01 - capa - Daniel Gomes
J O R N A L
18.10.05
13:17
Page 1
L A B O R A T Ó R I O
D O
C U R S O
D E
C O M U N I C A Ç Ã O
S O C I A L
D A
F A C U L D A D E
D E
C I Ê N C I A S
H U M A N A S - F U M E C
distribuição GRATUITA
A n o
6
|
N ú m e r o
5 0
|
O u t u b r o
d e
2 0 0 5
|
B e l o
H o r i z o n t e / M G
Universal destrói patrimônio histórico Igreja passa por cima do patrimônio e derruba casarões no Centro para construir estacionamento Daniel Gomes
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) demoliu, no dia 15 de agosto, quatro casarões localizados na rua Aimorés que eram de interesse do patrimônio histórico. De acordo com testemunhas, as demolições ocorreram às 6h da manhã. Ao agir dessa forma, a IURD contraria os preceitos da preservação do patrimônio histórico e cultural de uma cidade. Construídos na década de 40, os imóveis pertenciam a um conjunto arquitetônico característico do período e seus projetos foram elaborados por arquitetos de renome na época. Segundo o advogado imobiliário Samuel Fux, se um imóvel estiver tombado, ou mesmo em processo de tombamento, o proprietário não tem o direito de demoli-lo. A IURD tinha conhecimento de que as casas estavam em processo de tombamento porque, em defesa da instituição, o advogado Marcelos Martins alegou a demora da resolução por parte da Prefeitura. De acordo com Martins, as casas foram demolidas para a construção de um estacionamento privado. Apesar do interesse do patrimônio histórico em tombar casarões, a Igreja Universal preferiu pagar multa e destruir os imóveis para fins particulares.
Catadores criam indústria pioneira
Camila Guimarães
Por causa da necessidade de ter mais lucro sobre seu trabalho, os catadores de papel e materiais reaproveitáveis criaram, por meio da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte (Asmare), a Unidade Industrial de Reciclagem do plástico, no bairro Juliana, região Norte da capital. Inaugurada no dia cinco de setembro, a indústria é pioneira na América Latina por ser a primeira gerenciada pelos próprios catadores, o que lhes dá a chance de melhorar as condições de trabalho.
[ página 5 ]
CPIs emperram na Assembléia
Nova Lima sofre com mineradora
Dos 21 pedidos de instalação de CPIs recebidos pela Assembléia Legislativa desde fevereiro de 2003, apenas duas foram efetivadas. Mesmo elas, encerradas recentemente, não obtiveram os resultados esperados. Os prejudicados nas CPIs do Café e da Mina de Capão Xavier consideram o resultado das CPIs insatisfatórios.
Com o fim da CPI da Mina Capão Xavier, os moradores de Nova Lima, alguns deputados e o Movimento Capão Xavier Vivo questionam o relatório final apresentado pela comissão. Na votação final, dois deputados, incluindo o vice-presidente da CPI, foram contra por acreditar que houve irregularidades no processo de licitação.
[ página 4 ]
[ página 15 ]
Projeto “Centro Vivo” busca revitalização
[ página 3 ] O Projeto Centro Vivo, lançado em 2004, prevê diversas intervenções nas principais ruas centrais da cidade, buscando, como é o caso da rua Carijós, a reestruturação do espaço. Ele inclui reformas em praças, ade-
Estatuto do Idoso é desrespeitado A equipe de reportagem de O Ponto visitou asilos na capital mineira e conversou com especialistas para constatar os cuidados e os descuidados em relação à chamada terceira idade. Além dos problemas enfrentados nas ruas, como buracos, sinais que se mantêm fechados por pouco tempo, escadas de ônibus altas, por vezes os velhos não têm o respeito devido da sociedade, sofrem preconceito e ficam desamparados. Apesar disso, avanços têm sido feitos no sentido de resguardar o valor dos mais velhos na sociedade.
quação de ruas e calçadas para um melhor acesso, reforma de fachadas, controle inteligente do tráfego e integração dos órgãos de segurança pública com a população para diminuir os índices de violência.
[ página 6 ] Rodrigo Mascarenhas
ESPAÇO URBANO Espaços públicos como praças e parques têm um papel fundamental na vida de uma cidade, e é a arquitetura que busca a integração perfeita entre esses espaços e a paisagem urbana. Cabe ao arquiteto prever o uso, a vegetação, a estética e a funcionalidade dos chamados respiradouros urbanos.
[ página 7 ]
[ especial 8 e 9 ]
Morre mentor de Tom Jobim e Tom Zé [ página 16 ]
Fumec inicia projeto “Sábado com Arte” [ página 14 ]
Revitalização: obras atrapalham, mas visam a segurança
Cruzeiro sofre com falta de planejamento [ página 10 ]
02 - opinião - nagib
18.10.05
14:01
Page 1
Editor e diagramador da página: Tiago Nagib
2 OPINIÃO
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
O fracasso externo de Lula Tiago Nagib 7º Período Durante todo o governo Lula, muito têm se falado sobre a política externa do presidente, quase sempre repleta de elogios, ressaltando-se ainda a liderança mundial de Lula sobre os países em desenvolvimento e o reconhecimento das grandes potências a sua capacidade. No entanto, hoje essa tão “celebrada” política externa mostrou-se ineficiente e até mesmo maléfica para o país. Primeiramente, Lula não apoiou o governo do presidente argentino Néstor Kirchner durante o complexo processo de renegociação da dívida Argentina com o FMI, trazendo desconfiança e antipatia do segundo maior parceiro do Mercosul,além de perder uma eventual chance de reavaliar o pagamento da dívida brasileira. Posteriormente, o Brasil postula sua candidatura a membro permanente Conselho de Segurança da ONU, formando o G4 juntamente com Alemanha,Japão e Índia, sem levar em conta o veto chinês em relação aos dois últimos e a opinião de Argentina e México, os dois outros grandes da América Latina. Como resultado,os parceiros da América Latina se uniram a Coréia do Sul, Itália, Espanha e Paquistão, contrários a entrada dos membros do G-4 no Conselho de Segurança, abençoados ainda por China e
Estados Unidos, membros permanentes do conselho com direito a veto. O Brasil tentou também a presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) com a candidatura de João Sayad, derrotado pelo colombiano Luis Alberto Moreno que contou com o apoio de Washington. Em seguida, o Brasil apresenta a candidatura do embaixador Luís Felipe Seixas Corrêa para a presidência da OMC (Organização Mundial de Comércio), dividindo com o uruguaio Carlos Pérez del Castillo os votos do Mercosul. Como resultado do racha dentro do Cone Sul, ambos perderam para o francês Pascal Lamy, que foi eleito como novo presidente da OMC.Tantos pleitos paralelos renderam ainda o comentário de Kirchner que na altura da morte de João Paulo II, teria dito que “agora só faltava o Brasil querer eleger o papa”. O Brasil tem sim que buscar participar ativamente dos grandes órgãos mundiais, mas para isso tem que saber qual é seu real tamanho dentro do mundo atual e buscar alianças concretas, cedendo aqui para ganhar na frente.Lula talvez tenha superestimado sua própria capacidade, acreditando em todos os elogios que lhe são feitos mundo afora, sem sequer desconfiar das reais intenções destes, mas quem paga por sua prepotência é o Brasil,que alija-se cada vez mais das decisões mundiais.
Só Jefferson não basta Daniel Carlos 6º Período A cassação do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTBRJ) deve ser comemorada pelos brasileiros que ainda têm um fio de confiança na justiça.O ex-deputado carioca, réu confesso nas acusações de ter recebido "caixa 2" do PT em troca de apoio ao governo, não resistiu e, além de perder o mandato, ficou inelegível até 2015. Após tantos mandos e desmandos, ver a punição dos culpados - políticos ou não - é um alívio para o povo.Mas,o que não pode acontecer é transformar Jefferson em "bode espiatório", como se apenas sua cassação resolvesse os problemas existentes no poder legislativo. O que deve ser lembrado é que ainda há dezesseis deputados na lista de cassações na capital federal. Nomes fortes como o do deputado e ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), e do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), estão ameaçados de perder o cargo. O deputado do PFL mineiro, Roberto Brandt, também integra a lista das CPIs. No dia 15 de setembro, o Superior Tribunal Federal (STF) concedeu uma liminar que impede a abertura do processo de cassação de sete de-
putados petistas no Conselho de Ética da Câmara. Entre os parlamentares beneficiados está José Dirceu, homem forte do governo até o início da crise.Fica a pergunta: Os deputados petistas não pagarão pelos seus erros? Talvez, o próprio Dirceu seja o escolhido para "pagar o pato", na suposta estratégia que, em Brasília, já tem o nome de acordão. Resumindo:Além de Roberto Jefferson, José Dirceu seria cassado e seriam esquecidos todos os outros nomes. O que tem de ser ressaltado é que além de Jefferson e Dirceu, atolados até o pescoço na crise, tem mais gente envolvida nos escândalos.Nomes como os de José Janene (PP-PR) que aproveitou-se de uma cardiopatia rara para pedir aposentadoria- e do Professor Luizinho (PT-SP), envolvidos no suposto esquema do mensalão, são pouco lembrados. Ou seja, a crise política não foi instalada por dois ou três parlamentares que participaram da farra das malas.Tem mais gente envolvida, disso todos sabem. O que se espera então, é que todos os culpados paguem pelos seus erros. É o que o povo espera, apesar de saber que este é o país da impunidade. Mas, após a prisão dos Maluf, os brasileiros passaram a acreditar que a esprança é mesmo a última que morre!
A mídia e sua incontrolável sede de poder Leonardo Fernandes 4º Período
Mensalão cruza o oceano e atraca em terras lusitanas Ana Lúcia Souza Daniela Areia Fabiana Socorro Intercambistas da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes - Portugal O escândalo "mensalão" está a assumir contornos gigantescos que não deixam de fora o plano internacional. Em Portugal a credibilidade que era dada ao presidente Lula da Silva começou a desvanecer quando foram revelados crimes de corrupção que envolvem a empresa Portugal Telecom e o Partido dos Trabalhadores, com a venda da companhia de telefonia móvel Telemig Celular. O designado mensalão permitia que a Portugal Telecom financiasse os partidos políticos brasileiros e em troca os partidos favoreciam os interesses comerciais da Portugal Telecom no Brasil, nomeadamente com a aquisição da empresa Telemig Celular. Com este escândalo a popularidade do governo Lula caiu em flecha, tanto no Brasil como em Portugal. Segundo o ex-deputado Roberto Jefferson, autor das denuncias que fizeram detonar a maior crise política brasileira da última década, a Portugal Telecom e o Banco Es-
pírito Santo estariam supostamente envolvidos com o empresário Marcos Valério, acusado de ser o "homem da mala". A Portugal Telecom foi apontada pelo ex-deputado brasileiro como tendo estado envolvida com o empresário Marcos Valério, acusado operador do alegado esquema do PT do pagamento a deputados em troca de votos favoráveis ao governo. Esta crise política que os brasileiros, apesar de envergonhados, julgam ser só sua, atravessou um oceano e ocupou um lugar notável nos meios de comunicação portugueses. Olhando para a Portugal Telecom como uma grande empresa portuguesa, envolvida num escândalo de corrupção brasileira, fica no ar a dúvida e o receio sobre o que se pode passar em Portugal, noutras situações e circunstâncias semelhantes.Talvez, outros crimes de corrupção, envolvendo outras empresas, além da Portugal Telecom, são o "prato do dia" no país. Antonio Mexia - ex-ministro das Obras Públicas,Transportes e Comunicações de Portugal, disse numa entrevista em julho de 2005, que recebeu o empresário brasileiro Marcos Valério em janeiro de 2005 como "consultor do Presiden-
te do Brasil", a pedido de Miguel Horta e Costa, Presidente da Portugal Telecom. A 4 de agosto, após ter tido uma conversa com o embaixador brasileiro em Portugal, Mexia diz que recebeu Valério apenas como um empresário brasileiro e que ele não se apresentara como representante do governo brasileiro. Miguel Horta e Costa Presidente da Portugal Telecom admite que Marcos Valério já foi recebido pela Portugal Telecom para tratar de negócios envolvendo a empresa Telemig Celular. Ele nega a existência de qualquer negócio escuso com o empresário brasileiro.A Portugal Telecom nega ainda ter havido um encontro com Marcos Valério e Emerson Palmieri nos dias 24, 25 e 26 de janeiro de 2005, em Lisboa. A empresa "assegura que nunca participou de qualquer encontro com o objetivo de discutir ou negociar operações que envolvessem o financiamento de partidos políticos brasileiros". A Portugal Telecom negou de forma categórica qualquer participação no financiamento do "saco azul" do PT e do PTB, mas até que tudo seja esclarecido, o clima será de incerteza e desapontamento.
Minas de novo não! Mariana Fonseca 8º Período Salvem nossas couves, angus, feijões tropeiro, pães de queijo e galinhas ao molho pardo. Será que Minas agüenta? Se não bastassem todas as denúncias do mensalão no congresso que levou a fama, os agora ícones mineiros, Marcos Valério, DNA e SMPB, o Estado, mais uma vez, se destaca nos eventos ilícitos do país.A nova fumaça de escândalo envolve o time Atlético Mineiro, que, sem as denúncias, já passava por dificuldades suficientes tentando se manter na série A do Campeonato Brasileiro.A falcatrua tem um novo Roberto Jefferson. O papel de denunciante magoado cabe, desta vez, ao empresário do atacante
Quirino, o senhor Roberto Tibúrcio. O empresário - por sua vez inconformado com uma batalha judicial que impediu Quirino de se transferir para o Real Sociedad, da Espanha, afirmou nos bastidores de uma entrevista à Rádio Itatiaia, em Belo Horizonte, que operou um serviço de incentivo financeiro a jogadores, para que suas equipes vencessem os concorrentes do Atlético na luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro do ano passado. Tibúrcio disse ter pago uma graninha extra a jogadores dos times: Cruzeiro, Coritiba, Corinthians e Ponte Preta. Mais uma vez, para não negligenciar a tradição, todo mundo nega. Ninguém viu, ninguém recebeu ou sequer ouviu falar nessa es-
tória do Roberto (Tibúrcio). "Isso é um absurdo. É um boato malicio so. É mentira. Eu nunca recebi", afirmam os citados. Deus meu! Já perdemos a credibilidade em áreas em que éramos destaque, como é o caso da propaganda, que um dia já nos rendeu prêmios internacionais. O Banco de Minas Gerais está mal na foto.Alguns dos nossos deputados idem. Agora, até o Cruzeiro e o Atlético (que já estava com dificuldades de se manter na foto) estão na lista. Por favor, que fique bem claro que as demais cozinheiras do país nunca receberam dinheiro não contabilizado para fazerem um ora-pro-nobis pior e que nossos quiabos não foram cultivados com recursos de caixa dois!
Até quando a mídia brasileira vai fazer o papel de controle do poder neste país? Eis a pergunta que não se cala. Desde que começou toda essa onda de máscaras caindo no chão de Brasília aquela chamada grande mídia brasileira tomou conta do espaço em questão e hoje em dia toda e qualquer informação que chega nas casas dos brasileiros são basicamente manipuladas e direcionadas aos interesses deste ou daquele grupo em sua eterna sede pelo o poder. Quem diria! A mesma Globo que no passado lutou contra a eleição de Lula, e apoiou descaradamente a eleição Fernando Collor de Melo à presidência, chegando até mesmo a editar o debate entre ambos os candidatos na reta final, é a mesma Globo que manipula as informações e isenta de qualquer culpa nessa história suja, o “agora querido” presidente Lula. Mas de que culpa ele agora está sendo isentado? Da culpa do mensalão? Ou da culpa de ter sido o presidente eleito pelas bases sindicais na esperança de uma melhor qualidade de vida e ter traído descaradamente os interesses dos trabalhadores? Disso a Globo não falou uma só palavra. Eles não querem mudar o sistema, afinal são eles que estão no poder. Melhorar a qualidade de vida dos brasileiros parece significar para os ricos o risco de se tornarem pobres. Agora eles fazem uma programação inteirinha louvando a ética e a ingenuidade do nosso querido presidente. Mas se esquecem de dizer, que não se ganha um título para depois se construir por ele. Nosso presidente chorou ao receber seu diploma de presidente do Brasil! Foi comovente realmente.Mas os brasileiros que choraram comovidos pelo ato, hoje choram de arrependimento por saber que o presidente audaz e valente que elegeram não passa de um grande ingênuo, que ajudou a construir o PT e hoje mal sabe o que acontece dentro dele. E ainda querem que nós,pessoas bem instruídas,possamos acreditar no que eles dizem.Subestimam nossa capacidade crítica e nos reduzem a meros reprodutores da ideologia capitalista e hipócrita que eles vivem dissipando por aí. Mas o que fazer frente a esse processo de alienação a que estamos submetidos pelo maior conglomerado de mídia do Brasil? Em poucas palavras,Chico Buarque de Holanda, o poeta da revolução disse há alguns anos atrás o que muita gente gostaria de dizer:“Hoje você é quem manda, falou ta falado e não tem discussão” e repetindo aquela máxima: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Plim, plim!
Erramos Na edição passada, nº 49, a editora e diagramadora da pág. 3 da edição de política foi Déborah Freitas, e não Aline Santos como o anunciado.
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Coordenação Editorial: Profª Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) e Prof. Leovegildo Pereira Leal (Redação Modelo) Conselho Editorial Profª Ana Paola Valente (Edição), Prof. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy (Publicidade), Prof. Rui Cezar (Fotografia), Prof. Fabrício Marques (TREPJ II) e Profª. Adriana Xavier (Infografia) Monitores de Jornalismo Impresso: Daniel Gomes, Juliana Morato e Tiago Nagib Monitores da Redação Modelo: Fernanda Melo e Pedro Henrique Penido
Monitores de Produção Gráfica: Déborah Arduini e Fernando Almada Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda: Isabela Rajão e Renato Meireles Projeto Gráfico: Prof. José Augusto da Silveira Filho Charge e ilustração: Juliano Mendonça Tiragem desta edição: 6000 exemplares Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127 e-mail: oponto@fch.fumec.br
Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro BH/MG Professor Pedro Arthur Victer Presidente do Conselho Curador Profª. Romilda Raquel Soares da Silva Reitora da Universidade Fumec
Prof. Amâncio Fernandes Caixeta Diretor Geral da FCH/Fumec Profª. Audineta Alves de Carvalho de Castro Diretora de Ensino Prof. Benjamin Alves Rabello Filho Diretor Administrativo e Financeiro Prof. Alexandre Freire Coordenador do Curso de Comunicação Social
03 - economia - Joao Hudson
18.10.05
13:19
Page 1
Editor e diagramador da página: João Hudson
ECONOMIA 3 Catadores de olho no lucro do lixo O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Aline Valério
Indústria de reciclagem inaugurada em Belo Horizonte é pioneira na América Latina Eduardo Klein e Paulo Chaves 6º Período Os catadores de papel, papelão e material reaproveitável de Belo Horizonte terão pela frente uma nova oportunidade de lucro e condições de trabalho. A Unidade Industrial de Reciclagem do plástico, no bairro Juliana, região Norte da capital, inaugurada no dia cinco de setembro, é pioneira na América Latina, por ser a primeira gerenciada pelos próprios catadores. Uma chance de melhorar as condições de trabalho e administrar todo o processo de reciclagem: da coleta de material, passando pela triagem e processamento, até a venda do produto já reciclado. A unidade será gerenciada pela Rede de Economia Solidária, formada pela Asmare - Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitavel de Belo Horizonte, e organizações de catadores de Contagem, Igarapé, Nova Lima, Betim, Pará de Minas, Itaúna e Brumadinho. Com uma presença mais efetiva no mercado, os catadores passam a comercializar o material já reciclado diretamente com as indústrias, não contando mais com atravessadores, que intermediavam a venda. De acordo com a Asmare, foram investidos R$ 4,2 milhões na construção e compra de equipamentos da Unidade Industrial, resultado de uma parceria entre a Fundação Banco do Brasil, Brasilprev, Ministério do Trabalho e Emprego, Petrobrás e Prefeitura de Belo Horizonte. Antes da construção da unidade, a Asmare apenas coletava e triava o material que era repassado para os atravessadores. Agora as cooperativas e associações terão condições de processar até três mil e 600 toneladas por ano, com um crescimento estimado de 30% na renda dos cooperados e beneficiando mais de 400 pessoas. O pioneirismo e modelo de gestão diferenciado da unidade industrial levou á cerimônia de inauguração a ex-primeira dama francesa Danielle Miterrand,
Domínio da produção e empregos
presidente da Fundação France Libertés, que é parceira da Asmare há mais de dez anos. O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena e outras autoridades também participaram do evento. A escolha do material Segundo a engenheira civil e sanitarista Betânia dos Santos, uma das idealizadoras do projeto, as cooperativas e associações fizeram um estudo de viabilidade em parceria com a Fundação Interamericana, órgão do governo norte-americano que oferece doações a ONGs e organizações comunitárias na América Latina e Caribe, para saber qual o material mais rentável a ser trabalhado.“Pelo estudo entendeu-se que o plástico seria o material que estava presente em todas essas associações, com qualidade e quantidade suficiente para atender a unidade industrial”, afirma. Serão reciclados dois tipos de produto: o Pellet, que é um tipo de plástico derivado do Polietileno, e o Pet, empregado na fabricação de garrafas pláticas, que será granulado. Após a conclusão deste estudo, em 2002, começou o processo de captação de recursos e apresentação do projeto para os parceiros. Durante este processo pequenas indústrias de reciclagem foram visitadas, onde foi constatada a diferença na dinâmica de produção destas em comparação com a unidade industrial.“Ela vai ser gerida pelos catadores de material reciclável e um outro diferencial é o processo de licenciamento ambiental pelo qual a nova indústria passou”, ressalta Betânia. O impacto na região onde a indústria de reciclagem foi instalada também foi estudado. Para a engenheira, além de gerar empregos e contribuir diretamente para a redução do deposito de lixo nos aterros da capital, a implantação trouxe outros benefícios como: melhorias na iluminação, policiamento mais efetivo e o desenvolvimento da atividade comercial na região.
Catadores garantem benefícios e o domínio da cadeia de reciclagem do plástico Fotos: Aline Valério
“Os associados deixaram de ser vistos como meros catadores, passando a empresários”
“A unidade permite a presença dos catadores de uma forma mais efetiva no mercado”
“Essa indústria vai agregar valor ao nosso trabalho e a tendência é crescer, virar modelo”
Alfredo Sousa, o Índio
Betânia dos Santos
Dona Geralda
Responsável pela comunicação da Asmare
Engenheira Sanitarista
Coordenadora da Asmare
A construção da unidade industrial de reciclagem vai permitir aos catadores o domínio pleno da reciclagem do plástico. Antes os catadores faziam apenas a coleta e triagem do material primário que era negociado com as indústrias por meio de atravessadores – pessoas que faziam a intermediação da venda deste material para a indústria. Esta operação não representava ganho significativo e inibia o contato entre os trabalhadores e as grandes empresas. Hoje a renda média dos catadores é de R$400, que a principio deve subir cerca de 30% com a implantação da unidade industrial. Fundada há 15 anos, a Asmare conta atualmente com 258 associados e a unidade deve gerar cerca de 150 empregos diretos. Para o responsável pela comunicação da Asmare,Alfredo Sousa Matos, o Índio, a unidade vai trazer benefícios que vão além do aumento na renda destas pessoas.“É um sonho antigo. Os associados deixaram de ser vistos como meros catadores, passando a empresários. É uma nova cidadania, com mais dignidade e respeito da sociedade”, afirma. A coordenadora e uma das fundadoras da Asmare, Maria das Graças, mais conhecida como Dona Geralda, começou a catar papel com oito anos de idade e afirma que a construção da unidade é uma grande vitória para quem era visto como lixo da sociedade. “Nós éramos vistos como marginais, os fiscais corriam atrás da gente com a polícia e jogavam jatos d´agua. A Pastoral de Rua foi o primeiro órgão a nos ajudar a organizar a atividade. Hoje somos vistos como cidadãos”, argumenta. A Asmare espera que a indústria agregue valor ao trabalho dos catadores de material reaproveitável e gere novas oportunidades de emprego.“O futuro ainda depende dos órgãos que nos apóiam. Essa indústria vai agregar valor ao nosso trabalho e a tendência é crescer, virar modelo para outros países.A oportunidade está dada”, declara Dona Geralda. Raquel Alves
Passagem aérea mais barata atrai passageiros dos ônibus Eduardo Klein e Paulo Chaves 6º Período Os preços das passagens aéreas estão cada vez mais próximos dos cobrados pelas empresas de transporte rodoviário. Promoções e reservas antecipadas em horários e dias menos disputados geralmente garantem tarifas menores. Em alguns casos a viagem de avião chega a custar menos que a de ônibus. Entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, a viagem em ônibus leito dura cerca de seis horas e custa R$ 95, pelas empresas Útil e Cometa. No mesmo trecho, o vôo de aproximadamente uma hora, pela Gol Linhas Aéreas, custa R$ 92. Outro exemplo de tarifa similar são os vôos para São Paulo, principal destino dos passageiros que saem de BH. De avião a viagem custa R$ 120 pela Gol, e R$110 em ônibus leito da Viação Cometa.
As empresas aéreas Low Cost, Low Fare (baixo custo, baixa tarifa) estão ganhando cada vez mais espaço no mercado mundial. Inspiradas nos modelos bem sucedidos de empresas estrangeiras, como a EasyJet e a norte-americana Southwest, surgiram as brasileiras:Webjet, BRA e Gol, esta última criada em 2001 . Este modelo de gestão detém cerca de 30% do mercado nos Estados Unidos, 25% na Europa, e 24% no Brasil, número que vem crescendo. As baixas tarifas só são viáveis porque as empresas cortam as despesas ao máximo, em um modelo de gestão que prioriza a eficiência dos serviços. Um exemplo disso é o serviço de bordo. No lugar de refeições que custam em média R$ 6 por passageiro, são servidos lanches. A Brasil Rodo Aéreo – BRA, chegou ao mercado em 1999 com o objetivo de com-
petir diretamente com as empresas de ônibus, oferecendo tarifas comparáveis às passagens rodoviárias. Com uma frota de seis aviões, a empresa prioriza a operação de fretamentos e vôos para a região Nordeste. Na última temporada, a companhia fez alguns vôos internacionais, com 12 fretamentos para Córdoba, na Argentina. A expectativa é que a empresa receba novas aeronaves em breve, ampliando o número de vôos que partem de São Paulo para cidades do Nordeste. Para Hilário Dias, supervisor da BRA em Minas Gerais, o baixo preço das passagens aéreas permite um crescimento das vendas na alta temporada, chegando a quase 100%. “A empresa trabalha hoje com seis aviões e espera aumentar esse número no ano que vem, contribuindo para que mais pessoas tenham acesso ao transporte aéreo”, declara.
Em julho deste ano uma nova empresa entrou na briga, a Webjet iniciou suas operações com vôos entre as cidades de Brasília, São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.A partir de 1º de outubro a companhia começa a operar em Belo Horizonte, aumentando a oferta de vôos com tarifas econômicas na capital mineira. A Pioneira neste modelo de empresa aérea no Brasil é a Gol Linhas Aéreas, que espera um crescimento de 119% no lucro em relação ao ano passado. Em quatro anos de operação, a companhia já transportou cerca de 23 milhões de passageiros, sendo que 2,3 milhões destes nunca havia feito uma viagem de avião. Atualmente, a Gol, segunda colocada no setor, é a empresa aérea que mais cresce no país e espera encerrar o ano com uma frota de 42 aeronaves e participação superior a 30% do mercado.
Passageiros são atraídos pelas tarifas mais baixas
04
- politica - Fernando Prado
18.10.05
13:20
Page 1
Editor e diagramador da página: Fernando Prado
4 POLÍTICA CPIs mineiras não saem do papel
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Comissões têm demanda, mas a instalação das investigações quase sempre enfrenta dificuldades Bruno Freitas
Daniel Gomes e Daniela de Castro 5º Período Com a volta das Comissões Parlamentares de Inquérito ao noticiário nacional, mais uma vez a população questiona a utilidade e, principalmente, a eficiência de tais ações. As especulações em torno das conclusões a que podem chegar as CPIs já implementaram inclusive o bordão popular de que”tudo acaba em pizza”, devido aos desencontros de comissões passadas. Em Minas Gerais a situação não é diferente e, dos 21 pedidos de instalação de CPIs desde fevereiro de 2003, apenas dois foram levados adiante até agora. A Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) deferiu os protocolos requerendo a abertura das chamadas CPI do Café e CPI da Mina de Capão Xavier, ambas já encerradas. Pelo caminho, ficaram pedidos de investigação sobre irregularidades no Instituto de Previdência de Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), nos contratos entre o governo de Minas e o banco Itaú, entre outros. CPI do Café A CPI do Café, encerrada em dezembro de 2004, apurou denúncias de atuação de quadrilha de crime organizado no desaparecimento de milhares de sacas de café no estado. Apesar
de o relatório final da comissão, apresentado pelo deputado estadual Rogério Correia (PTMG), pedir prisão preventiva de seis pessoas e indiciamento de outras 20, houve questões polêmicas cuja investigação foi descartada pelos parlamentares. A emenda acordada entre os deputados desconsiderava a apuração sobre origem e destino de recursos de uma das cooperativas envolvidas, a Cooparaíso, o que, segundo o deputado estadual Sargento Rodrigues (PDTMG), deveria ser de responsabilidade do Ministério Público. Na CPI, foi discutida também suposta doação da Cooparaiso à campanha eleitoral do deputado federal Carlos Melles (PFL-MG) e para Antônio Carlos Arantes (PFL-MG). Melles é o presidente do conselho administrativo da Cooparaíso. O relatório apontou que as doações foram declaradas e, portanto, não havia motivo para levantar suspeitas. O deputado Sargento Rodrigues contestou tal informação, mas sem resultado. CPI de Capão Xavier Já a outra CPI, da Mina Capão Xavier, apurou irregularidades nos processos de licenciamento prévio, instalação e operação das atividades da Mineradora Brasileira Reunida (MBR) em Minas Gerais. Investigou também o julgamento de recursos dos atos de infração
Fernando Prado 6º Período
atribuídos à mineradora. Encerrada em 1º de setembro, a comissão recomenda que a licença para o futuro rebaixamento do lençol freático só seja concedido após a realização de estudos técnicos e que a MBR, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e o Ministério Público protejam o abastecimento público de água, mediante um termo de compromisso entre as partes e que o governo reaparelhe os órgãos ambientais e amplie sua equipe e capacitação profissional.
O resultado da CPI da mina Capão Xavier, no entanto, também não agradou a alguns deputados e ao Movimento Capão Xavier Vivo. O consenso é que os resultados foram políticos e não atenderam às necessidades visíveis da situação. Para o representante do Movimento Gilvander Moreira,“os conselhos podem até ser importantes, mas não provocam reações dos envolvidos”, declara. De acordo com o deputado estadual Antônio Júlio (PMDB-
MG), houve facilitação e agilização do empreendimento por parte do governo do estado. "O que me deixa mais triste como brasileiro é ver nossas riquezas sendo saqueadas continuamente pela MBR, sendo enviadas para a Europa por meio de práticas de subfaturamento, sem gerar os benefícios que deveriam para o estado”, desabafa. O deputado estadual Adalclever Lopes (PMDB-MG) concorda com o colega de partido e considera pobre o relatório final. (ver pag. 15)
A questão das CPIs é algo que deve ser analisado com cuidado por todas as partes. Os objetivos políticos que representam as sessões muitas vezes satisfazem a opinião pública. Esta, porém, esquece-se dos prolongamentos políticos que realmente levam uma comissão a ser instalada. Obviamente, muitos interesses estão por detrás das reuniões que, às vezes, apresentam relatórios que servem apenas para agradar a sociedade. No entanto, existem entraves que transcendem os objetos analisados, como é o caso de investigar o próprio governo e quando interesses privados ficam acima do bem público. É notório observar, também, que em um “jogo”(de interesses) sempre quando um lado ganha, há uma parte que sai perdendo. Mas, quando alguns resultados abrandam algum lado e simplesmente não dão em nada, aí sim temos as “chapas brancas” e as “pizzas”. É neste contexto que a mídia e a sociedade são fundamentais para a cobrança de melhores resultados e, posteriormente, punições para os envolvidos nas irregularidades. Somente por meio de uma fiscalização rigorosa e de uma cobrança maior é que poderemos colher bons frutos dessas comissões.
Quem lê sabe por quê
1º Lugar na categor ia jor nal exper imental na 1 2 ª Exp o c o m.
05 - cidade - Luís Falconeri
18.10.05
13:20
Page 1
Editor e diagramador da página: Luís Falconeri
CIDADE 5
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
PERDA CULTURAL Mariana Cyrne
Igreja Universal demole casarões em processo de tombamento para ampliar instalações
EM NOME DA FÉ Mariana Cyrne
Joanna Menezes Mariana Cyrne 2º Período A Igreja Universal do Reino de Deus, IURD, localizada no bairro de Lourdes, na região centro-sul de Belo Horizonte, demoliu quatro casarões da rua Aimorés que eram de interesse cultural do patrimônio municipal. De acordo com testemunhas, as casas foram demolidas por volta das seis horas da manhã do dia 15 de agosto, feriado municipal. Três dessas casas já estavam em processo de tombamento que seria concluído, pela Gerência de Patrimônio Histórico, provavelmente, no dia 31 de agosto. Conforme o advogado e assessor jurídico do maior templo da Universal em Minas, Marcelos Martins, o Reino de Deus pretende construir um estacionamento no lugar dos escombros. “O estacionamento de dois andares existente é insuficiente e não comporta os cinco mil fiéis e ainda queremos estender esse benefício também àqueles que não são freqüentadores da Igreja ”, justifica o advogado. Construídos na década de 40, os imóveis pertenciam a um conjunto arquitetônico característico do período e seus projetos foram elaborados por arquitetos referenciais.“Belo Horizonte possui cerca de 500 imóveis tombados. Um número ainda pequeno em relação ao tamanho da cidade e essas quatro destruições representaram uma grande perda para a capital”, diz Sandra Pereira, historiadora da Secretaria de Regulação Urbana. As casas que sobraram do conjunto arquitetônico foram tombadas provisoriamente e aguardam efetivar esse tombamento. Ato criminoso Segundo Arnaldo Godoy, membro do Conselho Histórico e Artístico Municipal, as demolições foram um ato criminoso deliberado, premeditado e clandestino que desrespeitou
Pimentel quer atuação firme do Conselho
a Lei do Patrimônio Municipal, a Lei de Uso e Ocupação do Solo e a lei da prefeitura que torna imprescindível uma licença que autorize a demolição de qualquer imóvel. “A Igreja agiu consciente de que estava cometendo um pecado. Cometeram um crime contra a memória, a história, e contra o ordenamento jurídico da cidade. O interesse de um empresário, igreja ou construtora não pode prevalecer sobre o interesse da comunidade”, indigna-se Godoy. Contradição Marcelos Martins acrescenta que a igreja explicitou seu interesse de demolir os casarões ao comprar os imóveis e a Prefeitura de Belo Horizonte, PBH, não apresentou obstáculo. Porém, segundo o advogado imobiliário Samuel Fux, se um imóvel estiver tombado, ou mesmo em processo de tombamento, o proprietário não tem o direito de demoli-lo. A Igreja tinha conhecimento de que as casas estavam em processo de tombamento porque Marcelos Martins alegou em defesa da instituição a demora da resolução por parte da Prefeitura.Ainda de acordo com o advogado, em dezembro do ano passado, o Conselho Histórico se reuniu para modificar o nível de tombamento. “Passaram-se nove meses sem decisão. Então a Igreja demoliu e pagou a multa de R$11 mil por casarão que veio a ser destruído”, disse Marcelos. A demora da decisão, de acordo com Sandra Pereira, historiadora da Gerência do Patrimônio Histórico, era causada por uma reforma administrativa da Secretaria de Regulação Urbana. Ainda de acordo com a historiada, a Universal foi notificada pela PBH, no dia 31 de dezembro de 2004 da ilegalidade da demolição dos casarões. Em 31 de agosto, o Conselho decidiria sobre o tombamento dos imóveis, entretanto a IURD os destruiu 16 dias antes.
“Catedral da Fé”: custo R$30 milhões levantados por meio de doações dos fiéis
Megatemplo: estrutura de R$ 30 milhões A “Catedral da Fé” é o maior templo da Igreja Universal do Reino de Deus em Minas Gerais. Situada em um terreno de 8,7 mil metros quadrados, comporta cinco mil pessoas sentadas em um salão que ocupa quase metade desse espaço. A construção do megatemplo custou R$ 30 milhões. No
hall de entrada do prédio há uma livraria e uma videoteca com materiais evangélicos. Ao lado, um prédio de quatro andares, estruturado para abrigar 500 crianças e adolescentes, com berçário, fraldário e escolinhas. A estrutura conta ainda com um edifício anexo de dez andares, onde fica a parte admi-
Velório simbólico A atitude da Igreja Universal provocou indignação. No dia 1º de setembro, às 19h, um grupo de estudantes se reuniu em frente ao local da destruição dos casarões para uma manifestação. Eles realizaram um velório simbólico. Segundo Daniel Machado, morador do bairro de Lourdes, os manifestantes se vestiram de preto e acenderam velas em frente aos imóveis demolidos. Para Esther Mourão, coordenadora da Galeria de Artes do Sesiminas, a ação foi espontânea e sem a finalidade de atingir a Universal.“Não foi uma manifestação contra nenhuma entidade. Não importa o que tinha ali atrás. Manifestamos por indignação quanto às demolições”, diz Esther.
nistrativa da Igreja, com 30 salas, quatro apartamentos residenciais para bispos e pastores, quatro estúdios de rádio, dois de TV e um heliporto. O dinheiro para construir o edifício veio de doações que os fiéis são comprometidos pelos mandamentos religiosos a fazerem periodicamente durante os cultos.
O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, declarou que a Igreja Universal deve ser punida e pediu atuação firme do Conselho Histórico e Artístico Municipal. O Conselho criado para propor medidas compensatórias decidiu que a IURD deverá restaurar a Praça Raul Soares, desapropriar e recuperar o Cine Candelária e construir e bancar um Memorial para os casarões. Pelo dano moral coletivo, a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente pede à Justiça que a Igreja seja condenada a pagar indenização não inferior a R$10 milhões. A Igreja, em sua defesa, pretende averiguar se os casarões deveriam ou não ser tombados, já que uma resposta negativa isentaria a Instituição das medidas compensatória. Mas essa possibilidade, segundo Arnaldo Godoy, é incabível. Descasos como esse já ocorreram na capital mineira. Em 1994, uma das primeiras construções do bairro Serra, a Vila Rizza, foi parcialmente demolida. Outra obra arquitetônica, um prédio em estilo árabe do início do século situado na Avenida Augusto de Lima, foi à ruína em 2000, na calada da noite.
Victor Gontijo
Velas simbolizam velório em ato contra a IURD.
06 - seguranca - Let Espindola
18.10.05
13:20
Page 1
Editor e diagramador da página: Letícia Espíndola
6 CIDADE SEGURANÇA é prioridade no projeto de revitalização do Centro
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Reestruturação da região central de BH busca alternativas de trazer a população para o comércio local Rodrigo Mascarenhas
Enzo Menezes, Luana Bastos e Poliane Bôsco 2º Período O centro de Belo Horizonte é mais uma vez o alvo dos projetos de políticas urbanas da Prefeitura Municipal. O Projeto Centro Vivo, lançado em 2004, prevê diversas intervenções nas principais ruas centrais da cidade, buscando, como é o caso da rua Carijós, a reestruturação do espaço. Ele inclui reformas em praças, adequação de ruas e calçadas para um melhor acesso viário e de pedestres, reforma de fachadas de prédios históricos, controle inteligente do tráfego e integração dos órgãos de segurança pública com a população para diminuir os índices de violência. “Os objetivos principais a serem alcançados são a inclusão social, econômica e cultural; a requalificação do espaço urbano e ambiental do centro e a segurança social, a partir de medidas preventivas para o controle da criminalidade”, afirma o secretário de obras da PBH, Murilo de Campos Valadares. Algumas obras já foram concluídas, como a revitalização da Praça 7, em 2003 (a primeira obra), e da praça da Estação, em 2004; outras estão em curso, como a rua dos Carijós, que terá as calçadas alargadas, uma melhor iluminação, arborização dos canteiros, construção de rampas para deficientes, entre outros, com o objetivo de facilitar o acesso dos pedestres e melhorar a segurança local. De acordo com a Secretaria Municipal de
Políticas Urbanas, o comércio local também é uma preocupação da iniciativa.A revitalização das calçadas na rua dos Caetés, por exemplo, e do trecho da Rio de Janeiro, entre Santos Dumont e Tupinambás, buscam fortalecer a vocação da região para o comércio e o eixo de ligação entre as praças da Estação e Rio Branco, próximas à rodoviária. Segurança no comércio Acredita-se que o motivo da queda nas vendas da região é devido à criminalidade. Os comerciantes locais acreditam que a melhora desse setor acarretaria conseqüentemente uma melhora significativa nas vendas. De acordo com Isaías Santos da Rocha, 29, vendedor em uma banca de jornal na Praça 7, “as câmeras do Olho Vivo ajudam a inibir os criminosos e diminuir a violência, mas o número de policiais ainda é insuficiente.A polícia faz muitas apreensões nessa região”. Para Gilberto Ferreira de Castro, 41, vigia de uma loja de calçados na rua dos Carijós, o número de policiais aumentou, e as revitalizações nas calçadas estão reestruturando o tráfego de carga e descarga, facilitando o acesso dos pedestres. Os caminhões que fazem esse serviço nas portas das lojas atrapalham os consumidores.“Alargando as calçadas, isso vai diminuir”, conclui. Fazer com que as pessoas retornem ao centro depende de facilidades como boas vias de acesso, meios de transporte viáveis, oportunidades comerciais, e, principalmente, segurança.
Letícia Espíndola
“Reorganização do transporte coletivo é essencial para a revitalização do centro” Haílton Curi, 60 anos, arquiteto e urbanista e Diretor de Cidades do Instituto de Arquitetos do Brasil de Minas Gerais (IAB-MG)
Transporte público pode melhorar comércio central O projeto Centro-Vivo também está englobando o setor de transporte público.A Secretaria Municipal de Políticas Urbanas afirma a importância de melhorias no transporte, criando a Plataforma de Embarque da Lagoinha, que “permite a integração entre ônibus e metrô, o que facilitará o acesso dos usuários à plataforma de embarque e às ruas e avenidas da região”, trazendo assim melhores condições de se chegar às avenidas Afonso Pena, Paraná, Santos Dumont e Oiapoque, conseqüentemente facilitando e incentivando o deslocamento para as compras. Para Haílton Curi, 60 anos, arquiteto e urbanista e Diretor de Cidades do Instituto de Arquitetos do Brasil de Minas Gerais (IAB-MG), a reorganização do transporte coletivo é essencial para a revitalização do centro.“Em BH, a confluência das linhas de ônibus é na região cen-
tral. Isso provoca congestionamentos constantes, devido à demanda de transporte, e só um conjunto de medidas de reestruturação viária pode solucionar o problema”. Ele destaca ainda a importância de ampliar o metrô, insuficiente para o movimento.“O metrô precisa passar pelo centro. É necessário estudar a questão para criar alternativas. Metrópoles importantes têm um sistema eficiente de metrôs, o que ajuda a desafogar o trânsito. Belo Horizonte precisa alcançar esse patamar para aliviar o transito na região central”. Taxistas que trabalham na região acreditam que o trânsito do centro deve melhorar, gerando melhores condições de trabalho e aumento do número de passageiros. Além disso, acredita-se que pode aumentar o fluxo de pessoas, já que muitos cidadãos se sentem desmotivados para ir ao centro pela dificuldades de acesso.
Revitalização na região central de BH atrapalha comércio local e a passagem de pedestres, mas visa a segurança
BH ganha mais um Restaurante Popular Uma das obras mais importantes dentro do projeto Centro Vivo é a construção do novo Restaurante Popular, localizado na região hospitalar, em frente ao Hospital São Lucas, rua Ceará, 490. Segundo sua gerência, o prédio de três andares, com capacidade para abrigar 384 pessoas, pode oferecer cerca de 5 mil refeições por dia, a R$1 o almoço e R$ 0,50 o jantar, além do café da manhã, que não é disponível na
unidade da avenida do Contorno. Todo o projeto custou mais de R$2 milhões à prefeitura e tem aprovação maciça da população. “Ele tem uma importância imensa nessa região, pois beneficia todo o povo. É o maior feito do Centro Vivo”, disse Pedro Dias, freqüentador do Restaurante Popular. O primeiro restaurante, localizado na Avenida do Contorno, 11.484, foi construído no fim dos anos 80 pela prefeitu-
ra, mas pegou fogo em sua inauguração e permaneceu fechado por longo período. Posteriormente foi terceirizado, mas não obteve retorno financeiro satisfatório e fechou suas portas novamente, prejudicando milhares de pessoas antes beneficiadas pelas refeições diárias a preços populares. Em 1994, Patrus Ananias, então prefeito de Belo Horizonte, reinaugurou o restaurante, já com administração municipal.
De acordo com sua gerência, hoje ele é capaz de servir cerca de 6 mil refeições por dia e atende principalmente à população com menor poder aquisitivo e que se desloca pelo centro diariamente. Localizados em pontos estratégicos, os dois restaurantes são uma importante fonte de integração e inclusão social e demonstram mais uma tentativa de melhorar a qualidade de vidados cidadãos de BH.
Shoppings populares: novo local de compras é ilusão para comerciantes Letícia Espíndola
Atendendo ao Código de posturas sancionado em 2004, a prefeitura conta com o apoio de parceiros da iniciativa privada para transferir os camelôs anteriormente instalados nas calçadas para shoppings populares, buscando facilitar o tráfego de pedestres e o comércio local. Quatro já estão funcionando (Caetés,Tupinambás, Oiapoque e Xavantes e um quinto,Tocantins, está no projeto). De acordo com o gerente regional dos Centros de Comércio Popular da Prefeitura,Welton Petrillo, 40, 1977 ambulantes já foram transferidos e outros 595 esperam por suas lojas nos shoppings. Ainda assim alguns insistem em montar pequenas barracas no horário de almoço dos fiscais e durante sua troca de posto, correndo riscos de serem abordados pela polícia. Vendas caem Os vendedores reclamam que o movimento caiu depois de suas retiradas das ruas, e que têm de pagar aluguéis caros (R$400 em média) à prefeitura pelas lojas dos shoppings, tendo cada vez menos condições de retorno financeiro. Alguns desistiram do empreendimento por falta de lucros e abandonaram seus pontos. Por isso há inúmeras portas fechadas onde deveriam funcionar os estabeleci-
mentos, mesmo nos horários de maior circulação.Welton justifica que a iniciativa está em processo de adaptação.“Os camelôs trabalharam décadas nas ruas, se acostumaram com um método de trabalho, e essas dificuldades percebidas no início do projeto eram esperadas. Para isso é preciso criar atrativos para os shoppings, como lojas-âncoras, tais como loterias e caixas eletrônicos”. Essas medidas buscam aumentar o movimento e ampliar as vendas.Também está no projeto a construção de um refeitório popular no Shopping Caetés, que já possui toda a estrutura de cozinha. No shopping Tupinambás reclamações foram feitas sobre a utilização do espaço. Um vendedor disse que eles pagaram para serem transferidos, inclusive pelo estacionamento para clientes, agora destinado a uma empresa de telemarketing, e não receberam nada em troca quando o estacionamento foi transferido. Marcelo Valadares de Resende Costa, 35, sócio do empreendimento, argumenta que “o negócio com a empresa de telemarketing não tem relação com as lojas, por se tratar de outra parte do prédio”. A Gerência Regional afirma:“os vendedores só pagaram pelo próprio box e fazem questionamentos irrelevantes”.
Movimento não garante lucro aos comerciantes
07 - cidade - Daniel Gomes
18.10.05
13:38
Page 1
Editor da página: Daniel Gomes. Diagramadores da página: Daniel Gomes e Henrique Lisboa
CIDADE 7 BH respira com a arquitetura O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Espaços públicos como praças e parques são planejados por arquitetos para melhorar a vida do cidadão Daniel Gomes
Camila Guimarães, Daniel Gomes e Henrique Lisboa 5º Período
piração, manutenção da temperatura e permeabilidade da cidade, além da conservação da fauna e flora locais.
Você já imaginou o que seria de uma cidade se não houvesse praças e parques? O papel desses espaços é fundamental. Tanto externa quanto internamente, as áreas públicas devem ser pensadas de forma a permitir uma integração perfeita entre os espaços cheios (casas, prédios, construções) e os vazios (parques, praças e jardins).A criação desses respiradouros da cidade fica a cargo do arquiteto urbanista, aquele que pensa a cidade como um todo, e o arquiteto paisagista, que cuida da integração de diferentes espaços urbanos dentro de uma cidade ou no campo. De acordo com a arquiteta urbanista da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento Urbano de Belo Horizonte, Raquel Teixeira, os espaços vazios são, na verdade, espaços significativos. "Eles são vistos pelos arquitetos como espaços urbanos ricos na interação com o espaço construído. São locais que dão significado às áreas congestionadas, modificam a linha do olhar do pedestre e amenizam o estresse da cidade", explica. Segundo a professora da UFMG, Marieta Cardoso Maciel, doutora em Estruturas Ambientais Urbanas, os parques surgem e são mantidos até hoje com uma função social: a de proporcionar lazer, descanso e interação à população das cidades. Os parques e praças tornaram-se importantes locais de preservação ambiental, sendo essenciais à res-
Elaboração De acordo com Marieta, não foi sem razão que a cidade de Belo Horizonte e todo seu espaço urbanístico foram pensados em detalhe. "BH foi projetada em 1897, exatamente na época que nascia a ciência da vida urbana e começava-se a reconhecer a importância em organizar-se o espaço", comenta. A arquiteta foi responsável pela construção de mais de vinte praças e parques na capital mineira, entre eles a Praça do Papa, o Parque Guilherme Lage e o Parque Rosinha Cadar. A primeira preocupação ao inserir essas áreas nas cidades deve ser, segundo a arquiteta, conhecer bem o local que a abrigará. Isso significa estudar e analisar as características físicas, biológicas e sociais do lugar.Tal ação envolve diversos profissionais, o que caracteriza a multidisciplinaridade de um projeto arquitetônico-ambiental. "Tudo deve ser considerado desde o entorno, o solo e os recursos hídricos até as necessidades da população local", completa. A arquiteta Raquel Teixeira salienta que um projeto de arquitetura ambiental só será completo e de qualidade se contar com a participação de engenheiros de saneamento e agrimensores, geógrafos, geólogos, arquitetos, urbanistas, etc. "A coordenação deverá ser do arquiteto, pela capacidade de planejar e interagir com as informações obtidas para produzir o
Programas sociais ocupam parques Além de aliviar a vida agitada das grandes cidades, as praças e parques servem de palco para diversos programas sociais. Esses espaços sediam eventos culturais tais como o "Domingo na Praça", que ocorre na Praça da Liberdade e oferece à população desde shows até apresentações de circo. Eles servem ainda para a realização de programas de inclusão e assistência social, como o projeto "Esportista Cidadão", promovido pelo Parque das Mangabeiras em parceria com Minas Tênis Clube,FIAT,Fundo Cristão para Crianças, Rede Cidadã e PBH. Os programas sociais promovidos nos espaços públicos vão além da inclusão social de pessoas carentes. Eles contribuem para a diminuição da violência e do vandalismo. Parques mais estruturados como o Parque das Mangabeiras e o Parque Municipal já recebem diversos eventos culturais. De acordo com o presidente da recém criada Fundação de Parques Municipais, Luiz Gustavo Fortini, o parque é o patrimônio ambiental da cidade. "O município carece desses espaços e vamos fazer com que as pessoas considerem os parques o quintal da casa delas", afirma.A Fundação visa também ampliar o pro-
jeto "Educação Ambiental", que traz as escolas para dentro dos parques. "Esse projeto coloca as crianças em contato com a natureza e explica a importância de se preservar o meio ambiente", completa Fortini. De acordo com a arquiteta Lygia Prota, paisagismo, edificações e entornos sociais são universos inseparáveis."A população reivindicou a construção de quadras de tênis no Parque das Mangabeiras. Consideramos a necessidade da comunidade e a preservação do parque ao optarmos por transformar algumas quadras de peteca em desuso em quadras de tênis. Deve ser permanente a preocupação em conciliar a função social com a preservação dessas áreas", comenta Prota. A arquiteta fala dos objetivos do programa "Esportista Cidadão", que traz crianças carentes da favela da Serra para terem aula de futebol e vôlei, o que mantém os meninos e meninas longe das ruas. Há ainda o programa "Menino no Parque" núcleo do programa “Esportista Cidadão”, que também afasta as crianças das ruas para receberem orientação pedagógica no parque, além de terem oficinas de circo, música, jardinagem, horta, capoeira, leitura, dança e reciclagem.
projeto final, ou seja, a arte ambiental", observa. Depois de definida a área onde será inserido o parque ou a praça, o projeto deve ser norteado por três parâmetros: a acessibilidade, o programa interno e a expressão plástica. "Deve-se pensar no acesso a esses lugares e como construir sua circulação interna e externa. Depois, em quais são os usuários daquele espaço e quais atividades serão realizadas e, por último, em uma aparência agradável e interessante que atraia seu público", aponta Maciel. Comportamento Os parques e as praças de BH são muito requisitados por pessoas de baixa renda, que não têm opções de lazer no fim-de-semana. Entretanto, as classes mais elevadas sempre frequentaram esses locais tornando-os pontos de encontro, prática de exercícios e eventos.Com o aumento da procura por parques e praças para caminhar, surgiu a necessidade de adaptar os projetos desses lugares a essa demanda. Segundo a professora da PUC-Minas, Lygia Prota, arquiteta responsável pelo Parque das Mangabeiras,foi sugerida a construção de uma pista de caminhada dentro do parque, já que a via utilizada para este fim é irregular e pode causar lesões.Mesmo com a reivindicação de muitos usuários,a arquiteta defende que o asfaltamento da pista prejudica a permeabilidade do local e descaracteriza o parque. "É preciso estudar como resolver o problema da caminhada sem causar atrito. O asfalto não é o ideal, apesar de ser mais barato", esclarece.
Crianças brincam no Parque Guilherme Lage, que fica na região Norte de Belo Horizonte
Daniel Gomes
Arquivo pessoal
Praça João Alves, na região de Venda Nova antes (esq.) e depois: descaso e degradação
Descaso ainda é preocupação Projetos arquitetônicos urbanísticos e paisagísticos não valem nada sem uma contrapartida social e do poder público. É necessário que haja fiscalização ostensiva, manutenção regular e também conscientização da população em relação ao seu uso.A preservação dos espaços públicos é dever do Estado, que deve servir de modelo para a população. É mais fácil incentivar a preservação de lugares bem cuidados do que dos degradados. O projeto de praças e parques deve prever o uso de materiais duráveis,de fácil reposição e custo acessível.A vegetação deve seguir os mesmos preceitos. Segundo Marieta Maciel, o cidadão também tem que se comprometer a cuidar da praça, mas ressalta a experiência desagradável que teve com um de seus projetos, a praça João Alves, localizada na região de Venda Nova. "É um absurdo o dinheiro que se gasta na construção de uma praça. Nesse caso, foi falta de manutenção do órgão público, não tenho dúvida. Houve vandalismo porque não havia fiscalização e manutenção", denuncia. De acordo com a arquiteta Raquel Teixeira, a qualidade dos espaços públicos deixa a desejar
quanto à manutenção devido ao baixo orçamento direcionado a ela. "Acredito que a sociedade tem dado valor a esses locais e solicitado cada vez mais a criação de novas áreas. O problema é a questão da segurança, das drogas e da violência", afirma. A Fundação de Parques Municipais, criada em 1º de janeiro deste ano, centraliza a gestão de parques em um único órgão para otimizar recursos e melhorar a qualidade do serviço prestado.A função da instituição é manter e revitalizar os parques existentes e nortear a criação de novos espaços.O presidente da fundação,Luiz Gustavo Fortini, afirma que o primeiro ano serviu para conhecer os parques e elaborar o calendário para o próximo ano. O parque Guilherme Lage, localizado na região Norte de BH já começa a sofrer intervenções. "A primeira providência é consertar as cercas e colocar guaritas para fiscalização.Depois vamos recuperar a estrutura existente, que foi totalmente destruída",comenta.Fortini ressalta que qualquer intervenção será supervisionada por uma equipe de arquitetos. "Já temos um projeto no Parque Municipal e no Parque das Mangabeiras. Não se pode agir de forma isolada", conclui.
• Belo Horizonte é uma das cidades mais arborizadas do mundo, com o percentual de área verde por habitante superando o recomendado pela Organização Mundial de Saúde. • O nome oficial do Parque Municipal é Américo Renné Giannetti, e foi fundado em 1897. Já o Parque das Mangabeiras, projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx, é um dos maiores parques urbanos do país, com mais de três milhões de metros quadrados. • A cidade de Belo Horizonte conta com mais de 500 praças e 27 parques. • BH tem 11 ONGs registradas no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas
Praça previa memorial Entre as praças projetadas pela arquiteta Marieta Maciel, uma das mais conhecidas é a Praça do Papa, no bairro Mangabeiras, região Sul de BH. Batizada de praça Israel Pinheiro, a Praça do Papa é uma rotatória atípica dentro da cidade, com 22 mil metros quadrados.Ela nasceu de um programa que previa a criação de um ponto simbólico para celebrar a visita do papa João Paulo II à capital mineira em 1982. "O projeto foi feito de forma a não destacar a praça frente ao cenário natural do local.Os tons de cor usados nos materiais remetiam sempre ao minério da Serra do Curral", explica Maciel. Além da praça, a arquiteta projetou o altar de onde o papa proferiu sua missa,o que ela chama de "arquitetura efêmera", ou a arquitetura que tem prazo de validade, como galpões, estandes e feiras. O projeto original previa um espaço amplo capaz de receber uma multidão e um museu, que abrigaria os documentos da visita.De acordo com a arquiteta, a inviabilidade da construção desse museu se deveu à urgência na execução das obras, o que impediu que houvesse um estudo do solo. "No ponto onde ficaria o museu,existe uma rocha que só seria perfurada com dinamite. Isso acabou inviabilizando a obra financeiramente", explica.
• A Fundação de Parques Municipais de Belo Horizonte é responsável por mais de 40 parques na Grande BH, além dos cemitérios municipais. • A Lei de Uso e Ocupação do Solo, aprovada em 1979, prevê que 35% de todos os terrenos destinados à urbanização são reservados a vias de circulação (ruas, avenidas, passeios), equipamentos (hospitais, museus) e espaços de uso público (praças e parques). • Por essa razão, esses espaços não são definidos aleatoriamente. O arquiteto, ao receber a encomenda de uma praça ou parque já sabe onde ele está e que área terá. A partir daí, o profissioal vai planejar sua integração com o resto da cidade. Fontes: Belotur e PBH
08 e 09 - especial - Ju Morato
18.10.05
13:22
Page 1
8 ESPECIAL
Editora e diagramadora da p O PONT Belo Horizonte – O
OS LIMITES D
velhic “A dificuldade das pessoas com idosos é justamente não conseguir se ver daquela forma” Gláucia Andrade Escuin
“É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.” (Artigo 3 do Estatuto do Idoso)
08 e 09 - especial - Ju Morato
18.10.05
13:23
Page 2
ra da página: Juliana Morato
ESPECIAL 9
PONTO nte – Outubro/2005
O bom exemplo da Vila Vicentina
DA
e
S
Lígia Ríspoli
Natália Andrade
Lígia Ríspoli e Natália Andrade
5º período
Será o que o Estatuto do Idoso, criado em 1997 e aprovado em 2003, é cumprido pela sociedade? A psicóloga, gerontóloga e coordenadora do Espaço NAM (Núcleo de Atendimento da Maioridade) Gláucia Andrade Escuin, acredita que o Estatuto não é respeitado e exemplos claros podem ser observados no dia a dia em Belo Horizonte.As calçadas estão com buracos, os sinais de trânsito permanecem fechados por pouco tempo, as escadas de alguns ônibus ainda são altas e existe pouco respeito. Caso o idoso demore, a falta de paciência das pessoas logo são expostas.Tal discurso é endossado por outra psicóloga e supervisora do Espaço Maioridade, Lourdes de Jesus, ao afirmar que, se o que estivesse no papel fosse cumprido, seria ótimo. Mas o coordenador voluntário da Vila Vicentina da cidade de Sete Lagoas, José Antônio da Costa, expõe o lado positivo da existência do Estatuto, que tem permitido a ele, com a ajuda de outros voluntários, ir atrás dos direitos assegurados para os idosos. Uma vitória foi conseguir garantir R$300 a todos trabalhadores aposentados que residem na vila, sendo que cada um gasta, em média, R$350. Para apurar sobre o desrespeito ao idoso, a reportagem foi ao João XXIII e a assistente social Alessandra Carvalho Lucciola Coelho esclareceu o que é feito quando chega algum idoso agredido. Eles tentam contactar a família e ouvem a versão dela. Se estiverem envolvidos, fazem a denúncia. Não são muitos idosos que vão para o local; são mais comuns crianças e adolescentes.Além do mais, por ser um atendimento emergencial, nem sempre dá tempo de notificar, pois não podendo esperar a demora do atendimento, a pessoa procura outro hospital. Existem casos e mais casos, como o idoso que chegou todo machucado porque um pivete o agrediu quando ele saía do banco.Tem também o de uma outra senhora que foi bem problemático. Ela morava com sua irmã idosa e cega que a agredia.Várias vezes essa senhora foi parar no João XXIII. Não existia nenhum familiar além das duas, e as assistentes sociais fizeram de tudo: ligaram para o Disque-Idoso, a assistente social Mônica Tomagnini foi até a casa delas e disse que tinha muitos gatos e não era nem um pouco higiênica a moradia. Os vizinhos confirmaram a agressão da irmã.Alessandra falou que elas têm um “caderninho de milagres”, que contém telefones de igrejas, pastores, albergues, asilos, que tiveram que recorrer. Só assim, com muita dificuldade, conseguiram um asilo para a senhora. Elas não gostam de colocar idosos em albergues porque há muitos bêbados e drogados, já que existem os que são espancados pelo próprio filho ou neto por causa de drogas. Outro caso relatado por Alessandra foi da idosa rica que estava abandonada na rua. Contataram a família e esta não quis a aceitar. Ouviram a versão dos familiares e ela foi para um abrigo. Isso acontece: o idoso chega lá para ser hospitalizado mas não o aceitam de volta ao lar. É complicado,porque o João XXIII precisa de leitos.Mônica fez questão de enfatizar que o Disque-Idoso não é bom, pois atendem, mas não resolvem. Ela não se lembra de uma questão legal que esse serviço tenha resolvido. Perguntadas se acham que o Estatuto do Idoso é respeitado,Alessandra e Mônica negaram. Mônica afirma que é preciso pôr a punição em prática e Alessandra lembra que nossa cultura dificulta as coisas.“Vivemos em um país em que descartamos tudo, uma caneta velha, mesmo que funcione, jogamos fora”, enfatiza. O mesmo acontece com as pessoas. Chegam aos 50 anos e são descartadas. Lá fora, na Europa por exemplo, é diferente. Os idosos são risonhos, bem-vestidos, possuem vida social. Eles vão para o teatro e os lanterninhas os ajudam, têm lugares especiais. Tanto é que quem lucra hoje, de médicos, são os que vão para a área de estética. Existe um novo produto no mercado, um novo creme e o povo fica doido, todo mundo corre para comprar. Os dois locais visitados em Belo Horizonte, são particulares.Vimos uma infra-estrutura bem preparada para lidar com os idosos, principalmente os doentes. Mas sabemos que é necessário um bom investimento financeiro por parte das famílias. Questionamos e Gláucia Escuin lembra muito bem que a questão de lugares decentes é de Saúde Pública, mas não se pode generalizar, alguns sobrevivem com dificuldade mas nem por isso maltratam os idosos. Na época em que ela fez uma pesquisa constatou que investia-se apenas R$3 em cada idoso, então como julgar severamente asilos que não tem nem pessoas preparadas para lidar com eles? Enquanto isso, os particulares chegam a cobrar R$2 mil com estadia, fora médicos e remédios. Essa é uma questão que envolve a sociedade e a política para resolvê-la.
José Antônio da Costa nos recebeu na instituição Vila Vicentina, em Sete Lagoas. Ele é um dos voluntários que faz com que o local funcione. Há um ano é o coordenador da vila. José também faz parte do grupo São Vicente de Paula - instituição que doou o terreno há 52 anos – e, além disso, é o presidente do Conselho Municipal de Sete Lagoas. Com tantas atividades, é uma pessoa que entende bem o Estatuto do Idoso e as dificuldades dos residentes do local. A vila não recebe ajuda nenhuma da prefeitura e os R$ 5 mil que arrecadam do governo por mês, foi direito adquirido através do Estatuto do Idoso.As despesas totais da instituição somam R$45 mil por mês. Para fechar o dia trinta, as empresas auxiliam. Graças a alguns voluntários foi possível a fabricação de fraldas no local, e agora eles as vendem. Estão investindo também em hortas e lavanderias. Caso tenham condições, vão reformar e pintar as casas, além de contratar uma assistente social, que apesar de ser caro, é fundamental.Tem vontade
de arranjar ambulâncias e uma van, para facilitar o transporte. A vila possui uma casa maior onde fica os idosos que precisam de cuidados especiais sempre. Para estes existem enfermeiras 24 horas por dia no local. Para os que não necessitam dessa vigilância, existem casas separadas, como em um bairro, com direito a ruas. O que realmente foi impressionante, ao percorrer uma delas é que os idosos deixaram de ser um grupo para tornarem-se indivíduos. Visitamos as casas, entramos em algumas, conversamos com os velhos. Foi assim que pudemos conhecer “O Poeta”, autor de algumas obras; um artista que tocava piano, outro que planta uma horta, e outros que apenas nos cumprimentavam e às vezes puxavam papo. Descaso O que tornou a Vila Vicentina um bom exemplo foi essa humanização, uma inspiração para muitos outros locais. José Antônio enfatizou que a vila não é para o fim da vida, e sim para a qualidade de vida. O pre-
conceito que existe não parece estar na instituição e sim na sociedade. O coordenador reclamou da falta de interesse dos políticos, que pensam apenas em votos. “E estão enganados até nisso, porque os idosos representam 12% da população brasileira”. Um exemplo que o deixou indignado foi com a prefeitura da cidade, que se comprometeu a doar R$ 30 mil. Eles assinaram o acordo, houve festa e a imprensa também foi. Não receberam o dinheiro, mesmo assim os jornais regionais publicaram que haviam recebido e passaram uma mensagem de que agora eles estavam bem. Houve empresas voluntárias que não queriam ajudar mais porque acreditaram que já não havia necessidade.Até a data de publicação dessa matéria ainda não receberam nada. Muitas pessoas ainda acham que devem ser apenas gentis com a 3ª idade. Engano. Respeito é lei. É muito difícil lutar pelos direitos, mas eles possuem também a ajuda de promotor que atua como voluntário e defende a causa dos idosos. Natália Andrade
Idosos deixam de lado as dificuldades e buscam sua sobrevivência com muito trabalho
Atendimento precário A primeira delegacia do idoso do país funciona na Rua Paracatu, 822, Barro Preto, cuja fachada é discreta e apesar das escadas, é também dos deficientes físicos. A delegacia surgiu em 1997, e, de acordo com Raul Pinto Aires, assessor da delegada Sueli Aparecida Paixão, foi a primeira do país.Antes da existência dessa delegacia especializada, os idosos tinham que recorrer às regionais. O objetivo é atender casos de violência doméstica, perturbação da tranqüilidade, abandono, cárcere privado, ameaças, apropriação indébita. Quem atende o idoso na residência é a polícia militar, existe viatura no local, mas é apenas para levar a pessoa para a jurisprudência se
precisar.A delegacia registra boletim, ouve ambas as partes e a conduz até o juizado especial da Via Expressa.A delegacia pareceu não ter muita estrutura, mas Raul concordou que realmente não existe muito investimento do governo. Infra-estrutura escassa No caso do idoso que sofreu agressão de algum familiar, eles não oferecem nenhuma estrutura e ajuda para proteção. O idoso, então, volta para a mesma casa em que pode ter sido agredido. Não é à toa que também é frequente casos de retirada de queixas. É comum também o juiz decidir que o idoso continue a morar na mesma casa. José Antônio da Costa, res-
salta um caso em que a família não é agressora, mas está desempregada e a idosa estava em uma casa sem luz, sem água, tomando café com açúcar, sendo diabética. Ninguém podia comprar adoçante. Não deixa de ser um maltrato, mas não é possível acusar a família. Essas são questões sociais, porque o Brasil é o oitavo país mais desigual do mundo. É um problema político porque o Estatuto do Idoso tornou-se uma realidade, mas ainda engatinha.Torna-se um problema de saúde pública porque é necessário garantir uma melhor qualidade de vida. Deve-se garantir os direitos e quebrar as barreiras da cultura do preconceito a esse grupo populacional. Natália Andrade
1ª Delegacia do Idoso: ações da instituição ainda são precárias e sociedade cobra soluções
10 - esportes - Fabrício
18.10.05
13:24
Page 1
Editor e diagramador da página: Fabrício Araújo
10 ESPORTE
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Cruzeiro é prejudicado com transferências Clube é reconhecido por grandes conquistas, mas não tem a mesma competência para contratar Arquivo O Ponto
Isabella Antunes 5º Período A situação financeira dos clubes brasileiros preocupa não só os dirigentes, mas, principalmente, os torcedores.Alegando a busca do equilíbrio financeiro, as equipes do país negociam seus principais jogadores com o futebol do exterior em plena disputa do Campeonato Brasileiro. Sendo assim, a torcida fica sem saber se é mais vantajoso ter um time viável economicamente ou com bons jogadores, já que a retórica usada pelos dirigentes impossibilita a combinação destes dois fatores. A venda do atacante Fred, ex-Cruzeiro, é o exemplo mais recente dessa situação. No final de agosto, o artilheiro do Campeonato Brasileiro, foi negociado com o Lyon da França por 15 milhões de euros. Após a transação, a equipe celeste superou a maior seqüência de derrotas consecutivas dos 84 anos de sua história, que era de seis partidas. A saída do principal jogador pode ser considerada um dos fatores que provocou a queda de rendimento do time. No entanto, a falta de planejamento da diretoria cruzeirense foi a principal responsável, como afirma João Vítor Xavier, jornalista esportivo da Rádio Itatiaia. “A diretoria fez péssimas contratações, tanto que o Cruzeiro não conseguiu nenhum título esse ano. Perdeu a final do Mineiro para o Ipatinga e foi eliminado da Copa do Brasil pelo Paulista. Faltou planejamento”, diz o jornalista. O Clube é conhecido por sempre negociar bem seus principais jogadores. Algumas vendas chegam a surpreender até aqueles que acompanham o esporte de forma mais assídua, como a ida do atacante Geovani para o Barcelona e a transfe-
Restrição da CBF gera polêmica e controvérsias
rência de Evanílson para o futebol alemão. Depois da ótima campanha na temporada de 2003,quando conquistou o Brsileiro, o Cruzeiro, em apenas seis meses, negociou ou liberou 15 jogadores, dentre eles Thiago, Aristizábal, Mota, Márcio Nobre, Alex, Cris, Maicon, Felipe Melo e Gomes.Tal mudança não foi compreendida pela torcida. Após o desmanche, o time só escapou da queda à Segunda Divisão na penúltima rodada da edição do Campeonato Brasileiro de 2004. Diferenças de calendário Apesar dos fracassos, há torcedores que aprovam a política adotada pela diretoria. Para o cruzeirense Diego Fernandez, 22 anos, ao manter as contas em dia, o Clube dá um passo à frente das demais equipes para a conquista de títulos. Entretanto, o preço para obter tal situação pode ser elevado, já que muitas vezes é preciso abrir mão de jogadores em um momento delicado do campeonato. “O problema é que essas negociações são feitas sempre durante a competição, devido à diferença existente entre o calendário europeu e o brasileiro”, afirma. Segundo Xavier, a melhor solução para que não ocorram mais desfalques nas equipes brasileiras durante o campeonato, seria igualar o calendário do futebol no Brasil com o da Europa.“Tem um projeto da CBF para igualar os calendários a partir de 2007 ou 2008”, explica o jornalista. Com a medida, os campeonatos estaduais que começam em janeiro passariam a ter início em agosto. Já o Campeonato Brasileiro, começaria em outubro, ao invés de abril, indo até o mês de junho. Dessa forma, as transferências ocorreriam no início de cada competição.
O goleiro Gomes, do PSV Eindhoven, deixou o Cruzeiro durante o Brasileiro de 2004
Com o objetivo de barrar a saída de craques durante o Campeonato Nacional, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) adotou, no início de 2004, uma medida para restringir o prazo de transferência ao exterior dos jogadores que disputam a competição. Foi assinada uma resolução que impede os jogadores de futebol de se transferirem para o exterior durante o Campeonato Brasileiro. No entanto, a medida só entrou em vigor em 2005. Com essa decisão da CBF, o mercado brasileiro fica aberto à exportação somente duas vezes ao ano, nas chamadas “janelas de transferência para o mercado externo”, ou seja, no início e no meio do ano. Os clubes podem acertar a venda ou empréstimo dos atletas em outros períodos do ano, mas a transferência só se daria nessas duas épocas. Já para negociações entre clubes brasileiros durante as competição nacionais, os atletas podem deixar uma equipe e defender outra desde que não tenha jogado mais de seis vezes com a camisa do time de origem. O jornalista João Vítor Xavier se diz absolutamente contra este sistema de “janelas” criado pela CBF.“O jogador de futebol também é um trabalhador comum, e todo profissional tem que ter o direito de ir e vir quando achar que vai ser melhor para sua carreira”, opina Xavier. Segundo a CBF, a medida está de acordo com a legislação vigente no país.A entidade cita o artigo 33 da Lei Pelé, que dá a ela o poder de definir o período para transferências. Divulgação
Barrichello e Massa trocam de equipes João Marcelo Passos 6º Período Os pilotos brasileiros Rubens Barrichello e Felipe Massa não correrão mais por suas atuais escuderias na temporada 2006 da Fórmula 1. Tudo começou a partir de declarações feitas pelo ex-piloto Nelson Piquet sobre a possibilidade da ida de Barrichello para a equipe Bristh American Racing (BAR) Honda. O boato foi reforçado pelo fato de as relações entre o piloto brasileiro e a Ferrari estarem abaladas desde o GP de Mônaco, em maio. Após esta corrida, Barichello passou a criticar publicamente seu companheiro de equipe Michael Schumacher e a própria escuderia. No próximo ano, o brasileiro será o primeiro piloto da BAR que correrá com o piloto inglês Jenson Button. Outro fator que facilitou a transferência de Barrichello foi a demanda da equipe inglesa por um piloto com mais experiência, que possa ajudar no desenvolvimento da escuderia.A antiga amizade do piloto brasileiro com Gil de Ferran, diretor esportivo da equipe, também ajudou na negociação. Rubens se enquadra no perfil almejado pela BAR, já que tem a fama de ser um bom acertador, sobretudo de motores, além ser um dos mais experientes pilotos em atividade, há 13 anos competindo nas pistas da Fórmula 1.
Segundo o jornalista Fábio Campos, especialista em automobilismo, ainda é precipitado falar se a ida de Barrichello para a BAR será benéfica. “Essa mudança de equipes não deixa de ser um retrocesso na carreira do piloto, já que a Ferrari continua proporcionando as melhores condições de trabalho, ao passo que a expectativa de que a BAR possa vir a ser uma equipe de ponta é muito grande”, diz Campos. Com o cobiçado lugar de segundo piloto vago na Ferrari, o também brasileiro Felipe Massa, de 24 anos, que já havia feito testes pela equipe italiana em temporadas passadas, foi a primeira opção para o cargo. O fato de ser empresariado pelo francês Nicolas Todt, filho do diretor esportivo da equipe italiana, Jean Todt, ajudou na sua transferência para a equipe de Maranello. Massa deixou boa impressão junto à cúpula italiana, nos treinos realizados no ano de 2003. De acordo com o jornalista, a próxima temporada pode abrir, ainda mais, as portas de outras grandes equipes da Fórmula 1 para o brasileiro Felipe Massa.“Ele tem tudo para evoluir na carreira, por correr ao lado de um piloto heptacampeão mundial. Se obtiver sucesso no mundial disputado em 2006, Massa pode despertar o interesse de outras grandes equipes da categoria”, destaca Fábio Campos.
Honda patrocina e aposta na britânica BAR e no brasileiro Rubens Barrichello
Fórmula 1 utilizará Campeões mundiais motores V8 em 2006 retornam às pistas A temporada 2006 da Fórmula 1 sofrerá várias mudanças no regulamento,sendo que a mais significativa será a utilização de motoresV8 de 2,4 litros no lugar dos atuais V10 de 3 litros.A medida tem o objetivo de reduzir os custos da categoria para equipes de baixo orçamento como, por exemplo, Minardi e Jordan. No entanto,com motores menos potentes,a velocidade dos carros será reduzida drasticamente. Para o jornalista Fábio Campos, a simples mudança no regulamento no que se refere ao motor pode alterar a ordem de forças das equipes.“Quem se adaptar melhor ao regulamento tem as maiores chances de buscar o tí-
tulo de construtores”, afirma Campos. A BMW Willians e a BAR Honda se opuseram às regras de motores, alegando que o regulamento foi imposto sem aviso prévio. Quem já saiu na frente em relação aos novos motores V8 é a Ferrari. Desde agosto, o espanhol Marc Gene, vem realizando testes com o novo propulsor, adaptado ao F2004, carro de 2004. A Mercedes, parceira da McLaren, também iniciou seus testes mais recentemente com o terceiro piloto da equipe, Pedro de la Rosa. As montadoras estão numa corrida contra o tempo para desenvolver motores à altura dos concorrentes.
A partir do dia 13 novembro, começa uma nova categoria do automobilismo mundial: a Grand Prix Masters. A competição contará com pilotos consagrados da Fórmula 1, como o francês Alain Prost e o brasileiro Emerson Fittipaldi, ambos campeões mundiais. Outros como Alan Jones, Rene Arnoux, Riccardo Patrese, Stefan Johansson, Andrea de Cesaris, Jan Lammers, Nigel Manssel e Ivan Capelli confirmaram presença no campeonato. De acordo com o fã de automobilismo Gustavo Amorim, a expectativa é de que a GP Masters seja um sucesso. “Será um sonho rever alguns dos pi-
lotos que fizeram história. É como se, em uma partida de futebol, jogassem Pelé, Maradona e companhia”, destaca Amorim. Para ele, a semelhança entre os carros deixará a competição muito equilibrada, sendo um ingrediente a mais para a nova categoria. A empresa britânica Delta Motorsport será a responsável pela construção dos carros que poderão alcançar a velocidade máxima de 320 Km/h. A primeira prova será disputada na pista de Kyalami, na África do Sul, e as demais 17 acontecerão em alguns dos circuitos que fazem parte do atual calendário da Fórmula 1.
11 - saúde - Ju Morato
18.10.05
13:24
Page 1
Editora e diagramadora da página: Juliana Morato
SAÚDE 11
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Belo Horizonte assume vanguarda na
PESQUISA CIENTÍFICA Vanessa Nogueira
Mas população desconhece a importância de estudos na área de saúde
Em Belo Horizonte, instituições como a Fundação Ezequiel Dias, Funed e o Centro de Pesquisa René Rachou, unidade regional da Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz, desenvolvem experimentos relevantes para a população, mas a maioria deles não são divulgados, e a sociedade fica sem saber o que está sendo produzido.“As pessoas desconhecem que a capital mineira seja um importante pólo científico, de referência nacional”, afirma a jornalista e estudiosa do assunto Patrícia Freitas. Criada em 1907, a Funed prioriza a pesquisa bioquímica, imunológica e farmacológica do veneno de animais peçonhentos. “O princípio ativo desses venenos atua nos sistemas humanos, como o nervoso e o circulatório, e podem ser usados como medicamentos”, ressalta a diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Ezequiel Dias,Thaís Viana.Uma das pesquisas desenvolvidas é a produção de um diagnóstico para a dengue, que diminui o falso índice negativo verificado nos exames usuais. Já a Fiocruz, além do desenvolvimento de pesquisas, dá suporte ao Sistema Único de Saúde, SUS, que realiza o atendimento gratuito à população. A maior preocupação dessa instituição são as doenças tropicais, já que no exterior elas não são estudadas, por não serem freqüentes. A sede da Fiocruz em BH conta com um setor de comunicação de acesso ao público e possui 14 laboratórios para a realização das pesquisas. Um desses laboratórios é o de Química e Produtos Naturais que realiza pesquisas com plantas e fungos. Para isso, são coletadas espécies em parques e reservas estaduais e federais.“No Brasil, o acesso à biodiversida-
de, essencial para o início dos trabalhos, só é permitido com a licença do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente; se não for concedida, a prática é considerada biopirataria”, diz o pesquisador do laboratório, Luiz Henrique Rosa. “Em média, desde o início da pesquisa até a produção de uma droga, são cerca de 15 anos de estudos, que podem resultar na cura ou controle da doença”. Os procedimentos seguidos durante as pesquisas passam pela coleta, isolamento, purificação, identificação e detalhamento morfológico das espécies selecionadas. Para que a substância seja identificada, é feito um seqüenciamento de DNA, que detecta se ela é ou não uma substância já conhecida. Informação é o remédio De acordo com a revista Nature, um dos mais imortantes periódicos, 80% da biotecnologia aplicada à saúde é feita em universidades e institutos de pesquisas estatais. Um dos motivos para essa ocorrência na pesquisa brasileira é que as empresas privadas nem sempre se interessam em financiar projetos, pois o lucro não é garantido, já que não há como prever os resultados.As instituições públicas funcionam com verba estatal e não se preocupam somente com a obtenção de remédio, mas também em informar a sociedade os benefícios dos projetos. Os veículos de comunicação, por sua abrangência e penetração junto ao público, deveriam atuar como divulgadores das pesquisas científicas, de modo que toda população tenha conhecimento de suas vantagens. Entretanto,“quando se trata de divulgar estudos científicos, a imprensa geralmente faz referência à pesquisas internacionais, explorando pouco suas repercussões no contexto nacional, e menos ainda, no regional”, ressalta o médico Paulo Lobato. Vanessa Nogueira
Estudantes aliam teoria e prática nos projetos
Importantes pesquisas são realizadas por instituições mineiras para o combate de diversos tipos de doenças
Curso médio da Dengue
1ª Infecção
Fonte: Funed
Camila Coutinho, Maria Inês Araújo e Vanessa Nogueira 6º Período
2ª Infecção
Anticorpo anti-dengue classe IgM Anticorpo anti-dengue classe IgG Virema: vírus no sangue Picada do mosquito: infecção
0
15
30
45
60
0
15
Tempo (dias)
30
45
60
Tempo (dias)
Falta de investimentos e recursos dificultam atividades acadêmicas O meio científico enfrenta inúmeros entraves no que diz respeito ao desenvolvimento das pesquisas, como a complicada obtenção de financiamento para os estudos, a falta de mão-de- obra qualificada em instituições públicas e até mesmo influências culturais. Além disso, a maior parte dos investimentos feitos na área de saúde provém de verba pública. Para o chefe do Serviço de Imunologia e Bioprodutos da Funed, Luiz Guilherme Dias Heneine, o costume cultural de atribuir a parentes e amigos cargos de confiança, sem que sejam capacitados para assumí-los, interfere na produção científica. “Algumas pessoas que ocupam cargos de chefia não sabem avaliar um bom projeto, o que barra seu desenvolvimento. O mesmo não acontece em empresas privadas”, ressalta o pesquisador. A contratação de trabalhadores em instituições públicas só deve ser feita através de concursos. Para a diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Funed,
Thaís Viana, esse é o principal problema da instituição. Há 25 anos trabalhando na Fundação, ela nunca presenciou um concurso público destinado à contratação de novos pesquisadores. “Temos aqui na Funed apenas dez pesquisadores, e a maioria da mão-de-obra utilizada na instituição é de bolsistas”. Possíveis soluções Um outro problema é que o Brasil investe muito na formação de doutores, mas não dedica atenção suficiente ao desenvolvimento dos estudos posteriores à formação. Segundo o chefe do Laboratório de Imunologia Celular e Molecular do Centro de Pesquisa René Rachou, Rodrigo de Oliveira,“todo o investimento que o país faz é totalmente perdido, porque não há boas condições para o pesquisador”. Doutor pela Fiocruz, Rodrigo diz, ainda, que muitos cientistas viajam para fora do Brasil em busca de melhores condições para desenvolver o conhecimento e acabam
ficando no exterior, já que encontram maior incentivo. Uma alternativa para amenizar esses impasses é a divulgação das atividades desses órgãos. Com esse objetivo, foi criado em março de 2004, o setor de comunicação no Centro de Pesquisa Oswaldo Cruz, que é responsável pelas comunicações interna e institucional com a unidade da Fiocruz no Rio de Janeiro e pelo atendimento aos veículos de comunicação.A iniciativa resultou nos últimos 11 meses, em 120 inserções em rádio, jornal, televisão e sites de divulgação. “Felizmente, nós nunca tivemos um release que não tenha se repercutido na imprensa com matéria”, observa o chefe do setor de comunicação da Fiocruz,Aílson Santos. “Empresas privadas poderiam investir na área de comunicação, aumentando a geração de recursos para a contratar um pessoal qualificado e preparado, incentivando assim, a competitividade nas instituições públicas”, conclui Aílson.
Estudantes ganham espaço e aprimoram conhecimentos O número de alunos bolsistas e estagiários que compõem a área de pesquisa em Belo Horizonte é representativo. Hoje são 600 estudantes bolsistas de iniciação científica, que trabalham no desenvolvimento de pesquisas do Instituto de Ciências Biológicas, ICB, de acordo com o site da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. A aplicação dos conceitos teóricos à prática da profissão auxilia os alunos à escolha de uma área específica de atuação, bem como a obter uma formação acadêmica de qualidade. Aprendizado Estudante de Medicina Veterinária da UFMG, Carolina Costa participa do projeto de iniciação científica do ICB e destaca a importância da experiência para a sua formação profissional e pessoal:“a vivência acadêmica é essencial para se conhecer as possibilidades da profissão, pois o mercado de trabalho tem características mais práticas do que teóricas”; diz. As funções que os estudantes exercem os auxiliam dentro de sua área de atuação, acrescentando experiência, amadurecimento e conhecimento, através dessas atividades extra-classe. Estagiário da Funed, Antônio Zumpano reconhece a importância das suas tarefas: “o estágio abriu horizontes com relação à pesquisa e ao campo de trabalho que proporciona. Hoje, escolho em que área atuar”. Os estagiários e bolsistas compõem um quadro de pessoal motivado, determinado e disposto a realizar suas tarefas com maior precisão e responsabilidade. Portanto, os centros de pesquisa ganham qualidade e agilidade ao empregar esses estudantes, uma vez que eles se encaixam perfeitamente nos parâmetros exigidos.
12 - educacao - Bella Martins
18.10.05
13:24
Page 1
Editor e diagramador da página: Isabella Martins
12 EDUCAÇÃO
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
línguas
Inventa Português sofre invasão de novos termos e incorpora palavras usadas no mundo virtual
Jornalismo na Língua Portuguesa O lançamento da primeira edição da revista Língua Portuguesa tenta mostrar que o amplo universo do idioma pode ser acessível. Segundo o idealizador e editor da revista, Luís Costa, ela pretende dialogar com a comunidade, É uma forma de a língua ajudar a melhor entender a realidade.“A revista é um produto inédito no Brasil, por ser o primeiro a atribuir um tratamento jornalístico”, diz o idealizador do projeto. “Não era possível para os pesquisadores da língua falar com propriedade de fenômenos lingüísticos. Os últimos dez anos mostram que nunca houve tamanha facilidade de comunicação, causada pelos meios de comunicação e, principalmente, pela internet. Suspeito que o maior interesse na língua portuguesa deve-se a essa maior exposição dos brasileiros, em que eles têm que se comunicar”, afirma Luís.
Inovações A procura incessante pela modernidade leva ao surgimento de gírias que buscam sua afirmação a partir de palavras relacionadas à agressividade. Expressões, principalmente ligadas à música, tiveram seu sentido bruscamente alterado para atender aos supostos interes-
ses da mídia. Um exemplo é o Funk. No Brasil, tornou-se comum classificar como funk aquele som vulgar e pouco elaborado, com letras quase faladas ou fritadas por pessoas sem talento vocal.A rotulação é antiga, vem da década de 80 e veio das equipes de som cariocas que estavam lançando arremedos que aderiam ao som eletrônico de África Bambataa (que fundiu as influências do fundador do funk, James Brown, com a electronica do Kraftwerk). Mas esse gênero bastardo ganhou nome próprio, miami bass, pouco difundido. É comum ao português o uso de neologismos. Geralmente, os lingüistas defendem tal uso, considerando-o como um fenômeno de evolução e aperfeiçoamento da língua, em função do progresso científico e tecnológico. Conseqüentemente, para eles, os neologismos expressam, com exatidão, novas descobertas, novos fatos e novos conceitos. Apesar das diversas influências e interferências que o português vem sofrendo, nota-se a conscientização do povo brasileiro em relação ao aprendizado do idioma. Existe necessidade de aprimorar o conhecimento da língua, já que a falta de domínio pode virar um problema, tanto no âmbito pessoal como no profissional.
Wânia Ferreira
Luís Henrique Barbosa, professor de Língua Portuguesa da Universidade Fumec
Português foi imposição cultural da metróple O português vem sofrendo transformações desde o seu descobrimento, devidos às grandes navegações dos portugueses.Nos séculos XV e XVI, por meio dos movimentos colonialistas e de propagação do catolicismo, espalhou-se pelo mundo a língua portuguesa. O português era imposto às línguas autóctones como língua oficial ou modificava-se dando origem aos dialetos crioulos. Foi assim que a língua chegou à América, África, Ásia e Oceania. De acordo com o site www.portugues.com.br, quando o português foi imposto ao Brasil, os povos indígenas se mostraram extremamente resistentes à língua dos colonizadores, pois além das diversas línguas indígenas, misturaram-se também o português, o francês (devido às invasões),as línguas africanas (devido ao tráfico negreiro) e, posteriormente,outras línguas européias como o italia-
no, alemão e espanhol (devido à imigração). Influências Ainda nota-se como essas influências foram diretas e curiosas, como o Tupi nos nomes das pessoas (como Ubirajara, Iracema, Jupira), nome de lugares (como Ipanema,Copacabana) e nos nomes de animais e plantas (como, por exemplo,tatu,arara,cajú,maracujá, etc). Os dialetos africanos deixaram duas marcas, principalmente no nordeste do país (como acarajé, dendê, fubá, quilombo).A palavra níquel têm origem alemã, já paletó, boné, matinê e abajour tem origem francesa.A influência italiana está presente na culinária, como por exemplo, espaguete, lasanha e capelete. “Devemos ser gratos aos portugueses. Se não fossem eles, estaríamos até hoje falando tupiguarani, uma língua que não entendemos”,fala com irreverência o escritor Millôr Fernandes.
Vitrine
É perceptível no português brasileiro interferências de expressões estrangeiras, de linguagem da internet, de gírias e de neologismos. Há uma grande facilidade e falta de senso crítico na forma com que elas são absorvidas pelo uso cotidiano do idioma, seja na mídia em cartazes, em letreiros ou na linguagem oral. O inglês, na posição de segunda língua mais falada no Brasil, antes ocupada pelo francês, é muito difundido devido ao poder econômico dos Estados Unidos. A distribuição de filmes, músicas e ícones é feita de maneira massiva e contínua, alimentando e perpetuando a dominação cultural americana. Segundo o professor da Faculdade de Letras da UFMG César Nardelli, doutor em filologia e língua portuguesa pela USP, a influência do inglês na língua portuguesa é setorizada, já que não ocorre em todas as áreas. No entanto, em alguns segmentos é predominante, como por exemplo, na linguagem cibernética. Ao mesmo tempo em que surgem novas palavras a cada edição de dicionários, há a ex-
clusão de palavras arcaicas, diz o professor de português da Universidade Fumec Luís Henrique Barbosa.A Academia Brasileira de Letras é a responsável por fazer o vocabulário ortográfico da língua portuguesa, e tem função importante na passagem de significados de palavras estrangeiras para o nosso idioma. “Muitas pessoas ao privilegiarem o estudo de línguas estrangeiras antes de conhecer e aprender a língua portuguesa cometem a estúpida façanha de se expressarem mal em dois ou mais idiomas.A instância social pede ao conhecimento da língua portuguesa. A falta de domínio da mesma pode derrubar, levar ao fracasso de seu usuário na vida prática, já que o mercado de trabalho exige que se conheça bem a língua portuguesa. Profissional que escreve e fala mal, pega mal”, diz Helio Evmard de Lima Barbos, professor de portugês, mais conhecido como Helinho.
Projeto
Camila Leite Eduarda Santos Mayra Abranches Marina Jordá 5º Período
13 - midia - fernanda melo
18.10.05
13:25
Page 1
Editor e diagramador da página: Fernanda Melo
MÍDIA 13
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Imprensa mineira peca durante crise política Apesar de muitas fontes estarem em Minas, veículos nacionais saem na frente quando o assunto é apuração Henrique Lisboa
Pedro Bcheche 5º Período
berg, não tem como diversificar as manchetes já que as informações dadas pelos jornais geralHá mais de três meses o Bra- mente possuem a mesma origem. sil vive o escândalo do Mensalão, Já o editor de política do Esdenunciado pelo ex-deputado fe- tado de Minas,Baptista Chagas,diz deral Roberto Jefferson.Iniciou- que seu jornal busca informações se uma corrida em busca de de- inéditas. Chagas ressalta a manpoimentos e furos de reportagem chete dada pelo EM sobre a exispor parte da imprensa. Belo Ho- tência de caixa 2 durante a camrizonte passou a ser um dos fo- panha de Lula à presidência, em cos principais 2002, feita pelo “Para ter das notícias a publicitário Dupartir do apare- visibilidade, as da Mendonça. cimento do emquespessoas procuram Quando presário mineitionado sobre o ro Marcos Valé- a Folha, o Globo furo dado por rio,tido como o O Globo sobre o ou o Estadão” operador do mesmo esqueMensalão. Mesma na campamo as fontes se Carlos Lindenberg, Hoje em Dia nha de Eduardo encontrando Azeredo em 98, em Minas Gerais, alguns jornais Chagas se justifica afirmando ser mineiros demoraram a se mani- este um caso ultrapassado. festar sobre o caso e basearam A colunista do jornal O Temparte da sua cobertura em infor- po Bianca Alves afirma que muimações dadas por agências de no- tas informações vieram das CPIs, tícias. e algumas, como a CPI do CorO Ponto procurou os princi- reios,não possuíam membros mipais jornais de Minas para ques- neiros.“O político tende a quetionar a cobertura da crise. O di- rer aparecer em jornais do seu esretor de redação do jornal Hoje tado, por uma questão de sobreem Dia, Carlos Lindenberg, afir- vivência”, justifica. Bianca ainda ma ser natural que grandes furos diz que Minas não tem veículos tenham sido dados por jornais de poderosos por razões históricas: fora já que as fontes tendem a economia de base primária, sem priorizar os jornais de caráter na- grandes anunciantes e com grancional. “Quando alguém quer de dependência do poder publíuma maior visibilidade procura a co.“ A imprensa mineira não teFolha, O Globo ou o Estadão”, ve medo de cobrir a crise, mas constata. Ele ainda afirma que o veio atrás por falta de estrutura, Hoje em Dia dá mais atenção aos dinheiro e pessoal “, alega. fatos regionais.Segundo Linden- Colaborou: Fernanda Melo
Muitas fontes priorizam veículos de caráter nacional, como a Folha de São Paulo, O Globo e o Estado de São Paulo.
Agências prejudicam apuração
Jornais não fazem Preferência popular análise dos fatos
O uso de informações dadas por agências de notícias por parte da imprensa mineira preocupa os leitores críticos. De acordo com o diretor de redação do jornal Hoje em Dia, Carlos Lindenberg, seu jornal utiliza a agência Folha, já que não possui correspondentes fora do estado. Quando questionado se as informações eram checadas, Lindenberg afirma acreditar na confiabilidade da agência. Ele ainda lembra a proposta do jornal.“O Fato é que nossas manchetes quase sempre dão destaque a fatos ocorridos em Belo Horizonte e região”, explica. O editor de política do Estado de Minas, Baptista Chagas, afirma que o jornal trabalha com matérias próprias e possui uma parceria com o jornal Correio Braziliense, o que facilita o acesso às informações diretamente em Brasília.“Acho importante ir atrás das fontes diretamente e estamos sempre mandando repórteres onde for necessário”, afirma Chagas. A colunista do jornal O Tempo, Bianca Alves, conta que o jornal usa de informações de agências, mas procura trabalhálas com apurações próprias. Durante o caso do mensalão, a editora ressalta que O Tempo cresceu muito e conseguiu materiais exclusivos com a ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina. Bianca ressalta que a ausência de uma estrutura montada especialmente para correr atrás de certas informações, como fizeram os grandes jornais durante a cobertura da crise, resulta numa fragilidade maior dos veículos mineiros. Segundo ela o uso de informações de agências é comum e ocorre em todos os jornais. Bianca diz que é evidente a vantagem de fazer notícias de qualidade.“Boas matérias são um produto que vende muito.Vendendo muito jornal , atrai mais anunciantes e recursos para as redações ” diz.
População diz qual o veículo que utiliza para se manter informada sobre os acontecimentos políticos Fotos: Gabriela Oliveira
“Leio a Folha de São Paulo, a qualidade é diferente”
“Utilizo a internet, e leio o Estado de Minas”
“Escuto sempre a rádio Itatiaia e vejo o Jornal Nacional”
Paulo Preguci, administrador
Maíra Costa, Assistente Comercial
Paulo Fernando, engenheiro da Telemar
A imprensa, na maioria das vezes,se baseia no factual,não explicando a origem dos fatos,. Em palestra para a universidade Fumec,no dia 21 de setembro,Carlos Lindenberg, diretor de redação do Hoje em Dia, confessa que seu jornal não tem recursos para cobrir mais de perto casos que ocorrem no cenário nacional. Ele afirma ainda que muitos jornais que possuem condições, não o fazem. O diretor diz que a imprensa ainda peca em publicar furos levianos, e relembra o caso da Escola Base, em 94, que rendeu processos para vários jornais como o Estadão e a Folha de São Paulo. De acordo com o diretor, os jornais ainda não perderam muitos leitores para a mídia eletrônica, que não considera uma boa fonte, por priorizar mais a velocidade do que a qualidade das informações.Isso com exceção dos jovens que, segundo ele, ainda é um público difícil de atingir. Questionado pelo professor Fabrício Marques sobre a participação da mídia no caso do mensalão, Lindenberg diz que os veículos se preocuparam apenas em publicar as denúncias recebidas, muitas vezes de fontes não muito confiáveis, como o ex-deputado Roberto Jefferson. Se-
gundo ele, o chamado mensalão não surgiu no governo Lula, mas algumas vezes,não havia nenhum personagem que se disponibilizasse a assumir as denúncias, como fez Jefferson. O diretor também afirma que o esquema de Marcos Valério também existiu nas eleições de Eduardo Azeredo, em 98, o que não foi dado pela imprensa mineira. Lindenberg lembra que no ano passado o Jornal do Brasil publicou uma matéria sobre suspeitas de corrupção no governo Lula, mas o assunto não foi para frente justamente pela ausência de uma testemunha que asssumisse as denúncias assim isentando a responsabilidade de investigação por parte da imprensa. Aproveitando a expressão dita pelo poeta Chico Buarque, o professor Fabrício Marques comenta o momento vivido pelo Brasil, onde o povo desfruta de uma “alegria ruidosa”. Lindenberg afirma que os eleitores estão decepcionados, mas ao mesmo tempo felizes pela aparição dos fatos.“A função da imprensa deve ser a de ‘satisfazer os aflitos e aflingir os satisfeitos”, diz citando uma frase usada no livro de Ricardo Noblat,“A arte de fazer um jornal diário”. Colaborou: Fernanda Melo Brenno Rocha
“Assisto televisão e leio o Estado de Minas”
“Leio a Folha pelo esquema montado de cobertura”
“Uso a internet, a Rede Globo e o Estado de Minas”
Eliana Ferraz, representante comercial
Cláudio Bianchini, ex-diretor comercial da SMPB
Omiro José miranda, técnico de telecomunicação Lindenberg diz que a imprensa não analisa os fatos.
14 - fumec - Ju Morato
18.10.05
13:25
Page 1
Editora e diagramadora da página: Juliana Morato
14 FUMEC Sábado com Arte traduz Juliana Morato 6º Período O curso de Comunicação Social da Universidade Fumec, seguindo as propostas de seu Projeto Pedagógico, tem como objetivo despertar no aluno o interesse pelas múltiplas atividades culturais que acontecem paralelas ao mundo acadêmico. Com o propósito de criar um novo espaço cultural na cidade, que vire referência em manifestações artísticas,a Fumec,por meio do PAI (Programa de Apoio Interinstitucional), lançou o projeto “Sábado com Arte”, que acontece todos os sábados, de 18h às 20h30,no Teatro Phoenix,na rua Cobre,200,Cruzeiro - Prédio da Faculdade de Ciências Humanas. “A grande quantidade de eventos oferecidos aos jovens nem sempre contempla um aspecto reflexivo. Pelo contrário, banaliza e retira o pouco de critério crítico que os professores tentam oferecer a eles. O discurso do professor é esvaziado, e o aluno continua cada vez mais sem direção”, afirma a professora de Artes Zahira Souki. Pretende-se oferecer ao aluno e à comunidade belo-horizontina a oportunidade de usufruir uma atividade cultural sem qualquer custo,de qualidade,ampliando a ação extensionista. “Queremos oferecer a todos os
Intercâmbio cultural Luiza de Sá 4º Período Pelo terceiro ano consecutivo, o convênio acadêmico-cultural entre a Universidade Fumec e a Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA Portugal), promove o intercâmbio de estudantes de comunicação portugueses e brasileiros. O convênio visa a experiência de conhecer um curso de comunicação em outro país, além de acrescentar para a vivência humanista e cultural dos alunos. Os estudantes permanecem em terras brasileiras por trinta dias, onde escolhem as matérias que desejam cursar. No caso das portuguesas que vieram este ano à Fumec, as disciplinas escolhidas são aquelas voltadas para a prática, uma vez que acreditam que é a parte mais defasada do curso em Abrantes.“A Fumec é muito mais desenvolvida, com equipamentos melhores e mais avançados. Além disso, com o convênio podemos levar muitas idéias para a nossa escola”, diz Daniela Costa, uma das estudantes européias. O programa incluí viagens que complementam a grade do convênio. Este ano, as alunas foram a Tiradentes e, segundo a supervisora do intercâmbio Cecília Caetano, esta parte do programa é importante “para romper a barreira colonizado-colonizador, devido à história entre Portugal e Brasil”. Os estudantes brasileiros que foram a Abrantes também consideram a experiência bastante enriquecedora e inesquecível. “Foi muito interessante ver como funciona a comunicação em outro país”, afirma a estudante Mariana Hilbert. Em janeiro de 2006, mais um grupo irá para Portugal. Orientados pelo Programa de Apoio Interdisciplinar (PAI), cinco alunos do curso de publicidade e cinco do curso de jornalismo, depois de um rigoroso processo de seleção, viajarão à Europa.
interessados um leque de conhecimentos,que se estende desde as novas experiências estéticas ao mundo das artes e literatura’, ressalta Zahira. A cada sábado, será oferecida uma diferente modalidade cultural que trata de assuntos relacionados ao cinema, literatura, teatro,artes plásticas e concertos.Entre os eventos já realizados, estão a comemoração dos 400 anos de Dom Quixote, no dia 3 de setembro,um seminário sobre o filme “Notícias de uma guerra particular”, comentado por Márcia Mendonça, no dia 10, a apresentação do grupo de percussão da UFMG no dia 17, uma palestra cujo tema foi “A palavra poética na busca da verdade” ministrada por Gislaine Matos e a apresentação do grupo “Clariventos”,no dia 1º de outubro. “O público ainda é muito pequeno, uma vez que o projeto ainda é pouco divulgado e publicado”, lembra Zahira. Futuros eventos Um dos assuntos que se pretende mostrar no projeto é a História do Cinema Nacional a partir de uma seção comentada, ou seja, serão escolhidos filmes temáticos de diretores renomados e grandes atores. Todas as apresentações vão ter uma introdução teórica, seguidas de um debate.
No que diz respeito à literatura, pretende-se fazer conferências,lançamentos de livros com o depoimento dos autores, além da realização de uma parceria, que ainda está em negociação, com o Curso de Pós-graduação em Letras da PUC-Minas.Com isso,jovens mestres e doutores mostrariam o seu trabalho acadêmico de forma mais informal, com uma exposição contextualizada de artes plásticas com algum artista mineiro já consagrado. Uma das grandes inovações do projeto é a proposta de um intercâmbio entre os teatros universitários de Belo Horizonte, Minas Gerais e de outros estados. Para o monitor Tiago Sgarbi, o projeto “Sábado com Arte” estreita os laços da Universidade com a comunidade, já que o que se cria é um novo espaço de manifestação artística para a cidade. “A proposta de apresentar um conceito de arte contrário ao que se está acostumado a receber pela indústria do entretenimento é uma dificuldade e um desafio.Há um público que não se sentia contemplado com as opções dadas pela cidade e o “Sábado Com Arte” veio para tentar preencher essa lacuna”, ressalta. Já esta acertada a parceria com o Palácio das Artes,UEMG e Escola de Música da UFMG para a realização de concertos musicais. Outras informações: 3228 3007.
cultura Wânia Ferreira
Projeto visa aproveitar o espaço privilegiado da Fumec e o tempo ocioso do início da noite de sábado
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Convidados apreciam a comemoração dos 400 anos de Dom Quixote
15 - ambiente - fernanda abras
18.10.05
13:26
Page 1
Editor e diagramador da página: Fernanda Abras
AMBIENTE 15
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Mina de água, minério e Resultado da CPI da Mina Capão Xavier mostra que o privado prevalece sobre o público
contradições Divulgação
Joanna Menezes Lorena Macedo 2º Período Desde 2004, a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) explora a Mina Capão Xavier, em Nova Lima. A área abrange os mananciais Fechos, Mutuca, Catarina e Barreiro, que abastecem 320 mil pessoas, 9% da população de Belo Horizonte e 7 da população da região metropolitana. Nos próximos 22 anos, 173 milhões de toneladas de minério de ferro serão extraídos do local, comprometendo o abastecimento público e gerando impactos ambientais irreversíveis. O Movimento Capão Xavier Vivo e o Ministério Público de Minas Gerais denunciam,há anos, irregularidades na operação da MBR. Para investigar, foi criada, em março deste ano, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), encerrada em setembro. O relatório final da CPI,proposto pelo deputado Domingos Sávio (PSDB) e aprovado por quatro votos a dois, gerou grande insatisfação por parte do Movimento Capão XavierVivo e de alguns deputados que se manifestaram contra o projeto.Aprovaram-no os deputados Dinis Pinheiro (PSDB), Célio Moreira (PL) e o presidente da CPI,Már-
Moradores do Jardim Canadá se revoltam Pedro Pereira Queiroz, exmorador do bairro Jardim Canadá, conta que nas reuniões entre a empresa e os moradores da região,muitas promessas foram feitas, mas poucas cumpridas.“No início, tentamos lutar contra os estragos, porém o transtorno era grande. Todo dia ocorria uma grande explosão de literalmente balançar a casa, provocando um barulho estrondoso e muita poeira.Nos rendemos e nossa casa foi comprada pela própria MBR”. Outros moradores não quiseram se identificar por terem sofrido ameaças ao se pronunciarem em outros jornais.Porém,em entrevistas anônimas, mostra-se indignados com os transtornos causados pela MBR,pois a fauna vem sendo atingida, fazendo animais se refugiarem dentro do condomínio Jardim Canadá e nas casas onde há cisternas, a diminuição do volume das águas já é visível.
Várias ações são movidas contra a MBR Os ambientalistas Gustavo Gazzinelli, Ricardo Santiago e Otávio Freitas ajuizaram uma ação popular para impedir a autorização de exploração da mina, acusando os órgãos públicos de conivência com as ilegalidades. Os deputados Antônio Júlio e Adalclever Lopes, ambos do PMDB,movem uma ação na Justiça Federal contra o licenciamento da mina, alegando que a exploração representa riscos para cavernas, grutas e sítios arqueológicos localizados na região. O Ministério Público move uma ação civil pública, assinada por cinco promotores, contra a MBR, o prefeito Fernando Pimentel e o Governo de Minas Gerais, por causa dos riscos para os mananciais de água.
cio Kangussu (PPS).Votaram contrariamente os deputados Antônio Júlio (PMDB) e o vice-presidente da CPI,Biel Rocha (PT), alegando que houve irregularidades no licenciamento concedido à MBR pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Conteúdo do relatório De acordo com a assessoria da Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG),no relatório final da comissão consta que, sobre as suspeitas de corrupção, favorecimento ou pressão política,não foram encontrados de falhas, omissões ou incoerências no processo de licenciamento ambiental e que a licença concedida à mineradora permite apenas a mineração na superfície, não abrange o rebaixamento do lençol freático. O relatório apresenta recomendações de que “a licença para o futuro rebaixamento só seja concedida após a realização de estudos técnicos que garantam que os mananciais não serão afetados; que a MBR, a Feam e o Ministério Público busquem um termo de compromisso para proteger o abastecimento público;que o Governo reaparelhe os órgãos ambientais,ampliando suas equipes e a capacitação profissional”.
Apesar das ações populares e judiciais movidas contra a empresa, a MBR continua as operações na Mina Capão Xavier
Os dois lados da história Destruição antiga... O representante do Movimento Capão Xavier Vivo, frei Gilvander Moreira, mostrou-se indignado com o relatório. Disse que a escolha do texto foi política e não condiz com a gravidade dos riscos que o projeto representa para população da região metropolitana de Belo Horizonte. Os integrantes do movimento destacam que os estudos de impacto ambiental apresentados pela MBR à Feam e ao Copam, realizados pela Frasa Ingenieros, mostram que as águas do córrego de Fechos terão sua vazão reduzida em 40% e que os córregos de Catarina e Barreiro sofrerão redução de 20%. Além disso,frei Gilvander ressalta o “atropelamento”de dispositivos legais como a Lei Estadual nº 10.793/92, que proíbe a extração vegetal ou mineral em áreas de mananciais de abastecimento
público, e o Decreto Estadual 21.37/81, que declara preservação permanente de florestas e mananciais dos terrenos da bacia hidrográfica do Córrego da Mutuca.“Recomendações como as que foram feitas no relatório são importantes, mas insuficientes. Elas só repetem o que já está na lei.Se a lei já foi descumprida, a recomendação, que é mero conselho, também será”, inconforma-se. Mais incoerências Outra irregularidade apontada pelos ambientalistas Gustavo Gazzinelli e Ricardo Santiago é a contratação da empresa espanhola Frasa Ingenieros pela MBR para a elaboração da análise preliminar que serviu de base para o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de Capão Xavier.De acordo com Ricardo Santiago, a empresa não tem registro no Con-
selho Regional de Arquitetura, Engenharia e Agronomia (CreaMG), e portanto, não estaria autorizada a fazer esse tipo de trabalho. Ele argumenta que o estudo para empreendimentos de grande impacto ambiental não deveria ser elaborado por empresa escolhida e contratada pela mineradora. O Estado é quem deveria indicar as empresas ou entidades para fazer esse estudo. O gerente de meio ambiente da MBR, Leandro Quadros Amorim, argumenta que a lei proíbe a atividade desde que esta interfira nos padrões mínimos de qualidade das águas, o que, segundo ele, não é o caso de Capão Xavier. Ele afirma que a redução de 40% no volume de água de Fechos será compensada pelo bombeamento de água do lençol freático e que ela será revertida com o fim da extração.
Os votos contrários Divulgação
Divulgação
“ A democracia representativa no Brasil quase anula a participação popular”
“Estou convicto de que houve empenho do Governo para facilitação do empreendimento”
Deputado Biel Rocha (PT)
Deputado Antônio Júlio (PMDB)
O histórico de atividades da MBR em Minas Gerais mostra que há motivos de sobra para acreditar que as atividades de mineração na Mina de Capão Xavier vá culminar num desastre ambiental de grandes proporções, afetando de modo irreversível quatro mananciais de abastecimento público. Segundo o Movimento Capão Xavier Vivo, as explorações mineradoras da MBR já destruíram parte da Serra do Curral e do Pico do Itabirito, secaram nascentes do Clube Campestre e em Macacos, prejudicaram diversos mananciais, inclusive na cidade de Itabirito, deixaram uma enorme cratera em Águas Claras sem recuperação, fez estragos ambientais em "Tejuco", no município de Brumadinho. Segundo a entidade, a MBR já foi denunciada e autuada por diversos danos ambientais. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito anterior já havia sido instaurada na Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, no ano de 1975, para apurar as atividades da MBR. Foi registrado, em seu relatório, que a empresa provocou a poluição da água e a destruição de nascentes que abasteciam a população das cidades de Nova Lima e Raposos e parte da população de Belo Horizonte; a destruição da Mata do Jambreiro (e conseqüentemente da fauna local), única reserva natural em um raio de 200 Km em torno da capital; e a destruição da barreira natural de montanha, que garantia a Belo Horizonte um excelente clima. No relatório de 1975 consta ainda que, em estudo realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), provou-se que Belo Horizonte era uma das nove cidades do mundo que dispunham de proteção natural contra a poeira atômica. Graças à destruição do perfil da Serra do Curral, pela MBR, a Capital foi retirada da relação.
...e futuro incerto Dependendo da forma de operação da mina e das condições geográficas locais, assim como do uso dos solos e águas nas imediações da mina, o rebaixamento do lençol freático pode resultar em uma grande alteração do potencial hídrico da região e, conseqüentemente, em um impacto ambiental irreversível. Segundo o Relatório de Impacto Ambiental, realizado pela empresa espanhola Fresa Ingenieros e apresentado pela MBR à Feam e ao Copam, o lençol deverá ser rebaixado ate a cota de 1.165 metros, já que os projetos da MBR consideram o encerramento das atividades na Mina Capão Xavier na cota de 1.170 metros. Considerando que os atuais níveis do lençol d’água na região da jazida estão em média na cota de 1.340 metros, prevê-se um rebaixamento total do lençol da ordem de 175 metros ao final das atividades de lavra. De acordo com um estudo feito por dois professores do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, Helio Alexandre Lazarim e Celso de Oliveira Loureiro, esse rebaixamento deverá demandar um bombeamento das águas subterrâneas, com uma vazão da ordem de 12.300 m3/dia, que resultaria no desaparecimento definitivo do Córrego Seco e reduções de mais de 38% das vazões ao longo do Córrego dos Fechos, no final dos trabalhos de exploração da mina. Na região do Jardim Canadá, o rebaixamento previsto para o nível do lençol d’água seria da ordem de 50 a 70 metros, o que resultaria na desativação da maioria das cisternas e poços tubulares de águas subterrâneas atualmente em operação no bairro.
16 - cultura - Daniel Gomes
18.10.05
14:08
Page 1
Editores da página: Daniel Gomes e Erivelton Lopes. Diagramador da página: Daniel Gomes
16 CULTURA
O PONTO Belo Horizonte – Outubro/2005
Hans-Joachim
Koellreutter Um dos primeiros mentores de Tom Jobim, maestro e compositor alemão radicado no Brasil morre e deixa legado cultural
Tiago Nagib 7º Período A música brasileira sofre com a perda de um de seus maiores expoentes. Morreu em setembro, aos 90 anos, o compositor, maestro e educador, Hans-Joachim Koellreutter. Aqueles mais ligados à música erudita conhecem o nome e os fãs de artistas como Tom Jobim, Tom Zé e Tim Rescala, deveriam saber quem foi Koellreutter.A razão é simples: o compositor radicado no Brasil deu aula para esses e outros artistas brasileiros de renome. Alemão de nascimento, o maestro veio para o Brasil em 1937 para se refugiar do regime nazista. Já no Rio de Janeiro, Koellreutter hospedouse em Ipanema, numa pensão cuja proprietária era a mãe de Tom Jobim. Essa coincidência permitiu que Tom se tornasse aluno do maestro entre 39 e 40, no ginásio e em classes particulares, onde estudou harmonia e contraponto. Em entrevista à Folha de São Paulo em 1999, Koellreutter classificou Tom como corajoso e talentoso, além de generoso e aberto. “Tive ótimas relações com ele até sua morte.Tom tinha o que, para mim, é o critério mais convincente do valor da arte: estilo pessoal, de cunho próprio do artista”, disse o maestro. Inspirado desde cedo pelo
compositor austríaco Schoenberg, criador do dodecafonismo, Koellreutter adotou com ardor a técnica de composição que usa uma série de 12 sons na música atonal.Após sua vinda para o Brasil, foi o pioneiro do dodecafonismo ao introduzi-lo no país. Koellreutter enfrentou ainda a corrente nacionalista da música, composta majoritariamente por artistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, chegando a enfrentar, por meio de cartas abertas, Camargo Guarnieri, um dos principais representantes da referida corrente brasileira. Segundo a ex-aluna de Koellreutter e professora de música Tereza Castro, que leciona na Universidade Federal de Ouro Preto e na Universidade Estadual de Minas Gerais, o maestro sempre esteve presente em Belo Horizonte. “Koellreutter costumava vir de 15 em 15 dias para a capital mineira, além de ministrar cursos de férias na Universidade de Minas Gerais (atual UFMG) e na Fundação de Educação Artística”, conta.Tereza ressalta ainda que seu estilo foi de grande influência para a música brasileira, principalmente no que tange a influência de ritmos orientais na música brasileira e o desejo de estudar a música erudita no Brasil. Já a diretora da Fundação de Educação Artística, Bereni-
ce Regner Menegale, que, além de aluna, foi amiga de Koellreutter, o artista foi, acima de tudo, um grande educador. “Dono de um espírito de renovação e vanguarda, ele era um grande incentivador da criatividade e do lado experimental”, afirma Berenice.Ainda segundo a diretora, Koellreutter se jogava na cultura local, submergindo ao ambiente em que estivesse. Em 65, Koellreutter viajou para a Índia, onde fundou a Escola de Música de Nova Delhi, além de conhecer e estudar novos ritmos. Determinada vez, quando questionado a respeito de qual seria a função da arte no mundo, Koellreutter disse que ”a arte é uma contribuição para o alargamento da consciência do novo ou do desconhecido e para a modificação do homem e da sociedade. A função do artista deve ser a de contribuir para a conscientização das grandes idéias que formam a nossa realidade atual”. O maestro sofria de mal de Alzheimer e estava internado com pneumonia no Hospital Santa Isabel, em São Paulo, desde o dia 8 de setembro. Hans-Joachim Koellreutter morreu após sofrer uma parada cardíaca, exatos 11 dias depois de completar seus 90 anos de idade, em 14 de setembro. A música chora pela perda de um de seus maiores nomes.
Suassuna: pluralidade de sentidos e idéias Escritor fala de suas opiniões sobre política, cultura, educação, literatura e a relação que estabelece com suas obras Daniela Venâncio 6º Período Escritor, professor, teatrólogo e, acima de tudo, um contador de estórias. É assim que Ariano Vilar Suassuna se define diante daqueles que querem ouvi-lo. Foi fazendo referência a obras de grandes nomes como Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha e aquele que considera um de seus maiores amigos, o escritor Joào Guimarães Rosa, que Suassuna traça o seu perfil. O autor de livros de renome no país visitou Belo Horizonte no último dia 13 de setembro e proferiu palestra em comemoração aos 40 anos do Sindicato dos Jornalistas. Considerado por muitos um radical e de discurso extremamente nacionalista,Ariano acredita que estamos numa fase onde tudo o que se considera cultura é algo falso, esmagador e que prega a unificação. “Isso é somente uma maneira de uniformizar o mundo e, se não tomarmos cuidado, estaremos todos cantando as mesmas músicas, nos vestindo do mesmo jeito e assim a fica mais fácil sermos absorvidos por essa falsa cultura. Eu tenho uma certa resistência a tudo que é estrangeiro, eu gosto mesmo de tudo que é brasileiro e não quero ver o meu Brasil se transformar num EUA de segunda classe”, disse. Apesar de ter sido escolhido para ser secretário de cultura de Pernambuco, ele sempre achou que cultura e política não se combinam e, por isso, colocou à frente de seus compromissos a cultura brasileira,ou seja, a sua manutenção.“No momento em que eu decidi escolher o cargo, eu falei que iria fazer da secretaria de cultu-
“Eu tenho uma certa resistência contra tudo o que é estrangeiro. Não quero ver o meu Brasil se transformar num EUA de segunda classe.” “Às vezes as pessoas me perguntam se sou otimista ou pessimista. Eu me considero um realista esperançoso.” Ariano Suassuna
ra de Pernambuco uma alavanca para uma discussão sobre a cultura brasileira”, revela. Quando falou da educação no Brasil, Suassuna afirmou sem pestanejar que o ensino brasileiro ensina de costas para a cultura brasileira e criticou a ignorância do brasileiro por não saber sobre o seu povo.“É incrível um aluno de universidade não conhecer sobre Alexandre Rodrigues Ferreira, que é alguém que eu considero um grande brasileiro”. Ariano Suassuna não se considera um otimista e nem um pessimista, quando se posiciona sobre o momento político em que o país vive.“Olha, eu sou católico, e sei que as bases são a esperança, a caridade e da fé. Eu sou fraco na fé e na caridade, então o que me resta é a esperança. Às vezes as pessoas me perguntam se sou otimista ou pessimista, eu não sou nem um nem o outro. Eu acho que o otimista é um ingênuo e o pessimista um amargo. Eu me considero um realista esperançoso”, conclui. Quanto à literatura, o escritor afirma ler pouco e sim reler muito.Da literatura contemporânea admira muito o escritor Raduan Nassan, autor do livro Lavoura Arcaica, a qual considera uma obra admirável.“Meu amigo Fernando Carvalho fez um filme baseado nesse livro que também considero uma coisa maravilhosa”. Para Suassuna, essas obras fazem com que as pessoas acreditem no Brasil e no povo brasileiro.” Enquanto a gente tiver livros como Os Sertões, Vidas Secas, Primeiras Estórias, Lavoura Arcaica, ou filmes como Deus e o Diabo na Terra do Sol, o Brasil pode sonhar com o que ele é ou pelo menos com que poderia ter sido e não foi”, finaliza. Fotos: Victor Gontijo