01 - Capa - Carlos e Rafael
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JOVENS, RICOS E
S E T N E U Q N I DEL Violência cresce em locais freqüentados por pessoas da classe média, como algumas escolas particulares e shoppings de regiões ricas de Belo Horizonte. Pais omissos, instituições de ensino em busca do lucro e consumismo são os responsáveis
PAGINAS 8 E 9 Guillermo Tângari
“América” pode incentivar a emigração de brasileiros O movimento de pessoas interessadas em adquirir passaporte na sede da Polícia Federal em Belo Horizonte é grande, como comprovam as enormes filas em frente ao local, no bairro Gutierrez (foto). Boa parte dos interessados chega com um objetivo bem preciso: tentar entrar nos Estados Unidos da América (EUA). Este fato tem contribuído para levantar uma questão que passou a ser objeto de análise por parte de psicólogos,sociólogos e estudiosos da comunicação, e que coloca em pauta o assunto
principal da novela América, da Rede Globo: a imigração para os EUA. Ao tocar tão diretamente no assunto, a novela estaria alertando ou incentivando a prática perigosa de entrar sem visto em território americano? Para muitos, a maneira como a novela mostra a situação, como se desenhasse o mapa para a entrada ilegal, acaba por incentivar esta prática que tem sido combatida pelos governos brasileiro e norteamericano.
[ páginas 10 e 11 ] Isabella Melo
‘PEGAS’ : O Mega Space, em Santa Luzia, região metropolitana de BH, é um dos locais onde são praticadas corridas [ página 13 ] perigosas. No entanto, é um dos divertimentos que mais atraem a juventude dos bairros abastados
América Latina sem espaço na mídia [ página 3 ]
Classe média está cada vez mais pobre [ página 4 ]
PBH lança campanha contra esmolas [ página 5 ]
02 - Opinião - Carlos Fillipe
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Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo
2 OPINIÃO Nos últimos meses, a grande imprensa tem dado muito destaque para a questão da violência entre e com os jovens. O envolvimento com o tráfico de drogas; a formação de "gangs" que se enfrentam nas escolas, boates, nos shoppings e nos próprios bairros onde moram. Nesta edição, o jornal O PONTO procura demonstrar que este tipo de situação até pouco tempo estava associada às classes mais baixas da sociedade e que agora está cada vez mais presente entre os jovens de classe média e no cotidiano de todas as famílias.
Outro assunto desta edição é o aumento muito grande da imigração ilegal, já que muitos brasileiros, devido à falta de perspectivas econômicas do nosso país, são impulsionados pelo sonho de enriquecer e embarcam de forma ilegal para outros países com o objetivo de oferecer o mínimo de conforto para suas famílias. A questão que se levanta é a da novela “América”: será que esta produção da Rede Globo não estaria incentivando a corrida ilegal dos brasileiros para trabalharem nos Estados Unidos?
Imprensa e o caso Desábato-Grafite Paula Caetano 7º período A rivalidade no futebol entre Brasil e Argentina parece aumentar cada vez mais. Mas após o caso Desábato-Grafite (no qual o jogador argentino foi preso ao ofender o jogador brasileiro durante jogo São Paulo contra o Quilmes) pode-se dizer que essa rivalidade atingiu o nível do ridículo. Assim como todos os grupos e comunidades,o futebol tem seus códigos de conduta específicos. Dentreos quais considera-se ofensa em campo, referências à sexualidade, à origem, à raça e até mesmo à mãe do adversário.Portanto, quando o jogador argentino Desábato chamou de “negro de merda” o jogador brasileiro Grafite, teria o mesmo significado se ele o tivesse chamado“brasileiro de merda”.
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É claro que o que aconteceu não foi um caso clássico de racismo. O episódio se insere claramente nas disputas que ocorre em jogos de futebol principalmente ao se tratar de Brasil e Argentina. Mas a questão gira em torno da falta de informação dos comentaristas esportivos sobre seu poder de influenciar a grande massa. Este tipo de comportamento prejudicou as relações entre os países, pois não é exigido desses comentaristas um conhecimento geopolítico ou uma sensibilidade para entender os aspectos maléficos da xenofobia. A falta de conhecimento dos comentaristas faz com que informações equivocadas e recortadas sejam transmitidas aos espectadores como verdadeiras. Por tanto, ao invés de informar eles desinformam. E não a mal pior que a desinformação.
Preconceito é um mal para o futebol Carlos Augusto Macedo 6º período Na segunda-feira, 21 de março, Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, data criada pela ONU foram enviadas cartas aos presidentes da Fifa, UEFA e Real Federação Espanhola de Futebol, nas quais as pessoas pediam medidas concretas para coibir manifestações racistas. Entre essas medidas estão a elevação da punição para torcidas organizadas que agridem jogadores negros e das multas dadas aos clubes – recentemente o La Coruña foi multado em apenas 600 euros (R$ 2.160,00) por insultos de torcedores a Roberto Carlos, do Real Madrid. Os atos racistas em estádios europeus, particularmente na Espanha, se intensificaram nos últimos meses. Já foram vítimas do preconceito os brasileiros
O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Juan e Roque Júnior, do Bayern Leverkusen, e Roberto Carlos, entre outros. O objetivo central é mostrar a indignação causada por esse processo de discriminação e expressar solidariedade às pessoas que sofrem esse preconceito.Mas de que adianta fazer campanhas em TVs e rádios de todo o país e promover uma rede de Diálogos contra o Racismo formada por mais de 40 ONGs, se a sociedade não quiser mudar.Vários “ Desábatos” (jogador do Quilmes, preso por ofença ao Grafite do São Paulo) vão aparecer e vão ficar impunes, pagando multas simbólicas e fazendo com que o nível do futebol brasileiro e internacional se enfraqueçam e percam sua originalidade e humanidade. O preconceito é um atraso para o futebol que é um esporte que deveria unir os povos de diferentes etnias.
A diminuição do poder aquisitivo da classe média influencia no aumento da violência dos jovens?
SIM
NÃO
Fernanda Melo 5º período
A queda do poder aquisitivo da classe média proporciona o aumento da violência e da criminalidade entre jovens que não pertencem às favelas e nem aos subúrbios das cidades. São jovens que freqüentam as melhores escolas e possuem acesso à informação, mesmo assim tornam-se violentos, cometendo atos de desespero e de total perda de valores.A classe média é o segmento da sociedade que mais é esmagado pelos crescentes impostos do país, onde os pobres não possuem condições de pagar e os ricos sonegam.Assim percebem que o padrão de vida que possuíam antes não permanece o mesmo,levando ao descontentamento e à desesperança.A classe média,em geral assalariada,se vê limitada e perdendo seus direitos num país onde os ricos empresários comandam. Precisam pagar a escola dos seus filhos,que a cada ano sofre um aumento absurdo,com o mesmo salário que não é reajustado a anos. Convivem de perto com os altos padrões sociais, seja em festas, nos shoppings ou no círculo de amigos, mas não possuí condições de acompanhar estes padrões,permanecendo sempre à margem do conforto que conhece, mas não consegue ter. Esta situação causa extrema frustração e insegurança,o que leva a classe média a permanecer sempre escondida atrás de máscaras para disfarçar as suas dificuldades financeiras. Não conseguem aceitar os novos padrões. O medo de não corresponderem às expectativas que os cercam os assombra.O pavor de não conseguirem se manter dentro dos padrões habituais os assusta.Vivem lutando pra não serem expirrados pra fora do seu meio social. Assim,o que vemos é o crescimento dos índices de criminalidade envolvendo jovens da classe média. Roubam para comprar drogas e esquecerem suas frustrações,roubam para comprar o tênis da moda, roubam familiares para viajarem com os amigos,matam os pais por desentendimentos banais e por estes não conseguirem dar aquilo que desejam.A solução para este problema é o desapego aos bens materiais, passando a valorizar a vida e o ser, em detrimento do ter, tendo a noção das suas condições reais de vida e não se deixando levar pelos valores midiáticos.
Carlos Fillipe Azevedo 7º período
O aumento da violência entre os jovens da classe média está ligado a diversos fatores e não pode ficar restrito a análise de apenas alguns deles como, por exemplo, a diminuição do poder aquisitivo dos brasileiros. É fundamental refletir sobre as múltiplas causas que podem levar os jovens a procurar o caminho da violência para lidar com os seus conflitos, que além da violência pode estar ligado a outras questões sociais, a perda de valores, de referência, a falta de limite, fatores psíquicos que estão presentes na fase da adolescência, período conturbado em que o jovem busca criar a sua identidade diante da transição da fase da infância para a fase adulta. Essa crise de valores mostra que o tipo de individualismo desenvolvido pelo capitalismo contemporâneo está ligado ao tipo de visão de mundo absolutamente materialista. Os meios de comunicação interferem de forma imperativa ao consumo intenso. O que pode provocar nos jovens uma busca incessante e alienada para se obter os produtos, que na maioria das vezes prometem o bemestar e a felicidade. Muitas vezes o consumo exagerado faz com que o jovem se perca e passa a se tornar o único “objetivo” de sua vida. Outra questão importante é que nessa fase a formação dos grupos é muito comum, e muitas vezes para se integrar nele devem estar enquadrados em certas regras, como por exemplo ter o tênis de tal marca, etc. O que pode vir a aumentar a competição entres os grupos e entre os membros, podendo gerar violência no intuito de se afirmarem diante do outro. Diante disso, percebemos que muitas vezes o adolescente busca, por exemplo, no consumo e na violência, uma forma de se auto-afirmar e de lidar com os conflitos que enfrenta diante de tantas perdas e de decisões que devem tomar para se posicionar diante do mundo.Assim eles se perdem diante desse turbilhão de apelos para o consumo, levando a uma alienação maciça impedindo que eles próprios passem a desenvolver uma auto-crítica , que é fundamental para a tomada de decisão diante da sua vida.
Exclusão começa na infância Lorena Assis e Mariana Cyrne 1º período O ser humano ao nascer recebe da sociedade padrões de “normalidade”.Talvez por comodismo ou até por covardia, o homem aceita tais padrões sem mesmo analisá-los. Essa forma de imposição social gera o preconceito. Nota-se que é desde a infância que a discriminação marca o cotidiano de todas as pessoas. É lamentável que crianças tenham que lidar com problemas “de gente grande”, sofrem rejeições, sem entender ao certo o porquê da existência de tantas restrições e distinções. As instituições de ensino tornam-se palco de várias formas de preconceito.As crianças são rotuladas por apelidos e são excluídas devido a sua cor, religião, altura, peso ou dificuldades de aprendizagem. Entre as meninas, a beleza física e a moda, são fatores que colocam de lado aquelas que não se enquadram no grupo.Até mesmo a formação de uma fila em ordem de tamanho, na qual o maior sempre fica por último,pode gerar uma sensação de exclusão. Para a cabeça de uma criança,a idéia de ficar por último pode ser algo constrangedor. Algumas críticas são extremamente destrutivas para algumas crianças devido à sua inocência e imaturidade para absorvê-las. Seu rendimento escolar cai e são tomadas pelo desânimo, podendo perder a vontade de brincar, de conviver socialmente e tornando-se agressivas e amarguradas. Psicólogos afirmam que tais exclusões podem gerar traumas e resultar em adultos infelizes que trazem consigo uma carga de preconceito que acaba por se disseminar, formando assim um ciclo vicioso. A sociedade precisa ser mais maleável e compreender a necessidade de aprendermos a conviver,respeitando as diferenças.O preconceito destrói a auto-estima,distorce a personalidade e fere os preceitos dos direitos humanos de igualdade.
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Coordenação Editorial: Prof. Mário Geraldo Rocha da Fonseca (Jornalismo Impresso) e Prof. Leovegildo Pereira Leal (Redação Modelo) Conselho Editorial Profª Ana Paola Valente (Edição), Prof. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy (Publicidade), Prof. Rui Cezar (Fotografia) e Profª. Adriana Xavier (Infografia) Monitores do Jornalismo Impresso: Carlos Fillipe Azevedo, Rafael Werkema e Renata Quintão Monitores da Redação Modelo: Fernanda Melo e Pedro Henrique Penido
Monitores da Produção Gráfica: Déborah Arduini e Fernando Almada Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda: Isabela Rajão e Renato Meireles Projeto Gráfico: Prof. José Augusto da Silveira Filho
Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro BH/MG
Ilustração e charge: Juliano Mendonça
Professor Pedro Arthur Victer Presidente do Conselho Curador
Tiragem desta edição: 6000 exemplares
Profª. Romilda Raquel Soares da Silva Reitora da Universidade Fumec
Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127 e-mail: oponto@fch.fumec.br
Prof. Amâncio Fernandes Caixeta Diretor Geral da FCH/Fumec Profª. Audineta Alves de Carvalho de Castro Diretora de Ensino Prof. Benjamin Alves Rabello Filho Diretor Administrativo e Financeiro Prof. Alexandre Freire Coordenador do Curso de Comunicação Social
03 - Política - Marco Astoni
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Editor e diagramador da página: Marco Antônio Astoni
POLÍTICA 3 Equador, uma história de crises O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Deposição de Lucio Gutiérrez é a terceira no país nos últimos oito anos; OEA promete ajuda Débora Resende, Lorena Campolina, Marcela Ziviani e Mayra Abranches 4º período Após vários dias de violentos protestos populares, resultando em centenas de feridos e muitos manifestantes detidos, o presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, foi deposto pelo parlamento sob alegação de “abandono de cargo. Como tem sido freqüente na recente história da América Latina,a população da capital equatoriana, principalmente a classe média, saiu às ruas de Quito, de forma explosiva exigindo a deposição do presidente Lucio Gutiérrez,lembrando o ocorrido na Argentina em 2001,que resultou na queda de Fernando De La Rua e na Bolívia em 2004, com a fuga do presidente Sanchez de Lozada. Entre os motivos apontados para tais manifestações que, resultaram na crise política dos três países latinos americanos,destaca-se a grave situação econômica que afeta diretamente a população,resultado da aplicação da política neoliberal e da corrupção dos governos. A situação instável do Equador, que em menos de uma década teve três presidentes depostos por protestos populares,Abdalá Bucarám (1997), Jamil Mahuad (2000) e o último, Lucio Gutiérrez, viveu recentemente semanas de crise e de incerteza política e social. Gutiérrez foi afastado pelo parlamento com ampla maioria dos votos, e o vice-presidente Alfredo Palácio nomeado para o cargo. Lucio Gutiérrez, ex-militar,
eleito com amplo apoio popular, assumiu a presidência em janeiro de 2003 com promessa de fazer uma política contrária ao imperialismo norte americano, reivindicando o rompimento dos acordos com Fundo Monetário Internacional (FMI) que estava levando a população do Equador, a um dos índices mais baixos de desenvolvimento humano das Américas. No entanto, essas promessas foram quebradas uma a uma, logo nos primeiros meses de seu governo, implementando um plano econômico neoliberal no país e dolarizando a economia. Além disso, Gutiérrez declarou ser “o principal aliado” de George W. Bush na América Latina. No Equador, há uma base militar em Manta, estabelecida pelo governo norte-americano em parceria com presidentes anteriores. Uma das bandeiras da população equatoriana era que Gutierrez colocasse fim na operação da base militar. E o que fez o presidente? Nada. Aliás, submeteu-se ã política norte americana, não só na economia, mas também dando continuidade à base militar de Manta. Com isso, a situação econômica e social do Equador, agravou-se. O país tornou-se ainda mais dependente dos EUA, que está sempre atento ao abundante petróleo encontrado na costa equatoriana e à polêmica base militar, que serve como centro de suas operações na Amazônia. A Organização dos Estados Americanos (OEA) prometeu apoiar os esforços equatorianos para fortalecer suas instituições públicas. O chefe da delegação
equatoriana do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), Blasco Peñaherrera, pediu a aplicação da Carta Democrática Interamericana para solucionar a crise do país. E com base nessa carta, restaurar as instituições democráticas e a constitucionalidade no Equador. Uma missão enviada ao Equador pela Organização dos Estados Americanos (OEA) recomendou que o país sul-americano inicie urgentemente um diálogo nacional para resolver as crises políticas que se sucedem desde 1997 e promova o pluralismo e a tolerância mútua. Porém, o governo equatoriano rejeitou o relatório da OEA, que manifesta preocupações sobre sua estabilidade política e inclui propostas sobre como fortalecer sua democracia. Economia dolarizada A professora de Direito Internacional da Universidade Fumec, Flávia de Ávila, explica que “uma dos principais objetivos da OEA é a defesa do continente americano” mas ressalta que de maneira geral “há uma pressão muito grande da OEA para que haja processos democráticos dentro da América”. Assim, desde a adoção do dólar como moeda nacional pelo Equador, no ano 2000, dois presidentes eleitos já foram destituídos, a democracia encontra-se comprometida, o Estado de direito fragilizado e a desesperança agrava-se na alma do povo equatoriano, que vive sem perspectivas de um futuro melhor.
América Latina fora da pauta Bruno Freitas
Muito se discute quanto ao tratamento da imprensa brasileira dado aos assuntos políticos e econômicos dos países da América Latina. Segundo vários especialistas, os temas latinoamericanos não são considerados prioritários e não há uma continuidade na cobertura. Os assuntos internacionais noticiados na imprensa brasileira ganham espaço pela importância que tem em si ou então pelo interesse dos Estados Unidos e Europa. Sendo assim, os jornais estão sempre sendo surpreendidos pelas crises nesses países. Para o jornalista da editoria internacional do Jornal Estado de Minas,José Carlos Santana,a imprensa não valoriza os acontecimentos latinos americanos devido a vários fatores:“O primeiro deles é porque não temos correspondentes nos países latino-americanos,e,assim,ficamos reféns das agências de notícias que, por sua vez, não priorizam os assuntos do continente”. Outros problemas são conseqüência dessa cobertura descontínua dos fatos. Para Santana, a questão é que manter correspondentes custa muito.“Não temos condições de manter correspondentes no exterior, ou,pelo menos,nos países mais importantes da América Latina. E as agências, todas norte-americanas e européias,não se interessam pelo que acontece aqui embaixo,entre Atlântico e Pacífico”. No entanto, as agências internacionais de notícias criam um elo cada vez mais forte com a mídia. Isso pode explicar o fato de as atenções estarem geralmente voltadas para a Europa e Estados Unidos, onde as agências de maior influência são filiados. “Se não podemos ter correspondentes, temos de usar as agências, e acreditar que elas nos oferecem um produto bem acabado e de boa qualidade: a retratação do fa-
to, acontecido onde não estamos presentes, com nossos repórteres” conclui Santana. Protestos populares A queda do presidente do Equador, Lucio Gutierrez é a décima interrupção de um mandato constitucional nos últimos 16 anos na América do Sul. No Brasil, ocorreu com Fernando Collor de Melo no Brasil. Em ambos os casos, a população foi às ruas para pedir a deposição dos presidentes. Entretanto, há alguns aspectos diferenciados entre a deposição no Brasil e no Equador. Após 31 meses de gestão, o primeiro presidente brasileiro eleito por voto popular, Collor , renunciou o cargo para evitar seu impeachment que ocorreu sem derramamento de sangue, golpe militar ou qualquer tipo de violência. Foi um processo pela via legal e demonstrou amadurecimento do povo e dos políticos brasileiros, caso considerado excepcional para a América Latina. Collor pregava a moralidade, combate à corrupção, porém em seu governo foram constatados muitos casos de corrupção. Lucio Gutierrez foi destituído pelo congresso por 62 votos a zero. Para evitar um longo processo de impeachment, os parlamentares decretaram “abandono de cargo”. Diferentemente do que ocorreu no Brasil, os equatorianos saíram às ruas em intenso protesto, onde polícia teve de reprimir alguns manifestantes. No Brasil, estudantes foram as ruas pedir pelo impeachment de Collor, em uma mobilização pacífica.Em 2006, seis dos 12 países da América do Sul tem eleições presidências .Além de Brasil, o Peru, a Colômbia, a Venezuela, o Chile e o Equador.
Brasil e Argetina: Relações estremecidas?
José Santana: faltam correspondentes na América Latina
Há algum tempo as relações entre Brasil e Argentina não caminham bem. Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner estão longe de ser grandes companheiros. Enquanto o Brasil busca influências internacionais, a Argentina se incomoda com essa situação em meio a sua crise, reclamando da agressiva política externa brasileira e aproveitando isso para ganhar apoio popular. Um dos elementos que contribuíram para a perspectiva de um cenário de disputa política entre Brasil e Argentina é a influência entre a relação entre os dois países exerce sobre os problemas internos dos vizinhos. O esforço das diplomacias dos dois países tem sido evitar que a antipatia mútua interfira no projeto de integração política. Entretanto, a xenofobia entre Brasil e Argentina cresce à medida que o modelo globalizado separa os homens entre poderosos e abastados, pobres e excluídos. E a tendência é aumentar com o crescimento da nossa economia comparada à dos argentinos. Entre tais nações latinas, o preconceito vem
operando em várias dimensões. Apesar de estar quebrada financeiramente, a Argentina não aceita ser tratada como uma nação irrelevante. Recentemente, os argentinos avisaram que são contra a candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, uma obsessão dos formuladores da política externa brasileira.Reclamaram também da decisão do Brasil de dar asilo e resgatar o presidente deposto do Equador, Lucio Gutierrez, sem consultá-los. O Brasil não apoiou quando Argentina deu calote e brigou com o FMI. Leandro Desábato, jogador argentino é preso no Brasil por preconceito e discriminação contra o jogador Grafite do São Paulo. Argentina queixa de que as condições de financiamento e facilidades fiscais do Brasil provocam migração de indústrias e desestimulam a instalação de empresas no país. Dessa forma, a história das relações entre esses dois países, segue um princípio básico:toda vez que a economia de um deles supera a do outro, começam a surgir os atritos diplomáticos.
04 - Economia-Tiago Nagib
6/6/05
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Editor e diagramador da página:Tiago Nagib
4 ECONOMIA Queda da classe média é assustadora
O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Poder aquisitivo do trabalhador brasileiro vem despencando após longos períodos de crise Cristiano Fares, Felipe Torres e Rubens Marra 3º período A constatação que se faz hoje é que classe média brasileira está mais pobre. A queda de seu poder aquisitivo está diretamente relacionada com a modificação da estrutura capitalista neoliberal dos anos 90. O Plano Real foi implantado em junho de 1994 com três objetivos claramente definidos: o equilíbrio das contas nacionais, uma unidade referencial de valor (URV) e a contenção da inflação por meio da substituição da moeda. Para colocar o plano em ação, o então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso optou por uma política econômica fundada na atração do capital externo para financiar o déficit público brasileiro. O superávit primário foi o caminho escolhido para o pagamento da dívida brasileira. No entanto, os custos sociais desta política foram enormes. O aumento da taxa de juros gerou endividamentos, queda do poder aquisitivo da população e principalmente da classe média brasileira. O funcionalismo público que era a base tradicional da classe média no Brasil, começou a sofrer intervenções drásticas através das privatizações que mudaram a lógica de funcionamento de muitos setores do país. O desemprego ganhou então grandes proporções. Pela primeira vez a
classe média foi a principal afetada com as manobras econômicas do Ministério da Fazenda. A dinâmica trabalhista e industrial passou por um novo processo organizacional. Reflexos do neoliberalismo A nova estrutura industrial permeou a flexibilização e a automação do trabalho fazendo com que o trabalho formal fosse afetado pela informalidade sem garantias. Os investimentos em maquinários e tecnologia foram constantes,mas esqueceram-se de investir no social.Com isso,o desemprego cresceu e a força sindical perdeu muito a sua potencialidade.Trabalhadores ficaram sem referências para reivindicarem seus direitos, resultando em completa falta de apoio.Para o professor de economia da PUC Minas, Carlos Eduardo Flores a situação fugiu do controle e facilitou a propagação do sub-emprego:“Esta modificação da estrutura capitalista, abriu caminho para a subcontratação de empregados,o que é um desrespeito à legislação trabalhista.” Com a ascensão de Fernando Henrique a Presidência da República,a situação piorou.Em seus oitos anos de governo,o viés da atração de capital estrangeiro foi posto em prática.O capital externo deveria encarregar-se do déficit público brasileiro.A política econômica de superávit para contenção da dívida foi privilegiada.Daí ocorreu um forte au-
mento dos juros.A classe média encontrou-se em uma situação de bloqueio indireto das compras à vista, dando lugar ao crédito. Muitos se endividaram.“O consumo não caiu com a queda do poder aquisitivo da população, pois as compras no crédito substituíram as compras à vista.”, salienta Carlos Flores. O funcionalismo público sofreu com a política econômica adotada pelo governo FHC. Pri-
vatizações foram realizadas e muitas medidas de contenção de custos como demissões de funcionários e cortes salariais foram implantadas. Os salários foram gradativamente fixados e o princípio do arrocho salarial se estabeleceu. Isso em um período de desvalorização da moeda que levou a um crescimento da inflação. Maria das Graças Ferreira Bittencourt é funcionária pública aposentada pelo IPSEMG. Ela
garante que seu poder de compra diminuiu drasticamente depois do início do Plano Real: “Desde 1994 não temos aumento e a inflação aumentou muito. Nosso poder de compra já não é o mesmo”. Ela ainda destaca a perda de direitos adquiridos ao longo do tempo: “Perdemos o plano quinquenário (prêmio pelo tempo de serviço), as férias prêmio e muitas outras conquistas”. Os funcio-
nários públicos sempre se apoiaram nestas vantagens para sua manutenção familiar e a implementação de novos negócios, como pequenas, médias empresas. Com os cortes, criou-se um grande número de desempregados que ficaram desamparados, sem condições de reerguerem sua renda e vida. O trabalho informal se desenvolveu de forma impressionante. Com isso a classe média sofre assustadoramente.
Bruno Figueiredo
Dólar em baixa atinge empresas e consumidores Tatiana Soureaux
Vinícius Lacerda 2º período
Manifestantes protestam em Buenos Aires contra o “corralito” durante a crise em 2002
Fenômeno de empobrecimento também aconteceu no exterior Não foi somente no Brasil que o fenômeno da diminuição do poder aquisitivo da classe média se manifestou nos últimos dez anos. Muitos países da América Latina e do Leste Europeu também sofreram com o mesmo processo. A América Latina já vem de um processo históricoeconômico de fuga de capitais e de ajustes econômicos. Reformas baseadas na lógica capitalista internacional, imposta pelos países desenvolvidos, como as privatizações, por exemplo. Já os países do Leste Europeu, passaram por uma transição de sistema, do Comunismo para o Capitalismo, e com isso tiveram de reestruturar toda sua situação política e econômica. No continente americano, a Argentina foi um dos casos mais evidentes. Depois de um fracassado plano econômico baseado na paridade
do peso em relaçào ao dólar, o país passou por um grande período de recessão. Ocorreram sucessivos aumentos do desempr ego, reduções dos salários e quebra das pequenas empresas.“O governo De la Rúa tentou representar o rosto da classe média maltratada por Menem, mas não se visualizou outra saída e a Argentina continuou a política de contenção dos gastos públicos”, destaca o professor argentino, de Economia Política e Relações Internacionais da PUC Belo Horizonte, Javier Vadell.A contenção de gastos públicos na Argentina continua. O Equador também enfrenta semelhante crise. Em 2000 o país também dolarizou sua economia. A política do cambio fixo não deu certo e o desemprego e a perda do poder aquisitivo por parte de sua população foram expressivos.Vá-
rias manifestações públicas aconteceram e no dia 20 de Abril deste ano o seu presidente Lucio Gutiérrez foi destituído. A mudança de regime no leste europeu, sobretudo na Polônia, do comunismo para o capitalismo causou um grande impacto social. Boa parte da população não se deu por satisfeita e não se acostumou com o novo sistema.A abertura para o capital privado em vários setores da economia trouxe consigo o desemprego, o aumento das desigualdades sociais e a perda da qualidade de vida da classe média. As pessoas estão se readaptando, buscando soluções. É como explica o Cônsul Honorário da Polônia em Belo Horizonte, Sr. Jerzy Markiewicz:“Antes o Estado promovia emprego, agora, as pessoas têm que procurar emprego e sobreviver”.
Já faz um ano que o dólar vem se desvalorizando pouco a pouco e o consumidor brasileiro, juntamente com grande parte das empresas, têm sentido os resultados no bolso. Cresce cada vez mais cresce o número de viagens para o exterior, compras de eletrodomésticos,quitação de dívidas atreladas ao dólar e investimentos. Nas últimas semanas o dólar tem sido cotado a níveis inferiores de meados de 2002. Esta constante valorização do real justifica a busca crescente para viagens ao exterior, que em alguns casos pode sair mais barata que uma viagem para dentro do Brasil. Espera-se um crescimento de 15% dos pacotes internacionais vendidos em julho em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Segundo José Carlos Vieira, presidente da regional mineira da Abav-MG (Associação Brasileira das Agências de Viagens), esperava-se um aumento da procura de 10% apenas em viagens para o exterior. No entanto, com esta crescente queda do dólar espera-se agora um aumento de 30%. Com a desvalorização do dólar, os preços dos eletrodomésticos associados a moeda norte-americana vem caindo. Esta queda possibilita uma maior grau de acesso do consumidor para estes produtos através de preços mais baixos. Grande parte das empresas brasileiras também celebram o novo patamar do dólar, pois estas possuem hoje um poder maior quitar suas dívidas em moeda extrageira. Anteriormente, as dívidas eram prolongadas e isto gerava grandes juros, impossibilitando maiores investimentos. Este quadro passa por modificações com a queda do dólar.Tal fato pode ser com-
Agência de turismo da Face lucra com a queda cambial
provado através da pesquisa feita pela consultoria Economática, que pesquisou 80 empresas, e conclui que houve um crescimento de 55% do lucro entre janeiro e março deste ano em comparação com o ano anterior para essas empresas. Isso viabilizou a diminuição em R$ 9 bilhões de suas dívidaso no primeiro trimestre desse ano. Com o dólar baixo, muitas pessoas se arriscam em investir. No entanto, analistas financeiros crêem que tal investimento pode torna-se demasiado perigoso, uma vez que a taxa cambial tende a permanecer no processo atual. Porém, com a política atual, estas taxas devem permanecer constantes ou elevarem-
se. Por isto, investir nos fundos cambiais é conveniente apenas para pessoas que tem dívidas atreladas a moeda norte-americana ou para aqueles que farão uma viagem ao exterior. É imprescindível assinalar que a desvalorização do dólar não apresenta apenas características positivas.A desvalorização resultaria em perda de competitividade de produtos brasileiros no exterior e um aumento no índice de inflação, o que tornaria o país inseguro para investimentos e causar danos diretos no consumo. Por precaução é essencial que hajapolíticas de proteção para que a economia nacional não seja surpreendida.
05 -Cidades - Vinicius
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Editor e diagramador da página: Vinícius Cavalcanti
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O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Prefeitura combate esmolas Campanha que já é modelo nas grandes capitais do país será adotada em Belo Horizonte Carolina Ribeiro Lara
Isabela Antunes, Joseane Oliveira, Rosaurea Patrocínio e Tatiana Mendes 4º período Em praticamente todo semáforo de Belo Horizonte, a cena é quase sempre a mesma: crianças pedindo esmolas, fazendo malabarismos, vendendo guloseimas, ou simplesmente sendo exploradas pelos próprios pais para conseguirem um pouco de dinheiro. Se essa situação é apenas um incômodo para os motoristas, por trás dela há um grande problema social. A Prefeitura de Belo Horizonte tentará sanar esse problema, através de uma campanha para convencer a população a não dar esmolas as pessoas nas vias públicas, alegando que lugar de criança é na escola e não nas ruas mendigando ou trabalhando. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, a Prefeitura já mantém um programa semelhante, através da Secretaria Regional Centro-Sul, intitulado “Dar esmola só piora”, e adverte a população de que o fato de dar esmolas só alimenta a mendicância, já que dia após dia essas pessoas estarão novamente na rua pedindo esmolas. A campanha também visa conscientizar quem quiser ser solidário, para que contribua com as associações e entidades filantrópicas cadastradas no conselho municipal de assistência social ao invés de dar dinheiro em espécie a essas pessoas, que poderiam fazer um proveito negativo. O atual programa é para reprimir a mendicância no hipercentro da cidade e região, e a intenção agora é divulgar a idéia a toda a população que
ainda está bem desavisado do que está sendo proposto, desregionalizar a campanha e centralizar o serviço de todas as regionais da cidade com esse mesmo propósito. Segundo Marcos Aníbal, coordenador do programa Miguilim, mantido pela Prefeitura de Belo Horizonte através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, dar esmolas, sopão, pão ou lanche aos moradores de rua, são atitudes paliativas, que pioram esse quadro de mendicância. “Queremos educar as crianças. Essas atitudes imediatistas não levam a nada. Quando é que essa pessoa vai ter a oportunidade de receber uma ajuda de verdade?”, questiona.Voltado para o atendimento e assistência às crianças e adolescentes com trajetória de vida nas ruas, desde 1993 o programa Miguilim faz da abordagem das crianças na rua, até a inclusão dessas crianças na escola formal e dos adolescentes em cursos profissionalizantes ou no primeiro emprego. Há quem defenda a intenção da prefeitura, mas muitas pessoas e até mesmo entidades que trabalham com crianças de rua são contra. Segundo a assessoria da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, essa campanha é absurda, já que o cidadão tem livre arbítrio para decidir o que fazer com seu dinheiro.A falta de esmola precisa ser substituída por políticas públicas efetivas, que garantam trabalho e moradia a essas pessoas.O governo que já foi muito criticado pela falta de iniciativas em pról do cidadão,vai buscando nessa campanha o que pode significar o fim de um dos maiores problemas da cidade, a esmola presente em toda a região de Belo Horizonte.
Prefeitura de Belo Horizonte tenta sanar problema de pedintes através de campanha educativa
Medida da prefeitura gera polêmica e população parece incerta sobre soluções
Comerciantes reclamam de mendigos
Carolina Ribeiro Lara
Levar um filho para traba- blicas na questão”, enfatiza. O lhar na rua pode parecer absur- ideal seria se as pessoas se comdo, mas é a difícil realidade de prometessem a ajudar fundaalguns dos 200 mil desempre- ções adequadas e confiáveis de gados da região metropolitana assistência às famílias carentes, de Belo Horizonte, que resis- acompanhando todo o procestem vivendo de empregos in- so e verificando o que é feito formais e buscam nessa situa- com o dinheiro doado.“Se elas ção a única e desesperada alter- estão na rua é por necessidade”, nativa de sobrevivência. Na si- disse Irmã Candice. tuação de miséMas há quem ria em que “Uma prefira não dar grande parte da esmolas e vê população vive, campanha na campanha fica difícil negar como esta da Prefeitura ajuda ao próxiuma solução mo. Para enti- não resolve para erradicar, dades que a questão de vez, essa laapoiam a causa mentável sidas pessoas que social.” tuação de vivem nas ruas, mendicância. como a Pastoral “ eu não dou de Rua, entida- Irmã Candice, coordenadora esmolas; prefide ligada à Ar- da Pastoral de Rua da arqui- ro doar para a quidiocese de diocese de Belo Horizonte. igreja a ajudar Belo Horizonas pessoas que te, uma campanha como esta precisam”, disse a pedagoga e que a Prefeitura irá lançar é funcionária pública Márcia Peconsiderada complicada, já que reira.“Muitos parecem não dar envolve questões subjetivas, re- valor. Às vezes eu dava sobras ligiosas e da solidariedade com de comida, e o que sobrava deo próximo.“Um tipo de cam- les eles jogavam na rua, sujanpanha como esta não resolve a do a calçada da minha própria questão social. O ato de dar es- casa”, acrescenta. molas passa por questões pesEssa campanha da Prefeitusoais de cada um”, afirma Irmã ra segue modelos de outras ciCandice, uma das coordenado- dades como São Paulo,Ameriras da Pastoral.Além disso, a Ir- cana, Joinville e Florianópolis. mã considera que não se pode Em todas essas cidades a popuproibir as pessoas de dar esmo- lação respondeu bem aos apelas, se o Governo não oferece los da administração municipal nada em troca.“É preciso fazer para que não dessem esmolas uma investida em políticas pú- ou comprassem algum produ-
Campanha para retirar moradores de rua segue o modelo de outras capitais do país
to de adultos e crianças no trânsito e hoje é difícil ver pedintes nas ruas dessas cidades. As famílias agora são obrigadas a recorrer aos serviços de assistência social do município, que as obriga a manter as crianças na escola. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, em Belo Horizonte ainda existem cerca de 150 a 200 crianças de rua.
Segundo o Código Penal, a pena para os pais de meninos de rua que trabalham informalmente pode variar entre crimes de corrupção de menores (art.136), abandono intelectual (art. 246) no caso de menores de 6 a 14 anos que estiverem fora da escola, trabalhando na rua e de exploração da mendicância (art. 247) quando o menor de 18 anos mendiga ou serve de
mendigo para despertar a piedade pública. Nestes casos, a pena de prisão simples varia de 15 dias a três meses, podendo ser aumentada se a contravenção é praticada de modo vexatório, ameaçadora ou fraudulenta, mediante situação de moléstia ou deformidade. A iniciativa da PBH mostra boa intençao mas com ceteza irá trilhar um caminho bem complicado.
Michelle Dias, 29, moradora do bairro São Geraldo, diz que nos fins de semana sai de casa por volta das 18 horas e fica na rua até as crianças venderem boa parte das mercadorias, como balas, chicletes e amendoins. Para ela, ficar por perto é uma maneira de proteger a criança.“Tenho que ficar para tomar conta dos meus filhos. É muito perigoso”, explica. Segundo Michelle, os menores conseguem vender mais do que ela e que o filho mais velho. “As pessoas ficam com pena do menorzinho e as vezes acontece de um cliente só comprar todo o estoque dele”, conta. Questionada se as crianças estão na escola ela diz que sim, mas prefere não contar maiores detalhes. Ao ser indagada se as crianças gostam de trabalhar, ela desconversa e sai irritada. O comerciante Orlando Lopes que diariamente observa as crianças que ”trabalham” no semáforo em frente sua loja, na Avenida Cristiano Machado, afirma que ja viu várias vezes algumas crianças tentando agredir motoristas, que fecham os vidros na aproximação dos menores. “A situação dos moradores de rua aqui no bairro há tempos está insuportável”, acrescenta o comerciante que atribui a queda das vendas e a fuga da clientela ao grande número de moradores de rua e pedintes naem toda a região.
06 - Educacao- Ana Esteves
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Editora e diagramadora da página: Ana Cláudia Esteves
6 EDUCAÇÃO Escolas abertas no fim-de-semana
O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Projeto “Escola viva comunidade ativa” combate o alto índice de violência dentro e fora das escolas Fernanda Campolina
A violência nas escolas públicas de Belo Horizonte tem apresentado um declínio substancial. De acordo com a Polícia Militar, desde a implantação do projeto “Escola Viva, Comunidade Ativa” em 2004, houve uma queda de 57% no número de ocorrências como lesões corporais, ameaças a funcionários e furto consumado. Em 2005, apesar de não haver dados exatos, o número de ocorrências continuou a decair. Em 2003 o número de ocorrências chegou a 83, em 2004 esse número caiu para 38. Iniciado em 2003, o projeto consiste na abertura das escolas durante os finais de semana para a realização de atividades de lazer, e tem como objetivo promover mudanças na qualidade das interações entre as escolas e a comunidade, afim de aumentar a sintonia entre ambas, baseando-se na colaboração e respeito mútuo. Para isso, o projeto disponibiliza para cada escola recursos financeiros e assistência técnica, além de equipes de profissionais da Secretária de Educação.”Isso é muito bom para nós, por que assim nós ficamos sabendo onde nossos filhos estão, ao invés de ficarem por ai na rua, podendo acabar mexendo com coisa errada” disse Rosalinda Aguiar, mãe de um dos jovens matriculados na Escola
Estadual Menino de Jesus. Já para Maria José de Paula, o programa acaba ajudando na renda familiar,“ Com a minha filha escolinha, eu não preciso tomar conta dela, ai eu posso trabalhar mais um dia.”. Algumas escolas ja mantinham suas instalações abertas para a comunidade antes do programa, com a implantação, um total de 81 escolas foram orientadas a manterem suas instalações abertas por um período mínimo de 4 dias por ano. Nascido da necessidade de atender alunos matriculados nas escolas localizadas nas áreas de risco social e de alto índice de violência, o “Escola Viva,Comunidade Ativa” se tornou um dos mais importantes projetos desenvolvido pela Secretária de Educação.”Esse índice de redução merece ser comemorado, pois foi conseguido em curto prazo”, disse a secretária de Estado e Educação,Vanessa Guimarães Pinto. No segudo semestre de 2005 o prjeto abrangerá mais 78 novas escolas da região metropolitana de Belo Horizonte. Um subprojeto a foi implantado em janeiro de 2005 intitulado “Aluno de Tempo Integral”, que oferece aulas de reforço aos alunos da rede estadual sendo implantado em 78 das 81 escolas que participam do projeto. Aproximadamente 6 mil alunos,cerca de 10%,serão beneficiados.
Projeto busca espaços de educação e paz
Alunos em atividade física no pátio da escola com uma boa margem de segurança
Em comemoração ao Ano Internacional para uma Cultura de Paz em 2000, a UNESCO lançou o programa “Abrindo Espaços: Educação e Cultura para a Paz” , que propunha a abertura das escolas públicas nos períodos de final de semana, com atividades de esporte, arte e cultura, procurando incentivar uma cultura de cidadania e não violência nos jovens e nas comunidades escolares. Ao mesmo tempo em que o programa visa a educação, ele também possui como alvo o combate a exclusão social, o incentivo à participação cultural, conscientização sobre a prevenção de DST-AIDS, o cuidado com o meio ambiente, contribuição para a diminuição da violência e o desenvolvimento social. O projeto é focado em três itens: o jovem, a escola e a comunidade.A idéia é privilegiar jovens em situações de vulnerabilidade social.A natureza do trabalho é educativa e transformadora. Além de integrar jovens e comunidades, a oferta de atividades esportivas, artísticas e culturais ajuda na socialização e contribui para a reconstrução da cidadania.
A Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), juntamente com o governo federal lança o primeiro programa bolsista do estado,para alunos negros cotistas de instituições publicas do ensino superior. Em união com o Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros (Brasil Afroatitude), esse programa visa inicialmente, favorecer cerca de quinhentos universitários de dez universidades públicas diferentes.A UEMG possui cerca de 200 alunos cotistas, divididos nas suas três unidades,Faculdade de Educação, Escola de Design, Escola de Música e Escola Guignard.Destes cotistas,78 são afrodescendentes,para eles serão destinadas 50 bolsas. O valor das bolsas de estudos será de aproximadamente 240 reais mensais que deverão ser utilizados principalmente para a realização de pesquisas relacionadas a temas como a AIDS e a situação social, econômica e cultural dos arodescendentes.As bolsas serão pagas durante um período de 12 meses. Com o programa, o governo federal pretende produzir estatísticas que eliminem o sub-registro do quesito raça/cor
e de outras variáveis importantes no monitoramento da saúde da população. De acordo com a coordenadora do Núcleo de Estudos Afrobrasileiro da UEMG,Cláudia Ornelina, o projeto visa o fortalecimento e a permanência dos costistas negros na Universidade. Diversas parcerias foram formadas para que esse programa de integração das ações de afir-
“O projeto visa o fortalecimento e a permanência dos cotistas negros na Universidade.” Coordenadora do Núcleo de Estudos Afrobrasileiro da UEMG
mação dos negros fosse concretizado, fortalecendo essencialmente o combate à epidemia e possibilitando as práticas de implementação de ações afirmativas inclusivas e permanentes aos universitários negros cotistas. Essas parcerias foram feitas em conjunto com a Secretaria de Ensi-
no Superior (SESU/MEC), Secretaria Especial dos direitos Humanos (SEDH/PR) e também com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir/PR). Aos poucos as universidades públicas estão se conveniando ao Brasil Afroatitude implementando programa,para tal é necessário ter um cronograma de execução, contendo entre outros itens, a estrutura da equipe que coordenará o programa na instituição,o levantamento de dados e elaboração do perfil dos estudantes cotistas e o oferecimento de capacitações para os alunos para atuarem em projetos de iniciação científica, extensão e monitoria. Dez universidades fazem parte do projeto: a Universidade de Brasília (UNB); a Universidade Federal do Paraná (UFPR); a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); a Universidade Federal de Alagoas (UFAL); a Universidade Federal da Bahia (UFBA); a Universidade Estadual da Bahia (UEBA); a Universidade Estadual de Londrina (UEL); a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS); a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).
Rafael Matos 4H
Izabela Magalhães 1º período
Projeto
Bolsas de estudo serão distribuídas em Minas Gerais
Vitor Schuwaner
12 de Junho - Dia dos Namorados
Andrezza Nadella: oportunidade de ingressar em uma univesidade de Minas Gerais
Vitrine
Daniel Cerqueira 4º período
07 - Fumec - Ubirajara Varela
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FUMEC 7
O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Fernando Prado
Universidade Fumec incentiva a cidadania Projeto de Extensão resgata auto-estima dos ‘querubins’ da Acaba Mundo e outras vilas de Belo Horizonte Ana Carolina Cervantes, Leonardo Koroth, Simone Monção e Yany Mabel 4º período Há cerca de um ano, a Universidade Fumec vem apoiando o projeto da Associação Querubins, que trabalha para resgatar a cidadania e a auto-estima de crianças e adolescentes. Com dez anos de existência, a associação, sem fins lucrativos atende cerca de 220 crianças e adolescentes em situação de risco social. Conhecidos também como querubins, os jovens são estudantes com idade entre 6 e 18 anos, que participam das oficinas disponíveis
no projeto. A iniciativa dá preferência para moradores da Vila Acaba Mundo, localidade onde a instituição está instalada, mas atende também interessados de outras vilas de Belo Horizonte. O projeto vem sendo ampliado constantemente.“Os meninos da vila precisam de um incentivo para levantar a auto-estima e resgatar a sua cidadania” explica o auxiliar da coordenação da Associação Querubins, Ronilson Mário. E foi reconhecendo a necessidade de um acompanhamento psicológico que a Fumec se integrou ao projeto, apoiando o trabalho de educação das crianças e contribuindo para que elas tenham a perspectiva de novos horizontes,
O cotidiano de quem freqüenta a Associação
Os “querubins” participam de atividades como danças, artes plásticas e música principalmente através da arte. Cerca de cinco alunos do curso de Psicologia visitam o local duas vezes por semana para prestar serviço de apoio psicológico aos jovens que apresentam algum tipo de dificuldade,identificada pelos próprios voluntários. A iniciativa tem dado tão certo que até os próprios pais estão procurando tais serviços.“Muitas crianças trazem problemas de casa e isso prejudica seu desenvolvimento e integração nas oficinas. Por isso, é muito importante e necessário o auxílio de um profissional da área”, relata o auxiliar da coordenação, Ronilson Mário. O trabalho dos estagiários vem sendo realizado há dois anos sob
a coordenação da Profa.Ana Senra de Psicologia e Educação do Curso de Psicologia da Universidade Fumec. Ela também está implantando o projeto de extensão que amplia as ações da psicologia clínica à escola e às famílias das crianças.
Atividades diversas As oficinas começam às 8h e terminam às 16h, com intervalos para café da manhã e almoço. Entre as diversas atividades incluídas estão: dança de rua, artes plásticas, esportes, produção e manutenção de hortas comunitárias, apoio e reforço escolar, dança contemporânea, dança livre, dança da África, capoeira de Angola,
percussão, orientação sexual, música e entale.Além das oficinas, o projeto conta também com atividades extras.
Formando cidadãos Segundo Luciana Rocha, estudante do 8º período de psicologia da Fumec e estagiária no projeto Querubins,“a criança vai para a associação para se formar como um sujeito completo”. Além da Universidade Fumec, apóiam o projeto a Mineração Lagoa Seca, a Magnesita, a Construtora Santa Bárbara, o Instituto Ayrton Senna, a Telemig Celular, a banda musical Skank e a ONG Corpo Cidadão / Projeto Sambalelê / Petrobrás.
Lucas de Oliveira, de apenas 9 anos, morador da Vila Acaba Mundo, é uma das 220 crianças que participam do Projeto Querubins.Todos os dias ele acorda às 6h30 e vai para a Escola Benjamim Jacolar,onde permanece até às 11h30. Depois, volta para casa, almoça e vai para o projeto.“Lá eles oferecem almoço para todas as crianças,mas ele prefere comer algo em casa”,conta a mãe do garoto. De 13h30 às 16h, o jovem tem a oportunidade de participar de várias oficinas, entre elas capoeira, apoio escolar, artes plásticas, esportes, percussão e música. Lucas é considerado um garoto muito nervoso. Chega a ser chamado de problemático, por causa de seu temperamento. Por isso mesmo é que ele recebe acompanhamento dos psicólogos voluntários, estudantes do curso de psicologia da Fumec. A mãe do garoto garante que o trabalho que o Projeto Querubins realiza está sendo muito importante. Não só para ela e o filho, mas para toda a comunidade da vila Acaba Mundo como um todo.“Preciso trabalhar ou às vezes sair para resolver algum problema e não tenho com quem deixar meu filho. Fico tranqüila porque sei que lá ele está protegido,”afirma a mãe. Outras famílias ainda ressaltam que esta iniciativa tem ajudado muito no desenvolvimento e na formação dos meninos como cidadãos e contribuindo para uma formação pessoal mais completa.
Fernando Prado
Você ainda não sentiu a falta que vai fazer.
Projeto Querubin: com dez anos de existência atende cerca de 220 crianças por mês
Fumec investe em pesquisas institucionais Ana Carolina Cervantes e Simone Monção 4º período A Universidade Fumec vem conseguindo alcançar uma posição de destaque entre as outras grandes instituições de ensino superior do estado de Minas Gerais no âmbito da pesquisa institucionalizada. Como prova disso, ela promoveu no período de 10 a 12 de maio, o 3º Seminário de Pesquisa e Iniciação Científica e 2º Seminário de Extensão, que tiveram importantes desdobramentos. O evento contou com o apoio de instituições como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e a Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular (Funadesp). O seminário foi mais um
passo dado no processo de investigação científica permanente. O Propic é um programa de pesquisa e iniciação científica da Fumec, que tem como objetivo viabilizar a introdução do universitário à pesquisa, sob orientação de professores. De acordo com os organizadores, desta vez o Propic-Fumec recebeu para apreciação 59 projetos.Todos eles estão relacionados com os cursos oferecidos pela universidade nas diversas áreas do saber e mostram com clareza a vinculação da pesquisa com o ensino. Como, por exemplo, “A questão da psicologia do indivíduo em Theodor Adorno” do professor Douglas Garcia Alves Júnior(Cooordenação Fumec/Funadesp) e de sua equipe de estudantes Paula Campolina e Tiago Morei-
ra ambos do Propic/Fumec. Os resultados do seminário permitiram a compreensão primeiramente da constituição da subjetividade do indivíduo. O evento também superou as expectativas em relação à presença e interação dos alunos nas palestras, discursos, mesas redondas. Um dos principais objetivos do Propic é estimular o corpo docente da Universidade Fumec, ou seja, estimular todos os seus alunos a implantar e consolidar linhas de pesquisa e de extensão.Além disso, uma outra finalidade seria despertar entre os estudantes de graduação a vocação científica e estimular a participação, elaboração e execução de projetos de pesquisa, orientados por professores qualificados.
Vencendo os desafios para se consolidar como uma grande instituição, a Fumec investe na formação de novos jovens pesquisadores
O desmatamento causa a desertificação e provoca a seca. E você só vai se dar conta disso quando tudo acabar.
17 de Junho - Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca.
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Editor e diagramador da página: Willian
8 ESPECIAL
O PO Belo Horizonte
A I C N L E joven V I O entre Grande parte das instituições particulares de ensino e dos shoppings de regiões ricas de Belo Horizonte se tornou ringue no qual jovens com alto poder aquisitivo têm se enfrentado quase que diariamente. São gangues de adolescentes entre 10 e 17 anos que brigam por motivos banais, como rixas entre colégios. A violência também chegou ao ambiente universitário e professores são ameaçados por alunos insatisfeitos com o próprio rendimento. Autoridades, educadores e psicólogos apontam pais omissos e coniventes, escolas em busca do lucro e o uso de álcool e drogas como os principais responsáveis para o problema que muitos acreditavam que só atingia os mais pobres da sociedade Aline Valério, Luciana Ribeiro, Max Valadares e Raquel Alves 4º período
Sexta-feira, 11h. Os estudantes saem apressados dos colégios particulares para não perderem seu compromisso: uma briga agendada para acontecer em frente ao shopping Pátio Savassi, região da Savassi, Centro-sul da capital. Os envolvidos são jovens, entre 10 e 17 anos, de classe média e classe média alta.“O que mais me espantou foi a quantidade de jovens envolvidos e o descaso dos seguranças do shopping”, afirma a estudante de psicologia Marina de Castro Alves, 26. Moradora vizinha do estabelecimento, Marina se espantou com a brutalidade do fato.“Eu só vi porque meu primo, F.C.M., 14, estudante do colégio Modelo, já sabia que a pancadaria estava agendada e me avisou”, relata. Esse fato tem se tornado comum e preocupa em Belo Horizonte.As medidas adotadas pelos professores e diretores das escolas para lidar com a violência tendem a ser as tradicionais, como: acionar a Polícia ou ainda erguer muros mais altos para conter a violência externa. Mas, quando o problema, ou parte dele, começa dentro da própria instituição? O fato de essas escolas serem pagas e não possuírem normas que sejam reconhecidas e respeitadas pelos alunos acaba por desviar a relação de respeito entre o aluno e o professor, tornando-a uma relação comercial. Os adolescentes acabam se sentindo superiores aos educadores, uma vez que seus pais pagam pelo serviço prestado. Pesquisa realizada em 2004 pelo Centro de Estudos da Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG revela que as escolas que combatem a violência com “mãos firmes” e sabem impor limites aos adolescentes são as menos atingidas com o problema. As brigas no Pátio Savassi, na maioria das vezes, por exemplo, acontecem por algo sem importância. J.T.D., 16, aluna do Colégio Marista Dom Silvério, explica que até uma palavra mal compreendida é motivo para desentendimentos. Para ela, o problema das brigas começa em casa, com a educação dada pelos pais. “Os pais deveriam impor limites aos filhos desde cedo”, opina. L.C.M., 17, estudante do colégio Sagrado Coração de Maria, já presenciou uma briga no Pátio Savassi. Segundo ela, adolescentes entre 13 e 15 anos começaram a se enfrentar dentro do shopping, mas os seguranças intervieram.“A briga só foi terminar em frente a uma drogaria, que fica ao lado”, relata. Em uma nota ao Jornal O Ponto, a assessoria de comunicação do shopping Pátio Savassi afirmou que a diretoria tem ciência do problema e que já tomou as devidas providências cabíveis, preferindo não mais se manifestar sobre o assunto,
“uma vez que já foi amplamente discutido pela mídia”. Ainda segundo L.C.M., anteriormente as brigas ocorriam somente no McDonald’s localizado na Savassi, e os principais causadores eram as “Patys” e “Boys”, como são chamados os adolescentes que ali freqüentam o local. “Em frente ao McDonald´s tem a cafeteria que é freqüentada por punks, góticos e skatistas e quase não havia briga, somente os boys,‘filhinhos de papai’ é que brigavam”, afirma. Na escola da estudante também há brigas, mas em pequenas proporções.“As brigas que acontecem, geralmente são de turmas de nossa escola contra as de outros colégios”, conclui a aluna L.C.M.. Os estudantres combinam entre si quais vão ser os locais para o “acerto de contas”, e chegam a deslocar até para outras escolas. Drogas e álcool O consumo de bebidas alcoólicas por menores é outro fator que proporciona brigas nas proximidades do shopping. Um funcionário de uma loja, que pe-
“Em uma sexta-feira, na portaria do shopping da rua Lavras, cinco adolescentes foram detidos com seis frascos de loló na mochila” Euflásio Alves de Souza, cabo da PM
diu para não ser identificado por medo de perder o emprego, assegura que é comum a praça de alimentação do Pátio estar repleta de menores consumindo bebidas alcoólicas. Em uma das vezes que flagrou os jovens bebendo, chegou a chamar o Juizado de Menores, mas não foi atendido. Além de bebidas alcoólicas, é comum o consumo de drogas e cogita-se a possibilidade de tráfico nos banheiros do Pátio, segundo relatos de funcionários. O fato é confirmado pelo cabo Euflásio Alves de Souza, do 22º Batalhão da PM, confirma que o uso e tráfico de ‘drogas leves’ (como loló e tiner) são comuns dentro e nas portarias do estabelecimento.“Em uma sexta-feira, na portaria da rua Lavras, cinco adolescentes foram detidos com seis frascos de loló na mochila”, conta. Segundo o cabo, os menores chegaram a ser apreendidos e encaminhados para a Delegacia da Adolescência e Juventude de Belo Horizonte (Dopcad), mas foram liberados após o registro da ocorrência. O Cabo afirma ainda que as brigas não aconte-
cem apenas no Pátio, mas também no Chevrolet Hall. "Os shows que acontecem lá tem a participação de menores, pois o juizado liberou a entrada de jovens com idade a partir de 16 anos, sendo que antes a idade mínima era de 18. Por isso acontece um aglomerado de jovens, o que gera confusões", diz. A equipe de reportagem de O Ponto entrou em contato com o Dopcad para obter registros do perfil das ocorrências que envolvem jovens infratores, mas o departamento não tem esse histórico. O setor de estatísticas da PM foi procurado, mas até o fechamento desta edição, os dados não haviam sido disponibilizados. Para psicóloga Lisley Maria Luiz Batista,“os jovens de hoje andam com a cabeça apta a receber todo o tipo de novidade e isso desperta a curiosidade, tornando-os vítimas do mundo das drogas”, justifica. Uma outra pesquisa, realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais, revelou que 22% dos alunos consideram suas escolas como violentas e inseguras, principalmente onde a circulação de pessoas estranha é facilitada. Furtos Funcionários do Pátio Savassi contam que nas sextas-feiras, dia de maior movimento no local, o índice de furtos aumenta consideravelmente.“Um rapaz com cerca de 16 anos roubou um boné de aproximadamente R$ 150,00 em uma loja e colocou na mochila. O segurança não conseguiu contê-lo, mas um funcionário de uma das lojas conseguiu. O rapaz vestia-se bem e usava um tênis caro. O shopping reforçou a segurança, mas as lojas não”, relata um vendedor do shopping. Cabo Alves revela que após conter uma briga entre adolescentes ricos, foi chamado para apurar o furto de um óculos avaliado em R$1800. “Um adolescente de classe média furtou o objeto de outro jovem”, conta. Conivência Um dos fatores que contribui para a delinqüência juvenil é a impunidade. O adolescente que se envolveu em uma briga, furtou, consumiu ou traficou drogas, de acordo com o Código Penal, não pode ser preso.“Nós só o apreendemos e o encaminhamos ao Dopcad”, explica Cabo Alves. Segundo ele, parte dos jovens apreendidos costuma ser reincidente e isso acontece por conivência ou omissão dos pais. “Basta o pai do menor ter influência que ele é rapidamente liberado”, denuncia cabo Alves. “Um adolescente que se envolveu em uma briga, atingindo outro jovem com um soco inglês, havia sido apreendido. Na viatura, o pai do agressor interviu e exigiu que o garoto fosse levado por ele. É esse tipo de atitude, conivente, que garante a reincidência dos delitos”, finaliza.
Vitor Schwanner
Pátio Savassi se tornou ringue de brigas entre jovens
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Chaves / Colaboração: Rafael Werkema
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ONTO te – Maio/2005
E C S E R As deCclasse média Infoarte: Juliano Mendonça
Professores são vítimas de Ensino particular não é garantia de boa educação alunos em escolas privadas Ana Paula Ferreira, Gabriela Oliveira, Natália Andrade e Wânia Ferreira 4º período A violência em escolas, associada na maioria das vezes de forma preconceituosa somente à classe pobre e marginalizada, atinge e também é praticada por alunos de escolas privadas. Essa constatação assusta pais, alunos e professores, e é apontada como fator preocupante pelos meios de comunicação. A capacidade desses jovens de classe média e alta de se envolverem tão facilmente em brigas sem nenhum motivo aparente vem incomodando muita gente. Segundo a psicóloga Renata Abreu, o problema é o fato de esses jovens se acharem no direito de cometerem tais delitos.“Muitos desses adolescentes agem dessa forma simplesmente por possuírem um alto poder aquisitivo, para sa-
tisfazer seu próprio ego que nunca se encontra satisfeito e por saberem que seus pais resolverão tudo no final”, afirma a psicóloga. Para quem pretende ter uma formação acadêmica com capacidade reflexiva e uma boa formação ética, que conserve os princípios básicos da boa educação, as escolas particulares têm deixado a desejar. De acordo com a pedagoga especializada em sociologia da educação, Cybele Almeida de Freitas, cada vez mais, as instituições privadas não se preocupam em educar e formar bons cidadãos.“No sistema em que estamos inseridos, o capitalismo, as escolas se preocupam em formar indivíduos empreendedores, para no futuro competirem entre si e servirem à indústria do entretenimento e do comércio”, relata. Izabel Galvão, superintendente de ensino, afirma que “as escolas privadas considera danosos os efeitos que a publici-
dade das situações de violência podem ter sobre suas matrículas. “Elas têm todo interesse em manter sigilo de eventuais ocorrências”, afirma. Já Wanderley Codo, especialista no combate a este tipo de delito, destaca que o índice de violência continua crescendo e ameaçando as escolas do país. Pesquisas realizadas em BH, mostram outro agravante que vão de encontro às situações que se encontram nas escolas particulares.A maior parte, cerca de 60% dos pais e mães, desses alunos tem escolaridade superior (completa ou não), enquanto 45% dos pais de alunos de escolas públicas possui até a quarta série do ciclo primário ou são analfabetos. O processo de degradação do ensino faz parte da história da educação no país, decorrente de más administrações. “A forte influência do capitalismo transformou a educação em um mercado onde o lucro”, relata Cybele.
Ana Paula Ferreira, Gabriela Oliveira Natália Andrade e Wânia Ferreira 4º período A perda de regras e de normas que definem o papel de aluno e de professor torna o relacionamento algo a ser “construído”,“reforçado”, em um ambiente no qual a própria legitimidade da autoridade do professor é questionada, confrontada, e o poder do aluno de orientar o ritmo das aulas tido como válido. De acordo com a professora da FUMECe antropóloga Josefina Lobato,“manter o silêncio durante as aulas”, que sempre foi tido como inerente do ambiente acadêmico, é sentido pelos alunos como uma demanda a ser aceita ou não, dependendo da boa-vontade dos mesmos. Para o aluno de design da Universidade Fumec Sávio Henrique de Oliveira,“muitos estudantes consideram a escola particular como um supermercado, em que o cliente tem sempre a
razão”.Em virtude disso,a maioria das escolas particulares tratam seus alunos como clientes. Devido a essa forma de pensar,chegase a ponto de um aluno vir a agredir um professor por este não abonar a sua ausência em sala de aula na lista de chamada. “Na
“Muitos estudantes consideram a escola particular como um supermercado, em que o cliente tem sempre a razão” Sávio Henrique, estudante
maioria dos casos, fica tudo por isso mesmo e às vezes o professor é até advertido pela direção da escola”, afirma o estudante. Essa sensação de poder que o
aluno sente frente ao professor em escolas particulares deve-se à idéia errônea que eles possuem de que, ao pagar a mensalidade, estão pagando os professores e, portanto, estes são seus empregados e estão a seus serviços. Alguns especialistas delegam esse problema aos pais, por não estarem presentes na vida de seus filhos, e por tentarem compensar essa falta dando todo o tipo de suporte material.“O suporte material dado pelos pais, não supre a falta de um relacionamento afetivo e os filhos utilizam a violência para chamar a atenção”, destaca a psicóloga Renata Abreu. As atitudes dos alunos que enfrentm os professores eatrapalham as aulas e causam idignação. “O grande problema é que a falta de limites e de respeito e o abuso de poder desses seres imprudentes, tanto dentro de casa, quanto nas escolas tem causado grande prejuízo a uma pequena maioria que busca aprender na escola para aplicar no futuro”, desabafa Sávio.
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O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
“América” ilusão de prosperidade? Novela da Rede Globo levanta polêmica sobre a imigração ilegal nos Estados Unidos, mas esvazia a discussão sobre as mazelas sociais brasileiras Lídia Rabelo, Paula Luzia e Polyanna Rocha 4º período ilhares de brasileiros arriscam suas vidas atravessando a fronteira entre o México e os Estados Unidos de forma irregular. São pessoas que vão em busca do que consideram um sonho: melhorar financeiramente a própria vida e de seus familiares. Em conseqüência, centenas deles são presos e até mortos durante a travessia. É em cima desta questão que a Rede Globo tematizou seu horário nobre com a novela”América”.A trama global é fonte de uma polêmica que leva autoridades e estudiosos a questionar: a novela é um incentivo ou um alerta aos perigos existentes na travessia? O professor e pesquisador do curso de Comunicação Social do UNIBH Luiz Ademir de Oliveira, jornalista e mestre em Comunicação pela UFMG, defende que, antes de se fazer esse debate, é fundamental chamar a atenção de todas as classes para mudanças estruturais que são necessárias na sociedade brasileira, e também, as possíveis causas para a emigração. Ele afirma que é preciso analisar o papel dos governos, das organizações não-governamentais e da própria sociedade civil em relação aos problemas sociais.“Dentro desse contexto, por exemplo, o jornalista hoje, muitas vezes, tem assinado este pacto de mediocridade, legitimando uma mídia que humilha o brasileiro e não tem responsabilidade social. Temos que sair da passividade e sermos mais críticos”, opina Oliveira. A psicóloga social Mara Lúcia Fernandes analisa como a mídia, através da novela “América”, pode influenciar o comportamento das pessoas. “O canal está em 99% da mídia considerada a ‘janelinha do mundo’. Por isso, é preciso ficar atento quanto à sua influência”, enfatiza. Para ela, o deserto, a fronteira, o domínio dos ‘coiotes’ (pessoas que auxiliam na travessia) têm sido os únicos pontos negativos ressaltados pela novela. A redução do território norte americano à esplêndida cidade de Miami vende a impressão de que no primeiro mundo tudo e todos são desprovidos de dificuldades e misérias de qualquer natureza, e podem desfrutar alegres, orgulhosos e dançantes do prazer de serem imigrantes latinos.“Essa seqüência de imagens pode custar muito caro (custo da própria vida), principalmente para a platéia pertencente a uma realidade brasileira totalmente carente de expectativas que, fundamentalmente, não consegue distinguir a realidade existente no primeiro mundo daquela dramatizada na “América” da Globo”, aponta Mara Lúcia. Outra questão importante levantada pela psicóloga é que, na briga por audiência, a novela impõe uma fantasia de consumo ao brasileiro: o sonho de vencer na vida por meio de profissões extremamente desvalorizadas em território nacional, como o garçom, o faxineiro, a dançarina, o motorista, a doméstica, etc.“O desejo transfigura a realidade, na ficção as coisas não são muito diferentes e esse é o grande perigo de se tratar assuntos polêmicos em meios de comunicação de massa”, alerta. Mas para o professor de Comunicação Luiz Ademir Oliveira, é preciso abandonar a idéia de que a mídia tem um poder quase onipotente sobre a sociedade. “Não existe uma massa manipulável”, explica. Contudo, ele acrescenta que em um país como o Brasil, cheio de mazelas sociais e com altas taxas de analfabetismo, a influência da mídia é consideravelmente importante. Dessa maneira, o professor sustenta a opinião de que se pode analisar essa influência sob vários olhares. “É importante que a mídia coloque assuntos polêmicos em pauta para que as pessoas possam buscar mais informações. Mas também é preciso lançar um olhar crítico, tendo em vista que a novela é um produto que busca audiência. Para isso, a trama banaliza os fatos e muitas vezes mostra um mundo de fantasia que pode influenciar de forma negativa às pessoas mais vulneráveis”, finaliza.
M
Para mãe do menor de Betim, mídia foi sensacionalista Lídia Rabelo, Paula Luzia e Polyanna Rocha 4º período Maria Eunice Gonzaga Pereira, mãe do adolescente R.P.G., que atravessou ilegalmente a fronteira do México com os EUA, considerou “sensacionalista” a cobertura da mídia a respeito do caso. O fator que mais a constrangiu foi a divulgação do valor que o filho precisava para pagar os intermediadores. “Se as pessoas abrem o jornal e vêem uma notícia como essa, minha segurança fica comprometida, pois poderia me tornar alvo de bandidos”, revolta-se a mãe do jovem. Segundo ela, a mídia vem tratando a questão de forma superficial, pois desconsidera as questões sociais que envolvem o assunto. Além disso, no caso de R.P.G., a imprensa desmereceu seu sentimento e de seu filho no período em que o jovem ficou preso. Drama Maria Eunice passou por três experiências difíceis: a ida conturbada de seu marido que tentou atravessar a fronteira três vezes, mas somente na quarta teve êxito; seu filho mais velho que passou 23 dias no deserto sem dar notícias; e o caso de R.P.G. que foi preso pelas autoridades. Eunice relata que, nesse último caso, o filho, menor, passou por muitas dificuldades.“O momento de maior angústia foi
quando meu filho ligou dizendo que estava preso. Mesmo desesperada tive que passar tranqüilidade para ele” relembra. O menor ficou quatro meses encarcerado em uma casa de detenção para menores na cidade de Santo Antônio, noTexas. Na instituição, estudava 8 horas por dia e ainda trabalhava. Nesse período, ganhou um dólar por dia e ainda trouxe um presente para mãe. Duas vezes por semana, mãe e filho se falavam para matar as saudades e também para saber em que condições o menor se encontrava. Maria Eunice acredita que, após a exibição da novela “América”, o esquema clandestino se tornou mais difícil, isso “porque mostra exatamente como a travessia é realizada, assim a polícia norte-americana seguirá o rastro dos imigrantes”. O fato noticiado sobre o menor de Betim retrata, em grande parte, a promessa ilusória de prosperidade que causa a imigração ilegal. Os motivos de R.P.G. segundo sua mãe, eram a saudade do pai e a necessidade de ajudar sua família. Mas a decisão da travessia de R. P. G. não partiu somente de Maria Eunice, foi um consenso entre ela e seu ex-marido e filho mais velho que já está nos EUA, e, claro, de sua própria vontade. “A mãe, mesmo contra sua vontade, aposta nos sonhos de seus filhos”, justifica Eunice.
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Editores e diagramadores da página: Lígia Ríspoli e Rafael Werkema O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
“A política norte-americana para os imigrantes é completamente descabida, autoritária e discriminatória, que se acirrou profundamente em função da paranóia que se abateu nas autoridades dos EUA em relação ao terrorismo”
“Há 25 anos, o Brasil deixou de ser uma nação de imigrantes para se tornar um país de emigrantes”
Estamos empenhados em garantir melhores condições para os emigrantes, seja combatendo as redes que alimentam a clandestinidade ou modernizando a nossa legislação vigente voltada para o bem-estar dos nossos irmãos aonde quer que eles estejam
MÍDIA 11 “É preciso desmistificar o sonho americano” Esta afirmação é do deputado federal João Magno, que fala a O Ponto da proposta de criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar crimes e outros delitos praticados com emigrantes ilegais brasileiros Lígia Ríspoli 4º período O deputado federal João Magno (PT) concedeu uma entrevista a O Ponto sobre a imigração ilegal. Seu papel nessa problemática é grande, pois ele e o senador Hélio Costa propuseram ao Congresso um projeto para a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que visa, dentre outras coisas, a modernização da legislação de amparo ao emigrante. Em março, o deputado participou de um seminário para discutir os direitos humanos dos imigrantes brasileiros, realizado pela Universidade de Harvard, Boston. O PONTO - Após os atentados do 11 de setembro, os EUA aumentaram a fiscalização aos imigrantes ilegais, e o Brasil está na lista de países de risco. Essa política norte-americana tem fundamento? João Magno - A política norteamericana para os imigrantes é completamente descabida, autoritária e discriminatória, que se acirrou profundamente em função da paranóia que se abateu nas autoridades dos EUA em relação ao terrorismo. Mas o curioso é que está provado que os terroristas que agiram nos atentados de 11 de setembro de 2001 estavam em situação regular, trabalhavam e tinham identificação norte-americana. Um país que se autodenomina a maior democracia do planeta, ao meu ver, age de maneira violenta e preconceituosa em relação aos imigrantes, ao ponto de tratá-los como criminosos comuns, de alta periculosidade contra a segurança nacional. OP - O que é a CPMI? O que ela propõe? Existem possibilidades reais de se concretizar? JM - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito tem a finalidade de apurar crimes e outros delitos praticados com a emigração ilegal de brasileiros para o exterior, especialmente os Estados Unidos. O projeto já recebeu o apoio dos presidentes da Câmara e do Senado, dos partidos políticos e das principais lideranças.Além da questão criminal, que envolve as máfias de coiotes e agen-
Lígia Ríspoli 4º período O que, ao longo de sua história, torna um homem tão semelhante a outro é a busca de um sonho. Na Bíblia, vemos a saga dos judeus à procura da “Terra Prometida”. E ainda hoje, os judeus perseguem esse objetivo guerreando contra os palestinos. Na Grécia Antiga, por exemplo, Platão já escrevia sobre um governo e um mundo ideal, em seu “Mito da Caverna”. São Tomás Morus escreveu um livro,“Utopia”, em que também propagava as idéias de um governo ideal.A história da humanidade é feita nações que batalharam por um sonho. E também por loucos ditadores que não hesitaram em sacrificar vidas para alcançar um mundo considerado ideal. Compreendendo a alma e a
ciadores que atuam no Brasil,no México e nos Estados Unidos, queremos com a proposta modernizar as leis brasileiras de amparo à emigração e propor mudanças nos consulados e embaixadas brasileiras, tendo em vista o novo momento histórico do Brasil, que deixou de ser um país de imigrantes para tornar-se, nos últimos 25 anos, um país de emigrantes. OP - Como foi o seminário em Harvard? JM - O seminário foi importante porque pela primeira vez foi debatido um tema que vem ganhando força também entre os intelectuais: o respeito aos direitos humanos dos imigrantes brasileiros. Durante três dias de debates, o fenômeno migratório foi abordado sob vários aspectos, e mais de sessenta teses sobre o assunto foram apresentadas. OP -Vem sendo divulgado pela imprensa mundial que os EUA estão intensificando a repressão em suas fronteiras. O que o senhor acha disso? JM - A repressão na fronteira com o México intensificou assustadoramente depois de setembro de 2001.É preciso ressaltar que a repressão existe contra todos os imigrantes, não só os brasileiros. Os mexicanos, por exemplo, são em grande número e também sofrem com a violência dos agentes norte-americanos nas fronteiras. Recentemente, tomamos notícia de que estariam sendo organizadas milícias para combater a imigração ilegal.Mas a xenofobia dos norte-americanos é refletida em todo o território. Sinceramente, essa postura só tende a acirrar a violência, a discriminação e a deterioração das condições de vida dos imigrantes que tentam entrar no país. OP - E como o senhor analisa a cobertura da mídia norte-americana? JM - A mídia oficial norte-americana, no meu entender, trata desta questão de forma preconceituosa, sem considerar a dimensão econômica e social que tem o imigrante na vida dos norte-americanos. OP - E a novela “América”, da rede Globo? Incentiva ou não a emigração de brasileiros? JM - Acredito que a novela não tem papel preponderante no aumento do número de prisões de brasileiros que tentam atravessar ilegalmente a fronteira do México com os Estados
história humana, é possível entender assim porque tantos brasileiros fogem do país à procura da terra prometida, que, atualmente é os Estados Unidos. Nessa fuga, há de tudo um pouco: pessoas que possuem boas condições financeiras, entretanto arriscam-se para enriquecer ainda mais; outras, sem perspectivas nenhuma, sem nada a perder. É ser muito superficial culpar apenas o fator econômico brasileiro que, evidentemente, contribui para a fuga.Assim como responsabilizar os norte-americanos pela política e propagacão ideológica . Compreendendo apenas um ponto de vista, não é possível entender a realidade, que é contraditória. Basta analisarmos o caso dos estados de Minas Gerais e Goiás. Eles são os que mais “exportam” trabalhadores e não estão entre os piores em Índi-
Unidos. Ela tem, na verdade, a missão de levantar um problema contemporâneo do Brasil, possivelmente indicando até alguns caminhos a serem seguidos para a sua superacão, o que pode ajudar muito, por exemplo, na conscientizacão da sociedade sobre os riscos da travessia e desmitificando o sonho americano. OP - Quem são os intermediadores e os coiotes? Qual o perfil deles? JM - Estas pessoas formam máfias perigosas, especializadas em extorquir pessoas, falsificar passaportes e corromper autoridades.Temos informações de que, muitas vezes, são advogados e policiais que se organizam para intermediar as viagens ilegais, podendo ter ramificações com o narcotráfico. Geralmente, eles utilizam empresas de viagens como fachada para montarem as redes criminosas. OP - Quais são os motivos mais alegados pelos brasileiros para saírem do Brasil? JM - Até meados dos anos 80, os que optavam em viver no exterior o fazia motivados pelo turismo ou negócios.A partir daquela década, com o acirramento da crise social e a frustração de vários planos econômicos, um contingente cada vez maior de trabalhadores brasileiros vem deixando o país em busca de melhores condições de vida e trabalho. OP - Quanto a imigração ilegal movimenta em capital? JM - Ainda é impossível contabilizar financeiramente o que é apurado com as redes de agenciadores. Mas é possível vislumbrar altas somas, tendo em vista que uma travessia pela fronteira México-Estados Unidos custa em média 10 mil dólares por pessoa; ou seja, 30 mil reais. Por outro lado, dados não-oficiais revelam que hoje são cerca de três milhões de brasileiros vivendo no exterior, principalmente Estados Unidos, Europa e Ásia, entre legais e ilegais. Esse pessoal foi responsável por enviar cerca de 6 bilhões de dólares de divisas para o Brasil em 2004, superando até mesmo o que o nosso país arrecadou com a exportação de soja. Por isso o Governo Lula deve apoiar esses brasileiros, inclusive com a Caixa Econômica Federal oferecendo um convênio que possibilita a cobrança de taxas mais razoáveis para a remessa de dólares pelas vias legais.
ce de Desenvolvimento Humano(IDH). Por que então mineiros e goianos migram? Será que não temos que discutir sobre o imperialismo cultural, que lucra com a venda de ilusões? A classe média baixa quer ter os privilégios da alta, que é o “direito” ao inglês, a uma casa chique, a um bom carro. Supérfluo? Nenhum ser humano quer apenas comida, casa, saúde e educação. Nós somos também movidos pelo prazer. Mas não se pode generalizar e crer que tudo é uma procura incessante por ele. Temos uma carência social enorme. O Brasil e toda a América Latina passam e sempre passaram por difíceis situações econômicas, que contribuem para as migrações. Às vezes os governos não garantem nem mesmo os direitos básicos (moradia, alimentação, educação, saúde e lazer), como é o caso do nosso país.
OP - A situação da emigração é como a de uma guerra? JM - Não diria que a situação da emigração é igual a uma guerra, mas sim que a repressão à imigração ilegal, especialmente nos Estados Unidos, tornou-se assunto de segurança nacional. De fato, as autoridades norte-americanas adotaram aparato de guerra e o recrudescimento da repressão resultou em dados alarmantes como este: em abril, mais de 4.800 brasileiros foram detidos na fronteira mexicana, o que dá a incrível média de 160 prisões por dia. OP - As pessoas que saem do Brasil estão conscientes dos riscos que correm. O que faz valer tanto a pena esses riscos? JM - A grande maioria das pessoas que saem do Brasil de maneira ilegal para os Estados Unidos não têm total consciência dos riscos de correm, até mesmo de perderem a vida. A ação dos coiotes e agenciadores nesses casos é alimentar uma indústria do sonho americano, vendendo facilidades e ilusões que, de fato, não são reais. OP - E em relação às mortes? Como as famílias pobres fazem para reclamar os corpos? Em que medida o governo ajuda? JM - Esta é uma questão que queremos aprofundar na CPMI que estamos organizando no Congresso Nacional. O Brasil precisa modernizar a sua legislação de amparo ao emigrante, agindo em sintonia com outros países para enfrentar este problema. Por exemplo, sabemos que os consulados brasileiros arrecadam altas somas em dólar com a emissão de passaportes e vistos para turistas que querem visitar o Brasil. No entanto, quando um brasileiro morre no exterior, esteja ele legal ou não, o Itamaraty não pode utilizar esses recursos para custear o traslado do corpo, mesmo nos casos de carência comprovada da família. Então, precisamos mudar isso, criar mecanismos para que as nossas instituições possam ajudar os brasileiros que optam por viver em outros países. Estamos empenhados em garantir melhores condições para os emigrantes, seja combatendo as redes que alimentam a clandestinidade ou modernizando a nossa legislação vigente voltada para o bem-estar dos nossos irmãos aonde quer que eles estejam.
Quando surge um tema desse para ser discutido na mídia, na maior parte das vezes, a discussão é vazia. É o que ocorre, por exemplo, na novela “América”, da rede Globo. É uma trama que parece não ter o objetivo nem de ensinar nem de “desensinar”, uma atitude neutra que, muitas vezes, incomoda. Passam os anos e muitos temas interessantes das novelas globais acabam servindo apenas como fundo de mais um drama mexicano misturado ao famoso água-com-açúcar hollywoodiano, sempre com “happy end”. E o verdadeiro tema é assassinado em nome de números de audiência. Mas a esperança é a última que morre. Espero ver Sol ou um outro personagem simpático morrer no deserto mexicano, revelando as nuances de uma realidade nem sempre bonita.
“O Brasil precisa modernizar a sua legislação de amparo ao emigrante, agindo em sintonia com outros países para enfrentar este problema”
“Os imigrantes foram responsáveis por enviarem cerca de 6 bilhões de dólares para o Brasil em 2004, superando até mesmo o que o nosso país arrecadou com a exportação de soja”
“Não diria que a situação da emigração é igual a uma guerra, mas sim que a repressão à imigração ilegal, especialmente nos Estados Unidos, tornouse assunto de segurança nacional”
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Editora e diagramadora da página: Déborah Arduini
12 COMPORTAMENTO
O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
RPG de réus no banco
Assassinatos em Guarapari abrem discussão sobre as influências nocivas deste jogo Bruna Cerqueira 6º período Tudo começou depois que a estudante Aline Silveira Soares, então com 18 anos, foi assassinada em outubro de 2001. O estudante capixaba Edson Poloni Lobo, de 23 anos, é acusado de ter participado do assassinato durante um ritual macabro, inspirado em um jogo de RPG. O crime ocorreu em Outro Preto-MG, onde o Poloni fazia um curso superior de Cinema eVídeo. Quase quatro anos depois, o RPG voltou a ser vítima de acusações. Desta vez, a Polícia Civil prendeu, no início do mês, dois acusados de assassinar o aposentado Douglas Augusto Guedes, a esposa dele, Heloísa Andrade Guedes, corretora de imóveis e o filho do casal Tiago Guedes, no bairro Praia do
Morro, em Guarapari, Espírito Santo. Mayderson de Vargas Mendes, de 21 anos, e Ronald Ribeiro Rodrigues, de 22, confessaram que mataram a família durante um jogo de RPG. Os corpos foram encontrados no dia cinco de maio deste ano. A pergunta que logo vem em mente é: o RPG pode mesmo criar um assassino? É possível que o jogo incite a violência de tal modo a fazer um jogador confundir real e imaginário, pegar uma arma e cometer um assassinato? Marcos Furtado, psicanalista e consultor de adolescentes afirma que não. "A violência urbana tem relação com o instinto primitivo, pressões sociais, fragilidade e doença mental. Má educação influi um pouco. Genética, também",afirma. Trocando em miúdos, a questão é muito mais estrutu-
ral, sociológica, histórico-comportamental do que se imagina. O sociólogo Cleyton Vargas também compartilha da idéia de que a violência urbana é um problema amplo, de análise histórica de indivíduo para indivíduo, não genérica e seria uma idéia simplista demais culpar o RPG pelos atos de violência.“Percebo este tipo de violência como manifestação natural, enquanto primitiva, da agressivdade do ser humano. Assim acredito que a violência exerce cada vez mais fascínio na medida em que se tornou uma válvula de escape para as pressões e neuroses modernas. Evidentemente, aqueles indivíduos que a levam às últimas e primitivas conseqüências, ao ato de matar, são personalidades frágeis e doentes. Limite e sanidade são sinônima”, completa Vargas.
Prática do RPG pode ser benéfica para os jogadores A regra é não se preocupar com ela. O mais importante no jogo é interpretar.As normas e os dados são usados somente em situações duvidosas, onde não se sabe se vai conseguir efetuar uma ação. São necessárias também para orientar na criação dos personagens.A sorte sempre se faz presente. Assim, cada um faz sua ação, de acordo com a personalidade do personagem. Isso ajuda a determinar quanto um personagem é mais forte, ou menos inteligente do que o outro. Quais são suas as principais habilidades aquilo que ele faz e é bom, e o quanto ele é bom. Paulista de Mogi das Cruzes, Fernando Ladeira, 45 anos, engenheiro e jogador de RPG
desde os 24, afirma “nunca conheci alguém, em ambientes de jogo que freqüentava, que tenha tido algum problema que poderia ter sido relacionado ao roleplaying game, pelo contrário. O jogo só faz bem a mim e a meus amigos. Fiz muitas amizades, aprendi estratégias, a noção de justiça, lealdade, luta pelos ideais, luta pelos objetivos", conta. Quando questionado sobre os assassinatos associados ao jogo, Ladeira é sarcástico "Então eu seria um Serial Killer. Jogo RPG há mais de vinte anos e nunca tive problemas com ele.” Ele ainda afirma que o jogo só lhe trouxe vantagens e que aprendeu a ser mais expansivo e a se relacionar melhor com
as pessoas. “Antes do jogo eu era muito introvertido, calado, apático.Vinte anos depois estou eu aqui, realizado profissionalmente e cheio de amigos, entre os quais RPGistas do Brasil inteiro”,afirma Quem condena Rogério Augusto Siman, advogado criminalista e estudioso em casos de crimes juvenis teoriza que não se pode culpar somente o jogo pelos crimes, mas eles se tornam uma ameaça para quem tem um histórico violento.“Há jovens que possuem estrutura social e/ou familiar abalada. Que tem problemas de convívio, de rejeição. Já teve até casos de suicídios”,alega.
Arte de criar histórias medievais permanece viva O RPG ou roleplaying game foi criado no início da década de 1970, muito antes da febre dos jogos eletrônicos. Gary Gygax e Dave Arneson, dois estudantes de história da cidade de Lake Geneva, em Wisconsin, nos EUA, eram fãs de jogos de guerra, os "war games", com temáticas medievais. Não a Idade Média verdadeira e histórica, mas sim um mundo fantasioso, habitado por magos, elfos e dragões, inspirados em livros como "O Senhor dos Anéis" de J. R. R.Tolkien. Da vontade de jogar em mundos assim surgiu o Chainmail ("cota-de-malha"), jogo de guerra ambientado em um cenário fictício chamado Greyhawk. Gygax e Arneson entraram tão fundo no universo do jogo que logo veio a idéia de criar
um ambiente real. Onde as guerras fossem decididas não só através da batalha, mas também pela diplomacia. O que aconteceria se um diplomata fosse enviado ao reino inimigo para tentar negociar a paz, ao invés de um exército pelejar numa batalha? Mais que depressa os dois rapazes elaboraram as estratégias e as estatísticas de um só personagem, assim como tinham antes feito com os exércitos. Para negociar a paz não bastavam números: para o jogador, era preciso interpretar o personagem, assim como a história, como se fosse uma peça de teatro, só que sem roteiro. O resultado foi a criação de um jogo onde não se jogava com exércitos, e sim com personagens daquele mundo de fantasia: mago, guerreiros, anões e elfos.
O trabalho de Gary Gygax e Dave Arneson fez surgir o primeiro jogo de RPG, o Dungeons & Dragons. Inicialmente o D&D era apenas um suplemento para o jogo de miniaturas Chainmail, mas acabou por dar origem a um gênero de entretenimento completamente novo. Empire of Petal Throne foi lançado em 1975 pela TSR, mesma empresa que lançou o Dungeons & Dragons. Alcançou pouco sucesso de vendas. O autor, professor universitário M.A.R. Barker, abandonou os clichês das lendas medievais para criar um mundo completamente diferente, habitado pelos Ahoggya, Pe Choi e dezenas de outras raças bizarras, que se inspiravam em lendas astecas, egípcias e de outros povos da história. Ilustração de um jogo de RPG de Frank Frazetta, com intervenção de Carlos Fillipe Azevedo
13 - Comportamento - Carlos
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Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
COMPORTAMENTO 13 Guillermo Tângari
Pegas atraem juventude
Anna Flávia Ferreira, Clarissa Damas, Gabriela Falci, Marina Santana 1º período Mesmo freqüentando o Mega Space, local reservado para a competições de arrancadas, na cidade de Santa Luzia região metropolitana de Belo Horizonte, jovens de classe média arriscam suas vidas na volta para casa realizando ‘pegas’ ou ‘rachas’(expressões que são usadas para definir as corridas ilegais de carros nas ruas da cidade) na MG 020. O piscar das setas se torna um irrecusável convite para o perigo. Renato Pinheiro, 35 anos, além de participar das competições no local corre nas ruas e já perdeu quatro carros em acidentes e ainda assim aceita “convites” para participar de ‘rachas’ . Ele alega que ter um carro preparado o induz a correr e acima de tudo ganhar a competição faz muito bem ao seu ego. Segundo a psicóloga Melissa Alves Pinto Coelho, sair de lá e continuar correndo é complicado.“Isso demonstra a necessidade que eles sentem de superar os limites, sendo colocada acima da própria vida”. Os ‘rachas’ não acontecem apenas com a participação de carros. O jovem, que não quis ser identificado, G.F.J. de 21 anos, é proprietário de uma motocicleta e sofreu um acidente quando perdeu o controle e bateu no muro de uma casa após participar de um racha.“Quando sofri o acidente, quebrei um braço e me machuequei muito. Graças a Deus estou vivo e, agora, tiro ra-
chas uma vez ou outra. Sei que corro o risco de morrer, mas não consigo parar de correr”. De acordo com os depoimentos, os amigos se comunicam por telefone celular ou nas ruas e avenidas para combinarem o local dos rachas. As apostas podem variar de acordo com o que cada participante tem no bolso, mas às vezes eles correm apenas por prazer. Dra. Melissa diz que os ‘pegas’ são um desafio muito comum na adolescência, o que configura uma necessidade de auto-afirmação na qual o carro é visto como um objeto de poder. A imprudência ultrapassa todos os limites. Hilton Júnior, 40 anos, diz ter participado dos ‘pegas’ que aconteciam na região do Mineirão e confessa ter ensinado seu filho de 13 anos a dirigir. Já A.Q., um adolescente de 17 anos, participa de rachas com os amigos no bairro São Bento mesmo sem possuir habilitação. O garoto diz que a adrenalina é muito forte e que pretende continuar correndo.A psicóloga ainda explica que essa necessidade de auto-afirmação vem desde criança e que as influências podem ocorrer através dos jogos de videogame e até mesmo por filmes. O perigo não está restrito apenas aos competidores. Cristiano Lopes, um executivo de 30 anos, sofreu um acidente assistindo aos ‘pegas’ que aconteciam na BR 040. Existem grupos de jovens que se articulam pela Internet e exaltam a prática dos ‘rachas’ e ‘pegas’. Há páginas, assim como comunidades no Orkut (site de relacio-
namentos da rede) em que os integrantes realizam enquetes sobre as maiores velocidades alcançadas e compartilham depoimentos. Eles comparam seus veículos e realizam campeonatos em que o carro mais preparado e com maiores investimentos é premiado. Bruno Vieira Abreu, proprietário de uma loja de peças automotivas, afirma que tamanho investimento varia de 2,5 a 40 mil reais. Os altos valores envolvidos na preparação de um automóvel fazem desta uma prática elitizada. Júnior Bitoca, um empresário de 28 anos, possui um carro próprio para correr e o considera sua prioridade. Já investiu muito dinheiro no automóvel e se orgulha disso. Bitoca conta que já foi capaz de desembolsar todo o seu salário na preparação do carro e afirma que ao ser chamado para um ‘pega’, não agüenta a pressão e gosta de mostrar que corre mais. De acordo com Dra. Melissa, esta necessidade de auto-afirmação está a um passo da delinqüência. Os jovens se arriscam cada vez mais e a vontade de superação parece não ser saciável. Esse ‘vício’ é preocupante e suas conseqüências são carregadas por toda a vida. Diferença entre ‘pega’e arracanda A arrancada consiste na disputa de dois carros de cada vez acelerando forte por 402,25m, podendo em poucos segundos atingir velocidades superiores a 200 Km/h.As primeiras provas dessa modalidade surgiram no ano de 1976 e
Guillermo Tângari
aconteciam ao lado da fábrica da FIAT, em Betim. Atualmente, as provas acontecem no Mega Space, uma estrutura montada em Santa Luzia e que recebe cerca de 2 mil pessoas toda quintafeira. Considerado um dos maiores centros de eventos do Brasil, o local conta com uma infraestrutura completa, dispondo de praça de alimentação, grande área verde e estacionamento . A pista de arrancada possui 302 metros e foi construída em 2003 com o aval da prefeitura da cidade. De acordo com a organização do local, nas provas de Arrancada “você pode dar vazão ao seu desejo de acelerar, com muita segurança e total organização”. Por volta das 22 horas acontece a "Sessão Cavalo-de-Pau", onde pilotos exibem a habilidade e o domínio sobre as máquinas. O Mega Space sedia o Campeonato Mineiro de arrancada e uma das etapas do Campeonato Brasileiro, o que demonstra a notoriedade da arrancada como esporte. As equipes disputam em 17 categorias e como prêmio recebem troféus. O competidor da categoria STTD-B (Street Turbo Tração Dianteira-B) Hudson Luigi, empresário, 23 anos, é integrante da equipe ByMax e diz estar ansioso para a próxima etapa do Mineiro que acontecerá no dia 12 de junho. Segundo Hudson, mais conhecido entre os competidores como Macaco,“quem gosta de correr deve ir pro Mega e não fazer pegas nas ruas, pois há uma estrutura que oferece segurança. Carro turbo é perigoso, a pessoa deve ser cuidadosa e não achar que domina a máquina”.
Guillermo Tângari
Excesso de velocidade é a principal infração em BH
Carros são modificados com o objetivo de melhorar o desempenho nas provas
De acordo com estatísticas da BHTRANS (Empresa responsável pelo Transporte de Belo Horizonte) foram emitidas 434.990 notificações de trânsito em 2004, sendo que a infração po excesso de velocidade máxima permitida correspondeu a 49,82% das multas referentes ao mesmo ano. Sabe-se que também cabe à Polícia Militar notificar ocorrências de pegas e rachas nas ruas de Belo Horizonte e, dentre o número total citado, 216.704 notificações foram de responsabilidade da PM. Esse dado mostra que a delinqüência ainda é uma constante em nossa cidade. Embriagados, os jovens praticantes de pegas e rachas perdem completamente a capacidade de avaliar os perigos e se sentem encorajados a correr. Segundo a Associação dos Detrans do Brasil, o excesso de velocidade está diretamente relacionado com a ingestão de álcool, presente em 61% dos acidentes de trânsito. Quanto maior a concentração da substância no sangue do motorista, maior probabilidade tem ele de provocar um
acidente de trânsito. O sistema nervoso é a sede dos principais efeitos do álcool, que age como potente estimulante. Vem ocorrendo uma visível redução na taxa de mortalidade por acidentes de trânsito, fruto de campanhas e projetos educativos “Se beber não dirija, se dirigir não beba”, assim como da implantação de radares eletrônicos e de uma maior fiscalização. Para se ter uma idéia, em 1997 a taxa de mortalidade por cada 10 mil veículos era de 6.3 mil. Ano passado este número sofreu uma queda, sendo reduzido para 3 mil. Ainda assim, é preciso que as autoridades prossigam com o trabalho de reeducação no trânsito, investindo nos projetos preventivos e tomando medidas administrativas severas com o objetivo, principalmente os jovens, de terem uma postura de direção defensiva. Deve-se conscientizálos de que pegas e o excesso de velocidade aliado ao uso indiscriminado do álcool resultam numa falta de civilidade, obediência e responsabilidade.
Mulheres participam das arrancadas do Mega Space
14 - Esporte - Bruno Ferreira
6/6/05
11:28 AM
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Editor e diagramador da página: Bruno Ferreira
14 ESPORTE Times mineiros na terceira divisão
O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Clubes de Minas encontram dificuldades para disputarem a série C do Campeonato Brasileiro Letícia Espindola
Bruno Ferreira 6º Período Mesmo sem data definida para o começo da competição, alguns times mineiros já garantiram suas participações na competição deste ano.A falta de reforços e a situação financeira que se encontram os clubes mineiros,pode ser alguns dos fatores que impedem que as equipes tenham um bom desempenho na série C. O América, que foi rebaixado da segunda divisão, o Ipatinga, atual campeão mineiro,oVilla Nova que ficou em 5º lugar e o Ituiutaba que terminou a competição em 6º e ficou com a vaga da URT que no último dia 15 de maio enviou uma carta a Federação Mineira de Futebol desistindo de participar da competição. O Departamento Técnico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), divulgou na terça-feira, dia 03 de maio, as diretrizes básicas para o Campeonato da Série C de 2005. O prazo para as Federações Estaduais indicarem seus representantes na competição é 30 de junho. Com isso, será preciso que os campeonatos estaduais que oferecem vaga para a Série C e torneios seletivos em todo o país terminem até o dia 29 de junho. O ofício assinado pelo Diretor do Departamento Técnico da entidade,Virgílio Elísio, aborda pontos como prazo de desistência de clubes e condições dos estádios que abrigarão jogos da competição.Os estádios indica-
dos pelas federações deverão ter laudos técnicos oficiais, que deverão ser enviados à CBF, relatando as condições de segurança, combate a incêndio e higiene, conforme estabelece o Estatuto do Torcedor. O modelo da competição deve ser mantido, as equipes são divididas em grupos, onde os dois melhores se classificam,depois segue o tradicional mata-mata até chegar aos quatro melhores da competição, onde estes se enfrentarão entre-si,os dois que mais pontuarem sobem para a segunda divisão.No ano passado, quatro equipes se classificaram para o quadrangular final; Americano/RJ, Limoeiro/CE, União Barbarense/SP e Gama/DF. Na ocasião, a equipe Paulista e o time do Distrito Federal subiram para a série B . Este ano estima-se que mais de 60 equipes irão disputar a terceira divisão, tornando a competição mais competitiva. Dos clubes mineiros que irão entrar em campo na série C apenas o Ituituba, equipe do Triângulo Mineiro, ainda não disputou a “terceirona”.Alguns times do estado de Minas Gerais fizeram parte da história da competição, vale destacar o América, que foi vice campeão em 1990 quando perdeu o campeonato para o Atlético de Goiás. Outra equipe que tem página na história da terceira divisão, é o desconhecido Esportivo, da cidade de Passos, interior de Minas,que foi vice campeão em 1988.
Ipatinga se prepara para disputar série C
América busca reencontrar o caminho das conquistas no campeonato desse ano
O Ipatinga atual campeão mineiro, tem se mostrado bastante motivado com suas novidades para a disputa da série C. Pelo menos é o que demonstra o elenco do time em relação as decisões do presidente Itair Machado, juntamente com o técnico Ney Franco. Eles se reuniram com a diretoria do Cruzeiro, para definir detalhes da parceria entre as duas equipes. A parceria que deu certo na competição mineira, será apresentada agora para o cenário nacional. Alguns jogadores do Cruzeiro vão disputar a série C pelo Ipatinga. Além dos reforços cruzeirenses, mais quatro jogadores que fizeram parte da inédita conquista do estadual permanecerão no clube. Os volantes Charles e Léo Silva, e os atacantes André e Márcio Diogo, juntamente com o goleiro Rodrigo Posso, ex jogador do cruzeiro que obteve seu passe. Outro jogador que acertou sua vinda para a equipe do Vale do Aço, é o zagueiro Leandro Amaro, que atuava na equipe junior do Cruzeiro. Segundo Itair Machado, a contratação de mais três zagueiros e um meia, são prioridades para a equipe na disputa.
Pra quem não é informado, tudo pode dar errado.
Fa t o s, eve n t o s c u l t u r a i s, c u r i o s i d a d e s, n o t í c i a s d a c i d a d e, d o p a í s e d o m u n d o. N o j o r n a l O Ponto, você encontra tudo isso e análise sobre os assuntos que mobilizam a opinião pública. S e vo c ê q u e r s e r u m c o m u n i c a d o r s o c i a l d e o l h o n o p r e s e n t e e s i n t o n i z a d o c o m o f u t u r o, vo c ê p r e c i s a l e r O Po n t o.
15 - Esportes - Carlos Augusto
6/6/05
11:27 AM
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Editor e diagramador da página: Carlos Augusto Macedo
ESPORTE 15
O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Cristina Raso
Gigante da Pampulha poderá deixar de sediar alguns jogos do campeonato brasileiro devido à violência das pessoas que frequentam o estádio
Estádios vazios para torcedores brigões Punições podem acabar prejudicando clubes cujas torcidas provocam tumulto com frequência Brenno Rocha, Guilherme Barbosa, Henrique Lisboa e Pedro Bcheche 4º período A partir desse ano, começa a vigorar uma punição bastante polêmica no futebol brasileiro que já ocorre há algum tempo na Europa:jogos com portões fechados para equipes cuja torcida provocou tumulto durante as partidas. O fato do futebol europeu, que é um modelo de organização ter adotado este procedimento para diminuir a violência nos estádios, influenciou decisivamente os dirigentes brasileiros a seguir este método, deixando de fora uma parte fundamental do espetáculo do futebol, que é o público, a massa torcedora. O esporte, sendo parte integrante da sociedade,não está imune aos problemas sócio-econômicos do país.O cidadão,que sofre angústias e frustrações que vão desde a própria insegurança vital até os problemas mais levianos da vida cotidiana, ao chegar no estádio,assume a identidade do coletivo, dissolvendo muitas vezes seus próprios valores em nome de algo maior que o de si mesmo,no caso,seu time do coração. Assim, a atitude agressiva e a violência surgem quase juntos como conseqüência da acumulação de
tanta frustração, e nisso o esporte atua como um canal universal de liberação da agressividade.Por isso não são os raros os momentos de pura selvageria e desordem nos estádios.Tornando-se necessário implantar uma legislação que contenha medidas enérgicas para coibir cenas de vandalismo vistas nos últimos tempos. Mas uma punição que impede o torcedor de assistir a uma partida merece uma discussão se esta é a medida adequada, não existindo melhores formas de sanção. Carlos Eduardo Oliveira,subeditor de Esportes do jornal Estado de Minas, acha justa a punição porque avalia como ineficaz os métodos que vem sendo aplicados.“Alguma coisa tinha que ser feita, pois as outras formas de penalização não eram tão enérgicas quanto essa. O Atlético, por exemplo, foi punido no ano passado, mas pôde jogar em Ipatinga onde continuou em casa,contando com o apoio de sua torcida. Só perder o mando de campo não é válido.” Ele ainda considera cedo para analisar se a medida vai atingir o seu objetivo,que é o de diminuir a violência nos estádios. Ele avalia que nesses casos a responsabilidade é dos clubes.“O clube é responsável pelo seu torcedor.”Oliveira aponta falhas no sistema de vigilância dos
estádios.“Deveriam ter mais câmeras de monitoramento para identificar os torcedores que geram tumulto”.
Racismo gera problema no futebol
Prejuízo Para Marcone Barbosa, assessor de imprensa do Cruzeiro Esporte Clube, o prejuízo de uma partida com portões fechados pode ser grande.“Isso pode variar de jogo para jogo. Para grandes clubes como o Cruzeiro,que tem média histórica de público no Campeonato Brasileiro de 20 mil torcedores, isso gera uma receita bruta em trono de R$ 140 mil por jogo.” Marcone acha a penalização de portões fechados uma boa iniciativa mas adverte que só isso pode não ser suficiente para diminuir a violência nos estádios.Ele vê uma influência do quadro sócio-econômico do país e não concorda com a responsabilização dos clubes pelos seus respectivos torcedores.“É difícil responsabilizar o clube pelos atos de seus torcedores.Imagine,se em uma briga de torcidas organizadas,um torcedor morre? Será que o clube é o responsável por aquela morte? O comportamento dos torcedores em um estádio de futebol tem a ver mais com uma questão cultural e de educação do povo do que propriamente com o clube”, afirma.
Que a violência está alastrada pelo país e que todos somos as vítimas dessa guerra civil todos nós já sabemos. As causas disso é o fato de cada vez mais os aparelhos ideológicos do estado (família, religião, escolas) estarem perdendo espaço na vida das pessoas. No entanto o tom grave ocorre quando mecanismos antes tidos como locais de encotros de nações, de confraternização, como é o caso dos jogos de futebol entre diferentes nacionalidades, transforma-se em rinha. Ha pouco mais de um mês o jogador Grafite, se envolveu em um caso de violência racista. O jogador, em depoimento à polícia disse que seu adversário, Leandro Desábato do Quilmes da Argentina, o chamou de “negro de merda”. O caso não é o primeiro nem será o último, como afirma o jornalista Joelmir Beting . O caso passou e a pauta da mídia também, ficamos aguardando o próximo ato de violência pra que a discussão retome e ai quem sabe alguma coisa mude no esporte brasileiro.
Fabíola Paiva
Revelações de Minas para o mundo da bola Carlos Augusto Macedo 6º período
Destaque do time azul busca agora sua chance como titular
Os garotos de ouro de Atlético e Cruzeiro são promessas que podem se tornar realidade, Ramon de 16 anos do Galo e Kerlon do Cruzeiro de 17 são os principais jogadores da seleção brasileira sub-17,que conquistou em abril passado o titulo sulamericano da categoria.As duas jovens promessas têm muita coisa em comum.Ambos são mineiros, meias e nasceram na região do Vale do Aço.Sem contar que os dois também passaram pelo futebol de salão e tem Ronaldinho Gaúcho como ídolo e conseguem manter uma vida bem simples.A prova de toda essa simplicidade é que os dois atletas ainda moram nos alojamentos das categorias de base de seus clubes e costumam pegar carona com os jogadores profissionais para irem treinar. Ramon marcou cinco gols no campeonato que classificou o Brasil para o campeonato Mun-
dial Sub-17 que vai ocorrer entre 16 de setembro e 2 de outubro, no Peru.Já a promessa cruzeirense foi o artilheiro da competição com oito gols marcados em apenas sete jogos.Na “final” contra o Uruguai, na qual o Brasil se tornou campeão, eles marcaram os dois gols do empate com a azul celeste. O destaque foi tanto que Tite e Levir culpi, técnicos de Atlético e Cruzeiro respectivamente ficaram muito interessados nos garotos.Ramon logo quando chegou ao Centro de treinamento em Vespasiano já foi integrado ao grupo de profissionais do Galo,e Kerlon que vinha sendo observado por Levir começa a ter suas chances na equipe principal do Cruzeiro. Mas um fato curioso que tornou o meia Kerlon famoso, não foi a artilharia do campeonato, mas sim a jogada “da Foquinha” na qual o jogador extremamente hábil vai levando a bola em direção ao gol adversário com a cabeça.O jogador já havia mostra-
do essa jogada nos campeonatos da base do Cruzeiro, mas foi no sul-americano que ela ficou famosa para todo o país e até mesmo para o exterior.Seus marcadores sem ter como parar e assustados com a jogada só conseguem parar o meia com falta.O jogador do Cruzeiro já passou por outros tipos de preparações para que a jogada fosse aprimorada juntamente com o seu futebol.Kerlon fez outros esportes, como natação para pegar mais resistência, taekwondo para adquirir mais habilidade e atletismo para obter mais força física. Ramon já foi integrado ao plantel principal do galo e hoje é uma opção de Tite para o time. O sucesso relâmpago de Kerlon e Ramon fez com que empresários já os procurassem para representá-los no campo da bola.Kerlon já possui dois, um no estado de São Paulo, Daniel Pereira e outro na Itália, Nino Raiola.Ramon que quem assume e administra seus negócios é seu pai.
Ficha Técnica dos atletas mineiros • Nome: Ramon Osni Moreira Lage •Nascimento: 24/05/1988, Em Nova Era (MG) • Altura/Peso: 1,80 e 69 Kg • Chegada ao clube: 1998 • Convocações para a seleção brasileira: 10, para as equipes Sub-15, Sub-16 e Sub-17. • Títulos pela Seleção: Sul-americano Sub-17 na Venezuela (2005). • Nome: Kerlon Moura Souza • Nascimento: 27/01/1988, em Ipatinga (MG) • Altura/peso: 1,67 e 66kg •Chegada ao clube:2001 • Convocações para a seleção brasileira: Nove, para as equipes Sub-15,16 e 17. • Títulos: Sul-americano Sub-17 (2005) e mundialito do mediterrâneo (2003 e 2004),pela seleção : campeonato mineiro juvenil (2004) e copa integração juvenil (2004).
16- Cultura - Bernardo Macedo
6/6/05
11:25 AM
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Editor e diagramador da página: Bernardo Macedo
16 CULTURA Histórias e casos de um jornalista
O PONTO Belo Horizonte – Maio/2005
Zuenir Ventura relata os principais acontecimentos que testemunhou em seus 50 anos de profissão Ana Cristina Branco
Fernanda Melo 5º período Conhecido por sua extrema gentileza no trato com as pessoas, o jornalista Zuenir Ventura só sai dessa posição quando o assunto é a luta pelo jornalismo sério. Uma vez jogou um balde de tinta marrom em um colega de profissão que o caluniara, simbolizando a existência da imprensa marrom, expressão usada para o jornalismo sem caráter. Essa é uma das histórias contadas pelo próprio Zuenir no seu mais novo livro: Minhas Histórias dos Outros pela Editora Planeta Brasil. Aos 74 anos, Zuenir Ventura é um exemplo de jornalista apaixonado pelo o que faz. Colunista do jornal “O Globo”, da revista “Época”, “Correio Popular” e do site “no mínimo”, o autor dividiu seu tempo entre uma crônica e outra para vasculhar o próprio passado, arquivos de jornais e revistas onde trabalhou e a memória de amigos próximos. O livro foi classificado pelo próprio autor como uma “alterbiografia”, no qual relata, de maneira curiosa, os principais fatos e acontecimentos que presenciou no Brasil em seus 50 anos de profissão. O autor conta casos e histórias de busca pela veracidade das informações, revelando os bastidores do mundo jornalístico. Zuenir se considera uma testemunha de seu tempo e seu novo livro, de acordo com ele, era uma dívida a si mesmo. Entre os principais fatos retratados no livro estão o mistério da morte de Glauber Rocha e do jornalista Vladimir Hergoz, o caso da bomba do Rio Centro, o suicídio mal contado de Pedro Nav; a Revolução do Cravos em Portugal, o golpe militar de 64, sua entrevista com Fidel Castro, a chegada da Aids, a foto que tirou da calcinha de Jacqueline Kenedy, além da tanga de crochê de Fernando Gabeira. São partes de um quebra cabeça que ajudam a construir uma trajetória de sucesso profissional e pessoal, misturando histórias inusitadas e algumas conflitantes, como o caso do assassinato de Chico Mendes. Na época, Zuenir foi criticado por ter infringido a lei básica do jornalismo ao adotar o
menino Genésio, testemunha do caso. “A saga de uma testemunha” é o capítulo mais dramático do livro onde o autor revela os limites da ética profissional e da indignação pela injustiça. Zuenir não se arrepende da sua atitude e diz que o mito da objetividade jornalística e da isenção não passa de uma hipocrisia. O autor não acredita na imparcialidade da notícia e prefere escancarar a verdade. Seu relato sobre a morte de Chico Mendes tornou-se uma referência para o jornalismo investigativo e para as grandes reportagens.Para Alésio Cunha, repórter do caderno de cultura do Jornal Hoje em Dia, Zuenir é um exemplo de jornalista que não se prende à objetividade imposta pela profissão para contar cada acontecimento de maneira apaixonante. Ele afirma ter se comovido com a situação limite vivida pelo autor ao adotar o menino Genésio, hoje refugiado e supostamente entregue ao alcoolismo: “Se ele não tivesse interferido no caso para proteger a testemunha, o menino teria sido morto. Este capítulo ainda está em aberto”, acredita. Violência preocupa autor Zuenir Ventura é um nacionalista nato, apesar dos inúmeros descontentamentos com o Brasil. Sua insatisfação maior, atualmente, é a situação da violência no estado do Rio de Janeiro, enfrentada pelo governo Garotinho. Para ele é muito triste ver o apartheid social presente na cidade, onde as pessoas se escondem em condomínios de luxo ao invés de perceberem que a violência é um problema de todos. O autor já expressara sua grande preocupação com a violência no livro “ Cidade Partida”, onde passou nove meses frequentando à favela Vigário Geral. Formado em Filosofia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Zuenir Ventura passou praticamente por todos os veículos de comunicação. Suas principais obras literárias são 1968- o ano que não terminou, Cidade Partida, Chico Mendes-Crime e Castigo, Inveja-Mal secreto e um Um voluntário da pátria.
O autro Zuenir Ventura lançou o seu livro “Minhas histórias dos outros” no Palácio das Artes
Autor critica a indústria do espetáculo e a irresponsabilidade da mídia Nascido em Além Paraíba, Minas Gerais, Zuenir Ventura sempre carregou consigo o sonho de se tornar um jornalista atuante. Foi professor universitário e seu primeiro emprego como repórter foi no Tribuna da Imprensa, em 1958. Passou por diversos jornais do país, dividindo seu tempo entre as reportagens e a literatura. Criou o suplemento ‘Idéias’, do Jornal do Brasil e é um dos fundadores da Escola Superior de Desenho Industrial. Amigo íntimo de Glauber Rocha,o autor expressou seu fascínio pelo cinema ao escrever o roteiro do filme Paulinho da Viola- meu tempo é hoje. Em 1980, fez uma entrevista histórica com Carlos Drumond de Andrade, onde o poeta o recebeu depois de décadas de silêncio.
Convidado pelo jornalista, e também amigo, Afonso Borges, Zuenir Ventura esteve em Belo Horizonte,no dia 18 de maio,para lançar o seu mais recente livro “Minhas Histórias dos Outros”, no auditório da Cemig.Cerca de 200 pessoas compareceram na edição do “Projeto Sempre um Papo” para ouvir sobre as histórias do jornalista. Sua mulher, Mary Ventura, esteve presente, e também o arquiteto Gustavo Pena e os jornalistas Ruy de Almeida e Mauro Werkema. Zuenir contou sobre a adoção de seu filho e foi incentivado de maneira pessoal pelo jornalista Afonso Borges. Entre os casos mais curiosos dos bastidores jornalísticos, Zuenir Ventura contou de maneira cômica a ocasião que a imprensa o matou: “ Ligaram
para minha casa e minha empregada disse brincando que eu havia morrido, no outro dia saiu no Estadão que eu havia sido atropelado”, conta o jornalista. Para ele este fato mostra a irresponsabilidade da mídia e a corrida desesperada pelo furo de reportagem sem a devida apuração:“Meu filho ficou com esta notícia durante duas horas. Encontrei com um amigo, que trabalhava na “ Veja” e ele me disse: ‘Que bom que você está vivo!’, senti até um tom de ironia”, relata. Zuenir Ventura ainda comentou sobre o acelerado aumento da violência entre as pessoas de classe média e sobre a criação da Cartilha dos Direitos Humanos: “As expressões não criam o preconceito”, acredita. Questionado sobre o futuro
do jornalismo,o autor afirma que este deve ser sempre investigativo e que o homem público, como os políticos, não devem ter privacidade nenhuma.A imprensa atual se tornou,para ele,uma iverdadeira ndústria do espetáculo: “Tivemos quase uma overdose de notícias sobre a morte do Papa”, exemplifica. Zuenir acredita que ainda existam pessoas honestas no ramo, e critica a arrogância que muitos jornalistas assumem: “O jornalismo é uma profissão fascinante, onde se tem um contato quase visceral com os fatos, mas nunca deve-se cair na tentação da vaidade”, alerta. O autor ainda reforça a importância de se discutir a ética nas redações e se diz otimista com a profissão: “ Ainda há espaço para as grandes reportagens”.
Divulgação
Jorge Furtado é homenageado na capital mineira e analisa suas obras Marcela Boecha e Carlos Lamana 1º período
“O homem que copiava” sucesso do diretor Jorge Furtado
No dia 24 de maio, o diretor e roteirista Jorge Furtado, homenageado da mostra “Encontro com o Cinema Brasileiro”, foi convidado a palestrar sobre sua vida e obra no Palácio das Artes, integrando a programação do Circuito Cultural Banco do Brasil. Furtado produziu, além de seus famosos longas Houve uma vez dois verões e O homem que copiava, vários curtas premiados no Brasil e no exterior, como O dia em que Dorival encarou a guarda” e “Ilha das flores. Após a exibição do filme O homem que copiava, Furtado fez uma breve introdução apresentando suas novas tendências relativas a próximas produções cinematográficas. Uma das tendências apontadas pelo diretor é a de serem produzidos, com maior ênfase, documentários especialmente para a televisão,
considerando o pouco espaço para esse tipo de trabalho. Quando a sessão foi aberta para perguntas, Furtado foi indagado sobre a diferença do sucesso entre filmes baseados em histórias verídicas e filmes fictícios. O diretor declarou:“Filmes de grande sucesso são aqueles ancorados na realidade, o documentário de maior sucesso é Carandiru.Todos nós já sabíamos o que era o Carandiru antes ver ao filme. Um outro real que foi mundialmente conhecido foi Olga. Mesmo Cidade de Deus é um filme que é uma ficção, mas é baseado num livro que não é todo ficção. Se pensarmos num filme como Eliana e os golfinhos, Eliana é uma pessoa de verdade.As pessoas sabem quem ela é. Os filmes que são ficção pura são raros. Acho que os exemplos maiores são, Lisbela e o prisioneiro, Os normais”, relata. Furtado tem a ficção como a representação de desejos inconfessáveis que nunca serão ditos em um documentário. Esse tipo de trabalho precisa re-
tratar a realidade fielmente. Uma vez que o cineasta interfere na realidade de uma pessoa para realizar um documentário, suas vidas nunca serão as mesmas. “O homem que copiava”, uma de suas recentes obras, foi citado como exemplo de uma ficção baseada na realidade da “geração do controle remoto na mão”,que sabe um pouco sobre diversos assuntos, segundo o autor. Esse raciocínio apresenta-se no filme no protagonista André, vivido por Lázaro Ramos,ao passo que o jovem possui uma “cabeça fragmentada”, pois esse é um personagem que surgiu de um conceito de fragmentação. Para finalizar seu discurso, Furtado disse que o cinema brasileiro encontra-se em um momento próspero, no qual os filmes estão se diversificando. Crítica ao cinema nacional Jorge Furtado, quando indagado em relação à defasagem do estudo de cinema no Brasil, afirmou que este deixa a desejar e
que o nosso país tem uma grande carência de roteiristas.A melhor opção de acordo com o diretor seria cursar uma faculdade de Filosofia ou Letras para depois realizar uma especialização em cinema. como exemplo citou seu próprio filho, que agora está cursando Filosofia buscando traçar a carreira de cineasta: “Por mais que a tecnologia avance, o contador de histórias sempre será necessário”, concluiu. Para o diretor, o desafio dos escritores de obras literárias é dificultar a adaptação de livros para as grandes telas e o obstáculo para diretores é conseguir um modo de torná-los produções do cinema. Ele afirma que a leitura é essencial para um indivíduo que almeja se tornar um cineasta. Para ele os três pontos que um futuro diretor deve apresentar são o gosto pela leitura, pela escrita e pelo cinema.Vários livros possuem descrições cinematográficas, que facilitam no processo de criação do roteirista.