensar. Combinar idéias, criar imagens, pensar o coletivo, o político. Pensar é criar uma boa idéia, um final feliz, viver um belo sonho, uma posição forte. Afirma e nega o que você quiser. Elogia e critica qualquer coisa. Só você é capaz de expressá-lo. Basta você pensar... Imagine se você não pudesse pensar? Pois é.

14 de julho - Dia da Liberdade de Pensamento

Novo projeto do governo atenta para questões da educação ambiental


14 - Cultura- Anderson Azevedo

7/2/04

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Editor e diagramador da página: Anderson Azevedo

14 CULTURA Fim de gafieira entristece o público

O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Após 62 anos de funcionamento, a mais tradicional gafieira de Belo Horizonte, fecha as portas Divulgação

Cristiano Batista, Alexis Lino e Cleyton Ferreira 6º PerÍodo Com uma denominação pejorativa, devido as “gafes” que eram cometidas nesses locais, as gafieiras são salões de danças populares com pistas grandes de tacos. No passado, eram freqüentados por pessoas de baixa renda, e depois da década de 60, um público mais bem sucedido passou a tomar gosto por essas casas. Isso porque a Gafieira era considerada uma dança ousada para os padrões de bailados de salão. A dança é marcada pela sensualidade e pelas tradições corporais, derivada do maxixe, uma dança voluptuosa de origem africana que foi se enriquecendo com o passar dos anos. As músicas são de repertório europeu, destaque para o Tango, Mazurcas, Valsa, Quadrilhas e Polca. Atualmente esses locais vivem um momento de declínio desde o fechamento da Elite, em 2002, uma das mais famosas casas de Gafieira de Belo Horizonte. Apesar disso, formou muitos bailarinos e amantes dos salões de bailes, que chegaram a criar suas próprias casas de dança. Para o bailarino Danilo Gonçalves Silva, que aprendeu a dançar no Elite com 18 anos, o local deixou grandes recordações. “Às vezes as pessoas que compareciam ficavam sentadas observando para aprender. Danço há 30 anos e o que mais tenho saudade do Elite é das amizades que foram se afastando com o fim da Gafieira”, afirma Danilo, que atualmente leciona aulas particulares de dança. O amor pela dança fez com que o bombeiro hidráulico Valdir Siqueira perdesse o emprego. “Comecei a dançar em meados de 1968, aos 17 anos de idade, freqüentava uma boate que tinha no bairro Concórdia. Chegava constantemente em casa as três horas da manhã, e para acordar cedo e ir trabalhar era muito difícil”, justifica. Naquela época, Siqueira começou a chamar a atenção dos freqüentadores por seu estilo peculiar de dançar, usava um terno de linho branco, calça preta e sapato bico fino, impecável. Chegou a ganhar vários concursos pro-

Filme conta a história da Gafieira Elite

movidos pela Elite, foi considerado o “rei” da Gafieira em Belo Horizonte. “A Elite foi um berço para mim, vivi alguns de meus melhores dias lá”. Inês Mota, artista plástica e professora de dança de salão, também é uma personalidade de destaque na história da gafieira. Ao contrário dos outros, começou a dançar em 1988 quando tinha 46 anos. “Fui convidada por uma amiga, e gostei muito”. Inês conta que as pessoas que freqüentavam os bailes, perceberam o interesse que alguns tinham em aprender a dançar corretamente e fizeram disso algo rentável, abriram academias e alguns dão aulas ate hoje. “As pessoas chegavam nos bailes e anotavam os nomes no quadro negro que lá existia, os dançarinos chegavam, liam os nomes e chamavam os inscritos para dançar”, explica Inês que relembra as danças que teve com o Alaércio Pereira Santos, um dos melhores dançarinos do Estado e que hoje trabalha na academia de Inês. Elite A casa noturna Elite fechou as portas depois de 62 anos de funcionamento. Fundada em 1940, a gafieira Elite era uma casa de danças que ofereciam aulas nas noites de segunda a sexta-feira. Nos finais de semana eram realizados os tradicionais bailes que varavam a madrugada, sobre o som de bandas ao vivo, como a Brasil, Valdir Silva, Via Expressa, entre outras. A Elite teve um grande prestígio em seu auge, na década de 80, pois a política favorecia o ambiente. Na época, o então prefeito de Belo Horizonte, Mauricio Campos, apadrinhou a casa de dança e tornou a filosofia da boate diferente, e o ambiente, mais serio. Segundo Osvaldo Martins da Costa, que foi proprietário da casa por 38 anos, o local era visitado por muitos políticos. “Lembro da presença de Juscelino Kubschek, Mauricio Campos, Genésio Bernadino e vários outros”, relembra. O Elite foi fechado em 2002 por dificuldades financeiras. “Tenho saudades daquele lugar, afinal 38 anos é uma vida”, lamenta Oswaldo.

A professora de dança, Inês Mota, reelembra os passos que aprendeu na gafieira Elite

A vida detrás da Bonequinha Preta Divulgação

Tereza Perazza 7º PerÍodo A escritora e educadora Alaíde Lisboa comemrou, em 22 de abril, 100 anos de vida e 66 alimentando o imaginário infantil. Foi em 1938 que a mineira de Lambari lançou as primeiras edições de “O Bonequinho Doce” e “ A Bonequinha Preta”, livros que até hoje fazem parte da literatura infantil. As obras já foram lidas por mais de um milhão de pessoas e já passaram pr seis gerações. Dona de uma personalidade inquieta, Alaíde se aventurou por várias áreas de conhecimento e fez da sua vida uma luta política. Sendo a bonequinha preta, e não loira de olhos azuis, a escritora já dava um um sinal do seu engagamento social. Alaíde muitas vezes gosta de citar diálogos de filmes os livros nas suas conversas. Chegou a questionar porque a nossa falta tem de ser linear, se a vida não o é, referência que tirou do fime O Ano passado em Marienbad, uma mostra do sua política de constante aprendizado.

Alaíde Lisboa se formou na prestigiada Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico de Belo Horizonte, que trabalhava uma visão de vanguarda da educação, com seus professores formados na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Esse título lhe levou a lecionar Didática Geral e Especial na Faculdade de Educação (FAE) da UFMG, ministrar aulas no curso de pósgraduação na Escola de Medicina e na FAE,esta última a qual foi vice-diretora e organizou o curso de mestrado da área.Fez parte da Associação de Professores Públicos de Minas Gerais. Em 1949 assumiu o posto de vereadora da Belo Horizonte, do qual era primeira suplente desde 47. Foi a primeira mulher a participar da composição da Câmara dos Vereadores da cidade. Dedicou seu mandato às questões educacionais e de assistência social, militando pela implantação de esolas públicas na periferia. Em 1976 ganhou o título de Cidadã Honorária, dado pela Câmara de Vereadores. Pela mesma época, em 1979, recebeu a nomeação de Professora Emérita da UFMG.

Em fase de final de produção o vídeo documentário “Luz da vida inteira” vai desvendar toda a tradição da gafieira em Belo Horizonte e a paixão de seus personagens pela dança. A responsável pela produção é a produtora independente e também professora da disciplina de Cinema e Vídeo do curso de Comunicação Social, da FCH/Fumec, Maria de Fátima Augusto. Segundo ela a idéia surgiu quando produziu um documentário sobre as garis. “Lembro que no local onde as garis trocavam de roupa e faziam suas refeições era próximo de uma casa de gafieira. Comecei a observar as pessoas que freqüentavam aquela casa. Eram trabalhadores comuns e que de noite gostavam de ir ali dançar”, recorda a produtora. As filmagens aconteceram nas extintas “Elite” e “Estrela” e nas casas dos personagens. Segundo a produtora, todo o filme é feito em linguagem de documentário trabalhado em dois momentos distintos: o primeiro falando sobre a noite em si e os bailes da zona boêmia. Num segundo momento são destacadas toda a magia e sensualidade que envolvia os dançarinos amadores. “Procuramos mostrar a gafieira na visão de seus freqüentadores. Conversamos com os dançarinos e as pessoas que freqüentavam o Elite em busca das histórias que aconteciam nos bailes”. Um momento de destaque será os depoimentos dos “reis da Elite”, Alaércio Pereira, Valdir Birosca e da “rainha” Marlene Rodrigues. “Eles tiveram de ser proibidos de participar dos concursos para que outros tivessem chance” conta Maria de Fátima, O documentário foi produzido durante um ano, entre pesquisa de campo e as filmagens. “Temos mais de 80 horas de filmagens, entre depoimentos e bailes. A previsão de lançamento do filme é no início do ano que vem, e queremos fazer um baile com a presença dos personagens do filme”, prevê a produtora.

Centenário da escritora ganha homenagens Renata Monteiro 6º Período

A Bonequinha Preta ganhou novo visual em edição especial do livro lançado neste ano

Dentro das comemorações do centenário de Alaíde Lisboa, as editoras Versão Brasileira, de São Paulo e a Editora Lê, de Belo Horizonte, lançaram publicações especiais das peripécias da bonequinha. A primeira lançou um cd-rom contado a história da personagem mais famosos da literatura infantil. Já a editora Lê lançou uma nova edição do livro com novas ilustrações e uma edição especial com fragmentos do arquivo da autora. A autora foi homenageada pela Academia Mineira de Letras, que preparou um série de festejos, como missa e exposições com as obras de Alaíde Lisboa. A Universidade Federal de Minas Gerais realizou cerimônia solene em celebração à escritora no dia dois de junho, data que também marca a abertura de um mês de exposição na biblioteca do Centro de Referência do Professor, na Secretaria de Educação de Minas Gerais, com mostra de livros, fotos e objetos pessoais de Alaíde Lisboa.


15 - Fumec - Mariana Alves

7/2/04

12:20 PM

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Editora e diagramadora da página: Mariana Alves

FUMEC 15 PAI cria oportunidades para alunos O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Em seus três anos o Programa de Apoio Interinstitucional promove eventos de visitas e intercâmbio Arquivo O Ponto

Tereza Perazza 7º período A Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da Universidade Fumec possui, desde 2001, um setor específico para a promoção e realização de eventos acadêmicos do curso de Comunicação Social, o qual poucos alunos conhecem. Trata-se do Programa de Apoio Interinstitucional (PAI), que existe há apenas três anos, mas já possui uma agenda fixa de eventos que promove. A divisão nasceu entre conversas do então coordenador de curso, Leovegildo Leal, e a professora Lúcia Lamounier (que se tornou coordenadora do PAI) nas quais discutiam a falta de um setor que centralizasse as questões acadêmicas. A partir destas reflexões, em 2001, nasceu o PAI, que já recebeu uma função anual: realizar a Semana da Comunicação da FCH, evento do qual é responsável até hoje. No comando da então coordenadora do PAI, Lúcia Lamounier, foram implantados eventos fixos: o Projeto Visitas e o Intercâmbio Acadêmico. O primeiro realiza visitas acadêmicas dos alunos do curso de Comunicação Social. Em 2003 os estudantes foram conhecer os estúdios da Rede Globo no complexo Projac, no Rio de Janeiro: visitaram a redação do Jornal Nacional e conversaram com os repórteres William Bon-

ner e Fátima Bernardes (entrevista a qual pode ser lida da edição de Julho de 2003 do jornal O Ponto). Nesse mesmo ano conheceram a redação da Rede Globo Minas. Em 2004 o Projeto Visitas levou os estudantes de Jornalismo e Publicidade para ver a exposição Picasso na Oca, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Os alunos tiveram aulas de História da Arte antes da visita e foram acompanhados pela professora Zahira Souki, atual coordenadora do PAI, que assumiu o cargo no começo deste ano. Já o Intercâmbio Acadêmico permite que alunos de Comunicação Social cursem um mês de aulas na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA), na cidade de Abrantes, em Portugal. O convênio ESTA/Fumec existe desde o ano passado, quando a primeira turma de alunos portugueses veio assistir aulas na FCH, em agosto de 2003. Em janeiro deste ano a primeira turma de brasileiros foi a Abrantes. Em agosto de 2004 chega a segunda turma de alunos portugueses. Os nove estudantes da ESTA e do Instituto Politécnico de Tomar virão acompanhados de três professores e da presidente da Câmara de Vereadores de Abrantes, Isilda Jana. O PAI também oferece aos alunos do curso de Comunicação a chance de estagiarem no setor, através da política de monitoria da faculdade. A cada

Associação de ex-alunos trará facilidades

Alunos de jornalismo fazem visita a redação do jornal para conhecer a rotina de trabalho

ano um estudante é escolhido para o cargo, depois de passar por seleção eliminatória. São quatro horas diárias de estágio (11h às 15h) e o salário é repassado como desconto no valor da mensalidade da faculdade. Já fizeram parte da equipe responsável pelo PAI os alunos Sabrina Braga, Úrsula Rosële e Maria Cecília Caetano. No segundo semestre de 2004 o no-

Comunicação muda estrutura curricular Carlos Fillipe e Carolina Lara 5º e 3º período Os alunos que passaram no vestibular no início do ano de 2004 estão experimentando uma nova fase do projeto pedagógico do curso de comunicação social, já que eles estão usando a nova grade curricular. Essa é a primeira mudança ocorrida desde a implantação do curso pela Universidade Fumec. O novo currículo surgiu com o objetivo de passar um ensino com uma concepção mais humanística aos estudantes, no sentido de formar sujeitos críticos e pensantes sobre a realidade que está em sua volta. De acordo com o coordenador do curso Alexandre Freire não é possível garantir a entrada do aluno no mercado somente a partir da formação técnica, “isso é uma ilusão, para produzir, seja em qualquer profissão, antes de se utilizar à técnica é necessário pensar, e é esse o diferencial para o nosso aluno”. Esse projeto começou a ser desenvolvido pelo antigo coordenador do curso de comunicação Social, Leovegildo Leal, juntamente com o corpo do-

cente, professores, diretório acadêmico e parcialmente pelos alunos e foi muito discutido antes da sua implementação. Uma das mudanças pode ser constatada com o fim da disciplina Produção de mídia eletrônica /rádio e T.V. que possuía uma carga horária de 64 horas dividida entre as duas matérias, rádio e televisão. Os conteúdos delas foram transferidos para as disciplinas telejornalismo I e radiojornalismo I, abrindo espaço na grade uma nova cadeira que é a Introdução ao Jornalismo e Introdução a Publicidade e propaganda, dependendo da habilitação do aluno. Essa nova disciplina foi criada de acordo com Alexandre Freire para colocar os estudantes mais próximos do que é o curso, não apenas do ponto de vista da teoria, mas também mostrando a realidade do mercado de trabalho, os desafios, e a função do profissional para a sociedade. Outros remanejamentos foram feitos também para sociologia e economia que agora passam a ser ministrada nos dois primeiros períodos com um aumento do conteúdo, importante para a formação do sujeito crítico. Porém dentre as mu-

vo monitor será Moisés Lopes. Atualmente o PAI é coordenado pela professora Zahira Souki, depois de ficar dois anos sob a direção da professora Lúcia Lamounier. A coordenação prevê mudar a direção do PAI a cada ano, medida ainda em discussão. Segundo Cecília Caetano, atual monitora, o Programa de Apoio Interinstitucional fun-

ciona como uma ponte entre a instituição e os alunos da FCH. Porém as demandas estudantis são discutidas pelo orgão de representação, o D.A.. “O estudante se identifica mais com o diretório por ser organizado por estudantes. A falta de divulgação dos projetos do PAI torna mais dificil o reconhecimento do corpo discente” comenta Cecília.

O PAI possui um sistema de cadastro dos ex-alunos do curso de Comunicação Social que conta, atualmente, com 500 nomes. O objetivo é manter uma atualização da situação profissional do aluno além de aproximá-los da universidade promovendo acesso ao acervo da biblioteca e enviando os informativos da FCH, como o Curtas. Para este próximo semestre de 2004 o objetivo é começar a enviar também o jornal O Ponto a esses alunos, jornal feito especificamente pelos alunos de Comunicação Social. Está em projeto também a criação da Associação de ExAlunos, que possibilitará descontos e facilidades na continuação acadêmica (pós-graduação, mestrado etc), além de encontros entre os ex-alunos. A direção da Associação será formada pelos próprios ex-alunos, que ficaram a cargo de todo o processo administrativo e executivo, servindo a FCH e o PAI só para o fornecimento de um eventual apoio, simplesmente fazendo a ligação entre os exalunos e a associação. Ainda no papel, a Associação já nasce com o cadastro dos 500 exalunos de Comunicação Social mantidos pelo PAI.

Tempo de recarregar suas energias

danças não foi deixado de lado às disciplinas voltadas para a comunicação e nem para a técnica que também importantes para a formação dos alunos. Para o coordenador do curso de Comunicação Social Alexandre Freire afirma que não há previsão para os alunos que estão cursando o antigo projeto de poderem complementar seus currículos com as novas disciplinas. “A mudança de grade é uma coisa normal dentro da Universidade, mas dependendo do interesse desses alunos pode ser estudada uma forma de que esse complemento seja realizado. Uma forma para que isso ocorra pode ser através de uma possibilidade que já está sendo estudada pela diretória, que a é matricula por disciplinas isoladas. Onde os atuais alunos poderiam cursar as novas matérias depois de formarem”. Para a estudante que cursa jornalismo ainda com a grade anterior, Isabella Melo, a mudança foi necessária, mas acredita que as disciplinas que foram retiradas também são importnates. “ Foram inseridas matérias que são fundamentais, mas não deveria ter tiradas as outras” diz. Arquivo O Ponto

As férias chegaram para relaxar, repensar e recarregar as baterias. Aproveite ao máximo esse tempo para voltar às aulas com força total.

Alunos do curso de Comunicação Social terão um ensino mais humano


16 - Mídia - Sinária

7/2/04

12:22 PM

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16 MÍDIA

Editor e diagramador da página: Rafael Werkema O PONTO Belo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Instrumento de luta contra a desigualdade social no Regime Militar, o Jornal dos Bairros ainda é exemplo do bom jornalismo Patrícia Giudice e Sinária Ferreira 8º período A primeira edição do Jornal dos Bairros foi lançada em 1976, ano em que a perseguição política e a censura sobre a imprensa eram acirradas. O último a chegar no jornal, mas que tomou a frente trabalhando como editor-chefe e idealizador do projeto, foi o jornalista Edson Martins. Além dele estavam Tilden Santiago e Nilmário Miranda - que haviam saído recentemente da prisão -, José Amaro Ciqueira (Zinho), Fernando Miranda e Tito Guimarães. Edson Martins explica que a primeira idéia foi fazer política, mas como Tilden e Nilmário haviam sido presos por causa de mobilização política, decidiram mudar a linha do jornal. “Então surgiu nossa intenção de fazer um jornal popular. Queríamos criar, a partir de um núcleo de pessoas, o surgimento de lideranças populares em lutas localizadas, estimular a criação de associações comunitárias. Essas associações coletivamente começariam a criar expectativas e demandas locais, ou seja, o ônibus era horrível, não tinha asfalto, assistência à saúde, tudo era muito ruim”, relata. O local onde implantar e fazer circular um jornal de linhas populares foi uma decisão importante, segundo Martins. Ele afirma que a equipe escolheu o Barreiro porque a região concentra um grande número de trabalhadores, isto é, a classe operária, o que se encaixava muito bem com a identidade do Jornal. Além disso, o editor-chefe diz que o periódico precisava contar com o apoio de entidades que já existiam, como os sindicatos. “Nós tinhamos que contar com todos que pudessem colaborar com nossa luta, e a luta não tinha chefia, era a luta do povo”, relembra. O Barreiro também foi escolhido, segundo Martins, devido à sua antigüidade em relação à cidade de Belo Horizonte e a sua fragilidade em termos de infra-estrutura. “Vimos que havia muitas demandas que o jornal podia atender. Até 1980, nosso temor era o de que o Jornal dos Bairros não resistisse a qualquer ameaça de censura e fechasse. A repressão à imprensa de oposição era intensa e qualificada”, conta. Participação da comunidade

Também participaram da produção do Jornal dos Bairros estudantes de diversos cursos da Universidade Federal. Édson Martins diz que ao longo do tempo foram juntando pessoas de grupos políticos do passado, mas a idéia não era a de substituir o povo, no sentindo de impor uma classe sobre a outra. “Queríamos que eles enxergassem que era possível reivindicar mudanças. Tivemos algumas vitórias, sensação de coletivamente buscar mudanças”. Os jornalistas estimulavam os líderes comunitários e os jovens, que depois passaram a sugerir o que a equipe deveria fazer. “Eles se comportavam como jornalistas, como repórteres. Líderes comunitários davam toques políticos”, conta. O Jornal dos Bairros, apesar da participação de todos, tinha um grupo fixo de redação, cerca de oito pessoas. Martins trabalhava à tarde e à noite.“Na segunda-feira de manhã eu ia para o jornal, fazia as articulações, e quintafeira fechávamos a edição. Uma pessoa se responsabilizava pela arte final, pegava o ônibus e ia para o Rio de Janeiro, São Paulo ou Juiz de Fora”. O povo se calou Quinzenalmente, durante sete anos, dez mil exemplares do Jornal dos Bairros circularam nos bairros Amazonas, Inconfidentes, Flamengo, Bandeirantes, Riacho das Pedras, Jardim Riacho das Pedras, Novo Riacho das Pedras, Novo Eldorado, Eldorado, JK, Itaú, Bairro Industrial, Jardim Industrial, Vila São Paulo, Vila Betânia, Bairro das Indústrias, Barreiro, Tirol, Jatobá, Vale do Jatobá, Lindéia, Ibirité, Lagoa Seca e Betim. O Jornal dos Bairros parou de circular em 1983. Segundo Martins, com a legalização dos partidos políticos, conseqüência do enfraquecimento da ditadura militar, cada integrante do jornal foi fundar o seu partido. Nessa época foi fundado o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). “A maioria que participou do jornal dos bairros foram para o PT, outros PC do B. Muitos foram sindicalistas, depois viraram políticos” finaliza.

A preocupação social ultrapassava os limites da comunidade. Além de denunciar, de convocar a população para resolver os problemas, o Jornal dos Bairros atuava como uma força mobilizadora contra as injustiças impostas pelo Regime Militar. Um exemplo foi a campanha sobre a prisão de Flávia. As ilustrações, charges e quadrinhos eram críticas às políticas públicas, ao Estado e à sociedade.


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