01 - Capa - Werkema
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Conselho Federal de Jornalismo
divide
O projeto de lei que estabelece a criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ) tem gerado muita polêmica entre a classe jornalística. A categoria encontra-se dividida entre os que apóiam e os que protestam contra a criação do CFJ. A discussão cresce em muitas vertentes. Uma das faces do problema gira em torno do fato de muitos profissionais que se posicionam contra o CFJ acusarem o Conselho de ter como uma de suas atribuições a censura de matérias e reportagens que façam críticas ao Governo Federal. Estes jornalistas têm como um de seus argumentos o fato de o governo resolver se manifestar em relação à implantação do órgão fiscalizador e regulamentador justamente na hora em que a mídia faz várias denúncias de corrupção e irresponsabilidade política ao governo Lula. No entanto, outros jornalistas, a favor do projeto, dizem que o Conselho irá organizar a classe e defendê-la, emitindo o registro profissional da categoria e ainda fiscalizando os profissionais, fazendo valer o Código de Ética e a Lei de Imprensa. [ página 9 ]
Divulgação / Site Ecologia ICB
Fumec debate com candidatos
Cartão postal de Belo Horizonte pode perder sua beleza após aprovação do PL
Programa de recuperação da Pampulha gera protestos Projeto de lei de flexibilização das construções na Pampulha gera protestos entre os moradores dos bairros da região, principalmente na Área de Diretrizes Especiais (ADEs) Trevo, onde será permitida a construção de prédios e instalações comerciais. Em outros bairros, como o São Luiz, a possiblidade da edificação de cinemas, bingos, redes de alimentação e casas de shows
perturba a população que já começa a se preocupar com o provável crescimento dos índices de violência e aumento do fluxo de veículos. A prefeitura acredita que as mudanças contempladas pela proposição de lei trará um maior desenvolvimento econômico para a região com a criação de empregos e com o aumento do turismo. Os autores do PL acreditam que tal
Fumec assina convênio com a USP [ página 14 ]
medida tornará a Pampulha auto-sustentável. Sobre as questões de infraestrutura,a prefeitura afirma que o projeto tem como uma de suas atribuições implantar um sistema de controle, mudando o curso das principais vias de acesso, sem ter que duplicá-las, além de implantar um novo e melhor estruturado sistema de saneamento público. [ página 5 ]
Entre os dias 15 e 17 de setembro, a Universidade Fumec abriu espaço para os três principais candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte mostrarem seu plano de governo. Fernando Pimentel (PT), João Leite (PSB) e Roberto Brant (PFL) apresentaram propostas similares. Acompanhado pelo deputado estadual Rogério Corrêa, Pimentel falou do seu mandato e das futuras melhorias, caso seja reeleito. Já o candidato João Leite ressaltou os problemas financeiros de sua campanha em
contrapartida à de Pimentel. Jõao leite reiterou a transparência de seu futuro governo e prometeu reduzir o número de secretarias. O deputado federal Roberto Brant contestou o resultado das pesquisas divulgadas pela imprensa e afirmou que “pesquisa de opinião não ganha eleição”. Como toda companha eleitoral assessorada por marqueteiros políticos, os candidatos se disseram capazes de resolver todos os problemas do município. [ página 3 ]
Inovação nas ruas de BH O Controle Inteligente de Tráfego (CIT), ainda em fase de implantação, promete facilitar a vida dos motoristas de Belo Horizonte. O programa faz a integração entre o sistema de controle de semáforos, os sistemas de monitoramento de trânsito e alertas de congestionamento, enviando as informações coletadas do tráfego para dezenas de painéis eletrônicos espalhados por pontos estratégicos da cidade.Além de reduzir os problemas casuais de trân-
Universidade recebe estudantes de Portugal [ página 14 ]
sito, o sistema pretende diminuir o tempo de espera dos motoristas nos sinais, dificultando a ação de marginais e atenuando a poluição atmosférica e sonora. Apesar das comodidades trazidas pelo Controle Inteligente de Tráfego, muitos motoristas ainda desconhecem o programa, não desfrutando de seus benefícios. Outros motoristas chegam a confundir os sensores de monitoramento com os radares. [ página 4 ]
Pronto-socorro é referência na área de queimados A unidade de tratamento de queimados do HPS João XXIII é uma das maiores da América Latina e a maior do país, atendendo mais de 3 mil pacientes todo ano. Os pacientes que têm queimaduras mais graves são levados para outro andar do hospital, sendo alojados em UTIs destinadas especificamente ao tratamento de queimaduras. Além de atender à região metropolitana, o pronto-socorro recebe paciente de várias cidades de Minas e do país. [ página 7 ]
Salão do livro é espaço para cultura Em sua quinta edição, o evento reuniu mais de 120 mil pessoas e é hoje referência no país.Além dos descontos, o salão ofereceu uma programação com mostras e saraus de poesia. Apesar do sucesso de público, escritores mineiros reclamam da falta de espaço para a literatura. [ página 10 ]
Ponto eletrônico tem novo projeto gráfico [ página 15 ]
02 - Opinião - Carlos F.
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Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo
2 OPINIÃO
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Esperança no PT: cadáver que sorri Felipe Castanheira 7º período Não existe mais possibilidade de se manter a esperança de que o governo Lula seja um governo para o povo. Ele assumiu a posição de manter os privilégios das classes dominantes e os trabalhadores sobre a exploração diária. Preocupado em agradar ao mercado pagando bilhões em dívida externa,não impedindo que o povo morra de fome ou nas filas dos hospitais, este governo continua levando à frente o neoliberalismo, tão criticado durante o governo FHC. Os bancos nunca lucraram tanto como ultimamente, cerca de 13,4 bilhões de reais. O desemprego cresce a cada dia e, enquanto os adultos (já dentro de uma lógica absurda onde um homem deve ser subordinado ao outro) não têm onde trabalhar, o governo incentiva, pagando de 150 a 200 reais por contratado, que empresas contratem jovens para vagas que deveriam ser ocupadas por um profissional. O governo prefere garantir o lucro da burguesia, mesmo que isso custe o fim da juventude de muitos jovens e o desemprego de seus pais. Qualquer análise deste governo e suas propostas devem, antes de mais nada, passar pelo filtro da luta das classes. O governo Lula está mantendo todos os privilégios da classe do-
Voto obrigatório e a procura pela democracia
minante, sem que absolutamente nada de verdadeiro tenha sido feito para o povo. O “Fome Zero”, por exemplo, é uma forma de colocar o povo a favor do governo, escondendo muita sujeira por baixo dos panos. Segundo Frei Beto, coordenador de mobilização social do programa, o “Fome Zero” deve ser aplicado preferencialmente onde Lula teve votações menos expressivas. Isso é compra de votos e não um programa para acabar com a fome. É hora de abrir os olhos e ver o que este governo tem feito. É hora de parar de se esconder atrás do discurso da esperança. Enquanto esta esperança suja existir, o povo vai continuar morrendo, enquanto cruza os braços esperando a ajuda de Lula e seus aliados.Vale lembrar que parte destes aliados sempre fizeram questão de que as coisas continuassem da forma como estão.E, agora, de repente, se tornaram bons ou menos maus porque estão do lado da esperança. Apoiar este governo já não é mais ingenuidade.Trata-se,no mínimo, de oportunismo. E, então, vamos continuar acreditando no que este governo vem fazendo? Aí estão as reformas universitárias e trabalhistas deste governo sujo.É preciso combatê-las ou continuaremos lubrificando as engrenagens do mercado com sangue brasileiro.
O vermelho da grande imprensa Fernanda Melo 4º período Ultimamente, é visível o aumento de informações que são despejadas sobre o povo de maneira nada digestiva. Mas, o que se vê é a quantidade da informação sobrepondo à qualidade. Os leitores dos jornais e revistas se encontram soterrados por denúncias feitas às pressas, para vender maior número de exemplares. Nota-se a existência da imprensa vermelha ou no vermelho.Este tipo de imprensa se apóia no denuncismo, com o objetivo de publicar furos de reportagem ou escândalos que tenham repercussão considerável. A Istoé e a Veja são as campeãs nesta categoria,tentando sobreviver na era das informações on line. O ato de denunciar tornou-se mais importante que o próprio conteúdo, confundindo conscientização e análise crítica com denuncismo barato.Assim, vivemos no tempo dos grampos, onde o público se mistura ao privado. Os veículos utilizam meios ilícitos para conseguirem arrancar qualquer informação que torne o fato bombástico.A privacidade é conferida somente aos meios de comunicação, que são os únicos que não precisam prestar conta de seus atos. O posicionamento da imprensa é transmitido de manei-
ra convincente, capaz de manipular qualquer pessoa que não tenha um conhecimento prévio sobre o assunto. A reportagem publicada pela revista Istoé, de 28 de julho deste ano, referindo-se ao governo do Estado do Rio de Janeiro, fez uma maquiagem na máquina administrativa, privilegiando certos interesses políticos.A polêmica sobre o caso Meirelles também foi abordada de maneira pretensiosa pelos meios de comunicação, rendendo várias capas a determinados veículos. Há uma necessidade de criar uma instabilidade sem um devido fundamento. É certo que não se pode privar a mídia de levantar hipóteses e suposições.Afinal de contas, este é o seu caráter investigativo e reflexivo. Mas, devem ser geradas discussões úteis, que não se baseiem somente em ofensas políticas, trocadas nos corredores do poder público. É necessária uma análise dos fatos, não isentando os órgãos comunicadores da responsabilidade pelo que veiculam. Para isso, os leitores precisam se manter informados e esclarecidos, nutrindo uma visão crítica sobre os acontecimentos. Não se pode ser um alvo fácil da manipulação dos meios de comunicação e das pessoas que alimentam a persuasão dos veículos. Pior que o oportunismo da imprensa, é a ingenuidade do receptor da mensagem.
Rafael Xavier 7º Período
Como a mídia trata o CFJ Rodrigo Fuscaldi 7º período A mídia brasileira perdeu, nos últimos dias, uma grande oportunidade de mostrar seu apreço pela liberdade de imprensa e de expressão. Ao noticiar o projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo, a maioria dos jornais e revistas foi absolutamente parcial.Textos que deveriam estar nos editoriais e não nos noticiários recorreram ao princípio da liberdade de imprensa para desprezar o debate que o projeto abre no jornalismo brasileiro. As notícias apresentam o projeto como uma ação do governo federal, inserida em uma saga ditatorial.Teria começado com a Lei da Mordaça, passado pela tentativa de expulsar um correspondente estrangeiro do país e culminado com a reação do presidente às investigações sobre o presidente do Banco Central. Os que defendem a criação do Conselho sustentam que os jornalistas brasileiros carecem de um instrumento eficaz para fazer frente às desregulamentações. Um instrumento que também tivesse força para defender a dignidade dos profissionais honestos contra as práticas de uma parcela irresponsável da imprensa. Carimbar os defensores do Conselho Federal de Jornalismo como uma espécie de nostálgicos das ditaduras é, no mínimo, pre-
cipitado. A princípio, o Conselho não quer uma mídia politicamente controlada. O que não pode acontecer é que todos se conformem com uma mídia descontroladamente entregue a irresponsáveis, capazes de prejudicar a sociedade. O recomendável seria uma discussão a respeito da criação do Conselho. Entretanto, em nenhum momento sugere-se uma tramitação em regime de urgência do projeto, muito menos sua aprovação sem o esclarecimento da sociedade. Existem restrições ao texto, o que não pode ser usado para desqualificar a idéia. Deve-se ter todos os cuidados necessários à proteção do direito de expressão e da liberdade de imprensa. Antes da aprovação, é necessário incluir, entre as atribuições do Conselho, instrumentos eficazes para coibir pressões àqueles que produzem jornalismo sério e embasado. O que não pode acontecer é ficar paralisado diante dos detalhes em que a imprensa se agarra para prejudicar o debate. Ninguém tem saudade da ditadura. Ninguém vai se reunir num Conselho para ficar lendo os jornais e cassando quem defende esta ou aquela idéia. Nesse caso, o bom senso tem que prevalecer. Deve ser travado um debate entre jornalistas e sociedade. Ninguém defende o corte aos direitos do jornalista.Apenas, é necessário uma discussão a respeito, já que, sem limites, também não dá para continuar.
‘Fahrenheit 9/11’ x Bush Rodrigo Scapolatempore 6º período Os ataques ao Iraque pelo Estados Unidos, planejados pelo atual presidente Geoge W.Bush, receberam - finalmente - uma resposta à altura de sua gravidade. Não foi usada nenhuma arma biológica, nem nuclear ou de qualquer espécie de fogo.A retaliação veio no cinema e, nem por isso, foi menos poderosa. O cineasta Michael Moore, anti-Bush de carteirinha, não poupou acusações. Se apropriando de uma forma editorial contagiante no jogo de cenas, que revelavam imagens surpreendentes de Bush e da guerra do Iraque, o autor de Fahrenheit 9/11 produziu um documentário polêmico, que convidou o público a refletir sobre a atuação dos EUA no cenário internacional político, econômico e militar. O trabalho de investigação do diretor é facilmente notado no filme.Apesar de uma posição muito bem definida e claramente pensada sob artifícios manipuladores, a ética jornalística não falta na produção de Michael Moore. A idéia de destruição da imagem de Bush se sustenta em provas verídicas, que muitas vezes são relatos chocantes de fatos da guerra, tratados a partir da visão esclarecedora e crítica de Michael Moore. Esta percepção, dotada de sensibilidade aguçada, é calcada em valores essencialmente de defesa dos direitos humanos. Em alguns momentos, basta apenas uma cena co-
mum da vida do presidente, além de uma música de fundo e de uma narrativa cômica para incriminá-lo e ridicularizá-lo. Através de recursos de som,narração do próprio autor e justaposição de cenas, o discurso central é arquitetado com oportunismo e remete a uma denúncia: Bush não passa de uma farsa que deve ser combatida.Essa acusação vem acompanhada de várias outras que a ratificam como, por exemplo, a fraude nas eleições, a ligação entre a família Bin Laden e o governo norte-americano, a injusta invasão ao Iraque país que, de acordo com o cineasta, nada teve a ver com o ato terrorista de 11 de setembro -, além das inúmeras ações contraditórias (baseadas em interesses financeiros) que foram tomadas pelo presidente e seus comparsas. O filme foi um tapa na cara do, até então, homem mais poderoso do mundo. Nada melhor, nesta altura do campeonato, que uma obra dessas para abrir os olhos de quem ainda acredita na legitimidade da guerra contra o Iraque e no discurso anti-terrorista de Bush. Resta agora, esperar se Bush vai ceder o outro lado da cara (perdendo a eleição) ou se, mais uma vez em momento de desespero e indecisão, fará com que inocentes paguem pela sua estupidez. De fato, o palhacinho (como é tratado no filme) deve estar extremamente incomodado e, de acordo com Michael Moore, não nos enganará de novo. Menos mal.
Às vésperas das eleições municipais, uma questão bastante polêmica merece ser destacada: a obrigatoriedade do voto. Por que essa obrigatoriedade? Seus defensores sempre argumentam que votar não é um direito, mas um dever, ou que votar é um ato de cidadania.Tais posições são burocráticas, funcionalistas, pragmáticas, sustentadas por um patriotismo barato. Com a obrigação do voto, o indivíduo vai às urnas sem um candidato definido e acaba votando aleatoriamente. Isso compromete a qualidade e a legitimidade das eleições. Ora, que democracia é essa, onde o cidadão é obrigado a votar, sob pena de sofrer sérias retaliações caso não cumpra com o seu “dever cívico”? É uma vergonha viver em um país cujo governo não dá suporte algum à população e ainda tem a coragem de cobrar. A sociedade precisa do livre arbítrio de escolher os seus representantes sem a obrigação de comparecer à urna. Lutouse muito pela volta do voto, é verdade. Porém, não é com o sufrágio obrigatório que se melhora um país. Um dos princípios básicos da democracia é a liberdade no ato eleitoral, que pressupõe a não obrigatoriedade do voto. Para um candidato ser eleito legitimamente, é necessário que ele obtenha, no mínimo, 50% mais um dos votos da população. Em outras palavras, com a desobrigação do voto, devido à insatisfação do povo com os governantes, o sistema iria a bancarrota, pois a maioria dos políticos não desfruta de prestígio perante à população. É uma forma do governo manter o controle sobre o povo. Norberto Bobbio, um dos maiores defensores da democracia, deve estar se revirando no túmulo com a deturpação que houve do termo. O regime se tornou contraditório. De um lado, prega o governo do povo e a soberania popular. Porém, o que se vê na prática é que quem dá as cartas é a minoria burguesa, que não mede esforços para manter a sua hegemonia. É bom que se diga que, em 2002, o Brasil elegeu, pela primeira vez na história, um representante da classe operária. Mesmo assim, ele foi eleito graças a conivência e o respaldo da burguesia. A última voz é sempre dela. O voto obrigatório não seria necessário,caso o Brasil tivesse bons políticos, que gozassem de prestígio junto ao povo e que tivessem como meta atender aos seus anseios. Então, haveria um interesse maior pela política e as eleições seriam levadas a sério pelo indivíduo, que votaria por livre e espontânea vontade. Infelizmente, não é assim. Em todos os cantos do globo, inclusive no Brasil, o termo democracia está muito desgastado e deturpado. Para a tristeza geral, esse fenômeno negativo só vem sustentar a máxima de que a democracia plena é uma utopia.
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Coordenação Editorial: Prof. Leovegildo P. Leal (Jornalismo Impresso) e Prof. Mário Geraldo Rocha da Fonseca (Redação Modelo)
Monitor da Produção Gráfica: Marcelo Bruzzi Projeto Gráfico: Prof. José Augusto da Silveira Filho
Monitores do Jornalismo Impresso: Carlos Fillipe Azevedo, Rafael Werkema e Renata Quintão
Tiragem desta edição: 6000 exemplares
Monitores da Redação Modelo: Fernanda Melo, Pedro Henrique Penido
Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127 e-mail: oponto@fch.fumec.br
Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro BH/MG Prof. Eugênio Frederico Macedo Parizzi Presidente do Conselho Curador Profª. Romilda Raquel Soares da Silva Reitora da Universidade Fumec
Prof. Amâncio Fernandes Caixeta Diretor Geral da FCH/Fumec Profª. Audineta Alves de Carvalho de Castro Diretora de Ensino Prof. Benjamin Alves Rabello Filho Diretor Administrativo e Financeiro Prof. Alexandre Freire Coordenador do Curso de Comunicação Social
03 - Economia - Aline de Castro
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Editora e diagramadora da página: Aline de Castro
ECONOMIA 3 Governo leiloa reservas de petróleo O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
O governo entrega 6,6 bilhões de barris de petróleo e garante o lucro de empresas privadas Arquivo O Ponto
Felipe Castanheira e Luís Falconeri 7º e 4º Períodos O Governo Federal leiloou, em agosto, reservas estratégicas de petróleo e entregou para o capital privado áreas onde se estima ter 6,6 bilhões de barris de petróleo, o equivalente à metade das reservas brasileiras. Dessa forma, milhões de dólares que seriam gerados através de arrecadações, deixam de ser investidos no bem estar social para garantir o lucro de empresas privadas. Este processo de entrega de reservas vem acontecendo desde o governo Fernando Henrique Cardoso e se agravou durante o Governo Lula. Daniel Pedroso, superintendente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), alega que “o Brasil encontra-se próximo de atingir a auto-suficiência na produção de óleo, mas o atendimento às demandas futuras, em horizones de 20 anos, depende de investimentos na exploração atual”. Para ele, é necessário encontrar mais campos de petróleo e criar novas províncias petrolíferas. Leiloar blocos seria uma forma de atrair capital e “conhecer” os recursos existentes no Brasil para que sejam aplicados no bem estar social. Pedroso afirma que o contrato de concessão de áreas é de risco. Contrato de risco Por outro lado, o diretor do sindicato dos petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro – MG), Leopoldino Ferreira de Paula,diz que não se trata de contrato de risco porque parte dos blocos oferecidos no leilão, que corresponde à 6ª Rodada de Licitações, foram estudados pela Petrobrás.Ele acrescenta que “além da Petrobrás já ter prospectado essas áreas, o que garante a existência comprovada de óleo, foram escolhidas áreas com baixo teor de enxofre para o leilão”. Leopoldino ainda acrescenta que grande parte do petróleo produzido no Brasil por empresas privadas é exportado, o que coloca em risco a meta de auto-suficiência. Em 1995, FHC aprovou no congresso uma lei que quebrava o monopólio estatal de extração do Petróleo.No ano de 1997 entrou em vigor a lei 9478/97, chamada Lei Geral do Petróleo, que criava a Agencia Nacional do Petróleo (ANP). Um ano depois a ANP deu a Petrobrás um prazo de três anos, que poderia se expandir por mais dois, para que toda as áreas pertencentes a esta-
tal fossem mapeadas e exploradas, caso contrário, a estatal deveria entregar as áreas para a agência.A Petrobrás, depois de “fracassar”, as devolveu entre 2001 e 2003. Ainda de acordo com o diretor do Sindipetro – MG,o prazo dado pela ANP foi intencionalmente pequeno. Segundo notícias publicadas no site da “Folha de São Paulo”, as principais áreas leiloadas pela ANP durante a 6ª rodada foram os chamados blocos azuis, áreas com possibilidades de encontrar petróleo. Dos 914 blocos oferecidos, somente 154 foram comprados pelas empresas. Áreas que se localizavam perto dos mares ou em locais de difícil acesso,por demandar maior investimento, foram descartadas e só foram comprados blocos com incidência comprovada de hidrocarbonetos. Dos 107 blocos arrematados pela Petrobrás, 52 foram comprados em parcerias com empresas privadas. O dinheiro que seria arrecadado pelos cofres públicos via Petrobrás será minimamente recolhido pelos impostos sobre a exportação do petróleo. Segundo o economista César Benjamin,em matéria sobre o tema na revista “Caros Amigos”,estes “trocados” serão cuidadosamente repassados pelo ministro Palocci aos bancos internacionais. O governo ignorou os apelos feitos no Brasil.A Federação Única dos Petroleiros (FUP) tem se manifestado contra as privatizações no setor. Desde que tomou conhecimento da data na qual seria realizada a 6ª rodada de licitações, a Federação realizou uma campanha publicitária com abrangência nacional para impedir o leilão da ANP e propor um plebiscito. O vídeo tema da campanha foi veiculado em vários canais de TV.Além de debates com representantes do governo, da ANP e com líderes do PT, um documento que questiona o leilão foi preparado em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE). Com dados fornecidos pela ANP e pelo Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE), o documento denunciava o perigo de vender os blocos para multinacionais e foi encaminhado às mãos do ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu que disse ser de responsabilidade da ANP a realização do leilão, se eximindo de qualquer responsabilidade. A FUP também entrou com uma ação judicial contra os leilões na qual não obteve sucesso.
FUP protesta contra venda de lotes petrolíferos Segundo o site da FUP, no dia 17 de agosto, “os petroleiros realizaram paralisações e atrasos de mais de duas horas no expediente, além de atos e manifestações em frente às unidades da Petrobrás nas duas principais capitais do país”. Ainda de acordo com o site, no Rio de Janeiro 600 pessoas participaram das manifestações organizadas pelos sindicatos dos petroleiros. A Petrobrás investiu alto em áreas que, por imposição da Lei do Petróleo, foram retiradas de seu poder.A conclusão a que se pode chegar é que o Governo Federal, através da empresa estatal, preparou o terreno para que as empresas privadas não tivessem dificuldades. Segundo os sindicalistas, as conseqüências das privatizações para os trabalhadores são desastrosas. Há riscos de demissão em massa e diminuição dos salários dos petrolei-
ros, o que configura intensificação da concentração de renda. Mesmo que as empresas às quais os blocos são concedidos paguem royalties, as arrecadações que elas obtêm são superiores, pois, elas conseguem pagar royalties, comprar áreas oferecidas pelo governo e ainda alcançam lucro extraordinário. Em 2003 a Petrobrás recolheu 30 bilhões para os cofres públicos, montante superior a arrecadação feita sobre todo o setor bancário. Com as licitações, a produção simultânea de petróleo será ampliada, de fato. Isso conseqüentemente gerará uma maior arrecadação com impostos durante o tempo em que as províncias petrolíferas estiverem em atividade. Porém, estaremos esgotando o petróleo mais rapidamente e, ao mesmo tempo, aumentando a disparidade social.
O presidente Lula segue o neoliberalismo de FHC e entrega reservas de petróleo às empresas privadas
Round 1 Round 2 Round 3 Round 4 Round 5 Round 6 (1999) (2000) (2001) (2002) (2003) (2004) Blocos licitados
27
23
53
54
908
913
Blocos concedidos
12
21
34
21
101
154
Arrecadação (milhões R$)
322
468
595
92
27
665
Opep determina desenvolvimento de países Elisa Magalhães 6º período De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (AIE),é possível verificar que, grande parte dos países industrializados ou em processo de desenvolvimento, aumenta progressivamente sua dependência pelo petróleo importado. Ao contrário dos Estados Unidos e da Rússia, que são, ao mesmo tempo, grandes produtores e grandes consumidores, as demais áreas produtoras se situam em regiões subdesenvolvidas, como Venezuela, África do Norte e Oriente Médio. Outros grandes consumidores se localizam em países industrializados, que não têm produção relevante de petróleo. Outro fator importante é a influência político-econômica da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que determina o aumento ou redução dos preços do produto numa determinada época, influenciando diretamente a economia dos países que dependem do petróleo.A previsão é de que o cartel eleve sua cota de produção em 1 milhão de barris por dia a partir do 1º de novembro como tentativa de conter o aumento de preços. A degradação dos poços e a ausência de explorações em outras regiões significam, na prática, que os consumidores não vão poder contar nos próximos anos com outros países que não os integrantes da OPEP, para atender a crescente demanda.
04 - Cidade - Ana Maria Caixeta
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Editora e diagramadora da página: Ana Maria Caixeta
4 CIDADE Controle de tráfego é implantado
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Motoristas de Belo Horizonte confundem radares com sensores de monitoramento do trânsito Ronan Munhoz
Julia Chaves 7º período A BHtrans, empresa de trânsito de Belo Horizonte começou a implantar em 2002 o controle Inteligente de Tráfego, CIT, nos principais corredores da cidade. O sistema visa otimizar e monitorar o fluxo de veículos da capital. A confusão que os usuários fazem em relação aos radares e sensores de monitoramento vai acabar quando o CIT se efetivar completamente. O sistema faz o acompanhamento do fluxo de veículos e do tempo de permanência dos carros nos semáforos. Com a implantação do CIT, estima-se uma redução em 26% no tempo que o motorista fica parado devido à obrigatoriedade do fechamento do sinal, além de contribuir para a redução de acidentes, da poluição atmosférica e sonora. De acordo com a BHtrans, esse sistema de controle vai proporcionar uma economia do tempo gasto com o trânsito e também de combustível. Uma das questões em evidência é a desinformação, sobre o sistema, que gera confusões aos usuários. Mesmo com dois anos de projeto, os motoristas ainda não entendem o objetivo do sistema.A jornalista Mariana Toledo, 28 anos, diz que nunca ouviu falar do sistema.“Acho que falta divulgação e informações sobre os principais objetivos do CIT”, reclama. Já o advogado Unelí Arantes, 56 anos, sabe sobre o sistema, mas ainda não entende muito bem sua aplicabilidade. “Eu sei que é para controlar o trânsito, mas não entendo como funciona”, diz o advogado. Alexandre Meirelles, gerente de semáforo da BHtrans, diz que o trânsito de Belo Horizonte enfrenta problemas que podem ser solucionados com a implantação do CIT. “Os mo-
toristas enfrentam problemas com a fluidez no trânsito nos horários de pico, na área central e nos principais cruzamentos e sofrem também com a segurança, principalmente, a dos pedestres”, afirma Alexandre. Segundo o gerente, cerca de 70 % das vítimas de acidentes no trânsito hoje são pedestres.“O trânsito da capital está cada vez mais caótico e a situação e muito pior para nós que somos pedetres, já que durante o horário de pico os motoristas não respeitam as faixas de pedestres.” reclama o aposentado Carlos Gama. O CIT vai contribuir para amenizar esse perfil e proporcionar mais tranquilidade à população. Reclamações dos usuários Quanto às reclamações dos usuários,Alexandre afirma que “são situações inerentes à própria transição em que o sistema vem passando atualmente, mas isso já está sendo corrigido de maneira que, em pouco tempo, o usuário não vai mais perceber o problema”. Relembra também que o principal objetivo do sistema é melhorar a circulação do fluxo dos veículos como também a própria segurança dos pedestre nos cruzamentos que possuem semáforos. Como consequência deste novo processo haverá uma melhora significativa da gestão do trânsito na capital mineira. O gerente complementa que os sensores que estão sendo implantados no pavimento são semelhantes aos sensores utilizados pelo radar apenas na sua forma, mas o princípio de operação que é aplicado se diferencia do outro. Isso se deve ao fato de que os sensores responsáveis pelo levantamento de veículos são instalados por faixa. E nos caso dos radares, são utilizados sensores que são responsáveis por medir a velocidade dos automóveis que trafegam no local.
Sala de monitoramento do tráfego da capital onde o CIT opera através de um moderno sistema de câmeras
O que é e como funciona realmente o sistema CIT
Benefícios e áreas de atuação do sistema
O sistema se divide em quatro subsistemas, que se integram e operam de forma conjunta. O primeiro é o controle centralizado de semáforos, em que um computador central opera os sinais de trânsito, permitindo o monitoramento de 263 cruzamentos. O segundo é o próprio monitoramento do trânsito, que permite o acionamento de alarmes de congestionamento. O terceiro é o circuito fechado de televisão, que controla 20 câmeras instaladas em locais estratégicos da região central, permitindo o acompanhamento visual do tráfego. O último subsistema é composto por dez painéis de men-
O principal benefício que o CIT irá proporcionar, não só aos usuários é uma redução no tempo de permanência nos semáforos. O gerente Alexandre diz que isso se deve ao fato da programação de tempo dos semáforos serem reajustados de forma mais dinâmica em função do número de veículos que passa, a cada instante, na via. E para os pedestres, a utilização da botoeira que eles utilizam pra acionar o semáforo e assim ter sua passagem livre para travessia. O sistema vai monitorar toda a Avenida do Contorno e os corredores próximos como a Avenida Nossa Senhora do Car-
sagens variáveis que irão transmitir aos motoristas informações sobre caminhos alternativos, ocorrência de acidentes, congestionamentos e, inclusive, mensagens educativas. O custo da implantação do CIT é de R$ 35 milhões sendo que a maior parte são recursos obtidos do governo federal através da Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Outra parte da verba é pelo Banco Mundial. A prefeitura tem uma participação de R$ 3 milhões para implantar um Centro de Controle e um Sistema de Comunicação que interligará cada um dos elementos do CIT.
Casa Novella é premiada pela Fundação Abrinq João Paulo da Pieve
Aline Santos Ferreira e Daniela de Lima Venâncio 4º período A Casa Novella, uma instituição sem fins lucrativos situada em Belo Horizonte, que acolhe crianças de zero a seis anos que se encontram em situação de risco pessoal ou social, ganhou em agosto o prêmio da Fundação Abrinq pelo projeto “Prevenção do Abandono,Acolhida e Reinserção Familiar da Criança em Situação de Risco”.A casa recebeu o prêmio que é concedido de dois em dois anos na categoria Convivência Familiar. O principal objetivo desta instituição é dar apoio psicológico, tratamento de saúde e um lar provisório para crianças que não estão, atualmente, em condições de permanecerem em suas casas. A família também recebe uma ajuda psicossocial para estar apta a receber novamente a criança. A partir da observação de crianças que freqüentavam as creches Jardim Felicidade, Dora Ribeiro e Etelvina Caetano de Jesus e o Centro Sócio-educativo Alvorada, voluntários perceberam a necessidade da criação de uma instituição de acolhida que ajudaria crianças e famílias que precisavam de apoio para problemas como abandono, desnutrição infantil e violência do-
méstica.A primeira Casa Novella foi fundada em 2001 e funcionava no bairro 1º de Maio, mas sua estrutura não permitia a acolhida de crianças em tempo integral.Atualmente ela está localizada no bairro Jardim Felicidade e acolhe, durante 24 horas, cerca de dez crianças. Estas vêm principalmente das regiões Norte e Nordeste e permanecem na instituição num período médio de seis a oito meses. Segundo Maria das Graças Nunes uma das idealizadoras do projeto, a filosofia da casa é “acolher é abraçar a pessoa, com todas as suas necessidades, e acompanhá-la neste caminho”. Seguindo essa linha de pensamento a Casa Novella cuida dos menores e de suas famílias e, em seguida, promove sua reinserção no seu convívio familiar. São raros os casos que não são bem sucedidos, pois em 84% dos casos o contato consegue ser restabelecido. A Casa acolhe crianças encaminhadas pelo Juizado da Criança e da Juventude e pelo Conselho Tutelar. Quando não é possível a volta para casa cabe a estes órgãos encaminhar a criança para a adoção. A Abrinq é uma fundação “amiga da criança”, sem fins lucrativos, que visa defender a cidadania e os direitos das crianças e dos adolescentes.
Voluntária cuida de crianças com problemas familiares
mo, Avenida Prudente de Morais, Avenida Amazonas, Avenida Afonso Pena, Avenida Raja Gabáglia, ruas Pouso Alegre e Conde de Linhares. O sistema deverá trazer maior agilidade operacional no controle dos semáforos, despacho de viaturas, socorro, polícia e outros serviços, além da possibilidade de um pronto fornecimento de informações aos usuários sobre as condições de tráfego, através dos painéis de mensagens variáveis. Com a uma melhor circulação do fluxo dos veículos, Belo Horizonte terá uma melhoria significativa na qualidade do trânsito e na segurança.
Estrangeira apóia projeto social de Minas Gerais Formada há seis meses em Mesmo sem saber compleComunicação Social pelo Po- tamente o português, quando litécnico di Milano – Design e chegou a Belo Horizonte, PieComunicazione, Piera Natal- ra confessou que a comunicalicchio, ficará em Belo Hori- ção se estabeleceu rapidamenzonte durante dois meses para te, e que com as crianças o diátrabalhar na área de comunica- logo e a compreeensão começão da instituição Casa çaram com gestos de carinho Novella da cae brincadeiras, pital mineira. somente de“Eu sempre Custeada pois de algum pelo movicom a quis trabalhar tempo mento católiconvivência é e me envolver co Comuque as palanhão e Libervras surgiram com projetos tação, que surpara fortalecer sociais e acho giu na Itália essa relação. há mais de 48 O que esse tipo anos e hoje se apoio dos vode trabalho é estende por luntários é exdiversos paítremamente muito ses, Piera está necessário e gratificante” tendo a oporde fundamentunidade de tal importânconhecer e cia para que Piera Natallicchio - designer desenvolver este tipo de trabalhos atrainstituição, de vés de projetos sociais e tam- caráter não governamental. bém conviver com crianças A Casa Novella não possui que nescessitam de amparo e recursos suficientes para fazer apoio emocional. “Eu sempre o pagamento de muitos de seus quis trabalhar e me envolver funcionários. com o social e acho que esse Os interessados em contribuir tipo de trabalho é muito gra- e ajudar a Casa Novella de Belo tificante pois além da ajuda ao Horizonte, poderão entrar em próximo também podemos contato através do site: www.caaprender muito com essas pes- sanovella.com.br ou pelo e-mail soas, é uma troca” – diz Piera. casanovella@zaz.com.br.
05 - Cidade - Elisa Magalhães
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Editora e diagramadora da página: Elisa Magalhães
CIDADE 5 Pampulha pode sofrer com projeto O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Governo quer viabilizar projeto de lei na Pampulha mas moradores temem as consequências Arquivo O Ponto
Fernanda Melo 4º Período O Programa de Recuperação e Desenvolvimento da Bacia da Pampulha, que tramita na câmara em fase de redação final, gera polêmica quanto ao futuro da região. De autoria dos vereadores César Masci (PTN) e Henrique Braga (PSDB), o projeto de lei 1659/04 aprovado na Câmara Municipal em segundo turno, propõe a flexibilização do uso do solo de Áreas de Diretrizes Especiais (ADEs) da Bacia da Pampulha e Trevo, composta pelos bairros Braúnas, Enseadas das Garças,Trevo e parte dos bairros Nova Pampulha, Xangrilá e Céu Azul. Na ADE Pampulha haverá a possibilidade de instalação de áreas comerciais como redes de alimentação, cinemas, teatros, casas de shows, bingos, hotéis, agências de viagens, academias, entre outros. Já na ADE Trevo, a proposta autoriza a construção de até 12 unidades habitacionais em um lote de mil metros, permitindo edificações de até 12 metros. Continuam vetadas as atividades comerciais nos bairros Bandeirantes e São Luiz. Elaboração Segundo os autores, o projeto foi elaborado a partir das deliberações da 2ª Conferência Municipal de Política Urbana de 2002, onde foi discutido o desejo de referendar a Pampulha como Pólo Turístico, regulamentando as atividades comerciais. “Com este projeto a região poderá se transformar auto-sustentável a partir dos empregos gerados e do aumento na arrecadação de impostos com o incremento do comércio e do turismo”, afirma o vereador César Masci. De acordo com ele, a proposta teria sido discutida com representantes de diversas associações de bairros da região. O projeto também tem como objetivo o assentamento de moradores desapropriados em lotes vagos na região do Trevo.“Isto trará um equilíbrio, pois a cidade cresceu muito para a região centro-sul nos últimos anos”, esclarece o vereador.
Desconfiança Muitos moradores ainda estão apreensivos com a possibilidade de ter a paisagem drasticamente modificada pela construção de prédios, o que ocasionaria uma verticalização da Pampulha, acentuando ainda mais o processo de poluição, não só das nascentes mas também visual. Outro fator preocupante são os impactos ambientais que podem ser gerados a partir da aprovação do projeto. Além de prejudicar os moradores, isso possivelmente desvalorizaria conhecidas atrações turísticas como os painéis de Portinari, os jardins de Burle Marx, as esculturas de Ceschiatti e José Pedrosa. Entretanto, a líder do prefeito na Câmara Municipal, vereadora Neuza Santos (PT), assegurou que, nas áreas de nascentes, não serão autorizadas construções e negou que o projeto vá verticalizar a região. “O projeto incentiva construções apenas nas áreas onde é possível flexibilizar o uso do solo”, alega. Soluções O secretário da Regional Pampulha Flávio Carsalate afirma que o projeto possui estudos de impactos ambientais e que prevê a criação de um novo sistema de saneamento que visa atender a toda a região.“A Pampulha irá receber um número maior de visitantes. Por esse motivo, a região precisa estar preparada, com a devida infra-estrutura. A prefeitura está trabalhando na recuperação das águas dos principais córregos”. De acordo com ele, uma estação de tratamento já está em funcionamento e outra deve ficar pronta até o final do ano. O secretário disse ainda que deve haver um pequeno aumento no tráfego da região, mas que existem planos para mudar o curso nas principais vias de acesso ao bairro, sem a necessidade de duplicá-las. O presidente da associação dos moradores do bairro Trevo, Paulo Lima, afirma que os moradores não são contra o desenvolvimento desde que haja uma infra-estrutura correspondente às necessidades da região.
Moradores da Pampulha criticam o projeto e temem mudaças nos padrões urbanísticos da região
Proposta de flexibilidade é debate constante nos jornais Vários artigos foram publicados em defesa da Pampulha desde que o projeto de flexibilização começou a ser discutido, em junho, na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Antônio Álvares da Silva, professor de direito da UFMG, faz referência à inexistência de saneamento na Pampulha, em um artigo publicado no dia 22 de junho no jornal ‘Hoje em Dia’.“A população já sofre com a poluição sonora, ambiental e com construções irregulares, imagine na hora em que tudo estiver liberado? A balbúrdia se-
rá institucionalizada”, protesta. Álvares alega ainda a existência de interesses econômicos e comerciais escondidos sob a desculpa de desenvolvimento e progresso do local. Frei Beto também se manifestou contra o projeto em um artigo publicado no ‘Estado de Minas’ no dia 22 de julho. “Nada caracteriza tanto a cidade quanto a Pampulha, uma obra de céu aberto, inspirada por JK, assinada por Oscar Niemeyer. É uma área de preservação ambiental e está tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional”, lembra.
Niemeyer também expressou sua preocupação quanto às possíveis mudanças na região da Pampulha, no “Diário da Tarde” de 10/07/04.“Vou mandar uma carta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional expondo meu ponto de vista,que é contrário a este tipo de intervenção em área que é tombada”. Já o vereador Antônio Pinheiro, que atua como oposição a esta proposta na câmara municipal, não acredita na eficácia do projeto e diz que o plano pode acabar ofuscando o que a população tem de mais atraente em
Moradores denunciam descaso da prefeitura Fernanda Melo
Moradores da região da Pampulha alegam que vários problemas ainda não foram solucionados pela prefeitura, como a questão do despejo de entulhos nas nascentes, a falta de segurança, a inexistência de um sistema de saneamento suficiente e a ineficiência do transporte na região. Moradores ainda denunciam a permanencia de bares e supermercados em lugares indevidos na ADE Trevo, o que não é permitido por lei. Há ainda construções irregulares que não seguem os padrões estabelecidos na lei. Os moradores afirmam que a prefeitura não exerce uma fiscalização regular sobre as construções. Na ADE Trevo, que compreende os bairros Braúnas, Enseadas das Garças, Trevo e parte dos bairros Nova Pampulha, Xangrilá e Céu Azul, há várias irregularidades, como a existência de um depósito de construção próximo a uma nascente. “Já acionamos a prefeitura e não obtivemos fiscalização. Há várias construções de casas irregulares e fora dos padrões urbanísticos permitidos e previstos pela
lei”, denuncia a engenheira civil Eunice Tavares, moradora do bairro Trevo.“A infra-estrutura na região é questionada há anos e a prefeitura só sabe prometer soluções. Não há como suportar a ocupação e o comércio que estão propondo. A lagoa da Pampulha não está preparada para receber a quantidade de água e esgoto que será gerada a partir da construção de mais casas e apartamentos, provocando sérios impactos em toda a região da Pampulha”, alerta. Loteamentos Existem ainda, na região do Trevo, loteamentos de construtoras próximos a nascentes, contrariando a declaração da líder do PT na Câmara, vereadora Neuza Santos, de que não seriam construídos prédios em áreas de preservação. Isto agrava ainda mais a preocupação dos moradores que alegam que o projeto não condiz com o pensamento e as necessidades da população, ao contrário do que afirma a prefeitura. “Não conheço ninguém daqui da região que tenha sido convocado para as reuniões realizadas
para discutir o assunto. Este projeto precisa ser analisado com muito cuidado. Um projeto parecido já foi levado à prefeitura e vetado no passado pelo então prefeito, Célio de Castro”, lembra Sérgio Barboza, morador do bairro Trevo, preocupado com as consequências que o plano pode trazer, caso seja executado. O presidente da associação dos moradores do bairro Trevo, Paulo Lima, afirma “O charme da Pampulha está na sua tranqüilidade e simplicidade. É um dos últtimos lugares onde podemos ter tranquilidade em meio à agitação da metrópole. É uma utopia acreditar que esse projeto trará desenvolvimento. Acredito que ele pode aumentar ainda mais a criminalidade, o fluxo de carros e a degradação local. Isso tudo pode ocasionar uma perda da qualidade de vida dos moradores, bem como uma desvalorização das atrações turísticas da região. Não há recursos para viabilizar isso”, alerta Paulo. De acordo com ele os moradores aguardam uma convocação da prefeitura para discutir o assunto.
Depósito ilegal no bairro Trevo, região norte da capital
Belo Horizonte em termos turísticos, e afetar um dos mais importantes cartões postais da cidade,além disso,trará uma perda na qualidade de vida dos moradores em algumas áreas. Já o presidente da associação dos moradores do bairro Trevo, Paulo Lima, acredita que, é preciso fazer um estudo detalhado das propostas do projeto, além de uma análise dos impactos ambientais.“Não há aparato fiscal e muito menos recursos para a construção de uma infra-estrutura eficaz e segura de maneira tão rápida”, alerta.
Associações de bairro manifestam contra o projeto A população da Pampulha já se mobiliza para que o projeto não seja executado.A última reunião aconteceu no dia 29 de agosto e contou com a presença de moradores do trevo, entre eles José Otavio, que se mostrou insatisfeito.“Essa lei vai permitir a construção de prédios, desvalorizando as casas que levamos anos para conseguir terminar dentro dos padrões”, desabafa. Foi enviada ao prefeito,no dia 19 de julho, uma carta de manifestação contrária ao projeto, que visa analisar e discutir sua viabilidade.A carta é assinada por associações dos bairros da região. No dia 27 de junho houve uma manifestação na orla, na qual pessoas protestaram em frente à casa do vereador César Masci (PTN), acusado pelos manifestantes de ter agredido o morador Mauricio Impelizieri durante o protesto. O vereador foi procurado para comentar o incidente mas não se manifestou. De acordo com a moradora do bairro Trevo, Eunice Tavares, a população pretende organizar novas ações contrárias à aprovação do projeto.
06 - Ambiente - Déborah Lane
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6 AMBIENTE Governo promete acabar com lixões
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Apenas 50% das cidades mineiras enviaram documentação para o licenciamento dos aterros Rafael Mendonça
Fernanda Melo 4º Período O prazo para o fim dos lixões em Minas Gerais foi prorrogado até dezembro de 2005. Os municípios com até 50 mil habitantes terão que implantar o aterro sanitário para dar um tratamento adequado ao lixo. Mas apenas 50% das cidades mineiras enviaram documentação para o licenciamento dos aterros. A área escolhida para a construção deve ter uma distância mínima de 300 metros de cursos d’água e de 500 metros de núcleos populacionais, estar localizada fora das margens de estrada, de erosões e de áreas de preservação permanente, e em solo ou rocha de baixa permeabilidade. Será exigida a implantação de sistema de drenagem pluvial em todo o terreno, sob supervisionamento de um técnico responsável. A expectativa é que em três anos Minas possua 50 aterros sanitários em operação, licenciados pelo Conselho Estadual de Política Ambiental, Copam. As normas do Copam, têm como objetivo amenizar os impactos ambientais das construções, além de diminuir os riscos de proliferação de doenças. Segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), um bom local escolhido para o aterro deve ser sob solo de baixa permeabilidade e declividade e com boa condição de acesso. Belo Horizonte possui uma central de Tratamento de resíduos sólidos, localizada na BR040. A central, inaugurada em 1975, recebe diariamente cerca de 4,25 mil toneladas de lixo
através do despejo de 700 caminhões. Os principais resíduos destinados ao aterro sanitário provêm da construção civil, do comércio e de residências. Os metais, papéis, plásticos e vidros são destinados à reciclagem. Na central da Br-040 há a Unidade de Compostagem, que transforma os produtos de poda, capina, resíduos de sacolões, feiras, supermercados e restaurantes em composto orgânico. Existe ainda uma Unidade de Educação Ambiental no local que tem como objetivo ampliar as discussões sobre a preservação do meio ambiente e levar à população informações sobre limpeza urbana e os serviços prestados pela Secretaria de Limpeza Urbana (SLU). Ela disponibiliza uma programação mensal de cursos e oficinas educativas e recebe diariamente estudantes de escolas públicas e privadas. Segundo a empresa Ecopress, várias prefeituras concordam com esta ação do Estado. “A Feam e o governo estão pacientes com as prefeituras que mostram interesse na criação de aterros. Não é um investimento barato, só no nosso projeto gastamos R$70 mil.” Conta o secretário de serviços urbanos de Ubá, Zona da Mata. As prefeituras que não cumprirem a determinação do Copam estarão sujeitas às penalidades previstas na legislação ambiental. De acordo com Fundação Estadual do Meio Ambiente, a disposição inaquada do lixo é um dos principais problemas ambientais do Estado, pois causa poluição do solo, das águas e do ar, além de prejudicar a saúde das pessoas.
Aterro sanitário de Belo Horizonte, que está com seu período de vida útil superado, já não pode mais funcionar
Empresas privadas atuam em aterros Fernanda Melo 4º Período A Copasa tem mostrado interesse em investir na área de coleta e tratamento de lixo a partir da aprovação da Lei 13.663, que permite que a empresa amplie sua atuação no campo de saneamento básico. A proposta estuda as formas de cobrança e de contratação deste serviço. 72% das prefeituras onde a Copasa atua demonstram interesse
em transferir os serviços de coleta para a companhia. Algumas empresas privadas atuam nesta área, como é o caso da Construtora Queiroz Galvão. A empresa está nesse segmento de resíduos sólidos desde 1995. Ela administra a Central de Resíduos Vale do Aço, localizada no município de Santana do Paraíso, e presta serviços também à Ipatinga. Segundo a assessoria da construtora, existem planos para a
construção de um empreendimento deste porte em Belo Horizontes. De acordo com técnicos da Queiroz Galvão, o aterro sanitário é a melhor e mais barata tecnologia para a destinação dos resíduos. A empresa admite a necessidade da construção de drenagem de efluentes líquidos e a captação dos gases gerados pelo lixo. A queima desses gases é aproveitada na geração de energia elétrica.
PBH recebe ajuda de carroceiros Luiz Ciro
Fernanda Abras 4º Período Técnicos da Secretaria de Limpeza Urbana( SLU) junto às comunidades já reduziram em 100 mil toneladas a quantidade anual de entulhos despejados nos aterros. A elevada quantidade de deposições clandestinas, com a conseqüente degradação ambiental urbana, levou a SLU, responsável pela coleta e tratamento dos resíduos sólidos do município, a desenvolver, desde 1993, o Programa de Correção das Deposições Clandestinas e Reciclagem do Entulho.A iniciativa, além de prevenir o assoreamento dos córregos e a incidência de vetores transmissores de doenças, introduz um novo material com grande potencialidade de uso, transformando o entulho novamente em matéria-prima. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) constatou a existência de um grupo de trabalhadores – os carroceiros – que atuam paralelamente às empresas especializadas na coleta de entulho. Esse tipo de trabalho ajuda a minimizar a geração e a promover a correta destinação de resíduos. A partir dessa constatação, a SLU, em parceria com a Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a BHTrans, incorporou, em 1997, esses trabalhadores ao programa, cadastrando-os, emplacando as carroças utilizadas e oferecendo assistência veterinária aos cavalos. Segundo o responsável pelo programa, Marcílio Rezende Santos, o primeiro passo foi, em 1993, contratar uma consultoria para fazer um diagnóstico das
áreas de deposições clandestinas. Foram encontrados 134 pontos, com o despejo de 425 metros cúbicos por dia, volume equivalente a 107 caminhões. Desse total, aproximadamente 50% eram constituídos de resíduos da construção civil. A partir disso, a PBH começou a realizar um conjunto de ações, que se desenvolveram em dois sentidos: na reciclagem do entulho e na prevenção do problema com a diminuição da quantidade de resíduos e a garantia da deposição em locais adequados. O programa é composto por uma rede de Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URVP), onde os carroceiros e a população em geral podem depositar, gratuitamente, até dois metros cúbicos de resíduos por dia.Além dessas unidades, existem duas Usinas de Reciclagem, no Estoril e na Pampulha. O entulho reciclável é levado para essas usinas e os demais resíduos são depositados nos aterros sanitários e bota-fora credenciados. Para os carroceiros, trabalhadores informais que atuam no meio urbano alugando a força de um animal de tração para o transporte de materiais diversos, esse programa ajudou muito o trabalho. Em geral, eles fazem tanto o carreto (serviço de transporte de materiais de construção) quanto o recolhimento e o transporte de resíduos. O carroceiro José Mario da Silva que recolhe lixo dos bota-fora afirma que o programa ajuda a todos. “ Com esse programa eu consigo tirar dinheiro para sustentar meus cinco filhos, as ruas ficam bem mais limpas e as pessoas reclamam menos.Além disso, tenho o meu trabalho reconhecido e até admirado”, declara José Mário da Silva.
De acordo com Lélis Antônio, engenheiro da construtora, as dificuldades para a contrução de aterros são encontrar uma área adequada, conscientizar a população que mora próximo ao local e enfrentar a burocracia para a obtenção das licenças ambientais. Lélis ressalta que a vantagem para as prefeituras em relação à iniciativa privada está ligada à questão financeira, já que as empresas têm mais a investir.
Em Sabará, a realidade dos entulhos é outra Carolina Rabelo 6º Período
Caçambas utilizadas de forma irregular são encontradas freqüentemente na capital
Polícia auxilia fiscais Fernanda Abras 4º Período O combate às deposições de lixo clandestinas é feito por 140 fiscais de limpeza urbana espalhados pela cidade. Há também a realização de blitz pela PBH, em parceria com as polícias Militar e Ambiental, com o objetivo de conscientizar e sensibilizar e comunidade, chamando a atenção de transportadores, construtores e população em geral para a responsabilidade de todos na preservação do meio ambiente. O responsável pelo programa, Marcílio Resende, afirma
que o custo do programa é elevado, mas a contrapartida desse gasto está nos benefícios que a iniciativa traz para o município e na economia proporcionada pelo uso de material reciclado em obras públicas. O trabalho contribui também para o aumento da vida útil dos aterros. Outro resultado importante é a valorização do trabalho dos carroceiros e a geração de renda. As principais dificuldades enfrentadas pelo programa se referem à implantação das Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URVP), pois depende da disponibilidade de espaços públicos. Além disso, exis-
te a resistência por parte da população à possibilidade de ter um “depósito de lixo” na vizinhança. Para regulamentar a destinação dos resíduos da construção civil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) criou, em Julho de 2002, a resolução nº 307, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão resíduos, de forma a minimizar os impactos ambientais. Marcílio Rezende destaca que o projeto da PBH é anterior a essa resolução e que o mesmo recebeu prêmios por servir de exemplo para a solução de problemas.
Moradores da localidade de General Carneiro, distrito de Sabará, 441 quilômetros distante de Belo Horizonte, de nunciam o despejo de entulho às margens do Rio Arrudas. O local mais afetado é a área conhecida como Campo do Marzagão. O entulho é derramado próximo aos barrancos e empurrado em direção ao ribeirão. Além disso, também é possível constatar que são feitos bota-fora devido as marcas dos pneus de caminhões e tratores deixadas no local. Segundo Ronaldo Moraes, morador de General Carneiro, não há uma fiscalização eficiente no local e que vários moradores já fizeram denúncias sem nenhum resultado. “Eu mesmo já liguei denunciando, mas ninguém tomou atitude até agora, só dizem que o registro foi feito”, reclama Ronaldo Moraes. De acordo com a legislação ambiental atual esse tipo de atividade é ilegal. O artigo 140 do decreto 11.601, de nove de janeiro de 2004, proibe a utilização de margens de cursos de água para bota-fora em Belo Horizonte. Já em Sabará, o artigo 31 do decreto 258, de seis de março de 2002, permite a utilização do solo para esse fim com prévia autorização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Segundo o secretário de administração regional da Prefeitura de Sabará, José Borges, para solucionar o problema dos bota-fora é necessária uma ação em conjunto com a Prefeitura de Belo Horizonte.
07 - Educação-Carlos f.
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Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo
EDUCAÇÃO 7 Salão do livro: incentivo à leitura O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
5º Salão do livro realizado na capital vira referência no país e se torna mais um lugar para a cultura Rafael Werkema
Rafael Werkema 7º Período O 5º Salão do Livro e Encontro de Literatura, promovido pela Secretaria Municipal da Cultura em parceria com a Câmara Mineira do Livro (CML), transformou Belo Horizonte na capital do livro entre os dias 12 e 22 de agosto. Mais de 120 mil pessoas visitaram o salão, que teve entrada gratuita e reuniu em 55 estandes as principais editoras de Minas e do país.Além dos descontos nos preços dos livros, o evento teve uma programação cultural diversificada, com oficinas, lançamentos de livros, exposições e saraus de poesias. Segundo o presidente da CML e organizador do salão, Guilherme Machado Ribeiro, o objetivo do evento foi difundir o hábito da leitura.“A nossa proposta foi popularizar este hábito, oferecendo livros a preços mais baixos”, explica. Para o administrador Silvério Prado, essa proposta é fundamental para a cultura e educação da população.“Os jovens não estão acostumados a ler e eventos como o salão ressaltam a importância desse hábito”, afirma. O estudante Túlio Atanázio, 15, também acha que o evento é uma forma de incentivar a cultura, mas discorda em relação aos descontos oferecidos.“A idéia é boa, mas os livros poderiam ser ainda mais baratos.No bairro onde moro (Nova Gameleira, região Oeste de BH), poucas pessoas têm condição de comprar os livros com os preços a que estão sendo vendidos aqui”, reclama. O regulamento do 5º Salão do Livro obrigou as editoras a darem um desconto mínimo de 10%. Mas para livros que custam R$30, por exemplo, três reais de diferença ainda foi muito pouco. Mesmo assim, segundo Guilher-
me Ribeiro, o preço dos livros foi o que mais chamou a atenção das pessoas. Para a realização do 5º Salão do Livro, foram investidos cerca de R$ 600 mil.
Falta espaço para a literatura em Minas
Referência em Minas Guilherme Ribeiro afirma que o evento agora é uma referência em Minas e está ganhando projeção no país.“A procura de expositores que querem participar do salão do Livro de Belo Horizonte aumentou e isso é reflexo do sucesso do evento”, destaca Ribeiro. Mas, segundo ele, o que diferencia o salão de outros eventos literários (como a Festa Literária Internacional de Paraty ou as bienais do Rio e São Paulo) é sua proposta de ser uma feira popular. “É claro que existe o lado comercial, mas, ao mesmo tempo, garantimos acesso à cultura, independentemente da classe social. Por isso é aberto ao público”, reforça.
Apesar de toda a preocupação com o lado cultural do 5º Salão do Livro, escritores mineiros reclamam da falta de espaço para divulgação de seus trabalhos. A poetisa Ana Elisa Ribeiro acha que o objetivo principal do evento foi a venda de livros.“O salão poderia ser ideal para uma divulgação mais ampla da literatura. Mas esse não foi o foco da feira”, acentua. Ana Elisa ainda defende a idéia de que o evento poderia ter aberto mais debates sobre o assunto.“O salão teve pouca coisa para quem tem interesse em literatura e quer discutir o tema”, finaliza. Michel Mingoth, estudante de Letras da UFMG aponta o espaço físico do Salão como exemplo do desequilíbrio entre o lado comercial e cultural do evento. “Basta ver que o espaço para a cultura se resumiu à arena (local onde as atrações culturais aconteceram), e que todo o resto foi reservado para os estandes das editoras”, ironiza. Outro estudante de Letras, Júlio César do Carmo, também reclama do problema. “Os autores que não lançam livros com as grandes editoras têm dificuldade de vender suas obras, e o salão poderia ter dado essa oportunidade”, frisa. Silvério Prado,administrador, também concorda que a capital ainda tem uma programação cultural insuficiente, e que o trabalho do escritor precisa ser mais valorizado.Mas ele vê o Salão do Livro como um ponto de partida para a difusão do hábito da leitura e da cultura.“O costume de ler precisa ser cultivado em toda a cidade, principalmente nas periferias da Grande Belo Horizonte”, comenta.
Participação Infantil O público infantil dominou o salão do livro. Segundo a assessoria de imprensa do evento, diariamente, mais de cinco mil estudantes, de escolas públicas e particulares, passaram pelo salão. Uma das atrações para o público infantil foi “A Hora do Conto” que, segundo a contadora de história Rita de Cássia, reunia cerca de seiscentas crianças.“Elas brincaram, participaram e se divertiram”, conta Rita. Ela acha que os livros de contos são mais uma forma de incentivo da leitura para o público infantil. O estudante Bruno Dornelas, de 8 anos, já sabe da importância da leitura. Ele adora ler e por isso comprou o livro ‘As Olimpíadas dos Bandeirantes’. “Gosto de livros porque são interessantes e ajudam nas pesquisas da escola”, afirma.
O estudante Bruno Dorneles descobre seu gosto pela leitura e exibe seu novo livro Rafael Werkema
Analfabetismo no Brasil ainda persiste Rafael Amaral
Luana Siqueira e Rafael Barbosa 2º Periodo
Cultura e história nacional tiveram espaço dedicado no 5º Salão do Livro
Exposição resgata e recorta parte da história política Rafael Werkema 7º Período Além de proporcionar oficinas e palestras, o 5º Salão do Livro de Minas Gerais foi um espaço para quem queria resgatar parte do passado do país. A exposição ‘Todas as Letras’, de Heloísa Starling e Paulo Schimidt, relatou, por meio de fotos, publicidade e música, a história dos últimos 40 anos do Brasil.As três datas referenciais foram o período de 1964 (data do Golpe Militar), 1984 (Campanha das Diretas) e 2004. O artista plástico Paulo Schimidt conta que a exposição relatou momentos que ainda estão presentes na memória do país e nos livros de história, o que fez com que o 5º Salão e o Pavilhão
Brasil – ‘Abra as páginas desse livro’ fossem conectados.“O Brasil está em uma espécie de divã,
“ Todo mundo se diverte com a peça que tem seu conteúdo político, crítico, fazendo um gancho com a história do Brasil” Lívia Gaudêncio- Estudante
onde a noção de democracia ainda não está clara”, afirma.
Para a professora Elisabeth Alves,‘Todas as Letras’ foi uma boa forma de as pessoas reviverem ou conhecerem o passado por meio de imagens. Ela afirma ainda que a exposição ficaria ainda mais completa se trouxesse textos que aprofundassem o tema. Schimidt lembra que a exposição não teve compromisso de contar a história completa do período, até mesmo porque acredita ser esta uma tarefa impossível. “A exposição reuniu fragmentos de um período obscuro, em que a liberdade de imprensa era cerceada”, afirma. A estudante de Belas Artes Lívia Gaudêncio, que participou do evento, afirma que o espetáculo atendeu a um público de todas as idades e de diferentes camadas sociais.
Atualmente o analfabetismo no Brasil atinge 33 milhões de pessoas, sendo que metade não é capaz de ler nem escrever e a outra metade assina o nome, mas não consegue ler e interpretar textos ou informações necessárias em seu cotidiano. Neste ano o programa Brasil Alfabetizado passou por algumas alterações.Algumas delas são: a ampliação do período de alfabetização de seis para oito meses, o aumento de 50% nos recursos para formação dos alfabetizadores, estabelecimento de um piso para bolsa do alfabetizador e a ampliação do número de turmas. O programa ainda conta com um investimento do governo federal de R$162 milhões e a meta é atingir mais de um milhão de estudantes em todo território nacional. Criado pelo Ministério da Educação em 2003, o programa visa abolir o analfabetismo no Brasil até o ano de 2006. O público alvo são jovens e adultos que ainda não sabem ler nem escrever. A metodologia utilizada busca garantir a efetiva alfabetização possibilitando ampliar as práticas e o domínio da leitura, escrita e os conhecimentos matemáticos necessários no cotidiano da população.
Sérgio Roberto, coordenador do projeto ‘Cidadão Nota 10’
Programa ‘Cidadão Nota 10’ prevê mudanças de atuação A partir do programa ‘Brasil Alfabetizado’, o Governo estadual criou o projeto ‘Cidadão Nota 10’, que tem como objetivo promover a organização de comunidades em torno do Vale Jequitinhonha para combater o analfabetismo na região. O projeto também visa promover a inclusão social e uma cidadania mais ativa. Segundo Ségio Roberto, coordenador do projeto, o programa visa alfabetizar jovens e adultos da região Norte e Nordeste de Minas.
O programa espera atender 70 mil alunos junto a 2.800 professores dos 188 municípios, até o final deste ano. Outra modificação é que os professores passarão a ter uma bolsa de R$120 mais R$ 7 por aluno. Se a freqüência mensal for de 25 alunos (o máximo permitido) a bolsa será de R$ 295. A meta do projeto é a inclusão social de todos os moradores da região. O programa Cidadão Nota 10 tem por previsão, quatro anos de duração.
08 - Política- Renata Quintão
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Editor e diagramador da página: Renata Quintão
8 POLÍTICA
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Candidatos à prefeitura têm propostas parecidas para BH Próximo das eleições, os três principais candidatos explanam idéias iguais para governar a capital João Vitor Viana 6º período
lência, uma ação mais ativa em relação ao desemprego e à estagnação econômica da cidade. O candidato finalizou dizendo que é contra a reeleição. “Os governantes acabam confundindo a campanha deles com a administração, não sabem separar o cargo da candidatura. Isso é ruim para a democracia. Eu assino um compromisso que não serei candidato à reeleição em nenhuma hipótese. O candidato que se elege e pensa na reeleição, consequentemente, deixa de pensar nos problemas da cidade”. As eleições ocorrerão no dia três de outubro, data em que a capital conhecerá seu prefeito.
A poucos dias das eleições municipais que poderão definir o próximo prefeito de Belo Horizonte, os três principais candidatos, Fernando Pimentel (PT), João Leite (PSB) e Roberto Brant (PFL), estiveram presentes ao Teatro Phoenix, na Fumec, nos dias 15, 16 e 17 de setembro, respectivamente. Os candidatos discursaram sobre seus objetivos políticos e reafirmaram as propostas de campanha, o que reiterou a semelhança formal das candidaturas.Os estudantes escutaram atentamente os candidatos que distinguiram, apenas superficialmente, suas propostas de governo. Acompanhado do deputado estadual Rogério Corrêa, Fernando Pimentel falou de seu mandato, dos feitos e do que ele pode melhorar, se eleito. Dizendo fazer uma campanha sem críticas, positiva, sem ofensas a ninguém, Fernando Pimentel não comentou os resultados de pesquisa que o apontam como favorito a vencer em primeiro turno. “Em respeito aos órgãos que fazem as pesquisas e aos candidatos, só falo da campanha”, afirmou. Sobre suas propostas, destacou a criação de uma tarifa reduzida para os bairros Barreiro e Venda Nova, que deve ser introduzida ainda esse ano.“Essa tarifa menor seria cobrada em trajetos mais curtos, dentro do próprio bairro”, disse o candidato do PT. O prefeito comentou ainda que isso só pode ser feito agora, por causa da implantação definitiva do BHbus. Propostas João Leite, principal adversário de Pimentel nas eleições, disse que nunca se deve brigar com números. “Respeito as pesquisas e a nossa parte é lutar e mostrar as propostas que nós construímos para governar Belo Horizonte”. O candidato do PSB disse ainda que há um outro empecilho que está sendo enfrentado: o dinheiro disponibilizado para a campanha do seu oponente, Fernando Pimentel.“Nós estamos enfrentando uma campanha milionária. Eu nunca vi uma campanha com tantos recursos”. Sobre suas propostas, João Leite defende a formação de um novo transporte coletivo, que seria concluído em dois anos, inspirado no sistema adotado em Curitiba; um hospital só para mulheres; um governo transparente; revitalização do centro da cidade; geração de empregos e redução do número de secretarias para 15. Roberto Brant, deputado federal pelo PFL, afirmou que as pesquisas não estão apontando a realidade da intenção de voto das pessoas. Segundo o candidato, o resultado no dia da apuração será bem diferente do divulgado pelos órgãos de imprensa.“A maioria das pessoas ainda estão refletindo, amadurecendo sua escolha”, disse. “ O problema não é a má intenção, mas a incompeência”, completou. Brant pretende com um sistema viário especial, desviar rotas de tráfego no centro,“desafogando” o trânsito que piora muito no horário de “rush”.“Quero criar alternativas de trânsito que descongestionem o centro, que é um local de passagem, não é de convivência”, completou. Brant, assim como toda a oposição, não perdeu tempo e também criticou algumas iniciativas que vêm sendo praticadas por Pimentel e pelo Governo Federal, por exemplo a disponibilização de verbas para o
Secretarias causam discórdia Enquanto o prefeito Fernando Pimentel afirma que só há 18 secretarias na prefeitura, os outros dois principais candidatos, João Leite e Roberto Brant discordam desse número. Para Pimentel, os candidatos estão equivocados. “Só há 15 secretarias e três cargos que todo o município tem, que são o de Procurador-Geral, o Auditor-Chefe e Assessor-chefe de comunicação, é só saber fazer a conta. Os outros cargos que têm na prefeitura são de segundo escalão. São cargos que, mesmo tendo o nome de secretarias, são secretarias temáticas que ganham menos e têm menos responsabilidades do que o primeiro escalão. Estes são os subsecretários, os superintendentes, os chefes de departamento. Isso é só uma questão de nomenclatura”, salientou o candidato. João Leite é incisivo na questão de secretarias. “São mais de 60 secretarias. É algo que eu não tinha visto ainda, apesar de ter poucos anos de política.Tudo isso apoiado por um projeto de Bolsa Escola, Bolsa Família e uma pressão permanente sobre as pessoas mais pobres”, disse João Leite. Uma das frases de campanha do principal adversário de Pimentel é estampada:“Vamos gastar menos com a prefeitura e gastar mais com você”, uma crítica às supostas 63 secretarias que o prefeito atual criou. Roberto Brant disse que não sabe se há, realmente, 63 secretarias.“ O próprio prefeito disse que não eram 63, eram 54. Na verdade, qualquer que seja o número não se justifica. A prefeitura poderia ter, no máximo, 10, 12 secretarias. A ‘máquina’ da prefeitura é muito inchada. Precisa ser uma coisa muito menor para funcionar melhor. Isso é um defeito do PT em todos os escalões. O presidente Lula quase dobrou o número de ministérios. É a visão que eles têm: a de fazer um Estado imenso, com uma burocracia imensa. Isso acaba paralisando a ação do Estado”, afirma. Brant, se eleito, promete reduzir o número de secretarias. Isso ocorreria após sua posse, num novo modelo de reforma administrativa, sendo esta submetida à Câmara Municipal no primeiro dia de mandato.
metrô, algo que ronda R$ 20 milhões anuais, e que, segundo o deputado, não se faz nem um metro de trilho com esse dinheiro. Diferenciando sua candidatura dos demais, Brant afirmou que o candidato atual não pode fazer grandes mudanças devido a seu partido estar há 12 anos no poder e João Leite não possui experiência política. Brant ainda completou dizendo que suas propostas e valores são diferentes dos outros.“Me considero muito diferenciado em relação aos outros candidatos, sem que isso signifique desqualificá-los, pelo contrário. Suas propostas englobam grandes obras para mudar o funcionamento da cidade, propõem novas políticas sociais, enfrentamento viril da vio-
Marketing político João Leite afirmou que a diferença nas pesquisas entre ele e Fernando Pimentel se deve, e muito, ao marketing político envolvendo o candidato do PT. Segundo João Leite, Pimentel apresenta os minutos de mais ilusão da televisão brasileira. “Um restaurante popular feito em 12 anos não resolve todo o problema da fome em Belo Horizonte, nem uma trincheira.Apresenta uma Praça Sete, uma Praça da Estação, e se esquece dos aglomerados, dos fundos de vale, das crianças e das pessoas dessa cidade que convivem com esgoto a céu aberto. Isso tudo é feito pelo mesmo Duda Mendonça que criou Paulo Maluf, que transformou o fura-fila e o Singapura. É o mesmo marqueteiro que elegeu “Carlos Menem”, disse o candidato do PSB.
09 -Especial - Rafael Werkema
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Editores: Rafael Werkema e Mariana Hilbert / Diagramador da página: Rafael Werkema
ESPECIAL 9
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Manobra política ou defesa do exercício da profissão? Projeto de lei que poderá criar o Conselho Federal de Jornalismo é questionado com veemência tanto pelos veículos de comunicação quanto pelos profissionais da área Lorena Campolina, Marcelo Valadares e Pedro Bcheche 3º Período
D
esde que foi encaminhado ao Congresso Nacional, o Projeto de Lei que define a criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ) vem sendo amplamente debatido pela imprensa. E gerado muita dúvida também. Matérias tendenciosas, pouco explicativas, e discussões unilaterais estão dando um nó na cabeça de quem quer entender o que é o CFJ, inclusive na dos próprios jornalistas. E sempre depois de uma avalanche de informações, sem uma análise mais profunda, uma questão simplista é colocada: você é a favor ou contra a criação de um órgão fiscalizador e orientador da categoria? Para os defensores do projeto, o CFJ será o resguardo do “bom jornalismo”. Isto é, o Conselho faria valer o Código de Ética, regulamentaria a profissão e ditaria regras a serem seguidas pelos profissionais para melhorar a qualidade da informação. Já para aqueles que são contra o projeto, o CFJ é uma ameaça à liberdade de expressão, principalmente no atual momento político brasileiro.Acredita-se que o CFJ irá censurar matérias que tragam eventuais críticas ao governo petista.Mas o que precisa ser problematizado é: o jornalismo (e, principalmente, o jornalista) precisa de um conselho de regulamentação e fiscalização? E ainda: o projeto que está no Congresso sobre o CFJ é a melhor alternativa para o “fazer valer” do Código de Ética da profissão? Legislação existente Os recentes abusos da mídia (como o caso Ibsen Pinheiro ou caso do edifício JK) são provas de que a atividade jornalística não vem sendo bem executada por alguns profissionais e, principalmente, por parte dos meios de comunicação. No entanto, existe uma lei que perpassa o trabalho do jornalista e da empresa, que é a Lei de Imprensa, nº 5.250 de 9/2/1967. Ainda que antiga, a Lei de Imprensa “regula a liberdade de manifestação do pensamento da informação... e a difusão de informações ou idéias sem dependência de censura”. Além disso, ela é clara em relação à punibilidade do profissional, como o artigo 12 que define: “Aqueles que, através dos meios de informação e divulgação, praticarem abusos no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e informação ficarão su-
jeitos às penas desta lei e responderão pelos prejuízos que causarem”. Entre os abusos está a difamação, a calúnia e a injúria. E a Lei de Imprensa serve de argumento tanto para quem defende o CFJ, nesse caso, por acreditar que ela é ineficaz, quanto para quem critica o projeto, que acha que essa lei é suficiente.Para Pedro Blank, repórter de “O Tempo” e presidente do Comitê Mineiro Contra a Criação do CFJ, o que deve ser regulamentado já está previsto pelas leis existentes.“Nossa profissão não precisa de um órgão fiscalizador.As leis já contemplam a atividade de jornalista e o CFJ é um cerceamento à liberdade de expressão”, critica. Segundo Aloísio Lopes, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJMG) e conselheiro da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o CFJ vai fiscalizar se as demais normas previstas em lei sobre o exercício do jornalismo estão sendo cumpridas.“Com a criação do Conselho, nós seremos um órgão autônomo dirigido por jornalistas, para fazer não só a emissão do registro profissional, mas também para fiscalizar o cumprimento do Código de Ética”. Já o secretário de redação do jornal Hoje em Dia, Eduardo Murta, acha que o projeto sobre o CFJ apresenta pontos favoráveis e negativos e por isso é necessário maior discussão em torno do tema. “É preciso conhecer bem o projeto antes de tomar uma posição”. Relações de trabalho Apesar de o Conselho ter o papel de fiscalizar e orientar o exercício da profissão, e ser responsável pelo registro profissional, ele não terá autonomia para atuar nas relações de trabalho entre empresa e jornalistas. E esse é um problema encontrado na maioria das redações. Muitas das vezes, o dono de uma empresa jornalística, por interesses comerciais ou políticos, obriga o jornalista a dar um enfoque a uma matéria que não atende o interesse público. Como resolver essa situação? Segundo Alexandre Campello, diretor do SJMG, o CFJ poderá respaldar juridicamente denúncias de jornalistas.“Isso faz com que ação ganhe mais importância na Justiça”. Mesmo assim, ele confirma:“o Conselho não terá, diretamente, o poder de pressionar a empresa”. Pedro Blank defende a idéia de que o CFJ visa literalmente calar os jornalistas, já que não irá fiscalizar a empresa e sim o profissional, que é o “elo mais frágil da corrente”.“Não é o jornalista que precisa ser fiscalizado, e sim a empresa que não respeita o nosso Código de Ética”, conclui.
O governo e o Conselho
Infoarte: Marcelo Bruzzi
“No momento em que caem sobre o Executivo denúncias sobre o Ministro José Dirceu e sobre o Presidente do Banco Central, surge um grupo de pessoas ligadas ao movimento sindical hegemonizadas por setores do PT e do PC do B querendo criar este conselho”. A crítica de Pedro Blank é um dos principais argumentos utilizados por aqueles que são contra a criação do Conselho Federal de Jornalismo. Será que o Conselho não é mais uma manobra política do Governo Lula para evitar críticas por parte da população? Segundo o diretor da SJMG, Alexandre Campello, houve um grande equívoco quando o projeto do CFJ chegou ao Congresso.“O projeto de criação do conselho federal de jornalismo não é do governo. Para se criar qualquer autarquia pública federal, o projeto tem que partir do Executivo”, explica. No entanto, é impossível pensar em um conselho de regulamentação da profissão do jornalista, sem analisar o lado político. Segundo o jornalista Pedro Pomar, da Associação de Docentes da USP:“Não há fiscalização real sobre a mídia. Este sim é o debate urgente que a sociedade brasileira precisa fazer”. Colaboração: Rafael Werkema
10 - Saúde - Mariana Hilbert
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Editora e diagramadora da página: Mariana Hilbert Ribeiro
10 SAÚDE HPS é referência na ala de queimados
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Hospital de pronto-socorro João XXIII atende aproximadamente 3 mil vítimas de queimaduras por ano Ruy Viana
Aline Valério, Elisa Magalhães e Mariana Hilbert 3º e 6º períodos O Hospital de Pronto Socorro João XXIII, da rede Fhemig, conhecido pelo tratamento e assistência médica de urgência e emergência a acidentados e feridos graves, é também referência no atendimento às vítimas de queimaduras de diversos tipos. Os tratamentos, que compreendem inúmeras especialidades médicas, são totalmente gratuitos, oferecidos através do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a coordenação do HPS João XXIII, a unidade de tratamento de queimados do hospital é uma das três maiores da América Latina, e a maior unidade no país, em número de leitos destinados às vítimas de queimaduras. Ela atende cerca de 3.200 pacientes por ano, é procurada por pessoas de todo o estado de Minas Gerais e, inclusive, de outras partes do Brasil. Para o coordenador da Unidade de Tratamento de Queimados, o cirurgião plástico Ilmeu Cosme Dias, o hospital é considerado referência no atendimento de queimados, pois “conta com estrutura física e profissional necessária, um grande número de leitos e ligação com Sistema Único de Saúde (SUS). Alas de queimados A equipe de tratamento de queimados do hospital é composta por um clínico, um cirurgião e equipes de enfermagem, fisioterapia e psicologia. De acordo com o enfermeiro chefe da ala de queimados, Marco Antônio Fernandes, os acidentados graves,que possuem mais de 30% do corpo queimado e suspeita de queimaduras nas vias aérias, são encaminhados para o 9º andar, onde funciona uma UTI específica.“O 9º andar é uma ala mais completa e funciona como uma
UTI. Ele possui bloco cirúrgico, respiradores artificiais, bombas de infusão de medicamentos, aparelhos para monitorizar pressão e freqüência cardíaca, entre outros, necessários a um tratamento intensivo”, esclarece o enfermeiro. Marco Antônio explica ainda que os pacientes que sofreram queimaduras menores ou de menor gravidade, são internados no 8º andar do hospital. “Esse andar tem capacidade para alojar cerca de 40 pessoas, distribuídas entre cinco quartos disponíveis. Ele abriga também pacientes provenientes da UTI, que já apresentaram melhoras significativas e passarão por um processo de enxerto, para complementar o tratamento”, ressalta. Outros estados De acordo com o coordenador da Unidade, Ilmeu Cosme Dias, o HPS recebe muitos pacientes do interior do estado. “É comum a entrada de pacientes provenientes do interior do estado, onde geralmente não existe infra-estrutura e recursos apropriados. Normalmente eles apresentam um quadro mais complicado devido à falta de tratamento adequado, no local do acidente”, comenta. De acordo com a auxiliar de enfermagem da ala, Regina Maria, a maioria dos pacientes atendidos no HPS João XXIII é de outras cidades de Minas ou até mesmo de outros estados. Geraldo da Silva, de 12 anos, é de Pará de Minas e foi encaminhado para o João XXIII por falta de estrutura do hospital da cidade. Maxsuel Gonçalves Diniz, também de 12 anos, sofreu queimaduras quando brincava no ferro velho de sua família em Congonhas e teve auxilio do hospital local apenas para limpeza dos ferimentos. Segundo Luciedina Gonçalves Diniz, mãe de Maxsuel,“o hospital Bom Jesus, de Congonhas, não teve estrutura para o tratamento e nem
mesmo para fazer os curativos necessários”, declara.A auxiliar de enfermagem, Márcia Silvana Domingos, que trabalha há 17 anos no ala de queimados do HPS João XXIII, diz que os pacientes vindos do interior necessitam de mais cuidado.“Eles passam por muito sofrimento, pois não conseguem tratamento adequado na cidade onde moram e chegam aqui sem estrutura nenhuma”, declara. Acidentes domésticos Acidentes domésticos representam 80% dos casos atendidos no HPS João XXIII. De acordo com o coordenador Dr. Ilmeu, normalmente os casos domésticos envolvem líquidos quentes e álcool líquido e a maioria das vítimas é composta por crianças. Dentro da casa, a cozinha é o local onde o risco é maior. Geraldo Júnior da Silva, de 12 anos, brincava na cozinha e se queimou com gordura quente. Segundo a mãe de Geraldo, Marta Maria Silva, o acidente ocorreu por distração. “Tinha saído da cozinha por alguns minutos e quando voltei, a panela com gordura tinha virado nas costas dele”. Outro problema normalmente enfrentado no atendimento de queimados é a falta de informação por parte dos pacientes. Dr. Ilmeu explica que muitas pessoas tentam se tratar com produtos caseiros e formas alternativas, normalmente associadas à cultura popular. “As pessoas sempre tendem a passar produtos como pasta de dente, óleo de cozinha, pó de café e clara de ovo”, relata. Ele alerta, que esse tipo de procedimento é perigoso, pois dificulta a higienização e a cicatrização da região queimada.“Em qualquer caso de queimadura, o procedimento deve ser o de lavar o local apenas com água fria e encaminhar a vítima para o hospital”, enfatiza Ilmeu.
Maxsuel Gonçalves teve auxílio em Congonhas apenas para limpeza dos ferimentos Ruy Viana
Doação de pele é pouco divulgada A doação de pele no Brasil ainda é um ato pouco conhecido e praticado. De acordo com a coordenação geral do Sistema Nacional de Transplantes, existem no país 22 centrais estaduais, no entanto, destas, apenas cinco possuem autorização do Ministério da Saúde, para trabalhar com transplante de pele. Desde de junho deste ano, o maior fornecedor de tecidos do Brasil, o Banco de Pele do Instituto Central do Hospital das Clínicas, ligado à faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, esta com baixo estoque. De acordo com o banco, os principais motivos para o baixo número de doadores é o preconceito e a falta de informação a respeito da possibilidade de doação de pele. Segundo dados da Central de Transplantes de São Paulo, a média mensal de doadores de pele é de quatro, enquanto a média de doadores de múltiplos órgãos é de 25. Em Belo Horizonte, a situação ainda é mais grave. De acordo com a coordenação da central estadual de transplantes em Minas Gerais, o MG-Transplantes, a unidade trabalha somente com doação de coração, pulmão, fígado, rins, pâncreas e córneas. A necessidade da doação acontece em casos nos quais o paciente não possuí áreas que possam ser usadas como enxertos. Em casos extremos em que o paciente tem 70 % ou mais do
seu corpo atingido por queimaduras, é necessário que a pele deteriorada seja removida e substituída o quanto antes, caso contrário podem ocorrer infecções e até mesmo morte.A doação de tecidos assim como a de órgãos deve ser autorizada pela família do doador, sendo que atualmente é solicitado um pedido de cada órgão e de cada tecido que será retirado. Muitas pessoas ainda têm uma espécie de preconceito contra a doação de órgãos e tecidos, principalmente a pele, pelo fato de acharem que a quantidade de tecido retirada será exagerada. Entretanto a pele não é retirada em toda sua espessura e sim apenas camadas muito finas, localizadas em áreas encobertas, como as costas e a parte traseira das coxas. É importe deixar claro que a doação pode ser feita tanto por pessoas vivas, quanto pela família de falecidos. De acordo com a coordenação geral do Sistema Nacional de Transplantes não existem ainda bancos de pele autorizados pelo governo. O Banco de pele do Hospital das Clínicas de São Paulo conta com esta atividade e está providenciando os documentos e a estruturação necessária para regularização. Ainda de acordo com a coordenação, a legislação pertinente a Banco de Pele, está em estudo, e em breve estará em vigência para fiscalização adequada.
Geraldo Silva, 12 anos, faz parte das estatísticas de casos domésticos, em que as crianças são as principais vítimas
Faltam recursos em Minas O tratamento de queimados depende do somatório de vários fatores,que vão desde o metabolismo do paciente, até o grau da queimadura e o tamanho da área do corpo atingida. Nos casos de extrema gravidade,em que a porcentagem do corpo queimada é muito grande, o paciente tem uma recuperação muito complicada, normalmente mais demorada, e algumas vezes pode não resistir aos ferimentos devido à seriedade dos danos causados.Até mesmo uma deficiência nutricional, ou seja, uma alimentação
inadequada proveniente dos hábitos praticados pelo paciente antes de se queimar, pode retardar a recuperação. Os processos posteriores ao tratamento intensivo compreendem o uso de óleo mineral, para reverter o ressecamento da pele, novalgina ou até mesmo morfina para amenizar a dor, além de soro para combater a desidratação.Por se tratar de um processo muito traumático e doloroso,os medicamentos mais utilizados são os analgésicos. Mesmo sendo referência no atendimento de queimados, o
HPS João XXIII não possui um banco de pele. De acordo com Dr. Ilmeu, existe um projeto de implantação do banco de tecidos em Minas Gerais.“Este projeto deverá ser desenvolvido entre o João XXIII,o MG Transplantes e outras instituições públicas de saúde em Minas Gerais. No entanto ainda não há previsão para concretização dessa idéia”,afirma.Os pacientes do HPS João XXIII que necessitam de doação normalmente a recebem de parentes próximos e o processo de transferência da pele ao paciente queimado
é todo realizado dentro da ala de queimados do hospital. De acordo como a médica responsável pelo Banco de Tecidos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Marisa Roma Herson, o hospital que quiser implantar um banco de pele deve “primeiramente disponibilizar uma estrutura sofisticada, dentro dos rigores de qualidade e tecnologia para evitar o risco de contaminação e infecções, muito grande em casos como o de transplantes de tecidos”, explica a médica.
11 - Segurança - Bernardo M.
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Editor e diagramador da página: Bernardo Motta
SEGURANÇA 11 Desarmamento supera expectativa O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
População se mobiliza e o governo prevê novas metas para a doação de armas na campanha Divulgação
Carolina Lara 4º Período A nova lei do estatuto do desarmamento, em exercício desde o dia 15 de julho deste ano, prevê para outubro de 2005 um plebiscito no qual os brasileiros irão decidir nas urnas se será proibida a compra de armas por civis. A expectativa do Governo Federal no início da campanha nacional do desarmamento era de 80 mil armas recolhidas até o final do ano. Mas, em apenas dois meses e meio após a efetivação da campanha, já foram trocadas 74.500 armas de fogo. A partir destes dados, a Polícia Federal pretende alcançar uma nova meta equivalente a 160 mil armas até o fim de 2004. A lei, mais rígida, dificulta o registro e o porte de armas. Agora é preciso uma comprovação da necessidade do porte da arma por parte de seu usuário. Só assim é possível a obtenção do registro junto à Polícia Federal e o Sistema Nacional de Armas (Sinarm). Esta comprovação será exigida tanto para o porte de armas nas empresas como o de cunho pessoal. Uma das mudanças ocorridas na lei para adquirir armas foi a aplicação do teste psicotécnico e de capacitação do uso da arma. Outra mudança é a faixa etária do portador, que deve ser maior de 25 anos, e não de 21 como acontecia anteriormente. O indivíduo também deve apresentar uma certidão de antecedentes criminais. Caso a pessoa tenha tido problemas anteriores com crimes, delitos ou outras pendências jurídicas, ficará proibida de obter o licenciamento. Para o delegado de polícia do Departamento de Operações Especiais (Deoesp), especialista em armas, munições e explosivos, Marcos Silva Luciano, ocorre uma falha nominal no estatuto, já que esse pressupõe o não armamento da sociedade. De acordo com o delegado, “Não deveriam haver concessões, exceções e permissões em casos específicos pa-
Armas são um grande perigo para população
ra o registro”. Segundo ele o porte de armas deveria ser restritamente permitido para as profissões de risco ou para pessoas em situação de ameaça. Para os atiradores desportistas, caçadores e colecionadores é preciso ter a carteira de registro, emitida e de responsabilidade do exército, além de serem associados de acordo com sua categoria específica e atender as exigências para a aquisição da arma. A grande questão do estatuto é dificultar o acesso da população às armas, e assim, diminuir, a longo prazo, a violência. “Esta nova lei diminuirá o crime.A campanha, na verdade, é para tirar de circulação aquelas armas que estão fora de funcionamento ou uso e que possuem um potencial que a qualquer momento pode vir à tona”, explica o delegado Marcos Silva do Deoesp. De acordo com a nova lei, é crime inafiançável o porte de armas em situações que contradigam as mudanças fundamentais desse novo estatuto, e o contrabando de armas passou a ser considerado tráfico com pena de até 12 anos de detenção. A polêmica da campanha A discussão vai além de se poder ter armas ou não. Para o juiz de direito da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte,Alberto Deodato Maia Barreto Neto, a lei do desarmamento é boa, mas infelizmente não funciona por si só.“É preciso ações conjuntas entre o estado, a polícia, e o judiciário.Apenas proibir o porte não diminuirá a violência, bandido não liga para a lei”. Ainda segundo ela, é o Estado que deve garantir segurança para a população por meio da ação da polícia, e é preciso que a lei seja aplicada. De acordo com o filósofo Francesco Napoli, não há solução imediata para a criminalidade devido a má distribuição de renda.“ A lei se encontra no plano ideal e não real, isso faz inviável o pleno poder estatal para o cumprimento da mesma,e permeia os limites da criminalidade.”explica o filósofo.
Polícia Federal investe no desarmamento e também no treinamento de agente de campo
Dinheiro recebido na troca de arma estimula população Bernardo Macedo
Foram devolvidas, até o dia 30 de setembro,mais de 3.700 armas só em Belo Horizonte. A campanha que se estende em todo o estado conta com o apoio das polícias civil e militar para recolhimento das armas sob responsabilidade da polícia federal. Segundo Ricardo Amaro,delegado da Polícia Federal e responsável pelo recolhimento das armas, são entregues em média 300 armas por dia,“todas as armas são encaminhadas ao exército para serem destruídas”. De acordo com Amaro, a maior parte das armas devolvidas são aquelas que há muito tempo estão na família, sem utilidade para quem as guarda. Sônia Maria Marques devolveu duas armas de caça que eram do seu sogro. Para ela,“não há necessidade de armas em casa,pode ocorrer acidentes,e nem poderia usá-las em caso de perigo, pois não sei mexer”. Para Ricardo Amaro, é um atrativo a indenização oferecida que varia de R$100 a R$300 reais, dependendo do tipo de arma.“As pessoas também tem um motivo financeiro para entregar as armas” opina.
Para a entrega de fuzil, o valor é R$300, para a espingarda e a carabina o valor da indenização é de R$200 e para pistola, revólver e garrucha R$100.Para quem tem armas e ainda não as regularizou, de acordo com a nova lei do estatuto, (artigo 1º da lei 10.884), tem até dia 20 de dezembro para o registro ou entrega da arma.Já para a renovação do porte já expedido a polícia civil informa que o prazo terminou no dia 21 de setembro último.Os valores das taxas para emissão de novo registro, renovação ou segunda via é de R$300. E para expedição do porte e renovação o valor é de mil reais e este deve ser renovado de 3 em 3 anos. Para o Delegado Marcos Silva, da delegacia especializada de armas, munições e explosivos, o valor privilegia apenas quem tem dinheiro. "É um obstáculo injusto, discrimina pelo valor aquisitivo", afirma. Para quem ainda não devolveu armas e quer fazê-lo basta dirigir-se aos batalhões e companhias independentes da PM e as delegacias Seccionais de Belo Horizonte e região Metropolitana.
Armas entregues na polícia federal de Belo Horizonte
A preocupação daqueles que são contra o porte de armas é o perigo que elas oferecem à população. É grande o número de acidentes que acontecem dentro das residênsias, envolvendo na maioria das vezes crianças. Para a psicóloga Naiara Napoli, a proibição será muito útil e com isto acidentes domésticos com armas de fogo serão evitados.Também é grande o número de crimes cometidos com o uso de armas em ambientes familiares ou pessoais. Napoli acredita que muitas pessoas nervosas e alteradas emocionalmente cometem atrocidades por impulso. Para o antropólogo Carlos Wagner, a raiva é uma coisa presente nas nossas vidas, “ quando estamos com raiva dá vontade de matar”, afirma. Carlos Wagner também acredita que um dos maiores problemas do desarmamento é o fato de que muitas pessoas acreditam que as armas, apesar dos riscos que oferecem, também garantem proteção total e podem ser usadas como um objeto de defesa para quem as possuí. O psicólogo Jacques Akerman ressalta ter no Brasil uma cultura armamentista influenciada pela cultura hegemônica violenta norte americana. “Os filmes americanos são os maiores influenciadores.”afirma. De acordo com Akerman as novelas da Rede Globo estão reproduzindo tal violência.“ Os problemas entre os personagens só se resolvem com tiro. A campanha é válida pois é plausível mudar essa mentalidade. É uma oportunidade de produzir nas pessoas um novo entendimento a respeito do porte de armas”, acredita o psicólogo. A nova lei do estatuto de desarmamento visa despertar a compreensão da população e a conscientização para com o risco apresentado pelo porte ilegal de armas.
Legítima defesa gera polêmica O que tem sido mais debatido na nova lei do Estatuto do desarmamento é o direito inquestionável que a constituição garante ao cidadão: o direito à legítima defesa. Para o atirador e ex-presidente da Federação Mineira de Tiro Prático, Ricardo Tolentino, “a medida deveria visar o desarmamento dos bandidos e não dos civis.As pessoas de bem ficarão desarmadas, sem defesa, enquanto os marginais a cada dia se abastecerão com armas potentes contrabandeadas, prontos para invadirem nossos lares por saberem que as pessoas não possuirão armas. Como proteger nossos bens e nossas famílias? Sem contar que se tivermos no futuro uma ameaça externa de guerra a população não conseguirá impor resistência, e os bandidos terão que nos defender já que serão os únicos que terão armas e que saberão como manuseá-las”. De acordo com o delegado Marcos Silva, do Deoesp, o estatuto tem o apoio e o incentivo da ONU. “É interessante para os Estados Unidos desarmarem o mundo, pois são os maiores produtores de armas", observa Silva.
A campanha tem como objetivo a diminuição da violência, mas para o Filósofo Francesco Napoli é errôneo pensar que a criminalidade vai baixar com o desarmamento,“se o sujeito quer matar, ele mata ou fere de qualquer outro jeito, utilizando-se de quaisquer outros instrumentos". Uma das soluções apontadas para esse dilema seria o investimento na educação de base, ou seja, preparar o cidadão para a convivência saudável e pacífica. "O jeito é esperar que os bandidos fiquem velhos e morram, e que haja um investimento pesado do governo para melhores condições de vida em todos os aspectos para as crianças, para que, amanhã elas não sejam os bandidos de hoje, pois estes nem por milagre irão se entregar, e mesmo que todos se entregassem, devido à superlotação do sistema carcerário, não haveria onde colocá-los", salienta Ricardo Tolentino. O estatuto do desarmamento pode, a longo prazo, diminuir o indíce de violência e de criminalidade, mas não será a solução.
12 - Mídia - Carolina Rabelo
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Editora e diagramadora da página: Carolina Rabelo
12 MÍDIA Conflitos cotidianos da era digital
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Apesar da disponibilidade de tecnologia, a maior parte da população está excluída desse processo Arquivo O Ponto
Douglas Vieira, Melina Rebuzzi e Nayana Rick 5º período A digitalização dos meios de comunicação permitiu a instantaneidade da informação, ou seja, as pessoas recebem a informação quase que em tempo real, além de ainda poderem acessar grande quantidade de dados simultâneamente. A Internet é um dos melhores exemplos das facilidades obtidas por esta digitalização. Mas a Internet não oferece apenas vantagens. Os altos custos envolvidos na sua viabilização fazem com que o uso desta ferramenta esteja relativamente concentrado nas camadas da população com maior renda, aumentando ainda mais as desigualdades de capacitação digital das pessoas nas parcelas menos favorecidas da sociedade. O sociólogo e professor de Economia da Universidade Fumec Cásper Líbero, em São Paulo, Sergio Amadeu da Silveira, discute em seu livro,“Exclusão Digital”, a miséria na era da informação, e tem como objetivo mostrar a diferença entre os problemas sociais e os problemas provocados pela exclusão digital. Segundo ele, a revolução informacional potencializa a capacidade de processar informa-
ções e amplia a capacidade de pensar e refletir.“O problema é que esse poder está muito concentrado, e é aí que surgem os pontos negativos. Há uma divisão cognitiva entre os que conseguem pensar e os que não têm acesso à informação, e essa divisão tende a aumentar cada vez mais”, explica. Para ele, a solução para este problema seria a criação de um ambiente favorável à criação da tecnologia e o Estado deveria ter uma política voltada para a inclusão da população na sociedade da informação.“Sem incentivo à educação, a exclusão não será combatida”, comenta. Há quinze anos, se um jornalista quisesse retratar um conflito no Oriente Médio levaria no mínimo 24 horas para que suas fotos fossem disponiblizadas para a população. Hoje, com a adaptação do equipamento convencional, temos acesso à dezenas de fotografias em poucos minutos. De acordo com o professor de fotojornalismo da Universidade Fumec, Rui Cézar, além de reduzir os custos da fotografia, a digitalização do equipamento audiovisual possibilitou maior agilização no processo de veiculação do material registrado, através de máquinas digitais e redes de transmissão via satélite, por exemplo.
O uso de microcomputadores conectados à Internet se transformou indispensável nas empresas e instituições de ensino
PBH busca democratizar o acesso a Internet Déborah Lane 6º Período A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) possui vários projetos de inclusão digital entre eles a Internet nas escolas, a Unidade Móvel de Inclusão Digital e os centros de Internet Cidadã. Segundo a assessoria de imprensa da Prodabel, empresa de informática e informação do município de Belo Horizonte, até o final de outubro todas as 182 escolas da rede de ensino municipal serão beneficiadas pelo projeto de inclusão digital.A professora Tânia Márcia Malachias acredita que só projetos como esses podem atenuar a exclusão digital no nosso país.“Me parece que há uma ação tanto do governo quanto da prefeitura para reduzir as desigualdades
sociais no âmbito da informática”, ressalta a professora. Além da Internet Cidadã, que disponibiliza acesso público e gratuito à Internet em diversos pontos da capital, a PBH criou a Unidade Móvel de Inclusão Digital para tentar suprir as necessidades da população carente na área da informática. A unidade oferece treinamento básico para o uso do computador e acesso à Internet para bairros da periferia de Belo Horizonte. A diarista Rosangela Machado, moradora do aglomerado da Serra, achou a idéia da internet móvel muito produtiva.“Nos dias que ela estava aqui aprendi um pouco mais sobre a Internet e computador em geral, até fiz um e-mail. É uma pena que ela não seja permanente”, observa Rosangela. Carolina Rabelo
Tecnologia não cria barreira para crianças e adolescentes Douglas Vieira, Melina Rebuzzi e Nayana Rick 5º período
Computador se torna preocupação constante dos pais
Atualmente as crianças e adolescentes não têm nenhuma dificuldade em lidar com o computador,exemplo disso é Maria Gabriela Carneiro Gondim,10,que utiliza a Internet facilmente. Sua mãe, Andréa Helena Carneiro Gondim, 35, diz que sua filha já procura sozinha seus trabalhos na Internet.A única preocupação de Andréa é fazer com que Gabriela não passe o dia todo na frente computador.“Com tantas atrações que o computador oferece fica muito difícil controlar a Gabi; se deixar ela passa o dia todo na Internet”, argumenta.
Para a adolescente Allana Bichara,15, estudante do 1º ano do ensino médio, lidar com as inovações e se adaptar às condições da Era Digital não é um problema.“Minha geração já cresceu rodeada de telefones celulares, tvs por assinatura e computadores, então meu contato direto com essa tecnologia desde pequena não cria barreiras, muito pelo contrário, só facilita meu dia-a-dia”, comenta. A estudante Milene Coelho, 16, que cursa o 2º ano do ensino médio, acredita que toda essa tecnologia além de tornar mais fácil seu cotidiano nos estudos, é também uma forma de entretenimento e distração.“A Internet me ajuda com pesquisas e trabalhos para a escola além de
facilitar minha comunicação com meus amigos através de bate-papo e ICQ”, conta ela. Assim como Allana e Milene acreditam que a tecnologia é indispensável, outros jovens também necessitam de toda esta modernização para conseguirem ficar antenados com o mundo. O resultado de tanta tecnologia pode ser percebido quando andamos por shoppings, parques, praças e ruas. Não é difícil encontrar um adolescente com um walkman, um diskman, um celular ou sentado em um barzinho assistindo a um jogo de futebol na televisão. Muitos deles podem nem reparar, mas, além de não criarem quaisquer barreiras, estão cada mais vez dependentes e próximos da Era Digital.
Ensino à distância é uma boa alternativa Douglas Vieira, Melina Rebuzzi e Nayana Rick 5º período O ensino à distância é uma ferramenta na difusão e na democratização da informação.A videoconferência, por exemplo, é um sistema interativo de comunicação que consiste na apresentação dos conteúdos relativos à disciplina dada pelo professor através de seminários virtuais. Já a Internet promove a interação aluno-professor abrindo espaço para a produção do conhecimento através da divulgação em sites.As páginas permitem que o aluno se comunique com seus professores ou colegas, comente as aulas e acesse bibliografias e conteúdos multimídiáticos.
13 - Comportamento - Renata
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Editores: Carlos Fillipe e Mariana Hilbert/ Diagramadora da página: Renata Quintão O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
COMPORTAMENTO 13
LAN HOUSE
MODA ADOLESCENTE Ana Paula Gomes
Lan houses, casas de jogos eletrônicos, criadas para atrair o público jovem são empresas lucrativas que se expandem na grande BH Ana Paula Gomes e Mariana Amaral 6º período O ambiente silencioso é quebrado por gritos e risadas, quando algum jogador comemora ou lamenta. Com pouca iluminação e alta tecnologia, as lan houses são os novos pontos de encontro dos adolescentes. Esse tipo de empreendimento teve iniciou na Coréia, em 1996 e chegou ao Brasil em 1998, pelo empresário Sunami Chu, atual presidente da empresa Monkey, com 58 lojas em 11 estados brasileiros. Nessas casas de jogos os computadores ficam à disposição para pesquisa estudantil e consulta à Internet, mas os jogos eletrônicos são os mais procurados. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estão espalhados em Belo Horizonte 180 a 200 casas de jogos eletrônicos. Na capital mineira, a Lan House Match Point foi a primeira a lançar a nova opção de divertimento e lazer. Algumas casas de computadores em rede oferecem ao cliente 24 horas de serviço, com preços que variam de 2 a 5 reais a hora. O público das lans é formado basicamente por adolescentes de 12 a 16 anos durante o dia. À noite os locais costumam ser freqüentados por adultos. O sexo masculino detém 90% dos freqüentadores, na sua maioria das classes A e B, em contrapartida as mulheres que frequentam essas casas são tão assíduas quanto os homens. Preocupados com o excesso de tempo que jovens passam nas lan houses, os juízes da Infância e Juventude com base no Estatuto da Criança e do Adolescente regulamentam esses empreendi-
mentos. "Existe uma portaria com a faixa etária permitida que tem que ser seguida. Um menosr não pode frequentar esses estabelecimentos em horário impróprio, caso isso aconteça a casa será multada." afirma o proprietário da lan house Match Point, Henrique Ferreira. De acordo com o Juizado, a idade mínima legal dos freqüentadores é de 10 anos, abaixo dessa faixa etária somente com o acompanhamento dos pais ou responsável. O sucesso dessas casas se deve à interação. O competidor pode jogar com outros usuários seja pela Internet ou em rede. Para criar diferenciais diante da concorrência, empresários do setor apelam para a criatividade. Organizam campeonatos entre os clientes, nos quais os vencedores normalmente recebem como prêmio horas grátis para continuar jogando ou até mesmo valores em dinheiro. Engana-se quem pensa que esses locais são procurados por pessoas que não possuem computador. Renato Almeida, 15 anos, é um dos freqüentadores, que apesar de ter computador em casa, vai em média duas vezes por semana em uma lan house.O principal motivo pela procura desse tipo de cliente é a busca pela interação social. "Gosto muito de freqüentar uma lan para estar em contato com outros jogadores, competir com eles e ainda fazer novas amizades. Às vezes eu venho escondido", conta. É comum os pais se acomodarem quando os filhos estão jogando e ‘não dão trabalho’. "Tem pai que pensa que aqui é creche", brinca Edgar Bonfin Júnior, proprietário da Tribo Lan House em Betim.“Deixam filhos aqui em vão embora.”
Lan House opção de lazer para adolescentes que apreciam os jogos de competição
Especialistas alertam sobre os riscos Muito sangue, explosões, tiros e facadas são artifícios preferidos pelos gamemaníacos. Atualmente o jogo preferido das lan houses é o Counter Strike, onde jogadores se enfrentam, sendo terroristas e soldados. Críticos acreditam que jogos como Counter-Strike estimulam a violência. Segundo a psicóloga Vivian Mendes é comum uma pessoa se identificar no jogo, embarcar na fantasia. Ela acredita que jovens e crianças aprendem a apologia da violência, da exclusão e da competição. Crianças menores de 7 anos devem ficar com brincadeiras mais lúcidas, que estimulem sua criatividade e curiosidade", defende a especialista. Ela aconselha um maior envolvimento dos pais, analisando qual lugar o jogo está to-
mando na vida do filho e como é a reação dele. A preocupação dos pais ao verem seus filhos jogando horas é grande, mas não imaginam o risco que esses adolescentes podem correr. Um exemplo é o caso ocorrido com dois jovens coreanos, em 2001, que morreram de ‘overdose de computadores’, após jogarem cerca de 86 horas interruptas. Para a psicóloga Vivian, cujo irmão é freqüentador assíduo das Lans, os jovens estão perdendo a capacidade de se relacionar. "A pessoa só percebe que está viciada quando fala sobre algo que aconteceu no jogo com a mesma empolgação com que falaria sobre uma nova namorada, e assim o sintoma se define", explica.
Rosilene Miranda Barroso da Cruz, psicóloga e coordenadora técnica do Juizado da Infância e Juventude chama atenção para os perigos que o vício acarreta. "Os adolescentes viciados têm um mau rendimento escolar, desgaste emocional constante, além da possibilidade de serem abordados por algum adulto de má intenção, porque as ‘lans’ são freqüentadas por pessoas de diversas idades", alerta. Ela aconselha os pais a procurarem outras alternativas, principalmente o estimulo ao esporte, importante para coordenação motora sociabilização da criança. Ana Maria, 49 anos, afirma que o ambiente da lan house é muito bom. "Deixo meu filho aqui e fico tranqüila". Mas ela evita que Rafael jogue games
violentos e monitora o tempo em que ele permanece jogando. "É uma brincadeira que vicia", afirma a dona de casa. A permanência de crianças e adolescentes nessas casas de jogos é regulamentada pela portaria do Juizado da Infância e Juventude, na qual define em um de seus itens, que é proibido a presença de crianças e adolescentes de até 14 anos durante a madrugada, desacompanhada de um responsável. Porém, no período de férias, alguns jovens abusam do direito de se divertir passando a noite inteira em uma casa. Ana Carolina, 20 anos, usa a palavra "vício" para descrever sua paixão por jogos. "Na semana passada bati meu recorde: 14 horas jogando", exalta.
Ana Paula Gomes
Grandes investimentos em tecnologia
Estabelecimentos valorizam jogadores
A potência dos computadores das lan houses é um dos fatores que tornam o jogo em rede atraente. Devido aos avanços tecnológicos de banda larga, os proprietários de lans devem pesquisar novas tecnologias, para não correr riscos de grandes prejuízos. Segundo Gustavo Wagner, proprietário, para quem quer investir em uma lan, a velocidade de banda larga ideal é a de 256 Kbps. Com a popularização da banda larga no Brasil,as dúvidas continuam crescendo.Ainda segundo Gustavo, "banda larga é o fluxo digital de telecomunicações acima de 128 Kbps.Trata-se de redes digitais em distância que variam em centenas e milhares de quilômetros para o acesso em alta velocidade", explica. Na capital mineira o número de usuários da banda larga está crescendo, quem afirma é o técnico Fabrício Silva. "O
Nos anos 80 as casas de fliperamas eram a grande sensação dos jovens, que procuravam esses lugares de diversão. A evolução tecnológica e os investimentos para se fazer uma lan house são bem superiores aos das antigas casas de jogos. Diferente do passado, o negócio de games em rede é mais profissional.A relação proprietários e clientes é mais próxima. Em alguns estabelecimentos os usuários são cadastrados como associados da loja e, dependendo do desempenho em determinados jogos, podem ser premiados com horas de diversão. A preocupação dos donos de 'lans' com os pais dos adolescentes é bem maior se comparado com a época dos fliperamas. Muitos pais acham que a "febre do momento" atrapalha os estudos. Para que o uso das casas de games não atrapa-
usuário da Internet já está tomando gosto pelo serviço de banda larga, mas as empresas, são as que mais usam essa tecnologia", esclarece. Henrique Ferreira, proprietário da primeira lan house de Belo Horizonte, investiu R$100 mil em equipamentos para começar o negócio.“Hoje tenho quarenta computadores e esses aparelhos estão bem mais modernos. Os jogos evoluíram e o número de usuários aumentou em relação há anos anteriores", afirma. Embora os proprietários se digam animados com o crescimento do setor, é importante manter o empreendedorismo Para Gustavo, a indústria do entretenimento está em desenvolvimento constante. "Além dos tradicionais jogos e acesso a internet de banda larga, é primordial que haja equipamentos modernos.
Adoslescente entretido diante do computador
lhe os estudos de seus usuários, existem estabelecimentos que incentivam o rendimento escolar com descontos na utilização do serviço. A grande procura das casas de jogos em rede é motivada pela possibilidade de competição. Existem equipes que disputam campeonatos nacionais e internacionais e recebem tratamento de atletas, com direito a psicólogo, treinamento físico e patrocínio. Todas essas estratégias, para atrair a confiança dos usuários, são uma exigência do mercado. Devido o aumento das casas de games em rede, está sendo cobrado um profissionalismo cada vez maior. Para o proprietário Edgar Bonfim o negócio das lans é arriscado. "Estou nesse ramo há um ano. Começamos com 15 computadores e hoje estamos com 25", comemora.
14 - Fumec - Dani Amaral
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Editor e diagramador da página: Daniele Amaral
14 FUMEC Universidade recebe portugueses
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Intercâmbio estudantil proporciona troca acadêmica e cultural entre alunos da FCH e ESTA Daniel Gomes
Felipe Torres, Marcelo Massensini e Rubens Marra 2º Período
A troca de experiências, tanto pessoais quanto profissionais, entre os alunos portugueses e brasileiros tem sido de extrema importância. Ambos tiveram a O curso de Comunicação oportunidade de conhecer noSocial da FCH/Fumec recebeu vos aspectos culturais e diferenno mês de agosto os estudantes tes formas de aprendizagem. portugueses da Escola Superior A coordenadora do PAI, de Tecnologia de Abrantes (ES- (Programa de Apoio InterinstiTA). Nove estudantes e dois tucional), que coordena o Inprofessores das cidades de tercâmbio, a professora Zahira Abrantes e Tomar fazem parte Souki, destacou a riqueza do da segunda edição do projeto projeto,“É muito importante fade intercâmbio que ocorre en- zer uma comparação de como tre as duas instituições. Eles fi- anda o ensino brasileiro. É uma caram em Belo Horizonte du- maneira de observar os alunos rante um mês, estudando e par- daqui e os de lá. Ninguém ticipando de tem a mesma cursos e proje- “O intercâmbio maneira de tos da Univerabordar um assidade Fumec. é importante sunto, portanDentre as para fazer uma to, é rico ter disciplinas esuma noção de colhidas pelos avaliação de como o outro alunos foi da- como anda o lado pensa, coda preferência mo eles vêem às que propi- ensino a Comunicaciam teoria e brasileiro” ção Social”. prática, como: Zahira destaca Fotojornalistambém as mo, Produção Zahira Souki, coordenadora vantagens da Gráfica, Tele- do PAI relação entre jornalismo e os alunos da Radiojornalismo. Fumec e os da ESTA, que nesO professor da Fumec, Leo- ta edição do projeto freqüentavegildo Leal, um dos criadores ram as mesmas salas de aula. do projeto, conta que o convêA delegação portuguesa foi nio se deu a partir de uma idéia presidida pelo professor de fiproposta pelo professor portu- losofia José Eduardo Jana, mesguês José Peixe durante uma vi- tre e doutorando pela Universita à Fumec.“A criação do in- sidade de Coimbra-Portugal. tercâmbio se deu por acaso. O De acordo com Jana, “o choprofessor da ESTA foi convida- que cultural, a abertura da vido para uma palestra na qual sur- são, o abrir da mente são os begiu a hipótese do convênio, que nefícios mais importantes do foi assinado um ano depois”. programa.Também são essenLeovegildo explica que Portu- ciais os laços pessoais, a interagal foi o país escolhido pelas suas ção com o país do outro de afinidades com o Brasil.“O pri- uma forma afetiva e humana”. meiro ponto é a facilidade da línSegundo a direção do PAI, gua; o país faz parte da União ainda é cedo para avaliar os reEuropéia, que abre portas para sultados do projeto, mas a coorpesquisas; a proximidade cultu- denadora Zahira acredita na ral, pela herança etnográfica.” importância do projeto.
A estudante portuguesa Fátima Mugeiro participa das atividades acadêmicas utilizando os laboratórios da Fumec
Ponto de vista dos estudantes A estudante portuguesa Catarina Lourenço, aluna de Restauro da Universidade de Tomar, veio ao Brasil pela primeira vez e disse que gostou muito da experiência. Ela se surpreendeu com o sistema das aulas brasileiras,“as aulas são muito diferentes, não as matérias, mas o seu funcionamento. Os professores dão muita confiança aos alunos. No nosso caso é tudo mais distante”, ressalta Catarina. Ela passou por um duro processo de seleção para viajar. Já Daniel Cruz, estudante de Comunicação Social da ESTA,
ficou surpreso com a estrutura física da Fumec.“A Universidade Fumec está muito bem estruturada, com excelentes equipamentos, condições que eu jamais tinha visto” diz o estudante português. Ainda segundo o aluno:“O povo brasileiro é muito caloroso e espontâneo.A própria maneira de vocês se cumprimentarem é aberta, para nós tudo é mais frio e ríspido.” A Universidade Fumec também disponibilizou no final do ano passado a alguns de seus estudantes a oportunidade de estudarem na Universidade ESTA
de Portugal. Foi o primeiro grupo de alunos a participar do programa. O período de estada foi de um mês, entre janeiro e fevereiro de 2004. O aluno do 6º período do curso de jornalismo, João Vítor Cavalcanti integrou a comitiva brasileira. Ele ficou muito satisfeito com a produtividade do intercâmbio. João espantou-se com a recepção européia e lembra com entusiasmo,“não imaginava que eles fossem tão receptivos, estavam sempre à nossa disposição, fazendo festas e nos mostrando as cidades”.
Para a aluna Elisa Magalhães, do 6º período de jornalismo, que cursou algumas disciplinas com os portugueses,“a presença de alunos estrangeiros na sala enriqueçe as discussões sobre a comunicação social que acontece no mundo”. A Fumec vai proporcionar um intercâmbio por ano aos alunos de Jornalismo e Publicidade que estejam cursando a partir do quarto período, inclusive. Ao que tudo indica serão dez vagas, e o processo de seleção será baseado nas notas e na freqüência dos interessados.
Projeto prevê modificações para a Redação Modelo Pedro Henrique Nogueira e Fernanda Melo 4º Período Com o propósito de fazer da Redação Modelo um espaço aberto para o aprofundamento da carga teórica adquirida em sala de aula, a nova coordenação do laboratório apresenta uma série de projetos que farão do local um híbrido de teoria e prática. A principal meta é transformar o lugar que vem sendo utilizado quase sempre para fins que se distanciam das atividades acadêmicas em um ambiente no qual o aprendizado possa ser direcionado de maneira mais específica para os alunos de Jornalismo e Publicidade. Concursos de contos, crônicas e poesias, além de oficinas,
são alguns exemplos de projetos estudados pelo coordenador da Redação, Mário Geraldo Rocha Fonseca, e pelos monitores Pedro Henrique Nogueira e Fernanda Melo. Questionado sobre o novo momento a ser vivido pela redação modelo, o professor e coordenador do curso de Comunicação Social da Fumec, Carlos Alexandre Freire se mostra otimista, “É muito importante que o aluno tenha um contato mais produtivo com os laboratórios da universidade, aprimorando e refinando sua prática em relação à produção textual”, afirma o professor. Para o aluno Pedro Nicoli,do 4º período de Publicidade e Propaganda,“a iniciativa vai desfazer a imagem da redação como cen-
tro de atualização de blogs e fotoblogs sendo que para isso existem outros laboratórios”.Já a aluna Carolina Ribeiro, do 4º período de Jornalismo, acha que “a redação tem que reassumir o papel de espaço para produção de textos e fomentar a criatividade de seus usuários,funcionando como extensão direta do curso de comunicação social”. O posicionamento desses alunos demomstra a atual situação do corpo discente, que se sente confuso em relação a verdadeira função da Redação Modelo. Uma das principais reclamações é que muitos estudantes utilizam os computadores para assuntos supérfluos, o que impede que outros usufruam dos recursos do laboratório adequadamente.
Fumec e USP fazem acordo Fabiana Sampaio, Joyce Graziele e Rilma Rocha 7º Período O Setor de Educação Mediada por Tecnologias Interativas, I-Net, da Universidade Fumec, organizou em agosto, no auditório da Faculdade de Ciências Humanas, o I Encontro de Interatividade e Tecnologia. Foi realizada a primeira Teleconferência da Universi-
dade Fumec, com uma conexão em tempo real com a USP, Universidade de São Paulo. Ao final, foi estabelecido um consenso entre as duas universidades sobre as possibilidades das tecnologias interativas no apoio ao processo ensinoaprendizagem, tanto presencial quanto à distância. O encontro virtual garantiu lugares para as duas instituições no Conselho de Telemedicina e Telesaúde.
Segundo o coordenador do I-Net, Paulo Magalhães, podem ser destacados quatro pontos que determinam a importância do evento para a Universidade: • Divulgação do I-Net; • a integração da Fumec às empresas de construção de tecnologia; • a parceria com a USP; • o avanço das fronteiras da escola para o nível nacional, através da proposta feita no consenso de criação do Conselho.
15 - Fumec - R.W e Carlos
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Editor e diagramador da página: Rafael Werkema e Carlos Fillipe Azevedo
FUMEC 15 Ponto Eletrônico tem novo projeto O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
Web jornal do curso de Comunicação Social da Fumec passa por uma reformulação gráfica e editorial Rafael Werkema
Rafael Werkema 7º Período Com a proposta de se tornar um web jornal universitário referência em Minas Gerais, o jornal-laboratório online Ponto Eletrônico, do curso de Comunicação Social da Fumec, está agora com um novo projeto editorial e gráfico. A revitalização do site vem sendo organizada pelo coordenador do laboratório de Jornalismo Digital, professor Jorge Rocha, junto com a monitora Maria Luiza Filgueiras e com o técnico especialista em Web Design, Danilo Vianna. A principal mudança na parte gráfica é o formato do site: antes, horizontal, e agora, vertical. Além disso, o Ponto Eletrônico está com uma nova identidade gráfica, para reforçar o vínculo com O Ponto impresso. Já as mudanças editorias são mais significativas. O Ponto Eletrônico conta agora com uma Galeria de Fotos, onde os alunos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda divulgam seus ensaios fotográficos no site. Outro inovação no Web Jornal da Fumec é a seção de comentários em relação às matérias especiais produzidas. Esse tipo de trabalho possibilitará um “diálogo mais direto” entre o produtor e consumidor de informação. “Isso a gente não encontra em outros meios de comunicação”, afirma Jorge Rocha. Segundo o coordenador, a reformulação editorial irá fortalecer o projeto pedagógico do curso de Comunicação Social. “Vamos seguir com a proposta de formar um comunicador social crítico”, explica.Ainda segundo o coordenador, o Ponto Eletrônico também proporcionará fóruns quinzenais.“Os internautas po-
derão baixar o texto e debater o assunto”, acentua. Outra novidade no site é que a produção de material não está mais restrita aos alunos do 7º período.“Estudantes de outros períodos que queiram conhecer e trabalhar com jornalismo online, irão participar dessa construção”, afirma Jorge Rocha. Para Maria Luiza Filgueiras, monitora do laboratório de Jornalismo Digital, a revitalização é fundamental para incentivar os alunos a escreverem para o Ponto Eletrônico. “O espaço vem sendo pouco aproveitado e as mudanças são um estímulo aos estudantes”, opina. A estudante do 8º período de Jornalismo,Tereza Perazza, já escreveu para o Web jornal e gostou da experiência. “O Ponto Eletrônico é um ótimo espaço de aprendizado e experimentação. Ele permite a produção de um jornalismo diferente da ´mesmice` da grande imprensa”, frisa. Entre as atividades que executou, Perazza destaca o “Notícias da Hora”. “É como se estivéssemos em uma redação, perto do deadline”, conta. A prática que o Ponto Eletrônico oferece foi fundamental para que a jornalista Patrícia Henrique pudesse encarar os desafios que ela encontra hoje como editora do site Globo.com de Minas Gerais. “A disciplina de Jornalismo Digital é um diferencial, principalmente na questão da linguagem da mídia Internet”, afirma. O coordenador Jorge Rocha explica: “A idéia é que o aluno aprenda a escrever na Web, com as características do meio, como a convergência de mídias”. Ele ainda destaca: “o jornalismo produzido pelo Ponto Eletrônico é informativo, opinativo e interpretativo”.
Entre as principais mudanças está o formato do site: antes, um layout horizontalizado e, agora, verticalizado Rafael Werkema
Danilo, Maria Luiza e o prof. Jorge: elaboradores do projeto
Publicidade inaugura nova agência modelo Carlos Fillipe Azevedo e Rafael Werkema 6º e 7º períodos A 10ª Agência Modelo de Publicidade e Propaganda da Universidade Fumec promoveu seu lançamento no dia 22 de setembro.A inauguração foi prestigiada por professores, publicitários, imprensa e alunos do curso de Comunicação Social. A Agência Haikai é formada por alunos do 4º, 5º e 6º períodos do curso de Publicidade e Propaganda, sob a coordenação do professor Admir Borges. A equipe é composta por Aline Ferrero, Fernando Pires,Tiago Sgarbi (4ºperíodo), Carolina Cunha, Gabriela Cristina, Ga-
briela Menicucci, Isabela Rajão (5º), Carolina Trivelatto, Débora Dauanny,Tiago Pereira,Thaís Azevedo (6º) e a monitora Maitê de Paula. Como não poderia ser de qualquer empresa modelo seu objetivo é desenvolver campanhas e planos de comunicação para clientes reais, garantindo aos alunos maior experiência para competir no mercado de trabalho e dar maior visibilidade para o curso de Publicidade e Propaganda. Assim como a essência do Haikai a agência pretende atingir o complexo através da simplicidade. Os trabalhos serão produzidos com os recursos da própria Agência Modelo, bem como dos
Laboratórios de Publicidade e Propaganda, Produção Gráfica, TV, Rádio e Fotografia.A Haikai conta também com uma agência madrinha, a Publivendas, que irá assessorar os projetos da Agência Modelo. A Haikai tem três trabalhos de comunicação para realizar: a Maratona de Criação da Fumec, a Semana da Comunicação e a Sintaxe Eventos Empresariais, cliente externo. Em todos esses trabalhos os estudantes irão colocar em prática a sua criatividade, mostrando sua capacidade de trabalhar de acordo com o ritmo de uma agência, com prazos curtos e o desafio de bons resultados.
Jornalismo na internet está em ascensão “A internet é o veículo de comunicação que mais cresce”. A frase de Patrícia Henrique, editora do Globo.com, reforça ainda mais o papel da disciplina de Jornalismo Digital na grade curricular do estudante. Ela acha que é fundamental que os alunos conheçam e saibam das possibilidades do jornalismo digital, já que existe um inchaço em outros meios de comunicação, como jornais, televisão e rádio. Segundo o professor de Jornalismo Digital I, Hugo Teixeira, o Ponto Eletrônico é uma abertura para um mercado em
plena ascensão. “Além de conhecer a linguagem na internet, o estudante aprende a construir páginas”, afirma. Ele ainda destaca:“o estudante é hoje capaz de assumir, por exemplo, o site de uma empresa como assessor de imprensa”. Para a monitora Maria Luiza Filgueiras, o Ponto Eletrônico é também um espaço para o aluno divulgar seu trabalho. “É um exercício que merece destaque no currículo”, opina. O endereço do Web jornal do curso de Comunicação Social é www.pontoeletronico.fumec.br.
16 - Cultura - Paula Caetano
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Editora e diagramadora da página: Paula Caetano
16 CULTURA
O PONTO Belo Horizonte – Setembro/2004
FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO APRESENTA
PETER BROOK Divulgação FIT - Anna Possa
Um dos mais célebres dramaturgos do mundo marca presença no FIT 2004 Renata Quintão e Rodrigo Fuscaldi 7º período Belo Horizonte, cidade que vem aos poucos se tornando a capital dos festivais, disponibiliza seu território para o que talvez seja o espaço mais favorável para o exercicio das artes cênicas. O FIT-BH leva o teatro para as ruas e espaços anticonvencionais. E é com o objetivo de oferecer ao público em sua grandiosidade,do riso ao drama, e da fantasia à política que o festival contou este ano com a participação de um dos maiores encenadores da história do teatro, o diretor inglês Peter Brook. Reconhecido internacionalmente, Peter Brook, de 79 anos, já criou nada menos do que 70 espetáculos teatrais. Entre eles, estão montagens como sua versão circense de “Sonho de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare. Brook ainda dirigiu dez óperas, assinou 12 publicações e fez dez filmes. No lançamento de um deles,“Encontro Com Homens Notáveis”, fez sua primeira viagem ao Brasil, em 1980. Agora ele volta ao país, a convite do Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte. Sua mais recente montagem,“Tierno Bokar”, é um dos espetáculos internacionais do festival. Os ingressos para as apresentações, se esgotaram no primeiro dia de vendas. Numa proveitosa extensão da viagem, o espetáculo será apresentado também em São Paulo.
Durante uma entrevista coletiva, em um hotel de Belo Horizonte, Peter Brook falou a respeito da África, motivo de muitos de seus trabalhos: “A África não é conhecida, exceto pelos estereótipos. O Brasil não é apenas o país do samba. Do mesmo modo, a África não é apenas um lugar de negros, batuque e aids. Até hoje, não há respeito pela cultura africana.” Em seguida, definiu seu teatro como a busca de uma forma simples de derrubar barreiras do mundo moderno. “A melhor definição é a de Shakespeare: o teatro é o espelho da realidade.” Mas revelou rigor na busca desse reflexo:“O verdadeiro espelho reflete a realidade identificável de uma forma estranha para nos mostrar aspectos que não conhecemos.” Sobre “Tierno Bokar”, ele disse: “Antes de mais nada, ele não é um filósofo, mas sim um homem simples, que sozinho desenvolveu uma grande compreensão do seu tempo, do mundo social e religioso.” Peter Brook nasceu em Londres, em 1925, formou-se em artes por Oxford e, aos 17 anos, dirigiu seu primeiro espetáculo. Em 45, fez a primeira montagem polêmica, de “Romeu e Julieta”, e em 1962 assumiu a direção do Royal Shakespeare Theatre. Nas décadas de 50 e 60, afirmou-se como um dos grandes encenadores do século 20. Em 1970, Brook despediu-se do Royal Theatre e fundou, em Paris, o Centro Internacional de Pesquisa Teatral.
Festival festeja dez anos em sua 7ª edição Paula Caetano 6º período
Peter Brooke é considerado um dos mais célebres e geniais diretores do século l
A última edição do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte, que aconteceu dos dias 18 a 31 de agosto, comemorou dez anos de existência. O FIT-BH, que é considerado um dos mais importantes festivais de artes cênicas da América Latina, trouxe à capital mineira nesta última edição, 31 espetáculos do Brasil e de mais oito países. Foram mais de cento e dezoito apresentações divididas entre montagens de palco de rua e espaços alternativos. Esta edição do festival foi marcada pela variedade de linguagens e tendências teatrais, englobando o circo, a dança e adaptações de autores clássicos e contemporâneos. Além dos grupos brasileiros, participaram do FIT companhias da Austrália, Espanha, Nicarágua, Inglaterra, Itália, Chile, México e França. Criado em 1994 a partir da fusão de outros dois festivais,o FIT-BH procura sempre ampliar sua programação e cada vez mais descentralizar o acesso do público, pois desde seu inicio ele parte da idéia de que o espaço do teatro é o mundo, e que o melhor teatro é o teatro sem fronteiras. O FIT-BH integra o Núcleo de Festivais Internacionais do Brasil, formado também pelo Festival Internacional de Londrina, Porto Alegre Em Cena, Rio Cena Contemporânea e o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto. Divulgação
Documentários jornalísticos ganham força nos cinemas Bruno Ferreira, Frederico Cadar e Vinicius Azevedo 5º período Com bons resultados no passado, e grandes conquistas em festivais, os filmes jornalísticos estão de volta ao século XXI com força total. Os autores procuram mostrar a influência que os meios de comunicação podem ter na vida das pessoas. Nos últimos anos o jornalismo tem sido alvo de grandes produções brasileiras e americanas no cinema. Sempre procurando abordar temas polêmicos e visando atingir um público diferenciado, grandes produtores resolveram mostrar nos filmes as confidências da imprensa e, em algumas ocasiões, o excesso de poder exercido pela mesma. Documentários brasileiros como: “Ônibus 174”, que retrata a investigação sobre o seqüestro de um ônibus em plena zona sul do Rio de Janeiro, e que foi transmitido ao vivo paralisando o país, são exemplos de que a imprensa pode ter influenciado o desfecho da trágica história. Polêmicas co-
mo estas conseguem atrair multidões aos cinemas. Atualmente o cinema trouxe à tona um filme de caráter jornalístico investigatório, Fahrenheit 9/11, do diretor americano Michael Moore, que abalou a opinião pública e chegou a atingir no final de semana de estréia, cerca de US$ 24 milhões. O longa investiga como os Estados Unidos se tornaram alvo de terroristas, a partir dos eventos ocorridos no atentado de 11 de setembro de 2001. Os paralelos entre as duas gerações da família Bush e ainda as relações entre o atual Presidente americano, e o líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden.“Michael Moore se tornou um fenômeno mundial. Em parte impulsionado pelo Oscar de melhor documentário pelo excelente Tiros em Columbine e pela Palma de Ouro de Farenheit 9/11, além do momento político que o mundo atravessa ser favorável a documentários liberatórios, não conservadores” comentou o professor de história do cinema Rafael Ciccarini. Segundo o crítico em cinema do jornal Hoje em Dia, Fá-
bio Leite, nos Estados Unidos, depois da industria armamentista o cinema é a maior força do país. Sobre a invasão dos documentários jornalísticos no cinema brasileiro, Fábio ressalta, “Os documentários são de grande qualidade, pois os documentaristas abordam temas bons e atuais”. O cinema foi à expressão artítica mais importante do século XX e assim permanece. Nos filmes:“O Jornal” e “O quarto poder”, longas da década passada que de alguma forma demonstravam o dia-a-dia de repórteres e até quando a imprensa pode interferir na vida das pessoas, são discutidos temas jornalísticos que interessam a uma classe diferenciada de espectadores, ou seja, pessoas que sempre sonharam em conhecer internamente os meios de comunicação.Ao final da entrevista, Rafael Ciccarini ressaltou,“O cinema carrega consigo um importante paradigma: é uma arte e ao mesmo tempo é uma industria. O jornalismo vive algo similar, na medida que também é refém do público, dos resultados, e da venda de seus jornais”.