Jornal O Ponto - abril de 2005

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01-Capa - Rafael W.

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Victor Shuwaner

DESIGUALDADE BH, cidade típica da convivência entre uma minoria rica e os 80% de brasileiros que vivem com uma renda muito baixa

“Belíndia”. Assim o economista Edmar Bacha definiu a situação do Brasil, uma mistura de qualidades relacionadas com a riqueza da Bélgica e com a pobreza da Índia. A expressão,cunhada em 1974,ainda é válida, apesar de a campanha do governo anunciar os avanços econômicos do País. Mesmo assim, o Brasil continua entre os países que apresentam índice de desigualdade inaceitável conforme os critérios da Organização das Nações Unidas (ONU) para medir o desenvolvimento. O Ponto mostra essa situação na economia (quem ganha e quem perde com a política dos juros altos),na educação (os alunos ca-

rentes e abastados da Universidade Federal de Minas Gerais), na saúde (a desnutrição e obesidade infantil), na política (a retórica do alto e do baixo clero), na cultura (a concentração de atividades na região centro-sul) e na mídia (chacinaXlivro de Paulo Coelho).Publica ainda matéria especial que mostra por meio do lixo produzido em uma região de Belo Horizonte (Barragem Santa Lúcia/São Bento),marca da convivência tão próxima de um bairro habitado por pessoas de alto poder aquisitivo e de uma localidade tipicamente de favela (foto), é possível observar a disparidade entre as rendas da população brasileira.

Ilustração: Juliamo Mendonça sobre fotografia de Max Rossi/Reuters

MITO e espetáculo Essa relação foi muito bem explorada pela mídia na cobertura da morte de João Paulo II e na eleição de Bento XVI. A partir da análise de textos, fotos, charges e programação gráfica publicados nos grandes jornais do Brasil, fica evidente que a relação entre mídia e religião merece um aprofundamento muito maior do que as costumeiras queixas a respeito do poder

político das igrejas. Teologia da libertação Uma palestra sobre a Teologia da Libertação vai marcar o lançamento desta edição de O Ponto,no dia 4 de maio,às 9h30,na sala 309, na Faculdade de Ciências Humanas da Fumec.Na ocasião também será abordado um dos temas mais discutidos no momento: a relação entre mídia e religião. [ página 8 e 9 ]


02-Opinião-Carlos F.

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Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

2 OPINIÃO A porção Bélgica da “Belíndia” de Edmar Bacha ocupa somente 20% do Brasil.A grande maioria dos brasileiros vive no lado Índia,alguns ocupando a parte abaixo da linha de pobreza. Esse aspecto tende a ser relegado a um segundo plano diante da campanha que apregoa as conquistas econômicas do governo Lula. Por isso é necessário sempre chamar atenção para a situação que continua fazendo do Brasil um dos países com maior grau de desigualdade do mundo.A idéia difundida de que primeiramente é preciso sanear os cofres públicos

para depois cuidar da parte social está gerando tensões muito fortes que não deixam de representar perigo para a recente democracia brasileira. Um outro tema importante nesta edição é a cobertura jornalística da morte de João Paulo II e da eleição de Bento XVI. A grande imprensa mostrou mais uma vez que sabe aproveitar-se muito bem da força de comunicação do mito - e o papado é uma fonte inesgotável de imagens e fatos - para transformá-lo em espetáculo e, conseqüentemente, em vendagem de jornal e audiência na TV.

Brasil, quintal da indústria mundial Daniel Gomes 4º período No Brasil, a caminhada de mãos dadas entre desenvolvimento econômico e social foi raramente vista.Para o leigo,a constatação do desenvolvimento do país vem por meio de comparação com o primeiro mundo. Desnecessário dizer que essa é a maneira mais equivocada de abordar o tema.As condicionantes à época do desenvolvimento de países como Inglaterra e EUA são absolutamente distintas das de hoje.Não é correta a hipótese de se trilhar o mesmo caminho desses países para atingir o mesmo resultado. Refletindo sobre o Brasil, é difícil apontar o problema principal que assola o país, mas um deles é a péssima distribuição de renda. Isso acontece, entre outras coisas, porque grandes multina-

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cionais se instalam por aqui com muitas regalias por parte do governo, investem milhões, dão alguns milhares de empregos, mas levam para seu país de origem os milhões (muitos mais do que o investimento) em lucros, arrancando dos trabalhadores que ela emprega parte dos seus rendimentos. Isso demonstra que o Brasil se torna um mero quintal do exterior. Mão-de-obra barata, instalação facilitada e impostos baixos entre outros.Tudo isso gera lucros tremendos que nunca ficam no país. Ao contrário de facilitar a vinda de fábricas de bens industriais, o Brasil deveria investir em fábricas de bens de consumo,que são de acesso a todos. Isso contribuiria para o crescimento de um mercado interno, que hoje praticamente inexiste, distribuiria renda e possibilitaria um desenvolvimento sustentável.

Contrastes da política econômica Vinicius Lacerda 2º período O crescimento da economia nacional está presente nas manchetes dos jornais constantemente; desde um excelente superávit primário até ministro afirmando que a palavra crise será extinta dos dicionários brasileiros. Contudo, basta analisar um pouco melhor a realidade interna do Brasil para notar que este suposto crescimento ainda não atinge as camadas pobres. De acordo com a última pesquisa feita pelo IBGE, e apresentada por seu presidente, Eduardo Nunes, a concentração de renda no país diminuiu, mas a “descentralização” de renda é muito lenta.No nordeste, por exemplo, os 50% mais pobres ficam com 16,1% dos rendimentos da região, enquanto 1% detém quase o mesmo valor, 14,7%. Esses nú-

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meros comprovam que ainda não há sustentabilidade ou mesmo garantias para afirmar que esteja acontecendo um crescimento de forma integral. Ao contrário, constata-se apenas o que sempre foi visível: a má distribuição de renda, causadora da exclusão social, é a realidade do país. As iniciativas governamentais atuais tem obtido resultados satisfatórios.Mas essas atitudes apenas terão efeito direto para os brasileiros em longo prazo. E, até este dia,a tendência é de que os meios de comunicação continuem a mostrar todo este suposto crescimento, enquanto a acessibilidade das pessoas pobres aos serviços prestados pelo governo é restrita e muitas vezes nula.Devemos sim nos alegrar ao ler que o Brasil não assinou o contrato com o FMI por não precisar mais dele;só não devemos esquecer que nosso crescimento ainda está lá fora; aqui dentro nada ainda mudou.

A cobertura jornalística sobre a morte do papa pode ser considerada sensacionalista?

SIM

NÃO

Agnus Moraes 7º período

Não há fato melhor para a imprensa do que a morte um líder mundial ou uma tragédia de de grandes proporções como a do tsunamis, por exemplo. E isto está evidente na cobertura dada pela imprensa mundial à morte do pontífice João Paulo II.A Rede Globo de Televisão se portou como a mais emblemática do circo que foi montado em Roma.Antes mesmo do papa morrer, a Globo enviou sua principal equipe de telejornalismo para montar o teatro do sensacionalismo, pois, assim que a Santidade morresse, estariam todos prontos para o espetáculo. E não deu outra: foi muito emocionante ver o William Bonner fora do Jornal Nacional, em postura serena e com voz vibrante, firme,passar toda uma consternação pessoal em meio a caretas e a um possível lacrimejar. Com isto, ocorreu uma espetacularização da notícia, que redundou em uma exploração maciça do acontecimento e fez o telejornalismo da Globo aumentar seus índices de audência. Mas a pergunta é outra: como fica a Igreja Católica diante desta “tragédia”? A igreja, assim como a imprensa, fica bem frente à bizarrice do velório do papa. Por um lado, quanto mais o féretro do Santo Padre for exposto e divulgado em doses maciças para mais de um bilhão de fiéis, melhor.Assim a Igreja Católica se fartará dos lucros que advirão da publicação em massa, reconquistará fiéis que se perderam ao longo do tempo para as igrejas evangélicas e para as outras religiões.E ainda manterá sua hegemonia por mais um século, quem sabe. A imprensa, com a mesma postura da Igreja em se manter poderosa, política e lucrativa, aproveitou e fez do enterro o show maior da humanidade, que estava faminta de novidades advindas do mundo dos sonhos. Para isto, mata papas a todo instante, ressuscita outros repentinamente, faz política, contempla o peculiar, transforma e reforma valores sociais, constroi castelos sobre espumas. A peregrinação continuou; forças do Bem e do Mal caminharam para Roma. Lá esteviveram Bush, Lula,Tony Blair, Severino, e toda uma leva de penitentes peregrinos. Roma foi o melhor lugar no mundo para ressuscitar alguém e para fazer política.

Laura Damasceno 1º período

A cobertura jornalística sobre a morte de João Paulo II tem diversas justificativas, entre as quais os numerosos fiéis da religião católica, e o fato de ele ter permanecido 26 anos a frente do Vaticano, e ainda por de ter sido o papa que melhor soube lidar com a mídia. Ao contrário do que alguns afirmam, João Paulo II não foi o papa mais conservador que já houve. Como atribuir esse título ao único papa da história que pisou em uma mesquita e que pediu desculpas em nome da Igreja Católica pelas atrocidades por ela cometidas ao longo dos tempos? Exigir de uma instituição milenar que modifique em uma década ou menos seus conceitos devido a inovações como a camisinha e a biotecnologia pode ser compreensível, mas depositar toda a insatisfação no chefe da Igreja é fácil e injusto. Injusto também é considerar a morte do papa responsável pela deficitária cobertura que a mídia brasileira apresentou sobre a chacina ocorrida no dia 2 de abril na Baixada Fluminense. Por mais chocante que tenha sido o episódio,como de fato foi, a previsível morte do papa ainda foi tida como um acontecimento grandioso, e portanto, merecedor de maior espaço na mídia, por ser um fato de importância mundial. Isso não justifica as inexpressivas matérias que abordaram a chacina. Sendo assim, a culpa é da mídia brasileira, não do papa. O fato é que, independente dos outros acontecimentos ocorridos em 2 de abril, e nos dias seguintes, a morte de João Paulo II, a comoção dos fiéis e a presença de mais de um milhão de pessoas na praça do Vaticano mereceram sim a cobertura jornalística que tiveram, pois são fatos de alcance mundial, e que entraram para a história por conterem dados tão expressivos. Pode-se não concordar com todos os pensamentos e atitudes de Karol Wojtyla, mas sua persistência e determinação,que perduraram até a hora de sua morte, merecem a admiração e a atenção até mesmo dos mais céticos.

Índia, uma terra de contradições Bruno Figueiredo 6º período A distância entre o que se imagina da Índia e o que de fato se vê por lá é imensa. A população do país já é superior a 1 bilhão de pessoas e o território é menor que a metade da área brasileira. 250 milhões de pessoas, número maior que o da população tupiniquim, vivem abaixo da linha da pobreza. Nós “ganhamos” apenas na desigualdade social, a maior do mundo. O táxi que peguei ao sair do aeroporto de Nova Delhi, a capital indiana, seguiu através de ruas sujas e por um trânsito enlouquecido ao som de uma orquestra ensurdecedora de buzinas. Quando olhava pela janela e tudo ao redor parecia com a periferia de São Paulo, pensei que havia caído na maior furada. O choque cultural foi grande, e deve ser ainda maior para aqueles que esperam encontrar pessoas praticando Yoga e vacas coloridas vagando pelas ruas. O que se vê é um número massivo de pessoas vestidas com trapos sujos, com um sorriso sem os dentes e que dividem o espaço com vacas, porcos e macacos.A pobreza escancarada fazia me sentir culpado por ser um turista. A independência “não violenta”da Índia ocorreu em 1947 e hoje o país a maior democracia do mundo. Sua moeda é a Rupia Indiana, que equivale pouco mais de oito centavos de real. Sua economia cresceu 8% nos últimos dois anos e o desemprego atinge 9,5%. Qualificados técnicos de informática são exportados, porém, por um preço de banana. 81.3% dos indianos são hindus, uma religião que possui um sistema de casta que condena todos a um lugar fixo na hierarquia social. Dentro de um senso comum mundial, a Índia é sinônimo de evolução espiritual e misticismo, o que é moda inclusive no Brasil. Mas o que pude perceber é que o país é “ZEN” para muito poucos.

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e vsam refletir as diversas tendências do pensamento

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Coordenação Editorial: Prof. Mário Geraldo Rocha da Fonseca (Jornalismo Impresso) e Prof. Leovegildo Pereira Leal (Redação Modelo) Conselho Editorial Profª Ana Paola Valente (Edição), Prof. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy (Publicidade), Prof. Rui Cezar (Fotografia), Prof. Fabrício Marques (Trepj II) e Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitores da Produção Gráfica: Déborah Arduini e Fernando Almada Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda: Isabela Rajão e Renato Meireles Projeto Gráfico: Prof. José Augusto da Silveira Filho

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro BH/MG

Ilustração e charge: Juliano Mendonça

Professor Pedro Arthur Victer Presidente do Conselho Curador

Monitores do Jornalismo Impresso: Carlos Fillipe Azevedo, Rafael Werkema e Renata Quintão

Tiragem desta edição: 6000 exemplares

Profª. Romilda Raquel Soares da Silva Reitora da Universidade Fumec

Monitores da Redação Modelo: Fernanda Melo e Pedro Henrique Penido

Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127 e-mail: oponto@fch.fumec.br

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03-Política- Paula

e Stella

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Editoras e diagramadoras da página: Paula Cerutti e Stella Santiago

POLÍTICA 3

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Armas retóricas ZÉ DIRCEU

“dircianês”

A língua do ‘alto clero’

para iniciantes

O estilo político do governo atráves da retórica da Casa Civil Ana Carolina Cervantes, Polyana Rocha, Simone Monção e Yany Mabel 4º período José Dirceu apresenta um discurso “malicioso”, sempre atento à mídia e a forma que a sua imagem é apresentada ao público, então é a partir daí que ele monta seu novo discurso, uma localização confortável e desconfortável ao mesmo tempo. Assim é classificado o dircurso do Ministro Chefe da Casa Civil segundo Admir Borges, professor de Marketing na Faculdade de Ciências Humanas da Fumec.“José Dirceu, quando faz uma declaração, na realidade tenta perceber se a imprensa vai cair em cima. Quando ele percebe isso, tenta se esquivar dizendo: ‘Eu não sabia, eu não participei, eu não estava nisso, isso é coisa dos outros.’ Mas quando ele percebe que é algo favorável, alguma coisa de positivo aí ele assume o ato como seu” explica Admir. E completa: “Para mim é o seguinte: do ponto de vista estratégico político ele não tem feito efetivamente nada, então ele aparece na mídia para explicar o inexplicável. Ele tem essa capacida-

de. Porém você não vê nada de informado que faria mudanças conteúdo, alguma coisa que mo- mínimas no ministério.O minisdifique o tro, que cenário. Ele desau“Do ponto de vista foi está sempre torizado saindo pela estratégico político por Lula tangente de cuidar ele não tem feito sem se das nonada, então ele complicar. meações Às vezes até os aparece na mídia para se divergincargos do para explicar o do de Lula, ministéele procura rio, desinexplicável” mostrar que mentiu não há uma que estava divergência. Admir Borges, professor de marketing possivelA maneira mente irda Universidade Fumec como fala, ritado nos mostra uma série de insatis- com o afastamento de coordenafações, mas sempre arremata ção política e disse em resposta à com a idéia de que nós estamos matéria “Irritação máxima” do jornal O Globo do dia 31/03 que aqui para isso.” indigna-se. José Dirceu, há 18 meses da “um ministro não é desautorizareeleição, demonstra sua insatis- do pelo presidente, um ministro fação com uma reforma ministe- cumpre o que o presidente derial que ainda nem aconteceu.Is- termina; logo, não procede à inso devido ao veto do presidente formação” , defende. Luís Inácio Lula da Silva.“Fiquei Antes mesmo do presidente na mão com essa reforma”, disse Lula tomar a decisão de vetar o Dirceu,segundo Eunício Olivei- ministro; José Dirceu já havia ra,ministro das comunicações,em pensado em sair das articulações entrevista ao jornal o Globo do da reforma ministerial. Não é a dia 31 de março. Durante cinco primeira vez que Lula desautorimeses Dirceu se dedicou às mu- za uma articulação do chefe da danças ministeriais do governo, Casa Civil. No inicio do goveraté que, em março, foi surpreen- no,Dirceu queria nomear minisdido pelo presidente Lula ao ser tros do PMDB, e Lula não acei-

tou a proposta. Mais tarde, o próprio presidente reconheceu o erro de não colocar o partido em seu ministério. Trajetória Política Mineiro de Passa-Quatro, Dirceu iniciou a vida “política” quando se ligou ao movimento estudantil no qual exerceu várias atividades até 1968, quando foi preso, durante um Congresso da União Nacional dos Estudantes, UNE. Em 1969, foi libertado com outros militantes em troca do embaixador dos Estados Unidos, seqüestrado em 1969, no Rio de Janeiro.Teve sua nacionalidade cassada e foi banido. No exílio trabalhou e estudou em Cuba. De 1971 a 1979 viveu clandestinamente no interior do Paraná. José Dirceu retornou à vida pública com a anistia. Foi um dos fundadores do PT, partido do qual foi secretário de formação (1981-1983) e secretário geral (1983-1993). Deputado Estadual (1987-1991) e Deputado Federal (19911995 e 1999-2003). Em 1984 representou o PT no Comitê Intrapartidário Pró-Eleições Diretas para Presidente, tornando-se um dos coordenadores da campanha Diretas Já.

“severinês” A língua do ‘baixo clero’ Discurso popularesco do presidente da Câmara quebra protocolo Gabriela Oliveira Guilherme Barbosa Mayra Abranches Pedro Bcheche 4º período “Mijar na rabichola”,“supositório do governo”,“falei num arroubo”. Estas expressões são comuns nas falas de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados e ponto de referência dos políticos de pouca expressão na mídia, conhecidos como integrantes do ‘baixo clero’. Esta linguagem rica em jargões populares é uma maneira de identificar e de facilitar a comunicação entre os parlamentares dessa classe e os eleitores que os elegeram. A professora de Português da Escola Balão Vermelho, Cláudia Siqueira, afirma que o deputado Severino Cavalcanti utiliza um discurso direto e objetivo, transformando a linguagem em um instrumento de trabalho. “Ele busca um saber instrumental que o ajuda a dominar a expressão e manusear a linguagem para se comunicar com o povo”, explica. Cláudia ainda aponta falhas na fala do deputado e as como define capacidade limitada. “Muito mais sério que revelar

a fragilidade de seus falares, é constatar a capacidade do deputado em deformar conceitos e transmitir ao povo a completa limitação de suas idéias. É lamentável ouvir o representante do povo articular uma linguagem fragmentada do saber.” Revolta-se. O poder do discurso de Severino tem ocupado um espaço considerável na mídia que antes era dedicado à sinceridade, à emoção e à simplicidade da fala do presidente Lula. O fato de usarem as mesmas armas retóricas pode tirar um pouco do impacto e da ressonância do discurso do presidente. Severino e Lula pertencem a uma classe de políticos que utilizam bastante o aspecto emocional em detrimento da razão, são simples na argumentação e fogem da eloqüência tradicional da política. A diferença de conteúdo na linguagem tem origem na trajetória política de cada um. Embora sejam de família humilde, pernambucanos que foram para São Paulo, Lula seguiu a vida sindical, enquanto Severino teve uma carreira política tradicional. Em um de seus polêmicos discursos, o presidente da Câ-

mara declarou de forma pitoresca:“Limitaremos a edição dessas medidas, não para inibir a competência do Poder Executivo, mas para desopilar a delegação que o povo deu aos parlamentares, que terão aresauração da independência e de seu poder, porque a Câmara não será apenas o supositório do Executivo”. A fala de Severino Cavalcanti causa desconforto no meio político porque ele torna públi-

co, aquilo que a maioria dos parlamentares dizem nos bastidores de Brasília. Sua virtude está no fato de mostrar exatamente como funcionam as negociações de cargos e benefícios que abundam em torno do poder. Um deputado com uma formação mais acadêmica e que faça um uso adequado da língua portuguesa pode perfeitamente agir como Severino, só o faz com mais elegância e discrição.

“ Não há quem não goste de um elogio. Esse negócio de só meter o cacete nos Deputados é muito ruim” “Está na mesa do Deputado Ciro Nogueira, que hoje será sacramentado pelo presidente da República, porque, se o presidente não assinar a indicação do Ciro, amanhã o PP poderá ser aliado do PFL. Ou teremos um Ministro, ou tomaremos uma posição” Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados


04-Saúde-Renata Quintão

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Editora e diagramadora da página: Renata Quintão

4 SAÚDE

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Fracionamento Beneficia

consumidor

Lei permite que população economize com o compra de medicamentos por cartela

Rodrigo Mascarenhas

Fernando Prado, Juliana Morato e Rodrigo Mascarenhas 5º período

que isso deve ser feito, deverá, com o fracionamento, indicar quantos comprimidos serão utilizados e, portanto, comprados pelo paciente.Além disso, ele vai ter que mencionar a quantidade necessária para todo o tratamento. O anestesista e pediatra, Paulo Lobato, diz que não custa nada para o profissional prescrever tais informações. "A segurança do paciente é nossa maior preocupação. A sobra dos medicamentos muitas vezes atrasa o tratamento, visto que pode haver o uso excessivo". O coordenador do Instituto Brasileiro de Defesa do ConsuRodrigo Mascarenhas midor (Idec), Sezifredo Paz, acredita que se os medicamentos forem adequadamente subdivididos em frações, sob a supervisão de um farmacêutico em estabelecimentos propícios, o consumidor irá economizar até 20%. Em entrevista à Agência Brasil, Paz diz que "a compra da dose exata dos medicamentos pode proporcionar uma economia para os consumidores, pois nem sempre o número de cápsulas presentes nas embalagens corresponde ao necessário para o tratamento. A sobra de medicamentos é um problema, tanto do ponto de vista da intoxicação como da auto-medicação."

A autorização para a venda de medicamentos fracionados, que possibilita ao consumidor adquirir a quantidade exata do produto indicado pelo médico, já está em vigor, mas aguarda a regulamentação oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária( Anvisa). No dia 4 de março, o Ministério da Saúde, por meio da Anvisa, abriu uma consulta pública com duração de 30 dias para que a população e entidades pudessem enviar críticas e sugestões via e-mail, que serão incorporadas no regulamento técnico. A audiência foi realizada no dia 13 de abril e cerca de 70 representantes de entidades civis, indústria, profissionais de vigilância sanitária e sociedade opinaram sobre a proposta da Anvisa para fracionamento de medicamentos. Decretado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 20 de janeiro deste ano, o fracionamento dos remédios tem gerado controvérsias. Enquanto os laboratórios farmacêuticos estão preocupados com o risco de falsificação e manipulação inadequada, os consumidores temem a perda de Falsificação de embalagens informações contidas nas embalagens e buA grande preocupação dos laboratórios las dos medicamentos. e das grandes redes remete à falsificação Tanto o Sindicato dos Farmacêuticos “ A lei poderia ser das embalagens. "Algo que é aparentequanto o Conselho Regional de Farmámente consensual é que os estabeleciestendida à indústria cias asseguram que este decreto presidenmentos que farão o ato do fracionamencial chega em boa hora. O grande proble- farmacêutica, to serão credenciados, farmácias autorizama é que a medida ainda não está comdas pela Anvisa. Na primeira fase do proobrigando-a a vender pleta. "A lei poderia ser estendida à indúscesso, apenas os remédios com tarja vertria farmacêutica, obrigando-a a vender medicamentos melha poderão ser vendidos na quantidamedicamentos fracionáveis, ou seja, você de exata que o consumidor necessita. Xafracionáveis, ou seja, tira uma unidade e ela mantém todas as inropes e pomadas só poderão ser fracionaformações sobre o medicamento. Isso po- você tira uma unidade dos em hospitais, porque é onde há um de até aumentar o custo para a indústria, controle maior do estoque", explica o die ela mantém todas mas é diluído na produção", explica Walretor de medicamentos da Anvisa, Dirceu tovânio Cordeiro de Vasconselos, diretor as informações sobre Raposo de Mello, por meio da assessoria do Sindicado dos Farmacêuticos de Minas de imprensa. o medicamento” Gerais (Sinfarmig). Segundo dados oficiais do Sinfarmig, De acordo com o Ministério da Saúde, a indústria farmacêutica do Brasil está enos medicamentos fracionados serão vendi- Waltovânio Cordeiro, diretor do Sinfarmig tre as dez que mais faturam no mundo indos apenas com prescrição médica e o farteiro e o país é um dos maiores consumimacêutico, que é essencial nesse processo, dores de medicamentos do mundo, apesar terá que colocar uma etiqueta na embalado baixo poder aquisitivo da população. gem do remédio já fracionado com informações sobre o produ- "De todos os produtos passíveis de causar intoxicação nas pesto, como o nome do responsável pelo fracionamento.Ainda para soas, os medicamentos estão em primeiro lugar. Eles intoxicam fracionar o medicamento, as características originais do remédio mais do que agrotóxicos, produtos domésticos, sanitários e picaterão de ser garantidas. das de animais peçonhentos, além de serem responsáveis por 29% O médico, que hoje prescreve o medicamento colocando ape- de todas as intoxicações registradas;" afirma o diretor da Fedenas o número de comprimidos diários e o espaço de tempo em ração Nacional dos Farmacêuticos, Rilke Novato Público.

Informação é o remédio Uma das principais dúvidas dos consumidores refere-se à perda das informações contidas nas embalagens e bulas dos remédios. Para a advogada do Idec, Maria Lumena Sampaio, o fracionamento é benéfico desde que regulamente esse tipo de questão."A bula e a embalagem têm informações essenciais como prazo de validade, composição, reações adversas,responsável técnico,endereço completo do fabricante, dosagem e todas essas informações devem ser preservadas para o consumidor", diz. Segundo a farmacêutica Graziella Rivelli, o fracionamento pode prejudicar a estabilidade do medicamento, uma vez que o produto não terá a identificação apropriada. "Este projeto precisa ser revisado para ser incrementado com sucesso nas farmácias. É necessário que seja realizada uma avaliação por todos os setores envolvidos", afirma a farmacêutica. É fundamental a presença do farmacêutico no processo de fracionamento. Se isso não for realizado por esse profissional e for feito sem controle nenhum, há possibilidade de se vender medicamentos falsificados, fraudados. "Quando se tem um farmacêutico responsável por esse fracionamento, é a profissão dele que está em jogo", argumenta Waltovânio. Se na farmácia existe um laboratório adequado e um controle de qualidade de todos os medicamentos, o fracionamento não acarretará prejuízo aos farmacêuticos."É certo que o trabalho do farmacêutico e até do auxiliar de farmácia vai redobrar, porque agora eles terão que

pegar um medicamento, cortar a cartela, contar, etiquetar, fazer uma nova embalagem e entregar para o paciente", afirma Waltovânio. A cada processo de fracionamento, será entregue uma bula para o paciente.Até o mês de agosto, provavelmente, a Anvisa termina o processo de mudança das bulas.A resolução já está em estágio final, e a indústria farmacêutica já está apresentando novas bulas. Se ela produzisse um fracionável, poderia vender a cartela com 10 ou com 20 comprimidos, mas de forma que se possa cortar este comprimido e a informação inerente ao medicamento como data de fabricação/validade,número do lote, nome do produto, a concentração, a forma farmacêutica; enfim, o consumidor não perderia nenhuma informação. O fracionamento consiste na subdivisão de um medicamento em frações menores, a partir da sua embalagem original, sem o rompimento da embalagem primária, mantendo os seus dados de identificação.Além de possibilitar economia para o paciente, o fracionamento também evitará o risco de acidente por intoxicação e a auto-medicação,já que não haverá sobra de remédios para ser armazenada em casa. Para que o consumidor tenha acesso às informações contidas na bula, a Anvisa solicitará que a indústria farmacêutica forneça um número maior do impresso para ser entregue junto com as frações. A Anvisa também desenvolve um programa para solucionar a ausência de bulas, pelo qual o farmacêutico poderá acessar e imprimir os dados referentes ao remédio através do site da agência.

A possibilidade de compra de medicamentos na quantia exata favorece o cidadão de baixa renda

Farmácias populares possibilitam acesso a classe mais carente Tão importante quanto implantar e fiscalizar o ta que foi prescrita. Se o médico, por exemplo, recumprimento e a observância dos limites impostos ceita 21 comprimidos, deve-se tomar apenas os 21. pela regulamentação desse decreto é a ampliação Entretanto, vende-se numa caixa de 30 comprimidos programas públicos,federais e estaduais,de aces- dos e a maioria das pessoas acabam consumindo 30 so das populações mais carentes aos medicamentos. comprimidos e, assim, tem uma dose super-teraDotar as cidades de farmácias populares e, mais que pêutica, ou, às vezes, uma dose sub-terapêutica, peisso, fornecer medicamentos através da rede públi- lo fato de não ter dinheiro. Prescreveu 21 e você ca de saúde às pessoas comprovadamente carentes só tem dinheiro pra comprar 14 ou 15 e acaba comé fundamental para que se consiga melhorar o ce- prando menos.Com relação à saúde pública,as pesnário sanitário do Brasil. soas sempre ficam com excesso de Apesar de merecer regulamenem casa e acabam "Sem dúvida, medicamentos tação e fiscalização rigorosa por usando de forma indevida. "Sem quem ganha dúvida, quem ganha mais com o parte da Anvisa, o decreto presidencial, que consiste no fracionafracionamento é o consumidor", mais com o mento de medicamentos, tem codiz o diretor. mo principal objetivo beneficiar fracionamento Em 2001, o Sindicato dos Faros consumidores.Além de ampliar é o consumidor" macêuticos de Minas Gerais (Sino acesso da população aos produfarmig) apresentou à Câmara dos tos, já que a aquisição da quantiDeputados um Projeto de Lei que, dade exata de comprimidos por Rilke Públio, diretor da Fede- de forma clara e objetiva, propôs a certo representará uma redução no ração Nacional do Farmaobrigatoriedade por parte da invalor a ser pago pelo consumidor, dústria farmacêutica de adotar a fahaverá também uma diminuição cêuticos bricação de medicamentos apredos riscos de auto-medicação e intoxicações decorentes da ingestãoinadequada. Segundo o diretor da Federação Nacional dos Farmacêuticos, Rilke Novato Públio, o fracionamento de medicamentos tem três aspectos louváveis: o econômico, o terapêutico e o mediador da saúde pública. O econômico possibilita as pessoas de comprarem medicamentos sem despender mais dinheiro.Já o terapêutico,é usada a quantidade exa-

sentados na fórmula sólida (comprimidos, cápsulas, drágeas e supositórios) em cartelas que sejam fracionáveis, sendo que cada unidade resguarde as informações de procedência e de identificação do produto, como nomes do princípio ativo, número do lote, data de fabricação e data de validade. "O projeto está arquivado, mas o objetivo é a discussão para que tenhamos uma proposição sobre o fracionamento”, afirma Públio.


05- Saúde-Thayana Alcântara

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Editora e diagramadora da página: Tahiana Alcântara O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

SAÚDE 5

Desnutrição e obesidade Tanto a ausência quanto a fartura alimentar de crianças preocupam seriamente as autoridades Daniel Cerqueira

Daniel Cerqueira de Almeida 4º período Os índices de desnutrição infantil em Belo Horizonte variam muito de acordo com a região. Em dados levantados pela Secretaria Municipal de Saúde, das 10.230 crianças atendidas, cerca de 13% na faixa de de 0 a 5 anos, apresentam algum grau de desnutrição.A Pastoral da Criança, entidade não lucrativa que acompanha o desenvolvimento nutricional de crianças em comunidades carentes, possui atualmente 3.652 crianças cadastradas, e desse total, 5,1% sofre de desnutrição.Esses dados, se comparados com o dos anos passados, demonstram uma queda no total de crianças desnutridas, embora o ideal ainda esteja longe de ser atingido.Entretanto, se considerarmos que as crianças atingidas pertencem a comunidades muito carentes, o declínio representa um grande passo no combate à desnutrição. O problema da desnutrição é decorrente de diversas causas sociais. Esse problema tem que ser combatido o mais rápido possível, pois pode prejudicar irremediavelmente a formação das crianças. As razões responsáveis pela desnutrição são várias, sendo a mais importante delas a má qualidade da alimentação das crianças, que na maioria dos casos vem acompanhada de outras doenças infecciosas que colaboram o mal estar da criança. A falta de tempo e oportunidade, falta de experiência ou total ignorância das mães, também é algo a ser considerado, uma vez que elas não possuem

conhecimento sobre a alimentação correta não reconhecendo os sintomas da desnutrição e como combate-los. O fato de haver certa relutância por parte das mães leva as crianças aos Postos de Saúde , muitas vezes por vergonha, também contribui para agravar o quadro. Entre as regiões mais afetadas pela desnutrição em Belo Horizonte destacam-se: Padre Eustáquio, Morro das Pedras, Grajaú, Sion e Calafate. Na maioria dos casos, as comunidades residentes nessas regiões são formadas por famílias carentes, que quase sempre por mais de dois filhos e pais relativamente jovens que possuiem nenhuma ou quase nenhuma formação educacional e que, em geral, não possuem emprego. Isso faz com que a situação em que vivem seja de extrema miséria muitas vezes as famílias não tem sequer, o que comer. As famílias então, sem qualquer informação e conhecimento nutricional, acabam por adotando uma alimentação carente nutrientes. Para combater esse comportamento, o Ministério da Saúde e a Pastoral da Criança procuram ensinar a essas comunidades a Alimentação Alternativa, que além de possuir alto valor nutricional, é de baixo custo e acessível às comunidades.São ações simples como ensinar a usar até o último pedaço de alimentos como abóbora; folhas verdes; usar frutas para fazer vitaminas, a criação e uso da farinha enriquecida que é formada por ovo, sendo rica em cálcio e proteínas, o incentivo ao aleitamento materno, alimentação imprescindível para as crianças.

Alimentação inadequada causa males Atualmente a alimentação da maioria da sociedade é inadequada. Nós trocamos refeições formadas por alimentos ricos em nutrientes por lanches que apresentam um alto índice de substancias muitas vezes prejudiciais à saúde. Esse tipo de alimentação é extremamente condenada por especialistas, pois pode acarretar males como a desnutrição. Essa desnutrição, denominada de “desnutrição oculta”, que atinge crianças de até 5 anos de qualquer classe social,ocorre quando o organismo está carente de Ferro, mineral necessário para o transporte de oxigênio no sangue. Este tipo é mais difícil de ser detectado, pois na maioria dos casos a criança não chega a perder peso. A carência de ferro é o distúrbio nutricional mais comum em todo o mundo, afetando tanto os países industrializados quanto as nações em desenvolvimento. Enquanto a anemia afeta cerca de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo - um terço da população mundial -, a deficiência de ferro atinge quase 5 bilhões. Em todo o mundo, 39% das crianças em idade pré-escolar são anêmicas e 52% das grávidas também, das quais mais de 90% vivem em países em desenvolvimento.A anemia por deficiência de ferro (anemia ferropriva) prejudica o desenvolvimento psicomotor, a coordenação e o aproveitamento escolar, além de diminuir a atividade fisica e a capacidade de trabalho.

Trabalho de acompanhamento nutricional feito pela Pastoral da Criança Renata Vaz

Um exemplo que vale a pena ser seguido

Cresce o número de infantes obesos Aline Ferreira, Daniela Venâncio, Erivelton Lopes e Renata Vaz 5º período

O aumento da violência e a constante preocupação com a segurança criaram uma geração dependente da tecnologia como forma de distração. As crianças passam a maior parte do tempo na frente da TV ou do computador, levando uma vida sedentária e deixando para trás as brincadeiras de rua e uma vida mais saudável. Segundo o endocrinologista e metabologista Hamilton Junqueira Júnior, a conseqüência desse comportamento inadequado é a obesidade, já que beliscar guloseimas enquanto se assiste à TV é um hábito muito comum entre os telespectadores mirins.“Hoje em nosso consultório atendemos uma série de crianças obesas. Isso é assustador, pois as crianças vão ter muito mais riscos de complicações com o passar dos anos, se não forem tratadas e controladas a tempo”. Um estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Sbem, indica que 15% das crianças no país são obesas. Essa tendência é recente: apenas nos últimos 20 anos a obesidade infanto-juvenil cresceu 240%. Ao trocar alimentos saudáveis por doces, refrigerantes e alimentos industrializados, as crianças criam um mau hábito alimentar que pode se estender até a vida adul-

ta.“Crianças obesas podem fazer parte dos grupos de risco com maiores probabilidades de virem a sofrer, na idade adulta, de distúrbios tais como a hipertensão, diabetes, doenças respiratórias, transtornos coronarianos, problemas ortopédicos, alguns tipos de câncer e apnéia do sono”, afirma a nutricionista Manuella Mendonça. Além das possíveis complicações clínicas da obesidade, existem também os problemas de ordem psicológica. Com o crescente apelo estético de um padrão de beleza cada vez mais magro, as crianças com excesso de peso tendem a ter problemas de baixa auto-estima e sofrem preconceitos entre os colegas.A psicóloga Maria Helena Balbo, da escola Barquinho Amarelo, diz que a padronização feita pela mídia afeta até crianças de três anos. “A criança pode não se incomodar com sua aparência, mas quando ela percebe que o grupo a exclui, ela passa a não se aceitar e isso a prejudica socialmente”, afirma Maria Helena. Para que as crianças não tenham problemas com obesidade os cuidados devem ser tomados nos primeiros dias de sua vida: bebê deve ter uma alimentação inicial baseada somente no leite materno, que fornece todos os nutrientes necessários para os seus primeiros meses. Quando elas começam a ingerir uma alimentação mais sólida, os pais devem acostumá-las a possuir uma alimentação saudável.

Criança da Escola Infantil Barquinho Amarelo é beneficiada com alimentação saudável

Em Belo Horizonte a maioria das cantinas é terceirizada e a escola muitas vezes não influencia no que é vendido aos seus alunos. O serviço prestado por empresas terceirizadas é vantajoso para as escolas, pois diminui os custos e as responsabilidades com encargos trabalhistas de funcionários. Existem algumas escolas que produzem o seu próprio lanche: um exemplo é a escola infantil Barquinho Amarelo, localizada na zona sul da capital. A escola conta com uma merenda diversificada dentro dos padrões alimentares considerados corretos. Os alimentos preparados possuem ingredientes que vêm diretamente da fazenda de uma das diretoras da escola. O cardápio, que oferece todos os dias frutas e sucos naturais, também conta com guloseimas nutritivas e caseiras. Para estimular o consumo a escola trabalha a capacidade lúdica dos alunos dando nomes criativos aos pratos do dia. A aluna Maria Eduarda, de 4 anos, prefere os alimentos mais saudáveis.“Gosto mais de melancia que de pastel, é mais gostoso!” diz Duda. Para as crianças que passam o período integral na escola é servido também um almoço no mesmo estilo do lanche. Os pais podem decidir entre pagar pelo lanche da escola ou enviar da própria casa. Quem usa lancheiras está expressamente proibido de levar refrigerantes e salgadinhos. Como a mensalidade da escola tem um preço elevado, poucos podem pagar uma escola que possui esses serviços para seus filhos.


06-Economia - Nayana Rick

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Editora e diagramadora da página: Nayana Rick

6 ECONOMIA

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Contradição dos juros altos Enquanto o sistema financeiro contabiliza lucros exobirtantes, o pequeno empresário padece para conseguir linha mínima de crédito

Bancos faturam muito alto Anualmente os bancos divulgam números surreais referentes ao lucro líquido que obtiveram. No caso do Brasil, essas instituições apresentam lucros cada vez mais assustadores. De acordo com o presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte, Fernando Ferraz, os bancos são empresas que cuidam do dinheiro de seus clientes e têm como função intermediar a poupança das famílias e os investimentos do setor privado.“Confiamos nossa poupança a uma instituição financeira, que além de proteger nosso dinheiro, gera também remuneração sobre nosso investimento”, afirma. Para o economista Eduardo Giannetti, os lucros dos bancos não são legítimos, e cita como exemplo o banco BNDS, o único do Brasil que faz empréstimos para investimentos privados.“Ele pega o dinheiro de um fundo compulsório dos trabalhadores, remunera esse fundo e o empresta a empresários, que, para disponibilizar crédito a seus clientes, cobram uma alta taxa de juros”, analisa Eduardo. A burguesia endividada gasta mais do que tem, deixa de fazer poupança, compra tudo financiado e consome todas as linhas de crédito oferecidas.Assim é gerado o caos na economia, aquecendo o comércio em datas festivas através do uso dos financiamentos, e depois, passando meses sem consumir um único centavo.

Lucro dos Bancos em 2004

ABN AMRO Real R$ 1.237.000.000,00 Bradesco R$ 3.060.000.000,00 Brasil R$ 3.024.000.000,00 Itaú R$ 3.776.000.000,00 Caixa Econômica R$ 1.419.000.000,00

Microempresas pedem falência Brenno Rocha, Camila Leite, Eduarda Santos e Thanit Xavier 4º período O fato é que quanto maior a arrecadação dos bancos, menor a capacidade de produção e captação de renda dos trabalhadores.“A maioria delas não suporta o pagamento de juros elevadíssimos e poucas sobrevivem até o quinto ano”, afirma o administrador de empresas Carlos Klein. É verdade que existe má gestão, gente que quer abrir um negócio sem ter o mínimo preparo ou o mínimo tino comercial para escolher o negócio corretamente. No Brasil, o crédito ao microempreendedor existe só no papel. De acordo com Carlos Klein, fica muito mais atraente emprestar para o governo, que é um ótimo pagador, do que emprestar para o micro investidor, que estatisticamente vai falir antes de poder pensar em pagar suas dívidas.Cerca de 95% de pedidos para a obtenção de crédito é rejeitada pelos bancos. Segundo Paulo Rocha, proprietário de uma loja em um bairro de classe média alta de Belo Horizonte, a insatisfação é total em relação às taxas de juros cobradas pelo banco no qual conseguiu o crédito.“A obtenção de crédito é quase inviável, já que o banco parte para um tipo de análise na qual não confia no microempresário”, indigina-se Paulo. Porém quando conseguiu o crédito, sofreu um outro problema, retornar ao banco o que lhe foi oferecido através do crédito juntamente com as altíssimas taxas

de juros e ainda assim conseguir um retorno comercial satisfatório. Segundo o membro do Conselho Regional de economia,PARECON,Geraldo Magela,o empresário não deve buscar crédito, mas sim investir seu próprio capital no negócio.“ Assim, o empresário não terá que lidar com juros abusivos cobrados pelos banco.” Esclarece Magela. Após pouco mais de três anos da candidatura de Lula,o avanço observado na política econômica brasileira é abaixo do esperado. Devido às dívidas públicas,o capital produtivo é penalizado com impostos altos,e leis trabalhistas onerosas que dificultam o investimento do micro empresário. Por outro lado, o capital especulativo é premiado com altos juros, e dívidas protegidas contra a inflação e garantia de pagamento às custas do patrimônio da União.Os empresários pagam altos juros e sofrem uma concorrência desleal perante grupos internacionais. As emissões de novos títulos do governo federal, colaboraram para que a dívida pública interna chegasse em fevereiro a R$ 845,4 bilhões, um crescimento de R$ 18,69 bilhões em relação a janeiro. Outro fator que contribuiu para o aumento da dívida é o processo da taxa de juros básica, a Selic, que desde o mês de setembro sofreu um aumento de 18,75% ao ano. Hoje, a dívida é altíssima e pode ser considerada impagável. O microempresário deve contar com a orientação do SEBRAE, sociedade civil que tem o objetivo de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos empreendimento de pequeno porte.

Camila Guimarães,Ernane Léo e Ticiana Cunha 4º período

timentos e sufoca a demanda do mercado. Isto significa contrair a atividade produtiva e aumentar o desemprego” acrescenta. De acordo com Paulo Feitosa, professor de A alta taxa de juros gera lucros abusivos pa- Economia da Face Fumec, nem só de altas tara os bancos. Segundo uma pesquisa realizada xas de juros vivem os bancos. “Outras duas em 2004 e publicada em 25 de fevereiro des- fontes de renda das instituições bancárias são te ano pela firma Economática, o lucro líqui- os ganhos com a prestação de serviços bancádo divulgado pelos bancos no ano passado te- rios e com a demanda de crédito, em função ve um crescimento de 32,9%. da recuperação da economia brasileira”, anaAinda nesta pesquisa, a firma constatou que lisa. Segundo Feitosa, deve-se levar em conta, os cinco maiores bancos do país por volume de além do custo do dinheiro, a formação da taativos e de capital aberto (Banco do Brasil, Bra- xa de juros que o banco cobra de seus cliendesco, Itaú, Unibanco e tes, o custo da adminisBanespa), obtiveram em “A elevação dos juros tração do dinheiro e o conjunto, um lucro líquicusto do controle que o reduz o ritmo de do recorde de R$12.893 banco tem de exercer bilhões. Os altos lucros do com quem toma o emcrescimento de setor bancário brasileiro préstimo. Ele diz ainda preços porque inibe que “tudo se dá como são resultados da política do aumento da taxa de numa relação comercial. os investimentos” juros e da taxa básica que Quem tem mais ‘bala na o Tesouro Nacional e o agulha’ pode comprar Banco Central pagam aos Fernando Nogueira, professor de mais caro, quem tem bancos nos títulos da dí- economia da Universidade Fumec mais oligopólio cobra vida interna. O Estado mais caro no mercado.” brasileiro, já falido, é obrigado a arcar com as Somando-se o lucro dos bancos citados, despesas desses juros, aumentando a carga tri- chegamos à quantia de R$ 14.312 bilhões. São butária e cortando investimentos e despesas que necessários cerca de 55.046 milhões de brasipoderiam ser aplicadas em toda área social. leiros, ganhando um salário mínimo por mês A alíquota de juros é estabelecida todo mês para se alcançar este lucro obtido pelas cinco pelo Conselho de Política Monetária (Copom) maiores instituições bancárias citadas anteórgão controlado pelo presidente do Banco riormente.“Além de adiar qualquer perspecCentral. Para o professor de Economia da FCH tiva de o país livrar-se da marcha acelerada pada Universidade Fumec, Fernando Nogueira, ra o subdesenvolvimento irreversível, devido os bancos, que em algumas operações, como à falta de investimentos públicos na infra-eso crédito pessoal, cobram juros superiores a trutura econômica e social, a política econô100% ao ano, também argumentam que essa é mica em curso torna tal desfecho ainda mais uma ferramenta para enfrentar a alta taxa de crítico, pois inviabiliza a sobrevivência das peinadimplência e combater a inflação.“No en- quenas e médias empresas, gerando desemtanto, a elevação dos juros reduz o ritmo de prego e uma baixa generalizada dos salários”, crescimento de preços porque inibe os inves- analisa o economista Jairo Carvalho.


07-Fumec - Thiago Lobato

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Editor e diagramador da página: Rafael Werkema / Colaborou:Thiago Lobato

FUMEC 7

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Aline Santos

Mediação elabora pesquisa sobre mídia e futebol Revista do curso de Comunicação Social da Fumec abre debate sobre a influência dos meios de comunicação na percepção do público frente ao esporte considerado a paixão nacional Luana Bastos e Poliane Bosco 1º período Desde que foi lançada, a quarta edição da revista Mediação do curso de Comunicação Social da Universidade Fumec vem sendo debatida por jornalistas e cronistas que cobrem a modalidade esportiva considerada a paixão nacional: o futebol. A revista apresenta reflexões sobre o tema central que é “Mídia e Futebol” e toca em pontos fundamentais para quem acompanha ou vive no meio, como: a espetacularização do esporte; os acordos milionários envolvendo direitos de transmissão, contratos de publicidade e promoção de ídolos; o efeito agenda, responsável pela mesmice nos programas esportivos, etc. Cobrir futebol sem torcer “É preciso debater sobre o assunto, pois o futebol é o esporte mais popular do país”, defende Dimara Oliveira, editora e apresentadora do programa Minas Esporte, da tevê Band. Ex-assessora de imprensa do Cruzeiro, Dimara destaca o artigo “Quando o jornalista vira torcedor, como fica a cobertura esportiva?”, do jornalista português Rui Flores. “Por uma questão ética, tive que

deixar de ser torcedora”, explica a apresentadora. O assunto interessou também jornalistas de rádio e da mídia impressa. Rogério Hilário, editor do caderno de Esportes de O Tempo defende: “o jornalista deve assumir uma

É fundamental fazermos essa discussão. O jornalismo esportivo brasileiro é muitas vezes desprezado, mau visto pelos demais colegas Dimara Oliveira, apresentadora

postura neutra em relação a seu time de coração, senão o leitor sai prejudicado”. O comentarista da rádio Itatiaia salienta que, na hora da transmissão, é fundamental que a paixão pelo clube não transpareça para o ouvinte, para não influenciar na objetividade da informação. No artigo da Mediação, Rui Flores apresenta um panorama

das dificuldades de relacionamento entre a imprensa portuguesa e as fontes poderosas dos clubes. “É fundamental fazermos essa discussão. O jornalismo esportivo brasileiro é muitas vezes desprezado, mau visto pelos demais colegas de profissão. Mas essa trajetória vem mudando à medida em que o profissionalismo que cerca o esporte cresce”, opina Dimara. O editor Rogério Hilário ainda complementa que a preocupação com a imparcialidade contribuiu muito para uma melhoria substancial das linhas editoriais esportivas. Agendamento A questão do agendamento apresentado pela revista foi outro assunto que chamou a atenção dos jornalistas esportivos.“A gente vê isso muito nos programas em geral”, afirma Dimara Oliveira. Mas ela defende: “a imprensa mineira se destaca no cenário nacional e é referência em cobertura esportiva”. A apresentadora ainda destaca que o jornalismo esportivo precisa de mais criatividade e de profissionais cada vez mais capacitados, para que haja uma diferenciação significativa entre as matérias e que estas não caiam na “mesmice”.

Dimara, editora do Minas Esporte, destaca a importância de se discutir a temática da revista Fernanda Melo

Agência experimental Logus trabalha com as ‘convergências de linguagens’ Luana Ferraz e Vinícius Lacerda 2º período Com o tema “Convergências de Linguagens na Publicidade”, a Logus, 11º Agência Modelo do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Fumec, vem realizando o trabalho de conscientização dos estudantes sobre o uso da biblioteca da Faculdade de Ciências Humanas. “Estamos fazendo uma campanha para que o aluno aproveite mais o espaço da biblioteca. Queremos que o estudante perceba que lá existem outros livros além daqueles relacionados com os cursos da universidade” explica Diogo Salomão, estudante e produtor gráfico da agência. “Estamos produzindo peças que mostram que a biblioteca possui livros de arte, saúde, romances, ou seja, livros que não fazem parte da grade curricular dos cursos da Fumec, mas que estão lá”, complementa Diogo. Apesar de ser a décima primeira agência experimental, a Logus é a primeira ter uma temática.“As convergências das linguagens da propaganda fazem referência a novas formas de trabalho a que publicidade tem se direcionado. É uma coisa recente, uma inovação nos meios de comunicação”, esclarece Érick Costa, aluno e diretor de arte da Logus. “Nossa idéia é mostrar a separação do conceito, da imagem, do texto, da forma

e justamente trabalhar nesse paradoxo”, analisa Erick Costa. A Logus também vai trabalhar peças informativas para sinalização interna da biblioteca.“Os cartazes da biblioteca hoje são considerados pelos alunos como infantis.A nossa idéia é adaptar a linguagem universitária aos cartazes”, defende Diogo Salomão.“Isso ilustra bem como estamos trabalhando a convergência de linguagens. Vamos elaborar textos mais informativos, quase jornalísticos, ou seja, menos abstratos”, finaliza Érick Costa. Experimentação A agência modelo procura recriar o ambiente de trabalho do publicitário. A Logus, além de elaborar a campanha da biblioteca, realizará um trabalho com um cliente externo real. O intuito é formar profissionais capacitados, com teoria e prática. “Aqui estamos observando, criticando, aprendendo e exercendo a prática publicitária”, opina Katíuscia Pereira, responsável pelo atendimento da agência Logus. Para a execução dos trabalhos, os alunos recebem acompanhamento da Lápis Raro, agência madrinha da Logus. Segundo a diretora da Lápis Raro, Daniele Valadares, é uma ótima oportunidade para a troca de experiências “O interessante é que a agência modelo é uma possibilidade de se pensar prática publicitária na universidade e no mercado de trabalho”.

Zeca Martins: “nosso mercado de trabalho é sem educação”

Prática cotidiana publicitária foi discutida no lançamento

Peça de conscientização para campanha da biblioteca Fernanda Melo

Lançamento da agência experimental Logus, da Fumec

O lançamento da agência Logus, realizado em abril, foi uma oportunidade para os estudantes da Fumec conhecerem um pouco da prática cotidiana publicitária. Para falar desse assunto, a Logus convidou o publicitário e autor do livro “Propaganda é isso aí”, Zeca Martins. O publicitário fez uma análise sobre a informação como matéria prima do publicitário. “É fundamental que não só os estudantes, mas publicitários tratem a informação como fator primordial para a criação. E isso é um diferencial no nosso meio”, evidencia. Daniele Valadares, diretora da Lápis Raro, completou o pensamento de Martins, dizendo que “é perceptível uma procura cada vez maior pela dife-

renciação.Até mesmo porque os clientes estão com verbas menores e investindo cada vez menos”. Ela afirma que é preciso maximizar cada vez mais o poder, o fôlego de investimento dos clientes, dos parceiros e anunciantes, e daí essa necessidade: de realizar um trabalho diferenciado”, diz. Para Zeca Martins, para se peparar para enfrentar os desafios da profissão,“o estudante precisa criar seu próprio espaço e perder fronteiras geográfica”. Segundo ele,“o mercado está mudando, tanto de tamanho quanto de natureza, necessitando de profissionais diferenciados. Hoje, o mercado é sem educação. Por isso a idéia de trabalhar com as convergências de linguagens é importante” finalizou o publicitário.


08 e 09 -Especial - Rafael W.

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Editor e diagramador da página: Rafael

8 ESPECIAL

O PO Belo Horizonte

A morte de João Paulo II foi um prato cheio para a imprensa.A imagem de sofrimento do pontífice foi superexplorada e, mais uma vez, armou-se o espetáculo da mídia sobre um grande mito

Daniel Gomes 4º período

N

a era da informação, João Paulo II foi o maior e mais conhecido mito. Além de levar consigo um poder de comunicação já intrínseco ao seu caráter mítico, utilizou-se das maravilhas da mídia moderna para amplificar esse aspecto de forma jamais vista.O mito existe desde a civilização antiga e guarda em si tudo aquilo que é inalcançável e incompreensível ao homem. Passada de geração em geração, a idéia do mito ganha força na medida em que se torna familiar para uma sociedade. O mito é seu espelho negativo e é nele que toda uma comunidade joga seus desejos, anseios, medos e sonhos. Por causa disso, o poder de comunicação do mito em si já é fabuloso. Entretanto, Karol Jozéf Wojtyla veio a falecer, segundo o historiador Peter Burker, na era do “infoentretenimento”, a já conhecida mistura perversa entre jornalismo e entretenimento. O conglomerado midiático moderno se comporta de maneira autofágica a cada nova supertransmissão, a cada nova mega-cobertura, a cada nova hiperretrospectiva.Ao farejar a morte do Santo Padre a meses de distância, a mídia começou a preparar seu ritual autofágico, tendo como prato principal o mito do papa João Paulo II. Tudo isso se materializou nos seus últimos dias de vida quando, sob extrema agonia, a imagem do papa correu o mundo. João Paulo II, em plena Praça de São Pedro, fez caretas ao perceber que não conseguiria falar pela última vez aos fiéis, ávidos pelas palavras do líder maior, que se transformou em ícone supremo no instante seguinte à sua morte.A imprensa internacional filmou seu corpo exposto por horas e elevou a lendária imagem do pontífice à enésima potência.A mídia deu o troco no mito ao utilizar-se de seu inimitável poder de comunicação, seja simbólico, seja oral, seja como ícone, para armar o espetáculo multimídia. O circo da comunicação estava feito e o astro da hora era o papa.A exploração do poder midiático por parte de Wojtyla teve uma contrapartida inesperada e a mídia não perdoou o iner-

Habemus errorem Ana Paula Ferreira, Natália Andrade, Wânia Ferreira e Henrique Lisboa 4º período Mais uma vez, a mídia errou. E a cobertura da morte do papa é uma prova disso. Em busca de um “furo de reportagem”, a imprensa não fez o básico no jornalismo: checar as informações. O que rendeu falhas pitorescas.A mídia chegou a “matar” João Paulo II antes da hora.A seguir, alguns erros que deixaram leitores, ouvintes e telespectadores confusos com as informações truncadas.

Na seção Erramos de domingo, dia 3 de abril, a Folha retratou-se como quem corrige um engano banal, daqueles que nem fazem “tanta diferença”; informando que ao contrário do que havia sido dito na manchete, o papa não perdera a consciência.

1º de abril “O papa se apaga serenamente”.Após essa declaração feita pelo cardeal polonês Andréa Deskur e do súbito agravamento do estado de saúde do pontífice, informado pelo porta-voz do Vaticano Joaquín-Navarro Valls ao ler o primeiro boletim do dia 1º de abril, a agência italiana ADNKronos, anunciou a morte cerebral do pontífice.A notícia reproduzida pelos maio“Mea culpa” “João Paulo II piora e perde a consciência”. res veículos de comunicação do mundo conEsta foi a manchete da Folha de São Paulo do seguiu, por um certo tempo, causar o impacto sábado, dia 2 de abril. que as “empresas” jornalísJuliano Mendonça Enviado a Roma espeticas sempre desejam,que é cialmente para acomo de satisfazer os desejos capanhar os últimos dias pitalistas de seus anunciande vida do pontífice, o tes e da massa sempre ávirepórter Clóvis Rossi da e sedenta por mais um escreve nessa matéria à evento que retifique o conFolha, que a notícia de sumismo.As programações que o papa havia perdiárias de praticamente todido a consciência foi das as televisões italianas fonegada pelo Vaticano. Na verdade, João Paulo ram substituídas e passaram a transmitir somente II sofreu um choque séptico e um colapso carinformações ligadas ao papa e programas espediovascular, como anunciou o médico e jornaciais que apresentavam a retrospectiva de uma lista espanhol Joaquín-Navarro Valls, porta-voz vida que chegara ao fim. do Vaticano há 20 anos. O boletim médico diUsando uma linguagem que une o pontízia que o papa estava lúcido, mas que o seu esfice a Deus e que o jornalismo, cada vez mais tado era muito grave. Falta de atenção? É muisensacionalista, gosta de utilizar para alavancar to improvável.Afinal, nenhum outro jornal no às vendas, o vigário de Roma, Camillo Ruini, dia, a não ser o Estado que cravou “Papa perde declarou a frase que foi manchete em diversos a consciência; mas coração resiste”, abordou o jornais:“O papa já vê e toca o senhor”. Jornaagravamento do estado de saúde do pontífice listas que já estão no mercado há bastante temdessa forma. Mas não faz diferença, no outro po e estudiosos em história da Igreja que lotadia é só corrigir o pequeno “deslize”. ram a cidade de Roma durante os últimos dias

de vida do papa João Paulo II,“associaram” o acender das luzes do apartamento do terceiro andar do Vaticano – de cujas janelas o pontífice saudava os fiéis – à morte do papa. Isso porque, há 40 anos, a anunciação da morte de João 23 foi precedida do mesmo “ritual”.Diante disso, ou por extrema sede pelo furo, várias emissoras internacionais de TV anunciaram que o pontífice falecera antes mesmo que fosse proferido um anúncio oficial. O jornalismo é feito de suposições? Será que não era necessário uma investigação maior? A primeira a divulgar essa falsa notícia foi, segundo a matéria do jornalista Clóvis Rossi à Folha de São Paulo no dia 02 de abril, a TV estatal russa.Tudo isso obrigou que o Vaticano viesse a público desmentir as informações precipitadas, criadas e veiculadas pela mídia, em especial as divulgaJuliano Mendonça das pela rede de TV italiana Sky e a TV americana CNN, que tiveram de se retratar de que o papa estivesse morto. Os jornalistas também erram. Mas um dos exercícios mais difíceis do jornalismo é o reconhecimento do erro. Coincidentemente, era 1º de abril! Falta de ética ou mera coincidência? As mentiras e as desmentiras são freqüentes, não apenas com o tema “A morte do Papa”, mas em vários outros assuntos divulgados pela imprensa em geral. O jornalismo não é fruto somente da produção dos jornalistas. Os leitores também têm poder sobre isso e, portanto, devem reivindicar os seus direitos de terem acesso às informações corretas, que são de interesse público. Afinal, é o leitor quem decide qual jornal vai comprar.

Mito e es te corpo de quem a usou com facilidade e graça. Ao longo de seu pontificado, João Paulo II construiu e alimentou o mito para o qual ele parece ter sido feito sob medida. Segundo Artur da Távola, autor do livro “Comunicação é Mito”, o papa guardava sob sua imagem três símbolos: o do pai, o do herói e o do velho sábio, esse último o que Távola chama de “arquétipo do inconsciente coletivo”. A sociedade contemporânea tem sentido profundamente a falta dessas três referências e, pelo fato de ser cada vez mais difícil haver pessoas que reúnam esses aspectos, a mídia trata de fazer sua parte e fabricar seu mito. De preferência em série, para consumo rápido. O homem Karol Wojtyla, segundo Távola, conseguiu reunir essas características com maestria e se tornou a luz para onde todos (ou o bilhão de pessoas católicas no mundo) deveriam olhar.Távola ressalta que para haver um mito, há que se ter algo que o alimente, e aí entra o público. O processo de comunicação entre o mito e o público é bilateral e sem um, o outro não existe. Dentro dessa dialética, a mídia serve de intermediária e leva o mito ao público e vice-versa.A diferença aqui é que o mito em questão se trata de alguém com uma cultura invejável, cuja história de vida permitiu que assumisse uma posição muito além de uma lenda fabricada, algo tão comum na sociedade contemporânea, carente de identidade e significado. João Paulo II foi um mito de fato por reunir em si os símbolos pelos quais o público ansiou nessas últimas décadas. Ele não só queria levar sua mensagem além, como realmente tinha algo a dizer, o que não ocorre em mitos fabricados. Nesse ponto, o papa foi brilhante. Utilizou-se maciçamente dos meios de comunicação para que sua mensagem chegasse a quem a quisesse receber. O que não se esperava era que a mídia fosse surgir soberana após a sua morte, cobrando um alto preço pelos serviços prestados por 26 anos seguidos.

Prato cheio para diagramadores Déborah Arduini 6º período

A cobertura da morte do papa gerou desenhos de páginas bastante criativos. Um farto material sobre João Paulo II foi publicado, e a linguagem visual procurou atingir sempre o emocional do público, atraindo-o com grandes fotografias e poucos textos. Mas não basta uma boa fotografia.A forma que esta imagem toma com o texto é que chama a atenção. É só analisarmos os recursos utilizados na capa do Correio Braziliense do dia 02/04/2005. O fundo preto, que expressa o sentimento de luto é unido a uma imagem de freiras, vestidas de preto, rezando. Muitos jornais utilizaram a mesma fotografia, mas o detalhe é que nenhum diagramador fez o que o jornal braziliense fez: ele ousou. O texto, abaixo do título que faz referência à fotografia, fala do momento da morte do pontífice. Na mesma mancha preta, o designer distribui bem as chamadas para as matérias secundárias sobre o assunto. Elas têm o mesmo peso ou importância, por isso colocadas do mesmo tamanho. Mas o conjunto ficou bem elaborado: imagem casada com texto e boa disposição na página. O problema da ousadia é que se corre o risco de espetacularizar o fato. E o pior, o texto, que é a fonte de informação do impresso, acaba ficando como coadjuvante. É só ver os “erramos” dos jornais. Páginas bonitinhas com informações erradas. E quem não costuma arriscar nos desenhos das páginas também corre o risco de espetacularizar o fato. Por exemplo: a mesma imagem das freiras foi usada pelo jornal Estado de Minas, sem a montagem.A imagem, pelo seu tamanho, acaba se sobrepondo ao texto. O material sobre a morte do papa foi, na maior parte, visualmente atrativo. Mas e a informação?


08 e 09 -Especial - Rafael W.

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Werkema / Colaborou: Cristina Chaves

ESPECIAL 9

ONTO te – Abril/2005

Dálcio - Correio Popular (SP) / 02-04-2005

Aroeira - O Dia (RJ) / 05-04-2005 Foto publicada na Folha de São Paulo / 27.03.2005

J.Bosco - O Liberal (PA) / 03-04-2005

Fotógrafos: de olho no sofrimento do pontífice

Son Salvador - Estado de Minas (MG) / 04-04-2005

Daniel Carlos 5º período

No Céu, o humor é sutil Juliano Mendonça 2º Publicidade A charge jornalística tem por escopo trabalhar o humor como uma arma de ataque, na maioria das vezes, à política. Com um enfoque crítico, ela denuncia os absurdos, contrasta as desigualdades, satiriza um determinado acontecimento da mídia, sem abrir mão do humor ao tratar de assuntos sempre atuais. O humor requer certa dose de ironia. E a ironia ridiculariza, debocha, não perdoa. Por isso, dizem que no céu não há humor. Há uma certa desumanização quando o assunto se refere ao sagrado, uma aversão aos prazeres carnais, não se podendo ultrapassar certos limites. Então, diante de toda a complexidade que existe nos limites da fé, como os jornais poderiam abordar, por

meio de charges, um assunto tão delicado que foi a morte do Papa João Paulo II? Ao analisarmos algumas charges publicadas, notamos que o humor foi sutil, tratando a morte do papa com todo um eufemismo característico da própria ideologia cristã. Lá estavam os anjinhos ensaiando uma bela recepção. O dedo de Deus, dos afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, vindo libertar o papa de sua agonia. No lugar onde a televisão não alcança, assistimos pela janela ao papa sentado em meio às nuvens do céu. E a missa chega ao fim,“Ite... missa est”, um último adeus, guardando o mundo em seu coração. Enfim, as charges acabaram se desarmando. Serviram de ponte para ajudar o papa,na travessia entre os dois mundos, a vencer a morte. Deixaram-nos com uma sensação de que João de Deus não tinha morrido, ele realmente continuava vivo após a morte, ilustrado nas páginas dos jornais a caminho do paraíso.

Quando foi eleito Sumo Pontífice da Igreja Católica, em 1978, Karol Wojtyla começou a ter seus grandes momentos clicados por fotógrafos de todo o mundo, tornando-se assim o primeiro papa de apelo realmente midiático. João Paulo 2º, que sempre fora retratado pelas câmeras como um homem forte, talvez “invencível”, foi fotografado em um momento de profunda dor e angústia diante de milhares de fiéis, na janela de seu quarto no Vaticano durante sua bênção no domingo de Páscoa, em 27 de março. Daí a pergunta: esse sofrimento deveria ser retratado de forma tão franca a milhares de pessoas em todo o mundo? Ora,o papel da imprensa é justamente esse, relatar, seja por meio de texto ou material fotográfico, os fatos de forma mais fiel possível. No momento em que o papa se expôs em sua janela a milhares de peregrinos e a jornalistas, ele, que soube lidar com a mídia como ninguém, estava sujeito a ser flagrado pelas lentes presentes na Praça de São Pedro. O problema é que parte da imprensa publicou apenas as cenas dramáticas da aparição do Pontífice e deixou de lado as fotos nas quais ele também aparece de forma serena diante da multidão. O site do “The New York Times”, por exemplo, divulgou toda a sequência – da serenidade ao desespero – em um exemplo de jornalismo ético. A fotografia entra no âmbito do “direito de ver”, que é o direito de se informar através de documentos visuais. Por isso, a imprensa deve ter o cuidado de retratar com totalidade as imagens capturadas, para se evitar a parcialidade ou o sensacionalismo. A mídia acertou sim ao publicar as fotos da angústia de João Paulo II, mas parte dela errou ao publicar apenas as cenas dramáticas, talvez, por ter a certeza de que seria grande a rentabilidade do “espetáculo”, ao contrário da cena comum da bênção Pascal.

pe áculo Joseph Ratzinger e a gula da mídia Tiago Nagib 6º período “Habemus Papam. Cardinale Ratzinger”. Após a escolha do cardeal alemão Joseph Ratzinger como novo papa, boa parte da imprensa brasileira e mundial começou a traçar um perfil equivocado do novo líder da Igreja, destacando seu trabalho na antiga Santa Inquisição, seus confrontos com teólogos da teoria da libertação, chamando-o de ultra-conservador e dizendo que a Igreja se fecharia. Basta dar uma folheada nas revistas Época eVeja publicadas no período da escolha. Apesar da importância que Ratzinger teve durante o pontificado de João Paulo II, essa mesma parte da imprensa, curiosamente, não entendeu porque a Igreja escolheu um cardeal tão velho e "conservador" para exercer a autoridade máxima de Sumo Pontífice da Igreja de Roma. Um papa idoso seria a transição entre dois longos pontificados. A imprensa esqueceu também que o Vaticano é uma entidade tradicionalista por si só, que não está disposta a abrir mão de seus dogmas. Começou, então, a bombardear Bento XVI, publicando uma série de meias verdades. Como fez a rede britânica BBC, que soltou nota afirmando que o atual papa foi membro da Juventude Hitlerista e do exército alemão durante a 2ª Guerra Mundial, sem sequer mencionar em quais condições e o porquê de sua participação no exército nazista.A BBC não disse que sua família era contrária aos nazistas, e que a convocação era obrigatória. Não ressaltou sua amplamente reconhecida capacidade intelectual. No Brasil, grande parte da imprensa, em um patriotismo primário, lamentou a não escolha de um pontífice brasileiro.A alegação, simplista, era a de que o Brasil é o maior país católico do mundo e por isso o papa tinha que ser brasileiro. A eleição de um novo pontífice teve, para a mídia, o mesmo tom de uma campanha eleitoral. E enquanto isso, os leitores se afogam em um mar de informações truncadas, carregadas de opinião sem nenhuma base.


10-Mídia-Daniel Gomes

5/2/05

12:48 PM

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Editor e diagramador da página: Daniel Gomes / Colaboraram: Luana Moreira e Rafael Werkema

10 MÍDIA

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Morte em segundo plano Chacina ocorrida no estado do Rio de Janeiro já figura entre as maiores da história, mas passa desapercebida pela imprensa nacional Daniel Gomes 4º período Mais uma vez a imprensa deixa de cumprir seu papel principal: o de vigilância social. Nos primeiros dias imediatamente após a chacina ocorrida no estado do Rio de Janeiro no dia 30 de março, os jornais nacionais em sua maioria ignoraram solenemente o fato, relegando-o a chamadas de capa que sequer conseguiam trazer para si um pouco da atenção dispensada à morte do papa João Paulo II. A chacina que aconteceu nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados, região metropolitana do Rio,já figura entre as maiores barbáries já cometida no Brasil. O crime, que teve até agora 12 policiais militares indiciados por homicídio, resultou em 30 pessoas mortas, entre elas mulheres e menores de idade, em pouco mais de uma hora e meia de ação dos criminosos. Pelo caráter hediondo do massacre, que já no primeiro dia tinha como suspeitos membros da Polícia Militar da região, a imprensa brasileira deveria ter dado destaque ao menos equivalente àquele dado aos fatos que ocorreram noVaticano. Dos jornais brasileiros, destaca-se o Globo que, talvez pela proximidade com o acontecido, soltou uma grande manchete de capa no dia 2 de abril, sábado, o que dividiu a atenção do leitor

com a morte do papa, ainda que o sumo pontífice ocupasse toda a metade superior da página. A Folha de São Paulo, na sua edição de 2 de abril, agiu da mesma forma, reservando a metade superior de sua capa à morte do líder religioso. Na metade inferior, com o título altamente impróprio segundo Jânio de Freitas e Marcelo Beraba, colunistas do próprio jornal, o diário estampou na capa uma foto dos corpos de três pessoas mortas no assassínio.A manchete dizia "Massacre no Rio deixa 30 mortos" o que, segundo os colunistas, leva o leitor a pensar que o ato ocorreu na capital do estado, denegrindo a imagem da cidade. O próprio New York Times, grande jornal americano, trouxe em suas páginas manchete muito parecida, o que contribui ainda mais para a má fama da cidade junto ao estrangeiro. Já no dia 4 de abril, segunda-feira, um dia após a morte do papa,a Folha soltou um rígido editorial intitulado "Terror Brasileiro", condenando a negligência do Estado perante a impunidade e a contaminação dos órgãos de segurança pública pela corrupção e marginalidade.Ainda assim, em sua capa a Folha ostentava uma belíssima foto da praça de São Pedro no Vaticano e, sob ela, a seguinte manchete: "Roma espera 2 milhões pelo Papa".Ao pé da pági-

na,uma pequena chamada sobre o crime com o título "PF investiga dez PMs por chacina" comentava as investigações em curso. O resultado dessa cobertura, que por vezes gerou excelentes matérias como na própria Folha de São Paulo, é que o crime não teve o devido reconhecimento junto à população brasileira. O fato de policiais militares saírem às ruas e matarem pessoas inocentes a esmo é a mais clara solidificação da falência do Estado de Direito brasileiro. A impunidade, a pobreza e a violência, são sintomas de um câncer social que há muito toma conta do país. Segundo o editorial da Folha de São Paulo citado acima, "o Brasil vem pagando um preço alto pela ineficiência com que o agravamento do quadro da segurança pública tem sido tratado no país, em que pesem algumas tentativas isoladas de moralização". Se o agravamento do quadro em questão é tratado de maneira insuficiente, cabe à imprensa brasileira torná-lo pauta fixa nas rodas de discussão dos governantes brasileiros. De nada adianta pleitear o tratamento correto das mazelas sociais se a imprensa também se omite ao não tratá-las com destaque.

Edições de O Globo e Folha de S. Paulo de 2 de abril de 2005

Paulo Coelho em primeiro Já o mago e escritor brasileiro “hipnotizou” e monopolizou capa das principais revistas brasileiras

Revistas ignoram interesse público e priorizam mercado

Bruno Augusto, Daniel Rui e Tiago Parrela 4º período Coincidência ou não,Veja, Época e Isto É, as três revistas semanais de maior tiragem no Brasil, escolheram o escritor Paulo Coelho, que lançou seu livro “O Zahir”, como matéria de capa na terceira semana do mês de março.Tal fato levantou dúvidas quanto ao tipo de jornalismo praticado nos semanários considerados referência do segmento no país. Na disputa por qual seria a primeira publicação a abordar o tema, a revista Isto É saiu na frente, e, na manhã da sexta-feira, dia 18 de março, estava nas bancas com o escritor Paulo Coelho e um texto exclusivo sobre qual a sensação do autor de lançar mais um livro. Na mesma noite, o site da revista Época já mostrava sua capa com o autor do livro “O Zahir”, que teve um capítulo inteiro publicado naquela edição da revista. Os leitores que foram às bancas no dia seguinte se depararam com o endeusamento de Paulo Coelho pela revista Veja, que mencionou nomes de personalidades famosas que são leitoras do escritor. A overdose visual de Paulo Coelho nas revistas foi considerada pela Editora Rocco,que publica o livro no Brasil, como um sucesso em se tratando de estratégia de marketing. Os livreiros da Agência Status, de Belo Horizonte, afirmam nunca terem visto uma divulgação como esta para a venda de um livro. Essa coincidência colocou em questão o jornalismo praticado pelos veículos citados, que está condicionado aos acordos e par-

cerias entre os veículos de comunicação e empresas do entretenimento para transformar em notícia lançamentos que consideram importantes.Alécio Cunha, repórter de cultura do jornal mineiro Hoje em Dia afirma que, para as revistas Veja e Isto É não tomarem “furo”, que no jargão jornalístico significa deixar de dar uma notícia em primeira mão, a Época divulgou o novo livro em um espaço reservado, mantendo as relações mercadológicas que prestam estas revistas. Desta forma, a notícia perde sua qualidade e faz com que o livro deixe de ser um produto cultural para se tornar mercadoria. As revistas, que são um tipo de mídia impressa, estão se preocupando mais com a vendagem dos

produtos que com a cultura em si.Ao dar espaço a determinados autores, escritores ou músicos unanimemente, a imprensa não permite que os leitores possam acompanhar de forma crítica o lançamento de produções culturais diferenciadas, tanto nacionais como internacionais. Seria a retratação de uma falsa cultura,uma cultura fabricada. O papel da imprensa, mais do que julgar a produção cultural, é o de divulgar equilibradamente todo tipo de manifestação artística. Cabe a cada leitor, individualmente, analisar esse tipo de situação e tirar suas próprias conclusões; avaliar o que é divulgado para poder saber por si só se o que está sendo dito pela mídia real-

mente é aquilo que corresponde as suas idéias e concepções a respeito de sua cultura. O caso das três revistas brasileiras de maior credibilidade é um bom exemplo do que realmente devemos avaliar. Infelizmente, não se pode mais querer separar cultura e mercadoria. O produto cultural é feito hoje com o objetivo da venda. Fica claro dentro da sociedade contemporânea o fato de que os costumes particulares de cada geração se misturam devido ao fenômeno da globalização. É de se lamentar que revistas tão importantes quanto as citadas acima contribuam para que as pessoas tenham cada vez mais distância de sua identidade original.

A credibilidade do jornalismo cultural exercido pelas revistas Veja, Época e Isto É é posto em dúvida quando seus diretores não conseguem justificar a escolha de qual seria a matéria de capa das edições da semana. As revistas anteciparam suas publicações sem justificativa. A revista Isto É tinha outras duas matérias que poderiam ter estampado a capa da edição. Um dos assuntos seria o documento que acusa as tropas brasileiras do Haiti de despreparo, e o outro um relato sobre a vida dos dois brasileiros condenados à pena de morte na Indonésia. A revista Época, que poderia ter optado pelos financiamentos do BNDES para megaprojetos ou pela contratação de petistas para a central de abastecimento de São Paulo, já havia acertado, em dezembro último, um acordo com a Editora Rocco, que se comprometeu a ceder um capítulo exclusivo do livro para ser publicado na edição.A Veja, por meio de seus diretores, preferiu não comentar sobre a capa.A publicação trazia ainda uma continuação da reportagem que mostra que as Farc teriam financiado a campanha eleitoral do PT em 2002. No campo da literatura, da música e em outras artes, é comum que os artistas tenham sua imagem transformada em símbolo de referência para suas obras.

O professor da Faculdade de Ciências Humanas Fabrício Marques enfatiza que as pessoas colocam a embalagem, o consumo e a futilidade em primeiro plano e deixam o conteúdo, o cidadão e o que é de interesse público para depois. Ele cita a revista Carta Capital,que não não deixou de noticiar o lançamento do livro, tratando a publicação dentro dos pradrões habituais.A capa da revista estampava uma reportagem sobre a queda de Daniel Dantas do banco Opportunity.“De tudo o que aconteceu no Brasil e no mundo, ao colocar o lançamento do livro como fato principal,você está prestando um desserviço aos leitores.”, argumenta. Nessa situação, o chamado jornalismo de mercado coloca o livro do escritor, que seria o motivo principal das matérias, em um segundo plano. Ele se torna coadjuvante da imagem de seu autor, que é tido como o “o mais global e influente dos brasileiros” e vende milhões de exemplares de suas obras mundo afora.A publicidade que o autor tem com essa ação é inimaginável. Não se questiona a relevância qualitativa do escritor e sim a linha jornalística praticada pelos veículos citados o fato colocado em questão é a mercantilização da notícia que perde seu caráter informativo ao ser tratada como produto de consumo.


11- Educação- Paula Costa

5/2/05

6:44 PM

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Editora e diagramadora da página: Paula Costa

EDUCAÇÃO 11

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

O preço de um diploma na UFMG

Camila Coutinho

Há quem possa gastar até R$ 3 mil na compra de alguns livros e quem não consiga se manter nem com ajuda de custos

Os Carentes

Dia de não bater o ponto

Os abastados Débora Resende, Joseane Santos, Lorena Campolina e Marcela Ziviani 4º período O Projeto de Lei número 3.627/04 levanta a discussão da democratização do acesso ao Ensino Superior e das universidades públicas com a presença de estudantes de classes sociais baixa e altas. Em relação a UFMG, 55% dos alunos vieram de escolas particulares. De acordo com a COPEVE (Cooperativa Permanente do Vestibular) no útimo vestibular da UFMG, o número de

candidatos provenientes de escolas particulares foi de 50%. Nos cursos como Medicina,Veterinária e Odontologia essa presença também é muito grande. O que se discute dentro da UFMG é a quantia gasta para ter um diploma, onde não se paga pela mensalidade, mas acaba-se superando os gastos de uma faculdade particular. Um exemplo é o curso de Odontologia. A aluna Raquel Guimarães, 22 anos, do 4° período, conta que já no 2º período teve um gasto de aproximadamente R$3 mil apenas com material instrumental.“A cada dia surgem materiais, técnicas

e equipamentos inovadores. Precisamos ter certeza na escolha do curso e consciência dos gastos necessários durante este período”. Essa é a opinião do estudante Mauro Castro, do 8° período, que gastou até hoje com material, exceto os livros, cerca de R$10 mil. No curso de Medicina, vários estudantes são de classe média e de classe média alta. “Em geral, o aluno de medicina não tem como trabalhar e, mesmo antes de chegar à faculdade, ele se dedica totalmente ao estudo”, ressalta Ana Carolina Flores, 25, do 7° período.

Vitrine

Bandejão mais caro Após o final das férias, o bandejão passou de R$2,30 para R$2,50, surpreendendo os alunos da UFMG. Com o aumento, eles se mobilizaram para pressionar a Fundação Mendes Pimentel (Fump). Lucimar Pacheco , estudante do 6º período de Geografia, compara os preços da UFMG com outras universidades públicas do país. Na Universidade Federal de Viçosa (UFV) é R$ 1,50, e na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Universidade Nacional de Brasília (UNB), R$ 1,00. Nesses locais, alunos carentes não pagam, enquanto em Minas pagam R$ 0,75. “As universidades estão passando por uma ‘privatização branca’. Hoje o Governo Federal quer legalizar a atuação destas fundações dentro das universidades públicas com o projeto da Reforma Universitária. Essa reforma destrói o ensino público para salvar da crise os donos das instituições privadas.”reitera Pacheco. Nessa crítica está incluído sua discordância com a Fundação.A Universidade Federal cobra taxas dos estudantes semestrais que se não forem pagas o aluno é impedido de fazer matrícula e perde o direito de estudar. A Fump ganha dinheiro com moradia universitária, taxas de vestibular e dinheiro de bolsas que são reembolsáveis. Lucimar e outros alunos sentem na pele essas decisões que atrapalham o desenvolvimento do estudante e suas condições de se manter na escola superior. Quando questionado sobre como são amenizadas as barreiras de dificuldade dos estudos através da UFMG, Fump e DCE, ele é taxativo: “Não tem amenização. Ou se vira e dá um jeito ou você é obrigado a desistir de estudar, não porque você quer, mas por não ter condições mesmo”.

Preço do bandejão aumenta e alunos protestam para pressionar instituição

Renato Meireles

O Brasil ainda não conseguiu diminuir suas desigualdades sociais nas universidades. Os alunos que vêm de escolas públicas, de baixa renda, dificilmente conseguem passar no vestibular devido à dificuldade do processo seletivo e à falta de estrutura existente no ensino público. Os que passam, mal conseguem se manter, pois os gastos com livros, alimentação, entre outros, ficam muito caros.Além disso, os horários de aula são alternados e o aluno não consegue trabalho. Dessa forma os estudantes que tanto se empenharam em conseguir alcançar o nível superior acabam abandonando o curso por falta de condições financeiras. Existem algumas instituições de apoio como a Fundação Mendes Pimentel (FUMP) que auxilia os estudantes da UFMG.De acordo com a presidente da Fump, Maria José Grilo, os alunos que recebem os benefícios são classificados por meio de um questionário que avalia a condição sócio-econômica dos estudantes. Segundo Maria José Grilo,“ FUMP é definida no estatuto da UFMG, na questão da linha de desenvolver os programas de assistência estudantil da universidade, apesar de ser de direito privado por ser uma fundação. O fundo de bolsas é mantido com uma taxa de R$ 145,00 na hora da matrícula, que é obrigatória (essa é a maior parte da receita da fundação) e também com a restituição de bolsa. A moradia é bancada com o saldo do vestibular (existe a isenção da taxa de matrícula para alunos carentes) e com a taxa paga pelos alunos não-carentes. O restaurante é mantido com o subsídio da UFMG.” Estudantes do curso de Belas-Artes da UFMG, campus Pampulha, que se encaixam no perfil de não serem considerados carentes, mas passam dificuldades, explicaram os obstáculos que atravessam para fazer o curso. Aline Lopes, 22 anos , 5º período de BelasArtes, mora em Matozinhos e a prefeitura da cidade garante gratuidade no transporte para estudantes. Pega condução em horários determinados. Daniele Ascipriano, 25 anos, do 8º período, mora em Betim e pega, todos os dias, 3 ônibus, gasta R$ 15 reais por dia incluindo almoço.As aulas são em diversos horários. Às vezes tem uma às 7:50 da manhã e outra às 9:30 da noite. Isso impede que elas trabalhem e obrigam-nas a ficarem o dia inteiro na universidade. O almoço é feito no bandejão, que custava R$ 2,30 passou para R$ 2,50, o que causou

revolta nos alunos, provocando uma manifestação. Patrícia de Paula,23,formada em Belas-Artes mas cursando matérias opcionais, é de Mato Grosso, faz pesquisa e recebe, mais ou menos, R$ 240 reais por mês e tem uma ajuda do pai, mas ainda assim tem dificuldades. As garotas reclamam do absurdo em relação ao preço do material que usam. Para conseguirem benefícios da FUMP elas esclarecem que o processo é bem burocrático. Conseguir moradia pela instituição é um dos mais difíceis, mas elas falam que tais lugares são ótimos, tem computador, água e luz.Aline explica que quanto mais período para frente você está, mais difícil fica para conseguir os benefícios. Ela mesma conseguiu um recentemente mas quando formar terá que pagar aos poucos. Daniele conseguiu somente agora um benefício e já está se formando.

Projeto

Lídia Rabelo, Lígia Ríspoli e Paula Luzia 4º período

1º de Maio - Dia Mundial do Trabalho


12 e 13 - Cidades - M. e G.

5/2/05

12:40 PM

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Editoras e diagramadoras da página: Gabrielle Costa e Melina Rebuzzi

12 CIDADE

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Rosáurea Patrocínio

Moradores do aglomerado Santa Lúcia vivem do que encontram no lixo do bairro São Bento. Funcionários da Unidade de Reciclagem de Pequenos Volumes da região também aproveitam os objetos dispensados pela classe média alta Aline Valério, Isabella Antunes, Luciana Ribeiro, Max Valadares, Raquel Alves, Rosáurea Patrocínio e Tathiana Mendes 4º período Imagine se você dependesse do lixo do vizinho para sobreviver? Essa é a realidade de diversos moradores do aglomerado Santa Lúcia, região Centro-Sul da capital, que tiram do lixo do São Bento, bairro limítrofe, o que necessitam para sobreviver. É o caso do carroceiro José Natal, 47, morador do Santa Lúcia. Há mais de 20 anos ele vive do lixo que recolhe nas ruas da região. Cadastrado na Unidade de Reciclagem de Pequenos Volumes (URPV) da Prefeitura de Belo Horizonte para atendimento de coleta de entulho e lixo nos bairros da região da Barragem Santa Lúcia, o carroceiro já encontrou diversos objetos que poderiam ser reutilizados. “Em uma casa do São Bento, me assustei quando encontrei 17 sacos fechados de argamassa, uma caixa de cerâmica da melhor qualidade e uma pia de mármore que só não fiquei com ela porque era maior do que minha cozinha”, relata. José Natal é um dos 35 mil moradores da região onde as diferenças so-

ciais são explícitas. De um lado está a probreza do morro do Papagaio, Barragem Santa Lúcia,Vila Esperança e Vila Estrela. Do outro, a classe média alta dos bairros São Bento e Vila Paris, com seus prédios altos e casas luxuosas. José, que sai de casa todos os dias cedo, por volta das 6h, tira o sustento de sua família daquilo que as pessoas não querem mais. “Vivo somente com o que ganho na venda do lixo. Sustento minha mulher, dois filhos e três netos com mais ou menos 20 reais por dia”, conta o catador. Ele afirma ainda que já encontrou diversos materiais semi-novos. “Já achei um colchão e roupas que pareciam ter sido usados uma única vez”, ressalta. José Natal, que trabalha na Unidade de Reciclagem, conta que alguns moradores separam tudo o que pode ser reciclado e chamam os carroceiros para buscar. “Os próprios moradores do São Bento separam o material que pode ser reciclado, entram em contato com a URPV e eu vou buscar”, disse José Natal. Outro que também ganha a vida através do lixo dos bairros da região é Vander Rocha, carroceiro há cinco anos, pega no lixo o que para muitos não tem mais valor algum. “Recolho o que po-

de ser reciclado, como papel, papelão, plástico, garrafas pet e latinhas. Mas ás vezes aparece alguma coisa que dá pra usar e levar pra casa”, diz Vander. Segundo Jadir Reis Silva, responsável pela URPV da região, a maior parte do lixo do São Bento que pode ser reaproveitado são sobras de material de construção, como telhas, tijolos, areia, terra, madeira, etc. Parte desse material é vendido, e o restante é enviado para o aterro sanitário da prefeitura, que utiliza restos de material de construção para a pavimentação de ruas e avenidas da cidade. Jadir relata que é comum chegar na URPV carroças com máquina de lavar roupa, fogão, pneus em boas condições de uso, vídeos-cassete, geladeiras, móveis, furadeiras e outras coisas. Cristina Barbosa, funcionária da URPV, explica que alguns objetos são usados até mesmo na própria Unidade, como o relógio da parede, o rádio, o fogão e a cadeira giratória. “O indivíduo acha que o rádio não está funcionando porque a tomada está com mau contato, então joga fora, aí a gente pega e troca a tomada e funciona novamente. Às vezes nem troca a tomada, é só mexer ali e volta a funcionar”, relata.

Mas, afinal, o que é “Belíndia”? Carlos Fillipe Azevedo 7º período O economista Edmar Bacha, em 1974, criou a expressão "Belíndia" (junção morfológica de Bélgica com a Índia para retratar o Brasil). Na verdade, ele teve o objetivo de demonstrar que o nosso país ora parece a Bélgica ora parece a Índia. A Bélgica é um país de primeiro mundo, com pequenas dimensões territoriais, renda per-capita altíssima, elevado índice de cultura, localizado no noroeste da Europa com cerca de 10 milhões de habitantes. Do outro lado está a Índia, com uma população de aproximadamente 1 bilhão de habitantes, com grandes dimensões territoriais, renda per-capita baixíssima, alto índice de analfabetismo, desemprego e muita pobreza. Assim como o Brasil, Belo Horizonte se enquadra neste contexto e apresenta os mesmos sintomas de uma crescente desigualdade social. Os contrastes são evidentes em muitas das regiões da capital mineira, como por exemplo, na região centro-sul da Barragem Santa Lúcia, onde podemos perceber lado a lado, prédios luxuosos e aglomerados paupérrimos.

Fonte: PBH

Destino do lixo nos bairros São Bento, Santa Lúcia e Barragem Santa Lúcia no i t s De ocal L São Bento e Santa Lúcia Barragem (aglomerado)

Coletado por serviço de limpeza

98,65% 54,17%

Coletado em caçamba de serviço de limpeza

0,20% 41,5%

Queimado na propriedade

0,39% 0,79%

Jogado em terreno baldio ou logradouro

0,76% 3,31%

Jogado em rio ou lago

0,03%

Outro destino

0,19%


12 e 13 - Cidades - M. e G.

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Editoras e diagramadoras da página: Gabrielle Costa e Melina Rebuzzi

CIDADE 13

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Victor Scwhaner

O lixo é luxo para alguns Aline Valério, Luciana Ribeiro, Max Valadares e Raquel Alves 4º período “O pessoal dá tudo para uma vizinha que trabalha na Barragem. Se for um móvel, por exemplo, ela identifica uma pessoa que precisa e o próprio interessado vai buscar”.As palavras de Maria Catarina Carvalho dos Santos evidenciam a contradição entre o “morro e o asfalto”. Moradora há 23 anos da parte nobre do Santa Lúcia, ela conta que aquilo que não serve mais para ela é doado a carroceiros e pessoas interessadas. “Uma vez, utilizei o serviço de carroceiro da prefeitura para me livrar de um colchão de molas que não usava mais. Como o objeto não tinha destino definido, ofereci ao carroceiro que foi buscar. Ele aceitou na hora”, ilustra Maria Catarina. Beatriz Carvalho Soares de Gouveia, moradora do São Bento, jogou fora três portas de sucupira que estavam em bom estado durante uma reforma em sua residência. “Coloquei as portas na rua, próximas à lixeira, porque não iria contratar um serviço de caçamba apenas para recolhê-las. Quando retornei ao local vi que as por-

tas já não estavam mais lá, pois tinha certeza de que alguém ia precisar,”explica. Ela reconhece que esta foi a única vez em que agiu dessa forma, pois sempre doa objetos ou aciona o serviço de coleta a domicílio. Reciclagem A reciclagem e a coleta seletiva são as melhores formas de resolver a questão do lixo urbano - um dos maiores problemas do planeta. Alguns moradores do São Bento, ao invés de jogarem fora aquilo que não é útil para eles e que pode ser reciclado, estão preferindo separar os materiais ou doá-los para catadores ou carroceiros. É o caso de Henrique Rosseti, engenheiro elétrico. Morador da região, ele afirma que tem o hábito de juntar materiais recicláveis em sua casa.“Aqui em casa, quando eu faço uma festa, junto todas as latinhas e chamo um carroceiro para vir buscar. O mesmo faço com jornais e papéis”, acentua. Ele conta que quando faz uma reforma em casa, doa os móveis que não utilizará mais, bem como os materiais de construção. A moradora do bairro Santo Antônio (que também possui uma área de frente à Barragem), Victor Scwhaner

Desigualdade: luxo e pobreza dividem o mesmo espaço na região da barragem

Maria das Graças Ferreira, explica que havia pontos de coleta seletiva no bairro São Bento e no aglomerado e que o projeto não funcionou porque vândalos começaram a depredar os contêineres, de ambos os pontos de coleta, para retirar materiais de dentro deles.“Eles faziam muita sujeira e destruíam os contêineres”, relata. Ela explica que quando os pontos de coleta seletiva foram retirados, os moradores do prédio onde reside tentaram fazer uma coleta seletiva por conta própria esperando algum retorno financeiro, o que não deu certo porque a quantidade de material recolhido era pequena demais.“O pessoal do prédio desanimou quando viu que não estava dando nenhum lucro. Eu participava apenas por uma questão ambiental”, diz. Elza Souza Lima, moradora da parte nobre do Santa Lúcia, opina:“A prática da doação é necessária”. Ela incentiva seus familiares e amigos a não jogarem nada fora.“Nós doamos os utensílios domésticos, roupas usadas e brinquedos para instituições de caridade, caseiros de sítios e parentes dos empregados do prédio. Essas coisas não jogamos no lixo.Quando trocamos algum móvel também doamos”, finaliza a moradora.

“O pessoal dá tudo para uma vizinha que trabalha na Barragem. Se for um móvel, por exemplo, ela identifica uma pessoa que precisa e o próprio interessado vai buscar” Maria Catarina, moradora do bairro São Bento há 23 anos

Violência evidencia a desigualdade Aline Valério, Isabella Antunes, Luciana Ribeiro, Max Valadares, Raquel Alves, Rosáurea Patrocínio e Tathiana Mendes 4º período As contradições observadas na região da Barragem Santa Lúcia passam ainda pela questão da segurança. Moradores de ambos os lados sofrem com a violência e se protegem como podem. Enquanto de um lado os moradores protegem suas casas com muros altos, cercas elétricas, circuitos internos de tv e vigias, do outro os moradores convivem com a violência dia-a-dia sem nenhum desses aparatos. Ronaldo Alves Souza, feirante, que trabalha há três anos na região, conta que para evitar os assaltos dos carros dos clientes os comerciantes se juntaram para pagar um vigia.“Nós pagamos um rapaz para tomar conta dos carros dos nossos fregueses. Os carros eram sempre arrombados”, conta. A falta de policiamento é uma reclamação dos moradores de ambos os lados.“Quando chamamos a polícia ela demora muito. Outro dia aconteceu um tiroteio no morro e a polícia demorou muito a vir. Quando eu tinha 12 anos, teve um tiroteio na minha rua. Fui atingida por uma bala e uma amiga que estava comigo morreu”, conta Heleninha Ramalho, 16, moradora do aglomerado. Maria Catarina Carvalho dos Santos, moradora da parte nobre do Santa Lúcia, relata que uma um dos carros que estava estacionado dentro da garagem do prédio onde reside foi atingido por uma bala.“O tiro era destinado a alguém que estava parado na frente do prédio, mas acabou entrando na garagem e atingindo o vidro de um dos carros”, relata. Segundo o Cabo Assis do 22º Batalhão da Polícia Militar, localizado na Barragem Santa Lúcia, a causa da demora da polícia quando solicitada é pela dificuldade de deslocamento das viaturas, já que o batalhão é responsável pelo patrulhamento de uma grande área da região. Outros grandes problemas para polícia são os freqüentes trotes pedindo viaturas, e solicitações para casos desnecessários.


14 -Cidade-Renata Quintão

5/2/05

6:45 PM

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Editora e diagramadora da página: Renata Quintão

14 CIDADE

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Cultura e

Solidariedade

Luisa Gomes

Artistas, produtores e casas de espetáculo investem no Serviço de Assistência Social (Servas) para a doação de itens básicos para instituições socias carentes Camila Lanarchi, Letícia Espinola e Luisa Gomes 5º período O Projeto desenvolvido pelo Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), tem desenvolvido um programa com a parceria de artistas, produtores e casas de espetáculos que vêm ajudando muitas instituições com doações de alimentos, roupas, brinquedos, medicamentos e até mesmo material escolar. O Conselho Metropolitano de Belo Horizonte é um dos beneficiados com a pareceria do programa. Marileide Araújo, coordenadora do Conselho e do programa que recebe doações em troca de meia entrada em casa de espetáculos e shows, afirma que foram arrecadados aproximadamente 3.100 quilos de alimentos não perecíveis com o Servas, durante os meses de outubro de 2004 a março de 2005. O convênio com as instituições cadastradas tem a duração de 3 meses. Entretanto, caso o número de arrecadações seja inferior ao esperado pelo programa, o convênio pode ser prorrogado por até mais 2 meses. Segundo Marileide, ao se pagar meia entrada e doar um quilo de alimento não perecível muita gente pode ser ajudada, mas,

infelizmente, o número de arrecadações acaba sendo inferior ao número de pagantes de meia entrada, pois, com a desculpa de esquecer o alimento em casa, muitas pessoas acabam não levando o pedido, e assim a entidade conveniada fica prejudicada. Segundo a coordenadora do Conselho, é necessária uma maior conscientização da população para aumentar o número de doações, pois a entidade filantrópica fica com apenas 20% das doações e os outros 80% são divididos de maneira igualitária entre o Servas e o Cedec. Dessa forma, caso não haja uma maior participação das pessoas em levar o alimento à casa de espetáculos a entidade pode ser seriamente prejudicada. O Conselho Metropolitano de BH faz parte do programa Solidariedade e Cultura e, em parceira com o Palácio das Artes, estará recebendo os donativos arrecadados durante o pagamento de meio ingresso nos espetáculos apresentados. Entre os dias 13, 14 e 15 de abril aconteceu no Palácio das Artes o “Concertos Tim ”, onde foram doados alimentos que o Conselho Metropolitano de BH irá distribuir para outras entidades filiadas a eles, como a Cidade do meninos São Vicente de Paula e

o Lar das Idosas Clotilde Martins. Marileide disse que esse evento já ocorreu anteriormente e não costuma render uma grande quantidade de donativos, pois as pessoas que vão aos concertos geralmente não levam o alimento e a meia entrada acaba sendo vendida da mesmo forma, ou seja, não há um controle sobre as meias entradas vendidas e os alimentos que foram arrecadados. “É necessário um controle maior sobre a venda dos ingressos que delimitam o desconto em troca do quilo de alimento, pois muitas pessoas vão ao espetáculo, pagam meia entrada, não levam as doações e fica por isso mesmo. Com isso, acabamos perdendo donativos e quem realmente necessita de ajuda não poderá ser amparado. É preciso maior consciência e vontade de ajudar a quem precisa”. indigna-se Marileide.No dia 30 de abril, também no Palácio das Artes aconteceu o show ‘TOM é 10’, do humorista Tom Cavalcanti. Segundo a coordenadora, este é um evento bastante falado e que nas outras edições renderam uma quantidade bastante satisfatória de alimentos. “Esperamos que até o final de abril, outras pessoas possam ser ajudadas” conclui Marileide Araújo.

Luisa Gomes

Programas sociais incentivam a doação de alimentos em casas de espetáculo Luisa Gomes

Incentivo solidário Através de iniciativa própria, artistas, produtores culturais e casas de espetáculos estabeleceram parceria com o Servas, Serviço Voluntário de Assistência Social, com o objetivo da criação do projeto “Solidariedade e Cultura”. O Servas é uma instituição civil, de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como objetivo promover e executar ações sociais em Minas Gerais. O programa foi lançado em agosto de 2003, como um dos desdobramentos do Minas Solidária, que foi instituído em 20 de janeiro de 2003 como resposta à sociedade organizada de Minas Gerais em conseqüência das chuvas que atingiram o estado na época. Os donativos são recolhidos no local dos eventos, pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec-MG) e por voluntários das entidades beneficiadas. Segundo a assessoria de comunicação do Servas, a cada três meses é realizado um rodízio entre as entidades beneficiadas com os donativos.Atualmente, o programa está realizando parceria com o Lar dos Idosos Clotilde Martins da SSPV,o Obras Sociais Senhora da Glória, o Conselho Metropolitano São Vicente de Paula e o Hospital Sofia Feldman. A casa de shows Chevrolet Hall, antigo Marista Hall, sempre incentiva esse tipo de parceria. De acordo com a assessoria de imprensa do local, não cabe a eles fazer a opção pela par-

ticipação no projeto.“Nós procuramos sempre informar aos produtores de eventos a existência do programa, mas isto só pode ser definido por eles”. Além de ceder espaço para a arrecadação dos alimentos, o Chevrolet Hall procura divulgar o “Minas Solidária” em todas as peças gráficas e inclusive no site da empresa. O “Solidariedade e Cultura” já entregou mais de 240 toneladas de alimentos não perecíveis a cerca de 77 entidades sociais em todo o estado de Minas Gerais e a diversas famílias carentes de quase 68 municípios. Segundo o assessor de imprensa do Servas, Marcos Arthur, apenas no ano de 2004 23 municípios foram contemplados e 64 entidades beneficiadas.As primeiras cestas básicas distribuídas pelo “Solidariedade e Cultura” beneficiaram famílias do Norte de Minas,Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Posteriormente, outras regiões foram beneficiadas, ainda em 2003. Hoje as doações são destinadas a todo o estado, e possuem preferência os municípios que sofrem os efeitos da seca e das chuvas, ou que têm baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Entidades sociais de ação permanentes, como creches, instituições de longa permanência para idosos, entre outros, também são beneficiadas pelo Projeto.

População se mobiliza para ajudar projetos

Luisa Gomes

Voluntários recolhem doações que ajudam todo o estado

O Palácio das Artes promoveu, nos dias 13, 14 e 15 de abril o “Concertos Tim”. A abertura do evento, que aconteceu na quarta-feira, 13 de abril, contou com a participação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e do pianista Nelson Freire. O concerto é mais uma parceria com o Programa Solidariedade e Cultura, desenvolvido pelo Servas. Todos os eventos que participam deste projeto contam com a colaboração de um cabo da Polícia Militar e uma voluntária de uma entidade beneficente, que fazem a coleta dos donativos durante a entrada nos espetáculos. Neste evento, a instituição beneficiada foi a Cidade dos Meninos São Vicente de Paula, que contou com o apoio da voluntária Miriam dos Santos. O cabo da PM, Carlos Alberto Nascimento, também participou da arrecadação. Segundo ele, os donativos recolhidos são enviados para a Defesa Civil, onde são distribuídos para a população carente em todo o estado de Minas Gerais. A aposentada Ana Maria Camargo, de 62 anos, sempre freqüenta espetáculos culturais deste tipo. “Além de estar colaborando com pessoas menos favorecidas, ainda tenho a possibilidade de ir mais vezes em eventos culturais, por estar pagando um preço mais acessível”, declara.

Infelizmente, o programa ainda não possui uma fiscalização mais rígida. Muitas pessoas que recebem o desconto no ingresso acabam não levando os alimentos, visto que não existe um controle na entrada. A comerciante Maria Antônia Pinheiro, de 47 anos, não entrega suas doações com freqüência. Desde que percebeu a falta de conferência, ela não possui mais esta preocupação. Um passo fundamental para o sucesso do programa é o apoio por parte da população. Interessados em apoiar o Programa ‘Solidariedade e Cultura’ podem contribuir de duas formas: por meio da doação de alimentos, para o público em geral, ou da adesão ao Projeto, para produtores. O Programa conta com a colaboração do público dos espetáculos e eventos culturais participantes da iniciativa, que têm o beneficio do desconto. Doações avulsas de alimentos não-perecíveis e itens de primeira necessidade podem ser efetuadas diretamente ao Servas ou ao Cedec-MG, por intermédio do Minas Solidária. Produtores que estiverem interessados em aderir à iniciativa, devem ser filiados às entidades parceiras e preencher o termo de adesão, que deve ser entregue ao Servas no prazo máximo de 15 dias antes da realização do espetáculo.


15 -Esportes- Frederico Cadar

5/2/05

12:08 PM

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Editor e diagramador da página: Frederico Cadar

ESPORTE 15 Minas se reforça para o Brasileirão O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Atlético e Cruzeiro correm atrás de reforços para qualificar seus elencos para o campeonato Carlos Augusto Macedo e Vinicius Azevedo 6º periodo Depois de uma fraca campanha no campeonato brasileiro de 2004,Atlético e Cruzeiro reforçam seus elencos para brigar pelas primeiras posições na competição mais importante do futebol brasileiro.Os diretores dos clubes mineiros se empenham ao máximo para buscar jogadores de qualidade que possam apresentar um futebol de alto nível. A diretoria cruzeirense reforça a equipe celeste e espera retomar as vitórias. Com 12 reforços até o momento, entre eles o lateral Athirson, o zagueiro Argel, o volante Fabio Santos,o meia Lopes.Para o torcedor Renato Corradi,21 anos,o Cruzeiro tem plenas condições de lutar pelo título.“O futebol está nivelado por baixo, com poucas equipes de nível técnico bom.Acredito que o Cruzeiro tem condições de buscar o título”,diz o o torcedor. O balconista Michel Faria, 25 anos, pensa diferente:“É preciso que o Cruzeiro contrate mais quatro reforços para que entre no campeonato com condições de disputar o título”. Já o Atlético que, no ano passado,lutou contra o rebaixamento, espera agora apagar a imagem negativa que foi deixada para os torcedores.Segundo o torcedor Carlos Magno, 18 anos, o galo tem que melhorar muito se quiser conquistar o título brasileiro.

“O time ainda é muito fraco. Uma equipe que fica em quarto lugar no campeonato mineiro não tem condições de disputar o campeonato brasileiro que é muito difícil”afirma o torcedor. Os destaques entre os 11 reforços do time atleticano para a temporada 2005 são os retornos dos ídolos Euller e Marques.“Eles vão dar mais qualidade ao ataque atleticano que não foi muito bem ano passado. O galo que terminou na 19ª posição com 53 pontos no último campeonato, espera que neste ano possa brigar pelo titulo junto com o Cruzeiro. Palavra dos clubes Para o assessor de imprensa do Atlético, Dhomênico Bering, a expectativa no clube é a melhor possível,“Toda a imprensa nacional dão os clubes de São Paulo como favoritos e ninguém comenta sobre o Galo, que aos poucos vai trabalhando e pode acabar sendo a surpresa do campeonato. O clube possui um bom elenco e com os possíveis reforços vai surpreender e superar muitos favoritos”. Para Marcone Barbosa assessor do Cruzeiro, o objetivo celeste é conquistar o título nacional.“O clube tem um bom grupo de jogadores, tem um bom treinador e uma das melhores, senão a melhor estrutura do Brasil, o que nos credencia como um dos favoritos ao título”.

Arquivo O Ponto

Terceiro título está na mira dos mineiros O futebol de Minas Gerais possui dois títulos do campeonato brasileiro, o primeiro conquistado em 1971 com o Atlético vencendo o Botafogo no Maracanã e se tornando o primeiro campeão brasileiro.A segunda conquista mineira na competição veio 32 anos depois com o Cruzeiro vencendo o campeonato brasileiro de 2003, ano em que a equipe celeste conquistou a tríplice coroa. Mesmo com apenas duas conquistas nacionais, as equipes mineiras têm bom retrospecto na competição. O Atlético foi vice-campeão nos anos de 1977,1982 e 1999, e ficando entre os quatro primeiros em algumas oportunidades. Já o Cruzeiro ficou em segundo lugar nas edições de 1974, 1975 e 1998 e chegando às semi-finais em várias vezes. A 34ª edição do campeonato brasileiro, que teve início no dia 23 de abril, conta com a presença de 22 equipes, no sistema de pontos corridos, sendo que os quatro primeiros tem vaga garantida na taça libertadores e os quatro últimos colocados da competição serão rebaixadas para série B do próximo ano.

Times mineiros estão otimistas para a disputa do Campeonato Brasileiro

Pra quem não é informado, tudo pode dar errado.

Fa t o s, eve n t o s c u l t u r a i s, c u r i o s i d a d e s, n o t í c i a s d a c i d a d e, d o p a í s e d o m u n d o. N o j o r n a l O Ponto, você encontra tudo isso e análise sobre os assuntos que mobilizam a opinião pública. S e vo c ê q u e r s e r u m c o m u n i c a d o r s o c i a l d e o l h o n o p r e s e n t e e s i n t o n i z a d o c o m o f u t u r o, vo c ê p r e c i s a l e r O Po n t o.


16-cultura - Marcelo Carvalho

5/2/05

12:05 PM

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Editor e diagramador da página: Marcelo Carvalho

16 CULTURA

O PONTO Belo Horizonte – Abril/2005

Espaços Culturais concentrados na região Sul Arquivo O Ponto

A população que mora em bairros distantes do centro tem poucas escolhas perto de suas casas e precisa se deslocar para a região centro-sul se quiser ir a um show ou apenas se sentir incluída culturalmente Bárbara Maciel, Enzo Menezes e Carlos Lamana 1º período

O Governador do Estado de Minas Gerais, Aécio Neves, anunciou no dia 17 de março, a implantação de um novo espaço cultural para a população. O Circuito Cultural Praça da Liberdade. A iniciativa foi muito bem recebida pela população, uma vez que a área cultural muitas vezes é esquecida pelos governos. O projeto visa beneficiar toda a população, mas privilegia, principalmente, os moradores da região centro-sul da cidade, local onde o circuito será implantado. Para Maria de Fátima da Silva, secretária da Diretoria de Atuação Estratégica do Hemominas e moradora do bairro Santa Inês na região leste de Belo Horizonte, reclama da falta de opções de lazer nas proximidades de sua casa.“Geralmente tenho que pegar uma hora de ônibus para poder ir a um bom cinema”, afirmou.A idéia da concentração de espaços culturais agradou à Maria de Fátima.“É uma forma de valorizar o que a cidade tem de bonito e que era usado para uma função que a população não conhece” alegou em relação ao Circuito Cultural da Praça da Liberdade. A concentração na parte centro-sul da capital é evidente.A região da Savassi, Centro e Sul por exemplo, abriga dez cinemas, enquanto que há apenas outros cinco espalhados pelo resto da cidade. As maiores casas de shows, teatros, alguns shoppings e a maioria dos centros culturais também se encontram nessa região, enquanto outras, como a Norte e a Noroeste não contam com a mesma disponibilidade. Esse é um grave problema que foi observado entre os moradores das áreas menos favorecidas da região metropolitana de Belo Horizonte. Habitantes de algumas dessas áreas reclamam da falta de opções culturais.Para Sirlene Braga que mora em Santa Luzia região me-

tropolitana de BH, não possui muito contato com eventos culturais.“É cansativo pra mim trabalhar o dia inteiro e pegar condução para longe para poder assistir a uma peça de teatro. Não que eu não gostaria” alegou a Sirlene. Apesar da indisponibilidade de espaços culturais em seu bairro, Sirlene não pensa em fazer reivindicações para mudar esse tipo de situação. Ela afirma ser difícil a prefeitura fazer algo em relação a isso. Apesar dos vários programas voltados para a expansão cultural, ela acha insuficiente para incentivar a população a participar de eventos culturais. De acordo com Viviane Cipriano, auxiliar de biblioteca do Espaço Cidadão Liberalino de Oliveira, na Pedreira Prado Lopes, a comunidade depende de centros comunitários como o que ela trabalha para desenvolver atividades culturais. O espaço, que funciona há seis anos e conta com verba municipal para se manter, atende diariamente em torno de 100 pessoas de todas as faixas etárias em diversas atividades. O espaço possui cinemateca, brinquedoteca para as crianças e atividades com grafite para os jovens, além de um grupo de 3ª idade.A biblioteca também serve de referência para a comunidade, mas precisa ser regularmente atualizada, contando com doações para ampliar seu acervo. Uma solução seria a democratização dos espaços culturais,oferecendo mais apoio a iniciativas como a da Pedreira Prado Lopes, uma vez que o centro da capital já se encontra saturado. É importante ressaltar a importância do apoio privado para isso, já que o próprio Circuito da Praça da Liberdade conta com investimentos de grandes empresas. Devido às necessidades de demanda de áreas como a saúde e a segurança pública, muitas vezes a cultura é relegada para segundo plano.Atitudes como a criação do Circuito são benéficas nesse sentido, mas excluem boa parte da cidade.

Complexo da Praça da Liberdade abrigará novo Circuito Cultural

Fonte: PBH

Secretarias saem de cena e dão lugar à epaços de integração Espaços culturais existentes

na capital mineira BIBLIOTECAS

Região Centro Sul: 13 Norte: 9 Leste: 7 Outras: 13

CENTROS CULTURAIS

Região Centro Sul: 53 Norte: 7 Leste: 12 Outras: 18

TEATROS

CINEMAS

Região Centro Sul: 12 Centro: 7 Leste: 4 Outras: 4

Região Centro Sul: 7 Centro: 3 Outros: 5

O Circuito Cultural Praça da Liberdade ficará no local onde hoje funcionam as diversas instituições do Governo, como as secretarias, além do próprio Palácio da Liberdade.Toda a área será destinada para museus, cinemas, cafés, restaurantes, livrarias e outros espaços de integração cultural. A mudança do local das atuais secretarias conta com o apoio do prefeito Fernando Pimentel.A atitude é uma iniciativa que contribui para ampliar a cena cultural do Estado e de Belo Horizonte, que ainda possui um número restrito desses espaços, se comparada a outras capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O projeto será dividido em duas fases. Na primeira, os projetos culturais serão implantados a partir da transferência das Secretarias da Fazenda,Educação,Transportes e Obras Públicas e Defesa Social,além da Reitoria da UEMG e do Prédio Rainha da Sucata, e utilizarão também prédios que já estavam na praça, sendo utilizados como espaços culturais, como o Palácio da Liberdade, a Biblioteca Pública Estadual, o Museu Mineiro, e o Arquivo Público Mineiro. A Secretaria da Fazenda vai ser adaptada para sediar a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. O prédio ocupado pela Secretaria de Defesa Social será convertido em bares, cafés, restaurantes e livrarias, com o nome de Centro Cultural Banco do Brasil.A Secretaria da Educação será transformada em um Centro de Referência do Professor.A Secretaria de Transportes e Obras Públicas juntamente com o Centro de Mineralogia, Gemas e Jóias abrigarão centro de cinemas, artes cênicas, música, oficina do livro, além do Espaço Giramundo, o mais representativo grupo de teatro de bonecos do país. O prédio de quatro andares que atualmente é a sede da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) será um museu interativo, onde serão divulgados o conhecimento científico e tecnológico, assemelhando-se à Casa da Ciência, do Rio de Janeiro, e a Estação Ciência de São Paulo.

Na segunda fase do projeto, prédios no entorno da praça também vão entrar no circuito, como os do Ipsemg, Detran-MG, a Secretaria de Cultura e outros imóveis do governo. Para o antigo prédio do BEMGE da praça 7 vão as secreatarias de Defesa Social e a de Ciência e Tecnologia.A Secretaria da Fazenda será em um anexo na rua da Bahia com Gonçalves Dias. O projeto prevê ainda a construção de um Centro Administrativo no lugar do Aeroporto Carlos Prates. Prefeitura investe em cultura A Prefeitura de Belo Horizonte, através da recém-criada Fundação Municipal de Cultura, desenvolve projetos no intuito de descentralizar a cultura na capital. De acordo com Hermany Auxiliadora Vasconcelos, coordenadora do Departamento de Fomento e Desenvolvimento Cultural da Fundação Municipal de Cultura, o apoio à cultura é uma das prioridades da prefeitura Projetos criados como um incentivo à participação civil em eventos culturais são realizados nas nove regiões da capital. Tais eventos, segundo a coordenadora, contribuirão para a revitalização de espaços públicos e potencializarão os equipamentos culturais de Belo Horizonte. Desenvolvido por todas as Secretarias da prefeitura e pela Fundação de Cultura, o programa BH Cidadania foi implantado no ano passado e visa à expansão artística e cultural na capital mineira. O Programa para Jovens; o Programa Arte e Cultura; as Oficinas de Arte e Cultura e a Mostra Anual de Teatro Infantil são projetos que fazem parte da ação cultural exercida pela Prefeitura e pelas Secretarias e objetivam a promoção da sensibilização artística de crianças e jovens.


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