01 - Capa - Tiago Nagib
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Brasil entra na era da Dia 7 de setembro de 2006 é a data marcada para a primeira transmissão comercial de programação digital no Brasil.A data foi definida, mas a escolha do modelo ainda é incerta. Além disso,por trás da discussão técnica,existe todo um debate político que vem sendo mantido distante da sociedade [ página 3 ]
Lula perde em 2006, diz cientista político “Se o Lula for candidato, acredito que ele perca”. Em entrevista ao jornal O Ponto, o cintista político Carlos Ranulfo disse que o PT está fraco e deve perder as eleições presidenciais de 2006. Para Ranulfo, em função da manutenção dos preceitos econômicos de FHC, junta-
Código é ignorado
mente com a crise ética que instalou-se em todos os níveis do atual governo, o PT viu sua imagem corroer-se, além de perder o rumo pra a próxima eleição. O cientista afirmou ainda que Garotinho é o maior perigo para a democracia. [ página 4 ]
O Código de Posturas, implantado há dois anos com o objetivo de regular o espaço urbano em BH, tem sido constantemente desrespeitado, até mesmo pelo poder público. Segundo o presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec) e coordenador da Conferência Latino-Americana sobre o Meio Ambiente (Ecolatina),Ronaldo Gusmão, a prefeitura tem sido omissa, pois não tem a relação do número de engenhos publicitários irregulares que existem na cidade. [ página 7 ]
Shoppings populares cada dia mais vazios Idealizados como solução para o problema dos ambulantes em Belo Horizonte, os chamados “shoppings populares” tornaram-se um estorvo para os camelôs que foram para lá. Para muitos deles, apesar do conforto e da segurança
Beleza vira obrigação
existentes nestes centros de compras, os aluguéis e taxas são altos e tanto o movimento como o volume de vendas são baixos, o que leva os pequenos comerciantes de volta às ruas. [ página 5 ] Tiago Nagib
Camelôs saem dos shoppings populares e voltam às ruas
Edifícios abandonados são problema em BH [ página 8 ]
QUADRICENTENÁRIO O mais famoso romance do espanhol Miguel de Cervantes continua a encantar a todos que se deliciam com a sua leitura. Dom Quixote comemora 400 anos e ainda hoje inspira intelectuais, artistas, escritores. [ página 12 ]
Estudantes de Design criam revista Traça [ página 10 ]
A cada dia, os atributos exibidos pelas musas e galãs da TV brasileira se tornam mais inatingíveis para a maioria da população. De forma sutil e sedutora, a ditadura da beleza explora a insegurança, a impotência e a angústia dos menos esclarecidos, para quem, em geral, ser lindo, magro, saudável acaba tornando-se uma obrigação. De acordo com a especialista no tema Viviane Loyola,“ser belo é uma obrigação social capaz de gerar culpas e frustrações no indivíduo, que dificilmente tem a certeza de ter alcançado o ideal”, diz. [ página 9 ]
Campeonato Brasileiro cada dia mais pobre [ página 11 ]
02 - Opinião - Juliana Morato
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Editora e diagramadora da página: Juliana Morato
2 OPINIÃO Ditadura da beleza, cultura e saber Michelle Beckmann 2º Período Desde o século XVIII o homem atua como prisioneiro do próprio saber; a Revolução Industrial trouxe consigo novas tecnologias, mas o ser humano, em busca de maiores conquistas, fez-se escravo da razão. De repente, o que era apenas um tornou-se mais um: na Indústria Cultural, valores se perdem quando o homem tenta universalizar o que é único, o que é arte. O cinema... Que será este meio senão uma máquina de reprodução humana em série? Se os irmãos Lumière vissem o que fizeram de seu feito histórico, o cinema voltaria a ser mudo; desta vez, como sinal de protesto. Numa sociedade pós-moderna, globalizada, liberal e pluralista, ser você, ou seja, ser único no mundo, não tem mais valor. A individualidade se fez individualismo sem que o homem se atentasse para esse feito. Valores são difundidos, quando na verdade, poderiam ser recuperados dentro de cada pessoa; valores estes que são esquecidos a cada vez que liga-se a TV ou quando, para se “des-
ignar” do mundo “real”, liga-se o rádio; mas, tudo o que se ouve é tudo, menos música. Música que se preze atravessa a alma e toca onde ainda não conseguiu tocar: no coração. Culturas se adaptam aos valores de cada época e, na sociedade globalizada, o esteriótipo acompanha toda e qualquer mudança, parecendo ser o corpo um objeto mutável que, segundo exposição midiática, pode ser alcançado a qualquer instante. Seja na TV, nas revistas, outdoors; o que se vê são mulheres anoréxicas desfilando seus mais belos ossos. Eu me pergunto até quando poder vestir uma roupa e vê-la justa ao corpo será pecado? Até quando a mulher vai poder ser ela mesma? Até quando comer pizza e depois tomar um soverte será motivo de consciência pesada? Talvez esse dia demore a chegar, mas uma coisa é certa dizer: o que a mídia expõe hoje, não o é mais amanhã. Quando for recusar sua felicidade à vida em troca de um valor social, lembre-se que tem valores que o tornam especial pelo que você é e não pelo que os outros gostariam que você fosse.
A tempestade premiada Bruno Ferreira 7º Período “Se houver uma camisa branca e preta no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.” Roberto Drumond É bom que os atleticanos comecem a torcer para que a tempestade passe logo, porque a camisa alvinegra pendurada no varal caiu. Não suportou o vento forte que vinha do sopro de diretores incompetentes e jogadores sem amor a camisa, o manto sagrado como gostam de chamá-la, balançou, balançou e foi parar no chão, na lama, manchou a imagem de quase 98 anos de história. Está suja! E por causa de uma minoria incapaz e sem pudor, que se concentra única e exclusivamente na ambição pelo dinheiro. Há alguns anos jogadores e treinadores sem nenhum vínculo de natalidade com o clube, vinham, sendo contratados, pesando o varal e deixando a equipe na corda bamba. Todo peso cede, e toda queda tem
um destino, o do Galo foi a série B, a divisão de base do futebol nacional. Por falar em base, espero que a tempestade anunciada e desabada naquele domingo, possa ter trazido para os verdadeiros guerreiros, as pratas da casa, um banho, para lavar a alma e limpar a consciência dos garotos que quase fizeram o impossível. É hora de resgatar algumas palavras quase extintas do dicionário Atleticano: hombridade, caráter, altivez, enfim, é mais do que hora de alguém com ternura para assumir um clube tão glorioso e tão importante para o cenário nacional, é à hora e o momento de apanhar a camisa que caiu, abanar a poeira. dar um banho de moral com água pura, esperar que a tempestade trágica passe e não colocar, mas sim hastear a camisa alvinegra no varal novamente, esperando que o sol possa voltar, para que a dor da nação atleticana seja fugaz, para que os torcedores possam ressurgir e proteger a sua pele, a sua vida, o seu time, o seu Galo.
ERRAMOS: O professor José Manuel Moran leciona no curso de Comunicação Social da USP, e não da UFMG, conforme publicado na edição 51, página 6 (novembro).
O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
A maior ameaça de todos os tempos Ana Luísa Barcelos 5º Período A destruição do meio ambiente tem sido motivo para longas reportagens, capas de revistas e muita preocupação. Fala-se até mesmo em “fim dos tempos” ou “o fim do mundo começou”.A nova onda midiática não está mentindo – não desta vez – afinal, estamos, realmente, vivendo um tempo de muita destruição e confusão ambiental. Há fotos e números realmente assustadores sobre o problema, como a mudança brusca do clima, o calor recorde, os degelos, as queimadas, enfim, algo praticamente irreversível. O que se torna preocupante é o fato da nova onda extremizar o assunto e assim, acabar abocanhando consideráveis aliados: jovens, que além de não questionarem o verdadeiro motivo para tamanha destruição,se afugentam em lugares abençoados a fim de louvar a mais nova santa natureza.Nadam em cachoeiras,saúdam
o sol,a lua,as estrelas,refletem sobre o mistério do universo e sua beleza, saúdam o Santo Dharma, a medicina alternativa, falam de chacras, energias, espiritualidade, aura, fumam maconha, se aventuram,enfim,possuem práticas alternativas de se aproximar,de forma “sustentável”, do natural. “A humanidade está diante da maior ameaça de todos os tempos...” , diz a Superinteressante na edição de outubro/2005.Como? Pensei ser esse sistema louco, que está prestes a nos engolir,o culpado pela maior ameaça de todos os tempos: o desemprego, a fome, a desigualdade, a precariedade educacional, o consumismo, e mesmo o espiritualismo, dentre tantos. Porque não há mal algum em ser espiritual ou louvar a natureza, mas vejo como um problema a importância que se dá enquanto há questões sociais mais urgentes – pois são questões básicas. Para preservar a natureza,precisamos estar vivos e para isso,precisamos comer, vestir, nos loco-
mover, evoluir, pensar... É do posicionamento crítico perante os acontecimentos de toda ordem social que a natureza precisa. A natureza, os homens, as crianças, as mulheres, os idosos, os famintos, as pessoas, enfim.A natureza precisa de pessoas que reflitam sobre a verdadeira causa para tamanha destruição, pessoas que se conscientizem sobre fatores como a política e a economia, determinantes nessa questão, assim como em tantas outras. As pessoas e, de modo especial os jovens, precisam saber que práticas assistencialistas como as do Greenpeace não resolvem problemas de lugar algum, além de errecadarem uma grana! De modo especial o jovem, porque acreditam ser o aquecimento global,realmente a maior ameaça de todos os tempos. De um modo especial o jovem, porque acreditam – acreditam mesmo – ser a maconha algo realmente importante no processo de transformação e preservação da natureza. Movimento estudantil neles!!!
A voz dos subúrbios franceses Enzo Menezes 2º Período A crise deflagrada nos subúrbios franceses no último mês expõe as fraquezas das elites políticas no tratamento à integração de suas populações.A falta de oportunidades,profissionais e de construção de uma identidade, aliada ao racismo dispensado aos filhos de imigrantes, é a mola que impulsiona as novas tensões. Conflitos nos subúrbios franceses não são raros, em contraste com a imagem serena e glamourosa das praças e centros históricos das cidades turísticas conhecidas mundialmente,como Paris.Mas a voz não chega a esses subúrbios,imersos na pirâmide social e barrados pelo muro do preconceito e da desigualdade ao acesso às oportunidades oferecidas pela União Européia a seus cidadãos. O desemprego na França atinge 10% da população economicamente ativa, enquanto nos subúrbios, como Clichy-sousbois, onde começaram os conflitos, beira os 25%. Os jovens, sem
acesso à educação de qualidade, empregos satisfatórios, discriminados por sua descendência e moradores de regiões em condições precárias de moradia e atendimento, rebelam-se contra a estrutura que os mantém sem esperança. Os milhares de carros queimados são apenas um pretexto para os excluídos se fazerem ouvir,um grito contra o governo alheio às condições de vida nas periferias.O governo,acusado de priorizar os interesses das grandes corporações ao invés de investir na qualidade de vida dos cidadãos, tenta conter as manifestações com medidas emergenciais, como toques de recolher e ameaças de expulsão.Essas medidas não resolverão o problema porque não enxergam a raiz dos conflitos,os motivos que levaram ao questionamento do poder por parte desses jovens. Apesar das diferenças, a comparação com a situação brasileira é inevitável. Analisando os números do desemprego, acesso a equipamentos de saúde, educação e moradia, a condição do
Brasil parece ainda mais cruel.A descrição da situação dos franceses remete em muitos aspectos ao cotidiano de milhões de brasileiros, jogados nas ruas ou espremidos nas favelas e periferias, sem qualquer perspectiva para um futuro incerto. Mas a condição de vida desses brasileiros é ainda mais precária. Em comum entre os dois países, a falta de um projeto de nação. Apesar dos protestos, qual a reivindicação dos jovens franceses? Qual país estes excluídos esperam no futuro? A falta de perspectivas é generalizada, demonstrada pela ausência de respostas a essas questões. Os filhos de imigrantes buscam de forma desorganizada conquistar uma cidadania que não lhes é própria, pois mesmo nascidos no país, não são considerados franceses. Em contraponto: os brasileiros excluídos do sistema não possuem essa crise de identidade, mas enfrentam condições de vida mais precárias. Apesar disso,onde está o grito dos brasileiros oprimidos pelos interesses dos donos do poder?
Dever de votar em discussão Daniel Gomes 5º Período Voto obrigatório: exercício da cidadania no cabresto? Desde a consolidação da República no Brasil, na primeira metade do século XX, após os pobres, os negros e as mulheres conquistarem seu direito de escolher um representante no Congresso Nacional, o voto é um direito e um dever para o cidadão. A grande questão é a razão de o indivíduo ser obrigado a deixar sua casa para poder escolher um dos candidatos nos vários pleitos que ocorrem a cada dois anos, além dos eventuais referendos e plebiscitos. É certo que as eleições informatizadas facilitam cada vez mais o acesso de toda e qualquer pessoa a uma urna no processo
eleitoral, mas a que preço? E sob que interesses? Se se analisar friamente, mesmo que não haja pesquisas tão abrangentes para esta mensura,sabe-se que a maioria da população brasileira é adepta do voto facultativo. Embora haja fortes argumentos de ambos os lados, há um específico que não pode ser igorado: em quem vota o cidadão desinteressado no pleito e nos candidatos. Quem é o beneficiado por esses votos alienados? Em longo artigo publicado na internet, o professor de Ética e Filosofia da USP Renato Janine Ribeiro (www.renatojanine.pro.br) esclarece de forma construtiva vários aspectos relacionados à obrigatoriedade ou não do voto e sua importâcia para o desenvolvimento democrático. Ao listar os argumentos con-
tra e a favor, Janine derruba uma série de conclusões tiradas do senso comum e critica o posicionamento dos que são contra o voto obrigatório, não por estarem errados, mas sim por apresentarem um embasamento frágil,sem correspondência na realidade. No entanto, mesmo que a maioria dos argumentos a favor do caráter facultativo do voto sejam fracos, ainda assim, é óbvio que a questão sobre quem se beneficia com os votos “fantasma” é relevante e carece de uma resposta, mesmo no artigo do conceituado professor. É claro que muitas outras questões devem ser discutidas no que diz respeito à apropriação da democracia pela sociedade como fim, e não como meio, mas, sem dúvida, tal discussão passa pelo dever ou o direito de votar.
Brasil, Argentina e as amarras fiscais do FMI Tiago Nagib 7º Período Argentina e Brasil finalmente se livraram das amarras do FMI.Após os pronunciamentos de Palocci e Kirchner no início de dezembro, o Mercosul pôde finalmente respirar mais aliviado. Em situações diferentes, as principais economias do Cone Sul conseguiram um grito de independência ainda sufocado, mas claramente de independência. No Brasil, o acerto com o FMI foi uma decisão mais técnica, enquanto em Buenos Aires o gesto foi mais político. De toda forma, o Mercosul se livrou do FMI e das pressões constantes feitas pelo Fundo em prol de empresas privadas, conglomerados e governos estrangeiros. Para Lula, o pagamento poderá significar um grande capital político em 2006, apesar de possivelmente ser insuficiente para sua reeleição.Talvez essa medida seja realmente o grande trunfo de Lula,haja visto o fracasso de muitos dos planos de ajuda social do governo, da política externa e da onda de corrupção que assolou o país em 2005. Eventualmente,o próprio Palocci poderia vir a ser o candidato do PT caso o desgaste do presidente venha a ser acentuado. Mas, para o país, o pagamento ao FMI representa um grande passo adiante. Agora, o Brasil terá mais recursos que devem ser empregados urgentemente, principalmente em áreas como transporte, saúde e educação. Esperemos que, a partir de agora, sobre mais dinheiro para arrumar nossas estradas, facilitar as exportações,diminuir o problema da falta de leitos em hospitais públicos e aumentar o número de vagas nas universidades públicas. Já Néstor Kirchner conseguiu livrar-se das amarras do FMI com maior dificuldade que o Brasil, pois enquanto Lula teve que dispor de pouco menos de um quarto de suas reservas, o governo de Buenos Aires perdeu mais de um terço das reservas argentinas. Kirchner, no entanto, tem o compromisso da Venezuela de Chávez, que deverá comprar cerca de US$ 2 bilhões em títulos argentinos, além do US$ 1,4 bilhão já investidos em papéis argentinos ao longo de 2005. Kirchner ao contrário de Lula,está forte com o eleitorado argentino. Em novembro último, conseguiu eleger uma grande bancada no Congresso, além de emplacar sua esposa, Cristina Kirchner, como senadora pela província de Buenos Aires,a mais importante do país. Com o pagamento desa parcela da dívida, Kirchner se fortalece ainda mais no jogo político local. Com o gesto de ambos os países,o Mercosul prova que é capaz de superar a crise que assolou o bloco no início da década. Kirchner tem comprovado cada dia mais a eficiência de seu governo por meio de gestos como esse, ao passo que Lula finalmente conseguiu acertar em algo após tantos desacertos seguidos. Finalmente podemos celebrar uma boa nova...
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Coordenação Editorial: Profª Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) e Prof. Leovegildo Pereira Leal (Redação Modelo) Conselho Editorial Prof. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy (Publicidade), Prof. Rui Cézar (Fotografia), Prof. Fabrício Marques (TREPJ II) e Profª. Adriana Xavier (Infografia) Monitores de Jornalismo Impresso: Daniel Gomes, Juliana Morato e Tiago Nagib Monitores da Redação Modelo: Fernanda Melo e Pedro Henrique Penido
Monitores de Produção Gráfica: Déborah Arduini e Fernando Almada Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda: Isabela Rajão e Renato Meireles Projeto Gráfico: Prof. José Augusto da Silveira Filho Ilustrações: Juliano Mendonça Tiragem desta edição: 6000 exemplares Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127 e-mail: oponto@fch.fumec.br
Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro BH/MG Professor Pedro Arthur Victer Presidente do Conselho Curador Profª. Romilda Raquel Soares da Silva Reitora da Universidade Fumec
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03 - Política - Daniel Gomes
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Editor e diagramador da página: Daniel Gomes
POLÍTICA 3
O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
questão política ou técnica? Modelo nacional de tecnologia digital já está pronto, testes já foram feitos e a data de estréia comercial já foi definida. Entretanto, governo ainda não tomou a decisão devido a razões políticas
Daniel Gomes 5º Período Com mais de dois anos de pesquisa e muitos investimentos, o modelo de TV digital nacional já é uma realidade. É o que afirma o ex-secretário de Planejamento do Ministério das Comunicações e professor do Departamento de Comunicação da PUCRJ, Marcos Dantas. Já há alguns anos, o país vem articulando uma forma barata, eficiente e lucrativa de atualizar o sistema de transmissão televisiva. Para tanto, o governo investiu mais de R$50 milhões e convocou cerca de 90 instituições para conduzirem as pesquisas em torno do assunto. De acordo com Marcos Dantas, nos últimos 12 meses, cerca de 15 centros brasileiros de pesquisa conseguiram montar um sistema brasileiro de TV digital. O modelo pode ser industrializado e caberá ao governo decidir se será esta a tecnologia a ser adotada. “Este sistema incorpora muita coisa do sistema japonês, adaptando-o à realidade brasileira e desenvolve muita coisa própria”, revela Dantas. Ele lembra, no entanto, que nenhum sistema estrangeiro funcionará muito bem no Brasil se não sofrer importantes adaptações.“Isso é um problema técnico inescapável”, pondera. O professor afirma que as tecnologias estudadas estão sendo desenvolvidas pela comunidade acadêmica apenas, sem nenhum apoio das operadoras, da imprensa, alienação da sociedade e dubiedade do governo.
Data foi definida, mas modelo não Dia 7 de setembro de 2006. Esta é a data definida pelo MinC para a primeira transmissão comercial de programação digital no Brasil. No entanto, a pouco mais de oito meses da estréia da TV digital comercial, o governo ainda não se decidiu por qual modelo o país fará sua incursão digital. A princípio, o governo pode adotar o modelo americano, o modelo japonês, o modelo europeu ou desenvolver um nacional, derivado de características dos outros e com as especificidades brasileiras. A importância atribuída a aspectos técnicos levou um conjunto de instituições representativas da sociedade civil a redigir uma carta aberta ao Congresso Nacional, ao presidente da República e à sociedade. Intitulado “TV Digital: um debate que precisa de audiência”, o documento aponta diversos aspectos obscuros da transição. Jornais de peso como O Globo e a Folha de São Paulo pouco têm falado sobre a tão sonhada democratização dos meios de comunicação que pode advir da chegada da TV digital. De acordo com a carta, a mídia vem tratando o assunto de forma limitada.“A imprensa reduz o tema a uma escolha de padrões já existentes, o que oculta o debate político em torno desta mudança”, ressalva o documento. As diversas associações que assinam a carta defendem o desenvolvimento de um modelo nacional, por fortalecer a pesquisa brasileira e diminuir a dependência externa. Essa opinião é compartilhada pelo ex-secretário de Planejamento do MinC e professor do Departamento de Comunicação da PUC-RJ, Marcos Dantas. De acordo com Dantas, o sistema escolhido deve ser adaptado às particularidades do país. Segundo ele, o país que desenvolve suas tecnologias cria indústrias, investimentos, empregos e renda.“Além disso, não precisamos pagar pelo direito de uso de tecnologias estrangeiras”, explica. Dantas ressalta que a indústria eletrônica brasileira é quase toda desnacionalizada. Caso haja um modelo nacional, ela terá que se adaptar às especificações dessa tecnologia.“Isso também é uma vantagem, pois obriga a essas empresas que ocupem engenheiros brasileiros”, justifica o professor.
Questionado sobre a possibilidade de o governo vir a escolher o modelo nacional por fim, Dantas respondeu: “neste momento, parece possível. Há dois meses, não. Daqui a dois meses, não sei”, referindose à posição ambígua do governo em relação ao assunto. Procurada pela reportagem de O Ponto nos dias 15, 16 e 19 de dezembro, a Assessoria de Comunicação do Ministério das Comunicações (MinC) não havia respondido às perguntas relativas à escolha do modelo de TV digital até o fechamento desta edição, em 20 de dezembro. No início de dezembro, pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), da Universidade Mackenzie, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro fizeram transmissões digitais experimentais para demonstrar o modelo brasileiro. A expectativa, segundo o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ennio Candotti, é que o Ministério das Comunicações e da Ciência e Tecnologia apóiem a produção dos equipamentos necessários à conversão do sistema analógico para o digital. Lobby Além de toda a discussão acerca do modelo, entidades como o Centro de Mídia Independente (CMI) acusam o ministro das Comunicações Hélio Costa de favorecer o interesse de grandes empresas
de comunicação como a Rede Globo ao ouvir prioritariamente essas empresas. O ministro se justificou em entrevista a jornais brasileiros dizendo que, se tais empresas terão um papel fundamental na transição analógico-digital, devem elas ser consultadas durante todo o processo. Em um episódio no mínimo curioso, a revista Carta Capital publicou entrevista com o ministro na última semana de novembro, em que a repórter pergunta a Costa se a TV digital pode acelerar o processo de democratização dos meios de comunicação, ao que o ministro respondeu “sonho de uma noite de verão, isso está longe”. De fato, qualquer que seja o modelo de TV digital empregado, o telespectador e as próprias emissoras terão de lidar com a TV de um jeito diferente. Se isso significa a democratização dos meios, ainda não é certo. O professor Marcos Dantas considera saudável o debate sobre a TV digital, mas lembra que os setores sociais devem se organizar de forma a fazer da nova tecnologia um amplo projeto nacional estratégico. “Essa transição deve favorecer o desenvolvimento tecnológico e industrial, o fortalecimento da cultura e a consolidação da democracia”, defende. Segundo ele, decisões político-econômicas cruciais, sobretudo as relativas ao modelo de negócios e à democratização das comunicações, não foram encaminhadas de modo transparente e ainda não foram tomadas.
Os padrões explicados ATSC - Padrão Americano O padrão Advanced Television Systems Committee foi desenvolvido com o intuito de suportar transmissões de HDTV (High Definition Television ou TV de Alta Definição). O ATSC já opera com mais de 500 emissoras e possui cerca de 4% do mercado norte-americano.
DVB - Padrão Europeu Para o desenvolvimento do Digital Video Broadcasting, foi definido que uma das maiores prioridades seria a recepção do sinal com antenas internas,que no padrão americano é péssima.Na Europa as escolhas feitas privilegiaram a multi-programação a fim de comportar a demanda reprimida por mais emissoras.
ISDB - Padrão Japonês O Japão, apesar de pesquisar soluções comerciais de HDTV desde a década de 60, teve o seu padrão, Integrated Services Digital Broadcasting, homologado apenas em 1999. A demanda por recepção móvel foi uma das premissas para a criação de um padrão japonês de transmissão digital. O ISDB é uma derivação do padrão DVB europeu, considerado mais adequado para o Brasil, com modificações, segundo especialistas.
SBTVD - Padrão Nacional O Brasil corre por fora na tentativa de emplacar o Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Entretanto, os poucos investimentos em comparação com os outros países e o tempo restrito prejudicaram o pleno desenvolvimento da TV digital brasileira. Permanece ainda uma opção para o governo no início de 2006. Fonte: Simples Consultoria de Tecnologia
Tecnologia não substitui a internet Embora a TV digital esteja sendo colocada no mesmo patamar da internet, é bom deixar claro que ela não apresentará as mesmas características da web.“Este é um mito que precisa ser esclarecido”, afirma Marcos Dantas. De acordo com ele, a TV digital apresenta dois tipos de interação: local e remota.A local permite ao telespectador que se transforme num “diretor de TV” em casa. Regalias como seleção de câmeras feita pelo usuário e compras pelo controle remoto serão possíveis.“Este recurso será largamente utilizado pelas operadoras”, prevê. Já a interatividade remota diz respeito à mobilidade do telespectador ao acessar o conteúdo da TV digital. Esse nível de interatividade permite ao usuário que se conecte à TV digital por meio de uma linha telefônica, inclusive celular, uma banda de espectro (ou seja, um canal VHF), ou mesmo a um cabo de banda larga. Por meio dessa conexão, será possível mandar mensagens de texto para a operadora, fazer compras de produtos que estejam sendo oferecidos e etc.“Mas não navegar como navegamos na Internet”, lembra Dantas.“Não acredito que as operadoras de TV venham a querer funcionar como grandes provedores de internet. Pelo menos, por enquanto, não é este o discurso delas”, explica. De todo modo,as possibilidades aventadas pela TV digital são muitas para que se passe ao largo da discussão sobre que uso elas receberão.A carta aberta citada na primeira parte desta reportagem defende um uso mais amplo dos recursos interativos, tal como acontece na internet. De acordo com o documento, os aspectos apresentados dizem sempre respeito ao comércio de produtos via TV digital, o que implica em lucros das empresas. No entanto, a TV digital “pode cumprir um importante papel na afirmação da cidadania”,conforme o documento.O texto sugere que a TV pode propiciar serviços interativos de educação, governo eletrônico (declaração de imposto de renda, pagamento de taxas, etc.) uso de correio eletrônico (democratização do e-mail) e outros, o que concede à TV digital o status de internet.
04 - Política - Daniel Gomes
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4 POLÍTICA
O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
Lula enfrenta dilema eleitoral Ricardo Stuckert/ABr
Em entrevista, o cientista político Carlos Ranulfo fala quais as alternativas do presidente da República para as eleições 2006 Eduardo Roedel, Guillermo Tângari, João Marcelo e Victor Gontijo 6º Período O Partido dos Trabalhadores tem um difícil dilema para as eleições presidenciais de 2006. Segundo o professor titular de Ciência Política da UFMG, Carlos Ranulfo Félix de Melo, o PT terá que escolher entre relançar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e arriscar uma derrota mais amena ou partir para o tudo-ou-nada com um candidato menos desgastado. O certo é que a oposição já se articula para as eleições do ano que vem e une suas forças para o front eleitoral. O PSDB, com o apoio do PFL, se aproveita para cutucar as feridas purulentas do governo federal que, após sucessivos escândalos,despenca nas pesquisas de popularidade. Inicia-se um impiedoso bombardeio ao inimigo moribundo. Um exemplo disso é o clima eleitoral que a oposição já ensaia e que pôde ser notado claramente quando, ao discursar para seus
companheiros tucanos em novembro,o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso provocou: “É muito importante que Lula seja um de nossos adversários. Queremos que ele se candidate outra vez para derrotá-lo”. O presidente Lula já sofreu uma baixa com a cassação do mandato do ex-ministro José Dirceu.Além disso, pesquisa eleitoral do CNI/Ibope divulgada no dia 14 de dezembro indica que, pela primeira vez, Lula é ultrapassado já no primeiro turno pelo atual prefeito de São Paulo,José Serra e, no segundo, perderia as eleições por uma diferença de 13 pontos percentuais. Um recuo da esquerda e consequentemente uma maré conservadora são previstos pelo professor Carlos Ranulfo, autor de tese de doutorado sobre a infidelidade partidária no país. Em entrevista ao jornal O Ponto, Ranulfo analisa os rumos políticos do país e explica porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perde cada vez mais a popularidade que o levou ao Palácio do Planalto.
Arquivo O Ponto
O Ponto: Como o senhor analisa o mito da esquerda com o Lula no poder e a atual realidade do sistema político brasileiro? Carlos Ranulfo: Eu acho que havia muita expectativa em relação ao Lula.Talvez ele próprio tenha percebido isso e até diminuído tal expectativa durante a sua campanha. Se você observar a campanha, poderá notar que foi dito que as mudanças seriam muito graduais. Haveria muito cuidado e a economia não se modificaria. Mas a imagem de toda a trajetória do PT anterior era forte na cabeça das pessoas, e isso pode ligar a imagem e o desejo de que haveria uma grande mudança no Brasil. Mesmo quando a campanha dizia que não haveria. Isso frustrou as expectativas de milhares de pessoas, mas outra parte do eleitorado ficou muito satisfeita, pois achava que o Lula ia ser um louco e não foi. Muita gente ficou surpresa com um Lula mais comedido, mas quem esperava que ele fosse mais arrojado acabou se decepcionando. Agora,com essa crise de ética pela qual o governo atravessa, embora eu não possa dizer que o Lula seja o responsável, pois esse assunto ainda é um tanto controverso,as coisas se juntaram e arranharam a imagem de seu governo.Hoje,o Lula é um líder muito distante, embora ainda respeitado. O Ponto: Com toda essa crise, quais são as perspectivas do PT e da oposição para as próximas eleições? O senhor acha que vai haver uma polarização radical como anteriormente? CR: O PT sofre um desgaste que consequentemente acarretará em perda de votos. É muito difícil que o partido repita o mesmo desempenho de 2002,quando elegeu a maior bancada da câmara. Isso não vai acontecer.Vai perder espaço e representação.A esquerda vai recuar. Eu acredito que vamos ter agora uma maré mais conservadora. Isso está expresso, por exemplo, no resultado do plebiscito, que representa o medo, a fobia ao Estado. Essa maré conservadora é natural quando se tem um desencanto com um governo de esquerda. O que não necessariamente significa uma polarização, uma radicalização, principalmente se o candidato mais forte que disputar con-
Ranulfo: “Se eu fosse Lula, não me candidataria em 2006”
tra o PT for do PSDB. Se fosse o (prefeito do Rio de Janeiro) César Maia do PFL, aí eu acho que teria uma certa radicalização da direita. Se a direita do Brasil, hoje, tivesse um candidato como o (Jorge) Bornhausen (presidente nacional do PFL),por exemplo, aí sim teríamos uma campanha acirrada como a de Collor e Lula. Mas a direita não tem candidato, infelizmente. Por isso a tendência é uma polarização PT x PSDB, que será menor do que se fosse PT x PFL. O Ponto: Qual estratégia o PT deveria seguir para que o Lula recupere a sua popularidade e consiga também recuperar a sua força no congresso? CR: É difícil. Deveria ser uma estratégia em longo prazo, pois o PT levou um grande baque.A confiança terá que ser recuperada nos diversos setores. Eu acho que ele vai ser derrotado agora. Se o Lula for candidato acredito que perca. O PT terá que refazer o seu trabalho de oposição, continuar conquistando prefeituras importantes e se requalificar para chegar onde ele chegou. Numa leitura mais otimista,posso di-
zer que se o Lula for reeleito e fizer um segundo mandato bom,talvez ele se recupere. Mas eu não acredito nisso. Se houver um segundo mandato ele vai comer o pão que o diabo amassou. Se eu fosse o Lula eu não me candidataria. E essa é uma tendência.O segundo mandato de FHC foi muito ruim. O Ponto: Então qual seria o candidato do PT? CR: Não sei, talvez o Palocci.Agora se o PT quiser ter uma votação expressiva ele tem que manter o Lula. Pode ser que o Partido dos Trabalhadores sustente o Lula como candidato, para perder. Mas, com a intenção de pelo menos manter um patamar bom de votos. O Ponto: A saída do José Dirceu, e agora o atrito da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com o ministro da Fazenda,Antônio Palocci, representa uma ruptura que poderia resultar no isolamento do presidente Lula ? CR: Não diria ruptura. É uma contradição que se tem dentro do governo. Entre as forças que o apoiam,
tem gente querendo ir para um la- ci foi depor no Senado, ficou evido, e gente querendo ir para outro. dente que a oposição não queria O Lula até agora bancou o Palocci, nem perguntar. Afinal eles querem banca a política dele,e como é o pre- levá-lo à CPI. Evidentemente a oposidente, tá resolvido. O próprio José sição joga para a platéia e só pensa Dirceu que tinha um peso muito na eleição. O governo também. Enmaior que a Dilma também fez suas tramos no cenário eleitoral, ou seja, criticas ao minisé o momento em tro da Fazenda que todos os arque, no entanto, “É muito difícil que gumentos tem foi poupado. o PT repita o de- que ser ponderaO ponto fordos. E a imprensa te do governo sempenho de 2002, deveria estar mais Lula é o Palocci. quando elegeu a atenta a esse detaNão acho que is- maior bancada da lhe. so represente um isolamento, eu Câmara. Isso não O Ponto: O que acho que é caute- vai acontecer” você acha da la do Lula,que sacobertura da be que esse é o imprensa sobre ponto forte de seu governo.As con- a situação política brasileira? dições econômicas do Brasil de agora são muito melhores do que na CR: A imprensa piora a situação. Ela época do Fernando Henrique Car- com muita facilidade passa para o dedoso. Seria loucura dele mexer no nuncismo. Ela potencializou as deseu ponto forte. núncias sobre Cuba, e agora sobre Angola. Se apega a denúncias roO Ponto:A crise no cenário po- cambolescas e de repente as translítico brasileiro representa algum formam em manchetes e edições de risco para a democracia? revistas.Aqui se tem um mecanismo de alimentação de CR: O grande imprensa e oposiperigo é a apari- “Salvadores da pá- ção. Um alimenta ção de aventurei- tria, lideranças po- o outro. Por ros,como foi Fera impulistas que podem exemplo, nando Collor. Os prensa trata o cacaras surfam na resolver a situação... so do Celso Dacrise, aparecem A população brasi- niel como se fosem cima da carne se fácil aceitar que seca. O (Antony) leira é sensível a es- o PT mandaria Garotinho (go- se tipo de apelo e matar o seu prinvernador do Rio cipal prefeito.“Vade Janeiro) tem pode cair nisso de mos matar esse claramente esse novo. Esse é o maior cara porque ele tá perfil e é o pior o saco.” perigo que a crise enchendo perigo para a deEssa história não mocracia. Salva- traz para a demo- cola. dores da pátria, li- cracia” A imderanças populisprensa não criou tas que acham a crise. Mas ela que podem, com o símbolo dos par- não gosta do PT e aproveita o motidos do Congresso, resolver a situa- mento, pois tem posição política, toção.A população brasileira é bastan- dos os órgãos mineiros tem. O Estate sensível a este tipo de apelo, caiu do de Minas estampou outro dia uma nisso com o Jânio Quadros, com o manchete estapafúrdia, que é a seCollor e se aparecer um agora, ela guinte:“Governo protege guerripode cair na idéia também. lheiro”. Uma barbaridade completa. A imprensa brasileira passa com muiO Ponto: O senhor acredita que ta facilidade do governismo exacera estratégia da oposição seja a bado para o denuncismo exacerbade fazer o governo sangrar até do. Ela nunca consegue achar o ponas próximas eleições? to de equilíbrio. Isso acontece desde a Folha de São Paulo até o Estado de CR: Sem dúvida. Quando o Pallo- Minas.
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CIDADE 5 Ex-ambulantes retornam às ruas O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
Baixas vendas e aluguéis abusivos levam comerciantes dos shoppings populares abandonarem boxes Luíza de Sá
A solução ideal.Assim eram considerados os shoppings populares quando foram criados. O projeto, iniciado há quase dois anos com a criação do Shopping Oiapoque, veio com a promessa de organizar o comércio do centro da cidade e dar um lugar digno para os camelôs e toreros trabalharem. Nestes locais, os trabalhadores informais poderiam contar com uma infra-estrutura adequada e teriam mais segurança para comercializar suas mercadorias, aumentando o volume de vendas. De fato, o Oiapoque tem um fluxo significativo de pessoas e bons resultados nas vendas. No entanto,os empreendimentos que vieram depois não tiveram a mesma sorte. Com pouco mais de um ano, os shoppings Xavantes, Tupinambás e Caetés deixaram de ser a solução para tornar-se mais um problema. Movimento fraco de pessoas, baixo volume de vendas e altas taxas de aluguel são as reclamações dos ex-ambulantes, retirados das ruas do centro da capital com a aprovação do novo Código de Posturas pelo prefeito Fernando Pimentel, em julho de 2003.“A prefeitura nos deu um presente de grego. Ganhamos boxes, mas temos que pagar caro por eles. Os aluguéis são altíssimos e ainda temos que pagar um condomínio de quase R$ 100”, declara o presidente da Associação Geral dos Empreendedores Populares (Agepops), Djalma Pereira.
Insatisfação Insatisfeitos com a baixa freqüência de consumidores e com as altas despesas, vários camelôs abandonaram os boxes que ganharam nos sorteios. Muitos prometem continuar nas ruas e enfrentar a fiscalização da prefeitura. José Gomes é um deles.“Eu não vendia nada e não tinha como pagar o aluguel de R$ 350 e mais R$ 75 de condomínio. Agora, trabalho na tora, na rua. Não posso deixar de garantir o sustento da minha família”, reclama o ambulante. Apesar de a comercialização dos pontos de venda ser proibida pela legislação, ela é amplamente praticada, como é possível notar pelos avisos afixados nos boxes. É o caso do comerciante Geraldo Nascimento, que colocou um cartaz com a inscrição “vende-se este box ou troco por carro”. Ele afirma que já investiu R$ 15 mil e não obteve nenhum retorno.“Aqui eu não fico mais”, desabafa.A presidente da Associação Mineira de Toreros e Minifeiras Organizados, Maria de Lourdes Reis Gomes, acha que tudo isso foi causado porque a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) usou uma política perversa ao compartilhar com a iniciativa privada um problema que é público. Com isso,o negócio se tornou altamente lucrativo para os donos dos imóveis, mas um problema para os comerciantes.
Muitas promessas, poucos resultados Desde que os ambulantes foram retirados das ruas, algumas promessas foram feitas, mas poucas cumpridas. O aumento de linhas de ônibus no entorno do Tupinambás foi atendido, mas, segundo Maria de Lourdes, os terminais acrescentados são de ônibus que vêm da periferia da capital e,portan to,os usuários são de baixa renda. A implantação da Farmácia Popular era uma esperança de mais movimento no local. A inauguração da primeira unidade em Minas Gerais estava em negociação desde abril deste ano,mas o empreendimento ain-
da não foi realizado, pois o Ministério Público Federal e o Conselho Municipal de Saúde são contrários à iniciativa.Outra promessa é a implantação de um Call-Center da Telemar no segundo andar do prédio, mas as obras ainda estão longe de terminar. Restaurante popular, cinemas com ingressos mais baratos, além de caixas eletrônicos e um posto do PSIU, também foram questões cogitadas pela PBH para os shoppings com problemas de pouco fluxo de pessoas. Mas, para os lojistas, o que falta é uma maior divulgação dos espaços.
Os dois grandes
problemas Shopping Tupinambás inadimplência: 47%
agosto/04
Camelôs resolveram deixar os shoppings populares por causa do baixo movimento e das taxas consideradas abusivas
Camelôs denunciam descaso da PBH Fartos da situação, os camelôs resolveram denunciar a cobrança dos aluguéis abusivos e o descaso com que estão sendo tratados pela prefeitura. A denúncia foi feita ao presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social, deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT), que solicitou visitas da Comissão aos shoppings populares com maiores problemas, em setembro deste ano. Foi constatado que os andares superiores dos shoppings Tupinambás e Caetés estão praticamente desertos, confirmando as reclamações dos camelôs.“Comprovamos que muitos deles estão ina-
dimplentes há vários meses e ameaçados de despejo”, disse o deputado, após visitar o Shopping Tupinambás. O presidente do Conselho Gestor desse shopping, Cleyton dos Santos, informou que a inadimplência é de quase 50%. De acordo com ele, no segundo andar quase 300 boxes estão fechados. Para piorar, as obras do futuro da Call-Center Telemar geram muito barulho e poeira, afugentando os poucos fregueses que se animam a subir as escadas.A situação do Shopping Caetés não é diferente. De acordo com a administradora Shirley de Oliveira Lima, a inadimplência chega a
60%. “A venda nas ruas oferece um lucro diário e uma despesa muito pequena. Isso gera neles uma visão imediatista e faz com que larguem os boxes. Os comerciantes devem entender que todo investimento demora um pouco para dar retorno”, explica a administradora. Uma audiência pública solicitada pelo deputado Alencar da Silveira foi realizada em outubro. As propostas de melhoria foram discutidas e uma comissão composta por deputados e ambulantes foi formada para apresentá-las à PBH.A assessoria da Assembléia Legislativa de Minas informou que o pro-
prietário do Oiapoque e do Tupinambás, Mário Valadares, apesar de não ter sido convidado para a reunião, se pronunciou dizendo que o imóvel do Oiapoque estava em péssimas condições antes da sua implantação, o que o levou a fazer um grande investimento em melhorias. Sobre o valor do aluguel e a do condomínio,Valadares declarou que foi feita uma pesquisa em que se constatou que os camelôs gastavam em média R$ 180 pelo aluguel de local para armazenar suas mercadorias. No shopping, ele oferece banheiros e segurança, o que justificaria o pagamento dos R$250.
767 1015
agosto/05
número de boxes
232
boxes ocupados por camelôs
815 Fonte: Conselho Gestor do Shopping Tupinambás
Shopping Caetés inadimplência: 60%
agosto/04 155 194
número de boxes
agosto/05
boxes ocupados por camelôs
78 194
Fonte: Administração do Shopping Caetés
Cooperativa pode ser saída O que consta do novo A saída encontrada pelos ca- fato de se localizar próximo ao Código de Posturas melôs do Shopping Xavantes foi Shopping Oiapoque,que é o únia criação de uma cooperativa.A iniciativa foi do deputado André Quintão (PT), que faz parte da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social e apóia a causa dos ambulantes.Segundo o assessor do deputado, Nirlando Belchior, houve uma reunião com o proprietário do imóvel e com os representantes da categoria para negociarem o valor do aluguel, conseguindo uma redução de 35%.Em contrapartida,os empreendedores populares deveriam se organizar em um modelo, no caso cooperativa, para dessa forma manterem a inadimplência próxima de zero. O Xavantes é o segundo shopping mais bem sucedido. Ele acredita que o
co que mantém as vendas altas, contribui bastante. A representante do local, Maria Gorete de Paula, reconhece que a situação do estabelecimento é bem melhor. Mas disse que mesmo lá há problemas também de baixas vendas nos andares superiores. No entanto, tais resultados não atingem os principais interessados.O sucesso do empreendimento, na verdade,é um fracasso para os camelôs que enfrentam, nos outros shoppings,a concorrência desleal com o “Shopping Oi”. O presidente da Agepops, Djalma Pereira, relata que os boxes do Oiapoque estão quase todos nas mãos de empresários chineses, que jamais trabalharam nas ruas.
Art. 4º - O Executivo promoverá, de forma negociada, dentro do prazo de 6 (seis) meses a partir da vigência deste Código, a desocupação de camelôs e toreros do logradouro público. § 1º - Serão criados, fora do logradouro público, na Zona Central de Belo Horizonte (ZCBH), na Zona Hipercentral (ZHIP) ou em área de grande circulação de pedestres, locais específicos com viabilidade econômica destinados a abrigar as atividades exercidas por camelôs e toreros. § 2º - (VETADO) § 3º - O Executivo garantirá, por meio de política de fiscalização específica, que os espaços desocupados dos logradouros públicos não venham a ser novamente ocupados para o exercício da atividade desenvolvida por camelôs e toreros. § 4º - A utilização dos locais previstos no § 1º deste artigo será feita de forma não gratuita.
06 - cidades - Lídia Rabelo
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6 CIDADE Rotativo na Savassi divide opiniões
O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
Redução no tempo de permanência do Rotativo gera discussão entre comerciantes, moradores e BHtrans Luiza de Sá
Rafael Xavier Ricardo Antônio Sonia Bittencourt 6º Período A Savassi,região nobre de Belo Horizonte e um dos locais mais bem freqüentados da capital, passa por um problema que é o que fazer com o excesso de veículos que transita por ali. Com o intuito de evitar transtornos a BH Trans após pesquisas, implantou o estacionamento rotativo para aumentar a oferta de vagas na região que tem uma grande concentração de comércio, serviços e lazer. Mas a implantação do rotativo tem causado discussões entre moradores, comerciantes e clientes da Savassi. Pesquisas Segundo o assistente do ombudsman da BH Trans, Deryan Junkert, a relação das vagas tem como objetivo melhorar e adequar a oferta de locais com estacionamento reservados às necessidades da população. Antes de implementar qualquer empreendimento do porte do rotativo, a BH Trans realiza diversos levantamentos e pesquisas para verificar a validade ou não do serviço. O gerente do estacionamento rotativo da BH Trans, Sérgio Rocha esclarece como foi adotado o serviço na região da Savassi,“Toda medida que a BH Trans toma em termos de estacionamento rotativo é mediante pesquisa, que é feita todos os dias do ano com exceção de domingos e feriados. A pesquisa é feita em campo, no mínimo um dia, de segunda a sábado.Aí ela vem para o escritório, é analisada, tatuada e a função dela, a gente decide por implantar ou não, de acordo com determinada regulamentação”. Na savassi essa pesquisa detectou alguns problemas clássicos de excesso de veículos para
poucas vagas.Como fila dupla, veículos estacionados em locais proibidos, como porta de garagem, ponto de ônibus, estacionamento proibido e ponto de táxi, pessoas dando a volta ao quarteirão duas, três vezes à procura uma vaga. O gerente do Estacionamento Rotativo da BH Trans ainda expõe os critérios que a empresa utilizou na implantação do programa: “Quando implantamos um determinado tempo de permanência,ele tem que atingir tem que atender no mínimo 70% dos veículos estacionados. Nós implantamos na rua Piauí, um estacionamento de cinco horas. 60% das pessoas o utilizavam por duas horas.O tempo em que essas pessoas são atendidas, 40% usam pelo tempo de permanência. Sempre temos como norma atender no mínimo 60% das pessoas.A cidade está crescendo e a frota está se expandindo cerca de 15% ao ano e hoje o estacionamento é um problema”. Os primeiros resultados dessa nova medida que reduziu o tempo de permanência nos estacionamentos rotativos na região da Savassi são satisfatórios. É o que garante Sérgio Rocha. “Os quarteirões da rua Piauí já estão funcionando após a mudança, bem dentro do que esperávamos: uma ocupação na casa de 50 a 70% que é um número muito bom, com uma rotatividade de 2,4 ou mais em um quarteirão de cinco horas. É o que a gente quer”. O gerente ainda ressalta que apesar da mudança, o sistema de Estacionamento Rotativo não sofrerá qualquer alteração com as festas de fim de ano e com a proximidade do ano novo “é quando as pessoas mais precisam ir às ruas fazer compras e mais precisam de vagas, é quando o rotativo tem que funcionar ainda mais” acrescenta.
Soluções não agradam a todos Uma solução pensada a respeito de estacionamento, é a redução de carros na Savassi, solução que não agradou aos comerciantes da região que contam com consumidores motorizados e que fazem uso da região para suas compras e acesso a vários estabelecimentos, diurnos e noturnos. Maria Amélia, proprietária de uma casa de cosméticos na rua Sergipe comenta que o que deveria acontecer na região não é a redução da permanência de carros, mas sim o fracionamento destes estacionamentos rotativos, com o objetivo de atender aos comerciantes e clientes. “Não é justo que pessoas que usam por 15 minutos os locais destinados ao estacionamento rotativo para resolver um problema tenham que pagar uma folha de uma, duas ou cinco horas. Isso afasta o consumidor para os shoppings que contam com estacionamentos cobertos e segurança como está acontecendo no caso do Pátio Savassi, que conta com uma alta rotatividade em suas vagas com preço fracionado”, alega. Problemas O maior problema do estacionamento rotativo e que tem causado discussões entre comerciantes, moradores e pessoas que usam o estacionamento é a falta de segurança e também o custo.A BH Trans não assume a responsabilidade da segurança e ainda paga-se o valor de R$2 na folha para qualquer tempo de
permanência que pode ser adquirido em 454 postos de vendas credenciados e com identificação própria. A responsabilidade da empresa se faz presente em reverter o faturamento dos estacionamentos em projetos de melhoria do sistema viário da cidade conforme demonstrativo publicado trimestralmente na capa do talão de Estacionamento Rotativo. Criado para facilitar o trânsito em regiões de grande fluxo de pessoas, além de democratizar o sistema de estacionamento na capital mineira, o Rotativo vem chamando cada vez mais a atenção dos proprietários de estabelecimentos comerciais que vêem no serviço uma forma de complementar os seus ganhos. Sérgio Rocha explica esse fenômeno cada vez mais notório em Belo Horizonte.A função do estacionamento rotativo é atender ao cliente e não o dono da loja, pois o rotativo tem tempo pré-determinado. O proprietário do estabelecimento fica muito mais que isso.“Hoje, ele atende muito mais que há 10, 15 anos atrás. Se o cliente não conseguir chegar, o comércio da loja vai acabar, porque ninguém vai comprar”, explica. Rocha afirma que atualmente, é muito comum o próprio dono da loja pedir para colocar rotativo, pois entendeu que o local precisa de gente para comprar.“A lógica do rotativo é do cliente. Ele é quem usa o serviço, não quem o dá,” ressalta.
O alto número de veículos obriga a BHTrans a pensar em medidas drásticas para o problema de vagas na Savassi
Fiscalização da prefeitura é insuficiente A falta de estacionamento tem gerado outro problema na região, que é a demolição de construções para montagem de estacionamentos temporários a céu aberto, cuja fiscalização pelos órgãos competentes não se faz presente. O gerente de estacionamento a céu aberto, Francisco Lisboa Junior, na rua Alagoas quase esquina com Avenida Cristóvão Colombo, salienta que mais vale abrir estacionamentos na região que alugar o imóvel para fins comerciais. Segundo Tereza Coutinho Vilas, fiscal da Prefeitura de Belo Horizonte, isso é motivo de preocupação, e garante que a fiscalização atua com rigor sobre os proprietários de imóveis demolidos na região.
` Sérgio Rocha apresenta estatísticas e faz um alerta à população no tocante ao respeito ao sistema de rodízio nos estacionamentos “Hoje, nós temos um índice de irregularidade grande, algo em torno de 60%. É importante que se conscientizem que aquele espaço em que se está usando, precisa ser usado também por outras pessoas”. De acordo com Rocha, o Estacionamento Rotativo é menos oneroso em relação aos estacionamentos particulares pagos. “Estamos fazendo uma pesquisa na Savassi e tem muito estacionamento pago e o preço é bem maior, é em media de R$4 a R$6 por hora”. Desde agosto, quando foi adotada a medida que reduziu o
tempo de permanência nos estacionamentos da Savassi, a Prefeitura de Belo Horizonte, em conjunto com a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), vem fazendo uma campanha educativa de conscientização da população sobre o novo funcionamento do Rotativo. Uma das coordenadoras do programa que visa alertar as pessoas sobre a importância do sistema de rodízios nos estacionamentos, Heloísa Vidigal, chama a atenção para a campanha. Proprietária da Farmácia Vidigal, a comerciante salienta a relevância de se informar à população “Estamos fazendo um estudo para mostrar às pessoas que usam o rotativo da Savassi, com intuito de educá-las, mostrar como
funciona e qual o tempo de permanência”. Para assegurar que o programa seja cumprido adequadamente, a BH Trans conta com fiscais dispostos estrategicamente naquelas regiões onde funciona o sistema.A desproporção entre o número de fiscais e a quantidade de locais de abrangência do Rotativo é apontado como o fator primordial. Sérgio Rocha explicita essa carência de profissionais fiscalizadores “Infelizmente, o número de fiscais que a BH Trans dispõe é menor do que precisa uma cidade de 2,6 milhões de habitantes, temos que nos desdobrar para fazer com que a equipe cumpra pelo menos o básico que o município exige”. Luiza de Sá
Com a falta de vagas, os motoristas não respeitam as leis e a BHTrans alega ter poucos fiscais para evitar tais cenas
07 - cidades - Paula Pereira
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CIDADE 7 BH não cumpre Código de Posturas O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
Essa é a conclusão do presidente do Ietec, Ronaldo Gusmão, embora, na teoria, o código seja excelente Luiza de Sá
Fabíola Paiva, Fernanda Campolina, Pollyana Palhares 6º Período O Código de Posturas Municipais de Belo Horizonte, que está em vigor há mais de um ano e meio, não tem sido cumprido pela sociedade e muito menos pela prefeitura. O Código, desenvolvido em 2002 e sancionado em 14 de julho de 2003, reúne um conjunto de normas que regulam a utilização do espaço urbano pelos cidadãos, como a utilização de passeios, exercício de atividades profissionais ao ar livre e a instalação de engenhos publicitários em locais públicos. Segundo Ronaldo Gusmão, presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec) e coordenador da Conferência Latino-Americana sobre o Meio Ambiente (Ecolatina), um dos exemplos mais visíveis deste desrespeito é quanto ao cumprimento das regras para a instalação de outdoors, painéis luminosos e empenas, que são as propagandas afixadas nas fachadas de edifícios. O vice-prefeito da capital, Ronaldo Vasconcelos, alega que a prefeitura tem cumprido o código, “a prova disto que somente após a sanção dele que o prefeito Fernando Pimentel teve condições de fazer o remanejamento dos camelôs do centro da cidade para os shoppings populares”, afirma. Segundo o Comandante de Policiamento da Capital, Coronel Renato Vieira de Souza, este remanejamento favoreceu as ações policiais,“atuação dos policiais melhorou muito e os índices de criminalidade caíram bastante”, diz o Coronel. O vice-prefeito afirma que o código foi feito para ser usado agora e ser administrado com o tempo. Ele pode ter longa ou média duração, e assim
como outras leis já foram mudadas na cidade, ele também poderá ser mudado. Existe um projeto de lei de número 550, na Câmara Municipal, que pretende mudar o Código de Posturas. Para Ronaldo Gusmão, não tem necessidade dele sofrer alterações.“O código é ótimo” afirma o presidente do Ietec. Ronaldo Vasconcelos afirma que a Regional Centro-Sul acompanha de forma esporádica o número de engenhos publicitários ilegais que surgem na capital. Ele concorda que estes outdoors geram uma poluição visual na cidade, mas que é impossível manter estes dados atualizados e sob controle.“Para uma placa publicitária ser legal existem diversas regras definidas que devem ser cumpridas. Como por exemplo, não é permitido mais que três placas de outdoor colocadas uma junto a outra. É impossível colocarmos um fiscal em cada esquina, a cada instante”, acrescenta. Ele declara que a prefeitura é democrática e aceita a opinião da população, mas vai jogar duro para que o visual da cidade não seja prejudicado. “Não queremos que ninguém deixe de ganhar seu dinheiro, mas não podemos atender alguns, e prejudicar a qualidade de vida da cidade”, completa. Para Gusmão a prefeitura tem sido extremamente omissa, a prova disto é que ela não tem a relação do número de engenhos publicitários irregulares que existem na cidade.“Ninguém sabe quantos outdoors ilegais têm em BH.A lei prevê que o órgão que fiscaliza e autoriza, deve publicar no Diário Oficial do Município ou em algum site da internet este número. Eu nunca vi no site da prefeitura”, desabafa. Ronaldo Vasconcelos discorda da posição do presidente do Ietec. Para o vice-prefeito o processo de colocar o código em prática já começou.
Os dois lados do Código A Ordem dos Advogados do Brasil, Fundação Estadual de Meio Ambiente, Ietec, Unicentro Newton Paiva, Ecolatina, entre outras se reuniram para a votação do código e discutiram durante dois meses sobre os itens de engenhos publicitários até chegarem a um consenso e produzirem um projeto de lei sobre os outdoors e placas publicitárias.Tendo como base as leis de Crimes Ambientais do país, e às leis de Curitiba e Joinville, que segundo Ronaldo Gusmão, são cidades mais avançadas em termos de qualidade de vida. Esta proposta foi passada ao vereador Tarcísio Caixeta, sub-relator do Código de Posturas, e através dele apresentada a Câmara dos Vereadores. O código possui alguns pontos que são pioneiros no Brasil. Um dos detalhes mais importantes é a existência da co-responsabilidade, isto é, se existe um engenho publicitário ilegal, os responsáveis por ele são os donos do engenho, o dono do imóvel, a agência de publicidade e o anunciante. Foi necessária a implantação deste artigo, pois a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) reclamava que nunca encontrava os verdadeiros donos dos engenhos. Outro ponto existente na lei é em relação à interpretação e aprovação dos engenhos de publicidade.A prefeitura tinha um departamento de liberação de outdoors, nele somente um funcionário ficava responsável por aprovar ou não, determinado espaço para engenhos publicitários.
A liberação do licenciamento de um novo engenho publicitário é feita pelo Conselho de Política Ambiental (COPAM), e como o engenho é uma fonte poluidora ele também tem que ser liberado pelo Conselho de Engenharia Ambiental. Engenhos Publicitários Um dos fatores mais preocupantes é a utilização de áreas preservadas para a instalação de engenhos publicitários. Segundo Ronaldo Gusmão existem várias placas em lugares preservados,um exemplo é na Avenida Nossa Senhora do Carmo, próximo ao Ponteio Lar Shopping.“A bacia de Santa Lúcia que está neste local é uma área de encosta. Dessa forma não podem existir outdoors, mas infelizmente está cheio deles”, declara. O artigo 273 do código determina a proibição de engenhos publicitários em zonas de proteção ambiental. De acordo com Nilda Xavier, secretária-adjunta de Administração e Regulação Urbana da Regional Centro-Sul, a prefeitura reconhece que as placas estão em locais indevidos. O problema principal é que o número de fiscais é pequeno e atua por setores. De acordo Gusmão a prefeitura sempre reclamou que não tinha pessoal suficiente para fiscalizar a cidade toda, por isso era necessário um código auto-explicativo, para que as pessoas entendam e o apliquem.“O Código de Posturas é desrespeitado porque a sociedade não tem acesso a ele”, acrescenta.
Cenas como essa são comuns nas ruas da capital mineira e reforçam a denúncia de que não há fiscalização eficiente
Código repercute entre arquitetos e urbanistas em Belo Horizonte As leis do Código de Posturas tentam o tempo todo controlar os vários mecanismos das grandes cidades, que são aleatórios e incontroláveis. Apesar de muitas pessoas tentarem evitar que cresça o número de outdoors em lugares ilegais. O código possui as posturas destinadas a promover a organização e o equilíbrio no espaço urbano através de disciplinas dos comportamentos, das condutas e dos procedimentos dos cidadãos no município de Belo Horizonte. Arquitetos e urbanistas têm opiniões diferentes refente as leis desse código, enquanto alguns reconhecem os itens necessários para promover a o equilíbrio da capital, outros alegam que elas não contribuem para uma melhoria significativa na vida dos cidadãos.
Repercussão A professora de arquitetura e design, Natacha Rena, afirma que é impossível controlar os engenhos publicitários. “Cada vez que você cria mecanismos de controle, os cidadãos das grandes metrópoles criam mecanismo de burlar estas leis”, afirma. Para o código de postura ser cumprido, Belo Horizonte deveria ter a quantidade de pessoas necessárias para fiscalizar e desmontar estas placas publicitárias.“Seria muito mais fácil criar mecanismos na própria arquitetura, na paisagem urbana”, declara. Para Natacha parte da discussão de que a presença dos outdoors prejudica o meio ambiente ou causam poluição visual, é mentira. “Se tirarem as placas publicitárias não altera na-
da na vida cotidiana do homem, porque ele ouve rádio, ao mesmo tempo em que pode jogar vídeo game ou ficar passando os canais da TV”. Ela ainda sugere que os arquitetos criem prédios com lugares específicos para a publicidade, que no futuro servirão para pendurar banners gigantes, igual aqueles que já existem na Avenida Afonso Pena. André Mattoso, 37, Diretor da M&M Comunicação, considera o Novo Código de Postura de Belo Horizonte muito importante, pois regulamentará de forma atualizada todos os espaços para mídia externa na cidade. Vanessa Silveira, 27, arquiteta, declara que é a favor do Código de Posturas de Belo Horizonte, mas acredita que ele poderia ser mais flexível com rela-
ção as empenas nos prédios. “Nós, arquitetos, poderíamos ter liberdade de criar nossos prédios com locais específicos para elas”, acrescenta. Rodrigo de Freitas, 32 anos, urbanista, diz que “o Código de Postura do Município de Belo Horizonte tem uma boa conotação, mas da forma que está constituído, contribui apenas para o privilégio de alguns poucos anunciantes, inseridos num contexto político, que conseguem continuar suas atribuições normalmente, com a penalização de outros tantos menos no mercado. Nem por isso, o código contribui para uma melhoria significativa na vida dos cidadãos e ainda exclui grande parte de negócios que contribuiriam para fomentar a qualidade de vida
Empenas como esta são motivo de discussão, mas há arquitetos que defendem a possibilidade de preverem seu uso
08 - cidades - Aline Valério
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8 CIDADE
O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
Prédios degradados são alvo de recuperação Iniciativas públicas e privadas visam transformar edifícios desertos da capital em moradias populares. Priscila Piotto
Aline Cezar, Mariza Procópio, Priscila Piotto 6º Período Imensos esqueletos de prédios inacabados e abandonados. Efeito perverso do esvaziamento do centro, a degradação de parte do patrimônio imobiliário de uso comercial e residencial tornou-se fato rotineiro em diversas capitais. Edifícios de algumas décadas se tornaram protagonistas de um círculo vicioso: a desocupação afastou investimentos, as estruturas se deterioraram e, conseqüentemente, tornaramse desinteressantes para proprietários e possíveis ocupantes.Contudo,essa situação pode estar com os dias contados.A discussão sobre a construção de moradias populares volta a ganhar destaque em BH com duas iniciativas,uma pública e uma privada, que avançam no sentido de transformar edifícios desocupados em lares para diversas famílias carentes e servidores públicos. No dia 11 de agosto deste ano, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) promoveu o seminário de Desenvolvimento Urbano e Áreas Centrais, para debater a questão do uso de prédios abandonados do hipercentro da capital como instrumento de reabilitação urbana e inclusão social. O projeto Novos Horizontes, iniciativa pública, prevê o uso desses imóveis como moradia para pessoas que estejam cadastradas em algum dos programas de
habitação municipais e que residam em BH há mais de dois anos. O financiamento das moradias será feito pelo Programa de Arrendamento Residencial (PAR), uma parceria entre a PBH e a Caixa Econômica Federal, que pretende manter o valor das moradias abaixo de R$ 40 mil. Segundo o geógrafo Ricardo Resende Lopes, a iniciativa é boa.“Esses projetos poderão dar vida nova para, no mínimo, 56 edifícios vazios localizados bem no coração da capital”, opina. O primeiro candidato a receber as famílias é o prédio do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) na rua dos Caetés, 331.A arquiteta Mônica Bedê, assessora técnica da Secretaria Municipal Adjunta de Habitação, conta que a perspectiva é boa, embora nada esteja oficializado, já que uma ação como essa envolve várias esferas de poder.“A lei municipal em vigor é um dos empecilhos, pois inviabiliza a transformação de edifícios comerciais em residenciais”, relata Mônica. Edifícios como o Tupis, popularmente conhecido como “Balança mas não cai”, localizado na esquina da rua Tupis com a avenida Amazonas, e a ex-sede do Bemge na Praça Sete, também estão incluídos na lista dos possíveis imóveis adaptados. Segundo Marcelo Mendonça, coordenador do Novos Horizontes, “os espaços e centros do
comércio podem atrair sedes de empresas e instituições de ensino, favorecendo o fluxo de pessoas na região e estimulando os negócios”, diz. De acordo com o estudante de Jornalismo Bernardo Motta, muito tem se falado sobre o assunto, mas até hoje não há nada realmente concreto por parte da PBH.“O que se vêem são especulações e debates, além de tentativas de flexibilização da lei municipal que impede o restauro e adaptação dos prédios abandonados em moradias populares”, reclama. Iniciativa privada Teodomiro Diniz Camargos, diretor da construtora Diniz Camargos, comprou o edifício de 16 andares na rua São Paulo,centro de Belo Horizonte, em julho de 2004 para transforma-lo em moradia popular. Com um investimento de R$ 8 milhões, ele afirma que pretende deixar o edifício novo, utilizando apenas a carcaça do local, realizando desde a troca de pisos até a reforma geral dos apartamentos.“A possibilidade que existe da população com menos condições financeiras se assentar é cada vez mais distante. É interessante trabalhar nesse tipo de projeto”,afirma Camargos. Os apartamentos serão vendidos na faixa de R$ 45 mil em média, com financiamento facilitado e boas condições de compra.“Os bancos têm uma lei de
O “Balança mas não cai” além de abandonado, está com as estruturas comprometidas
obrigatoriedade de empréstimo de dinheiro para habitação. Isso sem falar no interesse, visto que um investimento de até R$ 60 mil é posteriormente repassado para o banco, dando condições acessíveis para os compradores” explica Camargos. Contudo, ele conta que existem alguns obstáculos para iniciar a revitalização. “O prédio foi construído dentro de uma lei pas-
sada,que atualmente não está adequada para esse tipo de revitalização. Se a legislação vigente for cumprida à risca,é impossível levar um projeto desses adiante”, emenda. Sobre a possibilidade do edifício se transformar em uma “favela vertical”,Teodomiro argumenta que não se trata de um prédio sem leis, e que há uma convenção restrita, não permi-
tindo, inclusive, qualquer uso comercial dos apartamentos. Ele acredita que esse tipo de projeto não deve ficar só nas mãos da prefeitura, pois mesmo sendo de interesse da PBH que os edifícios sejam conservados e revitalizados, não há a agilidade nas obras.“São processos lentos,que precisam ter também a iniciativa e envolvimento dos investidores privados”, conclui.
Aline Cezar
Moradias populares no centro da capital em versão cinco estrelas
O maior hotel de Belo Horizonte: projeto saiu do papel mas nunca foi concluído
Sem-tetos ocupam edifícios abandonados e inacabados de BH Nem todas as construções inacabadas que existem em Belo Horizonte estão completamente abandonadas. Muitas delas são ocupadas por sem-tetos que vivem em situação precária, sem água,luz e saneamento, que coexistem com a falta de segurança, pois não se sabe até que ponto as estruturas dos prédios estão comprometidas. José Maria dos Santos Júnior,promotor de Justiça de Defesa da Habitação e do Urbanismo, explica que esse é o ponto que mais preocupa.“As invasões são perigosas, colocam em risco não só a vida dos moradores, mas também de quem passa na rua.Porém,não podemos simplesmente retirar essas pessoas de lá. Onde vamos colocá-las?”, Questiona o promotor. O carpinteiro desempregado Elismar Pereira dos Santos, 39, mora há nove anos no imóvel inacabado da falida Construtora Encol, na rua Aimorés, número
1.862. Ex-funcionário da construtora, Elismar conta que já vigiava o local antes da paralisação das obras e que, após o abandono, passou a morar ali para evitar invasões e favorecer as freqüentes vistorias da prefeitura. Os prédios abandonados estão em todas as partes da cidade. No bairro Nova Suissa, um grupo de moradores sem-teto invadiu um edifício cuja construção foi paralisada pela Encol. Os mutuários do prédio já se organizaram e pretendem concluir o imóvel com recursos próprios. Para dar início às obras eles aguardam apenas permissão judicial. O comerciante José do Nascimento, 52, conta que já foi assaltado várias vezes ao passar em frente o edifício Tupis, o “Balança mas não cai”. Segundo ele o local é ponto de marginais, principalmente jovens, que abordam as vítimas com cacos de vidro e canivetes.“Nunca vi a polícia por
lá.Acredito que esses mendigos moram dentro do prédio, pois não há segurança no local, o que é um absurdo”, protesta. De acordo com Élcio Avelar Maia, conselheiro do Crea-MG e presidente do Instituto Brasileiro de Engenharia de Aviações e perícia de Minas,qualquer obra inacabada pode ser retomada, independentemente de quanto tempo ela esteja paralisada.“Não existem empecilhos para a retomada das atividades, basta que os administradores tomem precauções. Precisam ser feitos testes na estrutura, ferragens, alvenaria e concreto”, explica. De acordo com a Regional Centro-Sul,são praticamente 400 prédios ociosos em Belo Horizonte, com importantes referências no âmbito financeiro, como as antigas sedes da Agrimisa e do Banco Hércules,ambas na rua Espírito Santo, e Banco Progresso, na avenida Afonso Pena.
O que deveria ser o melhor hotel de Belo Horizonte, na rua Rio de Janeiro, 18, esquina com a Avenida do Contorno, centro da capital, é hoje mais uma construção inacabada. O edifício está abandonado há mais de oito anos, quando sua obra foi interrompida em função da falta de dinheiro e erros de planejamento do proprietário, Ferdinando Cardoso. O empresário Carlos Lucas Cardoso,filho de Ferdinando, está à frente da administração do local.Segundo ele o pai tinha um estilo antigo de administrar.“Ele não gostava de parceiros e o dinheiro foi acabando, até chegar em uma situação na qual não conseguimos mais manter os funcionários”, conta Carlos. O prédio possui toda a estrutura de um hotel cinco estrelas, com restaurante, piscina, suítes presidenciais, áreas de convivência e diversos equipamentos,além de um heliponto.No total,são 32 andares e 428 apartamentos, inacabados e vazios.Até pouco tempo, os únicos ocupantes do local
eram um estacionamento e a casa de shows Ferdinandos Dancing Show, ambos fechados para reforma e adequações de segurança exigidas pelo Corpo de Bombeiros, mas já reabertos. Sobre a conclusão das obras o local, o empresário diz que não tem perspectivas, a não ser que haja um incentivo financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). Carlos conta ainda que a Caixa Econômica Federal já propôs a compra do imóvel para que ele possa ser incluido em programas de financiamento de moradias populares do Governo Federal. “A Caixa já levantou o projeto para providenciar a vistoria.É necessário verificar se o prédio pode ser adaptado dentro dos padrões que são exigidos por lei”, complementa. Cristiano Batista, locutor da rádio Inconfidência, apoia a iniciativa, mas receia que os problemas sejam ampliados.“Se essa iniciativa realmente sair do papel, acredito que muita coisa vai me-
lhorar. Mas tudo deve ser bem pensado, para que o projeto, visto como salvador, não se torne mais um tormento”, ressalta. Além do prédio da rua Rio de Janeiro, mais oito edifícios da região central estão em fase de estudo para serem transformados em habitação popular. De acordo com a Secretária Municipal de Política Urbana, Maria Caldas, o município vai flexibilizar a Lei de Uso e Ocupação do Solo e criar um plano diretor específico para o hipercentro, de modo a viabilizar a adequação desses espaços.“O Ministério já repassou ao município R$ 220 mil, verba necessária para fazer o levantamento dos imóveis viáveis, estudo de impacto de circulação e elaboração do programa”, esclarece Maria Caldas. A estudante de Jornalismo Mariana Barros apoia as iniciativas de revitalização.“O centro está bastante degradado e isso seria um modo lucrativo de embelezar a cidade e tirar os mendigos das ruas”, opina. Fotos: Mariza Procópio
“Apoio a revitalização. O centro está bastante degradado”
“Se a iniciativa realmente sair do papel, creio que muita coisa vai melhorar”
“Muito tem se falado, mas não há nada concreto por parte da PBH”
Mariana Barros, estudante de Jornalismo
Cristiano Batista, locutor da Rádio Inconfidência
Bernardo Motta, estudante de Jornalismo
09 - Comportamento - J Morato
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Editora e diagramadora da página: Juliana Morato O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
COMPORTAMENTO 9
FomedeBeleza
Guilermo Tângari
Pesquisas mostram que 52% das pessoas estão insatisfeitas com a auto-imagem Juliana Morato e Rodrigo Mascarenhas 6º Período Corpo violão,seios fartos,cintura fina, pele bronzeada e bumbum empinado. Esses são os atributos exibidos pelas musas da televisão e capas de revistas.Mas será que todas as mulheres podem se enquadrar nesse possível padrão de beleza? De forma sutil e sedutora,a ditadura da beleza explora a insegurança, a impotência e a angústia de todos,que acabam achando que ser lindo, magro, saudável é uma obrigação. Dietas milagrosas fazem parte do cardápio das revistas semanais,principalmente daquelas voltadas para o público feminino.Na TV, os intervalos são repletos de publicidade que reforçam a idéia de ser possível a existência de um corpo ideal.O funcionamento da sociedade contemporânea se dá a partir da imagem como mercadoria e, consequentemente, torna-se um fator determinante na vida do ser humano.As imagens são produzidas para preencher os vazios da vida social:elas invadem as intimidades das pessoas e acabam moldando comportamentos Viviane Loyola, autora de uma dissertação de mestrado sobre o tema, acredita que o corpo humano não foge a esse padrão, sendo submetido ao confronto entre o corpo real e a imagem ideal.“Nesse ambiente de supervalorização da imagem, os indivíduos dão respostas patológicas à insatisfação com o próprio corpo, que não se adapta às fôrmas da indústria, que teima em apresentar características fora do padrão.” O conceito de beleza varia através dos tempos. Entre os fatores que contribuem para esse fenômeno pode-se citar a influência das musas do cinema, a moda, a revolução dos valores e costumes da sociedade, o surgimento do feminismo etc. Na década de 80, o culto à magreza atingiu seu auge.O modismo das aulas de aeróbica nas
academias de ginástica e o surgimento da lipoaspiração,em 1982, contribuíram para a valorização dos corpos magros. No início da década de 90, o mundo das passarelas e dos desfiles popularizouse, já que a mídia voltou-se para a glamourização da vida das top models e passou a influenciar no dia-a-dia de muitas mulheres.Para a jornalista de moda Mirian Pinheiro, a mídia dita padrões perfeitos e as pessoas acabam arriscando a própria saúde para buscar o corpo ideal exigido pela sociedade. Influência midiática De acordo com o cirurgião plástico Fábio Fonseca, a década de 90 trouxe uma grande novidade na área da estética: as próteses de silicone para os seios. Segundo Fonseca, elas foram durante muito tempo consideradas cancerígenas, mito desmentindo após inúmeras pesquisas. Dessa forma, os “acessórios” caíram no gosto da mulherada e foram popularizados por ícones como Joana Prado, Carla Perez, Daniele Winits,Suzana Alves,Scheila Carvalho, entre outras.A estudante de Direito, Flávia Teixeira, sempre sentiu que faltava algo em seu corpo.“As próteses que coloquei fizeram com que eu me sentisse mais mulher e até as roupas se ajustaram melhor ao meu corpo.” Segundo dados levantados em uma pesquisa encomendada pela Unilever que entrevistou 3,2 milhões de mulheres, entre 18 e 64 anos,em dez países,como Estados Unidos, Japão, Canadá Itália, Brasil entre outros, a mulher brasileira é a que mais faz cirurgia plástica no mundo.Apesar de ser considerada bela em grande parte do planeta, é a que tem a auto-estima mais baixa. Em outro estudo,este realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), descobriu-se que, em 2004, foram realizadas 621 mil cirurgias plásticas no país. Este ano,devem ser realizadas 800 mil cirurgias deste tipo no Brasil, conforme dados da SBCP.
Influência dos meios de comunicação leva à busca de um inatingível padrão de beleza Guilermo Tângari
Beleza demais é um perigo A sociedade cultiva o estereótipo de beleza como sinônimo magreza; onde tudo o que é belo é bom, onde as características físicas se sobrepõem às características pessoais; onde quem é bonito, é simpático, inteligente, sociável, além de muitos outros atributos positivos. Uma sociedade nitidamente fútil, que dá primazia a uma minoria. Nesse contexto, é oportuno questionar, como se sentirá uma jovem que ao ler uma revista se depara com aquelas roupas lindas, nas quais somente um manequim 36 se ajusta. Ou ainda como se sentirá ao ler que, para se ir para a praia, é necessário um corpo esbelto e estruturado.
Homens, cada vez mais vaidosos, usam de todos os artifícios para manter a forma
O drama de uma jovem
Arquivo pessoal
Fábio Fonseca: plásticas caem no gosto popular
Cristina* se considerava muita gorda desde criança. Durante toda a vida, fez diversos tipos de regimes. Quanto tinha 14 anos, ela teve vontade de ser modelo. Isso a torturou durante muito tempo.“Eu via as modelos na TV e me sentia uma baleia”. Certo dia a garota foi a uma banca de revistas e comprou todas as que tratavam de regimes.“Numa delas tinha um regime para perder 4 quilos em uma semana. Comecei a fazêlo escondido da minha mãe. Só que às vezes ela me obrigava a comer, então eu vomitava propositalmente”. Além disso, Cristina tomava mais de 4 laxantes por dia após as refeições, junto com litros e litros de chás que as pessoas diziam que eram diuréticos.“Fui emagrecendo... e comecei a ficar feliz.Até que as pessoas começaram a falar que eu estava ficando feia, de tão magra...”. Alguns parentes chegaram a questionar se ela estaria com alguma doença. Isso levou Cristina a se trancar no quarto, fugir da realidade na qual
estava vivendo.“Só saí do quarto para ir ao psiquiatra, que diagnosticou anorexia, bulimia, depressão e síndrome do pânico. Comecei a tomar remédios e eles passaram a me dar apetite, “abriram minha garganta, que parecia estar fechada...” Cristina tinha 1,71 e chegou a pesar quarenta e nove quilos. “Hoje me sinto ótima, como tudo o que me dá vontade. Às vezes tenho ataques de querer emagrecer,mas já tenho consciência dos males que posso voltar a ter”, finaliza Cristina. Anorexia: o que é? Casos como o de Cristina não são raros de acontecer.Para a psicóloga Hérika Sadi, o primeiro passo para uma alimentação saudável é entender e aceitar as mudanças do corpo.“Pode-se entender anorexia como um transtorno alimentar caracterizado por limitação da ingestão de alimentos, devido à obsessão de magreza e o medo mórbido de ganhar peso. O conceito de beleza vem sendo construído nessa sociedade onde a aparência é valorizada
em detrimento a qualquer outra coisa”, concluí a psicóloga. Segundo Viviane Loyola,“a importância que os transtornos alimentares adquire é mais assustadora quando se sabe que cresce o número de jovens que desenvolvem tais transtornos, assim como o de mortes decorrentes”. De acordo com estudo realizado por João Eduardo MendonçaVilela, autor da dissertação “Prevalência dos Transtornos e Comportamentos Alimentares” em Belo Horizonte no ano de 2000, entre estudantes de 6 e 18 anos da rede pública de ensino apontam que existe um comportamento alimentar inadequado por parte dos adolescentes.Entre 1450 matriculados no Ensino Médio, de 16 escolas públicas e 4 escolas privadas, 52% dos alunos estão insastisfetos com sua imagem corporal; cerca de 30% tem o hábito de fazer dieta;19,2% utilizam-se dos vômitos para perder peso (episódios bulímicos) e 10,2% fazem uso de comprimidos, diuréticos e laxantes. *Cristina é o nome fictício de uma jovem que não quis se identificar
Hedonismo O prazer como meio de vida, o hedonismo, leva a uma excessiva preocupação com o corpo. “Ser belo é um prazer e uma obrigação social, capaz de gerar culpas e frustrações no indivíduo, que dificilmente tem a certeza de ter alcançado o ideal”, diz Viviane Loyola.De acordo com a pesquisadora, a pessoa nunca se sente satisfeita com seu corpo e começa uma luta incessante na busca pela beleza, daí surgem os transtornos alimentares como a bulimia e anorexia.As anoréxicas têm como preocupações comer em público, forte necessidade de controle de tudo à sua volta,pensamento inflexível, espontaneidade social diminuída,grande restrição da iniciativa e expressão emocional. Segundo a psicóloga Lis Martins, com a degradação da qualidade de vida, as relações pessoais e sociais tornam-se empobrecidas e vazias.“Somos incapazes de perceber a importância dos valores que nos cercam, sendo assim, buscamos o conforto em nosso corpo”.Através do corpo e das experiências a ele relacionadas busca-se o reconhecimento.“A ostentação de sinais socialmente valorizados, a manutenção a todo custo de uma aparência que corresponda aos ideais do grupo, torna-se uma questão de sobrevivência”, menciona a psicóloga.
10 - Fumec - T Nagib
21.12.05
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Editor e diagramador da página: Tiago Nagib
10 FUMEC Design lança revista Traça
O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
Publicação é resultado do trabalho de alunos do curso e recebeu apoio da Universidade Fumec
Intercâmbio acadêmico leva terceiro grupo a Portugal
Tiago Nagib
Tigo Nagib 7º Período Criada ao longo de 2005, a revista Traça é resultado da parceria entre os alunos do cursos de Design, destacando-se a participação daqueles de Design Gráfico, o DA de Design, o DCE e a Fumec.A idéia da revista originou-se com os alunos dos professores Mário Arreguy e Marcos Malafaia no curso Design Gráfico, que viram uma necessidade de reproduzirem seus trabalhos extra-curriculares além de expressarem suas idéias livremente. Para o coordenador do curso de Design Gráfico, Guilherme Guazzi, a criação da revista veio trazer a proposta de uma discussão estética no campo das artes visuais pelos próprios alunos. Guazzi ressaltou ainda a importância de serem os estudantes os organizadores deste projeto. Segundo o estudante Rodrigo Augusto Gonçalves, um dos idealizadores e coordenadores do projeto,a revista surgiu do desejo dos alunos de criar um veículo onde estes pudessem expressar-se livremente, sem limites e interesses externos à vontade dos alunos. Para Rodrigo, o papel da revista é o questionamento daquilo que é ditado pelo mercado. A revista trabalhará a partir de sua edição n°1 com temas, sendo que o próximo será a música.A primeira edição saiu como número zero.
Coordenador do curso de Design Gráfico da FEA-Fumec, Guilherme Guazzi: “a Traça é resultado do esforço dos alunos”
Pelo terceiro ano consecutivo, alunos do curso de Comunicação Social da Fumec vão para Portugal pelo programa de intercâmbio com a instituição portuguesa da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, a ESTA. Devido a problemas de orçamento da universidade portuguesa, neste ano o número de vagas reduziu sensivelmente, caindo de 10 para cinco o número de alunos da Fumec que irão a Portugal. Apesar da diminuição de vagas imposta à Fumec pelos portugueses, a coordenadora do intercâmbio pela Fumec, a professora Zahira Souki acredita que o intercâmbio é uma grande oportunidade para que brasileiros e portugueses se conheçam mais, e que o intercâmbio acarreta uma grande bagagem cultural aos alunos dos dois lados do oceano. Para o aluno do 6° período de jornalismo, Eduardo Klein, o intercâmbio proporciona uma grande oportunidade para “adquirir uma concepção de mundo melhor. Quero observar sob o olhar europeu a prática jornalística”, afirma Klein. Em Portugal, a professora Zahira tem o objetivo ainda de aumentar o número de convênios entre instituições lusas e a Fumec por meio de visitas às universidades de Coimbra, Lisboa e Douro.
Até a próxima edição.
11 - esporte - Daniel Gomes
21.12.05
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Editor e diagramador da página: Daniel Gomes
ESPORTE 11 Êxodo prejudica nível do futebol O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
Saída de jogadores brasileiros para o exterior é apontada como razão da baixa qualidade do Brasileirão Divulgação/Agência CBF
Carlos Fillipe Azevedo 8º Período O Campeonato Brasileiro de 2005 não foi marcado apenas pelos grandes clássicos, gols dos artilheiros, sofrimentos dos times rebaixados e nem pelo escândalo da arbitragem da chamada "Máfia do Apito". A principal competição nacional também foi marcada pela saída dos melhores jogadores do certame e conseqüentemente pela queda do nível técnico. Apesar de a Seleção Brasileira ser considerada a melhor do mundo, o campeonato nacional não possui a mesma qualidade técnica dos nossos jogadores selecionáveis.Prova disso é que,entre o grupo dos possíveis jogadores que irão disputar a próxima Copa,apenas três ainda atuam no Brasil.São eles:o goleiro Marcos, o lateral Cicinho e o meia Ricardinho.Além disso, as poucas revelações surgidas são negociadas, pois a maioria dos clubes brasileiros está muito endividada e a principal fonte de renda para os times é a venda dos jogadores para o exterior. Êxodo esportivo A saída de jogadores para o exterior também revela a falta de planejamento dos times brasileiros, uma vez que no início do ano montam um grupo de jogadores que sabem que, na maioria das vezes, não vão conseguir manter até o fim do ano.
Carlos Fillipe Azevedo 8º Período A história do Clube Atlético Mineiro está manchada. Foram muitos erros cometidos pela diretoria e o resultado final foi o rebaixamento. Porém, vale ressaltar que essa situação deplorável já vinha sendo desenhada ao longo dos anos. No ano passado, quando o time escapou da queda na última rodada contra o São Caetano, o sinal de alerta foi acesso e a diretoria prometeu não cometer os mesmos erros de novo. Isso não aconteceu.A equipe decepcionou, fracassos foram sendo acumulados e o clube ficou apenas com a quarta colocação no campeonato mineiro, primeira competição do ano. Entre os principais erros, podemos citar a insistência por parte da diretoria no técnico Tite,que não vinha mostrando resultados, já que a equipe foi eliminada prematuramente da Copa do Brasil pela modesta equipe do Ceará e no Brasileiro vinha acumulando inúmeras derrotas. Outros erros também foram cometidos como o excesso de jogadores, contratações mal planejadas (chegando ao ponto de contratar cinco jogadores para a lateral direita e o único destaque na posição estava jogando improvisado), apostas em jogadores veteranos e não comprometidos com o clube, afastamento de jogadores e sua reintegração ao elenco semanas depois, brigas entre dirigentes, conselho deliberativo e oposição, a total falta de sintonia entre a torcida e os diretores que na maioria das situações demonstrou ser omissa,etc. Com todos esses erros já era possível perceber que o rebaixamento estava próximo. Com a queda para a segunda divisão, resta à diretoria rever seus conceitos e mudar com o objetivo de reestruturar o departamento de futebol e planejar de forma mais eficiente a montagem de um grupo de jogadores que tenha vontade de defender a camisa alvinegra como ela merece.
O êxodo dos jogadores nacionais a cada ano que passa é maior. Em 2005, de acordo com a Confederação Brasileira de Futebol, 707 jogadores foram envolvidos em transações internacionais.Diferentemente de alguns anos atrás,os jogadores começam a se transferir não mais para as grandes equipes européias, mas sim para mercados emergentes como Córeia,Rússia,Japão,Grécia e países do Oriente Médio. O zagueiro Vinícius saiu de times de pouca expressão no país para jogar no Hannover, da Alemanha. Segundo ele, o futebol mais organizado é um grande diferencial entre os campeonatos brasileiro e alemão.“Mesmo que venha para um time pequeno,todos sonham com isso.Pensam em fazer um campeonato bom e a partir daí se projetarem para um time grande”, explica. Para o jornalista Paulo César Vasconcelos, comentarista do canal Sportv, muitas vezes os atletas são influenciados pelos seus agentes."Alguns têm potencial para se valorizarem e não precisam se transferir para países periféricos que se apresentam.Outros,talvez a maioria,enxergam nessas transferências a possibilidade de ganhar dinheiro rapidamente", ressalta.Vários jogadores são negociados a toque de caixa para atender ãs necessidades dos seus agentes, sobre o pretexto de que não negociando em determinado momento,os clubes e os próprios atletas acabariam perdendo uma
grande oportunidade. De acordo com o presidente do Cruzeiro,Alvimar de Oliveira Costa, um dos principais problemas da queda do nível do campeonato é que a venda de jogadores é acontece com o campeonato em andamento."Vemos a saída em massa de nossos atletas, o que gera um enfraquecimento do futebol brasileiro. Hoje, não só os craques são cobiçados,mas o mercado se abriu também para os jogadores de nível inferior. Existe espaço para todos eles no mercado internacional.O prejuízo técnico ainda é maior porque quase todas as transações acontecem no meio da temporada", comenta. Para o aposentado Hélio Pereira, 60, o nível técnico do futebol brasileiro está cada dia pior, "Há dois anos compro o pay-perview com jogos da série A. O que percebi é que a maioria dos clubes hoje possuem jogadores esforçados e não mais os craques de antigamente". Solução Segundo o ex-craque e comentarista de futebol Tostão, o que se tem hoje é uma espécie de segunda divisão do futebol brasileiro, pois os melhores do momento estão fora. Para ele, isso se deve à má administração dos clubes.“Eles precisam ir melhorando a situação de modo progressivo, mas isso depende da economia do país, da moeda e etc”, diz.
Brasil conhece seu grupo na Copa 2006 A Copa do Mundo conheceu, no dia 9 de dezembro em Leipzig, na Alemanha, os grupos da primeira fase. A cerimônia contou com a presença de quatro mil convidados,entre eles,representantes de todas as delegações que irão participar Copa, além de ex-atletas como Pelé, Matthäus, Roger Milla, do Camarões e Johan Cruyff, ex-craque holandês. No sorteio, foram definidos os oitos grupos da competição. O Brasil se encontra no Grupo F juntamente de Croácia,Austrália e Japão. Esse grupo é considerado pelos principais comentaristas esportivos como, por exemplo,PauloVinicius Coelho e Tostão, um grupo equilibrado, apesar de que ele não apresentar nenhuma outra seleção do primeiro escalão do futebol mundial. Segundo Tostão, o grupo do Brasil não é difícil, mas certamente não é tão fácil como foi na Copa de 2002.“Croácia,Japão e Austrália não estão entre as equipes que podem lutar pelo título, mas são melhores do que a China e a Costa Rica. O Brasil não deverá ter dificuldade, afir-
mou o ex-craque em sua coluna na Folha de São Paulo. Essa é mesma opinião do treinador da seleção brasileira Carlos Alberto Parreira,que declarou que "tecnicamente o Brasil é, de longe, a melhor equipe do grupo, mas, se entrar mole, achando que já ganhou, pode levar uma trombada feia".Ele lembrou que, na Copa das Confederações, em junho e julho,na Alemanha, o time apenas empatou com o Japão. "Depois que o Zico assumiu, o Japão passou a jogar em um 4-42 elástico, aberto, e eles avançam com muita velocidade",analisou. Passando às oitavas o Brasil, poderá enfrentar duas fortes, como a tri-campeã Itália, além da atual sensação européia, a República Tcheca,que tem como principal estrela o meia da Juventos Pavel Nedved. Considerado o mais difícil pelos analistas esportivos, o Grupo C conta com as fortes seleções da Argentina e Holanda,além de seleções que se destacaram nas eliminatórias como Sérvia e Montenegro (antiga Iuguslávia) e Costa do Marfim considerada a melhor seleção africana.
Grupo da Seleção Brasileira em 2006: Grupo F • Brasil • Croácia (13 de junho, em Berlim) • Austrália (18 de junho, em Munique) • Japão (22 de junho, em Dortmund)
Grupo considerado mais difícil por especialistas: Grupo C • Argentina • Holanda • Sérvia e Montenegro • Costa do Marfim
Craques como Kaká saem muito cedo do futebol brasileiro para brilharem no exterior
12 - cultura - Wânia Ferreira
21.12.05
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Editor e diagramador da página: Wânia Ferreira
12 CULTURA
O PONTO Belo Horizonte – Dezembro/2005
O engenho de La Mancha Sobre a história de quatro séculos de cavalgada de Dom Quixote na defesa de um sonho Lídia Rabelo, Paula Pereira, Wânia Ferreira 5º Período “Num lugar de La Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor”. Assim começa o mais famoso romance do espanhol Miguel de Cervantes, que mesmo com 400 anos de sua publicação, continua a encantar a todos que se deliciam com a sua leitura. O cavaleiro da Triste Figura conquistou o mundo ao tentar mudá-lo e ainda hoje inspira intelectuais, artistas, escritores. Esse fidalgo esguio carrega uma força inversamente proporcional ao seu porte físico,como destacam seus fiéis leitores, que sempre fazem referência à sua capacidade de se manter fiel ao sonho de um mundo melhor e à fidelidade aos seus ideais. Será esse o seu grande trunfo, o que o mantém vivo por tanto tempo? Segundo o professor de língua espanhola na UFMG, Rômulo Monte Alto, isso acontece porque Dom Quixote correu o mundo e podemos encontrar expressões dele em toda parte.“Para uma obra se manter viva por 400 anos, tem que ter alguma atualidade, ela deve falar com o presente e acenar para o futuro”, afirma o professor. A abertura do romance para o mundo de sonhos, justiça e utopia foi o que conquistou o engenheiro civil,José Márcio, grande admirador da obra-prima de Cervantes.Para ele, Dom Quixote é um livro extremamente importante para toda a literatura ocidental, e que praticamente inaugura o romance moderno. A professora de Língua Espanhola Sueli Auxiliadora Santana Chaves relata que Dom Quixote vivia somente o que queria, e que dessa forma é importante pensar porque um homem que leu tanto igual a ele, precisou desses dois componentes – Dulcinéia d’El Toboso e Sancho Pança. Uma mulher feia para ele enxergar bonita e um homem do povo, rude.“Ele os usou como duas muletas para poder sustentar todo seu ego”, afirma Sueli. Poder: Conhecimento A professora relata ainda que o poder que Dom Quixote tinha era o poder do conhecimento. E isso começa a incomodar as pessoas menos cultas, porque elas sofrem com isso. Como defesa, elas preferem titulá-lo como louco, o que as pessoas não compreendiam é que ele não era louco.“Acredito que valorizar a obra, criar em cima dela, é uma forma de mantê-la viva. É importante que se proliferem o espírito da fantasia, justamente para que na atual realidade, algum Quixote sobreviva”, declara. Quando Alencar Fráguas Perdigão abriu sua livraria, batizou-a com o nome de seu herói: Quixote. Leitor assíduo das várias edições da obra de Cervantes, Perdigão confessa-se impressionado pela estória. Segundo ele, o livro é capaz de despertar a imaginação das pessoas através da literatura, toda criação do Cavaleiro da Triste Figura se deu através do contato com os livros e, como esses livros transformaram a vida de Dom Quixote, se o deixou louco ou mais lúcido não se sabe - o mundo é que podia estar louco e Dom Quixote lúcido - assim, ele saiu pelo mundo pra tentar consertá-lo.
MIGUEL DE CERVANTES Miguel de Cervantes Saavedra nasceu em 1547 em Alcalá de Henares, perto de Madrid, Espanha, numa família da pequena aristocracia. O pai era médico, o que obrigava a família a deslocar-se de um lado para o outro, em busca de trabalho. Com 21 anos, Miguel foi estudar para Madrid sob a égide do humanista Juan López de Hoyos, mas alistou-se no exército em 1570 e participou de diversos combates, sempre demonstrando grande coragem.Tomou parte na célebre batalha naval de Lepanto (1571), contra os turcos, de onde saiu seriamente ferido e mutilado da mão esquerda. Quando, em 1575, regressava a Espanha com o seu irmão Rodrigo a bordo do El Sol, foram atacados e capturados pelos turcos. Cervantes passou cinco anos como escravo até a família ter dinheiro para pagar o resgate. Em 1580, de volta à pátria, iniciou a sua carreira como escritor, tendo publicado "Galatea", em 1588, um romance pastoral que não teve qualquer êxito; continuou, assim, pobre e metido em sarilhos - diz à tradição que "Dom Quixote" foi escrito na prisão, em Argamasilla na província da Mancha - até à publicação da primeira parte da sua grande obra (1605).A segunda parte de Dom Quixote foi editada em 1615, um ano antes da morte de Cervantes, em 23 de abril de 1616.
Flores por São Jorge e Livros por Cervantes Na Espanha o culto a Cervantes tem tanto valor que se tornou uma data do calendário popular. Em Barcelona, existe uma comemoração anual, todo dia 23 de abril (data do anúncio de sua morte e dia de São Jorge), conhecida como “Flores por São Jorge e livros por Cervantes” onde as pessoas trocam livros e flores. No ano do quarto centenário da legendária obra de Cervantes, as celebrações se espalham na mesma proporção da grandiosidade atribuída a ela. Em Siguenza, cidade 90 quilômetros ao norte de Madrid, conta mais de 2000 eventos de celebração do aniversário de Quixote.Os centros culturais espanhóis espalhados pelo mundo e as Feiras do Livro internacionais receberam a exposição itinerante Quatrocentos anos de Dom Quixote através do Mundo, que contou com pinturas, desenhos e gravuras em que Dom Quixote tem o papel principal. Em Toboso, existe uma escultura
exposta no centro da cidade, com a imagem de Dom Quixote ajoelhado diante de sua amada Dulcinéia. Neste ano o mundo da literatura ocidental intensificou essas festas. Nessa corrente, a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, em BH, promoveu a exposição “Dom Quixote de La Mancha 400 anos – 1605-2005” no período de 08 de agosto a 30 de setembro, no teatro principal. PBH lança projeto A Prefeitura de Belo Horizonte lançou um projeto de nome Guernica. O projeto trata de uma intervenção junto a adolescentes com trajetórias de pichação e grafitagem.A ligação de Dom Quixote com o Projeto Guernica é com relação aos direitos humanos, o direito a vida, a utopia de uma luta por uma sociedade melhor, onde direitos do cidadão são respeitados. O secretário Newton Pereira de
Souza da Secretaria Municipal Adjunta de Trabalho e Direitos de Cidadania, relatou que esse projeto expressa bastante esse ideal de uma mudança na sociedade visando que as pessoas tenham os direitos garantidos e nunca violados.“O Dom Quixote,hoje,não tem mais aquela característica do individual, do cavaleiro andante, mas da organização social do grupo de se fortalecer e lutar por suas reivindicações” acrescenta o secretário. Na Faculdade de Sabará, Minas Gerais, também se comemora esta data. Os alunos do curso de Letras com ênfase em espanhol promovem Saraus, interpretam cenas do livro e apresentam reflexões sobre quem foi Dom Quixote. Para a professora de espanhol, Sueli Auxiliadora Santana Chaves, formada na faculdade de Sabará, região metropolitana de Belo Horizonte, “Quixote não era louco, ele apenas conseguiu desvincular-se da mesmice, ele conseguiu sonhar”.