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Daniel Gomes
Classe artística de MG Pesquisadora Regina Mota fala sobre TV Digital padece por falta de recursos e alerta: “ Não há pressa na escolha do padrão” [ página 16 ]
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
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Reunião do BID acelera obras em Belo Horizonte A 47º reunião do BID realizada na capital mineira fez com que os governos estadual e federal além prefeitura municipal acelerassem o ritmo das obras em vários trechos da cidade. Entre as obras realizadas destacam-se o recapeamento da avenida Amazonas, a modernização do Expominas (sede do evento) e do aeroporto internacional de Confins. O setor privado também investiu para o encontro, principalmente o setor hoteleiro, que espera que BH torne-se um importante centro de negócios capaz de atrair turistas de todas as partes. As obras fazem parte ainda do plano de transformar BH em sede de eventos e assim estimular o turismo de negócios.
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Estrutura ultrapassada torna Neves insegura O PONTO VAI À PENITENCIÁRIA JOSÉ MARIA ALKMIN E CONSTATA QUE AS FALHAS DO SISTEMA COMPROMETEM SEGURANÇA E REINTEGRAÇÃO [ páginas 8 e 9 ] Luciana Ribeiro
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Câmara não chega a acordo e reforma política será reduzida A Câmara Federal segue discutindo a reforma política, mas só se sabe que ela será realizada em escala reduzida. Além de não definir regras para a fidelidade partidária, a origem dos recursos recebidos pelos candidatos, o texto que aborda o limite de gastos para a campanha eleitoral ainda foi modificado, possibilitando assim que cada partido estabelecesse seu próprio limite. A reforma pode também não valer para as eleições deste ano, pois a constituição prevê que alterações na legislação eleitoral nescessitam ainda de um ano de antecedência para fazer efeito.
Ultrapassada e sem recursos, maior penitenciária do estado dificulta reintegração de setenciados e não garante segurança para a população da região Victor Schwanner
Minas alcança novo recorde em vendas externas
[ página 3 ] Em fevereiro, Minas alcançou nova marca para as exportações, chegando a vender cerca US$ 1 bilhão ao exterior, mas estes números ainda podem crescer mais. Para Paulo Rettore, presidente da Conap, a falta de apoio do governo aliado ao câmbio
O Ponto experimenta com a forma Esta edição marca o início do processo de reformulação gráfica de O Ponto. Faz parte de um estudo interdisciplinar realizado pelo Laboratório de Planejamento Gráfico em conjunto com os Laboratórios de Jornalismo Impresso, de Redação Modelo e de Fotografia. O objetivo é aproximar a programação visual da linha editorial do jornal laboratório, que propõe a prática de um jornalismo crítico. Nessa fase, realizamos um estudo tipográfico e a reformulação da logomarca e iniciamos a aplicação de novos diagramas. Com isso, abrimos outras possibilidades de experimentação, respeitando a dinâmica da comunicação e a linha pedagógica que orienta a prática laboratorial do curso de Comunicação Social, na habilitação Jornalismo.
desfavorável impedem um maior crescimento das exportações. Além disso, o Estado tem suas vendas concentradas em produtos primários de baixo valor agregado e não exporta tecnologia.
[ página 6 ] Divulgação
MISÉRIA Precariedade das condições de sobrevivência leva crianças e adolescentes à mendicância pelas ruas e sinais de trânsito de BH. Eles são obrigados a trabalhar desde cedo para ajudar no orçamento doméstico e acabam tendo desrespeitado seu direito [ página 7 ] à infância.
Máquinas trabalham na extração de minério em Nova Lima
02 - Opiniao - fernanda melo
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Nepotismo e a cultura brasileira DANIEL GOMES 6º PERÍODO Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal considerou constitucional a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que proíbe o nepotismo no Poder Judiciário. Por conta disso, mais de dois mil servidores que possuem algum grau de parentesco com ocupantes de cargos de chefia no Judiário foram exonerados, mesmo aqueles que exerciam seus cargos por meio de liminares. Apesar da decisão quase unânime dos ministros do Supremo (nove votos a um) e da promessa do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, de colocar em votação a proibição da contratação de parentes também para o Legislativo, fica a sensação de que usou-se um curativo para tratar um câncer. São vários os argumentos e reivindicações daqueles que defendem ou condenam o nepotismo, como, por exemplo, o fato de que os parentes contratados nem sempre são os mais competentes para os cargos que ocupam. Por outro lado, o cargo de confiança exige alguém de confiança. Como ter certeza da confiabilidade de alguém aprovado em concurso, por mais competente que seja? O problema se encontra basicamente em dois pontos: a excessiva oferta dos chamados cargos de confiança e o corporativismo que assola muitas instituições no Brasil. O primeiro
é um problema sistêmico e o segundo de ordem cultural. Uma solução ainda mais restritiva em relação ao nepotismo seria, talvez, a implementação de cotas para parentes. Desta forma, haveria chance de concursados ocuparem mais cargos e, portanto, haver mais emprego e também garantia de competência. Haveria também possibilidade de o magistrado ou político ter alguém de sua confiança ao seu lado. Essa é uma medida plausível, mas haveria de passar por uma análise crítica para ser tomada. O segundo problema é mais sério e difícil de resolver, pois trata-se de uma questão de valores, educação, enfim, pontos subjetivos na construção de uma sociedade, principalmente uma tão complexa como a do Brasil. O corporativismo, que é a tendência de profissionais da mesma área acobertarem condutas anti-éticas de seus colegas, prejudica sobremaneira o funcionamento saudável das engrenagens do Estado, das empresas e até mesmo das relações familiares. Medidas unilaterais como condenar o nepotismo são um esforço para combater o privilégio de parentes de magistrados e políticos, mas constituem apenas um passo em direção a um Estado funcional e relativamente livre de corrupção. O problema é maior, mais profundo, e depende também da conscientização de pessoas como nós e nossos filhos.
A pauta não mudou LARISSA SOARES 5º PERÍODO Uma forma interessante de idealizar uma matéria jornalística, na esperança que ela seja minimamente interessante, é vasculhar edições antigas de jornais buscando inspiração na pauta e apurações de tempos já passados. Nos arquivos do jornal Folha de São Paulo, para citar somente um veículo, do mês de março de 1996, ou seja, de dez anos atrás, depara-se com o articulista Clóvis Rossi, direto da cidade de Santiago do Chile, discorrendo sobre os problemas de corrupção nas instituições políticas da América Latina e sobre as múltiplas denúncias de captação de recursos de origem ilícita para financiamento de campanha eleitoral. No mesmo período é possível encontrar um Aloysio Biondi, que foi editor de economia deste mesmo veículo, denunciando uma "operação abafa" do então governo FHC, na qual os donos do poder negavam que tivessem qualquer conhecimento sobre rombos, negociatas e maracutaias bancárias em geral. Temos também um Carlos Heitor Cony indignado com o tesoureiro da campanha eleitoral tucana, Sérgio Motta, e
com os escândalos dos fundos dessa campanha. Ele cita uma frase de um outro tesoureiro, de um outro governo, Paulo César Farias, que disse em um de seus inúmeros depoimentos à CPI e à Polícia Federal, que "enquanto não forem mudadas as regras do financiamento das campanhas eleitorais, tudo de que me acusam será repetido". Profético. Cony fala também dos planos e das armações do PSDB para se manter durante 20 anos no Planalto, mesma acusação que se faz hoje ao PT de Lula. Lendo o Painel do Leitor encontramos diversos cidadãos indignados com os escândalos políticos, com o desrespeito às leis por parte dos parlamentares, que tratam o que é público como se privado, com as práticas eleitoreiras irresponsáveis, com os "homens que impedem o progresso e crescimento do Brasil". Nos artigos de 10 anos atrás vemos o mesmo quadro de hoje. Não mudou a pauta, nem o cenário político, os atores desse palco sombrio continuam mais ou menos os mesmos e não mudamos nós, continuamos assistindo passivos, repetindo os mesmos erros de avaliação, a imoralidade daqueles que agem por nós e em nosso nem um pouco santo nome.
A verdadeira França sobrevive TIAGO NAGIB 8º PERÍODO
Tabuada do Romário BRUNO FERREIRA 8º PERÍODO "De mil passarás, mas dois mil não chegarás". Essa frase que muitos juram encontrar na bíblia, precisamente no Apocalipse, serve para o calvário que Romário vem traçando, ou seja, com tanta influência, criticas e tanta ajuda, é certo que aos mil ele chegará, mas dois... LTS Bremenhavem. Nome de remédio? Marca de roupa? Código Americano usado pela Nasa? Que nada! Esse ai é mais um time que o Vasco enfrentou para Romário marcar na sua caminhada rumo ao milésimo. Time da liga de masters da Alemanha. E foi por esse motivo, e pelo tamanho da barriga dos adversários, que Romário resolveu não jogar. Sábia decisão! Até porque
o mais novo tinha a idade do baixinho, 40 anos, e o mais velho, 54 aninhos. Motivo de muitos risos em São Januário na última semana. As opiniões se divergem entre amigos, rivais, adversários, companheiros de clube. Enfim, o gol de número mil na carreira do atleta tornou notícia nos jornais. O Vasco transformou tal objetivo em um projeto intitulado; "Romário mil gols". Com a finalidade de alcançar a marca e desconfiado, talvez, da capacidade do atleta, a trupe do senhor Eurico Miranda e companhia tiveram a "brilhante" idéia de realizar alguns amistosos com times de pequena expressão no mercado nacional. Mas é justamente ai que mora e nasce o pesadelo dos algarismos, o Vasco vem enfrentando com uniforme e árbitros profissio-
nais, times no mínimo desconhecidos; Duque de Caxias, Rio Branco, Angra dos Reis, Villa Rio, Olaria e Sagrada Esperança, aliás, esperança é o que move Romário. Ele acredita que não existe problema nenhum com estes amistosos e que irá alcançar a marca. Baixinho de futebol, grande o certo é que Romário não precisa alcançar os mil gols para obter a glória do torcedor, pois foi e será lembrado sempre como um dos maiores jogadores de futebol do mundo todo. Portanto, vamos esperar, acompanhar, enfrentar e caminhar junto com o craque em busca do gol mil, seja lá com quem for o próximo adversário. A propósito; você sabe quantos gols faltam? Quantos ele tem?Nem eu!Mas repito: "De mil passarás, mas dois mil não chegarás".
Democracia da TV digital FERNANDA MELO 7º PERÍODO Após inúmeras discussões sobre qual modelo de tv digital o Brasil deveria adotar, a Folha de São Paulo divulgou no dia oito de março a suposta escolha do presidente Lula de adotar o padrão japonês (ISDB). Mas as discussões acerca desse assunto não tem sido nada democráticas. Prestes a viver um dos momentos mais importantes da comunicação com a digitalização da transmissão e recepção dos sinais de TV e Rádio, os debates sobre tema parecem assumir um caráter bem mais político do que técnico. Por trás das avaliações, existe um discurso que vem sendo mantido distante da sociedade. A maioria da população desconhece os fatores que influenciam o governo na sua decisão. A escolha pelo modelo japonês trará vantagens para as grandes empresas de comunicação do país -entre as quais estão as Organizações Globo. Apesar da pressão de diversos segmentos da sociedade para que seja feita uma ampla discussão junto à população, a de-
cisão poderá ser tomada levando em conta o lobby das grandes emissoras de TV a favor do padrão japonês. Segundo o próprio presidente, não seria inteligente do ponto de vista político contrariar essas empresas no ano em que disputará a reeleição. Já as grandes TVs do Brasil defendem que o modelo japonês permitirá maior controle nacional sobre o conteúdo que estará sendo transmitido. O ministro Hélio Costa, que coincidentemente já foi repórter da Rede Globo, argumentou que o padrão japonês tem maior qualidade técnica e que, do ponto de vista tecnológico, é superior ao americano e ao europeu. O que não foi nenhuma surpresa já que no dia 31 de janeiro, em audiência realizada na Câmara dos Deputados, em Brasília, o ministro das Comunicações defendeu a utilização do modelo japonês, o mesmo defendido pelas Organizações Globo. O Centro de Mídia Independente (CMI) e o Sindicato dos Jornalistas de Minas já se manifestaram acusando o ministro de favorecer o monopólio por parte de grandes empresas.
Apesar do governo negar a decisão, sabe-se que o ministro Hélio Costa, juntamente com a ministra da Casa Civil,Dilma Rousseff, já negocia um pacote de investimentos em troca da escolha. Enquanto isso, percebemos a ausência de uma análise mais profunda dos outros modelos. Já o desenvolvimento de um modelo nacional, defendido por estudiosos e pesquisadores, permanece ainda mais distante, reforçando o trocadilho de que "no Brasil nada se cria, tudo se copia”. Isso porque o governo não pode perder tempo na corrida eleitoral e nem perder uma aliada poderosa como a Rede Globo, que já mostrou nas eleições de 89, durante o caso Collor, o seu poder de eleger e derrubar um presidente. E com o risco de um possível monopólio após a implantação do modelo japonês, a sua influência será ainda maior, derrubando a utopia de que a televisão deve ser um meio de comunicação democrático. Enquanto aguardamos o desenrolar das decisões , continuamos sendo iludidos pelo jingle global "...a festa é sua, a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier".
Os jovens franceses dão ao mundo um novo exemplo de luta pelos direitos já conquistados. O governo do primeiro ministro Dominique de Villepin acredita que, para estabelecer uma maior igualdade, é preciso que os jovens franceses percam seus direitos, conquistados à décadas. Villepin conseguiu aprovar no parlamento a nova lei trabalhista que permite a empregadores demitirem menores de 26 anos sem apresentar justa causa ou pagar indenizações. Villepin alega que o desemprego entre os jovens na França é muito alto e, para estimular novas contratações, as empresas não precisariam de pagar o que é devido. Hoje, os jovens franceses marcham por todo o país, contra a nova lei que extorque seus direitos, tendo reunido 1,5 milhão de pessoas, só em Paris, no último dia 18 de março. A França, representante máxima da sofisticação da cultura ocidental, não deve e não pode se trair. Símbolo do Estado de bem estar social, ela deve permanecer na vanguarda, amparando seus cidadãos como todos as demais nações deveriam fazer. Os franceses não podem deixar-se levar pelo modelo norte-americano neo liberal, também adotado pela Grã-Bretanha na Europa. Há quem diga que o Estado não deve intervir na economia, e que deve se ater apenas às suas funções básicas como saúde, educação e segurança. Esquecem do caso do governo argentino, que levou ao pé da letra a cartilha neoliberal de privatizações na década de 90. Como resultado, o país quebrou, permanecendo a mercê das grandes multinacionais. O Estado tem que controlar os setores básicos, mas também deve se fazer presente na economia. Não prego aqui uma revolução socialista aos moldes soviéticos, mas sim uma eficaz intervenção do Estado, onde for preciso, afinal, quem se preocupa mais com o bem estar do trabalhador, o governo ou as multinacionais? Empresas de capital misto como a Air France ou a Renault, que ainda contam com parte de suas ações nas mãos do governo francês ,devem servir de exemplo. O principal objetivo do Estado não deve ser o crescimento a todo custo, mas sim a qualidade de vida de sua população. Villepin diz que quer promover uma maior igualdade entre os jovens na França, mas essa igualdade precisa ser necessariamente nivelada por baixo? Assim sendo, viva a juventude francesa, porque ela é a verdadeira França, capaz de seguir sendo o exemplo para toda a civilização ocidental.
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
o ponto 00Coordenação Editorial Profª Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) e Prof. Fabrício Marques (Redação Modelo) Conselho Editorial Prof. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy (Publicidade), Prof. Rui Cézar (Fotografia), Prof. Fabrício Marques (TREPJ II) e Profª. Adriana Xavier (Infografia) Monitores de Jornalismo Impresso Daniel Gomes, Fernanda Melo e Tiago Nagib Monitores da Redação Modelo Camila Coutinho e Daniela Venâncio
Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Monitores de Produção Gráfica João Hudson e Rafael Matos Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda Ricardo Alves e Daniel Chaves Projeto Gráfico Prof. José Augusto da Silveira Filho Tiragem desta edição 6000 exemplares Lab. de Jornalismo Impresso Tel.: 3228-3127 e-mail: oponto@fch.fumec.br
Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro Belo Horizonte - Minas Gerais
Prof. Amâncio Fernandes Caixeta Diretor Geral da FCH/Fumec Profª. Audineta Alves de Carvalho de Castro Diretora de Ensino
Professor Pedro Arthur Victer Presidente do Conselho Curador
Prof. Benjamin Alves Rabello Filho Diretor Administrativo e Financeiro
Profª. Romilda Raquel Soares da Silva Reitora da Universidade Fumec
Prof. Alexandre Freire Coordenador do Curso de Comunicação Social
03 - Politica - Daniel Mafra
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Reforma, mas nem tanto REGRAS ELEITORAIS SÃO MUDADAS, MAS PROJETO MAIS UMA VEZ RECEBE MUITAS CRÍTICAS FELIPE NUNES RÚBENS MARRA 5º PERÍODO A poucos meses das eleições, os parlamentares analisam às pressas emendas e projetos de lei para amenizar a pressão da opinião pública por mudanças nos processos político e eleitoral. Em resposta às sucessivas denúncias e escândalos envolvendo o abuso de poder econômico, irregularidades na captação de recursos de campanha e os altos custos das propagandas eleitorais, a Câmara dos Deputados passou a discutir um substitutivo de lei do deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) que impõe limites aos gastos, às arrecadações e às propagandas dos candidatos. Mas o projeto, que repercutiu na mídia como uma reforma efetiva, não promoverá de fato mudanças concisas e não abrangerá pontos fundamentais e importantes da legislação, como pode ser constatado em sua redação. O conceito de uma reforma política é mais amplo e envolve mais estudos e definições do que apenas estes projetos que agora tramitam pelo Congresso. "O tema reforma política tem sido muito usado como uma espécie de 'remédio' para os problemas do Brasil, mas não é tão simples assim." opina o cientista político Eduardo Martins. Ele adverte que uma reforma política eficiente implica em mudanças que também terão reflexos em médios e longos prazos e que devem servir para fortalecer o sistema democrático. Medidas “tímidas” O substitutivo de lei do deputado federal Moreira Franco tem entre seus artigos a proibição de showmícios, de distribuição de brindes, da divulgação das despesas pela internet e de um teto para os gastos, ainda não estipulado. Refere-se somente às campanhas e aos recursos de propaganda dos candidatos. Se bem aplicadas as novas normas podem ajudar a controlar o abuso de poder econômico e propiciar uma
igualdade maior de condições na disputa eleitoral. No entanto, emas como fidelidade partidária, voto distrital misto e financiamento público de campanha ficaram de fora. O deputado estadual do PDT Sebastião Helvécio acredita que as medidas estabelecidas "são muito tímidas" e não chega a considerá-las como reforma eleitoral. O deputado acredita ainda que, em curto prazo, é impossível a realização da reforma, pois "neste ano, todas as atenções estão voltadas para as eleições e o Congresso estará paralisado". O deputado ressaltou que "pelo menos a verticalização foi mantida, o que já é um ganho para o país". Alguns itens se tornaram polêmicos pela possível ineficácia. Por exemplo, o texto que aborda o teto para as despesas de campanha previa que a Justiça Eleitoral fixasse um valor caso o Congresso não o votasse. Dias depois, foi modificado, e agora, caso não haja votação, os partidos é que vão estipular este limite de gastos. Além disso, as possíveis mudanças correm o risco de não se tornarem válidas para as eleições de 2006. A Constituição Federal determina um prazo de um ano de antecedência para que alterações na legislação que rege o processo eleitoral entrem em vigência. Portanto, qualquer modificação para as eleições deste ano teria como prazo limite 30 de setembro de 2005. Cabe ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ao Supremo julgarem a questão. Propostas descartadas Propostas com maior abrangência até tramitaram pelo Congresso, mas não saíram do papel. Uma das mais significativas foi a do então ministro do STF Carlos Mário Velloso, que nos anos de 1995 e 2005 organizou uma comissão de juristas de todo Brasil, formulou um anteprojeto e entregou ao parlamento. O texto tocava em pontos importantes e polêmicos da legislação, mas sequer foi votado. Colaborou: Tiago Nagib
Larissa Carneiro
Kelsen do Prado Carneiro, Presidente do TRE/MG, diz que a fidelidade partidária é imprescindível para coibir distorções
Partidos estão financeiramente irregulares O desembargador Kelsen do Prado Carneiro, Presidente do TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais), acredita que a reforma política passa não só por uma mudança nas regras das eleições, mas também pela organização e formação dos partidos políticos. Para ele a fidelidade partidária é imprescindível para coibir distorções. Outro aspecto desta-
cado pelo desembargador é o número excessivo de partidos: “Muitos partidos não têm relevância e servem apenas para, em eleições, ter a sua legenda como se fosse de aluguel, esperando as benesses daqueles que vão administrar os Estados ou a União”, analisou. A situação financeira de muitos dos partidos em Minas Gerais está irregular. O TRE-
MG divulgou que apenas três (PFL, PRP e PSDC) dos 27 partidos existentes no Estado tiveram suas contas de 2004 devidamente aprovadas. Outros cinco passaram pelo processo, mas com ressalvas. As infrações mais comuns foram a de movimentação de recursos do fundo partidário sem passar por uma conta bancária e gasto acima do limite legal com a
folha de pessoal. Os partidos reprovados podem ter o repasse das verbas do fundo partidário suspenso. Ao serem notificados, os partidos têm um prazo limite para corrigirem suas irregularidades e apresentarem a tempo as suas justificativas. Mas podem também recorrer das decisões junto ao TRE ou TSE (Tribunal Superior Eleitoral). João Hudson
Deputado recordista Financiamento público em troca de partidos é assunto polêmico É possível um deputado federal passar por sete partidos em um único mandato? A atuação parlamentar do deputado Zequinha Marinho (PSCPA) responde a pergunta. Ele é um recordista na Câmara, não em número de projetos apresentados, mas nas trocas de partidos, sete ao todo. Incentivado por governos que precisam obter uma maioria parlamentar a qualquer custo, Marinho justifica suas andanças: “Acho que não tem nada de mais”, argumenta. Em 1994, o empresário Sérgio Naya (PPS-MG) foi um dos deputados mais votados em Minas Gerais, com votos em quase todos os municípios. Ele não chegou a visitar quase nenhuma das cidades que foram invadidas por recursos financeiros disponibilizados aos chefes políticos locais. O deputado federal não terminou o seu mandato, cassado por falta de decoro parlamentar. Naya foi eleito através do que se configura abuso de po-
der econômico, suportado por uma campanha eleitoral cara. Muitos dos eleitores, nunca haviam visto ou ouvido as propostas de Naya. Foram atraídos pela distribuição de camisetas, canetas, “santinhos” e pela sensação de sucesso que o dinheiro traz. O candidato conhecia os eleitores que lhe colocaram no Congresso. Os exemplos nos lembram da necessidade de uma reforma política no sistema eleitoral brasileiro. Limite de gastos, voto distrital misto e a fidelidade partidária podem não sanar todas as contradições do sistema democrático nacional, mas podem evitar que distorções como essa sejam recorrentes. O voto distrital misto assegura que ao menos um deputado seja do lugar que ele representa e que ele participe do jogo democrático em igualdade de condições entre os demais. Garante a não ploriferação de partidos de aluguel que, sem filosofia, se vendem por qualquer 20 mil reais.
Um dos assuntos polêmicos da atual reforma política é o financiamento público de campanha. A lei eleitoral brasileira vigente permite que empresas privadas, pessoas físicas e jurídicas, façam doações para as campanhas políticas de todos os níveis, mas o dinheiro público jamais pode entrar como parte dos recursos financeiros das campanhas. A nova proposta visa apenas o financiamento público, com objetivo de tornar mais justa a disputa entre candidatos tenham mais ou menos recursos para investir em suas campanhas, como afirma o relator da reforma o deputado Ronaldo Caiado (PFLGO). Mas a realidade é que isto não assegura que certos partidos não sejam favorecidos, afirma o Presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral da OAB de São Paulo Everson Tobaruela. Ele ressalta ainda que financiamento público no Bra-
sil já existe, com os horários eleitorais no rádio e na televisão. “É o custo mais alto de uma campanha, e isto quem paga é o governo” ressalta. O governo deixaria de investir em áreas sociais para financiar campanhas onde nada se pode garantir que sejam justas. "Os possíveis valores poderiam ser muito bem aplicados nas áreas sociais, nossa situação já é dramática". destaca o desembargador Kelsen. Ainda de acodo com o desembargador, a estrutura da Justiça Eleitoral não é suficiente para coibir futuras distorções e que irregularidades podem surgir. "Havendo recurso público, nada vai impedir de determinados políticos obterem, através de vias escusas, recurso também do financiamento privado". De fato, a fiscalização e a aplicação das leis são falhas. Os escândalos e a crise do caixa dois comprovam que infelizmente existem muitos meios de se burlar as leis.
O QUE É?
Legislação Eleitoral
Entenda o significado de alguns termos ligados a legislação partidária nas Eleições: Voto Distrital Misto O primeiro de um determinado distrito eleitoral, do qual faz parte e o segundo pelo sistema de proporcionalidade. Financiamento Público de Campanha O dinheiro público seria a única fonte de financiamento das campanhas dos candidatos, sendo o valor estipulado pela representatividade do partido. Verticalização As alianças estaduais têm de seguir a orientação das federais. Fidelidade Partidária Obrigatoriedade de manutenção dos eleitos no mesmo partido que os elegeu durante o mandato.
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Regina Mota concede entrevista sobre TV digital na TV Comunitária de Belo Horizonte: “Quando pensamos em TV digital, não podemos mais pensar na televisão como conhecemos. É um novo serviço”
“Modelo não precisa ser definido agora” O PONTO CONTINUA O DEBATE SOBRE TV DIGITAL E OUVE A PESQUISADORA REGINA MOTA. ELA AFIRMA SER FALSA A NOÇÃO DE QUE É PRECISO ESCOLHER O PADRÃO DIGITAL COM RAPIDEZ E QUE A NOVA TECNOLOGIA É UMA OPORTUNIDADE ÚNICA PARA DEMOCRATIZAR OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL; E ALERTA: “ESTAMOS COLOCANDO O DEDO NA FERIDA” DANIEL GOMES 6º PERÍODO “A escolha do modelo é política, e não técnica”. A afirmação é da professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG Regina Mota. A professora, que coordenou a pesquisa para o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) sobre inclusão social na plataforma digital do Sistema Brasileiro de Televisão Digital, é uma das maiores autoridades no assunto no país e concedeu entrevista a O Ponto. Regina Mota deixa claro que a pressa na escolha do modelo de TV digital (TVD) é inimiga da perfeição. “Não há necessidade de o Brasil definir o modelo agora”, afirma. Segundo ela, existem relacionamentos entre os radiodifusores (emissoras de rádio e televisão) e os japoneses que justificam a preferência pelo padrão japonês. A pesquisadora vai além e ressalta que um ministro nunca se colocou publicamente para defender uma teconologia como o atual ministro das Comunicações, Hélio Costa. Para ela, Costa está claramente apoiando os radiodifusores. Em março, as principais emissoras de TV do país publicaram um anúncio em vários jornais defendendo o modelo japonês e alegando que a escolha tem que ser feita com rapidez. “Está tudo dito. Não há nada por trás”. explica Mota. Na entrevista, a especialista afirma que, antes de qualquer decisão, é preciso haver um estudo aprofundado com participação de profissionais de diversas áreas para que possa ser construído um marco regulatório conceitual. “Mas que esse marco
não seja uma lei qualquer apenas viabilizando o negócio”, salienta. Ao apontar as possibilidades da TVD na vida do cidadão brasileiro, Regina Mota alerta: “Quando pensamos em TVD, não pensamos mais na televisão como a gente conhece. É um novo serviço”, explica. De acordo com a professora, não é uma questão de melhoria na qualidade de imagem e som, e sim de inclusão social de uma grande parcela da população que não têm acesso à saúde, lazer e educação. “É uma questão de ampliar e universalizar esse acesso”, diz. Escolha difícil Após se comprometer a anunciar o modelo que permitirá com que o Brasil ingresse na era da TVD por duas vezes, o governo voltou atrás. A Rede Globo anunciou testes no Rio de Janeiro e em São Paulo com transmissão digital já na Copa do Mundo deste ano. Conforme noticiado em O Ponto de dezembro de 2005, a data da primeira transmissão digital comercial continua sendo 7 de setembro, conforme informação da assessoria do Ministério das Comunicações. Entretanto, esta data pode mudar, se houver atraso na escolha do padrão. O Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (www.fndc.org.br) vem prestando um grande serviço à população e, segundo Mota, as pessoas podem ainda não entender o impacto dessa tecnologia, mas o debate foi ampliado significativamente. Sua entrevista vai ajudar o leitor a entender que o modelo é importante, mas a real dimensão desse debate vai muito além do que vem sendo divulgado no noticiário tradicional.
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TV DIGITAL: UM JOGO DE CARTAS MARCADAS? Mesmo que a TV digital (TVD) não seja um jogo de cartas marcadas, o caráter desse jogo é político. Por mais que se justifique tecnicamente ou economicamente a escolha, ela tem conseqüências imediatas na política. Se o governo fechar um acordo com os radiodifusores (emissoras de rádio e televisão) para atender a uma demanda de interesse que eles têm em um determinado padrão, está se selando um acordo, mesmo que não seja explícito à sociedade. E esse acordo, não sabemos até que ponto pode ser comprometedor para as escolhas futuras. MARCO REGULATÓRIO CONCEITUAL Bato o pé nessa tecla há três anos, pois isso nem estava claro para o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) quando eles começaram a trabalhar essa questão. Eu levantei os problemas do marco regulatório muito cedo e tenho certeza que, aos radiodifusores, não interessa um novo marco regulatório. A situação da radiodifusão hoje no Brasil é anônima. Significa que não há verdadeiramente uma legislação. Tem uns traços de legislação, um plano de emendas aqui e ali e, portanto, nada disso é válido do ponto de vista do cenário tecnológico, econômico e geo-político. É fundamental estabelecer necessidade prévia a qualquer tipo de escolha de um marco regulatório. Mas que o marco não seja meramente uma lei qualquer "viabilizando" o negócio, e sim um marco conceitual. Ele tem de ser erigido dentro de uma questão mais ampla. Podemos montar um consórcio para isso, tem gente trabalhando com isso em Brasília, na UFPA, aqui, na USP... Poderíamos montar um grupo de especialistas do direito, da comunicação, da educação, da área tecnológica e desenvolver isso. Isso sem ficar restrito à visão meramente de quem ganha, de quem vai ser esse marco regulatório.
publicaram um anúncio em todos os jornais brasileiros defendendo a escolha. Então não há nada por trás. Tudo está dito. Falei ao ministro: "não queremos discutir o padrão". A escolha do padrão compromete o modelo. Se facilitarmos para os japoneses, eles vêm com tudo e depois não há santo que reverta essa situação. O ministro defende claramente os japoneses. "Ah, os japoneses são bons porque vão trazer uma fábrica de componentes para o Brasil". Aí o pessoal da área no Brasil chia e diz que tem condições sim de fazer isso aqui. Tive um "arranca-rabo" com o ministro na UFMG muito desagradável. Ele inclusive me mandou calar a boca. Ficou um mal-estar entre o reitor (professor Ronaldo Tadêu Pena) e o protocolo dele e eles permitiram que eu falasse por três minutos contados no relógio pelo assessor. Eu disse a ele: "o senhor pode até estar correto nas suas escolhas, mas nada do que o senhor enunciou que as emissoras poderão fazer é legalmente permitido e o senhor sabe disso. Eu quero saber se o senhor vai dar a essa concessão de seis megahertz um novo caminho, uma nova canalização reservada à digitalização". Que tipo de concessão é essa? Num cenário de alta definição os radiodifusores podem utilizar seis megahertz e, caso eles utilizem o mpeg4 (sistema de compactação de informação digital), que é possível compatibilizar com a TVD japonesa, eles podem utilizar só quatro megahertz para alta definição e têm uma faixa livre de dois megahertz, onde podem fazer multiprogramação. Desses, um megahertz pode ser utilizado para mais um programa e o restante para dados, o que é totalmente proibido por lei. Hoje, a lei que rege a radiodifusão diz claramente que a concessão se refere a um canal de imagem e som. Isso significa que eles não podem veicular mais absolutamente nada a não ser imagem e som.
“Não há necessidade de o Brasil definir o modelo agora. As próprias emissoras deveriam estar bancando as pesquisas junto com o Estado”
SISTEMA BRASILEIRO DE TELEVISÃO DIGITAL (SBTVD) Defendo o SBTVD sem desconsiderar toda a necessidade de que esse sistema seja composto com elementos mais flexíveis para incorporar desenvolvimentos comuns com outros sistemas e para futuras trocas e exportações. Na verdade, a verba direcionada ao desenvolvimento do SBTVD não foi cortada, e sim deixou de ser repassada. Eram R$65 milhões e foram distribuídos R$54 milhões. As pesquisas foram feitas dentro dos contratos que previstos. Uma coisa mágica, genial, absolutamente fantástica. Do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico, existia um prazo. Foi um trabalho brilhante que tem conseqüências internacionais. Quer dizer, há uma falta de visão. É uma pobreza... o país não tem um problema de pobreza material, e sim de pobreza espiritual. É pobre de espírito. O Estado precisa definir o que quer, onde entra, onde não entra. Em nenhum momento você vai me ouvir falar que sou contra a atuação da iniciativa privada nesse campo. Aliás, eu sou a favor da competição, mas sou a favor de diversificar essa competição. Da entrada de mais capitalistas, mais exploradores... ENTRADA DAS TELES NO JOGO Eu não defendo a entrada das teles, pois não tenho a clareza do impacto da entrada delas. Não tenho uma opinião formada. Uma das coisas que temos que ter se queremos inclusão social por meio da TVD é garantir que o canal de retorno, que permite a interatividade com o usuário, seja gratuito. POSSIBILIDADES DA TVD NO BRASIL Imagina só, você pode integrar um país dentro dessa perspectiva da potencialidade da TVD com uma tecnologia que permite um salto qualitativo na vida de todas as pessoas. Não digo isso só materialmente, não. Dos que estão distantes de informação qualificada. Dar a chance às pessoas de produzir suas demandas mais direcionadas. Quando pensamos em TVD, não pensamos mais a televisão como a gente conhece. Não tem nada a ver. É um serviço novo com inúmeras possibilidades. É um novo serviço utilizando o espectro eletromagnético que a gente sabe de várias possibilidades hoje e não sabe o tanto que ainda pode existir. Na medida em que você compacta a informação, você só vai abrir espaço... e os radiodifusores gostam de falar que "não tem tanta gente assim que tem condição de colocar uma programação no ar"... mas eles só pensam nisso! Pode-se pensar em um sem-número de possibilidades. Você pode colocar uma área nesse espectro direcionada a treinamentos regionais, uma faixa para comunicação de dados de todo tipo, bibliotecas, etc. Uma série de usos que não estão ainda bem pensados. O uso na saúde é enorme! A possibilidade de incrementar uma telemedicina de altíssimo nível só pra melhorar a saúde das pessoas no país inteiro. É uma questão de ampliar o acesso das pessoas e universalizar esse acesso. HÉLIO COSTA Um ministro nunca, jamais, se colocou publicamente para defender uma tecnologia da forma como esse ministro está se colocando. Isso obriga uma certa explicitação do jogo que, não acho nem que está por trás, mas pela frente. Os radiodifusores
MODELO JAPONÊS A gente pensa esse negócio hoje pra daqui a 100 anos. A escolha que fizermos hoje não pode servir pra hoje. A escolha tem que ser previdente. Tem que pensar como é que essa tecnologia vai impactar as futuras gerações. Os netos dos caboclos da Amazônia. Os bisnetos dos indígenas. A grande vantagem do suposto atraso na escolha do sistema para o Brasil é que todos esses modelos, americano, europeu e japonês, estão revendo seus modelos. Eles foram pensados para uma determinada realidade, alguns escolheram alta definição, outros escolheram liberar o espectro. Como a tecnologia desenvolve rápido demais, a obsolescência das escolhas
também seria grande. Se tivéssemos feito a escolha no final do governo FHC, como seria o caso, estaríamos todos pagando royalties hoje. Não há necessidade de o Brasil definir o modelo agora. O Japão fez algum tipo de acordo com as emissoras daqui porque já é um velho parceiro delas. Venderam o sistema PAL (-M, sistema de codificação de imagem dos televisores brasileiros), a Sony desenvolveu todos os equipamentos especialmente para o Brasil, então existe uma série de relacionamentos que a gente não sabe até onde vão. Até onde tem dívidas contratadas, até onde tem ofertas mirabolantes, mas que dizem respeito apenas ao sistema privado. Então isso é interesse dessas emissoras, porque é uma coisa absurda o "xiitismo" delas. Só pode ter alguma coisa que não está sendo dita. Não é mais barato para o Brasil desenvolver o próprio sistema? Não é melhor, mais autônomo, mais determinado, mais independente? As próprias emissoras deveriam estar bancando as pesquisas junto com o Estado. Quando o Estado repassou a verba de pesquisa, me perguntei se iríamos gastar R$65 milhões para bancar um "sistemazinho" para as emissoras privadas? Que coisa absurda! A única justificativa para gastarmos um dinheiro desses é pra fazer um sistema que seja para o país inteiro. Que seja para a inclusão social, sobretudo. PROBLEMA SISTÊMICO
diplomas, deputados, vereadores, prefeitos, ministros, a gente ficaria horrorizado. Esse número subiria muito. CONGRESSO APÁTICO Considero a entrada do Congresso Nacional nessa questão muito tardia. Temos um grupo grande do qual participo, que tem engenheiros, tecnólogos, pessoas da área de comunicação, da área academia, os mais variados, trabalhando junto, discutindo, tirando dúvidas e etc. Temos feito constantemente uma pressão em cima do Congresso e ele custou, resistiu. Ninguém queria assumir. Para sairmos no apagar das luzes de 2005 com um "projetinho" lá, só pra colocar a existência desse projeto na Câmara foi uma luta. COBERTURA DA IMPRENSA SOBRE TVD A imprensa tem feito um noticiário mais limitado, padrão press release do assunto. Se a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) envia uma informação, vão lá e publicam. Mas quem vê quais questões estão conectadas? Pelo que a imprensa se interessa? Pelo fato! "O ministro falou. A Abert falou. Roberto Franco (diretor de tecnologia do SBT e presidente da Sociedade de Engenharia de Televisão – SET) falou". Saiu o fato, eles noticiam. Saiu um relatório, eles noticiam. Mas não têm o interesse de informar profundamente. Teria sido muito bom se a imprensa tivesse acompanhado de 2003 até agora o que vem ocorrendo com uma constância. Isso não diz respeito à radiodifusão? Como é que a radiodifusão está cobrindo o assunto? A cobertura inexiste. Eventualmente, só se o ministro (das Comunicações, Hélio Costa) falar, ele aparece. Mais nada. Eu nunca dei um depoimento, o Takashi (Tome, engenheiro eletricista pela Unicamp, coordenou a elaboração do Relatório Integrador dos Aspectos Técnicos e Mercadológicos da Televisão Digital pela Anatel em 2001) nunca deu um depoimento, o (Marcelo Krönich) Zuffo (professor do LSI – Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP) nunca deu um depoimento, ninguém no Brasil que tem competência pra falar desse assunto jamais falou sobre isso. DEBATE PÚBLICO Estamos colocando o dedo na ferida. É um movimento histórico. Estamos vivendo um momento de privilégio porque, pela primeira vez, há um debate que não fica apenas circunscrito a outro interesse. E aí vai uma crítica não aos colegas, mas à postura assumida muitas vezes pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), pois ela considera que se são preservados os interesses relacionados à imprensa, estar-se-ia preservando os interesses da sociedade. Isso não é suficientemente absoluto. Durante muito tempo, esse debate esteve polarizado entre sindicalistas, digamos assim, e donos de emissoras e o governo ora representando um lado, ora representando o outro. Hoje você tem um cenário muito diferenciado com técnicos, a academia, entidades outras da sociedade participando do debate. Esse debate da área tecnológica esta muito acirrado já que a TVD é uma tecnologia híbrida e convergente porque aciona outras bases de interesse que vão muito além só meramente da radiodifusão. Hoje você tem muitos outros players (produtores de conteúdo) que estão envolvidos e interessados. Mesmo que as pessoas ainda não entendam o impacto que essa tecnologia vai ter na vida delas, o debate já foi ampliado significativamente. BLOCO BRASIL-RÚSSIA-ÍNDIA-CHINA (BRIC) Adorei (a proposta que a China fez ao Brasil de construir um protocolo de TVD). É o maior mercado do mundo. Existia logo em 2003, quando entrei em contato com o pessoal, a possibilidade de se tentar um acordo com a China e esse negócio não foi adiante. Eu acho esse BRIC maravilhoso. É a oportunidade de pensar uma questão emergente soberana e auto-determinável para a TVD. A população da Rússia, do Brasil e da China... pegar a capacidade de trabalho dos chineses, aquela cultura milenar, a disciplina, a minúcia, uma tradição maravilhosa que se mantém. Pegar a capacidade de abstração dos indianos, que são os melhores e maiores informatas do mundo. E o Brasil é capaz de, com pouco, fazer muito.
“Um ministro nunca, jamais, se colocou publicamente para defender uma tecnologia da forma como esse ministro está se colocando”
Com a discussão da TVD, está se delineando no país a dimensão do poder que os radiodifusores têm, que já não é tão grande em termos econômicos. Comparativamente ao poder das teles, eles são meio "pobres". Mas o poder de comunicação, que é o poder efetivo, é grande, e eles têm um lobby forte junto ao poder Executivo e ao poder Legislativo. Esse é o grande nó que temos de desfazer, essa relação que se constitui tão bem harmonizada no país. O que estamos propondo é o mesmo que pedir a todos os poderes que abrissem mão de seus poderes. Isso se constitui sobretudo porque o Executivo concentra poder decisório demais na mão dele com respeito à radiodifusão. Já o Legislativo concentra uma conseqüência desse primeiro, que é interesse mesmo, pessoal. Nós temos hoje no Congresso, 5% de deputados com interesse direto em radiodifusão, mas não é um número preciso. Se fizéssemos um estudo sério que se provasse com certidões de cartório e os mandatos eletivos a coincidência dos donos de emissores e os mandatários de
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A SOCIEDADE ESTÁ PREPARADA PARA A TVD?
A gente não pode nem querer e nem imaginar algo que não sabemos o que é. O cidadão vai querer as coisas na medida em que ele puder dominar o assunto simbolicamente para que isso entre no imaginário dele. Essa é a necessidade de tornarmos público este debate. Se você perguntar para um sujeito no ponto de ônibus o que ele quer em relação ao transporte público, acha que ele tem condição de responder? Claro que sim! É a mesma coisa. Para que essa política dê certo, cada brasileiro precisa saber o que quer com a TVD. Acho engraçado essas pesquisas que as pessoas fazem pra embasar os relatórios do CPqD. Eu li várias. "As cinco questões que as pessoas querem porque querem". Como assim? Aí está lá portabilidade, mobilidade... Espera aí, como as pessoas podem saber o que elas querem com esse negócio se elas não fazem a menor idéia do que seja? Eu garanto que hoje não tem gente suficiente nesse país pra fazer escolha nenhuma. Nem de alta definição porque não sabe o que é isso.
06 - Economia - Daniela de C.
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o ponto
E C O N O M I A
Belo Horizonte – Abril/2006
Desequilíbrio marca exportações mineiras APESAR DO RECORDE HISTÓRICO, MINAS EXPORTA MAIS MATÉRIA-PRIMA DO QUE TECNOLOGIA Ana Paula Machado
Rafael Matos
BALANÇA
O que Minas Gerais mais compra e vende
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4 36
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Eletroeletrônicos
Produtos Químicos
Aparelhos Mecânicos
Combustíveis
Material de Transporte
Aços Especiais
Aço-bruto
Ferro-gusa
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5.
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0
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23
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72
8 23 4. 65
8 23 4. 65
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0 49 92
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Exportaçoes em US$ Importações em US$
Café em grão
Mel e derivados O gerente comercial do Mel Santa Bárbara, Samir Felipe, aponta o maior obstáculo encontrado pela empresa: as embalagens, que são muito caras. De acordo com o gerente, em regiões mais frias é necessária uma embalagem própria para que o mel não cristalize. Além disso, deve-se investir em pesquisas para conhecer as peculiaridades de cada região. “A empresa é uma das poucas que vendem o produto na própria embalagem. Por causa disso, há dificuldades para os compradores fecharem negócio, já que estão acostumados a comprar
Para o presidente da Conap, Paulo Rettore, o câmbio desfavorável também conspira contra as exportações
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Minas Gerais fechou o mês de fevereiro com recorde histórico das exportações, acumulando receita de US$1 bilhão. As vendas externas mineiras alcançaram quase US$14 bilhões nos últimos doze meses, o que deixou o estado em segundo lugar no ranking brasileiro, atrás apenas de São Paulo. Dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais revelam que, em 2006, a receita das empresas mineiras ultrapassarão os US$ 15 bilhões, com crescimento das vendas de produtos tradicionais, como o minério de ferro, café em grão, ferro-gusa e aço bruto. A comemoração do governo estadual, no entanto, esconde o desequilíbrio e o desfavorecimento do mercado mineiro quanto à tecnologia. Uma análise do cenário econômico de Minas mostra que pouco espaço se tem dado à exportação de produtos com maior valor agregado, como materiais eletrônicos . Por exemplo, ao invés de estimular a venda de jóias, vende-se a pedra bruta. No lugar de vender mel em embalagens trabalhadas, para valorizar o produto no exterior, vende-se em galões. E o que ocorre, comumente, é que o país comprador trabalha as embalagens, de maneira a lucrar mais. Portanto, Minas exporta a matéria-prima e importa o produto manufaturado.
em galões”, diz. Segundo Samir, uma solução para o aumento da competitividade no mercado externo seria o governo estadual apoiar e incentivar as empresas em eventos e feiras internacionais, o que permitiria uma maior visibilidade dos produtos para exportação. A Cooperativa Nacional de Apicultura Ltda (Conap), fundada em 1991, com sede em Nova Lima, começou a exportar própolis, mel in natura e outros produtos agregados, como geléia real em 1996. De acordo com o presidente Paulo Raimundo Rettore, o exportador, geralmente, quer comprar e colocar sua própria embalagem. “Infelizmente não contamos com muito apoio do governo, mas estamos tendo o incentivo do Sebrae, que promove visitas internacionais para conhecer a fábrica”. Segundo ele, de 2002 a 2005, Minas ficou com o terceiro lugar nacional na exportação de mel. No total do território nacional, atualmente, são vendidas cerca de 45 mil toneladas do produto, o que é considerado pouco por Rettore, já que, no mesmo período, a China vendeu 700 mil toneladas e a Argentina 200 mil. “Temos condições de exportar mais. Além disso, o câmbio está desfavorável, o que também dificulta as exportações”, conclui Rettore. De acordo com o professor de administração da Fumec, Alexandre Brito, todas as operações de comércio exterior implicam em conversão de moedas. Portanto, o nível do câmbio influencia a lucratividade da exportação e importação. O presidente da Federação Mineira de Apicultura (Femap), Irone Martins Sampaio, revela que Minas é o maior exportador de própolis do país, com foco no Japão, Coréia e China. Segundo Sampaio, o setor está passando por dificuldades, mas o mercado existe. “Para exportar, não basta produzir. Temos que organizar o setor, buscar a união, participar de feiras, e, acima de tudo, conhecer o mercado que se pretende inserir”, conclui.
Minério de Ferro
CAMILA GUIMARÃES LÍGIA RÍSPOLI 6º PERÍODO
FONTE: Fiemg
Rafael Matos
EXPORTAÇÕES
Setor plástico disponibiliza pequeno valor no mercado
Os degraus da burocracia
O que as empresas mineiras têm que enfrentar na hora de exportar
11 Operação de câmbio 10 Despacho aduaneiro 9 Embarque 8 Pagamento 7 Via de embarque
5 Aspectos tributários 4 Credenciais como exportador 3 Contato com o importador 2 Viabilidade da exportação 1 Identificar mercados de destino
FONTE: www.exportaminas.com.br
6 Canal de distribuição
O presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico de Minas Gerais (Simplast), Marcelo Pimenta Pereira, levanta outros problemas enfrentados pelos empresários, no que se refere à exportação. “O setor plástico não tem muitas vantagens competitivas, porque é um produto que não possui valor agregado”.Um dos motivos apontados pelo presidente é o fato de as máquinas, que fazem embalagens de plástico, serem semelhantes no mundo todo. Então, o que conta é o valor do frete. E o frete brasileiro é pouco atraente, reflexo das estradas e meios de transporte precários. “Sem dúvida, as rodovias brasileiras são mais um fator que encarece nosso frete”. Além disso, Pereira apresenta o roubo de carga como outro problema grave. “Uma petroquímica que fornecia grãos para plástico começou a sofrer concorrência dos próprios produtos roubados, o que abaixava os preços.
Eles fizeram então um esquema de logística, de muita proteção às cargas, e isso foi agregado ao preço do produto vendido”, explica o presidente. No Brasil, existem apenas três petroquímicas, uma no Rio Grande do Sul e outra na Bahia, que correspondem a 80% do consumo e mais uma em São Paulo. Quando um caminhão é roubado, a carga não é reposta. Logo, o empresário aumenta o preço do seu produto, como garantia de um eventual prejuízo. Outras questões são colocadas por Marcelo Pereira, tais como o câmbio e a brutal concorrência da China. “Se o Brasil já possui essa dificuldade com o frete, tornase mais difícil concorrer com a China. Lá existe, entre outros fatores, o aspecto sócio-cultural. O operário fica doze horas montando peças, sem olhar para o lado, e a mão de obra é muito barata, o que reflete no preço final da mercadoria”, esclarece o presidente.
Marcelo acrescenta que há exceções à regra, como a fábrica de camisetas do José Alencar, vice-presidente da República, que é moderna a ponto de ter mais competitividade do que os produtos chineses. Um dos poucos produtos plásticos que o Brasil consegue exportar são as sacolas de supermercados, principalmente para os Estados Unidos e Mercosul, já que na Europa sua fabricação é proibida por questões ambientais. A tampa também é um produto que o país tem tecnologia e competitividade para exportar, segundo Pereira. Já vender frasco de detergente para fora é mais difícil, pois o setor não disponibiliza de infra estrutura suficiente para compactação da carga. “Existem, apesar das dificuldades, esforços de nossa área para fomentar a exportação. O Expoplastique é um projeto que visa facilitar os empresários a exportarem mais”, finaliza Pereira.
A busca de nova estratégia como via de sucesso O desenvolvimento tecnológico é fundamental para a inserção do setor produtivo no mercado globalizado. Para a analista Cynthia Santana, temse que buscar estratégias para fomentar a competitividade das empresas. Daí o apoio das incubadoras de empresas, como instrumento de geração de novos empreendimentos, voltado tanto para os setores tradicionais da economia como para os segmentos de alta tecnologia. “As incubadoras constituem-se em um espaço físico que oferece infra-estrutura básica, apoio técnico e administrativo, assistência jurídica e de marketing às micro e pequenas empresas recém constituídas”, explica Santana. E resultam, geralmente, de parcerias de várias instituições, que cedem recursos e competência técnica aos novos empreendedores. A analista esclarece que o objetivo destas empresas é a geração de produtos de alto valor agregado, com enfoque em tecnologias que evoluam rápida e permanentemente. A economista Fernanda Álvares revela que a mortalidade de um empreendimento novo situa-se em torno de 80% no início, mas o apoio de uma incubadora diminui esses percentuais. Cynthia Santana também informa que, atualmente, já existem cerca de 400 empresas incubadas no Estado, que geram mais de dois mil empregos e faturaram, em 2005, cerca de R$22 milhões. O Programa de Incentivo às Incubadoras de Base Tecnológica de Minas Gerais (Prointec) foi criado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, BDMG, em 1991, e visa à geração de empresas de alta tecnologia, empregos de elevada qualificação e estímulo às parcerias entre o setor empresarial, universidades e centros de pesquisa.
07 - Cidade - Daniel e Camila
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o ponto
C I D A D E
Belo Horizonte – Abril/2006
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Infância trocada por
TROCADOS
Victor Schwanner
Victor Schwanner
Crianças em risco têm alternativa
TRABALHO INFANTIL ROUBA A INFÂNCIA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM BH ALINE SANTOS DANIELA VENÂNCIO ERIVELTON LOPES RENATA VAZ 7º PERÍODO Com rodinhos nas mãos, um grupo de cinco garotos limpa pára-brisas na Praça Raul Soares, região central de Belo Horizonte. Todos são moradores da Favela da Ressaca. Em vez de estarem estudando ou brincando, encontram no trabalho infantil uma forma de escapar da criminalidade e ajudar a família. W.S.G. tem 15 anos e é o mais velho da turma. O mais novo tem apenas cinco anos de idade. "O pessoal da justiça fica falando que a gente não pode trabalhar. E a gente fala assim, quem não tem pai, os filhos têm que trabalhar" - reclama F.A.S.F., 14, outro integrante da turma. A falta de condições dos pais para oferecer o mínimo necessário para o filho os obriga a mandar a criança para trabalhar nas ruas como forma de complementar a renda familiar. Sem opção, a criança vai vender balas, fazer malabarismo, lavar pára-brisas dos carros, pedir dinheiro nos sinais e outros tipos de trabalho. “O grande problema do trabalho infantil é que perde a criança, a sociedade e o país, que deixa de contar com a criatividade e com a educação de uma geração", diz a técnica da Secretaria Executiva do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Cira Maria Barreto. As crianças que trabalham nas ruas têm seus direitos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente violados, e é dever do Conselho Tutelar assegurá-los. Segundo a presidente do Conselho Tutelar da região Centro-Sul, Adélia Al-
Muros coloridos e cara de jardim de infância. Assim é a Casa da Acolhida Marista de Belo Horizonte. A casa, que acolhe cerca de 90 crianças e adolescentes em risco pessoal ou social, de oito a 14 anos de idade, é uma entidade sem fins lucrativos e atende principalente à população vinda do aglomerado da Barragem Santa Lúcia. O objetivo do projeto é evitar que as crianças que já estiveram nas ruas sendo exploradas criem vínculos com drogas, criminalidade, violência e vida nas ruas. Para isso, as crianças e adolescentes permanecem na casa durante metade do dia e na outra metade freqüentam regularmente a escola, o que é pré-requisito para estar lá. Na casa, as crianças recebem acompanhamento sócio-familiar, acompanhamento psicológico, oficinas culturais, orientação sexual, pedagógica e atendimento médico e odontológico, entre outros.
meida, o Conselho não trabalha sozinho. Ele é acompanhado por segmentos como Educação, Saúde, Ministério Público e o juizado com os programas de geração de renda. "Precisamos que essa rede esteja bem equipada para que possamos ter a resposta que esperamos. A rede existe, mas precisa ser aprimorada", ressalva. Outro fator que mantém o menor na rua é que muitos deles ganham mais que os pais. “Como convencer esse pai a tirar seu filho da rua? Se a nossa sociedade não se convencer que ela tem um papel fundamental para romper com isso, vai ser muito difícil", lembra Adélia. Preconceito "Eles falam não com a gente e nem se importam com o fato de estarmos trabalhando. Às vezes acham que a gente está querendo assaltar, mas a gente não quer isso não", desabafa o adolescente W.S.G., 15, vítima de preconceito. A juíza de direito da Vara Infracional da Infância e Juventude de Belo Horizonte, Valéria Rodrigues, relata que, a cada 15 casos de adolescentes infratores, apenas três têm o histórico de trabalho nas ruas. O secretário-adjunto de Defesa Social de Minas Gerais, Luís Flávio Sapori, diz que o problema da criminalidade em BH não são os adolescentes que trabalham nas ruas."Hoje, o maior problema é o adulto bem vestido que assalta e furta", declara Sapori. Outro problema são os adultos que "alugam" crianças para trabalhar nas ruas por eles. "Elas são vítimas do trabalho infanto-juvenil, da exclusão e, muitas vezes, vítimas das famílias que as exploram. Muitos são usados por pessoas de máfé para conseguir dinheiro", diz Sapori.
Segundo a psicóloga, Lena Sangawa, que coordena o projeto há nove anos, "na casa se tem direitos, deveres e regras a serem cumpridas e, às vezes quando necessário, até castigos". Lena afirma também que o grande desafio é trazer os pais para o convívio da instituição. "Infelizmente, 90% deles têm envolvimento com o tráfico de drogras", afirma a psicóloga. As mães também participam dos programas oferecidos pela casa como cursos, eventos e acompanhamento psicológico, pois, segundo a coordenadora, também deve haver um trabalho em conjunto entre a família e a criança em risco social. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente é um dos órgãos que fiscaliza ONGs como a Casa da Acolhida com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes. O Conselho também é responsável por formular políticas para este público.
Escola não é prioridade
Criança no sinal: esmola e preconceito em mais um dia difícil
Segundo uma pesquisa realizada pela Prefeitura de Belo Horizonte em 2004 como parte do projeto "Programa de Erradicação do Trabalho Infantil", que teve início em 2000, foram identificadas 1.099 crianças e adolescentes em situação de trabalho nas ruas centrais e nos principais corredores da cidade que acessam todas as regiões. Dessas, 793 (72,2%) residem em Belo Horizonte e as demais na Região Metropolitana. Esses resultados referem-se exclusivamente ao público do trabalho infanto-juvenil residentes em Belo Horizonte. Nessa pesquisa não foram incluídas aos menores com trajetória de vida nas ruas, que são aquelas que romperam o vín-
culo familiar, vivem exclusivamente nas ruas, andam em grupos e podem trabalhar ou não. Já as crianças que trabalham nas ruas e que foram contempladas na pesquisa têm residência na maioria das vezes em aglomerados, passam a maior parte do dia sem referência familiar, e estão em situação de desamparo. As crianças e os adolescentes que trabalham nas ruas enfrentam o cansaço nas salas de aula, têm um baixo rendimento e deixem de freqüentar a escola. Ainda segundo a pesquisa, a maior tendência à evasão escolar é entre os jovens de 15 a 17 anos, ao passo que crianças entre 7 e 12 anos de idade têm assiduidade maior.
08 e 09 - Especial - Ana Paula
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LUCIANA RIBEIRO 6º PERÍODO
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aredes descascadas, infiltrações, vazamentos formando poças d’água pelo chão dos pavilhões, má iluminação, móveis danificados e uma biblioteca desativada, ainda que num local onde funciona uma escola, reforçam o abandono dapenitenciária José Maria Alkmin. Foi o que presenciamos após cruzarmos a segunda portaria que dá acesso à parte administrativa, cozinha, enfermaria e, após passar pelas gaiolas, aos quatro pavilhões que preservam seus nomes originais: Capela, Cinema, Lavoura e Máxima. Nas celas individuais há uma cama de alvenaria, sanitário e torneira. A limpeza realizada semanalmente nos pavilhões pelos próprios sentenciados deixa muito a desejar. As oportunidades de profissionalização a fim de facilitar sua ressocialização são mínimas devido a rebeliões que danificaram a penitenciária.
Falta de segurança As normas de segurança não são cumpridas com rigor. “O próprio sistema tem consciência das suas precariedades e vulnerabilidades”, admite José Carlos, diretor de segurança. Quando questionado sobre revistas de funcionários, que deveriam ser minuciosas, concordou que existe corporativismo. “A revista é superficial. Quando há alguma desconfiança é feita uma revista minuciosa. Caso contrário, não”, admite. Quanto à não realização da revista em nossa equipe, o diretor se limitou a justificar que preferiu “evitar constrangimentos”, já que estávamos autorizadas, seríamos acompanhadas e não teríamos acesso aos pavilhões e sentenciados. No entanto, tivemos, embora a maioria dos sentenciados em regime fechado estivesse no banho de sol. Além disso, já de posse de nossos pertences, ainda dentro da penitenciária, conversamos com alguns semiabertos sem a presença de agentes, inclusive falamos ao celular. José Carlos argumentou que “normalmente o semiaberto comporta-se melhor. Ele sabe que se fizer algo errado poderá ser recolhido e perderá os benefícios já adquiridos”. Ainda assim, o diretor administrativo, Galbert Rocha, há 11 anos no sistema e três na direção, afirma que a estrutura que assiste o semiaberto é mais propensa a fugas. “A fuga de semi-abertos ocorre, porém bem menos que antes. Visando diminuir esse índice, realizamos várias chamadas. Se o sentenciado não estiver presente perderá o direito à descida (saída temporária autorizada pela justiça)”. José Carlos diz não ser possível maior rigor da sua equipe em toda a área devido à debilidade da estrutura. “É arcaica. O ideal seria que a penitenciária fosse toda murada, já que parte dela faz divisa com fazendas que permitem o acesso à mesma”, esclarece o diretor que ainda sugere: “para evitar que a droga seja enterrada no campo, o ideal seria cimentá-lo com uma malha de aço por baixo, telar a área, além de reduzir o espaço, pois a saída de um pa-
vilhão por vez facilitaria a contenção de uma rebelião”. Secretaria de Defesa Social Os diretores contam que vários projetos foram encaminhados à Secretaria de Defesa Social (SEDS), mas poucos foram atendidos. O assessor de comunicação da SEDS, Hugo Teixeira, admite que as necessidades da Alkmin sejam muitas por esta ser uma unidade prisional da década de 30. “Sempre que necessário, reparos de emergência são feitos. Os investimentos prioritários do governo estadual no sistema prisional são a ampliação do número de vagas e a redução de seu déficit”.O assessor lembra que Minas não conta com unidades prisionais federais, portanto, o estado arca com o ônus, já que não há repasses do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) do Ministério da Justiça para o estado. Segundo Galbert, está sendo realizada na Alkmin uma reforma de toda parte hidráulica e elétrica que custou R$120 mil, além da construção de um novo alojamento. “As licitações não podem ultrapassar R$150 mil”, conta. Outro drama enfrentado pela Alkmin, segundo o diretor administrativo é a falta de funcionários e armas de grosso calibre. “Precisamos de equipamentos não letais, como bombas de gás lacrimogêneo, escudos e capacetes, indispensáveis à contenção de rebeliões. Há ainda a carência de veículos e equipamentos de informática”. Os agentes externos, que ficam nas muralhas e laterais, utilizam as armas de fogo puma e calibre 38. Já os internos usam apenas tonfas, uma espécie de cacetete. Hoje a Alkmin tem 300 agentes. Destes, a minoria são efetivos. “O ideal seria que tivéssemos em cada equipe dentro dos pavilhões pelo menos 100 agentes. Quanto ao número de contratados, é maior devido a não abertura do concurso”, informa José Carlos. Atual Direção A direção recebe elogios pelo trabalho feito na recondução de sentenciados, embora a última rebelião tenha ocorrido em 2002. “Antes era o preso quem dava as ordens dentro da cadeia. Os agentes já não tinham mais estímulo para trabalhar”, relembra o diretor de segurança. O agente Rubens Ribeiro, 26 opina que “uma má administração pode gerar rebeliões, assim como regalias demais aos sentenciados”. Luci Silva, 49, funcionária da Secretaria de Defesa Social, há 25 anos na Alkmin, afirma que hoje os funcionários se sentem mais seguros. “Antes, no refeitório tínhamos um contato corpo a corpo com mais de 600 presos num intervalo de uma hora e meia. Hoje apenas três presos trabalham conosco”, diz. Outro fator que incita rebeliões é a alimentação, que requer uma atenção especial. De acordo com a nutricionista da empresa responsável pela alimentação da penitenciária Renata Viana, a segurança é fundamental. “Se eu souber de um prato que vai desagradar aos sentenciados, troco”, explica. Colaborou: Ana Paula Ferreira
Belo Horizonte
SOCOR ESTRUTURA PRECÁRIA DA PENITENCIÁRIA JOS COMPROMETE SEGURANÇA E DIFICULTA REIN
Um passo além da cancela A poucos metros do ponto final do ônibus 5527 em Ribeirão das Neves-MG, encontra-se uma simples cancela e uma guarita que abrigava um funcionário da penitenciária José Maria Alkmin. Nenhum isolamento, senão a cancela, impedia o acesso ao local. Esta vulnerabilidade foi a primeira impressão que a equipe do jornal O Ponto teve da penitenciária mais antiga de Minas. Após nos identificarmos, portando uma autorização do diretor geral da casa, Solon Eustáquio de Castro, nossa entrada foi autorizada. Caminhamos alguns metros até a censura, outra guarita. Neste trajeto, num ambiente que remete a idéia de uma vila, descobrimos que alguns funcionários abrigam as casas distribuídas pelo local. Além das moradias, na área existe também um museu histórico e um centro destinado à reintegração do sentenciado, a Ceapa - Central de Apoio às Penas e Medidas Alternativas.
Ao sermos identificadas na censura, que se limitou a recolher nossos pertences e guardá-los em um escaninho, sem sequer fazer em nós alguma vistoria, passamos pela primeira portaria acompanhadas de uma agente penitenciária que esteve conosco até bem próximo do final desta jornada. Uma enorme ansiedade tomou conta de nós. A vontade de apurar o que estava intra-muros foi maior do que qualquer receio que o sistema penitenciário possa instigar. Fomos conduzidas primeiramente ao gabinete do atual diretor de segurança, José Carlos de Souza, no sistema há mais de 25 anos, que solicitou que fôssemos acompanhadas por todo o tempo por dois agentes penitenciários que se revezavam a fim de atenderem sua demanda de trabalho, cuidar da nossa segurança e dos nossos passos. Com este critério, adentramos ao sistema.
08 e 09 - Especial - Ana Paula
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E S P E C I A L
te – Abril/2006
RRO! SÉ MARIA ALKMIN EM NEVES NTEGRAÇÃO DE SENTENCIADOS Ana Paula Ferreira
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Sentenciado em condicional é exemplo de força de vontade "Matei meu irmão e a esposa dele porque batiam muito em minha mãe. Artigo 121, crime hediondo, homicídio". Assim, Marcos Dell-Orto, 36, de Resplendor–MG, em condicional desde agosto de 2002, se apresenta à equipe do jornal O Ponto. O sentenciado que esteve na penitenciária José Maria Alkmin em regime fechado e semi-aberto nos conta como esta contribuiu para sua reintegração social. Segundo ele, trinta dias após ter adentrado ao sistema já estava trabalhando com atividade remunerada. O convite partiu de funcionários da penitenciária e ele soube aproveitar a oportunidade. Marcos conta orgulhoso que procurou estudar, já que chegou à penitenciária praticamente analfabeto. "Foi muito bom para preencher o tempo ocioso, além de reduzir a pena. O aprendizado é algo que ninguém tira de você", diz. Em 99, após passar para o regime semi-aberto, começou a estudar em escolas fora do ambiente penitenciário o que permitiu que cursasse o 2º grau
(supletivo) e se formasse em dezembro de 2001. Seu bom comportamento lhe proporcionou ainda neste ano, antes mesmo de receber a condicional, um emprego fixo como motorista na Eldorado. Para ele, foi isto que contribuiu para que pudesse buscar sua ressocialização. Nesta fase, fala que foi bem acolhido pela sociedade e que nunca sofreu com discriminação. "Nunca senti nenhuma indiferença. Sempre souberam que eu estava e ainda me encontro em condicional. Na escola, todos sempre me trataram com muito carinho. Mas, tenho consciência que meu caso é isolado", comenta. No entanto, algumas das pessoas que estavam sentadas em mesas ao nosso redor, se levantaram quando o mesmo relatou o delito que havia cometido. Devido à ociosidade, muitos sentenciados, segundo Marcos, passam a maior parte do tempo pensando numa forma de escaparem da penitenciária e retornarem ao crime. Cita o crime que cometeu como um problema de ordem familiar. Diz
que antes sempre trabalhou, que nunca havia se envolvido com drogas nem cometido crime algum. Confessa que se arrepende do que fez, portanto não se considera um bandido. "Alguns presos entram ali e acham que aquilo é o fim da vida deles. Para esses não há possibilidade de reintegração. O trabalho que tem que ser feito é identificar o perfil de cada preso. O que levou o preso a cometer aquele crime. Aí você tem como identificar se ele é bandido ou não", opina Marcos. Na penitenciária sempre preferiu ficar sozinho para evitar problemas. "Às vezes um colega apanha e você acaba se envolvendo", conta. Casado e pai de uma menina de um ano e meio, Marcos tem planos de continuar os estudos e prestar concurso para agente penitenciário. "Quero fazer o concurso e trabalhar na mesma penitenciária em que passei todos esses anos, para passar para as pessoas que estão lá que se eu tivesse deixado minha vida acabar ali eu não teria chegado aonde cheguei. Este é o meu sonho", conclui. Luciana Ribeiro
Marcos Dell-Orto, em condicional, almeja tornar-se agente penitenciário na José Maria Alkmin
Fundada em 1938, a penitenciária mais antiga do Estado de Minas necessita de reformas urgentes em sua estrutura
João Hudson e Rafael Matos
SEGURANÇA
Reintegração x Oportunidade de Trabalho
Alkmin: carências e falta de interesse de sentenciados Ao chegar a Alkmin o sentenciado é informado das normas do sistema, dos benefícios e serviços oferecidos. Este trabalho chama-se Acolhida. Logo se inicia o processo de elaboração do PIR (Programa Individualizador de Ressocialização), que consiste numa entrevista com o núcleo de avaliação, composto por um assistente social e uma psicóloga. Este também passará por uma avaliação do núcleo de saúde. Todas as informações são registradas em um prontuário, visano padronizar o atendimento. Raquel Nogueira, 48, psicóloga da SEDS, que atua na Alkmin há sete anos como contratada admite que há carências que comprometem a ressocialização. “Estamos em reestruturação, com menor frente de trabalho e cursos técnicos. Falta possibilidade de profissionalização, que compromete diretamente a readaptação social e emocional do sentenciado. Sem trabalho, fica ocioso”, explica Raquel.
O semi-aberto Rubert Silva, 35, no sistema desde 94 por assalto a banco, diz que o as poucas oportunidades de trabalho oferecidas não garantem uma futura atuação no mercado, pois “a maioria das atividades são agrícolas e os sentenciados de centros urbanos”, relata. A coordenadora do Cesec (Centro de Ensino Suplência Continuada), escola situada na Alkmin, Rejane Marza, acredita no trabalho que faz com os sentenciados. “Estamos voltados à reintegração. Com rigidez é dado uma chance aos que querem aprender. São poucos. O interesse maior é a remissão da pena”, lamenta Rejane. A cada três dias estudados ou trabalhados, o sentenciado tem direto a um dia de redução da sua pena. Mauro Garcia, 43, cumpre pena por tráfico de drogas desde 2003. Em geral, sente-se satisfeito com o que a Alkmin lhe proporcionou. Porém queixa: “há vários sentenciados que ainda têm muita cadeia para pagar e que está repetindo a 8ª série porque aqui não tem 2º
grau. Deveria ter mais oportunidades de trabalho”, desabafa. De acordo com a coordenadora, está sendo pleiteado o curso médio junto à SEDS. No entanto, “a demanda que temos é insuficiente. Disseram que talvez ainda este ano”, informa. No espaço destinado aos semi-abertos fica a CEAPA – Central de Apoio às Penas e Medidas Alternativas. O órgão possibilita ao egresso até um ano extinto da pena a oportunidade de ressocialização, encaminhando-o a cursos profissionalizantes custeados, inclusive o transporte, pela SEDS. Denilton Lima, 31, há seis no sistema por homicídio, acha que a reintegração depende do sentenciado, mas este precisa do apoio da sociedade que deveria dar-lhe uma chance. “É muito fácil julgar”, desabafa. Para ele, a penitenciária deveria ajudá-los com uma carta encaminhando-os a um emprego. “ Para os que não conseguem trabalho, retornar ao crime torna-se uma questão de tempo”, opina.
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Belo Horizonte – Abril/2006
Obras no metrô ameaçam comércio CBTU INVESTIRÁ R$1,6 MILHÃO NA REVITALIZAÇÃO, MAS COMERCIANTES TEMEM EXPULSÃO Mariana Celle
ANA PAULA MACHADO 5º PERÍODO Os 55 estabelecimentos comerciais da estação do metrô de Belo Horizonte, terminal do Eldorado, que oferecem os serviços de lanchonete, sorveteria, tabacaria, chaveiro, banca de noticias e bijuterias aos usuários, podem ser fechados. As obras de revitalização do metrô iniciadas pela CBTU (Companhia Brasileira de Transportes Urbanos) em dezembro de 2005 é o argumento que faltava para a CBTU pressionar a saída dos comerciantes do local. Os comerciantes permanecem na estação por contrato assinado com a CBTU que permite a utilização da área pertencente ao governo federal. Os estabelecimentos notificados, o Rei do Kibe, a Pastelândia, a Tabacaria do Zazá e a Bombonielle Sorveteria, em outubro de 2005, entraram com uma ação que ainda está em andamento. Segundo Edson Amorim, 45, coordenador de obras do metrô de BH, a área comercial, será substituída por um novo centro comercial, com a contratação de outros funcionários pela companhia. De acordo com Amorim, a CBTU não possui controle sobre os gastos de água e energia elétrica realizados pelos comerciantes notificados.
Obras da discórdia: apesar da boa iniciativa, CBTU não entra em um acordo com os comerciantes que atuam na estação Eldorado
Impasse O aluguel dos locais varia de R$ 316 a R$ 3.300. Carla Rodrigues dos Santos, 29, da Bombonielle Sorveteria diz que a CBTU não tem argumentos suficientes para retirar os comerciantes que estão em situação regular e com toda documentação em dia.
A CBTU vai investir R$1 milhão e 600 mil nessas obras que fazem parte de um projeto para a linha Eldorado/Vilarinho, que existe há dois anos. Com a revitalização, é prevista a retirada de cerca de 300 pessoas. “São 15 anos trabalhando aqui e não acho correto a gente simplesmente sair sem indenização”, afirma Ricardo Solto, 42, comerciante da Tabacaria do Zazá. A CBTU, segundo Oswaldo Bispo, 28, gerente da Pastelândia, tem de garantir o serviço dos funcionários. “Tenho dois filhos, um de 7 anos e outro de 1 ano e 2 meses e só tenho esse serviço”, conta Oswaldo. Os comerciantes colheram 8 mil assinaturas e realizaram manifestações na busca de um acordo. Entretanto, nada foi resolvido pela CBTU. “Não dizem se vamos voltar ou criar outro espaço e como isso será feito”, diz Valdivino Fernandez, 36, gerente do Rei do Kibe. Grande parte dos comerciantes tem muito tempo de serviço na estação Eldorado/Vilarinho e temem a dificuldade de outro emprego no caso de serem demitidos. Os objetivos principais das obras de revitalização na estação Eldorado, afirma Edson Amorim, são os de garantir a integração metrô/ônibus, aumentar o número das linhas de ônibus com a construção de plataformas para as linhas, bem como reorganizar o espaço interno da estação. Os estabelecimentos poderiam ser mantidos ou mesmo regularizados em conjunto com a revitalização do espaço, pois as obras não atrapalham o comércio presente no local.
Belo Horizonte recebe ‘maquiagem’ para BID GOVERNO DE MINAS E PBH SE EMPENHAM PARA REUNIÃO DA CÚPULA FINANCEIRA MUNDIAL E REFORMAM CAPITAL Mariana Celle
ANA LUÍSA BARCELOS E LAURA AGUIAR 5º PERÍODO O evento com a cúpula financeira mundial, que reuniu 47 países na capital mineira, obrigou o Governo de Minas Gerais e a prefeitura de Belo Horizonte a acelerar diversas obras para receber os cerca de sete mil participantes. A realização da 47ª Reunião Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), entre os dias 28 de março e 5 de abril, fomentou consideráveis investimentos estruturais em diversos setores de BH. Algumas obras já estavam sendo executadas e foram aceleradas de acordo com as necessidades da reunião. As mudanças fazem parte do processo de internacionalização da cidade, pelo seu potencial no desenvolvimento do turismo de negócios. A avenida Amazonas, via de melhor acesso à sede oficial do evento, foi recapeada e reformada num trecho de 10 quilômetros (da rua dos Caetés, no centro da cidade, até a praça Magnesita, na divisa com o município de Contagem) depois de alguns anos de espera. Recapeada pela última vez em 1994, o projeto só foi iniciado em 20 de janeiro deste ano, quando a verba foi liberada pelo governo do estado. Também naquela região foi construída uma passarela que liga o metrô do bairro Coração
Eucarístico à sede do encontro, o Centro de Feiras e Exposições de Minas Gerais (Expominas), na qual foram discutidos os rumos políticos da Diretoria Executiva a serem seguidos ao longo do ano. Ambas as obras – avenida e passarela - foram financiadas pelo governo federal, num custo de mais de R$ 9 milhões. O Expominas transformouse no mais moderno centro de convenção do país com capacidade para 45 mil pessoas. É também o único a oferecer climatização e tratamento acústico e conta com 500 pontos de telefonia, detecção e alarme contra incêndio e segurança eletrônica, custando um total de R$152 milhões, sendo mais de R$40 milhões só com a refrigeração do local. “A 1ª etapa da obra já existia. Foi iniciada no governo de Eduardo Azeredo, mas agora faltava a sua arrancada final”, afirmou o prefeito da capital, Fernando Pimentel, durante a coletiva de inauguração do Expominas. Outra importante reforma foi a do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Lagoa Santa (Grande BH), realizada pela Infraero. O investimento de cerca de R$ 4,5 milhões possibilitou a revitalização da pintura para garantir mais claridade ao local e a reforma das escadas rolantes, além da instalação de um elevador para pessoas portadoras de defi-
ciência e pontes, ambos na área de desembarque. Setor privado Diversos estabelecimentos também mudaram para atender à demanda do encontro. Rodrigo Mangeratti, gerente comercial do Mercure Hotel, que fica na Av. do Contorno, no Lourdes, explica que devido ao encontro do BID, várias modificações foram realizadas, como a reestruturação da suíte Jr. (troca de carpete, implantação de móveis e aquisição de utensílios novos), a reforma do piso das áreas sociais e o reforço no sistema de segurança digital. “Esses são os três, talvez, os maiores investimentos, além do investimento no funcionário”, afirma Rodrigo, referindo-se ao treinamento de cerca de 70% de seus funcionários. Segurança O esquema de segurança, reforçado para o evento, foi composto pela Polícia Militar, responsável pela supervisão, as Polícias Civil e Federal e o Corpo de Bombeiros. Ainda foram utilizados 200 veículos, entre automóveis, camionetas ou minivans, 45 vans ou doblôs e ônibus, e as urgências médicas também receberam atenção especial para assegurar o cotidiano da população, mas principalmente a fim de evitar maiores complicações durante o encontro.
Expominas em obras: mais moderno centro de convenções do país e capacidade para 45 mil pessoas
11 - Mídia - Daniel Cerqueira
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M Í D I A 11
Belo Horizonte – Abril/2006
Jornalismo “a sangue frio” LONGA SOBRE VIDA DO JORNALISTA TRUMAN CAPOTE MOSTRA OUTRO LADO DESSA RELAÇÃO Attila Dory/Sony Pictures Divulgação
LAURA CARVALHO FABIANA COLARES 3º PERÍODO O filme "Capote", do diretor Bennet Miller, retomou uma discussão que teve seu auge nas décadas de 60 e 70 e andava esquecida: a função do “Jornalismo Literário”. Ganhador do Oscar de melhor ator para Philip Seymour Hoffman no papel do jornalista Truman Capote e indicado a outros quatro – melhor filme, diretor, roteiro adaptado e atriz coadjuvante –, a narrativa recria as condições em que foi escrita sua obraprima: A sangue-frio, do próprio Capote. O livro é considerado um dos maiores romances do século XX, sendo valorizado tanto do ponto de vista jornalístico quanto do literário. A obra, em conjunto com outras como A luta de Norman Mailer e Notícia de um sequestro de Garcia Márquez, compuseram o movimento – que aconteceu principalmente nos Estados Unidos – conhecido como “Novo Jornalismo”. O filme O longa é baseado na história que começa em 15 de novembro de 1959, quando a família Clutter é encontrada morta em seu rancho em Holcom, Kansas/EUA. Capote, que nessa época era colaborador da revista The New Yorker, já devidamente conhecido pelo artigo que daria origem ao filme Bonequinha de luxo, decide viajar para a cidade atrás de alguém que lhe fornecesse os detalhes sangrentos da tragédia. Capote percebeu que possuía um vasto material a ser explorado e ganha permissão de seu editor para aprofundar a matéria, que mais tarde se transformaria no livro. Para se ter uma idéia sobre Capote, não podemos esque-
cer de que ele se tornou famoso não só por ser competente como escritor e como jornalista. Ele era egoísta, melindroso, efeminado e de voz fina. Para o professor mestre em Literatura Fabrício Marques, ele era uma “persona” e soube fazer marketing. Foi considerado um dos precursores dessa corrente do jornalismo. Os Sertões, de Euclides da Cunha, foi escrito muito antes da existência de Capote, mas ele soube aproveitar a oportunidade. Uma outra questão polêmica retratada no filme, que também pode ser aplicada a outros autores que seguiram essa corrente, é a relação com a fonte. Capote se tornou amigo dela durante o tempo em que se dedicou para escrever a série de reportagens que resultaram no livro A sangue frio. Nesse ano e meio que investigou o caso, se aproximou tanto de suas fontes que chegou a ponto de mentir para conseguir informações. “Apesar dos meios que ele se utilizou, não se pode negar que ele tinha um dom natural de escrever”, afirma Marques. Para o professor e jornalista Alexandre Freire, é essencial que o jornalista apure pessoalmente e não por telefone ou por e-mail. Segundo ele “lugar de jornalista é na rua”. Além disso, é ideal que o redator esteja conectado com a fonte e com o assunto tratado. “Aquele praticante do Jornalismo Literário tem que ser capaz de estabelecer relações. É preciso que ele capte o que a fonte diz, não o que ela declara, porque assim, ele poderá perceber o que está por trás daquele fato”. Desta forma, o jornalista tem elemento para que a dimensão poética não seja perdida. Com o intuito de conservar esses aspectos, Truman não anotava
suas entrevistas; ao invés, ele guardava mentalmente as conversas e era capaz de lembrar de 94% de tudo para depois transcrever palavra por palavra. Após a morte dos assassinos – sentenciados a forca – Capote declarou publicamente que ficou aliviado ao saber que ambos foram condenados a morte, pois de forma contrária, A Sangue Frio poderia jamais ser publicado, pois a morte dos mesmos era o final que ele tanto aguardava para seu livro. Atualmente Para Fabrício Marques, o jornalismo que segue o lide e pretende ser objetivo tenta organizar um mundo que é confuso e “tem a tendência de querer tornar ortodoxo um mundo que é heterodoxo”. Já o Jornalismo Literário faz o contrário: mostra toda a complexidade existente na realidade. De acordo com Sandro Vaia, diretor de redação do Estado de São Paulo,"a relação fonte e jornalista precisa ser acima de tudo honesta, como em tudo nas relações humanas. Um grande furo de reportagem jamais poderá ser obtido se o respeito à ética não for mantido”. Em seu livro A arte de fazer um jornal diário, o jornalista Ricardo Noblat afirma que não da certo fazer amizade com fontes de informação. "Elas imaginam que você as pouparão por serem amigos. Se não forem poupadas, se sentirão traídas e acumularão mágoas". Noblat afirma também que o jornalista deve ser uma pessoa de poucos amigos. Não basta apenas possuir uma fonte. É necessário que o jornalista saiba cuidar dela, "procurá-las sempre. Nem que seja para jogar conversa fora", explica Noblat. Colaborou: Camila Coutinho
Phillip Seymour como Trumam Capote: notável pelo relacionamento que mantinha com as fontes
Exercite sua imaginação
Ética e justiça na notícia FILME DE GEORGE CLOONEY “BOA NOITE, BOA SORTE” REVELA A NOBREZA E SUTILEZA DAS INVESTIGAÕES HENRIQUE FARES 5º PERÍODO Se por um lado o filme “Capote”, de Bennet Miller, retrata um jornalismo mais humano – aquele egocêntrico e exibicionista, sempre atrás de um furo de reportagem doa a quem doer - o filme “Boa noite, Boa Sorte” de George Clooney mostra a outra face do jornalismo, a justa, leal, aprumada, do jornalista que se preocupa com os valores éticos e tenta assim melhorar o mundo. A história, ambientada nos anos 50, mostra uma paranóia anti-comunista que deu-se inicio quando o Senador de Wisconsin, Joseph McCarthy, que inaugurou uma verdadeira semi-ditadura nos EUA, taxando de comunista e inicianou uma caça as bruxas a todos aqueles que não concordavam com seus atos administrativos. É por esse cenário de insegurança que o filme passeia, mostrando o âncora de TV Edward R. Morrow ( David Strathairn ) , o produtor Fred Friendly (o próprio Clooney ) e sua equipe de repórteres desafiando o governo em sua luta para apresentar os dois lados da nebulosa questão. Em seu progra-
ma, Morrow - que usa o bordão "Boa noite e boa sorte" como frase de encerramento - revela o jogo sujo de McCarthy e torna-se alvo do senador, iniciando um acalorado debate pela liberdade de expressão e conseqüente queda de McCarthy. Ao contrário de Capote, Murrow não fazia jornalismo para fama ou para si mesmo, muito pelo contrário, seu com-
“Nós (jornalistas) não criamos a notícia. Nós apenas a divulgamos.” Edward R. Morrow promisso estava totalmente voltado com a verdade e para o público. “Nós (jornalistas) não criamos a notícia. Nós apenas divulgamos” Se o tópico de liberdade de expressão já era relavante na década de 50 parece ainda mais importante hoje, tempos em que a integridade na mídia e na política rareia a cada eleição, a cada renovação editorial. Clooney tem plena consciência dis-
so e a mensagem está lá pra quem quiser - ou puder - entender. Sai o macartismo, entra o Bush do Patriot Act, a Fox News, sai o comunismo e entra o terrorismo. Tudo implícito, mas a crítica é incisiva.Por isso, “Boa Noite e Boa Sorte” não se trata de um filme sobre algum acontecimento histórico que pode ser considerado “morto e enterrado”. É sim, um filme que se torna ainda melhor, pela impressionante contemporaneidade de seu tema. Vale lembrar que, não faz muito tempo, o atual governo federal brasileiro tentou reimplantar a censura aos órgãos de comunicação, principalmente os eletrônicos.Não é preciso então ir muito longe para achar situações semelhantes aquelas mostradas no filme. A influência da película foi tão grande que um site especial foi criado com a exclusiva finalidade de incentivar a sociedade a participar nas questões da imprensa, localizado em www.participate.net. Talvez com isso e - alavancado pelas indicações ao popular Oscar o filme até consiga abrir alguns olhos. Quem sabe? Boa sorte para todos nós.
Nasceu a 13ª Agência Modelo
12 - Saúde - Aline Valerio
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Belo Horizonte – Abril/2006
Doação de orgãos ainda é tabu QUANTIDADE DE CIRURGIAS PARA TRANSPLANTES É INSUFICIENTE EM MINAS GERAIS FABIANA BARRETO, MARINA RIGUEIRA E RAQUEL VALLE 1ºPERÍODO
Além disso, as comissões estão articuladas com as centrais de captação de órgãos e tecidos para viabilizar o processo.
O pai do estudante José Lima, 25, precisa de um rim e entrou para a fila dos transplantes há dois meses. Ele é mais um entre as 4.291 pessoas que estão na mesma fila esperando por um novo rim. José já viu essa cena em outra ocasião: “Eu perdi um tio que aguardava o mesmo órgão. Temos esperança e medo. Ele não pôde esperar muito e temo que meu pai também não consiga”, conta o estudante. Doar órgãos e tecidos tem uma grande importância, não só a de salvar vidas. Muitas vezes essa prática alivia a dor da família que perde alguém, como se o ente querido pudesse continuar vivo em outra pessoa. Mesmo assim, grande parcela da população ignora esses fatos, muitos devido à falta de informação e de interesse, e enquanto isso, o número de candidatos a transplantes inscritos na longa lista de espera cresce continuamente.
Procedimentos O procedimento padrão começa quando o coordenador da comissão faz o processo de abordagem dos familiares do possível doador e em seguida o MG Transplantes é acionado. É preciso que dois médicos diferentes realizem os testes para comprovação da morte encefálica, em um intervalo de tempo que varia de acordo com a idade do doador. O protocolo obedece à resolução do Conselho Federal de Medicina e é igual para todos os hospitais, sejam eles públicos, particulares ou filantrópicos. Após o resultado começa a busca pelo receptor, que estará entre os vários inscritos na lista de espera. Os candidatos à cirurgia são cadastrados com todas as indicações necessárias para que a localização seja rápida. Esse procedimento ajuda na verificação de compatibilidade do organismo do receptor para o transplante que logo será feito. Esses receptores são classificados e agrupados em ordem estabelecida pela data de inscrição e pelas características de compatibilidade do organismo.
Comissões As chamadas Comissões Intra Hospitalares de Doações de Órgãos e Tecidos existem em hospitais com mais de 80 leitos. São comissões médicas, compostas por, no mínimo, três membros e foram criadas há cerca de três anos. São nomeadas em atos formais das direções dos hospitais onde atuam e todos os médicos devem ser diretamente vinculados à diretoria desses hospitais. Um dos membros é eleito coordenador e deve participar de um curso específico para exercer o cargo. Os integrantes são responsáveis pela detecção de possíveis doadores e devem viabilizar o diagnóstico de morte encefálica, primeiro passo para iniciar o processo de retirada dos órgãos. Eles estudam as leis relacionadas ao transplante de órgãos no Brasil, entre outras práticas necessárias para exercer bem seu trabalho, que tem por pressuposto a diminuição da imensa fila de espera.
O que provoca a queda O número de cirurgias de transplantes realizadas em todo o país vinha obtendo uma curva crescente desde o ano de 1993. Entretanto, em 2005 foi observada uma grande queda o que não foi diferente para o estado de Minas Gerais. Segundo o médico Mauro Carneiro, do MG transplantes, a queda existe devido ao mau funcionamento das Comissões Intra-hospitalares de Órgãos e Tecidos, já que elas não fazem o que efetivamente deveriam e têm como obstáculo adicional a escassez de recursos. Segundo a assessoria do MG Tranplantes, não existe uma explicação concreta para a queda e que o número de transplantes caiu em vários estados. Alega ainda que o governo do estado tem investido bastante. Rafael Matos
TRANSPLANTES
Realizados em Minas
Cai o número total de transplantes realizados no estado
Henrique Lisboa
MG Transplantes: número de doações e cirurgias passam pela conscientização da população e pelo fim do preconceito
Infecção hospitalar não é principal causa Embora muitos pensem que a infecção hospitalar é o grande obstáculo para a efetivação da doação de órgãos, na prática não é isso que ocorre. Segundo o Dr. Mauro Carneiro, do MG Transplantes, a infra-estrutura tecnológica dos hospitais tem evoluído de forma satisfatória, o que proporciona uma crescente diminuição dos registros de ocorrência da doença. "As infecções hospitalares não têm relação direta com a queda dos transplantes, mas a diminuição dos registros, de certa forma, proporciona às famílias dos
receptores conforto e segurança", afirma. Ainda de acordo com o Dr. Mauro, existem apenas dois fatores que impedem a efetivação da doação dos órgãos. Um deles é a contra-indicação médica, que depende diretamente do doador. Nesse caso, se for constatado que o paciente tenha tido alguma doença que possa comprometer o receptor dos órgãos, como AIDS, ou hepatite, entre outras, o transplante não pode ser feito. O outro fator, muito mais freqüente na rotina dos hospitais, diz respeito às famílias.
Publicidade pode ajudar Quem acompanha a programação veiculada pela mídia em geral já viu que, embora a queda do número de transplantes seja crescente, nenhuma peça publicitária foi produzida para tentar reverter o quadro. Assim como as propagandas em favor da doação de sangue têm alcançado bons resultados, projeto semelhante seria valioso para conscientizar a população sobre a importância de doar órgãos e tecidos. A estudante Lúcia Machado, 23, conta que tinha medo de doar sangue, mas mudou de idéia depois de ver algumas propagandas na tv. “Parecia fácil, então procurei o Hemominas. Se o MG Transplantes fizer algo assim também vai fun-
cionar. Eu só vejo cartazes deles em hospitais”, declara. A aposentada Maria José Costa, 76, também acredita na eficiência dos apelos publicitários e torce para que um dia lista de espera dos transplantes seja algo menos penoso. O filho mais velho de Maria José sofria de diabetes e faleceu aguardando um transplante de rins. “Com mais campanhas, principalmente na tv, as famílias ficariam sensibilizadas e não negariam a retirada de órgãos”, opina Maria. O MG Transplantes concorda que a publicidade é importantes e lançará uma nova campanha este ano. Contudo afirma que a falta delas não é o motivo da queda. Colaborou: Aline Valério
A maioria não autoriza a doação, impedindo a retirada dos órgãos, e é nesse momento que as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos deveriam atuar. "Pelas leis vigentes não é necessário que o possível doador tenha o seu desejo de doação registrado em nenhum documento. Apenas a família pode decidir se a doação será ou não autorizada", explica o médico. A secretária Regina Silva, 53, faz questão de que sua família doe seus órgãos se houver possibilidade. O marido, cujo nome ela não revelou, é
o ponto CRÍTICO ALINE VALÉRIO 6º PERÍODO Engana-se quem pensa que ser o primeiro da gigantesca fila dos transplantes é sinal de contentamento. Assim que surge um órgão, os testes de compatibilidade são feitos, obedecendo à ordem de procura, mas muitas vezes aquele que ocupa o primeiro lugar não é compatível ao órgão disponível. O drama de quem precisa de um transplante de rins é ainda maior, pois esse é hoje o órgão mais procurado dentre as pessoas cadastradas na lista do MG Transplantes. Vários nomes estão lá por complicações causadas, principalmente, pelo Diabetes, que
diabético e aguarda há dois anos por um transplante de rins. “Ele sofre muito com as sessões de Hemodiálise. Se eu fosse compatível já teria doado um dos meus rins a ele. É duro pensar que muitas famílias podem doar os órgãos de parentes e se recusam a fazê-lo”, lamenta. A queda acentuada do número também está relacionada ao número desproporcional entre as doações de órgãos realizadas e o número assustador de pessoas que necessitam deles, a maioria disparada esperando há muito tempo por um rim.
atualmente atinge uma parcela considerável da população. Muitos, como eu, já perderam um pai que estava esperando por um órgão. Somente nós sabemos a dor e a angústia da espera, principalmente depois que se esgotam todas as chances de um doador da própria família ser compatível. Se as coisas não mudarem e não houver uma mobilização, muitas pessoas ainda vão aguardar em vão, pois em pleno século XXI as famílias proíbem a retirada de órgãos de entes queridos simplesmente por acharem que isso é uma mutilação do cadáver. Isso sem contar as questões religiosas, às quais eu não me oponho e também não discuto. Existem 5.398 pessoas aguardando por um transplante e grande parte pode ser salva apenas com um sim. Vale a pena pensar nisso com cuidado.
13 - Educacao - Debora Resende
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Lições de INTOLERÂNCIA CLIMA DE HOSTILIDADE ENTRE ALUNOS E PROFESSORES PROVOCA CONFLITOS EM SALA Reprodução
PEDRO HENRIQUE VIEIRA 1º PERÍODO “Quem você pensa que é? Dobra a sua língua pra falar comigo, porque sou eu quem paga seu salário!” Insulto como estes são cada vez mais freqüentes e comuns dentro das salas de aulas nas escolas particulares de classe média de Ensino Médio e Superior. Segundo o aluno D.F.V, de 16 anos que estuda no Colégio Promove, escola privada tradicional da capital, o desrespeito contra os professores é constante dentro da instituição. “Uma vez um professor pegou um colega colando na prova, e tomou a sua avaliação. Revoltado, o aluno foi pra cima desse professor, pra bater mesmo!”, relata. D.F.V. diz que a agressão só não aconteceu porque outros colegas e funcionários impediram. “ O menino ameaçou dizendo que o seu pai, que é vereador, viria na escola e colocaria o professor na rua”, complementa A intolerância às regras, a falta de limites na educação e o fato de estarem pagando pelo ensino são algumas das razões da dificulade de relacionamento entre professores e alunos da rede privada, de acordo com a psicóloga Lúcia Couto, terapeuta infanto-juvenil, especializada em orientação familiar. Segundo a psicóloga, esse desrespeito é fruto da má educação dentro de casa. Hoje os pais, por não terem tempo disponível, acreditam, ainda que por conveniência, que o fato de estarem pagando alto pelo ensino, os deixa “livres” da tarefa de educar seus filhos. Os pais jogam a responsabilidade de uma boa educação apenas para a escola, mas não consideram que os professores são a referência da instituição”, avalia Lúcia. A psicóloga comenta que o professor hoje não é mais visto dentro da sociedade como um mestre. “Isso é culpa também da coordenação das escolas que muitas vezes não se preocupam em formar o lado humano do estudante.Visam mais o interesse mercadológico do que há por traz do aluno”, ressalta a psicóloga.
Uma pesquisa inédita realiza pela UNESCO em 2003, com o tema “Violência nas Escolas”, mostra que 1/5 dos 33.655 alunos e 3.099 professores entrevistados em 14 capitais brasileiras já presenciaram atos de violência nas escolas. A coordenadora de ensino do colégio Arnadinum, Maria Isabel Isoni, diz que o comando de sala depende também do professor. “Ele deve demonstrar autoridade e impor respeito no início do curso.” A coordenadora relata que muitos não respeitam o horário de jogar bola, e quando são repreendidos ofedem os funcionários.”Eles falam que estão pagando e por isso podem jogar na hora que quiser”, conta Maria Isabel. O professor de Informática da Feamig (Faculdade de Engenharia de Minas Gerais) Arízio Alves das Neves também afirma que muitos alunos se acham melhores e se colocam na posição de donos da escola pelo fato de estarem pagando. “Muitos deles se referem ao professor como um empregado e fazem exigências”, conta Arízio que também culpa os pais: “Sou professor há 16 anos, e percebo que os pais atualmente não se preocupam em ensinar valores morais aos filhos, usando a falta de tempo como desculpa”, avalia o professor. A diretora do Sinpro-MG (Sindicado dos Professores de Minas Gerais), Celina Arêas, conta que a maioria das escolas particulares “abafam” casos como estes para que a imprensa não manche a imagem das instituições. Celina relata que ocorrem muitas situações de agressões ao professores em escolas privadas, mas poucos educadores chegam a registrar. “Os professores da rede privada muitas vezes não denunciam temendo serem demitidos. Na maioria das vezes, a escola se posiciona ao lado do aluno”, relata a diretora”. “Os jovens de hoje recebem toda condição para construírem um país melhor, e é tarefa dos pais cobrarem isso de seus filhos”, conclui a psicológa Lúcia Couto
Desrespeito provoca pânico No dia nove de março, um aluno de 15 anos do conceituado Colégio Santa Dorotéia,no bairro Sion, explodiu uma bomba caseira no banheiro da escola. Dois alunos da mesma idade foram atingidos por estilhaços de vidro, mas por sorte não se feriram. De acordo com o aluno João Soares, 18 , a explosão poderia ter causado até vítimas fatais. “A escola parou, houve um grande tumulto e só soubemos tudo que aconteceu realmente depois. Muitas pessoas ficaram chocadas, mas também vi muitos rindo”, comenta João. A direção do colégio impediu o acesso da imprensa, na tentativa de impedir a divulgação do ocorrido mas os jornais locais noticiaram o atentado. O jornal O Ponto procurou a diretoria da escola que não se manifestou até o fechamento dessa edição. O aluno P.H.S, de 18 anos, do colégio particular Padre Machado, conta agressões verbais acontecem todos os dias, tanto de professores quanto de alunos. Ele já presenciou uma discussão que
quase ocasionou agressão física: "O professor ofendeu um aluno que conversava e que tirava notas ruins. Revoltado, o aluno começou a xingá-lo, chutou as carteiras e tentou joga-lás no professor. O pessoal que impediu". Conta o jovem. O assessor de orientação educacional do Padre Machado, Antônio Carlos Faria, diz que o professor não pode se sentir intimidado diante de uma agressão por parte de um aluno. Segundo ele, quando ocorre certos casos desse tipo no colégio, a coordenação entra em contato com os pais para que eles tomem conhecimento do ocorrido e ajudem a escola a evitar que a situação aconteça novamente. “ É Muito importante que os pais participem plenamente da educação de seus filhos”, diz. Tanto alunos quanto educadores dizem que nada é feito para lidar com o problema da violência, e esse descaso é uma forma da escola absorver estes impactos , equilibrando-se entre a ordem e a desordem, mas sem balançar a reputação da instituição.
Reprodução do quadro “Duelo de Garrotazos”, de Francisco Goya
Violência é maior na rede pública Ameaças, agressão verbal e física. A diretora do Sinpro, Celina Arêas conta quenas escolas públicas é mais freqüente a violência contra professores. Muitos são tão pressionados que pedem demissão pelo medo que incidentes mais graves possam acontecer. “Em algumas escolas é o aluno quem comanda a classe e não o professor.”,relata Celina. A pesquisa “Vitimização nas Escolas: Clima Escolar e Agressões Físicas” dirigida pela vice-coordenadora do Observatório de Violência nas Escolas no Brasil, Miriam Abramovay, tem como objetivo mostrar o relacionamento entre alunos e professores, e como a violência está presente nas Redes Públicas de Ensino. A pesquisa foi realizada em cinco capitais e no Distrito Federal, em 143 escolas públicas municipais e estaduais, com mais de 12 mil estudantes, tendo um resultado alarmante, pois 21,7% dos estudantes já viram brigas com canivetes nas escolas e 12,1%, revólveres. Quanto à relação entre os alunos e professores, o estudo revela que 10% dos estudantes indicam que o relacionamento é péssimo; e 47% que é bom. Mas nas entrevistas, os alunos ressaltam que “xingamentos” e agressão física como cadeiradas são constantes em sala de aula. Alguns revoltados com a impunidade chegam a pedir demissão devido à forma como são tratados, . Maria de Lourdes Resende, professora da escola estadual Ribeiro de Oliveira acredita que deve haver uma maior rigidez no ensino primário, para que o aluno desenvolva o respeito pelo professor. “É preciso uma formação rigorosa dentro de sala para que as crianças reconheçam o professor como um exemplo”, afirma a professora.
Invista em si mesmo. A universidade amplia os horizontes e leva você rumo à realização dos seus sonhos. Mas tudo isso só é possível com muita dedicação e trabalho. Cada volta é um recomeço. A partir de agora a escolha é sua. Tome uma atitude, valorize seu tempo .
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Fumec implementa plano de segurança UNIVERSIDADE UTILIZA RECURSOS TECNOLÓGICOS CONTRA VIOLÊNCIA E ROUBO NO CAMPUS Danielle Rodrigues
Catracas para controle de entrada de pessoas na Universidade Fumec: a instituição conta com a ajuda de seguranças e equipamentos eletrônicos para a proteção dos alunos e funcionários ÉRICA FERREIRA MARINA FONSECA RAQUEL JONES THANIT LAGES 5º PERÍODO Com o intuito de garantir a segurança dos alunos e funcionários da Universidade Fumec, a instituição instalou um plano de controle que conta com catracas e câmeras de monitoramento, além de seguranças nas proximidades. Com a instalação de catracas, que ainda permanecem sem funcionamento, e a utilização de um acompanhamento monitorado por câmeras, alguns alunos questionam a eficiência e necessidade de todo esse arsenal para a segurança na universidade. A Reitoria da Instituição está desenvolvendo três projetos quanto à segurança. A Fumec conta com um serviço terceirizado feito pela empresa de segurança CSN. Segundo o presidente da Universidade Fumec, Pedro Arthur Victer, a segurança interna e externa da
Instituição é realizada por seguranças preparados para situações de risco e que não portam armas. Um dos projetos que estão sendo desenvolvidos pela Reitoria, prioriza a acessibilidade; principalmente em relação aos portadores de deficiência física. Como esclarece Victer, “atualmente a entrada de deficientes é feita pelo estacionamento, criando um risco devido a passagem de carros, o projeto conta com a criação de uma área destinada a passagem a essas pessoas e também para melhorar o acesso das mesmas dentro da Instituição”. O presidente explica que as catracas ainda não estão em funcionamento porque a Fundação estuda as formas mais eficazes para sua aplicação, “a implementação dos serviços das catracas ainda não pode ser totalmente efetivada porque estamos testando processos, como leitura digital”.Victer também enfatiza o impacto causado pela criação do Campus, “A
criação do Campus diminuiu o índice de criminalidade, que no período das férias sofre um aumento potencial”. Ao coletar opiniões de dois moradores da região próxima a universidade Fumec, observa-se que as idéias são divergentes. A consultora de moda Fernanda Alvarenga, moradora da Rua Alfenas, não percebe positividade nas ações da Universidade; “os seguranças não estão preparados para agir, passam a maior parte do tempo conversando ou dispersos”. A dona de casa Lurdes Barbosa, moradora da Rua Cobre, é uma das beneficiadas pela segurança da FUMEC. Segundo Barbosa, a região oferece perigo nos dias em que os seguranças da Universidade não estão em serviço, “sábado e domingo, a rua fica desprotegida e os assaltos são constantes”. Proteção ou vigilância As tecnologias atuais apresetam as novas formas para
Fumec participa do Projeto Rondon ALUNOS TÊM CONTATO COM COMUNIDADES CARENTES NATHALIA DRUMMOND PEDRO IVO CORREA TARSILA COSTA 1ºPERÍODO Criado em 1966, o Projeto Rondon é um dos mais importantes projetos da história do Brasil. Inicialmente chamado de “Operação Zero”, a idéia partiu de alunos da Escola de Comando e Estado Maior do Exército e tinha como objetivo proporcionar o contato dos estudantes com a Amazônia e trabalhar em benefício das comunidades carentes da região. Com o seu sucesso, o projeto se estendeu levando o nome do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, militar e humanista defensor dos povos indígenas. O projeto ficou 18 anos paralisado devido a desvios no manuseio dos recursos financeiros e ao envolvimentos dos organizadores com correntes político-partidárias e ideológicas, que o desvirtuavam de suas reais finalidades. Em 2005, o projeto foi retomado por iniciativa da UNE, União Nacional dos Estudantes, em parceria com o Ministério da Educação e com o apoio dos demais Ministérios
– Forças Armadas, Governos Estaduais, Prefeituras Municipais, Associação Nacional dos Rondonistas, ONG’s, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público e Organizações da Sociedade Civil – assumindo um novo formato. Neste novo modelo, para a viabilização das propostas, foi criado um grupo Interministerial para estabelecer as diretrizes e os objetivos do projeto e definir a sistemática de trabalho a ser adotada. As Instituições de Ensino, junto aos estudantes, são encarregados da parte operacional, contribuindo com o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes das Regiões Norte e Nordeste do país e de Minas Gerais. A Universidade Fumec, em 2005 participou da operação Acre, em Assis Brasil, e em 2006, das operações Amazônia, em Laranjal do Jari (AP), e Minas Gerais, nas cidades de Itamarandiba, de Presidente Kubistschek e de Santo Antônio do Itambé. A participação dos alunos, é voltada para a inclusão social destas comunidades, visando a conscientização dos direitos e deveres dos cida-
dãos. “O objetivo em relação aos alunos era uma formação interdisciplinar viabilizada pelo contato com a realidade das comunidades mais carentes e a formação de líderes que tenham um olhar mais profundo causado pelo acesso àquela realidade brasileira, além disso aproximar o ministério da defesa da população”, diz o professor Tadeu Sampaio. Os municípios são beneficiados com a capacitação de agentes de saúde, campanhas educativas de prevenção a DST/AIDS, atualização de profissionais de ensino, projetos de coleta de lixo e saneamento básico.“A participação no projeto é uma experiência maravilhosa; ímpar! É impossível continuar a mesma pessoa. Voltamos totalmente sensibilizados e mais humildes, chocados com a precariedade das condições na comunidade atendida”, diz a participante do projeto, Suzana Abrantes, aluna do 7º período de Psicologia. A Instituição, professores e alunos, também solicitam a doação de livros de literatura infantil, juvenil e romances, que serão utilizados nas próximas etapas do projeto.
complementar a segurança, como por exemplo, o uso de catracas nas entradas da Universidade e câmeras eletrônicas de vigilância em todos os corredores e salas. Na universidade Fumec, foram instaladas oito catracas em 2002 e em 2005 foram adicionadas câmeras eletrônicas nas dependências da instituição para o
controle e segurança local. Mas a questão que se coloca é: essa tecnologia protege ou inibe os alunos? O professor de Direito da FCH e atual presidente da OAB Minas Gerais, Raimundo Candido, considera que, “esses aparelhos eletrônicos têm sido utilizados por uma questão de segurança, é preciso ve-
Você
rificar até onde esses procedimentos de segurança não invadam a privacidade e atividade das pessoas,mas acima de tudo está o bem da coletividade segura”. Marina Duarte, aluna do 3º período de Arquitetura Fumec afirma acreditar que, “mesmo as catracas não funcionando, elas inibem ações inadequadas”.
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15 - Esporte - Brenno Rocha
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E S P O R T E 15
Belo Horizonte – Abril/2006
Pequenos roubam a cena no Mineiro TIMES DO INTERIOR TÊM BOAS CAMPANHAS E AMEAÇAM A HEGEMONIA DOS GRANDE CLUBES GUILHERME ABREU VICTOR FERREIRA 3º PERÍODO Nos últimos anos, os clubes do interior de Minas Gerais vêm chamando a atenção não só pelas boas colocações alcançadas ao fim do Campeonato Mineiro, mas também pelo bom futebol apresentado. O desempenho surpreendente é atribuído pelos clubes, ao grande planejamento, à melhora na estrutura e ao tempo maior de preparação, no início do ano. Neste ano, Ipatinga e Ituiutaba foram os clubes que fizeram as melhores campanhas entre os times do interior mineiro. O Ituiutaba lamenta a derrota para o Democrata de Sete Lagoas, na ultima rodada do campeonato. O tropeço fora de casa, somado à vitória do América em cima do Democrata de Governador Valadares, no Independência, fez com que o time ficasse de fora da fase final do Mineiro. Segundo o jornalista esportivo da Rádio Cancela de Ituiutaba, Edmar Mariano, a cidade já estava mobilizada achando que o Ituiutaba conseguiria se classificar. “O povo abraçou a causa e torcia para que o Ituiutaba conseguisse a classificação. Os torcedores têm um grande respeito pela diretoria, já que desde que o time se profissionalizou, em 98, o Ituiutaba vem crescendo de produção e superando as expectativas. Fica agora a esperança de bons resultados na Série C do Brasileiro”, explicou. O Ipatinga manteve a boa escrita do ano passado e confirmou sua passagem para o quadrangular final do campeonato, terminando a primeira fase em primeiro, à frente de Cruzeiro, Atlético e América, respectivamente. Desta forma, o time assegurou a vantagem de jogar o segundo jogo da fase final em casa. O gerente administrativo do clube, Ademar Teodoro, atribui a boa fase e os bons resultados à boa estrutura do Ipatinga, ao grande planejamento executado, a manu-
tenção da base de 2005 e ao empenho dos jogadores nos treinamentos. Começamos a trabalhar dois meses antes do que todos os outros clubes do campeonato, mantivemos a base do ano passado e com certeza pretendemos lutar pelo título novamente este ano”, afirmou Teodoro. O Ipatinga, juntamente com América e Ituiutaba, serão os representantes mineiros na Série C do Campeonato Brasileiro, que começa no segundo semestre. Bons Resultados Em 2002, a Caldense, sagrou-se campeã, quebrando uma hegemonia de 42 anos de títulos conquistados somente por times da capital. Na época, o Campeonato Mineiro só contou com a participação dos times do interior, já que os três “grandes” de Belo Horizonte disputavam a extinta Copa Sul-Minas. Os melhores classificados disputaram o Supercampeonato Mineiro com os times da capital. O diretor de futebol da equipe de Poços de Caldas, Luís Antônio Fonseca, afirma que a “Veterana” alterna bons e maus momentos nos Mineiros disputados. Ele destaca a conquista de 2002, porém não se esquece da campanha de 2004, quando o time terminou a primeira fase em quarto lugar na tabela, e foi considerada a equipe campeã do interior. No ano passado, o Ipatinga, clube considerado uma “filial” do Cruzeiro, e então com apenas sete anos de fundação, teve ajuda essencial de sua “matriz”. Para a disputa da competição, o time celeste emprestou 17 jogadores para o time do interior, além da comissão técnica, liderada pelo técnico Ney Franco, ex-comandante das categorias de base do clube da capital. Ironicamente, na final, o Ipatinga enfrentou o Cruzeiro. No primeiro jogo, empate por 1 a 1, no Ipatingão e no jogo de volta, o Tigre do Vale do Aço deu show e conseguiu uma vitória incrível por 2 a 1, em pleno Mineirão e conquistou o primeiro título de sua curta, mas promissora história.
Veteranos são trunfo das equipes mineiras Na contramão do mercado nacional da bola, que tradicionalmente revela craques e os negocia com clubes do exterior, as equipes que disputam o Mineiro apostam suas fichas em jogadores experientes. Este ano, o zagueiro Wellington Paulo e o atacante Euller voltaram a vestir a camisa americana e são alguns dos
principais responsáveis pela campanha que levou o time à classificação para as semifinais do torneio. O Galo manteve os jogadores vindos da base como estrutura principal do time titular. Contudo, o técnico alvinegro, Lori Sandri, sugeriu a contratação do zagueiro Marcos, seu ex-comandado no Paraná Clu-
be. O ataque foi reforçado com as contratações de Alberto e Jamelli, ex-santistas, que há anos estavam na Europa. O Cruzeiro foi a equipe que mais investiu em contratações para esta temporada. Dentre elas, se destaca o centroavante Élber. No interior, o Uberlândia conta com Elivélton (ex-Cruzeiro). O Democrata de Sete La-
goas, que revelou João Carlos (ex-Corinthians e Cruzeiro), conta novamente com o zagueiro. Já o Ipating, dispõe de Rodrigo Posso (ex-Cruzeiro) e dos gols de Camanducaia (exSantos). O Guarani tem Agamenon, o URT, o artilheiro Ditinho, e o Villa Nova trouxe Donizete Amorim (ex-Cruzeiro) de volta ao futebol mineiro.
Arquivo O Ponto
Mineirão entra na onda do Grande Irmão ESTÁDIO INVESTE EM CÂMERAS PARA TENTAR MELHORAR SEGURANÇA LUISA SILVEIRA LUDMILLA RANGEL 3º PERÍODO
Estádio Magalhães Pinto recebe câmeras para vigília constante
A maioria dos freqüentadores do Estádio Governador Magalhães Pinto, mais conhecido como Mineirão, já se sente mais tranqüila durante os jogos realizados no estádio. No dia 7 de fevereiro, foi inaugurado o novo sistema de monitoramento do Mineirão, que se tornou o primeiro estádio em Minas Gerais a utilizar a tecnologia. O estádio foi equipado com 17 câmeras de vigilância interna e externa a fim de combater a violência, trazendo conforto e segurança aos torcedores. O monitoramento eletrônico capta a movimentação dos freqüentadores, atendendo a recomendação do Estatuto do Torcedor, que estabelece a necessidade de monitoramento nos estádios com público superior a 20 mil pessoas. As câmeras se encontram nas bilheterias, no estacionamen-
to, no hall principal e nas avenidas de acesso em torno do estádio, possibilitando também o monitoramento dos ônibus. Uma das vantagens deste sistema é auxiliar a ação da Policia Militar, identificando e inibindo possíveis infratores. O diretor de infra-estrutura do Mineirão, Ricardo Raso, diz que toda a ação da ADEMG (Administração dos Estádios de Minas Gerais) tem como base, o binômio segurança e conforto para seus usuários. Segundo dados do órgão, poucas ocorrências foram efetivadas no último mês - a maioria delas é devida à perda de documentos e desacato à autoridade. As ocorrências criminais diminuíram de quatro por jogo, para uma em cada dois jogos. “A nova instalação não tem como princípio aumentar o número de freqüentadores, mas sim promover uma melhor estadia dos mesmos”, afirmou o diretor. A Comissão de Monitora-
mento da Violência em Eventos Esportivos e Culturais (COMOVEEC), formada pelo Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Militar, Juizado Especial Criminal, Juizado da Infância e da Juventude, Federação Mineira de Futebol, BHTrans e Corpo de Bombeiros, foi responsável pelo projeto de monitoramento no Mineirão e já registrou redução de mais de 70% nas ocorrências criminais. O objetivo desta implantação é garantir uma maior rapidez nos processos junto à ação da Polícia Militar. O torcedor Victor Coliva de Oliveira acredita na eficiência das câmeras. “Com elas é mais fácil identificar os falsos torcedores que vão aos estádios para brigar e não pra torcer. Assim é possível puní-los, deixando o estádio apenas com aqueles que realmente querem torcer, e evitando que os times sejam obrigados a jogar com portões fechados”, explicou. O assessor da Polícia Comunitária, capitão Cláudio Jo-
sé Dias, e o superintendente de Integração de Defesa Social, Genlison Ribeiro Veferino, dizem que o novo sistema de segurança potencializou a atuação preventiva da polícia, porque inibe possíveis vândalos que freqüentam o estádio, ajudando à trazer de volta as famílias para o Mineirão. Eles relatam que no dia do jogo de estréia, houveram 13 conduções à delegacia ADIDA - localizada dentro do Mineirão e apreensão de 4 artefatos (bombas caseiras). O diretor responsável pela torcida organizada cruzeirense Facção Independente, Aldo Cardoso Junior, o Tuti, diz que as câmeras não fazem muita diferença dentro do estádio, principalmente, porque os ladrões roubam e se misturam ao público. Desta forma, até a polícia chegar no local, o ladrão já desapareceu. Entretanto, Tuti afirma: “Tenho 12 anos de Mineirão e acredito que hoje ele está bem melhor do que há alguns anos atrás.
16 - Cultura - Camila Guimaraes
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Arquivo Pessoal Cuia Guimarães
CULTURA EM MINAS FALTA DE OPORTUNIDADES E RECURSOS ASSOMBRA CLASSE ARTÍSTICA MINEIRA
Cenas de gravação do curta-metragem, de direçao e roteiro de Pablo lobato ,“Aranha” (nome provisório), filmado com recursos do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura
DANIELA DE CASTRO LÍGIA RISPOLI 6º PERÍODO Cena um. Tomada um.Cenário: Produção cultural em Minas. Dá-se início à filmagem de mais um projeto que, depois de ter passado sob o crivo da burocracia que permeia a política pública de cultura em Minas, finalmente sai do papel. Apesar dos adiamentos iniciais, produtores, diretores e artistas estão otimistas quanto à expansão do mercado cultural mineiro, principalmente após a criação das leis federais, estaduais e municipais de incentivo à cultura, a partir da década de 90. O economista e consultor Francisco Caram acredita que 70% da produção cultural mineira dependem desses incentivos no momento. Mesmo que apresentem limitações, Caram os defende. “Os projetos culturais não são prioridade para nenhum governo em nosso país. O problema é que o fomento à cultura depende imensamente dessas leis hoje”, critica. Uma contradição das leis de incentivo é o fato de o setor cultural demandar recursos e a sustentação das leis ocorrer por meio da transferência fiscal. “ A falta de re-
cursos é uma das principais dificuldades enfrentadas pelos que estão empenhados na gestão cultural. O setor privado é apontado como opção no financiamento de projetos em troca de redução ou isenção de impostos”, explica Caram. Belo Horizonte implantou sua lei de incentivo à cultura em 1993. Os empresários podem patrocinar projetos culturais à sua escolha, em valores equivalentes a, no máximo, 20% dos débitos mensais referentes ao Imposto Sobre Serviços (ISS). A lei estadual recebe isenção do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) e a federal do Imposto de Renda. Outra fonte de recurso para o fomento a cultura provém do Fundo de Projetos Culturais, da esfera municipal, que aplica seus recursos em projetos experimentais ou comunitários, que não tenham facilidade de conseguir patrocínio. Dificuldades Segundo Caram, o setor de captação de recursos se profissionalizou e foi carterizado. “Os grandes patrocinadores estão atrelados às empresas especializadas neste serviço. As dificuldades de obtenção de verbas se encon-
tram na captação de bons patrocinadores”, explica . Outra dificuldade enfrentada pelo setor é apontada pela produtora de cinema Márcia Valadares. Segundo ela, o ponto fraco, não só em Minas Gerais como em todo o país, é a distribuição comercial das produções audiovisuais, que é dificultada pela pouca possibilidade de exibição e a restritação aos circuitos de mostras/festivais. Já Caram acredita que uma melhora na política pública de cultura no Estado traria divisas, fomentaria o turismo e projetaria a cidade. O presidente da Associação Curta Minas, Cláudio Constantino, acredita que há muito ainda a ser feito. “É necessária uma mudança de mentalidade do setor empresarial, para que este reconheça o investimento em cultura. Diria que viver é uma coisa e sobreviver é outra. Ainda é difícil viver de arte em Minas ou no Brasil. Poucos conseguem”, desabafa Constantino. Para ele, muitos projetos não são captados devido à dependência das leis de incentivo. “Só o fundo municipal, que é o incentivo direto, não dá conta. A criação do fundo estadual pode ser um suporte importante para o setor”, conclui.
Editais e concursos são opções de produção Outras formas de incentivo disponibilizadas pelos governos e empresas privadas são os editais e concursos. Constantino explica que os de origem federal dependem sempre do cronograma de liberação dos recursos por parte de outros ministérios, como Fazenda e Planejamento e, quando há atraso, os editais não são lançados ou estão sujeitos a variações, seja de número de beneficiados ou de valor dos prêmios. Para Clarissa Campolina, diretora e uma das fundadoras da TEIA, que é um coletivo de pesquisa, criação e produção audiovisual, os concursos disponíveis para a produção cultural são propostas interessantes para os artistas, uma vez que proporcionam liberdade de criação. “Esses concursos podem ser bons se considerarmos que não é necessário ir à empresa captar recursos, o que permite que seu projeto possa manter-se autoral”, afirma Clarissa.
Flores e espinhos Maria Maria. Prelúdios. Missa do Orfanato. Benguelê. A trajetória da companhia de dança contemporânea mineira, Grupo Corpo, fundada em 1975 a partir do ideal de seis irmãos e alguns amigos, nem sempre foi de flores, mas sim passou por momentos de espinhos e dificuldades. “A falta de dinheiro, em muitos momentos, criou embaraços que foram driblados com espírito de sacrifício temporário. Éramos obstinados, teimosos”, lembra Cristina Castilho, uma das fundadoras da companhia, sobre os principais obstáculos os quais tiveram que superar. “Foram anos de muito trabalho, mas tivemos um surprendente e enorme sucesso com o nosso primeiro espetáculo, Maria Maria, o que nos possibilitou consolidar o Grupo”, acrescenta Cristina. O Grupo Corpo de Dança é uma exceção à regra em um cenário cultural, que não oferece oportunidades para que artistas vivam de seus trabalhos. Atualmente, conta com um corpo de baile de 22 bailarinos e visibilidade nacional e internacional. A busca incessante por uma identidade vin-
culada a uma idéia de cultura nacional, reflete-se em cada espetáculo produzido pela equipe, que mescla dança clássica, folclore e danças de rua. Segundo Cristina, o Corpo faz, habitualmente, uma turnê nacional de dois meses e duas ou três internacionais, numa média de 85 apresentações por ano. A artista plástica mineira Luciana Lírio concorda com a afirmação de que é possível viver de arte no Brasil, o que, também, é compartilhado por Cristina Castilho, quando questionada sobre o assunto. “Os nossos 30 anos de estrada respondem esta pergunta”. Quanto às dificuldades na captação de verbas para produzir os espetáculos, hoje já não as têm. “Somos patrocinados pela Petrobrás, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura”, afirma. Para um grupo de dança de reconhecimento internacional, não faltam empresas dispostas a oferecer patrocínio, em troca de benefícios fiscais e projeção nacional.“O que importa é que temos sido bem acolhidos e aplaudidos em toda parte”, conclui Castilho.
Existe vida pós-campanha de popularização? CLASSE TEATRAL AFIRMA QUE OS TEATROS SÃO ESVAZIADOS APÓS FIM DO EVENTO Rafael Barbosa
LEONARDO FERNANDES LUIZA DE SÁ 5º PERÍODO
O diretor e ator Carluty Ferreira contesta o funcionamento da campanha de popularização
A 32ª edição da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança ultrapassou a marca de 220 mil espectadores em relação ao ano passado. Foram apresentados 104 espetáculos no período de 5 de janeiro a 26 de fevereiro. Este mesmo número só foi atingido em 2005, após a campanha, ao longo de dez meses e com muita dificuldade. Diversas razões são atribuídas ao esvaziamento dos teatros no decorrer do ano. Para o diretor de teatro Pedro Paulo Cava, a campanha viciou um tipo de público a ir ao teatro nos dois primeiros meses do ano. Segundo o di-
retor, uma alternativa para que o teatro não seja esvaziado no pós-campanha é que existam, o ano inteiro, ingressos de peças a preços populares, que possibilitem um maior acesso ao teatro. De acordo com o ator, produtor e diretor, Carluty Ferreira, um grande problema é o fato de surgirem espetáculos somente para a Campanha, com a única finalidade de entrar neste evento. “Este fato pode contribuir para a falta de oferta de peças no período pós-campanha”, explica. Falta de investimento Outro grande problema é a falta de investimentos do poder público no setor cultural. “O governo tem que assumir sua obrigação de formação e educação da sensi-
bilidade, da inteligência refinada do cidadão e dar condições de trabalho para o artista ao longo do ano”, afirma a diretora teatral Rita Clemente. “A popularização funciona durante dois meses e no restante do ano, continuamos nossa saga elitista”, completa. A diretora lembra ainda que, com exceção das apresentações gratuitas nas ruas, a maioria dos espetáculos teatrais e de dança, em Belo Horizonte, conta com um público de classe média. Só quem tem acesso financeiro, tem o hábito cultural de freqüentar o teatro, já que o preço do ingresso está cada vez mais elevado e os espetáculos se concentram na região centro-sul da capital. Segundo ela, a Campanha já não cumpre seu papel de popularização.