01 - Capa - Léo F.
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Samuel Aguar - 4º Período
Denúncia de agressões: um passo para o fim da violência doméstica.
Analise de Jesus explica o que é a “aula diferente”.
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
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D I S T R I B U I Ç Ã O G R AT U I TA
Minas de destruição COM UM SUBSOLO RICO EM MINÉRIO, SERRA DA PIEDADE TORNA-SE ALVO DE MINERADORAS Lígia Ríspoli - 8º Período
A Serra da Piedade, localizada nos municípios de Sabará e Caeté, é considerada patrimônio natural, histórico, cultural, paisagístico e religioso de Minas Gerais , porém está ameaçada pela exploração de minério. O pároco do Santuário Nossa Senhora da Piedade vem sofrendo pressões de setores políticos e econômicos por lutar contra a exploração na Serra. Essa luta, juntamente com entidades de proteção ao meio ambiente, se intensifica com a aprovação da lei 16.133/06, considerada por esse setores “fraudulenta”, porque altera os limites de preservação da Serra da Piedade, abrindo mais espaço para a atividade minerárária. A mineração também é tema de discussão em Conceição do Mato Dentro (MG), sobre a construção de um minerioduto, uma vez que a cidade, após enfrentar esses problemas no passado, investe agora no turismo ecológico.
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TV Pública: necessidade ou interesse
Vista da mina da Brumafer, ao pé da Serra; são evidentes os impactos que a mineração tem causado por mais de 40 anos e a incompatibilidade com o meio ambiente Arquivo O Ponto
A chamada política de ressociabilização vem sendo tema de discussões polêmicas entre os especialistas no assunto. Programas de trabalho e estudo dentro das penitenciárias propõem a substituição do caráter punitivo das detenções pelo valor educativo, dando possibilidade ao detento de, quando em liberdade, integrar-se à sociedade como for-
Nomeado Ministro da Comunicação Social pelo presidente Lula, o jornalista Franklin Martins reacende a discussão sobre a criação de uma rede de TV Pública para o Brasil. O debate ganha força com a promessa do governo Lula de democratizar os meios de comunicação no Brasil, mas já levanta preocupações entre a categoria: “a proposta é de uma TV pública ou apenas de fortalecer uma estrutura estatal de TV, voltada aos interesses do Governo Federal em dar publicidade a suas ações?”.
ça de trabalho produtiva e não mais no mundo do crime. Tais políticas refletem uma situação alarmante no setor penitenciário brasileiro. Recentes pesquisas divulgaram que de cada dez detentos colocados em liberdade, sete voltam a cometer crimes, e reforçam a necessidade do trabalho educacional para os mais de 250 mil presos das penitenciárias brasileiras.
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Rugby quer Museu da ganhar BH Esquina
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Em defesa da profissão Os jornalistas de todo o país convivem desde 2001 com a ameaça do Supremo Tribunal Federal (STF) de desregulamentação da profissão. O decreto de lei que regulamenta a profissão de jornalistas desde 1969 está provisoriamente suspenso por uma decisão da juíza Carla Rister, da 16ª Vara Cível da Justiça Federal em São Paulo. Atualmente, diversas entidades ligadas à categoria se organizam em torno da luta pela defesa do diploma para os cursos de jornalismo do país.
70% dos detentos voltam para a prisão
SINAL VERMELHO Grandes metrópoles do país se transformam em palco para o trabalho infantil nas ruas. Só em Belo Horizonte, 729 crianças trabalham ilegalmente, em pontos como os semáforos, onde balas são oferecidas aos motoristas que param nos sinais.
O Rugby, esporte de origem anglo-saxônica, vem ganhando espaço no Brasil graças ao empenho de estrangeiros, imigrantes no país. O esporte reúne em Belo Horizonte integrantes de diversas nacionalidades em um só time. O BH Rugby é o único time da capital mineira e conta com esportistas de vários lugares do mundo, normalmente países onde o esporte é popular. Em Minas há cerca de sete times. Segundo a diretoria do BH Rugby, o primeiro time de Minas surgiu em Varginha, em 1995, oito anos antes de chegar em BH.
Música, política, cachaça, boemia. Interesses em comum que fizeram, nos anos 60, com que Milton Nascimento e os irmãos Lô e Márcio Borges marcassem a história da música brasileira com o Clube da Esquina. Hoje, um sonho idealizado por Lô Borges e sua esposa torna-se realidade. É o museu Clube da Esquina, um museu virtual que conta a história dos amigos que fizeram barulho pela ruas de Minas. O grupo de amigos que fez nomes como Flávio Venturini, Beto Guedes e Toninho Horta está há mais de 40 anos separado, mas unido pela música.
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02 - Opinião - Daniel Gomes
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O P I N I Ã O
Belo Horizonte – Maio/2007
Cristina Barroca - 6º Período
Os custos do desenvolvimento LÍGIA RÍSPOLI 8º PERÍODO O advogado de uma empresa mineradora entrevistado para a matéria de capa de O Ponto utilizou um argumento de que a defesa da natureza depende do homem. Não sei se ele quis dizer se por causa disso a mineradora deveria continuar ou se deveria parar. É uma frase, a meu ver, ambígua. Se a preservação da natureza só pode existir por ser um conceito exclusivamente humano, mais um motivo para preservar: do ponto de vista antropocêntrico, ou seja, o homem, como o centro do universo, deve saber da importância de preservar a natureza para sua sobrevivência. Podemos discorrer sobre diversos pontos de vista: dos animais, da Terra vista do universo, da água escassa, das ciências, não importa. Mas não podemos perder o foco: a natureza não vai suportar por muito tempo as alterações com os atuais ritmos de produção. Não podemos mais nos dar aºo luxo de ler sobre impacto ambiental e simplesmente fechar os olhos. É necessário ir além: o que eu consumo que não me faz falta? Onde estou desperdiçando? Isso sob uma esfera privada, porque jogar tudo nas costas dos civis não vai resolver tudo.
TV digital traz benesses para publicidade
É aí que entra o poder político, para garantir a preservação ambiental e punir exemplarmente quem desrespeita, para não permitir que uma empresa de mineração ache ser um direito fazer lobby da maneira como quer na esfera política, para que uma mineradora não queira negociar com terras como se fossem... nada. Um ponto de vista que, felizmente, aos poucos começa a tomar forma nos jornais mundiais: falar do meio-ambiente exige pensar em qualidade de vida e sobrevivência, em ser cidadão, exigir direito à vida e fazer cumprir os deveres sociais. E, já que está tudo interligado, não nos esqueçamos de que a sociedade e as empresas mineradoras são formadas por milhares de indivíduos; não existe uma meta inalcançável. A propósito: nota zero para a mineração e o seu fraco argumento de que é preciso explorar a qualquer custo, como se apenas o lucro pudesse ditar todas as regras sociais. Não quero esperar que um outro poeta gauche confidencie ser triste e orgulhoso por ser feito de ferro, pelas calçadas de sua cidade serem de 90% ferro e as almas também de 90% ferro. E, como ele lembra, “Itabira é apenas uma fotografia na parede./Mas como dói!”.
Obesidade é reflexo de má educação PEDRO HENRIQUE LOBO 2º PUBLICIDADE É comum hoje encontrarmos propagandas de alimentos destinadas somente ao público infanto-juvenil. Com isso, estamos vendo um quadro crescente de obesidade nesse público-alvo. A situação é bastante preocupante, já que o consumo desses alimentos está diretamente ligado a essas propagandas, que têm um alto nível de influência sobre os as crianças. Será que estas programações das mídias estão adequadas? E será que o consumo não está excessivo? Pesquisas feitas nos Estados Undios no ano de 2006 revelam que aquele país corre sérios riscos de sofrer uma epidemia de obesidade. O estudo mostrou também que crianças, especialmente com menos de seis anos, entram no grupo de risco. Essas crianças estão sendo influenciadas pela enxurrada de propagandas de alimentos como refrigerantes, snacks e fast-foods, já que no lá são encontradas várias inovações nesse ramo. No Brasil, cerca de 89,7% das propagandas alimentícias veiculadas no horário de maior visibilidade infanto-juvenil são de alimentos com alto índice de gordura e açúcar, segundo o Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição. Mas
o país hoje adota um sistema apenas regulador, onde é moderada a comercialização de alguns produtos no interior de escolas, como guloseimas e alimentos industrializados. Mas são esquecidas as influências midiáticas sobre as crianças quando assistem à TV ou navegam na internet. Mas a culpa não está somente com os meios de comunicação. A má orientação dos pais e educadores no processo de educação alimentar está presente no mundo inteiro. É importante o acompanhamento diário das refeições das crianças, principalmente longe dos olhos dos pais. Cerca de 98% dos pais brasileiros se dizem preocupados com a alimentação dos filhos, mas 60% não sabem o que eles comem na escola. Isso deixa a criança propícia à persuasão da propaganda e ao consumo do produto. Os governos deveriam adotar sistemas mais rígidos de controle. Países como a Finlândia proíbem propagandas promocionais (que oferecem brindes). Não só os finlandeses, mas outros países já adotaram práticas mais saudáveis para as propagandas alimentícias. Eles já perceberam que a inexperiência e a credulidade do público infantil é grande, e se torna ainda maior sem a devida orientação.
ALINE LAYOUN 2º PUBLICIDADE
Estudar é preciso; ser crítico também DANIEL GOMES 8º PERÍODO “Tenho um colega no curso de Farmácia que veio da área de comunicação. Vira-e-mexe ele pergunta aos professores a razão disso ou o porquê daquilo. O pessoal fica achando que ele é meio esquisito, pois fica questionando coisas óbvias, que são do jeito que sempre foram”. Essa frase foi dita por uma estudante de Farmácia da UFRGS no 3º ano em uma conversa comigo. Imediatamente questionei-a se o curso tem alguma cadeira onde se discuta Ética ou coisas afins. A resposta foi não. Indaguei então se eles discutem isso ao menos fora da sala. “Vocês discutem a decisão do Lula de quebrar a patente do medicamento contra a Aids?”, perguntei. “Não. No máximo algo tipo ‘bah, tu viu aquilo?’. ‘Bah, vi’, e fica por isso mesmo”, ela respondeu. Não só de estudo de boa qualidade vive um cidadão comprometido com a comunidade em que vive e o país em que nasceu. Quando se fala em um comunicador social crítico, mote do curso de comunicação da Fumec, na realidade dever-se-ia dizer profissional crítico.
Essa colega do Sul reclamou que o curso é muito voltado à técnica e que ela se encontrou lá dentro apenas quando lidou com seres humanos. Ora, pois, todo curso e toda profissão têm, em maior ou menor grau, o contato com as pessoas. Daquela profissão dependem vidas da mesma forma que aquela profissão depende da vida de outrém. Desta forma, é fundamental aliar o domínio da técnica ao questionamento sobre o fim a que se propõe o uso daquela técnica. Vivemos tempos inescrupulosos, é verdade, mas por mais que as pessoas sejam antiéticas, é importante saber o que é certo e o que é errado, e é importante também saber sob que circunstâncisa se julga o que é certo e o que é errado. O cidadão, o contribuinte de uma sociedade melhor, é aquele que utiliza os seus conhecimentos, sejam eles básicos ou de nível superior, para a melhoria da vida das pessoas. Saber, qualquer um pode. Basta estudar. Ser um ser humano melhor já é algo mais difícil. Isso começa a partir do momento em que se acorda de manhã e surge a seguinte pergunta: “Por que as coisas são como são?”. Se não gostar da resposta a que chegar, reaja. Ainda há tempo de mudar.
Violência no campo FREDERICO MESQUITA 8º PERÍODO Em mais uma demonstração de total despreparo psicológico para comandar a segurança de um evento, a PM mineira foi protagonista de um novo absurdo exagero de violência contra pessoas de bem, pelo menos até que se prove ao contrário. No domingo, após o grande clássico da final do campeonato mineiro 2007, onde o Atlético sagrou-se campeão frente a seu arqui-rival Cruzeiro, um princípio de tumulto chamou a atenção. O Galo fazia a festa no gramado quando, de repente, um tumulto no túnel que dá acesso ao campo do Mineirão mudou o foco das comemorações. O atual presidente do Atlético, Ziza Valadares, percebeu que seus convidados, os da diretoria e dos jogadores, estavam sendo barrados no túnel e tentou argumentar com os policiais para que permitisse a entrada dos mesmos. O mais inusitado é que uma dessas pessoas impedidas de subir era o ex-presidente do Galo Ricardo Guimarães, que não
deveria ser considerado e tratado como um estranho que não foi convidado para a festa. Os PMs alegaram que as pessoas que não possuíssem credencial não iriam passar. Logo em seguida, disseram que estes só passariam sob a responsabilidade do presidente alvinegro, que a assumiu perante as câmeras. Mas a PM começou a bater deliberadamente em todo mundo, mulheres, meninas, inclusive em Ricardo Guimarães e no próprio Ziza. Vale lembrar também o episódio de violência do jogo entre Vila Nova e Cruzeiro, ocorrido em 4 de fevereiro deste ano, no estádio Castor Cifuentes, em Nova Lima, onde 54 pessoas ficaram feridas, incluindo crianças e mulheres. Na ocasião, o governador Aécio Neves, admitiu que houve excesso na atuação da PM e informou que providências teriam que ser tomadas, mas nada foi feito até o momento. Não dá mais para aceitar estas atitudes ensandecidas e injustificáveis que a PM da capital vem promovendo já há algum tempo. Chega de impunidade. Onde estão os culpados? A sociedade exige respostas!
O tema TV Digital tem sido um dos mais discutidos no Brasil desde 2002. A maioria dos brasileiros não domina o palavreado utilizado nas reportagens referentes ao assunto. Visitando alguns sites de perguntas e respostas na internet, deparei-me com dúvidas que nos parecem muito simples como: “o que muda em minha vida com a TV digital?” ou, ainda: “eu vou ter que trocar minha TV por uma nova?”. A TV que cada um tem em casa não precisa ser trocada. A pessoa terá que comprar um adaptador, conhecido como set-top box, que permitirá que sua TV receba sinal digital. Qualquer TV será compatível com o aparelho, desde que tenha entrada para DVD ou videocassete. O preço do adaptador varia entre R$ 300 e R$ 800. Se o consumidor, no entanto, não quiser comprar um adaptador, poderá assistir normalmente à programação aberta na sua TV atual, pois a previsão de tempo para migração do sistema analógico para o digital é de 10 anos. Até lá, as emissoras são obrigadas a manter a transmissão normal. No campo da publicidade, a interatividade da TV digital apresenta um papel fundamental. Se você, estudante de publicidade, ouviu falar que a propaganda será extinta com a implantação dela, pode ficar despreocupado. Pelo contrário, ela deve criar um relacionamento muito mais próximo entre uma marca e o comprador. Como isso acontece? Num comercial, por exemplo, o telespectador poderia ser convidado a entrar num anúncio para saber mais sobre um produto. As informações extras seriam mostradas diretamente na tela. Ao usar o controle remoto, o telespectador poderia, ainda, efetuar a compra dessa mercadoria. O padrão japonês (ISDB – sigla em inglês para Transmissão Digital de Sistemas Integrados), escolhido para ser implantado no Brasil, é o único dos padrões que já estava pronto para transmissões para dispositivos portáteis (receptores em carros) e móveis (celulares). Além disso, Lula orientou seus ministros a negociarem com o Japão para que o anúncio da escolha produzisse ganho político em ano eleitoral. Os japoneses concordaram ainda com a implantação do padrão de forma mais lenta, o que diminui os custos para o consumidor, pois poderá manter sua TV. O que podemos concluir é que a TV digital vai ser boa para todo mundo. E a escolha pelo padrão japonês foi boa para Lula, é boa para a Globo e, por sorte, é boa para o povo, mesmo que haja opiniões divergentes quanto a isto.
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
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03 - Política - Dani e Camila
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Em busca de uma TV pública
Ilustração - Camila Piovesana
A PROPOSTA DO GOVERNO DE CRIAR UM CANAL DO EXECUTIVO REABRE POLÊMICA SOBRE DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO CAMILA GUIMARÃES DANIELA DE CASTRO SILVA 8º PERÍODO A proposta do presidente Lula de se criar uma rede pública de televisão desperta debates com diversos setores da sociedade civil, Congresso, TVs privadas, órgãos de imprensa e categorias sindicais em prol da discussão acerca da democratização dos meios de comunicação. O anúncio ganhou força após a nomeação do jornalista e comentarista político Franklin Martins, no final de março, como ministro responsável pela comunicação social do Governo federal. Em matéria no jornal Estado de São Paulo, estima-se um investimento de R$250 mil para implantar a rede. Prevê-se que a TV do Executivo, como será chamada, entre em vigor até o final deste ano. Mas, dúvidas pairam no ar, em relação à conceituação, tipo de gestão e financiamento desta rede nacional. O professor de telejornalismo da Fumec, Alexandre Campello, esclarece que uma
emissora pública de televisão é, por princípio, administrada sem a interferência das esferas do Estado, de maneira democrática, e atende, exclusivamente, ao interesse público. Contudo, diante do anúncio do presidente Lula, surge uma incógnita se a proposta é de ter um sistema público ou apenas fortalecer uma estrutura estatal de TV, voltada aos interesses do Governo federal em dar publicidade as suas ações. “Um bom exemplo disso, em Minas Gerais, é a Rede Minas onde, mesmo com o papel educativo e cultural desempenhado em momentos significativos de sua programação, a emissora se mostra totalmente refém aos interesses do Palácio da Liberdade e do governador”, critica Campello. Em entrevista à Agência Brasil, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, afirmou que o objetivo da TV do Executivo é mesmo prestar serviço público e expandir o sistema já existente, integrado pela Empresa Brasileira de Radiodifusão - Radiobrás. Sobre o financia-
mento, o governo cogita a possibilidade de trabalhar com patrocínio privado, como a TV Cultura de São Paulo, ou aos moldes da BBC inglesa. A Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), representante do setor privado, apóia a decisão com ressalvas, pois teme que a rede pública, ao invés de complementar, invada o espaço das emissoras comerciais. O presidente da Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas (Astral), Rodrigo Lucena, contesta a resistência por parte das emissoras comerciais, que já consolidadas e voltadas para o entretenimento, diferem da TV pública, cujo foco está na educação, no debate e no jornalismo com profundidade. Já o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murilo, defende que a rede pública é sinônimo de democratização dos meios de comunicação e vem para romper com o monopólio dominado por algumas famílias, pela igreja e por grupos políticos.
BBC é um exemplo de rede pública Na discussão de como seria a rede pública de TV mais adequada para ser implantada no Brasil, o ministro Hélio Costa cita o exemplo da British Broadcasting Corporation (BBC), responsável por empregar cerca de 20 mil funcionários, com receita de R$12 bilhões anuais. Maya Santana, jornalista e ex-editora chefe da BBC Brasil, acredita na qualidade editorial do conteúdo divulgado. Quanto ao modo de financiamento, em que os cidadãos pagam uma anuidade, torna o veículo “independente do governo e dá ao espectador mais poder para interferir na programação”. Santana alerta que não caberia neste momento, no Brasil, criar mais uma taxa para financiar este novo canal, que então deverá ser financiado pelo governo. “Portanto, será um canal estatal, muito diferente da BBC”, conclui a jornalista.
Ministro aposta na TV Digital Daniela de Castro Silva - 8º Período
O senador e ministro das Comunicações, Hélio Costa, acredita que a comunicação no Brasil está no limiar de uma grande revolução tecnológica. “É o fim da TV da forma que conhecemos hoje”. Para ele, a chegada da TV digital no país vai democratizar os meios de comunicação, por permitir a reserva de quatro canais que colocarão em prática a rede pública. Um deles será voltado para um conteúdo educativo, outro para difundir a cultura brasileira, a TV do Executivo, e o último que ele considera mais relevante, o canal da comunidade. Este último será voltado para a regionalização da programação, com produção e divulgação de conteúdos locais. Costa expôs essas opiniões durante o Fórum de Debates organizado no início de maio, pelo Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJPMG). A Hélio Costa discute particularidades do sistema digital em BH
discussão mediada pelo presidente licenciado do Sindicato, Aloísio Lopes, girou em torno do tema o “Novo cenário da comunicação brasileira – Lei geral – Tecnologia digital e Rede Pública de TV”. O ministro acredita que o Decreto nº 5.820, que dispõe sobre a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre, SBTVD-T, e estabelece diretrizes para a transição da transmissão analógica para o digital, permitirá que todos tenham acesso a uma TV diversificada, pluralizada e democratizada. Costa ainda adianta que até janeiro de 2008, o sistema digital e a rede pública de TV já estarão implantados em Belo Horizonte e que, em 10 anos, as pessoas terão em casa um terminal onde terão acesso a TV, rádio, internet e telefone, convergidos no mesmo aparelho.
“Seria difícil no Brasil” O correspondente da Globo News em Londres, Jader de Oliveira, trabalhou na rede BBC inglesa por 30 anos. De seu currículo ainda consta uma passagem pela revista Veja, pelo O Globo, pelo Corrreio Braziliense e Estado de Minas, onde também atuou como correspondente. Direto da capital inglesa, o jornalista concedeu entrevista por e-mail para O Ponto. O PONTO: Como foi sua experiência na BBC inglesa? Jader de Oliveira: Eu trabalhei na BBC de 1968 a 1999, que significou uma excelente experiência profissional e humana. Na época, era uma seção formada por apenas 11 profissionais contratados e uns cinco colaboradores. As nossas transmissões iam ao ar à noite, mantendo uma tradição que vinha da época da II Guerra Mundial. Hoje, a BBC possui boa posição na internet. Atua como excelente agência de notícias e fornece material para emissoras de rádio e televisão. O P: Qual a diferença entre uma TV pública como a BBC de Londres e outra estatal? J.O: A BBC é uma organização pública de mídia e inteiramente singular. O governo tem poderes para escolher o presidente, mas aí cessa tudo. O que pesa mesmo é a junta de governadores, que escolhe o diretor-geral. Este é o verdadeiro administrador da rede e deve ser alguém da área, com longa experiência em televisão e rádio. Tentativas de interferência do governo na BBC têm sido rechaçadas vigorosamente. A mais recente se refere à cobertura do suicídio do cientista David Kelly, que denunciou a forma com que o governo manipulou as informações sobre a possível existência de armas de destruição em massa no Iraque. A TV estatal, por outro lado, é sempre tida como uma peça de propaganda do governo do dia. A melhor solução foi encontrada pela Espanha. Lá, a TVE era uma caixa de ressonância do governo. O atual governo resolveu o problema de credibilidade dando ao Parlamento a escolha da direção da emissora. O P: O senhor acredita que é possível implantar no Brasil uma TV pública aos moldes da inglesa? J.O: Acho difícil instalar no Brasil ou em qualquer outro país. Seu sistema (BBC) é único, aprimorado ao longo do tempo com grande acompanhamento do público, que o vigia com zelo e permanente interesse. Imagine um sistema em que o público paga uma anuidade para ter o direito de assistir aos programas de rádio e TV, em que o dinheiro vai diretamente para a BBC, sem passar por qualquer repartição pública. Isso seria difícil no Brasil. O P: A indicação do jornalista Franklin Martins poderá ajudar na implantação da TV do Executivo? J.O: O Franklin Martins, que conheci aqui em Londres ao tempo em que era correspondente do Jornal do Brasil, é um jornalista sério e muito responsável. Se ele tiver habilidade bastante para escapar das injunções políticas - injunções que ocorrerão sempre - muito bem. Mas esta será sempre uma tarefa profundamente desgastante. Boa sorte para ele. O P: Como pode ser avaliada a relação publicidade e imprensa, já que o atual Ministério da Comunicação Social será responsável por administrar ambas? J.O: A relação entre publicidade e imprensa é hoje muito estreita. Os veículos, que vivem numa situação de crescente indigência, dependem das verbas públicas. Tende a criar obrigações editoriais de reciprocidade. Tome, por exemplo, o caso do rádio. Em todas as partes do mundo, o rádio fica com menos de 10% do bolo da propaganda comercial. O Brasil possui, creio, mais de cinco mil emissoras de rádio, muitas sem qualquer estrutura. Dividir o pouco da publicidade entre elas é distribuir migalhas. Aí vem o processo de aviltamento, de associação com políticos e isso não é bom para a independência de um veículo. Mas é o que, infelizmente, acontece no Brasil e em muitos outros países também.
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C I D A D E S
Belo Horizonte – Maio/2007
Infância
DADOS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO MOSTRAM QUE 2,5 MILHÕES DE CRIANÇAS NO PAÍS TÊM OCUPAÇÕES NO MERCADO INFORMAL; SÓ EM BELO HORIZONTE, 729 DELAS TRABALHAM ILEGALMENTE ENZO MENEZES E FELIPE IZAR 5º PERÍODO A infância perdida nas faixas de pedestre, assentada no meio fio enquanto o sinal está aberto. Pedir esmola, equilibrar nos ombros do amigo para fazer malabarismos. Em busca de trocados, tomam conta de carros estacionados e vendem balas. São as formas de trabalho infantil mais encontradas nos centros urbanos. Só em Belo Horizonte, 729 crianças trabalham nas ruas, segundo dados da prefeitura. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, OIT, 2,5 milhões de crianças trabalham em todo Brasil. A OIT aponta ainda outras faces desse crime: associação com o narcotráfico, exploração sexual e trabalho na agricultura. Sem socialização saudável e formas de lazer, crianças ficam sujeitas às intempéries das ruas e enfrentam os riscos do convívio diário com a violência. Lêem a indiferença das pessoas, ao invés de livros. O ‘Pivete’ estigmatizado em cada um. O ‘não’ frio que recebem
em todas as frestas da sociedade. Sem perspectivas, o ciclo de dependência se reproduz. “A sociedade pensa, de modo geral, que é preferível a infância trabalhar ao invés de roubar. Mas não dá outras opções para as crianças que estão nas ruas”, analisa Marilza Nascimento, procuradora do Ministério Público do Trabalho em Minas. Ela explica que o MPT ou a Delegacia Regional do Trabalho fiscalizam denúncias de trabalho infantil. No caso de uma empresa, o MPT tira a criança da função e propõe ao proprietário assinar um Termo de Ajustamento de Conduta para não contratar outras, sob pena de multa. “Também podemos ajuizar uma ação na justiça. Sobre o trabalho nas ruas, encaminhamos as crianças para os Conselhos Tutelares”, exemplifica. Em 2006, 105 representações contra esse trabalho foram abertas pelo MPT, nesse ano o número de representações já chega a 65, até abril. Se a criança não possuir registro em algum Conselho Tutelar, a Prefeitura tenta resgatála das ruas através do seu programa de combate ao trabalho infantil. Para isso, há psicólogos e sociólogos que as abordam, fazem ca-
dastro e as encaminham aos programas de inclusão social. Porém, não é tão simples tirá-los das ruas. Segundo Maria Clara Braga, assistente social da PBH, a criança, principalmente até os 9 anos, é incentivada pelos pais a trabalhar. “O Bolsa Família e o Bolsa Escola não conseguem suprir as necessidades familiares, e o dinheiro ganho nas ruas, muitas vezes, supera o valor das bolsas”, afirma. De acordo com Braga, 25,5% das crianças ganham em média R$ 280 nas ruas. O teto dos programas do governo não ultrapassa R$ 95. Tirar das ruas os jovens até 17 anos é mais difícil por já terem identidade com o trabalho. “Eles se sentem produtivos e, além de ajudarem em casa, conseguem dinheiro para saciar as vontades de um adolescente”, diz Maria Clara. Por isso, 77% dos que trabalham nas ruas têm entre 10 e 17 anos. Ação parlamentar A Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente foi criada na Assembléia Legislativa em 2000, com base
no Estatuto da Criança e do Adolescente. Uma de suas funções é combater o trabalho infantil na esfera legislativa. Para isso, deputados dialogam com movimentos sociais que combatem a exploração de crianças, além de formularem políticas públicas em defesa dos jovens. O deputado André Quintão (PT), coordenador do grupo desde 2003, define as maiores dificuldades encontradas pela Frente: “A criança que estuda e trabalha se afasta da escola, movida pelo cansaço e pela chance de ganhar mais se permanecer mais tempo nas ruas”, explica. “Além disso, há a questão cultural, pois alguns pais estimulam que os filhos trabalhem. Não há uma noção dos males dessa prática, como se só houvesse essa opção para a infância pobre”, questiona. A procuradora Marilza do Nascimento também analisa a questão sob a ótica cultural: “Não vemos crianças de classe média nas ruas. Isso reflete a má distribuição de renda e a necessidade que as leva a trabalhar. A sociedade devia se indignar, no entanto, convivemos com a prática todos os dias”, destaca.
Fábio Moura - 5º Período
A sociedade pensa, de modo geral, que é preferível a infância trabalhar ao invés de roubar. Mas não dá outras opções para as crianças que estão nas ruas. Marilza Nascimento, procuradora do Ministério Público do Trabalho em Minas
O Bolsa Família e o Bolsa Escola não conseguem suprir as necessidades familiares, e o dinheiro ganho nas ruas, muitas vezes, supera o valor das bolsas. Um pouco mais de um quarto das crianças ganham em média R$ 280 nas ruas. Maria Clara Braga, assistente social da Prefeitura Municipal de BH
Garotos fazem malabares nas ruas como se estivessem em um picadeiro: diversão inocente em um mundo de adultos
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nas ruas
Bruno Chiari - 4º Período
A reportagem de O Ponto acompanhou meninos e meninas que trocam, sem saber, um crescimento saudável por trocados que não os tiram das ruas.
A garota desconfiada
Muita gente dá trocado. Muita gente fecha o vidro. Joyce*, 10 anos
Crianças e adolescentes vendem doces nas ruas das grandes metrópoles para sua sobrevivência
A Comunicação Social no Século XXI
Por uma boa causa? A extremidade de uma faixa amarrada em um poste, entre duas avenidas. A outra ponta Luiz* estende, quando os carros param no sinal. Ele se cansa de puxar a faixa o dia todo. Nela, um pedido para ajudar uma equipe de esportistas com deficiência física. Antes, trabalhava nas ruas todos os dias, e fazia pequenos bicos. Hoje só sai de vez em quando. - Minha mãe não me deixa trabalhar – Uma das poucas frases do garoto durante a conversa. E a única com veemência. Seus gestos e sua fala denotam a fragilidade em um garoto de 17 anos. - Ela não gosta quando eu venho pra rua, me manda ir estudar. Mas eu não quero saber de escola, não. Luiz ajuda João, 25 anos, jogador do time que pede ajuda na rua com uma faixa colorida. João recolhe as moedas na janela dos carros, e move habilmente sua cadeira de rodas. Encostado em um poste, Luiz fica calado. Parece tímido, com vergonha, com medo. Escondido da mãe ele trabalha. Não é possível ao menos dizer se em troca de algo. Os dois ficam sem graça e desconversam quando perguntamos quanto Luiz ganha ali. Quase nada. Talvez pouco. Talvez perca muito mais, sem saber.
Ela não gosta quando eu venho pra rua, me manda estudar. Mas eu não quero saber de estudar não.
Aluna: Priscila Braga 5º H
Dez horas da noite. Mariana* pega os cadernos e volta da escola para casa, cansada, porque trabalhou o dia todo. Os chinelos gastos testemunham seus passos, o estômago quer algum alimento, a cabeça pede descanso. Seria apenas mais uma garota que estuda à noite. Seria. Ela tem quatorze anos. -Por que você estuda à noite? -Trabalho de dia. - Você faz malabarismo nesse sinal? – Seus braços finos carregam uns gravetos. Mal carregam gravetos. Nove horas da manhã. É quando sua jornada começa, ao lado da irmã, Joyce*. Joyce tem dez anos. Reveza com a irmã o passeio entre os carros, busca moedas. - Muita gente dá trocado. Muita gente fecha o vidro. Enquanto os carros passam, rói as unhas, sob a sombra de uma árvore no canteiro central. Não aparenta mais de cinco anos. Desconfia. Mariana fica atenta enquanto estamos por perto. Correm ao atravessar a avenida, de mãos dadas, e descobrem uma mulher escondida entre as árvores. Apontam onde estamos, ficam inquietas. A mãe entende logo, nossa presença é hostil. Manda as duas de volta para o sinal e desaparece. - Não, foto não! Elas correm e escondem o rosto, rindo. Mal percebem que a infância foge entre aqueles canteiros, sem freios, com as folhas que caem no asfalto e os carros passam por cima.
Luiz*, 17 anos
Sobre ombros amigos Sábado, 10 horas da manhã. É quando Vagner*, dois irmãos e dois amigos vão para a avenida ganhar dinheiro. Muita gente trabalha aos sábados, mas poucas são suas idades Vagner* tem 17, Luan*, 15, Francisco*, 14, Antônio* 10, e Lucas*, apenas 8 anos. “Ajudo minha família”, afirma o mais velho. “Às vezes me chamam de vagabundo, me mandam arrumar trabalho. Já roubei e fui preso, essa vida não é pra mim”, desabafa. - Luan, você estuda? - Não. Tá difícil arrumar vaga. A moça do Bolsa Escola foi lá em casa e prometeu um lugar para mim, mas até hoje não cumpriu a promessa. Eu quero estudar, ter um futuro. Os meninos fazem malabarismo com fogo. Sobem nos ombros dos amigos, são prodigiosos no espetáculo que realizam. Enfrentam carros e pessoas apressadas que assistem ao show, ora com um olhar de indulgência, ora com admiração, quase sempre com desinteresse. Mas os garotos se orgulham de mostrar o que sabem. Gostam quando tiramos fotos. - Tira mais! E, como alguns paradoxos inexplicáveis, sorriem para a câmera, como se a felicidade dependesse de pouco. - Como você aprendeu a fazer malabarismo, Francisco? Você estuda? - Aprendi com meu irmão, Vagner. Estudo. Mas tenho que trabalhar para ajudar em casa. Às vezes, olham para o céu em busca de força. E se deparam com prédios imponentes, tão altos que parecem ser infinitos. Os pequenos da rua sobrevivem entre o limite de suas forças e o sem fim. Limitados para sonhar, mas infinitamente sonhadores. Limitados para agir, mas infinitamente habilidosos em suas ações.
Tá difícil arrumar vaga. (...) Eu quero estudar, ter um futuro.
Supera barreiras étnicas e geográficas, visando o progresso, os avanços tencnológicos e a integração social
Luan*, 15 anos
Projeto
*Os nomes dos entrevistados são fictícios
Vitrine
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Impasse da ressocialização
O difícil retorno PESQUISAS REVELAM QUE AINDA É GRANDE O NÚMERO DE PRESOS QUE VOLTAM AOS CRIMES. MAS PROFISSIONAIS REFORÇAM A IMPORTÂNCIA DA INTEGRAÇÃO SOCIAL. Bruno Chiaric - 4º Período
BRUNO CHIARIC E PAULA EMMANUELLA 4º E 6º PERÍODOS Mais de 250 mil pessoas cumprem pena nas prisões do Brasil. Menos da metade da população carcerária tem sido preparada para o processo de reintegração. Segundo o Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Deliquente ( Ilanud), sete em cada 10 brasileiros voltam a praticar crimes após deixar a prisão. A equipe do jornal O PONTO foi ao Complexo Penitenciário do Nelson Hungría para acompanhar o dia dos detentos. Os presos estudam e trabalham e, a cada três dias trabalhados ou seis dias estudados há uma redução de um dia na pena a ser cumprida. O Programa de Ressocialização do Detento visa preparar o preso para voltar ao convívio da sociedade. Segundo a psicóloga do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, Vilene Eulálio de Magalhães, a prisão, em seus primórdios, foi criada para punir. Magalhães diz que o sistema penitenciário evoluiu muito, graças aos Direitos Humanos. As autoridades perceberam que para conviver com os presos era necessário educá-los e ressocializá-los. Para Magalhães, maioridade penal e agravação das penas são inoperantes, como é muito colocado pela mídia. Segundo a psicóloga, todos os países que investiram em
projetos sociais, conseguiram diminuír a criminalidade. O criminologista Gresham Sykes, autor de “Sofrimentos no Cárcere”, enumera que o preso tem cinco sofrimentos. O primeiro sofrimento é a privação da liberdade; o segundo é aquele no qual o preso está privado dos bons serviços , o terceiro está na abstenção de relações sexuais. O quarto é aquele na qual o prisioneiro está submetido a regras institucionais. E o quinto é o preconceito vivido quando saem dos presídios, já que a cultura da prisão refletirá na cultura da sociedade. Oficinas oferecidas De acordo com a psicóloga, é o Estado quem diz que preso tem direito a trabalho. A Nelson Hungria oferece oficinas como a marcenaria, tornearia, lavanderia, horta, jardim, reciclagem, fábrica de latinhas e oficina mecânica. O diretor de segurança do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, Cosme Ribeiro, diz que 86 presos já trabalham. Segundo Eduardo Pedra, responsável pela lavanderia e higienização dos presos, o preso pode trabalhar com o tempo de casa e comportamento. A maioria é remunerado, mas outros são a pedido do juiz. De acordo com um detento, que não quis se identificar, o trabalho ocupa o seu dia e assim ele pôde se tornar uma pessoa melhor. Para a moradora do bairro Nova Contagem, Vera Nunes, o preso deveria trabalhar com carteira assinada. “Errar todo mundo
erra. Ele não é animal, é um ser humano. Só precisa ocupa-lo 24 horas para não dar tempo de pensar besteira”, afirma. Já o presidiário César Tramontina, preso por homicídio, diz que “cadeia não concerta ninguém, as pessoas culpam o sistema, mas a culpa é nossa. As pessoas trabalham para ficar fora da cela, por que dentro é muito chato”. Educação Para Rejane Marza, pedagoga da Defesa Social, outra maneira de ressocializar os presidiários é fornecer estudo para eles. No Nelson Hungria já existe o EJA ( Educação para Jovens e Adultos), autorizada pelo MEC. Segundo Marza, os profissionais recebem orientação em âmbito nacional, além da escola ser readaptada para as necessidades dos presos. São 36 turmas para 423 alunos. A escola pode comportar até 468 presos de 1415 detentos. É necessário que atenda no mínimo 35% da população carcerária do Complexo. EJA O EJA conta com dois segmentos. O primeiro oferece turmas de primeira a quarta série. E o segundo de quinta a oitava serie. O ensino médio começou ano passado e a escola fornecerá um histórico para quando os presos saírem. Os detentos precisam de 75% da freqüência e 60% de aproveitamento. Marza também ressalta que já existe um projeto de curso profissionalizante para o segundo semestre de 2007.
A psicóloga Magalhães diz que as pessoas acham que todo preso quer estudar. Os presos relatam que as vezes vão para escola devido a remissão de pena. Segundo Magalhães os presos não deveriam ter remissão, uma vez que é positivo para eles mesmos e atrapalha quem leva o curso com seriedade. Para o diretor de Atendimento e à integração, além da Escola, existe uma assistência social de forma ampla no Complexo, onde fornece documentos, menos o CPF, tratamento médico, psicológico e odontológico. A psicóloga diz que esses tratamentos são básicos. A auxiliar de Enfermagem Divina Reis, explica que a maior dificuldade que o Complexo encontra é a falta de medicamentos. E a casa não tem como comprar. De acordo com um preso, que não quis se identificar, de 23 anos, esses projetos feitos em penitenciária são importantes. “O mundo do crime é cadeia ou morte. Meu maior medo é que meu filho siga o mesmo caminho”, afirma. Para a estagiária Rebeca Alvarenga, “a Nelson Hungria não é hotel de luxo, é penitenciária, mas os presos também têm direito à dignidade”, afirma. Custo da violência Já existem algumas tentativas de meensuração de custos da violência feitas no Brasil. Uma pesquisa feita pelo BID estimou que a violência custa 84 bilhões de dólares ao Brasil ou 10,5%do PIB nacional. O país gasta, em média, R$1500 , por mês com cada preso.
Preso trabalhando na oficina de lavanderia do Complexo Bruno Chiaric - 4º Período
Histórico dos presídios é colocado em xeque
Trabalho realizado pelos presidiários no Nova Hungría, na oficina de Marcearia oferecido pelo Complexo Penitenciário
Complexo Penitenciário era para ser de segurança máxima O Complexo Penitenciário Nelson Hungria, localizado em Nova Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, criado em 1988, comporta 1380 detentos com uma capacidade de 1415. Existem 12 pavilhões para 90 presos, com celas individuais e dois anexos, presos provisórios, que comportam
4 presos por cela. Segundo Cosme Ribeiro, diretor de Segurança do Complexo, desde seu surgimento, já tinha o propósito de segurança máxima. Mas um preso do Complexo, que não quis se identificar, foi acusado de receber pacote de balas de maconha. Segundo o preso, que cumpre
pena por assalto, isso não passou de uma armação. Segundo a psicóloga Vilene Eulálio, muitas vezes há conivência da própria família. O diretor de Atendimento e à Integração, Israel Vilela, afirma que há casos onde os visitantes engolem as drogas e depois tomam laxante para que a droga seja retirada. Por
razões como essas sào necesscessários métodos mais seguros, como a revista. As visitas ocorrem aos finais de semana, como afirma Ângela Souza, esposa de um dos detentos. Ribeiro fala do respeito aos presos. “Cada um tem um dom, um jeito, é importante dosar isso”, afirma.
Professores e historiadores ensinavam que os europeus deportavam seus criminosos para o Brasil Colonial no século 16,como forma de puni-los, de acordo com Elaine Maria Geraldo dos Santos, no artigo Saúde Mental e Direitos Humanos no Sistema Penitenciário Brasileiro. Segundo Elaine, a imigraçào compulsória desses desertores servia também para gerar pequenos povoados, a fim de desenvolver uma população nativa européia. A República brasileira, após o período Imperial, passou por inovações no campo jurídico, na forma de julgar e lidar com os reclusos. Essas inovações foram influenciadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, feitos na Revolução Francesa, em 1789. No Brasil, a Antropologia Criminal surge no período da abolição da Escravidão e toma conotação racista. Em 1910, após muitos pedidos dos juristas é inaugura do o Gabinete de Identifica-
ção Criminal. Atualmente, a Lei Penal obriga o Estado a prestar assistência material e psicológica aos indivíduos sob sua custódia, nos presídios e penitenciárias. Até meados do século 20, doentes mentais, mendigos e criminosos dividiam o mesmo sistema penitenciário.Isso porque nao havia instituições específicas para recolher de imediato os doentes mentais. Um exemplo disso é a Casa de Detenção do Recife , que recebia tanto mulheres quanto homens e doentes mentais, encaminhando-os ou para o Presídio de Fernando de Noronha ou para o Hospital de Alienados. Para a psicóloga Vilene Eulálio de Magalhães, o sistema penitenciário evoluiu muito no Brasil, pois, inicialmente, a penitenciária foi criada e planejada para punir. Com o tempo as autoridades perceberam que para conviver com os presos seria necessário reeducá-los e ressocializá-los.
07 - Educaçao Lorena Abrantes
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Jornalistas sob ameaça do STF SUSPENSÃO DO DIPLOMA RETOMA DISCUSSÃO SOBRE DESREGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO TIAGO HADDAD 5º PERÍODO O Ministério Público Federal move, desde 2001, uma ação civil pública contra a exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão, alegando que o diploma é um “entulho autoritário da ditadura”. O Decreto-Lei 972 de 1969, reivindicação da categoria desde 1918 - quando no I Congresso Brasileiro de Jornalistas foi colocada a necessidade de um curso específico de nível superior para o ofício de jornalista - está suspenso provisoriamente em todo o país por uma decisão da juíza Carla Rister, da 16ª Vara Cível da Justiça Federal em São Paulo. As principais lideranças sindicais acreditam que por trás dessa medida está uma tentativa das entidades patronais de comunicação de desregulamentação da profissão, conquista histórica da categoria, que trava uma luta pelo reconhecimento profissional desde seu primeiro congresso. Atualmente, sindicatos de jornalistas de todo o país juntos à Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e demais entidades que apóiam a luta, estão tocando a “Campanha pela Informação de Qualidade: em defesa da formação e regulamentação profissionais dos jornalistas" que
propõe diversas atividades, inclusive nomeou o mês de abril como o “Mês Nacional de Luta”, pelo fato de 7 de abril ser o Dia do Jornalista. A desregulamentação da profissão irá permitir, no jornalismo a entrada de pessoas sem compromisso com a qualidade da informação, pois segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), Ellian Guimarães, “essa desregulamentação só vem agravar, porque além de você precarizar o mercado de trabalho, você reduz salários e coloca pessoas que não têm compromisso com o objeto que é a comunicação, com a democracia dos meios de comunicação”. E questiona: “o jornalista, que mexe com a cabeça das pessoas, com o dia-a-dia das pessoas, não tem de ter formação? É muito estranha essa postura”. Sob a alegação de ferir a liberdade de expressão, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu uma liminar que possibilita a pessoas não habilitadas em curso superior de jornalismo o exercício dessa profissão. Um dos argumentos utilizados pela juíza Carla Rister foi o de que o exercício da “profissão de jornalista não requer qualificações profissionais específicas, indispensáveis às téc-
nicas, em que o profissional que não tenha cumprido os requisitos do curso superior pode vir a colocar em risco a vida de pessoas”. Esse argumento ataca direitos conquistados pela categoria, e que hoje, estão garantidos na Constituição Federal. O que está em jogo O presidente da Associação dos ex-alunos de Comunicação Social da Fumec, Adriano Boaventura, acredita que “nós temos que saber que o jornalismo é uma ciência. Porque você não vai formar uma pessoa em fazer lead, fazer textos, ou atualizar uma página na internet. Você tem que formar um indivíduo que seja capaz de perceber os problemas na sociedade e transcrever isso para um jornal diariamente”, argumenta Boaventura. E completa: “Em vez de fazer do jornalismo uma prática, mais do que esclarecedora, mas combativa, você está tirando o status de ciência que o jornalismo possui, que tem uma teoria científica, e escolas que discutem o jornalismo”, por exemplo, a escola de Frankfurt, na qual o Projeto Político-pedagógico do curso de Comunicação Social da Fumec se baseia. Para Boaventura, o que está em jogo com essas medidas são duas questões centrais: a qualidade da formação do es-
“Liberdade, essa palavra” o ponto LUIZA DE SÁ 7º PERÍODO Aqueles que hoje voltam a questionar a exigência do diploma para o exercício do jornalismo costumam alegar que isso seria um dos entulhos autoritários da ditadura. Mas um verdadeiro autoritarismo foi o que vimos na manifestação do último 21 de abril, em Ouro Preto, com a presença de estudantes de comunicação social e jornalistas. Estávamos lá com o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais realizando um ato público em defesa do diploma de jornalismo. Outras pessoas chegavam com bandeiras do PSDB, algumas com o nome “Aécio”. Conversei com três delas. Perguntei o motivo que os havia levado até lá e eles disseram que haviam recebido R$ 50,00. Não souberam dizer de quem. Dividida por um cercado protegido por policiais, a parte da frente da praça estava reservada a essas pessoas. Na parte de fora fica-
mos os movimentos sociais e manifestações dos não-governistas. Assim, não haveria problemas com a cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência. O que se via eram muitas bandeiras azuis e amarelas e, curiosamente, as pessoas que agitavam essas flâmulas, tinham uma fita colorida no braço. Daquelas que se usam para controle de camarote de shows. E, afinal, era um controle. A manifestação dos jornalistas e estudantes agitou a praça. As pessoas que circundavam a bandeira de 5 metros de comprimento e se revezavam ao megafone chamaram a atenção rapidamente. Principalmente da polícia, que nos recebeu com hostilidade e truculência. À medida que a palavra de ordem ecoava, pessoas se aproximavam do movimento. Algumas tiravam fotos da faixa que defendia qualidade da formação e pegavam panfletos; outras xingavam e alguns ficavam à espreita. Quando a frase “Liberdade pra exercer o jornalismo” começou a ser ouvida, começaram as ameaças. “Segunda-feira você tá demitido”, falava raivoso um homem de óculos escuros a um jornalista que
se manifestava. “Eu vou te dar um tiro na cara, fica esperto”, fala outro, ameaçando o estudante Tiago Haddad. Segundo ele, quando retrucaram falando que iam fazer um boletim de ocorrência, o homem respondeu: “quero ver quem vai assinar esse B.O.”. Quando a situação ficou mais perigosa e um grupo de uns 30 homens se juntou para agredir um jornalista, os integrantes do movimento tiveram que zelar pela sua segurança e saíram de lá. Em contraste com o clima que reinava dentro da área cercada, no lado de fora, a praça símbolo de liberdade estava violenta demais. O que é curioso: na entrada da cidade de Ouro Preto, onde a polícia rodoviária controlava a chegada ao centro, tinha um arco enorme, que passava por cima da pista. E lá, se apropriavam de Cecília Meireles e seu Romanceiro da Inconfidência: “Liberdade, essa palavra/que o sonho humano alimenta/que não há ninguém que explique/e ninguém que não entenda...". Liberdade? Cecília Meireles devia estar viva para ver o que fizeram da liberdade, na praça do povo, em 21 de abril de 2007. Tiago Haddad
Manifestação de jornalistas em Ouro Preto, no 21 de abril, a favor da exigência do diploma
tudante; e a precarização da profissão de jornalista, pois assim se permite achatar salários, rebaixar pisos e tirar direitos do trabalhador do jornalismo. Boaventura acrescenta ainda que “abrindo mão da exigência do diploma damos oportunidade para todos os picaretas de plantão que enxergam no jornalismo uma maneira de manipulação da opinião pública em favor da ideologia dominante, em favor dos patrões da comunicação”.
“O jornalista, que mexe com a cabeça das pessoas, com o dia-a-dia das pessoas, não tem de ter formação? É muito estranha essa postura” Ellian Guimarães Presidente do SJPMG Para a secretária de Redação do jornal Hoje em Dia, Maria Eugênia Lages, “a questão da desregulamentação e da não exigência do diploma é uma forma de desorganizar a categoria. Assim qualquer pessoa pode escrever, qualquer pessoa
pode falar, pode fazer. Acho que não é bem assim. Isso é um retrocesso para a categoria”. E faz uma comparação: “a mesma coisa é eu poder achar que entendo muito de direito e querer ir amanhã ao Fórum e defender uma pessoa. Porque eu também acho que o direito você pode aprender, eu posso ler os códigos. Não é uma questão de corporativismo”. Maria Eugênia acredita ser necessário um conhecimento específico para o exercício da profissão, e argumenta: “não vem me dizer que uma pessoa formada em arquitetura vai chegar aqui e vai saber cobrir um acidente com 20 mortos e chegar lá e achar que é tudo normal. Não é assim”. Outra opinião A reportagem encontrou adeptos da idéia do fim da exigência do diploma até mesmo no próprio meio, como o Coordenador do Curso de Comunicação Social da Universidade Fumec, Carlos Alexandre Freire. “Eu acho que o diploma não tem importância quase nenhuma. Ele faz parte de um entulho autoritário da ditadura. O diploma, no sentido de cercear a entrada, nessa área, de intelectuais com capacidade de trabalhar como jornalista” defende. Freire acredita que “o que garante a boa qualidade
do jornalista é um sistema de regulação social, que cobre das instituições de formação de comunicadores sociais que elas sejam transparentes, sejam abertas, tenham o projeto pedagógico discutido”, entre outras coisas. Para Freire, tais medidas são o que pesam, e não o diploma. “Diploma é um estatuto burocrático que pode até servir às vezes ao bem, mas ele serve igualmente ao mal”, conclui. A campanha nacional em defesa do diploma começou em abril e se estende ao resto do ano. O SJPMG tomou como medidas a realização de abaixo-assinado, disponível no site (www.sjpmg.org.br), que será “encaminhado aos ministros do STF, ao Ministério do Trabalho e Emprego. Vai ter uma mesa itinerante para passar em praças públicas a fim de tentar conquistar as pessoas para que venham aderir esta causa também”, diz o presidente do Sindicato. Já Boaventura chegou a mencionar que “o SJPMG junto à Fenaj tinham que ter uma posição mais firme e enérgica na defesa dos interesses da profissão, ou seja, do diploma, que é fundamental para o exercício da profissão” e completa: “a exigência do diploma é a exigência do saber. E o saber é libertário”.
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Belo Horizonte
JOVENS QUEREM MUDAR PESQUISA REVELA QUE ESTUDANTES DO NOTURNO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DESEJA
A
nalise de Jesus da Silva, 42, concluiu seu doutorado este ano pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora de história da rede pública de Belo Horizonte há 26 anos, seu trabalho não deixa de ser uma reflexão do que é ser professor e os desafios que esses profissionais enfrentam com os alunos. “Jovens Estudantes Pobres: significados atribuídos às práticas pedagógicas denominadas inovadoras por seus professores” é um pequeno recorte do ensino municipal, com estudantes do turno noturno. Durante a pesquisa, a professora entrevistou 44 jovens de diferentes escolas da capital. O que se revela é um confronto de opiniões que questiona os métodos utilizados pelos professores e a real aprendizagem dos estudantes da rede pública de educação. Até que ponto uma aula é realmente inovadora? Novas práticas são necessariamente sinônimo de boas aulas? Analise atualmente leciona para crianças. Para descrever quem é a nossa entrevistada, nada melhor do que extrair um trecho em que ela se explica: “De onde falo? Falo do lugar que ocupo há 26 anos como professora da rede pública municipal de educação em BH e pelo trabalho exercido durante 19 anos com jovens estudantes pobres no noturno e durante 14 anos com Educação de Jovens e Adultos.”
LÍGIA RÍSPOLI 8º PERÍODO O PONTO: O que é aula diferente? Analise Silva: Sempre ouvi dos meus colegas que não adianta tentar trabalhar com nenhuma prática diferente, com nenhuma aula inovadora, porque os jovens resistem a essas práticas. Quando eu fiz o mestrado, desenvolvi a questão se existe ou não uma preocupação com a juventude na nossa formação de licenciatura. Quando percebi que essas expressões apareciam: “práticas inovadoras”, “práticas pedagógicas inovadoras”, “aula inovadora”, elas vinham acompanhadas de eventos como música, dança, pintura ou desenho. O que estou pesquisando no doutorado são que significados os jovens estudantes pobres, no noturno da rede pública municipal de Belo Horizonte, atribuem à essa prática inovadora pois segundo os professores, os alunos a rejeitam. A partir da entrevista com 44 jovens, consegui perceber que não há somente um significado e sim nove deles. Dois dão sentido negativo, outros sete são positivos. O que eles me afirmaram é o contrário do que os professores haviam dito. Um dos significados negativos é que a aula diferente é uma perda de tempo. Eles são muito claros quando me dizem o seguinte: “eu já saí da escola uma vez, tive que parar de estudar, fui reprovado antes. Para mim, quando o professor dá essa aula diferente eu estou perdendo tempo”. Pareceu-me muito um discurso que ele ouviu durante a vida inteira. O outro significado negativo foi para mim uma surpresa impactante; eu até voltei chorando
para a casa quando ouvi isso pela primeira vez. Para alguns, as aulas diferentes são aquelas em que se consegue aprender alguma coisa, ou seja, o diferente é aprender, como se o normal fosse uma não aprendizagem. OP: Mas o fato de ter sete atribuições positivas é um bom sinal, não? AS: É bom, até porque eu entrei nessa pesquisa com a idéia de que os jovens não queriam essas práticas diferentes. Para alguns alunos a escola pode dar, de alguma forma, elementos que eles vão precisar para o mercado de trabalho e para o tal “subir na vida”. Uma abordagem determinada pela educação tradicional. É o que se entende como ir para a escola para ser instrumentalizado, para receber a formação necessária para ter uma profissão. A escola para esse estudante não é um direito. Ele se vê como alguém que está sendo apenas preparado para o trabalho. Nesse sentido, uma menina prestou um depoimento esclarecedor: “desde bem pequenininha, eu escuto pelo menos três vezes ao dia (ela diz como se fosse um medicamento) que escola é lugar de gente séria, de estudar, de virar gente séria. Quando a professora propõe brincadeiras, eu fico achando ótimo porque só assim mesmo para a gente levar essa vidinha difícil. Mas que eu acho esquisito aula de brincar, isso eu acho. Parece enrolação, sabe?”. Tem outro estudante que diz: “tem aula que a gente não aprende nada, nem se tiver descansado. Aliás, aula diferente é quando aprendo, porque na aula de todo dia eu não aprendo nada.”
Esses jovens já internalizaram uma mensagem que tem sido passada para eles há algum tempo: de que se eles não conseguem aprender, o problema é deles. Para os alunos não há problema com a estrutura das instituições, o problema é com a aula normal. Da perspectiva social da escola, isso reflete um quadro grave. Estou tentando trabalhar na tese que a transmissão do conhecimento é uma partilha do saber. Mas a partir desse pressuposto os estudantes estão fora do processo, pois eles não se percebem como sujeitos. O problema não é com o que se ensina, é como eles não aprendem. Uma observação! Desses 44 jovens, 95% deles são negros. Alguns estudos atestam para esse aspecto da etnia, evidenciam que não é tão coincidência a maioria esmagadora dos estudantes noturnos nas escolas públicas ser negra. E isso é exclusão social. A mim incomoda que um livro didático dedique apenas um capítulo para falar sobre etnia. Essa é uma questão profunda e pouco discutida. No meu trabalho, e também para preservar a identidade de meus entrevistados, dei a cada um deles, aleatoriamente, o nome de um país africano e foi uma coincidência serem 44 entrevistados e 44 países. OP: E qual foi o seu objetivo com isso? AS: Conhecer a etnia e deixar marcado que não passou despercebido o fato que não considero coincidência que 95% deles sejam negros, já que estou trabalhando com o recorte de jovens pobres no noturno. Mandei cartas para todos os entrevistados convidando-os para assistir a apresenta-
ção. Recebi duas cartas de volta. Uma mãe me ligou falando que a filha casou e estava morando no Rio de Janeiro. Outros me ligaram falando que não poderiam ir porque estavam trabalhando no horário da apresentação, mas acharam legal eu não tê-los esquecido. Nesse contato com as escolas fiquei sabendo também que um dos meus entrevistados tinha sido assassinado. Não é natural, mas normal. É um dado da realidade. Infelizmente lidamos com um número crescente de jovens pobres que tem matado e morrido. É um dado triste e recorrente. Aliás, acho que estudos sobre isso precisam ser mais aprofundados, mais qualitativos e menos quantitativos, mudar de abordagem. Com relação à criminalidade, deve-se levar em consideração os sujeitos envolvidos, sendo pobres ou não, negros ou não, analisando a estrutura da nossa sociedade que trabalha no sentido da exclusão, ou melhor, da inclusão peversa. Uma falsa inclusão que diz que você está incluído, mas na verdade continua tratando-lhe como diferente. OP: Eles não têm opções... AS: Exato. Eu passei por uma situação interessante, perguntei na escola se eles tinham uma turma mais participativa para me apresentar, com jovens mais ativos. Recebi das quatro escolas a indicação de cinco turmas. Não necessariamente foram turmas dos jovens que entrevistei na tese. Dos 159 estudantes do noturno, três deles participam de movimentos estudantis, 13 se relacionam com movimentos culturais e 18 tem vínculos com movimentos religiosos. A escola é o espaço público mais freqüentado pelos jovens. Isso é
indiscutível. Muitas vezes ela é a única instituição pública na qual eles têm acesso, o que desperta uma relação que eles não têm em nenhum outro espaço, com nenhuma outra pessoa. Quando falam de escola, não falam de algo que não queiram, mas de algo que eles querem modificado. Outra fala pertinente aponta: “Eu não sei quem falou para os professores daqui. Agora tudo o que acontece a gente tem que dançar hiphop. Eu não sei. Alguém aqui gosta de hip-hop? (um colega levanta a mão). Tá. Você gosta. Mas você dança?” Então ele fala que não, e ela diz: “Aí tá vendo. Ele não dança! Mas agora toda vez a gente tem que dançar hip-hop”. É uma questão da escola se apropriar da cultura juvenil e instrumentalizá-la. OP: Isso tem a ver com a indústria cultural. A cultura dos jovens é algo que vem de cima para baixo. AS: Concordo, até porque existe uma séria de grupos de hip-hop que ninguém sabe que existe. Uma questão evidente é que os alunos querem ser ouvidos, eles me dizem isso o tempo todo. Agora, colocam também a questão do limite. Uma estudante fala do professor bravo: “Eu não ligo do professor ser bravo. Tem que ser bravo mesmo. Tem até momento que eu nem escuto o que ele está falando. O que eu não quero é professor que nem sabe que eu existo.” Achei muito forte isso. Eles reconhecem um determinado comportamento que não está adequando à aquele espaço e manifestam sua insatisfação na relação com a escola, o que pode ser positivo: “Quando o professor faz uma aula diferente é quando ele
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QUADRO DA EDUCAÇÃO AM PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PRÓXIMAS ÀS SUAS EXPERIÊNCIAS COTIDIANAS
Samuel Aguiar 4º Período
tão desvinculadas das manifestações de identidades juvenis. Por exemplo, tem um outro que fala: “ Eu sou jovem, eu não sou perigoso. Perigosa é a vida que o sistema me obriga a viver. E olha que já estava assim quando eu nascí”. E outro estudante: “Tem professor que escuta a gente com o corpo todo e não só com a orelha. Conversa, sabe?!” Isso demonstra que os jovens questionam a falta de diálogos nas aulas, pedem uma construção coletiva. A aula diferente permite essa busca de auto-estima.
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OP: Aula diferente dá impressão de ser algo muito bem preparado...
não me vê como um marginal, um assaltante, um assassino, um corrompido, um traficante”. O jovem é sempre visto como causador de distúrbios, é sempre visto como um problema. OP: Isso é a visão da burguesia de que o jovem deve ser pobre e dependente da família? AS: Sim.Da necessidade da burguesia deixar claro que a nobreza possui bens em excesso, mas que isso está errado. A partir do final dos anos 90, a imagem da juventude estampada no país é a imagem da juventude pobre. Quando você abre o jornal e vê alguma coisa sobre o jovem ele é, na maioria das vezes, tratado como pobre, negro e homem. A imagem do jovem é o do que está na “boca”, que vai te assaltar. É a imagem do negativo. De vez em quando você vê pinçada algumas imagens positivas, naquela perspectiva de inclusão perversa. OP: Quando você ensina, por exemplo, capoeira eu tenho a impressão dessa inclusão perversa, que a pessoa tem que sobreviver só com essa opção, estou certa? AS: Sim. Um outro significado que os jovens disseram sobre a aula diferente é que ela contribui para a humanização do estudante pobre. A humanização dentro da perspectiva que a gente não nasce humano, se humaniza e vai aprendendo a se relacionar. Tem um menino no depoimento que diz o seguinte: “Eu não to aqui pra ficar rico, rico eu ficava na “boca”. E essa história de empreguinho ´melhorzinho`... não sei se existe mesmo... eu tô aqui é pra virar gente”. Essas falas es-
AS: Tem um depoimento que diz assim: “Foi na aula do Gana que eu aprendi onde tem teatro, cinema, música e dança ‘0800’. Se ele não trouxesse aqueles papeizinhos de propaganda e não desse força para gente ir... Ele levou a gente lá para ver o filme da matéria que nós estávamos estudando. Toda vez ele traz mais papéis sobre lugares legais. Sério!” Outro: “A gente andou pela cidade quase toda. Eu vi lugares que eu nem sabia que existiam aqui em Belo Horizonte. A gente quase não sai do bairro, né? Passagem de ônibus é muito caro. Ele ensinou também onde tem tele-centro e uma lan house baratinha aqui perto. Eu fiz meu e-mail de lá”. Mais um aluno: “Eu não sabia que existiam lugares de deixar o currículo para procurar emprego. Foi a Naníbia que trouxe e nos mostrou os lugares, os tipos de emprego e os salários. Ela ensinou a gente a procurar no jornal também. Ela trazia o jornal da casa dela e a gente via, mas agora tem um projeto de jornal na escola e a gente pode ver todos os dias se quiser. Por isso que, para mim, a aula dela é diferente”. Então, na aula diferente não tem uma pessoa fazendo algo revolucionário, são professores ensinando-os a terem acesso, aprender a conversar.
Pôxa la tão govsidtoa! Eu fiz uma aula dizer, na versa, e quando chego tão agradável. P da é... Faltadade a aula que a lá... todo mundo d reparei uma auacontec a este ‘antes’. Entã gente acha que é g esanimado. Quer aula e conve o, se pu esse o ta disto?er’ P pegar ostoalusan, não é naerguntar anrsar com ele, asdsim o ante : tes, fazer ju nto com vealem. os ver se você gsosd-e Argélia
nem com todo carinho e que a gente Ele fala que preparoua,amaauslase ele perguntasse antes do que eu gosliga. Eu fico com peno sei e o que eu já enchi de saber, ele não fito, o que eu ainda nã cava puto e nem eu. Mauritânia
OP: É engraçado porque eles têm uma visão otimista, mesmo com todos os problemas. AS: Sim. Saí da pesquisa com a certeza de que eles não rejeitavam a aula diferente, pelo contrário, demandavam. O que eles rejeitam é o estereótipo contra eles, o olhar negativo da sociedade. Eles deixaram claro que sabem das dificuldades, que não consideram justo que seja cobrado deles, como se fosse obrigação da juventude, resolver os problemas sociais. É claro que eu estou fazendo uma leitura a partir das biografias pesquisadas. Então o que eu percebi é que eles pedem uma pedagogia que trabalhe com a juventude. Eles querem ser tratados apenas como jovens. Colaborou: Henrique Lisboa
Se a gente ch desistir! Eu mesegmao,e não aprende nada que sirva, é mui aprender é muito ru às vezes, penso muito em desistir, po to ruim. Dá vontade de aula normal eu não im! No dia que eu aprendo eu ficorque vir prá escola e não aprendo nada mesmo. muito feliz, porque na Nigéria
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Cristina Barroca - 6ºPeríodo
De Londres para Minas, rugby apresenta suas armas POUCO CONHECIDO, ESPORTE AJUDA GRINGOS A SE ADAPTAREM À CULTURA MINEIRA Fotos: Laura Carvalho - 5º Período
FLORA LIBÂNIO 4º PERÍODO Em busca de um estilo de vida mais saudável e uma filosofia educativa, homens, mulheres e crianças, conterrâneos e estrangeiros, se reúnem em quadras brasileiras para praticar um esporte de origem anglo-saxônica pouco conhecido no país: o rugby. Existem alguns campeonatos nacionais e há registro de times em vários estados brasileiros, inclusive em Minas Gerais. Há cerca de sete times espalhados pelo estado, nas cidades: Belo Horizonte, Governador Valadares, Três Corações, Poços de Caldas, Juiz de Fora e em Varginha, que possui dois clubes. Segundo a Associação Brasileira de Rugby (ABR), a previsão para 2007 é que sejam realizados no país os campeonatos amazonense, fluminense, paulista, paranaense, copa do Brasil e Liga Sul, além de universitários e femininos, que abrangem todo o país. Times “importados” O esporte atrai um grande número de estrangeiros que vivem no Brasil. O BH Rugby é o único time em Belo Horizonte, atualmente possui dez argentinos, três franceses, dois italianos e já tiveram jogadores da Nova Zelândia e Chile, países onde o esporte é popular. Muitas pessoas que vêm do exterior, jogam rugby desde a infância, e por estarem inseridos na “cultura rugby”, quando mudam de país imediatamente procuram um clube local, e fazem do esporte um meio de se adaptar a uma nova cultura. O técnico do time juvenil e jogador do BH Rugby, Alejandro Marolla, 30, mais conhecido como ‘Cabezón’, nasceu nos Estados Unidos, mas foi criado na Argentina, onde começou a jogar rugby aos dez anos. Segundo ele, o esporte o ajudou a se adaptar à cultura brasileira e conheceu grandes amigos fazendo o que mais gosta.
Um jogo que nasceu da fúria de um jovem
Marolla conta que muitas pessoas apresentam melhoras depois que começam a jogar rugby. A maioria chega assustada e com medo, mas na medida em que começam a jogar e a se familiarizarem com o esporte vão ganhando auto-confiança. Esse benefício se reflete na vida das pessoas como um todo, tornando-as mais fortes para enfrentarem os desafios da vida. Em relação à segurança e riscos de lesões, Marolla conta com duas coisas para que isso não aconteça: em primeiro lugar a preparação do jogador, que aprendeu a forma correta de cair e derrubar durante o jogo, e em segundo lugar, a confiança mútua entre os jogadores de respeitar as regras impostas. Assim, o jogo flui de maneira positiva e sem grandes problemas. Participação feminina A estudante da UFMG Laura Orozco, 23, é da Costa Rica e está no Brasil há um ano e meio. Ela recebeu o convite de um amigo, em 2005, para assistir a uma partida do BH Rugby que lhe chamou atenção. Ela conta que, através da propaganda boca-a-boca, várias mulheres foram agregando ao clube até fundarem o time feminino. O que mais agrada a estudante no rugby, é o fato de não exigir um biótipo específico. Todas as pessoas podem jogar, sejam altas, baixas, magras ou fortes, alem de ser um esporte completo. Segundo Laura o esporte lhe proporcionou grandes amizades, e que hoje faz parte do seu diaa-dia. O chileno Manuel Schiaffino, foi o sócio-fundador do BH Rugby, treinou e jogou pelo clube, de 2004 até julho de 2006, quando mudou para VitóriaES, onde atualmente tenta fundar um time local. Schiaffino conheceu o esporte ainda criança e jogou em vários times em seu país. Na opinião dele o esporte lhe proporcionou mui-
O Scrum é uma formação fixa de disputa de bola, em decorrência de faltas leves tas experiências positivas, como as amizades, países que conheceu e clubes que visitou. Quando era jovem, o que mais lhe incentivava era a vontade de vencer e ser o melhor. Hoje, fica muito satisfeito em ver as crianças dando os primeiros passos no rugby e ver o Brasil acordando para um esporte que segundo ele traz e ainda vai trazer muitas alegrias. “O bra-
sileiro tem espírito de ‘rugbier’, pois é solidário, amigo e alegre. Eu sou um homem feliz devido ao esporte. O rugby é a minha vida”. O estudante paulista Zenon Stasevskas, 17, conheceu o esporte durante um intercâmbio na Nova Zelândia, considerada a capital mundial do rugby, e desde então não parou mais. De volta ao Brasil, iniciou sua
participação no projeto voluntário “Rugby para todos”, que ensina o jogo para crianças de uma favela paulista.O estudante tem muitos elogios ao rugby, por ser um esporte que desenvolve um espírito de equipe e que deixa vestígios positivos como amizade, confiança, respeito e concentração, mesmo quando se para de jogar.
Estudiosos do rugby acreditam que foi inventado pelo estudante William Web Ellis, durante uma partida de futebol na Rugby School de Londres, em 1823. O jovem teria se irritado com o jogo e corrido pelo campo com a bola agarrada nos braços, apesar da irritação dos outros jogadores que tentavam impedilo agarrando-o a qualquer custo. A segunda versão contraria o estudante. Muitos contam que a bola carregada já fazia parte do jogo há muito tempo, principalmente entre 1820 e 1830, na própria Rugby School. A filosofia rugby prega que o juiz e o time adversário merecem respeito, uma vez que sem eles não haveria jogo. O terceiro tempo, festividade após o jogo para descontrair, é oferecida pelo time da casa, em consideração ao time adversário que teve o trabalho de viajar para jogar. O rugby também estimula a cooperação entre os jogadores, formando cidadãos respeitosos. Segundo a diretoria do BH Rugby, o primeiro time oficial de rugby em Minas surgiu em 1995 em Varginha, o Minas Rugby; em 2000 o time se desmantelou em dois. O esporte chegou em Belo Horizonte no final da década de 90. Um grupo de ex-universitários da UFV que costumavam jogar rugby em Viçosa, quando mudaram para capital procuraram continuar jogando. Porém, a união não vingou, e após anos sem contato, os ex-universitários se reencontraram em 2003. Chegaram a competir algumas vezes no Rio e mais uma vez o time não seguiu adiante. Somente no final de 2003 é que foi possível consolidar um time de rugby em BH.
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Arquivo O Ponto Foto Paula Ribas
A professora Ana Paula Chaves, professora de inglês, mesmo com todas as dificuldades do ensino público, estimula seus alunos no aprendizado de uma segunda língua
Dificuldades no ensino da língua estrangeira A FALTA DE APARATOS TECNOLÓGICOS E DE MATERIAIS DIDÁTICOS IMPORTADOS PREJUDICA ALUNOS DAS REDES PÚBLICAS NO APRENDIZADO DE UMA SEGUNDA LÍNGUA FLORA LIBÂNIO 4º PERÍODO Salas de aula de escolas municipais de Belo Horizonte enfrentam dificuldades quanto ao acesso à tecnologias e material didático, o que prejudica o aprendizado de línguas estrangeiras nesses locais. Essa falta de acesso à informática e à oportunidades de aprendizado de uma segunda língua, acaba por agravar a disparidade social da realidade brasileira. Astréia Soares, socióloga e professora das universidades Fumec e Newton de Paiva acredita que a globalização traz novas demandas, o que gera novas formas de exclusão. “A falta de ‘capital cultural’ (conhecimento e informação) sempre foi um
forte fator de exclusão no mercado de trabalho. Porém, a globalização trouxe a demanda por novas habilidades, dentre elas o domínio de outras línguas e da informática”. Segundo a professora, há uma nova preocupação mundial com a “infoinclusão”, uma vez que a chegada de novas tecnologias resultou em inúmeros ‘analfabetos instrumentais’ não apenas entre as classes populares, mas também em outros segmentos da sociedade, como os profissionais mais velhos e com menor condição de reciclar seus conhecimentos. O fator de relevância nesses novos domínios está relacionado a um problema estrutural brasileiro que pode vir a ser agravado: à desigualdade social. De um lado, estão as
classes privilegiadas. Trata-se de estudantes com boa base educacional e acesso a diversos e sofisticados recursos em casa e na escola. Do outro, as classes baixas, estudantes geralmente defasados, que arcam com as conseqüências do despreparo e negligência de alguns educadores e da realidade do sistema público. A Escola Municipal Padre Guilherme Peters é uma delas. Alguns meses atrás a escola recebeu seu primeiro DVD. Antes, contava com apenas dois vídeos VHS para nove turmas. Materiais importados, essenciais para um bom aprendizado de qualquer língua estrangeira, são muito caros para o orçamento dos alunos. Visto que o ato de xerocar é crime, resta aos professores produzirem seu próprio material. Do outro
lado, estão as instituições privadas. Apesar de a maioria dos colégios particulares ter um ensino de línguas estrangeiras insuficiente, grande parte dos alunos pode freqüentar cursinhos extra-classe. A falta do ensino médio não constitui um problema, já que esses estudantes tem uma boa base educacional, acesso a sofisticados recursos e condição financeira privilegiada. Ana Paula Chaves, professora de inglês da Escola Municipal Padre Guilherme Peters já teve contato com essas duas realidades de ensino e retrata a dificuldade de produzir-se material didático com falta de recursos. “Quando eu trabalhava em cursinho de inglês, além da escola possuir vários recursos como laptop, DVD´s e lançamentos, os alunos não questio-
navam os preços dos materiais, simplesmente os apresentavam. Nas instituições públicas preciso elaborar meu próprio material, o que sai mais barato do que livros importados”, retrata. Para a professora, o aprendizado de línguas estrangeiras deve ser mais valorizados, já que traz benéficios concretos ao estudante “Acredito que o status conferido ao saber da língua inglesa está no retorno ao longo prazo, como vantagem profissional e possibilidade de se comunicar com povos de diversas origens”, explica Chaves. Ela lembra ainda que o aprendizado da língua traz vantagens práticas, como saber operar um computador e cash eletrônico que constam de comandos em inglês.
Professores de inglês e espanhol podem Acesso à informação reciclar didática em projeto da UFMG contra a desigualdade Com o fim de qualificar profissionalmente professores de inglês e espanhol das redes públicas municipal e estadual, a professora de Letras da UFMG, Deise Prina, idealizou o projeto Educação Continuada de Professores de Língua Estrangeira-Educonle. Desde 2002, o projeto envolve alunos da graduação de letras (bolsistas ou voluntários), pós-graduandos da Faculdade de Letras (Fale ) e outros voluntários, que são ou visam ser professores de inglês ou espanhol. O projeto contempla aulas de metodologia, ministradas às sextas-feiras por mestrandos e doutorandos da Letras, de 14 às 17:30h, e aulas de língua estrangeira, aos sábados, ministradas por monitores (que são graduandos da Letras) de 9 às 12h. O desempenho dos participantes do projeto é avaliado por meio de portfolios, provas, preparação de material didático, seminários, tra-
balhos escritos e orais, o que possibilita a ligação entre teoria prática e trabalho coletivo. A professora de inglês da Escola Municipal Vinicius de Moraes e espanhol do Sebrae-MG, Regina Maria Mendes, graduada pelo Educonle, ressalta que o projeto é de grande importância, devido a falta de preparo dos profissionais. “Muitos professores chegam despreparados para a sala de aula, pois geralmente têm como único método a tradução, o que é comprovadamente errôneo. O uso das quatro destrezas - escrita, fala, audição e leitura- são indispensáveis para um bom aprendizado da língua estrangeira”. Muitas questões que tocam estudantes de escolas públicas são alvos de preocupação por parte dos professores, entre elas, Mendes destaca a defasagem educacional. “Alguns alunos che-
gam a 8ª série quase analfabetos, pois lêem mecanicamente. Isso acontece porque passam de ano sem vencer etapas, o que deixa lacunas difíceis de se resolver e atrapalha a compreensão de um idioma estrangeiro. Para que nenhum dos alunos, nem os mais avançados e nem os de aprendizado básico fiquem prejudicados, passo exercícios graduados em níveis e os alunos mais avançados sentam em dupla com os mais fracos”, explica. Já Miriam Jorge, atual coordenadora geral do Educonle, acredita que “não há defasagem específica em relação à língua portuguesa. Há um preconceito lingüístico relacionado aos que não usam o português padrão, considerado mais correto”. Para ela,”pela aprendizagem de uma língua estrangeira, o aluno tem oportunidades de refletir não só sobre a nova língua em questão, mas também
sobre a própria língua materna. Cida Araújo, doutorando da FALE e coordenadora dos alunos da graduação e monitores do projeto, cita alguns desafios vivenciados pelos profissionais envolvidos. “Trabalhamos com o propósito de desenvolver uma nova mentalidade a respeito do ensino e da aprendizagem de um idioma estrangeiro. Deparamo-nos com pessoas que têm um difícil objetivo a atingir em pouco tempo. Adultos normalmente são mais tímidos que crianças e evitam se expor diante de colegas. Dessa maneira, o tempo todo, tentamos ajudar os participantes a vencerem a barreira da timidez e a acreditarem em sua capacidade”. O Educonle tem, atualmente, duração de dois anos e, segundo estimativas do programa, o projeto beneficia, direta e indiretamente, entre 7,5 mil e 15 mil alunos a cada ano.
A desigualdade social na educação e suas conseqüências, é um assunto que há muito tempo vêm preocupando os especialistas. O sociólogo francês Pierre Bourdie chamou a atenção para a existência do capital cultural, tão importante quanto à condição sócio-econômica. A socióloga Astréia Soares destaca que, fatos como o despreparo de muitos educadores, falta de recursos e carência dos alunos geram uma enorme defasagem educacional e afeta a escola como um todo. “Penso que as iniciativas em educação não devem ser abordadas com base nas desigualdades sociais, mas sim organizadas pedagogicamente, tendo como horizonte os desafios provocados por esta desigualdade”. Para ela, a reivindicação por mais recursos para educação é fundamental para o Brasil, “mas não se deve esperar por elas para se im-
plantar novos conteúdos na escola pública”. A aprendizagem de um novo idioma pode vir a ser um recurso a mais para o aprendizado do português e para o combate “a desigualdade socia. Para estimular e conscientizar seus alunos sobre a importância desse tipo de ensino, Regina Maria Mendes, professora de línguas graduada pelo projeto Educonle, explica que “a língua sempre foi instrumento de dominação e que sem ela nào é possível impôr-se socialmente”. Astréa Soares afirma, ainda, que a“informação é um dos bens mais caros da nossa época. “Democratizar o acesso ao conhecimento é fundamental para diminuirse a desigualdade no mundo. Logo, o ensino de outras línguas ou linguagens configura-se como um passo importante para construção da cidadania”, conclui Soares.
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MINERADORAS SEM PIEDADE DA SERRA A SERRA DA PIEDADE É CONSIDERADA PATRIMÔNIO NATURAL, HISTÓRICO, CULTURAL, PAISAGÍSTICO E RELIGIOSO DE MINAS GERAIS, E MESMO ASSIM ESTÁ AMEAÇADA PELA MINERAÇÃO LÍDIA RABELO 8º PERÍODO A cada nova curva, a paisagem muda. Ao longo da subida, rochedos imponentes mostram sua beleza e contrastam com a vegetação que vai ficando cada vez mais rasteira. A neblina se torna mais densa em dias frios e nublados, é possível sentir as pequenas gotas d’água que se formam. Em dias de sol avistam-se as cidades de Belo Horizonte, Sabará, Caeté, Lagoa Santa e Raposos. Muitos peregrinos sobem a serra ora cantando, ora rezando; sozinhos, em pequenos grupos, em multidões, todos movidos pela fé, pois lá no alto o santuário abriga a Padroeira de Minas Gerais que é Nossa Senhora da Piedade. É também um lugar convidativo para o lazer, por abrigar uma beleza natural e cultural de grande valor. Este lugar que inspira poesia é chamado de Serra da Piedade, localizada nos municípios de Caeté e Sabará, a 48 quilômetros de Belo Horizonte, é um dos picos mais elevados da Cordilheira do
Espinhaço, com 1.783 metros. É um patrimônio natural, histórico, cultural, paisagístico e religioso de Minas Gerais. O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Santuário de Nossa Senhora da Piedade foi tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1956, em 1989 é declarada Monumento Natural pela Constituição Estadual e em 2001 foi eleita “Símbolo de Caeté”. Em 2004 a Assembléia Legislativa de Minas Gerais aprovou a Lei nº 15.178/2004 que define os limites de conservação da Serra da Piedade. A Serra também abriga o Observatório Astronômico Frei Rosário da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que ocupa o segundo lugar em importância entre os observatórios existentes no Brasil. Por ter um subsolo rico em minério, a serra tornouse alvo das mineradoras. Maria Teresa Viana de Freitas Corujo, membro do Movimento SOS Serra da Piedade diz: “a CVRD, a Belgo-Arcelor e a Vallourec & Mannesmann, insistem em pressionar todas as instâncias para
viabilizar suas atividades extrativas apesar de toda a importância mais do que comprovada desse Monumento e Patrimônio de Minas Gerais e do Brasil”. Porém, como explica a Superintendente Executiva da Amda (Associação Mineira do Meio Ambiente), Maria Dalce Ricas, qualquer atividade econômica tem que obedecer aos limites ambientais, históricos, culturais e científicos. “No caso da mineração, o parâmetro ‘minerar onde está o minério’ não pode ser aplicado integralmente, porque há locais em que o valor desses atributos é maior do que os benefícios econômicos que podem ser gerados”, relata Maria Dalce. É necessário ainda, em casos como estes, um minucioso estudo técnico, e um rigor maior no licenciamento de atividades minerárias, “para se garantir que o passivo ambiental não seja deixado para a sociedade”, conclui Maria Dalce. A Superintendente da AMDA diz que a Brumafer, empresa de mineração instalada na Serra da Piedade, “nunca agiu com responsabilidade ambiental, a Amda tem
correspondência da Feam, datada de 1989, que reconhece não estar a empresa cumprindo com as condicionantes ambientais, mas nada foi feito”, explica. Segundo o pároco do Santuário Nossa Senhora da Piedade, padre Marcos Antônio Gomes, a atividade de mineração é incompatível com o tombamento federal. “A Serra da Piedade sofre com o ataque da ganância por parte das mineradoras que querem minerar em torno de toda a Serra. Se isso acontecer ela perderá aquilo que tem de mais belo, a paisagem no seu entorno”, argumenta. Além disso, Padre Marcos relata: “venho sofrendo pressões tudo quanto é ordem, lobby (grupo de pressão junto a políticos para a votação de leis de seu interesse), vereadores, prefeitos e de deputados, favorecimentos econômicos...”. Ele afirma ter recebido uma proposta de um deputado de que a igreja teria benefícios com as mineradoras caso permitisse a mineração na serra, ou seja, eles construiriam uma catedral em troca da mineração.
Nós temos a informação de que houve um lobby muito grande das mineradoras em cima dos deputados
As mineradoras têm grande força política na ALMG por financiarem campanhas eleitorais de muitos deputados
Frei Gilvander, do Movimento Capão Xavier Vivo
Deputado Durval Ângelo (PT-MG)
Fotos: Divulgação
Lei inconstitucional Estudos técnicos realizados pelo IEF (Instituto Estadual de Florestas) e pelo IEPHA (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas) em 2004, levaram à sanção da lei 15.178/2004, que “Define os limites de conservação da serra da Piedade, conforme o art. 84, parágrafo 1º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado”. E no dia 19 de maio de 2006, obedecendo aos limites propostos nesta lei , foi homologado o tombamento Estadual da Serra da Piedade. Mas no dia 26 de maio de 2006 foi sancionada pelo Governador do Estado a lei 16.133/2006 que alterou os limites da Serra. Um dos coordenadores do Movimento Capão Xavier Vivo, Frei Gilvander, relata: “essa lei muda o traçado da área de proteção, e isso é grave, porque, nós temos a informação que houve um lobby muito grande das mineradoras em cima dos deputados”. O Frei acrescenta: “já fizeram prospecção minerária em vários pontos da Serra da Piedade e identificaram que há muito minério no subsolo da serra e eles quiseram com isso tornar viável em breve conseguir licenciamento para instalar lá diversas minas”. O deputado estadual Durval Ângelo (PT-MG) disse que as mineradoras têm grande força política na Assembléia Legislativa de Minas por financiarem campanhas eleitorais de muitos deputados, isso pode ser verificado no site do TRE. Como um dos membros do Movimento SOS Serra da Piedade, Maria Teresa Viana de Freitas Corujo afirma : “a emenda inserida na lei foi vergonhosamente fraudulenta, pois alterou os limites definidos em 2004 para fins de preservação da Serra da Piedade, ratificados pelo IEPHA em 2005. Os novos limites propostos não representam o Conjunto Paisagístico da Serra da Piedade – Monumento Natural de Minas Gerais e deixaram de fora propositalmente as áreas pretendidas pela mineração”. Brumafer A empresa de mineração, Brumafer Mineração LTDA está instalada na Serra da Piedade, no município de Sabará há
aproximadamente 40 anos. O advogado da Brumafer, João Paulo Campello de Castro, diz que a empresa realiza sua atividade respeitando os limites do tombamento federal. A lei mudou em consequência dos municípios de Caeté e Sabará fazerem pressão. O advogado relata: “esses dois municípios tiveram suas perdas e, através de suas lideranças locais, deputados, eles solicitaram uma retificação da área, de tal maneira que a área da Brumafer não fosse mais incluída nesse monumento natural”. Em Caeté, segundo Castro, as perdas foram relativas ao comércio e aos empregos, em Sabará pelos impostos gerados pela mineradora. Porém, segundo o advogado, “isso não alterou em nada, porque essa área já se encontra tombada pelo IEPHA, então não altera em nada a questão da nova lei”, complementa. A lei 16.133 foi considerada pelo Ministério Público Estadual “inconstitucional” por tratar de assuntos diferentes e sem conexão, Lei essa, conhecida no jargão Parlamentar como “Frankenstein” (emenda que trata de um assunto diferente do proposto). Essa lei exclui justamente a área de mineração da Brumafer, onde está o maior passivo ambiental da região, da área de preservação. A ação civil pública movida pelo Ministério Público obteve uma liminar que impede a mineração na Serra, e a mineradora Brumafer está com suas atividades paradas desde de janeiro de 2006. As entidades de proteção ao meio ambiente na luta contra a atividade minerária, entre elas o Santuário Nossa Senhora da Piedade, Movimento SOS Serra da Piedade, Movimento Capão Xavier Vivo, MACACA (Movimento Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté), Projeto Manuelzão, entre outros, querem a anulação dessa lei. Como relata o topógrafo e representante do MACACA, Wanderley Pinheiro, a exploração mineral na serra causa um impacto visual muito grande e “o fundamento do tombamento é o aspecto paisagístico, a Serra da Piedade é referência há mais de trezentos anos”, explica.
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Foto: Lígia Ríspoli
A Serra da Piedade, a quase 50 quilômetros de Belo Horizonte, abriga o Observatório Astronômico da UFMG e o Santuário Nossa Senhora da Piedade, além de oferecer estrutura turística, como o restaurante que fica no seu topo
Foto: Lígia Ríspoli - 8º Período
Os impasses da mineração O Movimento SOS Serra da Piedade criado em julho de 2001, é, segundo Maria Teresa Viana de Freitas Corujo, um movimento voluntário de entidades e cidadãos, que trabalham em favor da preservação da Serra da Piedade. “O SOS demonstra a capacidade da sociedade civil de se organizar e lutar por algo que irá beneficiar a maioria das pessoas e não uma minoria que só busca o lucro e desconhece os aspectos fundamentais da vida”, afirma Maria Teresa. Maria Tereza explica que a relação tanto a comunidade de Sabará, quanto de Caeté, e todos que conhecem a Serra da Piedade é muito forte. “E daí a necessidade da sua preservação mesmo diante da usual alegação de empregos”, diz. O metalúrgico Reinaldo Gomes, morador de Sabará, se mostra indignado com a destruição da natureza em detrimento da mineração. Ele relata: “o que vemos aqui é que a natureza está sendo destruída pelas mineradoras, e recurso para a cidade nenhum, tudo é mandado para outros países, já tivemos nascente aqui que forma destruídas”. Uma pesquisa foi realizada no município de Caeté em Abril de 2004 pelo Instituto DataFato de Itabira-MG, a pedido da Câmara Municipal de Caeté, uma das questões le-
vantadas foi: Existe um grande debate a respeito da mineração na Serra da Piedade. Você é a favor ou contra permitir a mineração na Serra da Piedade? 95,8 % dos entrevistados disseram ser contra a mineração. O secretário do Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente de Caeté, René Henrique Cardoso Renault, fala que a posição do município de Sabará. “Nós não defendemos a empresa Brumafer, o que a gente defende no município é um desenvolvimento de fato sustentável”, explica o secretário. Para ele, muitos falam hoje em preservação, mas esquecem da sobrevivência do homem. Ele explica que Caeté busca a possibilidade de conciliar esse desenvolvimento. “Para proporcionar melhor qualidade de vida para as pessoas, e melhor qualidade de vida passa pela questão social, econômica, e é claro, a questão ambiental”, finaliza. A secretária de Meio Ambiente de Sabará, Júnia Cibele relata: “somos favorável ao entendimento, a união de forças mesmo, em prol do desenvolvimento sustentável, isto é, com as leis devidamente cumpridas, com os projetos todos licenciados, e resgatar os empregos, arrecadação que a prefeitura perdeu, na verdade o município teve uma perda grande na arrecadação,
tanto com os impostos diretos quanto indiretos, que são terceirizados”. A Brumafer, segundo o advogado, João Paulo Campello de Castro fez a seguinte proposta para os órgãos ambientais do Estado: “ minerar mais seis anos e fazer a revitalização dessa área”. Proposta esta que não foi aceita. O advogado acrescenta que existe um entrave. “Durante 30, 40 anos a atividade mineração foi executada na Serra da Piedade, e não teve nenhum cidadão, não teve nenhuma SOS Serra da Piedade, não teve nenhum Ministério Público que fizesse objeção pela mineração. Então criou-se um imenso passivo ambiental, e o paredão que existe lá, é um paredão imenso, da altura de um prédio de uns 12 andares, e que se não tiver um bom senso isso vai ficar lá para sempre”, relata Castro. A superintende executiva da AMDA, Maria Dalce Ricas, vê a situação como extremamente delicada: “por um lado temos um passivo ambiental cuja recuperação é altamente onerosa e é difícil aceitar uma cicatriz eterna na Serra; por outro, é preciso certeza absoluta de que a continuidade da exploração da mina da Brumafer resulte na correção do mesmo e em outros benefícios”, explica Maria Dalce. Do alto da Serra da Piedade é possível avistar BH, Sabará, Caeté, Lagoa Santa e Raposos
Mineração assombra cidade turística LÍGIA RÍSPOLI 8º PERÍODO A cidade de Conceição do Mato Dentro em Minas Gerais, parte da Serra do Cipó, fica a quase 200 quilômetros de Belo Horizonte. Com trezentos anos de história, ela surge por causa da mineração, devido à sua riqueza aurífera. Essa é a história das “Minas Gerais”, tendo já marcado em seu nome o motivo de sua existência. Quando a mineração acabou, a cidade ficou abandonada à própria sorte, fato comum quando as reservas se exaurem. Nos últimos anos, ela foi impulsionada pelo turismo, graças, principalmente, às cachoeiras,
como a do Tabuleiro, que é considerada a mais alta do estado e a terceira do Brasil, permaneceram intocadas pelo isolamento da região. A cidade localiza-se em uma área divisora das bacias do Rio São Francisco e do Rio Doce, na Serra do Espinhaço. Desde então, a cidade tem investido nessa estrutura de turismo, como asfaltando a estrada que leva ao local. Agora, há uma tentativa de aprovar a construção de um minerioduto, em um distrito ao lado de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas, que se estenderá até São João da Barra, no Rio de Janeiro. De acordo com o gerente de meio ambiente da Se-
cretaria Municipal de Meio Ambiente de Conceição, Cristiano Floriano, um dos impactos será a retirada da água de Conceição para o Rio de Janeiro. Quanto à mineração, lembra o gerente, trará os impactos ambientais esperados. Cristiano Floriano defende que espera-se a compensação ambiental, ou seja, recuperação do lugar depois da mineração, mas ele explica que nem sempre é o suficiente. Pessoalmente, ele acredita que tem que olhar os dois lados, porque se existe os impactos ambientais, também há o desemprego, e é difícil explicar para um pai de família sem emprego que a mineração pode não ser boa.
Foto: Lígia Ríspoli - 8º Período
O Santuário é o objetivo final dos que vão à Serra para rezar ou mesmo contemplar a vista
14 - Comportamento - Laura
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EM BUSCA DA CARLOS EDUARDO MARCHETTI 4º PERÍODO Dentro da lógica da sociedade de consumo, a felicidade também passa a ser um produto vendável principalmente com o aval do mercado editorial. Sob uma função imperativa, palavras de ordem como felicidade, amor, sucesso, liderança e planejamento parecem delimitar os grandes temas dos livros de auto-ajuda, que se apresentam segmentados em grande quantidade de ramificações. Fundamentados em frases de efeitos e no dogma de que o sucesso profissional e conjugal dependem em grande parte da força interior, tal segmento traz à tona uma argumentação que muitas vezes se rende aos aspectos emotivos e financeiros que rondam o dia-a-dia. A literatura de auto-ajuda parece ter bebido na fonte das linguagens comuns à administração e ao marketing, com inclinação também à psicologia e ao esoterismo, adaptando-as ao formato adequado para seu público-alvo. Em contrapartida, o mercado editorial desse segmento apresenta sucessivas taxas de crescimento, seja a partir de novas publicações ou por meio das vendagens de best-sellers. De acordo com Fábio Diegues, assessor de comunicação da Câmara Brasileira do Livro (CBL), não existe ainda uma pesquisa oficial e específica (consumidores, ramificações) para o segmento de auto-ajuda, embora seja inegável sua força no mercado editorial. Já Armando Antongini, diretor-executivo da CBL, afirma em matéria publicada no jornal O Globo, que o segmento auto-ajuda apresentou em 2005 um crescimento entre 5% e 10% ao ano no Brasil. Como os números de 2006 ainda não foram definidos, a estimativa da CBL é de que tenham sido lançados cerca de 600 títulos de auto-ajuda no ano, com mais de três milhões de exemplares vendidos. Deste total, cerca de 30% seriam voltados para o universo corporativo. Conceito Com ou sem dados concretos, é perceptível o crescimento deste segmento, principalmente no meio corporativo encabeçado em grande parte pelos best-sellers de escritores norte-americanos, além de autores de variados ramos profissionais como o técnico da Seleção Brasileira de Vôlei, Bernardinho e o médico Lair Ribeiro. Diante dessas questões a definição do que vem a ser a literatura de auto-ajuda ainda é bastante discutível. Ao abordar temas variados como auto-estima, dependência química, depressão, desenvolvimento profissional, meditação, relacionamentos, estresse, sucesso e espiritualidade, sua argumentação não obedece padrões que delimitem seu conceito. Para a psicoterapeuta Maria Tereza Alves, os autores de auto-ajuda excluem de sua análise aquilo que é peculiar de cada indivíduo e produzem nos mesmos (indivíduos) certo conforto ao abordar o que é comum a todos. “Os psicólogos que dão orientação para pais de adolescentes ou pais de crianças estão tratando de problemas que são comuns àquela faixa etária. Nessa hora há uma normalização do problema”, esclarece. A psicoterapeuta explica que “o livro de auto-ajuda pode acabar entrando nessa questão sendo muito negativo. Não há uma felicidade fácil e nem uma felicidade o tempo todo. Muitos autores pegam o filão da auto-ajuda com o intuito de ganhar dinheiro e acrescentam um monte de mandamentos e soluções mágicas que são muito frustrantes. Daí que entra as diferenças entre os autores”, completa.
Felicidade
COM PROMESSAS DE FELICIDADE IMEDIATA, LIVROS DE AUTO AJUDA SÃO SUCESSO DE VENDAS NO BRASIL Patrícia Dumont 5ºG
Best-sellers nacionais e internacionais, os livros de auto-ajuda abusam de mandamentos e fórmulas prontas
Uma visão individual do mundo Uma grande discussão fomentada por profissionias dos meios acadêmico e científico é sobre o utilitarismo presente na argumentação de muitos livros de auto-ajuda, em especial aqueles ligados a preceitos empresariais. Ao colocarem a razão a favor dos interesses próprios, a linguagem empregada colabora para a formação de indivíduos possessivos e competitivos que fazem da angústia e da deficiência valorativa uma busca subjetiva. No livro Sociologia e modernidade, o sociólogo José Mauricio Domingues critica a abordagem de Lair Ribeiro ao falar do indivíduo moderno e as transformações da sociabilidade. Segundo o sociólogo, Ribeiro mistura recomendações práticas (racional-utilitárias) a outros temas do universo semântico-ideológico para construir uma miscelânea entre a linguagem técnica e científica. “Ribeiro não é, sem dúvida, um dos pensadores mais sofisticados de nosso tempo, mas sua enorme vendagem de livros é significativa de uma ‘adequação’ do escritor aos desejos e ideologias de seu público”, critica. Para o sociólogo, essa busca utilitária do sucesso individual seria um aspecto crucial da moralidade da massa contemporânea. No best-seller O sucesso não ocorre por acaso, Lair Ribeiro afir-
ma que para alguns ganharem outros não precisariam perder. O que ocorre segundo ele é que riqueza ou pobreza, felicidade ou sofrimento, fome ou fartura dependeriam das escolhas e percepção de cada indivíduo. Essa é a mesma abordagem trabalhada por Robert Kiyosaki, autor do best-seller Pai rico, pai pobre. Para o escritor norte-americano cada indivíduo tem o poder de determinar o destino do dinheiro que chega às mãos, pois a escolha seria de cada um. Segundo Lair Ribeiro, a educação é um pilar de sustentação que nos ensina até certo ponto, pois é necessário que busquemos a parte prática. “O conhecimento por si só não vale nada. Hoje existe muita informação e o mundo exige competência de ação. É o auto-conhecimento que dá entusiasmo, pois para cuidar dos outros é preciso cuidar primeiro de você mesmo”, preconiza. “Bill Gates (presidente da Microsof) e Steve Jobs (fundador da Apple) não têm curso universitário completo.A General Eletric é a maior empresa do mundo e foi fundada por quem? Thomas Edison, que também não tinha curso universitário. A educação é relativa. O que nos falta é uma educação pragmática”, polemiza. O que chama a atenção para algumas argumentações acima é que
muitas delas ignoram que entre o homem e suas desavenças pessoais está a sociedade que o rodeia e uma ideologia que a sustenta. Com isso a palavra liberdade tem hoje um novo significado, pois ao contrário do que afirma Kiyosaki, a escolha não depende de cada um, visto o simples argumento de que as desigualdades são evidentes. Seu uso (liberdade) está muito mais voltado para um caráter pessoal. As supostas perdas de referência deixam o individuo aquém das bases antes consideradas sólidas e nessa busca desenfreada por um referencial o sujeito prende-se a si mesmo. O antropocentrismo é suplantado pelo egocentrismo e o indivíduo, agora massificado, busca como fim a sua auto-realização. “O sucesso do segmento de auto-ajuda é mais um reflexo da sociedade em que vivemos. As pessoas perderam o espaço da convivência onde se trocava experiência. Hoje já não se ‘pode’ falar de suas dificuldades, afim de esconder qualquer deficiência, pois estas passaram a serem lidas como despreparo”, ressalta a psicóloga Maria Eliane. “É nesse ponto que as relações interpessoais têm dado espaço para o individualismo promovendo uma sociedade que vive na base da aparência e do imediato”, afirma.
Discussão Científica Falar bem ou mal da literatura de auto-ajuda delimitaria muito a discussão. De acordo com Maria Tereza, o conhecimento científico da psicologia e da psicanálise pode ser simplificado pelos livros de autoajuda, mas nem sempre será prejudicial, pois esta premissa depende das intenções e de outros aspectos subjetivos, tanto do leitor como do escritor.“A literatura de auto-ajuda presente em artigos de jornais ou em livros, pode às vezes abrir um caminho e mostrar para a pessoa que ela não é a única com aquele tipo de problema. A auto-ajuda tem um alcance e uma função, desde que uma pessoa que tenha pouca bagagem não se meta a escrever”, critica. Compartilhando a mesma opinião, a psicóloga Maria Eliane Andrade, acredita que há mais de um tipo de auto-ajuda. Especializada em treinamentos educacionais e corporativos, Maria Eliane afirma que um dos mais freqüentes exemplos de auto-ajuda seria aquele em que o sucesso pessoal e profissional são decorrentes da aplicação de regras e fórmulas prontas. Funcionando como superstição (do tipo "não passe debaixo de uma escada") a auto-ajuda produz um efeito temporário. De acordo com a psicóloga, após mudar seu comportamento por dois ou três meses a pessoa acabaria não sustentando-o, uma vez que, os fundamentos para essa nova atitude não foram trabalhados. Um segundo tipo, no entanto, já atinge um nível de abstração um pouco menor, pois segundo Maria Eliane, o indivíduo pode compreender melhor a situação a qual esta passando e procura atuar de forma não restrita a certas regras. A psicóloga afirma não utilizar livros que acompanham essas abordagens em seus treinamentos, devido ao seu curto alcance prático e também porque as variáveis com as quais alguns autores trabalham são incompletas e insuficientes para melhorar a dinâmica de uma equipe empresarial. Outras Definições Ao tomar como base a discussão sobre o bom ou mal uso da literatura de auto-ajuda, bem como o preconceito presente nas falas de representantes dos meios acadêmico e científico, as editoras preferem adotar uma classificação “cuidadosa” sobre aquilo que muitos generalizam como auto-ajuda. Segundo Áurea Amaral, assessora de imprensa da Editora Crescer, tal denominação é inadequada. “Não usamos o termo auto-ajuda, e sim, tratamos nossos livros como terapêuticos, de crescimento pessoal e relacionamento interpessoal”, explica. Na verdade, tais termos não diferem da denominação orginal; remetem à mesma coisa, mas com palavras diferentes. Localizada em BH, a editora atua em todo Brasil, por meio de distribuidores e livrarias, e tem como principais temas abordados a busca da auto-estima e relacionamentos amorosos (paixão e traição). Dentre seus principais autores estão John Powell, Anne Morrow Lindbergh e Clara Feldman. De acordo com Lair Ribeiro, um dos mais bem sucedidos autores de livros de auto-ajuda no país, a imprensa inteira não sabe definir o que vem a ser esse segmento e muitas vezes o trata equivocadamente. “A linha divisória entre o que é e o que não é self-help é indefinido e vago, embora todo conhecimento devesse ser denominado como auto-ajuda”, afirma. Médico, palestrante e escritor, Lair Ribeiro é autor de 29 livros dentre os quais 13 best-sellers e 19 já traduzidos em outra línguas.
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Belo Horizonte – Maio/2007
Música vem da Esquina Roberta Aranha 5º Período
UNIÃO DOS IRMÃOS BORGES E MILTON NASCIMENTO RESULTOU EM UM MOVIMENTO DE GRANDE IMPORTÂNCIA PARA A HISTÓRIA DA CIDADE DE BELO HORIZONTE: O CLUBE DA ESQUINA Esquina da Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis no bairro Santa Tereza onde os integrantes se reuniam todas as tardes CARLOS VINICIUS LACERDA
5º PERIODO Com o início em 1963, em Belo Horizonte, o Clube da Esquina representa, até hoje, um movimento musical relevante para o cenário nacional. Movimento criado por uma irmandade unida através do interesse pela música, política e, claro, por cachaça. Milton Nascimento e os irmãos Borges foram os propulsores do movimento ao se conheceram no edifício Levy, na Avenida Amazonas. Milton acabara de chegar de Três Pontas, cidade onde morava. Os encontros tornaram-se assíduos e regados a batidas de limão. Enquanto isso, o então
menino, Lô estudava harmonia com o guitarrista Toninho Horta, com o qual fundou, posteriormente, a banda The Beavers. Desta forma, foi plantada a primeira semente do que seria o Clube da Esquina. Em 1966, Milton Nascimento já tocava em casas noturnas de Belo Horizonte e alcançado alguns prêmios de importância, como o quarto lugar no Festival Nacional de Música Popular da TV Excelsior de São Paulo. Pouco tempo depois, em 1967, três músicas suas foram escolhidas para o II Festival Internacional da Canção: “Travessia”, que marcou sua primeira parceria com Fernando Brant.
Enquanto Milton já despontava, com o disco “Courage” (1968), o Clube da Esquina não parava de crescer. Nesse período aconteceu a chegada de nomes de peso, como Flávio Venturini, Vermelho e Tavinho Moura. Juntamente com Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta, eles se apresentavam em shows chamados Fio da Navalha. Contudo , até então essas reuniões e apresentações deste grupo de músicos não tinham nenhum nome. Até na esquina da Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis, no tradicional bairro de Santa Tereza, Márcio Borges sugeriu este nome pois sempre ouvia a mãe respondendo quando
perguntavam onde estavam seus filhos: “ Claro que lá na esquina, cantando e tocando violão”. Em 1972, Milton Nascimento e Lô Borges, entram em estúdio para gravar o primeiro LP do Clube da Esquina. Com uma mixagem de vários estilios musicais, como bossa nova, Beatles, toadas, congadas, choro, jazz, folias de reis e rock progressivo, e com letras de grande força poética, o primeiro disco do Clube foi imbuído de originalidade e uma sonoridade reconhecida até os dias atuais. “Lembro-me bem daquela época, apesar de não tê-los conhecido pessoalmente, fui muitas vezes aos shows e, até hoje ainda escu-
to as músicas do Clube com muito gosto” lembra-se Álvaro Gomes, nascido em Belo Horizonte e frequentador do Bairro Santa Tereza. Este movimento originado em Minas teve uma repercussão musical já que músicas como “O trem azul” - de Lô e Ronaldo, regravada por ninguém menos que Tom Jobim em seu último disco, (Antônio Brasileiro) -, “Tudo o que você poderia ser” - de Lô e Márcio Borges -, “Nada será como antes” e “Cais” ambas de Milton e Ronaldo marcaram o movimento mais importante no Brasil depois da “Tropicália”. Segundo Tatiana Dias,30, chefe de pesquisa do Grupo, “é importante lembrar que o Clube não é uma banda
e sim uma parceria entre os músicos mineiros”. Com o tempo, cada um seguiu seu caminho. Em 1978, Milton lançou o “Clube da esquina 2”, onde reuniu a velha guarda e novos integrantes para lançar outro disco. “ Nunca houve uma separação, os músicos ainda mantém contato entre si e com o Clube”, conta Tatiana. Na década de 80, os integrantes possuem seus projetos independentes,que incluem livros, produções culturais e música. Notou-se em Minas o surgimento de várias bandas nessa época com parte da diluição das idéias difundidas pelo Clube da Esquina, como Skank, PaTo Fu e Sepultura.
Marina Valadas - 6º Publicidade e Propaganda
Separados, mas unidos pela música Após o término do Clube da Esquina cada participante seguiu seu caminho. Mas o que nota-se é que o entrelaçamento profissional e pessoal ainda existe. Parcerias musicais são constantes, seus encontros no bairro Santa Tereza não são mais frequentes, mas mesmo assim a amizade continua. Dentre todos os integrantes alguns obtiveram mais repercussão e seguem fazendo o que sabem de melhor: música. O que obteve mais destaque foi, sem dúvida, Milton Nascimento. Desde criança suas aptidões musicais já eram notadas por todos. Em 1963 mudou-se para BH para estudar economia. Mas sua carreira musical já estava traçada. Prova disto foram suas vitórias nos festivais de 1966 e 1967 onde ganhou o prêmio de melhor intérprete e segundo lugar com “Travessia”, música sua e de Fernando Brant. Após gravar seu primeiro disco, foi para os EUA em 1968, onde obteve reconhecimento internacional e o fez ter destaque dentre os demais integrantes do Clube. Hoje, desponta-se como um dos maiores cantores e compositores brasileiros. Lô Borges também foi bastante reconhecido internacionalmente, contudo seu maior reconhecimento se deu na Europa. Há pouco tempo esteve no Japão, onde fez uma turnê com dez apresentações. Em 1966, lançou o CD “Meu Filme” com participações de Caetano Veloso e Chico do Amaral. Em 1999, em parceria com Samuel Rosa, do grupo Skank, montou um projeto que uniu o repertório de ambos. Fernado Brant, sempre foi mais dedicado à composição. É formado em direito e já trabalhou como repórter. Sua leal parceria com Milton lhe trouxe definitivamente para o mundo musical. É considerado o principal letrista de Milton.
Um sonho que se tornou realidade O museu Clube da Esquina tem com principal objetivo resgatar histórias contadas pelos protagonistas do grupo Clube da Esquina e por pessoas que de alguma maneira vivenciaram momentos junto à eles. “O Museu é virtual, não é físico”, conta Luciene que trabalha no museu. Ele traz histórias contadas desde o surgimento do Clube até os dias atuais. A idéia do museu surgiu de um sonho que Márcio Borges teve, “ele sonhou que estava na boate Berimabu no edifício Maleta” relatou Tatiana Dias, 30, chefe de pesquisa do Clube. Após esse sonho a mulher de Márcio sugeriu que ele criasse um museu para guardar todas as sua memórias, e foi aí que ele começou a correr atrás de seu sonho para fazer com que ele se tornasse realidade. Todos os músicos envolvidos no projeto Clube da Es-
quina mantêm contato através de entrevistas para o site e através de seu acervo pessoal, inclusive os que obtiveram maior sucesso na carreira musical. Eles continuam unidos pela música. O Museu surgiu graças à lei de incentivo à cultura que aprovou o projeto de Borges. Futuramente eles pensam em fazer um museu real do Clube, onde as pessoas possam visitar e conhecer com mais detalhes da trajetória dos músicos mineiros. No momento, o Museu passa por uma nova fase, que é tornar-se trilingue , para poder, asim, divulgar melhor a história do Clube,e atingir um público maior. O “Museu-Vivo” é uma contrapartida do Museu Clube da Esquina, onde são feitos shows e palestras gratuitas em escolas e praças. “O Museu-Vivo busca divulgar o movimento, para manter viva a idéia inicial”, disse Tatiana.
Clube da Esquina A criatividade mineira que inovou a música brasileira
16 - Segurança Mariana Isoni
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MARCAS DA AGRESSÃO DENÚNCIA É A ESPERANÇA PARA MULHERES QUE SOFREM VIOLÊNCIA, MAS NEM SEMPRE É A SOLUÇÃO LÍDIA RABELO 8º PERÍODO A agressão doméstica é uma forma comum de manifestação de violência na família, que na maioria das vezes se torna invisível. É uma violação dos direitos humanos mais exercitados, porém, menos reconhecidos. Segundo a coordenadora do NEMS (Núcleo de Estudo Mulher e Saúde) e professora da UFMG Anayansi Correa Brenes, no Brasil está por se fazer valer o direito da mulher na hora do atendimento, seja ele social ou policial. “É preciso um sistema que acolha, proteja e auxilie uma vítima para que ela perca o medo” reforça Anayansi. A professora ainda acrescenta que as ações de governo para esse tipo de atendimento são muito burocratizada: “perdendo-se assim, o elemento motivador de uma luta das mulheres, por mulheres engajadas na política, no cenário das lutas feministas, por décadas”, conclui. Segundo dados de uma pesquisa realizada em 2001 pela Fundação Perseu Abramo, foi detectado que “em todo o país cerca de uma em cada cinco brasileiras (19%) declaram espontaneamente ter sofrido algum tipo de violência por parte de algum homem; 16% relatam casos de violência física; 2% citam alguma violência psíquica e 1% lembra do assédio sexual”. Pesquisa sobre a violência doméstica contra a mulher do Data Senado realizada em março de 2007 “constata que em cada 100 mulheres brasileiras, 15 vivem ou já viveram algum tipo de violência doméstica”. “Perfis de mulher” é o título do projeto que recebeu apoio do Proex – Programa de
extensão da Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec), que conta também com a parceria da Comdim (Coordenadoria dos Direitos da Mulher da Prefeitura de Belo Horizonte) e com apoio da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. A maior parte do documentário é feita de depoimentos das mulheres que estão abrigadas na Casa Abrigo Sempre Viva, que pertence à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Essas mulheres correm risco de serem mortas por terem denunciado os seus parceiros e nessa casa recebem segurança e acompanhamento psicológico até saírem da situação de risco e poderem reconstruir sua vida. Como relata a professora da FCH (Faculdade de Ciências Humanas) da Universidade Fumec, produtora e diretora do vídeo, Maria de Fátima Augusto, essas mulheres ao saírem de casa temendo serem mortas, deixam tudo para trás “deixam sua memória, e muitas vezes até os filhos”. O cinema que Maria de Fátima propõe e acredita, “nasce da observação cotidiana do personagem”. Uma das formas de não mostrar o rosto das mulheres que estão em situação de risco e não podem aparecer, será a inserção de desenhos nas cenas. Foram filmadas também várias estátuas de mulheres “imponentes e dignas” para mostrar que elas estão numa situação de violência nesse momento, mas que com apoio adequado elas vão encontrar uma saída. A lei Diante da situação alarmante em que se encontra a violência doméstica no país,
Pintora portuguesa Paula Rego expressa a agonia da mulher em seu quadro “Dog Woman”, Pastel de Óleo, 1994, Tate Gallery espera-se que a “Lei Maria da Penha”, 11 340, sancionada em 7 de agosto de 2006, seja uma solução, ou uma tentativa de coibir este tipo de crime, como é proposto no seu artigo 1º: “Esta lei cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Preve-
nir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências”. Maria de Fátima Augusto conta que descobriu através das pesquisas que morre todos os dias uma mulher no Brasil vítima desse tipo de violência, isso só o que é registrado.
Para Maria de Fátima, existem vários fatores que devem ser considerados nesse tipo de violência. O que a professora ouviu muito em sua pesquisa foi que a maior parte das mulheres ainda acreditam no mito do amor romântico, são casos de “mulheres que sonham com um príncipe encantado, que namora um cara que ela considera bacana, aí logo após o casamento ou até mesmo no namoro ele se revela agressivo, ainda assim elas acreditam
que o amor pode mudar esse comportamento” relata Maria de Fátima. Outro fator que chama atenção, segundo a professora é o machismo, que é “quando o homem acredita que a mulher tem que ser submissa a ele, não podem sair de casa não podem trabalhar”, diz. A cineasta vê que a situação no país ainda é muito complicada, pois não é considerada por muitos como um problema social e sim um problema que deve ser resolvido no âmbito familiar.
As diferentes interpretações da lei Maria da Penha
Em busca de justiça, mulher obtém lei em seu nome
A Lei Maria da Penha, como toda lei, recebe elogios, mas também críticas. A desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul Maria Berenice Dias relata que a lei serviu de grande estímulo para as mulheres denunciarem as agressões sofridas, pois “antes a questão era maltratada pela justiça e havia aquela consciência de impunidade, pagamento de cestas básicas, era um desestímulo para as mulheres em denunciarem a violência, e agora a lei vem didaticamente identificando o que é violência doméstica e imprimindo um procedimento muito célere no atendimento”, explica Berenice. Mas ela acrescenta ainda que para o funcionamento da lei é preciso, além da instalação dos Juizados, a melhoria de políticas públicas que possam dar apoio às vítimas. Além disso ela declara que “é preciso quantificar a violência, porque ela não é quantificada”, declara. Isto faz com que a violência fique invisível e não receba a importância devida.
A Lei 11.340 recebeu o nome de “Lei Maria da Penha” em homenagem a Maria da Penha Maia, mulher que se tornou um símbolo da violência doméstica no país. O diferencial na história de Maria da Penha foi a persistência e determinação que ela teve em buscar justiça. Em 1983 seu marido, Marco Antônio Herredia, professor universitário, tentou matála. Da primeira vez ela foi atingida por um tiro e ficou paraplégica, depois ele tentou eletrocutá-la. Ela o denunciou e no mesmo ano as investigações começaram, mas só foram apresentadas ao Ministério Público no ano seguinte. Oito anos depois Herredia, foi condenado a oito anos de prisão, mas por meios judiciais não cumpriu a pena. Somente em 2002, quando o caso chegou à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acatou, pela primeira vez, a denúncia de um crime de violência doméstica. O agressor foi
Para a coordenadora do Condim (Coordenadoria dos Direitos da Mulher da Prefeitura de Belo Horizonte) Márcia Cássia Gomes, a lei é um instrumento de grande validade, pois através dela os casos serão resolvidos com maior rapidez. Márcia também acrescenta que “as medidas protetivas agilizam a parte prática como separação de corpos, guarda de crianças e caso necessário abrigamento para mulheres que estão com a sua integridade física ameaçada”. Já para a professora de Direito da Universidade Fumec Silvana Lobo, esta é uma lei que “não traz praticamente nenhuma mudança em relação aos crimes que podem ser cometidos contra a mulher”. Ela ainda acrescenta que “já existem leis que dêem conta de punir este tipo de crime. O problema está no Judiciário que está atolado com tantos processos e não tem pessoal suficiente para tratar esses casos com a agilidade que uma lei exige.”
No quadro “Flood” Paula Rego mostra o desespero da mulher
preso e cumpriu dois anos de prisão. Foram mais de 20 anos de luta para ver a condenação de seu ex-marido, nesse percurso ela se tornou membro atuante em movimentos sociais contra violência e impunidade. Hoje é Vice-coordenadora da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV) no Ceará, onde nasceu e mora. A atitude em denunciar, como fez Maria da Penha, é defendida pela Desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Maria Berenice Dias. Ela enfatiza que “a agressão deve ser denunciada no seu nascedouro, a denúncia serve como um fator inibidor”. Mas existe o fato em que muitas mulheres não têm coragem ou levam muito tempo até fazê-lo. É o que explica a Coordenadora do Condim, Márcia Cássia Gomes, “podem ser fatores ligados a nossa cultura que impõe padrões de comportamento conjugal que culpabiliza a mulher pelo fracasso de seu casamento”.