Jornal O Ponto - setembro de 2007

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Carolina Miyuki - 5ºH

“Terra de Vera Cruz”, “Talvez te veja hoje” e “Do pequeno para o grande mundo” são artigos dos portugueses que participaram do intercâmbio cultural na Universidade Fumec neste semestre.

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

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Senado na contramão do país Carolina Miyuki - 5ºH

PARA O PRESIDENTE DA OAB-MG, PARLAMENTARES NÃO ATENDEM AOS ANSEIOS DO POVO E PODEM TER SEU TRABALHO SUBSTITUÍDO

18 mil menores sofrem abuso As vítimas de abuso sexual sofrem caladas e se sentem culpadas pelo incidente. E quando se trata de menores de idade, o quadro é mais delicado. O número de crianças e adolescentes vitimadas pela violência sexual chega a 18 mil por dia no país, segundo a Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na Infância. De acordo com o Unicef, em 80% dos casos a agressão vem de pessoas próximas. Em BH, as escolas municipais oferecem cursos a monitores, para identificar comportamentos nos alunos vítimas de abuso.

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Para onde caminha o jornalista? Jornalismo impresso e web. Duas matérias nesta edição apresentam, nessas diferentes linguagens de se fazer jornalismo, um tema que é motivo de expectativas e planos entre os estudantes: a vida pós-formatura. Jornalistas recém formados e seus dilemas, como encarar o mercado e conseguir um emprego. A defasagem do ensino nas universidades e o mercado fechado da comunicação são problemas mencionados nas reportagens, e enfrentados pelos jornalistas recém saídos das universidades.

Para o presidente da OAB-MG, Raimundo Cândido, a advocacia não é uma profissão e sim vocação

O presidente da OAB-MG, Raimundo Cândido Júnior, critica, em entrevista exclusiva à reportagem de O Ponto, a atuação do Senado, que contrariou a opinião pública ao absolver Renan Calheiros. A sessão fechada contou com o voto secreto dos parlamentares, que absolveram seu presidente de perder o mandato após denúncias de uso de dinheiro público para o pagamento da pensão da filha de Calheiros com a jornalista Mônica Veloso. Durante a entrevista, Raimundo Cândido Júnior afirma que os gastos necessários para manter os 81 senadores é

Anfetaminas: vaidade ameaça saúde

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equivalente ao orçamento que sustenta os deputados federais, o que demonstra a falta de necessidade do Senado. Cândido Júnior também diz ser contra o chamado foro privilegiado para deputados mineiros e demais autoridades, que foi aprovado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais e recebeu veto do Supremo – “Este assunto não está definitivamente decidido”, conclui. O advogado também falou sobre a relação entre os meios de comunicação e a justiça, e sobre a saturação e baixa qualidade dos cursos de direito no Brasil.

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Aqui causa morte do DT aos 77 Após 77 anos de história o jornal “Diário da Tarde” chega ao fim causando insatisfação em jornalistas e leitores. Os Diários Associados acabaram com o DT para investir no tablóide sensacionalista “Aqui”. O diário foi criado para fazer concorrência ao “Super Notícias”, o jornal mais vendido do país atualmente. Essa decisão se deve ao crescimento dos tablóides mineiros. O sensacionalismo, ou seja, a dramatização dos fatos em notícias sumárias e superficias, estão em alta no momento.

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Palladium volta à cena na capital Um dos cinemas mais famosos de BH volta à atividade e passa a ser um espaço revitalizado para multíplas manifestações artísticas. O Sesc-MG comprou o terreno do antigo Cine Palladium, no centro da capital, e está construindo um complexo cultural no lugar. Em entrevista a reportagem de O Ponto o produtor e diretor de curtas Carlos Magno faz uma crítica à construção de espaços como estes sem vinculação com a formação artística do público.

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Arquitetos falam sobre Niemeyer a oc arr aB n i st Cri

O Brasil lidera o consumo de anfetaminas (drogas usadas para emagrecer) desde 2002 segundo pesquisas realizadas pela ONU. Apesar dos números absurdos de consumo, as poucas tentativas da ANVISA (órgão responsável pela fiscalização) de reverter o quadro foram fracassadas.

do río pe º -7

Profissionais da classe médica e farmacêutica ignoram a finalidade das leis e burlam a burocracia sem se preocupar com a saúde dos pacientes que procuram cada vez em maior escala a droga como solução para perder peso sem esforço de forma rápida.

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Oscar Niemeyer completa 100 anos de idade em dezembro de 2007, sendo que 71 deles foram dedicados à arquitetura. Famoso por “contestar a forma retilínea” em suas obras, Niemeyer é homenageado entre os meses de agosto e setembro, com exposição itinerante. Assim como há quem vislumbre suas propriedades estéticas, há também aqueles que acreditam que isto é puro oportunismo do arquiteto.

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Editor e diagramador da página: Enzo Menezes - 6º período

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Uma lição de vida

Belo Horizonte –Setembro/Outubro/2007

Cristina Barroca 7º período

Os heróis dos gibis e o herói digital

THIAGO PRATES 2º PERÍODO

FERNANDO KELYSSON 2º PERÍODO

Muito se falou nesse ano sobre o Pan do Rio e realmente o Brasil fez bonito, quebrou recordes, fez uma grande festa e teve seus heróis, como Thiago Pereira, Diogo Silva entre outros. Mas o que me deixou surpreso foi a pouca divulgação que o Parapan do Rio teve. Com início 13 dias após o Pan, não teve a mesma divulgação por parte da mídia, somente em alguns canais fechados especializados em esportes. Não sei por que não houve a mesma cobertura, provavelmente pela falta de atrativos às emissoras, devido ao número reduzido de patrocinadores e dinheiro envolvido, comparando-se com o Pan. Por isso, elas se reduziram somente a passar boletins diários ou uma pequena noticia no seu telejornal, apesar do Brasil ter ficado em 1º lugar no quadro de medalhas - fato inédito para nosso esporte. Mas poucos se lembram disso. Os nossos paratletas, além de todas as dificuldades como falta de apoio, patrocínio e péssimas condições de treino, ainda têm que lutar contra o preconceito, seu pior adversário. E o esporte é um grande aliado, pois competir é uma forma de superar limitações, e demonstrar que a deficiência não os torna diferentes ou inferiores. E enfrentando todas dificuldades o Brasil brilhou na 3ª edição dos Jogos Parapanamericanos, superando Mar Del Plata em 2003, quando conseguimos 165 medalhas, sendo 81 de ouro. No Rio, ficamos com 228 medalhas, sendo 83 de ouro, 68 de prata e 77 de bronze, confirmando nossa evolução e quebrando o domínio mexicano. Não faltou emoção e superação, como a rivalidade com os nossos “hermanos” no futebol. E como no Pan do Rio, a natação foi o nosso carro chefe. Conquistamos 108 medalhas (!) , sendo 39 delas de ouro e quebra de recordes mundiais. Tivemos heróis como Clodoaldo Silva dono de 8 medalhas (7 de ouro) e quebra de recordes mundiais, e André Brasil que obteve 8 medalhas(6 de ouro). Mas ninguém superou Daniel Dias, 19 anos, que ganhou 8 medalhas de ouro. Espero que depois dessa demonstração os nossos paratletas recebam mais apoio e patrocínios, e tenham uma boa estrutura de treino, além de equipamentos necessários, como cadeiras de fibra de carbono. Eles precisam de salário fixo para que possam viver do esporte, para ter condições de competir de igual para igual com as potências mundiais como à China. Também espero que os jogos Parapan-americanos recebam a importância que merecem. E que venha a Paraolimpíada de Pequim em 2008 com mais um show dos nossos paratletas.

Lembram do homem de aço? Varando os céus como um jato, segurando pontes no ar, salvando aviões, discreto, tímido, modesto, bem intencionado e comprometido com a ética? Esse era o meu herói. Um dia, depois de vê-lo na sessão da tarde, peguei o lençol vermelho de minha mãe e saí como louco pela rua querendo salvar o mundo e fazer o bem. Esse foi o herói de fantasia que surgiu em 1938, marcando a supremacia americana que já se prenunciava e seria consolidada no fim da guerra. O Superman também marca a era de ouro dos gibis, não só, mas a era da cultura de massas, do início da indústria cultural com o rádio e o cinema, em que havia sempre um happy end. Com uma garrafa de cola na mão, se via o bem vencendo o mal. Nesse tempo surgiu uma guerra até “justificável”, na qual o próprio Adolf Hitler explicava sua tirania a partir da “purificação da raça” e almejava a conquista do mundo enquanto promovia um extermínio de judeus, exibindo a cruz nazista apontada para os seus quatro cantos. Harry Truman foi então o “super-homem” que teve a coragem de mandar soltar a bomba atômica sobre os japoneses acabando com a segunda guerra e começando outra: a guerra fria. Esta guerra chegou ao fim com a queda do muro de Berlim em 89, consolidando a vitória americana. Logo em seguida, em 91, no Golfo, começou outra guerra, da América contra o oriente. Agora o “super-homem” era outro, George Bush pai. Este herói fez a guerra mais “limpa” da história, intervindo na caça ao petróleo com retaliações que se manifestavam como show pirotécnico sob as

Chega de conversa fiada Pedro Henrique Vieira 4ºPERÍODO Jogadores vendidos, nenhum profissional contratado, queda no rendimento. A Massa atleticana tem explicações de sobra para não acreditar no Atlético Mineiro, pois o time não empolga com sua irregularidade no Brasileirão. Quando a torcida alvinegra começava a se acostumar com conquistas, após os triunfos da Segundona em 2006 e o Campeonato Mineiro no início do ano, o time desandou devido a vários acontecimentos. A saída de Levir Culpi foi a grande perda do Galo. Depois que o treinador deixou a equipe, o Atlético foi de mal a pior. Além de eliminado nas quartas de final da Copa do Brasil, o Galo despencou na tabela do Brasileirão, apesar de um bom começo, causando a demissão do então técnico Zetti, que substituiu Levir. Para piorar, abriu o período de transferência na Europa, e os clubes predadores do velho continente voltaram suas garras para o elenco atleticano. Foram três negociações que culminaram nas vendas do zagueiro Lima, que se transferiu para o Bétis da Espanha, e das revelações Diego, para o time espanhol Almería, e Paulo Henrique, para o holandês Heerenveen. Foram grandes perdas em troca de um bom dinheiro.

Porém, nada de cara nova no Atlético, e pelo andar da carruagem, a equipe será a mesma até o final da competição. Revelando que o clube não possui verba para contratações, o presidente do clube Ziza Valadares argumentou recentemente, que a causa seria o excesso de dívidas. Porém, o Atlético arrecadou uma considerável quantia com essas vendas, perdendo jogadores importantíssimos. Falando muito e agindo pouco. A administração do Galo, principalmente Ziza, vem fazendo várias promessas, mas o que tudo indica é que não serão cumpridas. Afirmando que o time tinha condições de ser campeão ou ao menos se classificar para a Libertadores, o presidente encheu de esperanças a Massa atleticana, mas continuando nesse caminho, conseguirá apenas lutar por uma vaga na Sul-Americana, o mínimo que se pode esperar de um time com o porte e a história do Atlético. Só não pode esquecer que em 2008 o Clube Atlético Mineiro completará 100 anos de sua honrosa história, e a enorme, fanática, presente e fiel torcida alvinegra merece uma conquista de expressão, no mínimo nacional. Mas o sonho de Tóquio no ano que vem não se realizará. Espera-se que pelo menos as próximas exibições do Galo não se tornem um pesadelo para o maior patrimônio do clube: a Massa.

lentes das câmeras da CNN, na primeira guerra transmitida em tempo real pela TV. Clinton deu uma trégua nas guerras, mas saiu como vilão por um caso pitoresco: ter se envolvido com uma estagiária. Até a esposa Hillary o perdoou, mas o mundo não. Depois veio outro herói, o Bush filho, arrasando o Iraque, Saddam e o pobre Afeganistão, sob a bandeira inquestionável da “democracia”. Só que ninguém imaginava que surgiria um herói maior: Osama Bin Laden, marcando não mais a era dos gibis, mas a era digital, em que aparece para o mundo em tempo real. Bin Laden se tornou herói “adorado” não só no mundo islâmico, mas em todo lugar do mundo onde se odeia Bush. Este homem que exibe pela net os seus vídeos de barbáries, com sua ausência de medo da morte, com obstinação e sutileza, de forma rápida e econômica, acertou em cheio o coração do capitalismo. Bin Laden deixa um legado oposto ao do Superman, agora na rede de computadores: a maldade pelo click, a maneira virtual de destruir o mundo comendo-o por dentro de medo, a praticidade do Antrax, a tecnologia que facilita a vida e a destrói a um só tempo, pois tira-lhe o sentido. Os novos Bin Ladens que surgem a cada dia são intelectuais modernos idealistas e ávidos pelo lucro, aptos a destruir o mundo no frio apertar de um botão. Os novos Bin Ladens são autômatos. Bin Laden é o herói do século XXI, porque conseguiu vencer o mal com um mal maior, usando o próprio capitalismo para fazê-lo sucumbir. E de modo perverso: o Superman era herói de mentira que fazia o bem, Bin Laden é herói de verdade que faz o mal.

Mídia, Chavez e a emancipação humana LUCAS MENDONÇA 5º PERÍODO O jornalismo é uma produção de conhecimento e há muito se sabe o teor parcial e por isto objetivo, do conteúdo das notícias e dos recortes em que os monopólios da informação submetem os fatos sociais, seja via televisão, rádio, internet, etc. Estes, figurados nos grandes meios de comunicação, atuam em função da expansão de lucro proveniente do consumo em mercado, que continuam de sol a sol abolindo todo o poder de (in)formação intelectual para toda a sociedade civil. A tradicional mídia brasileira, reacionária por excelência, persiste na defesa dogmática da ilusória “imparcialidade jornalística” na cobertura dos fatos mundanos. Porém, a máscara vai ao chão justamente ao observarmos os recortes dados por estas mídias aos fatos atuais como o processo revolucionário que vive

a Venezuela. Um relato do complexo processo de transformação social desta sociedade hoje poderá tão somente ter legitimidade baseado no conhecimento real (portanto, concreto e passível de ciência) das causas históricas daquelas lutas e bandeiras, uma sociedade que passa a ser, cada vez mais, protagonista de sua própria história. O que motiva tanta raiva irracional por parte da mídia brasileira sobre um representante político como Hugo Chávez? Este mesmo que sempre possuiu índices de apoio popular de dar inveja ao verdadeiro tirano e ditador? Este sim, que se encontra na cadeira dirigente do imperialismo – leia-se George W. Bush. Fotos deste promotor de guerras e genocídios podem ser vistas nas ruas do Brasil, pintadas com o bigodinho “a la Hitler” em placas ou em cartazes de estudantes e trabalhadores que manifestam sua repulsa a uma criatura que personaliza e

representa aquilo de mais desumano - o sujeito concreto que impõe o irracionalismo do capital para cada pedaço do mundo. O recente projeto de modificação do artículo de número 5 da Constituição Bolivariana, proposto por Hugo Chávez, prevê várias modificações no sentido da organização de um poder constitucional que reconhece o cidadão como protagonista político direto, através da democracia participativa a qual trabalham para constituir, via construção do Poder Comunal (que é formado por conselhos comuns, estudantis, operários, camponeses e estruturais). A mídia brasileira defende a “tese” de que Chávez é um antidemocrático e procuram arduamente por personificar neste líder todos os problemas relacionados à Venezuela, que se encontra num processo em que há uma tentativa de socialização do poder à qual a sociedade venezuelana estava alienada.

Em termo de política econômica, os venezuelanos estavam submetidos ao domínio político de uma oligarquia extremamente corrupta e próxima ao governo norte-americano, que, através do Consenso de Washington implementou várias reformas neoliberais que contribuíram em muito para o colapso social ocorrido em Caracas no ano de 1989. E, para falar de Hugo Chávez hoje, a mídia brasileira não leva em consideração a grande rebelião popular venezuelana que, paralelamente à queda do muro de Berlim, gritava a urgência da libertação do capital e a necessidade não de “uma mudança” ou “uma reforma”, mas sim uma legítima revolução social, radicalmente humanista, a qual devo resgatar o exemplo em nosso filósofo Karl Marx, que esforçou-se com o máximo de seus limites, de forma rigorosamente científica, para a práxis de toda sua vida madura - a revolução socialista.

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

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Belo Horizonte –Setembro/Outubro/2007

do

temos necessidade “NÃO PARA O PRESIDENTE DA OAB-MG, RAIMUNDO CÂNDIDO JÚNIOR, A ABSOLVIÇAO DE RENAN CALHEIROS MOSTRA COMO O SENADO ANDA NA CONTRAMÃO DA OPINIÃO PÚBLICA

SENADO” FRANCISCO VORCANO, FÁBIO MOURA, ANDRÉ MOURA E BRUNO MARTINS 2º E 6º PERÍODOS

uem vê Raimundo Cândido Júnior vibrando pelo Cruzeiro nas arquibancadas do Mineirão não imagina que aquele homem de aparência tão comum é um dos juristas mais influentes de Minas Gerais. Raimundinho, como prefere ser chamado, é o presidente da OAB/MG. Avesso à bebida alcóolica (e, diga-se de passagem, café e refrigerante também), defende a proibição da venda de cerveja no Mineirão, que em sua opinião está mais seguro. Sempre munido de sua câmera fotográfica, assume que a advocacia é so-

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mente para os que têm vocação. Isso aprendeu com aquele que foi um dos maiores presidentes que a OAB/MG já teve, o jurista Raymundo Cândido, seu pai. Raimundinho cresceu acompanhando os passos de quem ele se refere como “o cândido Raymundo”, e de quem herdou a paixão pelo direito, além de inspiração para a vida profissional. Também com o pai aprendeu a nunca deixar de cumprir um ritual sagrado: ir a missa diariamente. Na entrevista exclusiva que concedeu a reportagem de O Ponto, não poupa munição ao foro privilegiado pretendido pela Assembléia e ao Senado Federal, por ter absolvido Renan Calheiros por meio de voto secreto. Confira abaixo os principais trechos: Carolina Miyuki 5 ºG

O Ponto: A absolvição de Renan Calheiros em sessão fechada causou indignação na opinião pública. Os senadores não respeitaram a opinião de quem eles representam. Qual seria o melhor jeito de punir parlamentares envolvidos em casos de corrupção? Raimundo Cândido Júnior: Devemos repensar a necessidade do Senado. Os parlamentares muitas vezes estão envolvidos com a busca de verbas do orçamento para resolver problemas da suas bases e com isso se manter no poder. Vários suplentes, na verdade, foram aqueles que bancaram as candidaturas e agora assumiram a vaga de Senador, sem nenhuma identidade com o Estado que devem representar. Então, é preciso levar esse assunto para ampla discussão, para mostrar que de fato, nós não temos a necessidade do Senado Federal. O papel que os senadores representam pode ser desenvolvido pelos três deputados federais mais votados em cada unidade da Federação. Isso geraria uma economia infinda para os cofres da Republica, porque o que se gasta para sustentar os 81 senadores é praticamente o mesmo que se gasta para sustentar 513 deputados federais. Essa questão do Senador Renan Calheiros mostra que eles, representantes dos Estados, não estão fazendo a vontade do povo. OP: E sobre o voto secreto, que absolveu Renan Calheiros? RCJ: Isso é outra questão incluída nesse assunto: a necessidade ou não do voto secreto. O voto secreto é constitucional, mas não é isso que o povo quer. O povo quer as coisas às claras, para ter certeza de que sua vontade seja cumprida, e quando essa vontade não é respeitada, é sinal de que os parlamentares não estão fazendo o seu papel. OP: No caso do mensalão, foram necessários 14 meses para que o STF aceitasse a denúncia contra os acusados. Essa demora não seria providencial, já que as denuncias acabam caindo no esquecimento? RCJ: Nós vivemos um regime de legalidade. A Constituição diz que ninguém pode ser privado da sua liberdade ou dos seus bens, sem o devido processo legal. Então, este processo envolvendo os políticos do mensalão é muito volumoso. São vários volumes de um inquérito policial, que evidentemente demanda muito tempo dos juristas para ler tudo. Fazer um processo de qualquer maneira é tudo que um criminoso quer, porque as provas não serão devidamente colhidas e ele acabará se safan-

OP: Como o senhor avalia o ensino de direito no Brasil? Em julho o MEC manteve vários cursos que a OAB havia reprovado. Estudantes formados nessas instituições estão preparados para fazer parte da Justiça? RCJ: A maioria dos egressos de escolas não adequadas, evidentemente, não estarão preparados para exercer qualquer tipo de atividade. O Brasil já tem 1079 faculdades de direito, com a previsão de 222 mil novos bacharéis todos os anos, sendo 2 milhões de estudantes de direito por ano, um número absurdo. Para se ter uma idéia os advogados brasileiros já são mais de 630 mil, e segundo Raimundo César Brito, presidente da OAB Federal, os advogados brasileiros representariam 20% dos advogados do planeta, um numero assustador. Não há professores de qualidade para tantas escolas.

O presidente da OAB-MG defende que os deputados federais podem desenvolver o papel dos senadores, que em muitos casos não têm identidade com os Estados que representam

do da responsabilidade. É lógico que pode acontecer de esfriar a opinião pública. E nós temos os meios de comunicação, para relembrar esses fatos que nos preocupam e que são de interesse de todos. OP: Há uma discussão que chegou ao Supremo Tribunal Federal sobre o projeto dos deputados estaduais mineiros implantarem uma emenda que lhes daria foro privilegiado. Como o senhor vê essa situação? RCJ: Este assunto não está definitivamente decidido. O Supremo Tribunal Federal, na sua sistemática de julgamento, em um primeiro momento, concedeu uma liminar para suspender a eficácia dessa lei mineira que daria esse chamado foro privilegiado a diversas autoridades. Agora a Assembléia prepara sua defesa e aguarda outro pronunciamento do STF, mantendo ou não a liminar. Eu acho que nós todos deveríamos ser julgados com igualdade, mas há alguns aspectos que deviam ser colocados. Imagine um prefeito que goza do foro privilegiado no tribunal, se ele for julgado lá no seu município, ele corre o risco muito grande de ser execrado pela facção política contrária a de-

le, porque sempre quem está no poder é vidraça. Mas eu não concordo com essa amplitude que foi dada ao foro privilegiado. É uma briga intestina entre a Assembléia e o Ministério Publico. Os deputados querem dar mais trabalho ao MP, ou resguardar seus papéis com relação a seu próprio julgamento. OP: No dia 8 de agosto o Tribunal de Justiça de Minas Gerais transmitiu o primeiro júri popular pela Internet. O que o senhor acha dessa iniciativa? Seria esse o melhor meio de aproximar a justiça da população? RCJ: Tem uma frase muito interessante de um amigo meu, o professor Ronaldo Bretas, que diz o seguinte: “Com a informatização da justiça, vamos saber mais depressa que os processos estão parados”, e é a pura realidade que nós temos vivenciado. Lógico que essas iniciativas são louváveis, sobretudo no sentido de facilitar o acesso do povo a justiça e ao mostrar uma transparência maior do processo. Agora o povo vai ver o que acontece, e inclusive eu sei que da parte de alguns desembargadores tem havido muita resistência a essa transmissão, porque o Judiciário vai ficar as claras.

OP: Na sua opinião, como é a relação da mídia com o direito? RCJ: Acho que os órgãos de imprensa precisam de assessoria jurídica. O que a gente vê muitas vezes são matérias de temas jurídicos que deixam a desejar em conhecimentos técnicos. A interação entre a atividade da justiça e da mídia é fundamental. Nós advogados temos o papel de defesa dos direitos fundametais do cidadão, e nesse papel nós sempre estivemos ao lado da imprensa, como no impeachment do Collor, quando a OAB esteve com a ABI. OP: O seu pai foi um grande advogado e presidente da OAB. Quais as maiores lições que aprendeu com ele? RCJ: Eu gosto de ser chamado de Raimundinho, porque o Raymundo Cândido, o Raimundão era ele, que era grande. Eu tive uma vida intensa com ele, e por isso eu me recolho a minha insignificância diante de sua magnitude. Eu aprendi muita coisa, mas sobretudo algo que ele disse em seu discurso quando foi meu paraninfo: “a advocacia não é uma profissão e sim uma vocação. É bom lembrar que a palavra advogado (ad + vocatus) significa um chamado, uma verdadeira vocação”, e para aqueles efetivamente vocacionados sempre vai haver lugar no mercado de trabalho. Com meu pai também aprendi a rezar sempre e ir à missa todos os dias. O pão nosso de cada dia é o que a gente pede. A gente nunca pede todos os pães em um dia só, por isso eu fico muito preocupado com esse mundo de capitalismo exacerbado, as pessoas achando que a sua felicidade está no ter, enquanto a felicidade está no ser.

PARA ENTENDER O CASO RENAN CALHEIROS A trajetória política de Renan Calheiros (PMDB) é controversa. Ligado ao PCdoB na juventude, apoiou Fernando Collor à Presidência; os dois romperam quando Collor não o apoiou na disputa ao governo alagoano. Foi Ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, apoiou Serra para presidente e hoje é um dos principais aliados de Lula. As investigações contra o presidente do Senado começaram quando ele foi chamado durante a Operação Navalha para explicar sua relação com o empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautama. No final de maio, foi acusado de ter usado recursos de, lobista da Mendes Júnior para pagar a pensão alimentícia de uma filha de três anos com a jornalista Mônica Veloso.

Renan Calheiros também foi acusado de ter atuado no INSS e na Receita Federal contra a cobrança de dividas da Schincariol. Em contrapartida, a cervejaria teria comprado a fábrica de refrigerantes de seu irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB – AL), por valores superiores aos praticados no mercado. A terceira denúncia contra Calheiros deve-se ao uso de laranjas para a compra de emissoras de rádio em Alagoas. Renan teria pago 1,3 milhão de reais em dinheiro vivo, parte em dólares, para virar sócio oculto de uma empresa de comunicação em seu Estado. A quarta denúncia surgiu com a suspeita de desvio de recursos dos ministérios comandados pelo PMDB, para favorecer aliados políticos. Segundo um desafeto, advogado próximo a Renan,

o senador está envolvido em um esquema de desvio de recursos públicos, coordenado pelo lobista Luiz Carlos Garcia Coelho. Mesmo com todas as denúncias, Calheiros se manteve irredutível: nem cogitou na possibilidade de renunciar ao mandato ou licenciar-se. No início de setembro, o Conselho de Ética do Senado recomendou a cassação de seu mandato por 11 votos a quatro. O destino do Senador ficou nas mãos de seus pares, em uma sessão fechada, com voto secreto - como possibilita o regimento interno da Casa. A votação do primeiro processo ocorreu na tarde do dia 12 de setembro, uma quarta-feira. Renan Calheiros foi absolvido por 40 votos a 35, com 6 abstenções, com o movimento de claro apoio da base governista.


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Belo Horizonte – Setembro/Outubro/2007

Alerta nos canteiros de obra OPERÁRIOS SÃO FLAGRADOS EM SERVIÇO SEM QUALQUER EQUIPAMENTO DE SEGURANÇA Foto: Samuel Aguiar 5º G

O aviso de uso obrigatório de equipamentos de segurança não é suficiente. A falta de consicentização dos operários e a fiscalização falha das obras contribuem para os acidentes de trabalho. BÁRBARA RODRIGUES BÁRBARA CAMARGO 4º PERÍODO Os canteiros de obra já são parte do cotidiano do cidadão belorizontino. No percurso até o trabalho, perto da escola, ao lado de casa, sempre há algo em reforma ou construção. E se as obras se tornaram comuns a ponto de quase passarem despercebidas pelos mais distraídos, os riscos que elas envolvem são notados por poucos. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção de Belo Horizonte, Osmir Venuto da Silva, apenas as grandes e conhecidas empresas cumprem as normas regulamentadoras implementadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Pelos registros do Sindicato, foram 21 mortes por acidentes na Construção Civil formal em Minas, entre janeiro e julho de 2007. Do setor informal, que representa mais da metade da indústria, não é feito qualquer registro. Dados da Previdência Social apontam que no Brasil acontece em média um acidente a cada hora. Ao todo são 491.711 acidentes por ano só na Construção Civil, dos quais 2.708 resultam em morte. As leis que deveriam garantir segurança no ambiente de trabalho encontram muitas barreiras, como a informalidade, a fiscalização falha e a falta de preparo e conscientização do trabalhador. Os auditores fiscais da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) Fátima Fonseca Lagais e Rubens Vinícius Rocha destacam o problema de formação do operário. Como não existem escolas profissionalizantes para trabalhadores da Construção Civil, o aprendizado se dá pela prática. Por isso, até adquirirem experiência, os operários trabalham sem qualquer preparo. Por lei, as empresas devem dar um treinamento de pelo menos seis horas antes de cada fase de uma obra, mas apenas cerca de 5% o fazem.

Falta de conscientização Não só a deficiência na preparação técnica, como a falta de conscientização dos trabalhadores contribui muito para o número de acidentes fatais. Mesmo quando a empresa disponibiliza os EPI (Equipamentos de Proteção Individual), o que é previsto em lei, muitos trabalhadores deixam de usar por os acharem incômodos ou até desnecessários. Em caso de acidente grave, a empresa é responsável pelo primeiro socorro, e o INSS pelos cuidados médicos e tratamentos a longo prazo. Após o retorno às atividades, o trabalhador tem direito à estabilidade por um ano, garantida pela lei 8.213. Vencido o prazo, normalmente é demitido. Se o acidente é fatal, a família do trabalhador contribuinte recebe pensão do INSS. A fiscalização do funcionamento da obra deve ser conduzida pela própria empresa, através da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), formada por empregadores e empregados. Quando acontece um acidente, a

construtora é quase sempre multada por negligência, já que a maior parte dos acidentes é considerada evitável. Se a empresa não comunicar em 24 horas o ocorrido ao CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), órgão vinculado à Previdência Social, pode ser autuada e multada mais uma vez por omissão. Ainda assim, a empresa pode recorrer da sentença e pagar somente 50% do valor da multa estipulada, caso ganhe a causa. Obras incomodam vizinhança As irregularidades de qualquer ordem em um canteiro de obras podem ser denunciadas na DRT, sendo então apuradas pelos auditores. Segundo Fátima Lagais e Rubens Rocha, a maioria dos atendimentos recebidos é de vizinhos incomodados com barulho ou poeira. Feita a reclamação ou denúncia, um fiscal é encaminhado ao local. Em geral, examinam superficialmente a obra. Se alguma irregularidade for descoberta, é feita uma averiguação mais detalhada. Foto: Paula Ribas 6º G

Trabalhadores executam manobras arriscadas sem proteção

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego

Normas regulamentadoras da Construção Civil Das 32 normas regulamentadoras do trabalho, seis se aplicam à Construção Civil:

Nº 4: Serviços Especializados em Eng. de Segurança e em Medicina do Trabalho Nº 5: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA Nº 6: Equipamentos de Proteção Individual - EPI Nº 7: Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional Nº 9: Programas de Prevenção de Riscos Ambientais Nº 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção Mais informações no site www.mte.gov.br

Terceirização e informalidade são principais inimigos da segurança Tendências em muitos setores, inclusive na Construção Civil, a informalidade e a terceirização de serviços também aparecem como grandes vilões da segurança. Pesquisas do IBGE apontam que 22% da população economicamente ativa no Brasil trabalham por conta própria, e 18,3% sem carteira assinada. Ainda segundo o IBGE, o país gasta anualmente R$ 32 bilhões com acidentes de trabalho e doenças relacionadas à ocupação profissional. O prejuízo equivale a 4% do PIB nacional. Quatro visitas a obras de pequeno, médio e grande porte na Região Sul de Belo Horizonte revelaram algumas das fragilidades provocadas pelas práticas no setor. José Gonçalves, 50, é autônomo há oito anos. Optou pela informalidade para fugir dos tributos, que ele considera muito altos. Preferiu abrir mão dos direitos trabalhistas e dos benefícios do INSS. Ele reclama também da dificuldade de conseguir emprego com baixa escolaridade. Hoje, conta com alguns ajudantes e trabalha com reformas e acabamentos. Possui

materiais próprios, mas nenhum equipamento de segurança. Segundo ele, de vez em quando aparece um fiscal, pergunta se está tudo bem na obra e, se a resposta é afirmativa, não examina nada. Em outro canteiro, uma placa estampa o nome do engenheiro responsável, que nunca foi visitar o local. A construtora contratada “passou” o serviço para Erivaldo de Jesus, esse sim verdadeiro responsável pela obra. Erivaldo trabalha informalmente, vende seus serviços para empreiteiras que apenas disponibilizam os materiais. Segundo ele, a maioria das empresas fornece equipamentos de segurança, mas não fazem qualquer fiscalização, por isso ele não usa. Erivaldo conta que sofreu um acidente quando trabalhava formalmente para uma construtora, mas voltou ao trabalho imediatamente, com medo de ser demitido. Algum tempo depois, acabou escolhendo o trabalho informal, que tem sido mais lucrativo para ele. O mestre de obras José Carlos trabalha para a WR

Construtora, atualmente no comando de um serviço de acabamento. Ele afirma que todos os operários em atividade passaram por treinamento e trabalham formalmente. Apesar de a empresa fornecer equipamentos, muitos não usam, segundo José Carlos. Ele diz que a fiscalização aparece, mas a empresa não é multada. Os fiscais apenas pedem que seja feito o uso dos equipamentos. Técnico de segurança da empreiteira Locguel, Rennis Pereira Lima, 32, conta que a fiscalização municipal é insuficiente. Segundo ele, ela se restringe às áreas nobres e centrais da cidade, na região metropolitana é muito deficiente. Ainda assim, em três das quatro obras citadas, todas na Região Sul, os trabalhadores não faziam uso de nenhum equipamento de segurança, constatou a reportagem de O Ponto. Para denunciar qualquer irregularidade em canteiros de obra, ligue para o plantão da DRT: 3270-6117.


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Editora e diagramadora da página: Lorena Ferrari - 6º período

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foto: Samuel Aguiar 5º G

18 mil crianças e adolescentes são vítimas de abuso sexaul todos os dias 80% dos casos de agressão física a crianças e adolescentes foram causadas por parentes e pessoas próximas à família

ABUSO SEXUAL

Um grito silenciado

AS VÍTIMAS SOFREM CALADAS E SE CULPAM PELO INCIDENTE CARLOS LAMANA 6º PERÍODO Talvez, sentado na poltrona de sua casa, ou até mesmo no banco de uma lanchonete tomando um café, você se interesse por ler essa matéria e talvez fique até um pouco comovido. Contudo, mais do que lágrimas ou suspiros, espera-se que dados como os que se seguem venham a causar verdadeiro descontentamento em você, caro leitor, e que tal descontentamento te leve a ter uma atitude crítica em relação à atual realidade da juventude brasileira. Cerca de 18 mil crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual doméstica por dia em todo o Brasil, segundo dados da Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na Infância. Ao contrário do que se pensa, esse tipo de ato é cometido, na maioria dos casos, não por um estranho, mas por pessoas próximas à família e à vítima. A luta, portanto, não consiste apenas em denunciar abusos, e sim formar uma forte consciência social em torno dessa questão a ponto dela ser tratada com devida seriedade e proporção, pois ultimamente a maior dificuldade em relação ao assunto é a omissão. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apresenta dados de que 80% dos casos de agressão física a crianças e adolescentes foram causados por parentes e pessoas próximas à família. Através de coerção, persuasão e sedução, os agressores conseguem induzir a vítima ao ato libidinoso. Um abuso vai além do ato sexual propriamente dito. Ele é constituído também

de exibicionismo, o voyeurismo - ato de assistir a criança despir-se - ou ainda a utilização de menores de idade em produção de material pornográfico, o que viola as leis e proibições sociais e morais. De acordo com o psicólogo e sexólogo Lucas Pinheiro, esse tipo de violência é marcante e deixa seqüelas na personalidade da vítima. Em casos extremos, uma mulher que sofreu de abuso sexual na infância pode apresentar dificuldade de desenvolver sua sexualidade sem culpa e receio ou se prostituir. Ele também diz que no caso de garotos, eles podem cometer também os atos violentos como algo aprendido na infância, "o abusado como abusador". Como forma de superação, a vítima deve reestruturar, com acompanhamento psicológico, sua sexualidade, para não associála ao abuso sexual. Ainda de acordo com Pinheiro, a criança intimidada pelo porte físico, experiência e força do abusador, desenvolve a síndrome do silêncio e, agravada pelas constantes ameaças sofridas, não encontra meios de realizar uma denúncia. Análise pscicológica O abuso sexual é assunto de tamanha relevância que a própria história buscou explicá-lo, ainda que superficialmente, através da definição do estereótipo de possíveis agressores. A teoria Lombrosiana, que não obteve sucesso, afirmava que homens com certas características físicas estranhas ou assustadoras teriam uma aptidão à prática de violência sexual. Hoje, de forma apropriada, através de investigações cautelosas e entrevis-

Denuncie o abuso sexual

tas com as vítimas acompanhadas por advogados e psicólogos, um agressor pode ser identificado. Análise jurídica A justiça define o abuso sexual como qualquer tipo de molesto à liberdade da criança. Existem diferenciações consideráveis entre exploração e abuso sexual, sendo que a primeira consiste na utilização de menores em atos sexuais com fins lucrativos e comerciais. Já o segundo acontece mediante força ou ameaça por parte do agressor, de acordo com relato do advogado Sílvio Terabal Coutinho. O estudante de Direito Luciano Bemfica esclarece que segundo a lei ambos são crimes hediondos e prevê uma pena de 1 a 4 anos de reclusão em cárcere individual, podendo aumentar de acordo com alguns fatores do artigo 226 do Código Penal. De acordo com Coutinho e Bemfica, todo crime ou atentado ao menor é julgado sob segredo de justiça como forma de proteção às vítimas. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) exerce a função de fornecer suporte terapêutico, assistência jurídica e caso a violência seja cometida dentro de casa, o ECA pode deslocar a criança a uma família substituta, para protegê-la de novos abusos, sendo que os pais terão como sanção a perda do poder familiar. Cabe ao Ministério Público (MP) garantir o respeito ao menor e fornecer um apoio na formação da personalidade do jovem, através de órgãos e programas sociais que oficiem e divulguem aos menores os seus direitos.

Ligue 0800.311119 ou para o número 100 Procure a Delegacia especializada ou o Conselho Tutelar de sua cidade tels: 3227.7721 ou 3227.7722 Acesse www.violenciasexual.org.br

Belo Horizonte Na capital mineira, o Conselho Tutelar oferece apoio e proteção às vítimas de abuso sexual. De acordo com Edna Silveira, coordenadora do Conselho, apesar de serem ainda muito subnotificadas, as denúncias de casos de abuso têm aumentado gradativamente. De janeiro a julho deste ano já foram atendidos 514 casos e, desde 2004, cerca de 1500, no total. Os atendimentos passam por uma análise de veracidade e são encaminhadas ao programa Sentinela. Tal programa consiste em um suporte à criança e ao adolescente vítimas de violência sexual. Uma equipe de psicólogos e advogados, referência em todas as regionais de Belo Horizonte, atende aos jovens oferecendo consultas e acompanhamento jurídico, gerando suporte à rede de proteção da criança. Robélia Ursine de Almeida, coordenadora do programa, conta que não existe uma característica em comum entre as famílias das vítimas do abuso. O critério econômico não pode ser adotado como determinante, sendo evidentes casos de violência sexual em todas as classes. Ela ressalta que a denúncia é talvez a única arma de defesa contra o abuso sexual, pois o trabalho da polícia e da justiça só pode ser efetivo uma vez que a vítima enfrenta as barreiras do medo perante o abusador. A falta de denúncias causada pelo silêncio dos jovens abusados causa na sociedade a sensação de impunidade tratando-se de violência doméstica. Nas escolas da Rede Municipal de Belo Horizonte, existe um curso de capacitação aos monitores infantis, que visa acrescentar-lhes a capacidade de identificar características comportamentais nos alunos vítimas de abuso. A capacitação faz parte do Programa de Ações Integradas e Referências de Enfrentamento à Exploração Comercial e funciona em todas as regionais da cidade, informou Robélia Almeida.

foto: DIVULGAÇÃO/ Parábola

Marisa cercada por garotas abrigadas pela ONG

Ela deu a volta por cima Marisa Mello é formada em pedagogia e fundadora da ONG Parábola. Ela é casada mãe de três filhos e trabalha na reabilitação psicológica de menores abusados sexualmente. Mas, quem vê essa mulher de tanta fibra e determinação não imagina o que ela passou na sua infância. Moradora de um bairrro nobre de São Paulo, Marisa sofreu constantes tentativas de violência de seu pai e, certa vez, foi abusada sexualemente por ele. Paratentar superar sua realidade, ela foge de casa e, aos 14 anos de idade, casase com um militar do exército. Pouco tempo depois, o pesadelo voltou e ela sofreu outro abuso sexual , desta vez por parte do marido. Nesta ocasião tentou suicídio e foi salva por sua vizinha. Alegando ter renascido após o ocorrido, Marisa em uma titude de coragem denunciou seus pais ao juizado de menores e conseguiu a guarda de seu irmão menor. Começou, a partir de então, um trabalho social feito em um grupo de teatro chamado Parábola, que mais tarde se estabeleceu como uma organização não- governamental, com o intuito de promover idéias contra violência doméstica e abuso sexual infantil a mais pessoas, incentivando-as à denúncia.

Segundo a fundadora da ONG, desde 1994, mais de seis mil casos já foram denunciados e investigados e 800 crianças e adolescentes já receberam tratamento. “Atendi a jovens que ainda se culpavam pelo ocorrido, como se na verdade eles fossem culpados pelo abuso que sofreram. Os efeitos colaterais vão desde obesidade, falta de iniciativa, ausência de libido na idade adulta e o trauma em si”, revela a pedagoga. Na Parábola, as crianças encontram amparo na ação de atendimento psicológico e psico-social. Ela disponibiliza um tratamento embasado no cristianismo bíblico com estudos na área de perdão, motivação e vida em abundância. E, assim como Jesus ensinava através de parábolas, a ONG presta acompanhamento feito através de sessões de compartilhamento das experiências sofridas e o principal instrumento de recuperação é o teatro, pois através dele as crianças encontram espaço para se expressarem e levarem uma mensagem de amor e recuperação a outras pessoas. Hoje, Marisa vive bem com seu segundo marido, adotou 27 crianças e serve de exemplo e motivação à milhares de crianças e adolescentes.


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Editoras e diagramadoras da página: Priscilla Pinho e Thaís Vasconcellos - 6º período

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Belo Horizonte – Setembro/Outubro/2007

Qualidade e baixo custo PROJETOS OFERECEM ALIMENTOS NUTRITIVOS E EVITAM AO MÁXIMO O DESPERDICIO EM BH Bruno Chiari - 5ºG

ELOISA RIBEIRO VANESSA PERRONI PRISCILLA PINHO 5ºE 6º PERIODOS O desperdício de alimentos é um fator preocupante, principalmente em um país como o Brasil, em que a fome afeta parte considerável da população. Em 1993, em Belo Horizonte a problemática do abastecimento alimentar se tornou prioridade. Foi criada a Secretaria Municipal de Abastecimento, e o governo se deparou com a necessidade de criar políticas voltadas para a produção, comercialização e consumo de alimentos. Os restaurantes populares de Belo Horizonte, exercem um papel importante para a política de abastecimeto alimentar, além de oferecer a populaçao em geral refeições de qualidade a baixo custo, procuram aproveitar ao máximo os alimentos . Uma equipe composta por duas nutricionistas e duas técnicas efetuam um acompanhamento detalhado dos alimentos produzidos e procuram aproveitar até o que antes era jogado no lixo, como cascas e caules, que possuem alto valor nutricional.É feita uma contagem do rendimento de cada refeição, para que não faltem alimentos durante o horário de atendimento e também não haja desperdício. Segundo a nutricionista responsável pelas duas unidades Edna Cupetino,as sobras limpas, alimentos que não saíram das panelas, são resfriados e congelados para serem aproveitados somente

um dia após serem feitos. Antes da reutilização o alimento passa por uma avaliação sensorial e também por degustação para garantir que a qualidade não foi afetada. As sobras que saíram da panela e foram para o balcão, são doadas para instituições, que recolhem o alimento após o horário de atendimento. “É importante não deixar faltar, e não ter desperdício”, afirma Edna Cupetino. Freqüentadores das duas unidades dos Restaurantes Populares de Belo Horizonte consomem diariamente doze mil refeições. O almoço, principal refeição, é oferecido a apenas um real. O cardápio é elaborado por uma equipe de nutricionistas, e atende as necessidades básicas recomendadas para uma pessoa adulta, aproximadamente 1.400 calorias. A unidade I passou por uma reforma e foi reinaugurada no dia 11 de julho, quando completou 13 anos de existência. As principais alterações foram nos vestiários, sanitários dos usuários e ampliações na cozinha e almoxarifado. Até o momento não houve aumento de usuários na Unidade I , pois, durante a reforma muitos deles passaram a utilizar a Unidade II. “Eles estão voltando aos poucos”, afirma Márcia Veiga Torres, gestora do restaurante popular I, localizado na Avenida do Contorno, região central. Durante a reforma, ouve um aumento de 5% na unidade II. O projeto, inicialmente desenvolvido para a população de baixa renda, hoje atende a várias classes sociais. Verôni-

ca, 23 anos, trabalha próximo ao restaurante, onde almoça há um ano. “A comida é boa e os preços acessíveis”. A Unidade II, localizada na região hospitalar, em um prédio doado pelo MDS (Ministério do Desenvolvimento Social), possui adaptação para o atendimento de pessoas portadoras de necessidades especiais, como rampas de acesso e mesas apropriadas. De acordo com Jenner Nascimento, gestor da unidde II,o que é produzido nos restaurantes durante um mês é o suficiente para abastecer os moradores de uma cidade de aproximadamente 15 mil habitantes. Projeto Prodal As Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S/A (CeasaMinas) ,além de intermediar as relações logísticas entre o produtor e o consumidor, também possuem um projeto que contribue para o abastecimento alimentar O Programa de Distribuição de Alimentos (Prodal) , tem como principal objetivo reduzir o desperdício de alimentos em boas condições de consumo, mas que não tenham tanto valor comercial. Estes produtos são doados para entidades de assistência social melhorando assim a qualidade das refeições oferecidas. De acordo com Fabiana Maria da Costa, nutricionista da Ceasa Contagem, os alimentos são destinados todos os dias para as instituições, chegando a um número alto de doações por mês. “Em julho foram 65.476 quilos de alimentos distribuídos”.

Retaurantes Populares oferecem refeições saudáveis e evitam o desperdício de alimentos

Capital no combate à anemia No Brasil, a Anemia é um dos principais problemas nutricionais de saúde pública.As conseqüências dessa doença em uma criança são graves pois, comprometem o seu crescimento e desenvolvimento. Entre 2005 e 2006 foi realizada uma pesquisa em 24 creches da região leste de Belo Horizonte, com um total de 2.860 crianças, com objetivo de prevenir e tratar a anemia, que afeta principalmente a faixa etária de 0 a 5 anos. O estudo contra a desnutrição e anemia foi desenvolvido por uma equipe de pesquisa-

dores formada por pediatras e nutricionistas em parceria com a prefeitura de Belo Horizonte.Estes profissionais formularam uma mistura composta de água fortificada com ferro e vitamina C. Esta substância mostrou-se muito eficaz no combate a doença, reduzindo em aproximadamente 69%. O projeto de prevenção e combate à desnutrição, também realizado pela prefeitura destinava a crianças, gestantes e nutrizes uma “farinha enriquecida especial”, que se constituía de 50% de leite em pó integral acrescido de 50%

de uma mistura composta de fubá, farelo de trigo, pó de casca de ovo e pó de folha de mandioca, que tinha como principal objetivo auxiliar na recuperação nutricional, mas por ter apresentado uma melhora pouco significativa, parou de ser distribuída. De acordo com Andréia Queiroz, este projeto está passando por uma reformulação. “Agora só estão sendo distribuídos leite em pó e óleo”.Estas modificações pretendem potencializar mais o projeto e favorecer um número maior de pessoas.

Prefeitura de BH busca reintegração social LUZIANE MORAES THAÍS VASCONCELLOS 6º PERIODO A reintegração na sociedade dificilmente é um caminho sem barreiras. Ela faz parte da vida de ex-detentos, jovens infratores, moradores de abrigos, desempregados e carentes. Essas pessoas são condenadas pela sociedade e enfrentam dificuldade para conseguir melhorar as relações humanas e ter a integração a vida. Para ajudar a vida dessas pessoas, a PBH realiza seis projetos com atividades que facilitam a integração ao trabalho e assistência social, como o Qualificart - Centro de Qualificação Profissional.

Este projeto foi criado em junho de 1998 pela Gerência de Inclusão Produtiva da Secretaria Municipal Adjunta da Assistência Social – SMAAS e oferece cursos de capacitação profissional como informática, cabeleireiro, fabricação de salgados, higiene, nos quais as pessoas aprendem e têm uma oportunidade de voltar a ter um lugar na sociedade. Hoje com três unidades, seus cursos são bastante procurados. O Qualificart busca oferecer formação sócio-profissionalizante para as pessoas carentes. Ana Maria Wober, diretora geral do projeto, afirma que um dos objetivos dos cursos é desenvolver ações em vários se-

tores para diminuir a pobreza entre as gerações. “Ajudamos na autonomia e na emancipação dessas pessoas, atuando de modo preventivo evitando que elas voltem para uma situação de probreza”. O projeto atinge jovens e adultos com vulnerabilidade caracterizada pela ausência de trabalho e renda. Marcos Evangelista Borges de 54 anos estava desempregado há 17 anos e viu em um dos cursos uma oportunidade de voltar ao mercado de trabalho. No geral, os alunos do Qualificart são moradores de rua, jovens que cometeram atos infracionais, desabrigados por intempéries e pessoas portadoras de deficiência. Carlos de 17

anos fez uma grande escolha. “Após as aulas do colégio, tinha o dia livre, para não entrar no crime, minha avó me colocou nos cursos de informática e salgados, tendo uma chance de ter uma formação e entrar no mercado de trabalho”. Um dos cusos oferecidos por este projeto é o Caminhos do Sabor que tem a proposta de ser um grupo de produção de alimentos composto por mulheres chefes de família em situação de vulnerabilidade social que residem em abrigos da prefeitura de Belo Horizonte. O público dos projetos sociais são pessoas excluídas socialmente que tem pouca ou nenhuma inserção no empre-

go formal, o que dificulta sua entrada no mercado de trabalho, ampliando a exclusão social. Gilson Antonio Guimarães, de 31 anos, deficiente físico desde que nasceu, saiu de Guaraciama a procura de grandes oportunidades. “Em Bh participei do Projeto Unigranrio e da AMP e fiz vários cursos. Minha vida mudou muito. Hoje trabalho na GL(Telecomunicações), ganho meu próprio dinheiro e vou me casar no final do ano”. Projetos como esses ajudam na formação profissional de várias pessoas, com a possibilidade de uma vida melhor, se sentindo parte da sociedade e fazendo seu próprio sustento.

Projetos Socias da PBH -Unigranrio-Projeto Esportivo de Deficientes-os alunos têm atividades esportivas - Naf -Núcleo de Apoio à Família- orienta famílias em vulnerabilidade social. - AMP-Associação Mineira de Paraplégicos- ajuda deficientes na luta pelo exercício da cidadania - Comunidade Integradabusca o desenvolvimento integral do adolescente. -CAVIV-Centro de Apoio ás Vítimas de Violência- afasta o adolescente da violência e o encaminha para o trabalho.


07 Educação Clarissa e Gabrie

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Editoras e diagramadoras da página: Clarissa Damas e Gabriela Falci - 6º período

o ponto Belo Horizonte – Setembro/Outubro/2007

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E D U C A Ç Ã O 07

Aprendizado ou exploração? É PRECISO DIFERENCIAR OS ESTÁGIOS “PICARETAS” DOS QUE DE FATO COMPLEMENTAM Samuel Aguiar 5ºG

BRUNO CHIARI 5º PERÍODO Segundo o dicionário Aurélio, estágio significa aprendizado, exercício, prática ou ainda situação transitória de preparação para profissão. Entretanto, a realidade encontrada pelos universitários é outra. Muitas vezes o estágio é visto pelas empresas como uma forma de mão-de-obra barata, sem vínculo empregatício, mas os estudantes, o vêm como uma vitrine para o mercado de trabalho, complementação do curso e possibilidade de um futuro emprego. A crise de desemprego vivenciada no Brasil reflete-se também na dificuldade de se encontrar um estágio, e, muitas vezes, não havendo apoio das universidades com convênios e programas especiais de encaminhamento dos estudantes, instituições como Centro de Integração Empresa Escola (CIEE) fazem o elo entre os universitários e as empresas. Em 40 anos, cerca de 7 milhões de estudantes ingressaram no mercado de trabalho por meio do CIEE, e, somente no primeiro semestre de 2007 foram recebidos 110 mil relatórios de acompanhamento de estágio. Eles revelam que 97,5% dos programas de estágio desenvolvidos pelas empresas e administrados pelo CIEE estão adequados aos parâmetros legais em seus principais aspectos, que são compatibilidade das atividades com o curso, carga horária e supervisão de profissionais experientes. “O estágio é uma experiência fundamental para a capacitação dos estudantes”, conclui Ceila Lemos, supervi-

sora do Acompanhamento de Estágio da entidade. Para o coordenador do curso de Comunicação Social da PUC Minas, o jornalista Maurício Lara, “O bom do estágio é a possibilidade da prática, de diminuir a distância entre a sala de aula e o cotidiano das redações ou do mercado como um todo. O ruim é o risco do estágio ser só exploração de mão-de-obra, do estagiário ficar sem orientação profissional competente e respeitosa. Outro risco é o estagiário achar que o estágio é mais importante que o curso e praticamente ‘abandonar’ a sala de aula”. Alguns universitários, principalmente nos primeiros períodos, são iludidos por propostas de estágio em grandes empresas, na esperança de aprender algo relacionado ao curso, ter certa independência financeira e ingressar de vez no mercado de trabalho. É vantajoso oferecer cargos de horário integral aos estudantes, com salários muito inferiores aos de profissionais graduados. O publicitário Cristiano Souza conta que foi contratado como estagiário por uma empresa de telecomunicações, trabalhava seis dias por semana e recebia pouco mais de um salário mínimo. Esse quadro caracteriza a exploração de mão de obra, pois não havia nenhum vinculo empregatício e a remuneração ficava muito aquém do merecido. “No meu caso, o estágio não valeu a pena. Ganhava mal, trabalhava muito e o que aprendi não me acrescentou nada em relação ao curso”. Entretanto, existem aqueles que só servem para que as empre-

Monitores do laboratória de Produção Gráfica da Universidade Fumec auxiliam colegas na produção de peças publicitárias sas não tenham custos trabalhistas e para que os estudantes comecem a ganhar seu próprio dinheiro. Já o recém formado jornalista Guillermo Tângari diz que o estágio é um período de mostrar a cara e que foi decisivo em sua formação profissional. “Comecei a estagiar muito cedo, estava ainda no segundo período. Foi meu primeiro contato direto com a profissão. Tive que correr atrás. Para abrir a minha vaga, fui voluntário durante quatro meses, virei o “buscador” de lanches da assessoria, mas fiz valer a pena e conquistei respeito. Era curioso, queria saber como as coisas aconteciam. Aprendi muito.” Fazer estágio é, de fato, muito importante para a formação do estudante, mas ape-

nas quando a empresa é séria, valoriza e orienta o estagiário. É o momento no qual ele vivencia a profissão e pode refletir se está mesmo no caminho certo, conhece o mercado de trabalho e entende como tudo funciona na prática.Até que ponto ocorre um diálogo entre estudantes, faculdades e empresas e, em que medida as instituições de ensino superior podem intervir na relação empregador/estagiário? Enquanto essa questão não é respondida, cada aluno deve correr atrás de uma formação completa e coerente. Monitoria é alternativa A monitoria é uma prática comum nas universidades, onde alunos são selecionados para auxiliar os trabalhos dos

colegas sob a spervisão dos professores. Funcionando mais ou menos como um estágio, a monitoria é uma forma de aprofundar o aprendizado na área de maior interesse do estudante. Ele trabalha geralmente meio período e recebe uma bolsa em forma de desconto na mensalidade. A seleção ocorre por meio de provas, entrevistas e análise curricular, podendo também ser voluntária, sendo uma alternativa para os que não conseguem um estágio. A diferença é que nesse caso o aluno não recebe o desconto, mas lhe são atribu;idas as mesmas funções e responsabilidades do monitor concursado. Para o estudante de jornalismo da Fumec, Carlos

Eduardo Marchetti, monitor da Redação Modelo (jornalismo impresso), não há aspectos negativos no que diz respeito à monitoria. “A monitoria é um local de experimentação e de interação entre o aluno, faculdade e todo o ambiente que os envolve. É uma vivência acadêmica indispensável, pois constitui um espaço de produção intelectual constante, assim como os projetos de extensão e de iniciação científica. Além disso, é um ambiente a mais que o curso nos proporciona. A monitoria é uma ‘institucionalização’ daquilo que todos os alunos deveriam fazer enquanto universitários: estudar, pesquisar, aprender, experimentar e colocar em prática, explica.

A moda agora é trabalhar nos EUA UNIVERSITÁRIOS ACREDITAM QUE SER GARÇOM, CAMAREIRA E MANOBRISTA NO EXTERIOR É UM BOM NEGÓCIO Bruno Chiari

CLARISSE SIMÃO FREDERICO ROSSIM 2ºPERÍODO Todos os anos, só de Belo Horizonte partem cerca de 450 universitários rumo aos EUA. Eles participam dos programas “Work and Travel” e se dispõem a trabalhar no país por quatro meses, em posições de subemprego. As motivações para viajar são muitas, mas as que de fato fazem os estudantes irem para o exterior em busca de trabalho pesado são o aprimoramento da língua e a experiência de vida. A maioria acredita que ir para fora do Brasil abrirá as portas do mercado de trabalho, que exige cada vez mais fluência e compreensão do mundo em outro idioma. Outros motivos que levam estudantes a gastar em média R$ 6 mil e buscar na terra do Tio Sam um novo estilo de vida, ocupando cargos que aqui normalmente se recusariam a exercer - como garçom, auxiliar de limpeza, carregador de mala, copeira, etc. - são o retorno salarial que obtêm e a conveniência de morar fora e se ver como único responsável por si. O desejo de morar sozinho, experimentar coisas novas e estar longe das críticas de familiares e amigos, faz com que jovens encarem as desventuras do trabalho remunerado no exterior. Mas embora à primeira vista o programa pareça ter

apenas vantagens, tanto financeiras quanto pessoais, viver e trabalhar em outro país não é tão simples assim. "A maior dificuldade enfrentada é estar sozinho, você depende apenas de si, não recebe nenhuma influência. Quem vai de intercambista faz trabalhos que os próprios americanos não fazem", conta o estudante de direito Marus Gimenez. Já o estudante de Relações Internacionais Henrique Ferreira, diz que ter experiência internacional facilitará sua inserção no mercado de trabalho. “ O ganho em experiência de vida é muito grande. Eu nunca tinha vivenciado a situação de pagar minhas próprias contas, lavar minhas roupas e comprar minha comida. O trabalho é realmente pesado, eu trabalhava com fast food, e era muitocansativo. No reveillon, fui escalado para trabalhar por quase 15 h”, conta o estudante de RI que trabalhou no Walt Disney World. Busca da identidade Para a psicóloga Marden Lauar esse não é um comportamento anormal da juventude. A vontade de sair e trabalhar fora do país envolve auto-estima, busca da identidade e tentativa de uma melhor capacitação para o mercado de trabalho "O intercambio pode ser uma fuga, pois o jovem se sente pressionado pelos parentes

Luana Vaz começa a arrumar as malas para a viagem aos EUA que realizará no final do ano

e a viagem é uma forma de se libertar das pressões da família. Chegando lá, as coisas são bem diferentes, e a questão de ter que se virar sozinho pode ajudar na formação da personalidade do jovem", diz. Muitos estudantes se sentem perdidos nos cursos e a vontade de “se encontrar” na profissão contribui para o aumento da procura pelos programas de trabalho. “Estudo arquitetura e até hoje não descobri se é isso o que eu realmente quero. Ficar um tempo fora do Brasil vai me ajudar a me conhecer e a organizar os pensamentos,” diz Luana Vaz, que embarca para a Flórida em novembro para trabalhar em um restaurante. Por que então os jovens não exercem aqui no Brasil as mesmas funções que realizam no exterior? A resposta vem do estudante de Relações Internacionais, "A remuneração é muito diferente. Trabalhando com fast food, eu cheguei a tirar US$ 600 em uma única semana”, conclui. O ideal de uma vida bem sucedida e independente dos pais leva faz os jovens embarcarem nessa aventura. Mas é preciso estar preparado para as adversidades que podem ocorrer em uma terra distante, pronto para enfrentar as dificuldades da língua estrangeira e disposto a encarar a solidão e o trabalho pesado.


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Belo Horizonte – Sete

Anfetaminas:

EM NOME DE PADRÕES ESTÉTICOS, MULHERES BUSCAM MEDICAMENTOS PARA EMAGRECER, ME DOS RISCOS, RECEITAS SÃO OBTIDAS FACILMENTE EM CLÍNICAS ESPECIALIZADAS, PORQUE MÉ JÚLIA MÓL, THIAGO PRATES, WANDERSON ADDA 2º PERÍODO

O

espelho é uma ameaça. Se a imagem refletida denunciar o pronuciamento de algum centímetro de seu corpo, será preciso correr o risco. Ainda que a balança não mude em relacão a semana passada. Nem em comparação com o dia anterior. O ponteiro sai lepidamente do repouso e pára na marcação habitual. Sophia* suspira, paciente mas não resignada. Ela belisca sua pele com cuidado, a barriga, os braços, pernas. O fascínio despertado pelo espelho se transforma em asco. É como se ganhasse dez quilos após o almoço. Não pretende comer até o dia seguinte. O frasco está quase cheio. Toma o comprimido nas mãos, e tenta afastar a lembrança de seu último contato. O coração acelerado, as mãos tremendo, a voz disparada e as palavras fora de lugar. Devolve o comprimido e ouve os comentários á sua volta. O assunto do dia é que ela engordou. Volta a virar o frasco e pegar o comprimido. Valerá o sacrifício. Nem precisa de água. Sophia tem 21 anos e faz uso de fluxetina e fremproporex (anti-depressivo e anfetamina) desde 2003. Os seis quilos perdidos no início a deixaram animada, mas, após o primeiro mês, engordou dez. Há dois anos, procurou uma clínica especializada em emagrecimento. O médico receitou doses elevadas, mesmo sem ter pedido nenhum exame. “Achei a quantidade que ele sugeriu muito baixa e reclamei. Ele praticamente dobrou a dosagem, e saí do consultório com a receita”. Não precisou nem passar na farmácia. “Na própria clínica eu fiz o pagamento, e em dois dias recibi os remédios em casa”. Na primeira semana, já tomava anfetaminas em doses dobradas. “Não sou dependente porque já fiquei sem tomar por três meses. Voltei porque me sinto bem. Fico mais tranquila quando estou de TPM e me sinto emagrecendo”. Os remédios melhoraram sua vida social. “Tinha amigos quando

era gorda, mas hoje sou mais bem aceita. Não me importo com a opinião dos outros, mas lembro o que falaram quando emagreci. Tenho medo de engordar outra vez”. O alívio transparece quando a universitária pensa em abandonar a medicação. “Vou parar e fazer exercícios físicos, mas não antes de perder cinco quilos”. Anfetaminas são recomendadas somente para pessoas com o IMC (ínidice de massa corporal) acima de 40. O de Sophia é 21. Consumo e ética O consumo de anfetaminas, drogas sintéticas que agem como estimulantes no sistema nervoso central, deveria ser motivo de preocupação. Elas causam perda de sono e apetite, o que faz com que seus maiores consumidores sejam pessoas que querem perder peso rapidamente. Também são procuradas por caminhoneiros, para se manter acordados durante a noite. No Brasil, o consumo anual de anfetaminas chega a 30 toneladas por ano, segundo a Secretaria Nacional Anti-drogas (Senad). Mas o imperativo por moldar o corpo conforme padrões estéticos difundidos pela mídia é mais forte que os riscos provocados pelo conumo indiscriminado. Anfetaminas (frempoporex, anfepramona, mazindol, entre outras) podem ser adquiridas em drogarias comuns e em fórmulas manipuladas. São necessárias receitas especiais, azuis, que ficam retidas na farmácia. A Vigilância Sanitária é responsável pela fiscalização. Segundo a Portaria de nº. 344/98, do Ministério Público Federal, o consumo de remédios que contém substâncias da lista B2, como as anfetaminas, (ver listas na página ao lado) deve ser registrado. Ela também proíbe a prescrição da combinação, na mesma receita, de substâncias anoréxicas (inibidoras de apetite), calmantes/ansiolíticos, anti-depressivos, diuréticos e laxantes. Para burlar a portaria, alguns médicos indicam as substâncias em receitas separadas. No fim, o paciente ingere a mesma quantidade de combi-

nações proibidas, mas em cápsulas diferentes – e gasta mais, com cada medicamento. Fiscalização As farmácias admitem que o uso dos medicamentos é deturpado, mas legalizado. “Os donos de farmácias afirmam que as fórmulas são prescritas legalmente, e que ou vendem ou saem do mercado”, afirma a diretora do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais (Sinfarmig), Luciana Carvalho, na profissão há 13 anos, e com experiência em farmácias de manipulação. Ela explica que o sindicato é contrário à venda indiscriminada de anfetaminas pelos seus prejuízos a saúde e alto índice de dependência que provocam. O Sinfarmig só é a favor da prescrição de anfetaminas em casos de obesidade mórbida (aproximadamente 45 kg acima do peso normal), que pode provocar, entre outras doenças, infarto, hipertensão e diabetes. Para restringir receitas, uma nova Resolução da Anvisa (RDC 58) diz que elas só terão validade de 30 dias e serão analisadas pela Vigilância Sanitária. Ela proíbe ainda que medicamentos que contenham antidepressivos, diuréticos, laxantes e anorexígenos sejam prescritos conjuntamente, ainda que em cápsulas separadas. O fiscal da Vigilância Sanitária de Belo Horzionte, Paulo Nogueira, acredita que a nova Resolução cobre lacunas deixadas pela Portaria 344. “Ela esclarece pontos confusos e diminuirá o consumo irregular, pois teremos mais condições de fiscalização”, afirma. Mas só o texto da Resolução não resolve. “O consumo é alto porque as prescrições são indiscriminadas. O médico receita a anfetamina que é permitida por lei, e a farmácia manipula. Se isso é ético não compete à vigilância sanitária”, acredita. Efeitos no organismo Os efeitos das fórmulas para emagrecimento são variados e os benefícios, controversos. A pessoa emagrece muito rápido porque o corpo entra em um processo de adoecimento. Ao suspender o medicamento, ganhará mais

peso do que perdeu, num efeito sanfona inevitável. Mas a resposta imediata ao desejo de um corpo magro não pára de atrair pessoas, em sua maioria mulheres que querem perder peso por questões estéticas. A universitária Ana*, 20 anos, diz ter tomado a fórmula três vezes, e sempre ter engordado de novo. “Ainda assim usaria pela 4ª vez. Eu sou ansiosa, não sei emagrecer devagar”, desabafa. Ela nunca foi ao médico para conseguir as fórmulas.A mãe ia às consultas e pedia receitas para durarem mais tempo. “Só pegava as fórmulas que minha mãe me dava, nunca fiz nenhum tipo de exame”, afirma. Ela já sofreu com os efeitos colaterais provocados pela droga, como dificuldades pra dormir e coração acelerado. A mãe já havia tido os mesmos sintomas. Para a medicina, o tempo máximo de uso de medicamentos que contenham anfetaminas é de quatro meses. Além da dependência psíquica e do comprometimento da saúde mental, o uso contínuo pode provocar AVC (acidente vascular cerebral), infarto do miocárdio, agressividade e a probabilidade de transtornos bipolares - distúrbio de humor caracterizado por duas fases, de ansiedade e depressiva. A reportagem de O Ponto pôde comprovar a facilidade com que pessoas conseguem receitas de anfetaminas, como o femproporex. A reportagem esteve na clínica indicada por Sophia, no bairro Santo Agostinho. “Todos os médicos aqui podem passsar a receita”, afirmou a secretária. “Mas eu fiz alguns exames semana passada, preciso fazer de novo”? “Ah..alguns médicos vão cobrar sim, mas posso te passar os nomes dos que não te exigem os exames novamente. É só você escolher e marcar uma consulta”. A clínica realiza procedimentos cirúrgicos, como lipoaspirações. Um de seus médicos (em Governador Valadares) está sendo processado pela morte de duas pacientes ocorridas em julho, por complicações após uma lipo. * Sophia e Ana são nomes fictícios, a pedido das jovens entrevistadas.

O Brasil é o maior consumidor de a Infografias: Rafael Barbosa

Hábitos saudáveis dispensam remédios Perder peso pode não ser uma história arriscada, se o foco for a mudança de hábitos alimentares e a prática esportiva no lugar de remédios. Trabalhar uma dieta de baixa caloria associada a exercícios é a melhor maneira não apenas de emagrecer, mas como de manter o resultado obtido. “Quando acontece um trabalho de reeducação alimentar, o indivíduo muda seus hábitos aos poucos e consegue manter o peso perdido porque não vai perder só água e massa magra, como acontece com quem toma anorexigenos. Com essas drogas, o pa-

ciente volta a ganhar peso e ainda por cima ele recupera tudo em gordura, o que torna o emagrecimento uma tarefa ainda mais difícil”, afirma Ann Kristine Jansen, nutricionista e professora da Universidade Federal de Minas Gerais. Ela diz que os reflexos de uma alimentação saudável vão alémdo que é percebido na balança. A melhora acontece em vários parâmetros químicos, na resistência a insulina, no colesterol e triglicedes. Mas ela destaca a força de vontade necessária, já que os resultados duradouros não aparecem a curto prazo. “Essas são algumas das vantagens desse processo lento e contínuo. O paciente não só perde peso co-

mo também melhora sua saúde e diminui os riscos de doenças associadas à obesidade como diabetes, doenças no coração, hipertensão arterial, entre outras”. Para a professora, com uma dieta adequada e atividades físicas o paciente pode perder de três a quatro quilos por mês, dependendo de cada organismo. Ela explica que a dieta deve ser feita de forma a reduzir a quantidade calórica aos poucos até chegar em um ponto que permita ao indivíduo perder peso em uma velocidade um pouco maior, mas sem passar fome.

Uso abusivo alterações hepática, renal, cardíaca, cardiovascular; em homens pode chegar ao aparecimento de mamas; dependência psíquica; AVC, infarto do miocárdio; aumento da agressividade e da probabilidade de transtornos bipolares


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o risco da vaidade

ESMO COM O RISCO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA E DOENÇAS COMO AVC E INFARTO; APESAR ÉDICOS BURLAM DETERMINAÇÕES DA ANVISA QUE RESTRINGEM O ACESSO ÀS RECEITAS Samuel Aguiar

Efeitos da maconha são menos agressivos Conscientizar a população sobre os riscos provocados pelo uso de drogas pode ser um auxílio no combate ao consumo elevado. “É uma vergonha que o Brasil seja o maior consumidor de anoréxicos (anfetaminas) do mundo enquanto tanta gente passa fome. Precisamos de campanhas para alertar a população”, defende o professor Elias Murad. Ele é fundador da Abraço, instituição que atua na recuperação de usuários e prevenção do consumo de drogas. A instituição tem projetos de prevenção principalmente em escolas de primeiro grau e de recuperação de dependentes químicos. Para o professor, o acesso fácilitado a anorexígenos deve ser combatido. Ele defende um aumento da fiscalização, para que haja um maior controle sobre o consumo do medicamento. Para restringir o acesso, há um projeto que determina que as anfetaminas sejam incluídas na lista A, que necessita de receitas amarelas - que sofrem maior controle pelo governo

por serem enviadas prontas ao médico, e não apenas numeradas . Nessa categoria se encaixam os entorpecentes. Já para as listas B e B2 é necessária uma receita azul. A lista B é composta por psicotrópicos, como os ansiolíticos, e a B2, por anfetaminas (anorexígenos). Os medicamentos pertencentes à lista C são os imunossupressorres e anabolizantes, que dependem de uma receita branca, junto com a qual fica retido na farmácia um termo de responsabilidade assinado pelo paciente. Em relação ao consumo de anorexígenos, não é preciso apenas aumentar a fiscalização, mas informar a população sobre os riscos do consumo descontrolado. Essa idéia defende o doutor em psicologia clínica e professor de farmacologia na UFMG Amadeu Roselli. Muitas pessoas desconhecem, por exemplo, que seus riscos superam, de longe, os da maconha. “Se formos comparar a maconha e os anorexígenos, em vários critérios a maconha é muito mais ino-

cente. Ela não leva necessariamente a morte”, defende. Ele explica que quando o usuário está sob efeito da maconha, as chances de se envolver em algum acidente é muito menor do que alguém sob efeito de anorexígenos. Com anfetaminas, a pessoa fica agressiva e a mistura com álcool aumenta sua excitação. “A pessoa fica inconseqüente e pode colocar em risco a integridade de outras pessoas também”, explica. Segundo Roselli, a fiscalização deficiente é provocada pela falta de profissionais qualificados e comprometidos com a saúde e o interesse público nas diretorias dos órgãos competentes do setor. “A Anvisa (agência responsável pela legislação do setor) está indo pelo mesmo caminho da Anac, porque seus diretores são nomeados por filiação partidária, e não por competência técnica”. O atual diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Raposo de Mello, foi candidato a deputado Estadual nas eleições de 2002 pelo PT.

Prescrições em BH são quatro vezes maior que o permitido

nfetaminas do mundo, com 30 toneladas anuais, segundo a Senad

Consumo de Anfetaminas O Brasil consome quase 90% das drogas para emagrecimento do mundo.* São 30 toneladas por ano.* São 10 mulheres para cada homem que a consome.* 59% não são obesos do ponto de vista médico.* 66% fizeram uso abusivo da substância.** 80% Associam obesidade apenas a questões estéticas.** O consumo de anfetaminas é de 3,2% da população, cerca de 1,6 milhões de brasileiros.** Do ponto de vista médico, pessoas obesas tem IMC acima de 40.*** * Senad (Secretaria Nacional Anti-Drogas) - 2006 ** Ceberid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) *** ONU

Como calcular o IMC?

Altura x altura/peso

(Sua altura vezes ela mesma divida pelo seu peso)

O consumo de anfetaminas em Belo Horizonte é preocupante. “O número de receitas em BH é muito grande em relação a outros lugares. O número é tão absurdo aqui que chega a ser até 40 vezes maior que a média eurupéia”, afirma a fiscal da Vigilância Sanitária Mônica Gontijo, que já fez quatro trabalhos sobre o uso de remédios para emagrecer na capital. Sua monografia foi o primeiro deles, na qual ela analisou as receitas azuis, que ficam retidas nas farmácias. Foram analisadas receitas de 52% das farmácias da capital, ou cerca de 170 mil receitas. Entre as conclusões que Mônica chegou com seu estudo, ela afirma que “a qualidade das notificações é baixa. São prescritas doses de femproporex (um tipo de anfetamina) em quantidades até quatro vezes maior que o permitido por lei”. Para ela, o erro é conjunto, de especialistas e pacientes. “Mas o paciente não é obrigado a ter a consciência que deveriam obrigatoriamente ter os médicos e farmacêuticos”. Ela conta ainda que é muito comum um médico receitar em uma mesma fórmula 11 componentes diferentes, mas já chegou a encontrar fórmulas que continham até 29 substâncias.

Mônica alerta sobre os riscos: “Anfetaminas causam dependência, alterações hepática, renal, cardíaca, cardiovascular e em homens pode chegar ao aparecimento de mamas”. Ela defende que os farmacêuticos também deveriam ter consciência de que o consumo exagerado desse tipo de medicamento pode levar o paciente ao óbito, como foi o caso de uma comerciante de 38 anos, que morreu em Contagem em julho, fato que foi noticiado pela imprensa. As suspeitas sobre a morte recaem sobre consumo abusivo de medicamentos para emagrecer. A fiscal da Vigilância Sanitária confirma que é praticamente impossível tomar as fórmulas sem sofrer alguém tipo de efeitos colaterais, que aparecem em 95% dos usuários. Gontijo diz também que a intenção do novo sistema de controle das receitas (SNGPC) é fazer com que a Vigilância Sanitária tenha acesso a mais dados para detectar precisamente as falhas. “Se o consumo abusivo não cair, quem vende e quem prescreve continuará se atendo à lei e a vigilância não vai ter como combatê-lo”, lamenta. Automedicação e publicidade O aumento do consumo de remédios pelos brasileiros

vem se tornando um fator preocupante. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil consome em média 30.000 medicamentos diferentes, enquanto o ideal de consumo para os padrões do país seria de apenas 3.000. “O brasileiro tem uma cultura de automedicação difícil de ser combatida”, afirma Roselli. Ele diz ainda que “a indústria farmacêutica no país é tão forte em todos os sentidos que existem inúmeras dificuldades em iniciar campanhas para mudar esse perfil”. O vice-presidente da Fenafar (Federação Nacional dos Farmacêuticos) Rilke novato Públio, concorda com Roselli. “A propaganda de remédios não tem nenhum benefício para a população, só traz prejuízos”, alerta. Ele conta que hoje já foi iniciada pela própria Fenafar uma campanha contra o uso irracional de medicamentos, com o slogan ”A farmácia não é um simples comércio. Sua vida não tem preço”. A contrapropaganda, apesar das limitações para concorrer com a indústria, poderosa econômicamente, é um esforço para alertar a população para a necessidade de cuidados especiais na hora de tomar qualquer tipo de medicamento.


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Belo Horizonte – Setembro/Outubro/2007

Foto: Mandilee/stock.xchng - Montagem: Laboratório de Produção Gráfica

DIÁRIOS ASSOCIADOS FECHAM O “DIÁRIO DA TARDE” E INVESTEM NO TABLOÍDE “AQUI”

“Mataram o Diário da Tarde, mas o Aqui parece não ter vida”. Dalmir Francisco, Professor de Jornalismo

PEDRRO HENRIQUE VIEIRA

4ºPERÍODO

O

jornal “Diário da Tarde” chega ao fim após 77 anos de história. O Grupo Diários Associados anunciou a morte do DT no dia 23 de julho e no dia 28 foi publicada a sua última edição. Os Associados alegaram que o conteúdo do DT seria unido ao do tablóide “Aqui”. Em um momento em que o formato tablóide e o gênero sensacionalista vêm crescendo, um jornal popular tradicional de Minas Gerais perde seu espaço. Com empresas em todo o Brasil, o Grupo Diários Associados, que se intitula em Minas Gerais como Associados Minas, conta com mais de 70 veículos de comunicação espalhadas pelo país, como rádio, televisão e jornal impresso. Em Belo Horizonte, o Grupo é representado pelas empresas S/A Estado de Minas e Rádio Guarani S/A, e é dono da “TV Alterosa”, jornal “Estado de Minas” (EM), o tablóide “Aqui” e Portal Uai. Em outros estados, os Associados têm empresas como a S/A Correio Braziliense, Diário de Pernambuco S/A e várias outras. Assis Chateaubriand foi o criador do Grupo Diários Associados, um verdadeiro império da comunicação. O O Ponto tentou contato com o jornal “Estado de Minas” que declarou que o assunto está encerrado. Fundado em 1930, o DT publicou 25.260 edições ao longo de sua história, se destacando nas bancas de revistas entre os jornais mais vendidos durante anos. Mas o crescimento do “Super Notícia” e do “Aqui” derrubaram as vendas do DT que perdeu seu espaço. Segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), o “Diário da Tarde” teve uma queda de 4,69% no mês de junho, vendendo, em média, pouco mais de 10 mil exemplares por dia, enquanto o tablóide Aqui cresceu 15,34%, chegando a comercializar 44.865 cópias diariamente. Nos últimos 12 meses, o declínio do DT chegou a 25,10%. Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais Elian Guimarães de Oliveira, é lamentável o fato do fechamen-

to do jornal: “É uma grande perda para o jornalismo, para os profissionais, e para a sociedade, que tinha um veículo com característica de mão dupla com a comunidade, evidenciando o dia-a-dia das pessoas”. Sensacionalismo O fim do “Diário da Tarde” começou a ser traçado quando os Associados Minas criaram o tablóide “Aqui”, um jornal também dito popular em um formato menor e conteúdo mais sensacionalista. Ele foi criado para fazer concorrência ao “Super Notícia”, lançado pela Sempre Editora em 2002. Os dois tablóides representam uma forma simplista de vender notícia, com matérias recicladas e temáticas sensacionalista.

Os jornais sensacionalistas utilizam o escândalo, o sangue e o sexo para tornar sensacional uma notícia jornalística. O sensacionalismo se baseia na banalização do acontecimento, na dramatização. Tem o intuito de emocionar e chocar. Os jornais sensacionalistas utilizam o escândalo, o sangue e o sexo para tornar sensacional uma notícia jornalística. Estes veículos usam uma linguagem clichê, (extravagante) não seguem a linha do distanciamento crítico, ao contrário buscam um envolvimento com o leitor. A credibilidade não é uma preocupação destes jornais. O “Aqui e o “Super Notícia” se encaixam neste perfil, são popularescos. O “Diário da Tarde” tinha uma linguagem mais fácil, que atendia as classes mais populares. Mas tinha uma preocupação com a credibilidade. Suas manchetes não eram tão escandalosas e apelativas, as matérias não eram tão superficiais. Já o “Aqui” é um jornal apelativo, que mais do que informações vende imagem e as matérias internas muitas vezes não desenvolvem o conteúdo das manchetes.

Grande perda De acordo com o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, o fechamento do jornal resultou na demissão de 48 profissionais jornalistas, diagramadores e ilustradores. Apenas dez profissionais foram reaproveitados, sendo transferidos para o tablóide “Aqui”. Formado em Comunicação Social na FAFI-BH, Carlos Contijo que foi demitido do DT em agosto, após quase 30 anos no jornal destaca que o tablóide “Aqui” não substituirá o “Diário da Tarde”, pois o DT era um jornal popular, não popularesco como o “Aqui”. Com notícias mais completas e uma leitura mais fácil, com um texto mais leve, o “Diário da Tarde” era direcionado para o público mais periférico, cobrindo o dia a dia das pessoas. O DT tinha uma editoria de “Cidade” que era bem consolidada, atendendo toda a região metropolitana de Belo Horizonte.. Editor de política do Diário da Tarde por 20 anos, o jornalista Ariosto da Silveira defende que a opção de substituir um jornal popular de qualidade para investir em um tablóide é uma regressão, pois o DT atendia a um público mais exigente: “Investindo no ‘Aqui’, estão voltando para uma faixa extremamente popular, pois os tablóides publicam apenas notícia de superfície dos fatos”. Jornalista há mais de 22 anos, Elian Guimarães ressalta que o jornal Aqui é um projeto completamente diferente do “Diário da Tarde”. Em sua opinião, os tablóides têm que melhorar a forma de conteúdo: “Além de sensacionalista, o repórter não tem espaço para escrever. A matéria é limitada a 20 linhas, portanto, muitos dos dados apurados não cabem na matéria. Além do mais, nem sempre aparece o crédito do jornalista na reportagem”. A insatisfação com o fechamento do jornal “Diário da Tarde” para o investimento no tablóide Aqui também acomete o professor de Jornalismo na UFMG, Dalmir Francisco, que era leitor do jornal. Para ele foi uma estupidez investir no Aqui, fruto da pobreza intelectual de seus dirigentes: “Mataram o ‘Diário da Tarde’, mas o ‘Aqui’ parece não ter vida”.

TABLÓIDE mineiro se encontra EM ALTA O fim do DT para investir no “Aqui” é resultado do crescimento dos tablóides mineiros. A população que antes não tinha acesso à jornais, passou a consumir estes tablóides por preços acessíveis, ou por uma leitura mais simples e condizente com a sua realidade.Dalmir Francisco exemplifica que as pessoas de classes mais baixas lêem notícias sobre crimes não porque gostam, mas porque acontecem a todo o momento perto delas, pois é a realidade em que vivem. Para Ariosto da Silveira, Minas Gerais nunca teve tradição na comercialização de tablóides, mas com o avanço destes jornais em São Paulo e, principalmente, no sul do país, as empresas começaram a procurar novos mercados, diferentes espaços de públicos: “A população mineira se adaptou rápido aos tablóides. Os brasileiros não têm tradição em leitura e também não têm tempo. Esses jornais são pequenos, com leitura fácil e rápida”. Avanço nas vendas e retrocesso na qualidade da informação. Preocupado com a credibilidade do jornalismo, opresidente do Sindicato do Jornalistas, Elian Guimarães , considera o avanço nas vendas dos tablóides um retrocesso na imprensa impressa no Brasil: “Na verdade, eles não vendem o jornal, e sim promoções. As pessoas são atraídas pelos prêmios que podem ganhar. Está sendo priorizado o mercado, com ganho e lucro, não uma informação de qualidade”. Para Elian Guimarães o jornalismo tem uma função social importantissíma, pois mexe com a vida e o com o dia-a-dia das pessoas, constrói personalidade, e também destrói : “Por que não fazer promoções que atraiam as pessoas, oferecendo

boa informação, com pensamento mais crítico?” O editor do jornal “Super Notícia”, Rogério Maurício destaca que esse sucesso se baseia em formato agradável (tablóide), conteúdo prático (textos curtos e diretos), preço acessível, ampla circulação e promoções para os leitores: “Com isso, muita gente, principalmente das classes C e D, que antes não liam nenhum jornal, foram também inseridos no mercado da leitura”. defende. O tablóide “Super Notícia”, da Sempre Editora, por exemplo, é o mais vendido do Brasil. De acordo com dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), o jornal vendeu, no mês de agosto, em média, 300.322 exemplares por dia. Com o preço de apenas 25 centavos, o Super é o 1º colocado nacional no ranking de vendas avulsas de jornais. Mesmo não contando com assinaturas, o tablóide mineiro superou em circulação geral, em agosto, até a conceituada “Folha de São Paulo”.O sucesso do jornal “Super Notícia” é tão grande que foi criada também uma versão OnLine, estando disponível para os seus leitores também na internet.O conteúdo é apenas transposto da versão impressa, com o site sendo atualizado diariamente. Uma boa informação completa e de qualidade não é mais valorizada pela população em geral no Brasil. Enquanto os tablóides quebram recordes de vendas com suas reportagens sensacionalistas e, muitas vezes inúteis, os grandes jornais do país lutam para não entrarem em crise e anterem uma informação de utilidade e aprimorado conhecimento para a nação.


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M Í D I A 11 Bruno Chiar 5ºGi

Em cinco anos o Jornal do Ônibus da BHTrans ajudou a encontrar 10 pessoas desaparecidas através de suas publicações quinzenais, que atingem cerca 1 milhão e 700 mil usuários em dias úteis

Publicidade a serviço da cidadania MERCADO PUBLICITÁRIO PRODUZ CAMPANHAS SOCIAIS QUE MOBILIZAM A POPULAÇÃO IZABELA ZARIFE MARCELA BOECHAT 6º PERÍODO Campanhas publicitárias socialmente conscientes como as de incentivo à doação de órgãos ou sangue, as que auxiliam na procura por pessoas desaparecidas e as que estampam a indignação dos brasileiros quanto aos problemas sociais do país resgatam o caráter educativo e informativo da Publicidade e Propaganda. Cada vez mais freqüente, essa nova publicidade chega com um conjunto de ferramentas capaz de contribuir para mudanças comportamentais na sociedade. Nesse caminho, a Tom Comunicação lançou uma campanha que incentiva a doação de córneas; a Agência GP4 criou uma campanha impulsionando a mobilização da população contra a violência desenfreada; a BHTrans publica quinzenalmente em seu Jornal do Ônibus fotos de pessoas desaparecidas; e o Hemominas faz campanhas de incentivo à doação de sangue. A publicitária Iara Marques, da empresa Emater, acredita que essas campanhas, através de mensagens de conteúdo rico e importante, quando divulgadas de forma criativa, influenciam o sentimento das pessoas. “O objetivo básico da publicidade é persuadir a população à compra, que não é só de produto material, mas também de idéias e comportamento. Temas tão importantes como doação de córneas, de sangue e divulgação de pessoas desaparecidas, aliados à comunicação, acabam mexendo com o sentimento das pessoas e consequentemente as incentivam a agir.” A Tom Comunicação, contou com a sensibilização e o apoio de 30 empresas ligadas a veículos de comunicação. Todas aceitaram propagar a campanha Doar córneas é doar vida de forma voluntária. Segundo Ana Luiza Coelho, relações institucionais da empresa, a comoção pela causa

foi a responsável pela presteza de todos os parceiros envolvidos. “A mobilização teve impacto nacional, com o apoio da mídia.” Como resultado da ação social, a Sociedade Mineira de Córneas (Somic) já evidencia um aumento das doações mensais. O Jornal do Ônibus, feito pela BHTrans, circula há 14 anos nos ônibus da grande BH, e nos últimos cinco anos passou a publicar fotos de pessoas desaparecidas. Ronan Aguiar, gerente de marketing e comunicação da BHTrans, explica que a iniciativa surgiu devido a demanda da população. “São cerca de 1 milhão e 700 mil usuários em dias úteis, o que gera uma boa repercussão.” A procura pelo serviço é maior entre as pessoas de baixa renda. Até hoje foram encontradas 10 pessoas. “Essa é a única publicação do nosso jornal que é um serviço de interesse público. E sempre que encontramos alguém esta informação é divulgada no próprio jornal.”, complementa Aguiar. “A impunidade arrasta o Brasil. Da corrupção ao crime do garoto arrastado, o país exige reformas.” Esses eram os dizeres da ação de mídia exterior da agência GP4, veiculada em busdoors e outdoors. A campanha foi gerada após o trágico assassinato do menino João Hélio Fernandes, de 6 anos, no Rio de Janeiro. Por sua forte mensagem, a campanha causou impacto nos mineiros. “Com poucas palavras a campanha expressava a indignação dos brasileiros diante de um acontecimento tão chocante. Palavras que estavam entaladas na garganta da população.”, comenta a fonoaudióloga e moradora de Belo Horizonte Juliana Perim. Iara Marques, da Emater, acredita ser de extrema necessidade que o publicitário saiba identificar a responsabilidade social da profissão, mantendo o compromisso ético e assimilando criticamente a compreensão das práticas referentes ao mercado. “Os problemas enfrentados pela

sociedade já não são fatores estranhos nas pesquisas e propagandas publicitárias.”, completa Marques. Campanha João Hélio A campanha E aí? Nós não vamos fazer nada?, iniciada por Nizan Guanães, nas rádios do país, após o assassinato de João Hélio, surgiu em meio a um movimento pró-ativo de mobilização popular. Dois spots foram lançados com os conteúdos da campanha: o primeiro se dirigia à sociedade brasileira em geral, perguntando se todos iam se calar diante do acontecido; o segundo instigava a reação das pessoas dentro de cada profissão. A Catch Mídia Extensiva, em parceria com a Print Brasil Impressão Digital e a criação por parte da Agência GP4, colocou nas ruas de Belo Horizonte, 30 busdoors que representam o sentimento de indignação frente a inércia das autoridades. Segundo o publicitário Guilherme Ribeiro, da GP4, o papel da mídia vai além da divulgação e se torna algo de usufruto ético e social. “Com responsabilidade tornamos acessível à população um material que proporciona o bem-estar e a harmonia. A publicidade tem hoje mais valor educacional, e deixa de ser apenas um instrumento de incentivo ao consumo. Atualmente, o principal objetivo é colher responsabilidade e consciência, através dessa nova publicidade”. Na última Mostra Fumec, Guilherme Ribeiro disse em palestra que os estudantes de Comunicação Social, assim como toda a população, podem tirar proveito do poder proporcionado pela internet de fazer com que as suas palavras motivem as outras pessoas. “Na internet, seja através de blogs, orkut, youtube ou sites wiki, tudo chega à casa de milhões de pessoas. Basta utilizar desse beneficio para fazer as denúncias de desrespeito aos nossos direitos como cidadãos ou publicitários”, reforça.


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Jornalismo em pauta COM O DESCOMPASSO ENTRE FORMADOS NA ÁREA E POSTOS DE TRABALHO PARA O PROFISSIONAL DE IMPRENSA, AS ASSESSORIAS SÃO AS MAIORES EMPREGADORAS Em abril deste ano, a revista Caros Amigos publicou uma reportagem intitulada "Paisagem mental dos estudantes brasileiros de jornalismo". Sem esconder seu desconforto, o jornalista Marcos Zibordi nos apresenta um recorte sobre como pensam alguns dos futuros jornalistas do Brasil. Zibordi, propositalmente, dá maior notoriedade aos relatos dos estudantes menos politizados, não com intuito de reforçar a falta de consciência política dos acadêmicos, mas pelo simples fato de que a incidência destes estudantes nos corredores das faculdades é realmente maior. Será que os estudantes de comunicação desconhecem ou apenas ignoram a função social do jornalismo? Enquanto isso as assessorias absorvem a maioria dos profissionais, o webjornalismo passa por fase incidente e o jornal impresso consolida sua estagnação. CARLOS EDUARDO MARCHETTI 5º PERÍODO

Marcos Zibordi é mestre em letras e doutorando em literatura

Experimento Nesta página e na próxima, o mercado para jornalistas no Brasil e em Portugal é tema de reportagens que consistem, ao mesmo tempo, num experimento conjunto entre os laboratórios de Jornalismo Impresso e Digital. A idéia é testar comparativamente diferentes paradigmas no trabalho da imprensa. Na página 12, a reportagem é fruto do modelo do “gatekeeper”, uma teoria do jornalismo que dá ao repórter a prerrogativa da escolher fontes e tratamento do assunto de maneira mais objetiva. Na página 13, o mesmo tema é conduzido pelo jornalismo colaborativo, em que a pesquisa é a soma das contribuições individuais, mais subjetivas.

rinta e nove é o número de cursos de jornalismo espalhados por Minas Gerais. 334 é o total no Brasil. Os dados apresentados pelo Ministério da Educação e pela Federação Nacional de Jornalistas mostram que Minas Gerais, antecedido por São Paulo com 93 cursos, já é o 2° estado com maior número de cursos de jornalismo. De acordo com Barbara Soalheiro, a oferta profissional condiz com o número dos cursos estabelecidos em São Paulo. "Logo que me formei, vim para São Paulo fazer o Curso Abril. Aqui tem trabalho de sobra, apesar de não ter emprego de sobra", afirmou. Formada em jornalismo pela PUC-Minas, em 2002, Bárbara trabalhou como autônoma durante um ano até ser contratada pela revista Superinteressante. Para a jornalista, estágios são fundamentais, mas os projetos experimentais também podem ser gratificantes. "Dediquei-me 100% ao documentário 'XX' e o resultado foi um trabalho delicioso de fazer e que nos rendeu um bocado de prêmios em festivais de vídeo pelo país", afirmou. Bárbara ainda estagiou na Assessoria de Comunicação do Hemominas, na revista Palavra, no jornal Marco (PUC) e na Globo Minas. Graduado em julho de 2006 na UNI-BH, Luiz Augusto Reis Almeida, jornalista especializado em Comunicação Empresarial, acredita que a experiência de trabalho é ponto fundamental para entender a atividade profissional. "Sem estagiar na área de assessoria de imprensa é impossível falar sobre a atividade. A assessoria pública ou privada foram as maiores decepções que tive na profissão. Imaginava parcerias entre as mídias e as assessorias, mas o que percebi foi que nessa atividade há um distanciamento entre as mesmas", criticou. "O crescimento do webjornalismo é notável, mas as assessorias de comunicação continuam sendo as 'minas' para os jornalistas. A demanda é latente e o salário é melhor, principalmente para os recém-formados", afirma. De acordo com Marcos Avellar Gomes, jornalista for-

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mado na PUC-Minas em 2002, o curso da Católica é direcionado para o mercado de trabalho. "Para o jornalista de hoje é preciso dinâmica e saber lidar com as diversas linguagens das mídias. Não é mais possível um jornalista ficar enquadrado apenas em impresso ou tevê", explicou. Jornalista da sucursal do Estado de Minas de Sete Lagoas, Marcos relembra que ficou nove meses desempregado após a formatura. Formação política Em sintonia com a matéria da revista Caros Amigos, o jornalista Gésio Passos afirma que os estudantes de jornalismo não são diferentes dos estudantes de outros cursos. "A maioria esmagadora é absorvida pela cultura de massa, pela ideologia capitalista. Poucos têm compreensão de seu papel no mundo, de suas responsabilidades no exercício profissional", disparou. "Se algum destes já leu uma Caros Amigos ou Carta Capital é um milagre. Na maioria dos casos, os estudantes não tem nenhum interesse de saber mais, de entender o mundo", exemplificou. Formado no final de 2006 pela UFMG, Gésio procurou conciliar a formação acadêmica com a formação política. Para ele, sua experiência com projetos acadêmicos e estágio numa tevê da capital contribuíram para sua formação profissional, mas a formação política não está presente nessas áreas. “Minha formação política só veio pela militância no Centro Acadêmico, no DCE, na Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação e na vivência com os movimentos sociais", relata. Sindicalizado desde julho, Gésio atualmente trabalha como assessor de imprensa de uma associação sindical e é militante do Intervozes. "Infelizmente a maioria dos assessores não entende nada de movimentos sociais. Quem participa de movimentos tem dificuldade de se inserir no mercado como qualquer outro recém-formado. Além de que as empresas não cumprem a legislação trabalhista e nem a específica para jornalista", denuncia. Para Lucas Morais, estudante de jornalismo e presidente do diretório acadêmico de comunicação da Fumec, os estudantes não vêem o D.A co-

EM PORTUGAL estatuto proíbe acumulação das atividades de jornalista e assessoria

mo um espaço representativo. “A maioria acha que a universidade é um prolongamento do ensino médio. O estudante não se reconhece como cidadão em formação acadêmica e política,”critica. Para ele os estudantes reproduzem uma relação clientelista com a faculdade e enxergam o D.A. como uma prestador de atividades de entretenimento. “Apenas uma minoria procura realizar atividades culturais, acadêmicas e discussões políticas”, afirma. Segundo Luciana Aparecida, gerente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, 3240 é o número dos jornalistas sindicalizados. Desse total, a maioria está concentrado em assessorias. Papel da universidade Para Gésio Passos, o curso de comunicação da UFMG permite a busca por disciplinas optativas embora exista afinidade teórica com o culturalismo."Isso permitiu minha introdução nas ciências sociais, principalmente na ciência política. Mas o pensamento único também está presente na universidade. Existe uma verdadeira ditadura do pensamento" critica. Para Marcos Zibordi, professor de jornalismo da Universidade Bandeirantes de São Paulo (Uniban), os alunos de jornalismo são geralmente de classe média sem vivência e experiências de vida. “Alguns leram meia dúzia de livrinhos e só”, critica. Para ele, isso é resultado de um funil sócio-econômico que atinge a área da educação.“Em São Paulo só existem dois cursos públicos de jornalismo: na Unesp em Bauru e na ECA-USP”. Jornalista e autor da matéria da Caros Amigos citada no início da matéria, Zibordi afirma que as universidades e o professores têm responsabilidades na deficiência dos estudantes. “Os professores não assumem o compromisso dentro da sala. Na maioria das vezes são profissionais frustrados que odeiam reportagens. Só falam em jornalismo literário. Acontece que como repórteres, esses alunos precisarão cumprir compromissos”, critica. “O jornalismo é uma guerrilha, um ato de amor. Como a mediocridade é grande, os alunos que conseguem galgar alguma coisa acham que já é o suficiente. Os professores também”, critica.

Em Portugal, a primeira licenciatura em Comunicação Social foi criada na Universidade Nova de Lisboa em 1979. No Brasil, o primeiro curso de jornalismo data de 1947, na Fundação Cásper Líbero, em um convênio com a PUC-SP. Fatores históricos certamente garantem diferenças na prática jornalística dos dois países, ademais, questões sociais também podem ser destacadas, afinal, a população brasileira já ultrapassa a portuguesa em quase vinte vezes. Portugal vive um momento de debate sobre um novo estatuto dos jornalistas. Aprovado pelo Parlamento o projeto foi vetado pelo presidente. Para o mestrando em Comunicação Social, Victor Ferreira, em Portugal existe a intenção de dissociar cada vez as profissões jornalista e assessor. Segundo ele, o próprio estatuto já proíbe a acumulação dessas duas atividades. “Julgo que por cá ainda predomina a cultura do jornalismo pré-web. Apesar da atenção midiática que tem recaído no meio on-line, sobretudo pela contaminação da ‘blogosfera’ pelos ‘opinion makers’, as extensões on-line dos meios de comunicação portugueses são, regra geral, o parente pobre da família”, explica. Estudante da Universidade do Minho, Victor faz parte de um programa acadêmico que propicia a formação contínua entre o curso de graduação e o curso de mestrado. “Identifico o plano de estudos do meu curso como uma tentativa de ensino humanista, uma proposta de análise crítica no campo da sociologia, da lingüística, da comunicação e das ciências cognitivas. Fortemente marcada pela experiência universitária francesa, o curso orienta o estudante no sentido de conhecer a contribuição das escolas americanas, sobretudo Chicago”, explicou. Segundo ele, o curso ainda inclui orientação para projetos atividades científicas em geral. Participante de movimentos cívicos, Victor afirma não ser sindicalizado devido a discordâncias com a atuação do sindicato. Questionado sobre o momento político na América Latina assume sua dependência dos meios de comunicação hegemônicos. “A minha visão da política latinoamericana é marcada pelo filtro da mídia ocidental. Pelo que nos dizem, a América Latina estará a ser invadida por ditadores stalinistas e corruptos ex-comunistas. O que é obviamente mentira ou, pelo menos, parte da verdade. Dentro desta conjuntura, o jornalismo oferece aos políticos as

possibilidades mais extremas: vender a alma ao diabo ou resistir e correr o risco de pagar com a própria alma por isso”, ironizou. Já o jornalista português Silvio Mendes, afirma que o neoliberalismo provocou uma reorganização da sociedade e o campo de trabalho do jornalista português não é diferente. “Com todas as mudanças tecnológicas, a proliferação de empresas de comunicação e as dependências econômicas promovem uma crescente concentração dos meios sob o domínio de uma mesma empresa. Talvez por isso vivemos momentos conturbados, de nova busca de identidade, de ajustamento e tentativa de sobrevivência”, justificou. Formado em Comunicação Social em novembro de 2006, Silvio trabalha numa associação privada sem fins lucrativos e desempenha atividades afins à assessoria de comunicação. “Foram seis meses de espera entre envio de currículos, entrevistas e planos para o futuro. Não é imediato, mas é relativamente aceitável”, afirmou. Ao responder sobre sua relação com o sindicato dos jornalistas de Portugal ironizou: “Não sou sindicalizado. Até porque não sei muito bem qual a minha profissão”. Para a estudante portuguesa, Maria João, o intercâmbio para o Brasil tem objetivos acadêmico e turístico. Aluna de comunicação social da Escola Superior Tecnologia de Abrantes (ESTA), Maria João veio a Belo Horizonte com um grupo de outros 4 estudantes por meio da parceria entre a Fumec e a ESTA. “Não somos melhores nem piores, mas aqui os alunos dão pouca atenção pra teoria dentro de sala de aula. Além disso, falta conhecer aos alunos outras culturas” criticou. Estudante do 5º ano de Comunicação Social, Maria João acredita que as diferenças nas grades curriculares atrapalharam o aprendizado no intercambio. “Na Fumec assistimos às aulas que escolhemos. Porém, como estamos no último ano do curso, priorizamos as oficinas e atividades culturais já que na ESTA a teoria é aplicada nos primeiros 3 anos do curso, explicou. Para ela o campo de trabalho do jornalista em Portugal é segmentado e é possível afirmar que a comunicação empresarial tem mais a oferecer do que o jornalismo impresso. “Em Portugal a opção é tirar a licenciatura e partir para um mestrado. As indicações existem como aqui. Para isso é preciso que nos tornemos profissionais indispensáveis” finalizou.


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Incerteza pós-formatura JORNALISTAS RECÉM-FORMADOS QUESTIONAM AS CHANCES QUE O MERCADO DE TRABALHO OFERECE, E AFIRMAM QUE A FORMAÇÃO HUMANISTA E CRÍTICA É FUNDAMENTAL

Felipe Torres

A três meses de me tornar um jornalista

8º período

Outro dia, eu, Felipe Torres, e um amigo chamado Rafael Barbosa, ambos estudantes do último período de Jornalismo da Universidade Fumec, de Belo Horizonte, nos reunimos em um restaurante para recepcionar colegas portugueses que haviam chegado a pouco mais de um dia no Brasil para um intercâmbio. Após relembrarmos nossa viagem a Europa, onde tivemos a oportunidade de freqüentar um mês o curso de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, Portugal, resolvi lhe fazer uma pergunta que há algum tempo já me incomodava. - E aí, Rafa, já sabe o que vai fazer da vida depois de formado? Ele me olhou com expressões que não escondiam um leve desespero e respondeu de forma agitada: - Nossa, nem fala nisso. Ainda não tenho nada certo!

O que me intriga é verificar que minhas apreensões são partilhadas com a maioria dos jornalistas recém-formados. Será que o tal mercado é tão difícil assim? Fui atrás das respostas. Mandei uma série de e-mails para editores de grandes jornais mineiros para entender como funcionava o processo de contratação de novos jornalistas para as redações. Infelizmente apenas um me retornou. Eduardo Murta é secretário de redação do jornal mineiro Hoje em Dia. A pergunta-chave encabeçou meu questionário: "Mas o mercado realmente está saturado?". A resposta de Murta foi precisa: - Falando de perspectiva de mercado, ela de fato é estreita. No caso dos impressos, não tem ocorrido expansão, ao contrário. A três meses de me tornar finalmente, um jornalista, um profissional, confesso que ao ler o trecho não me senti mais tão animado.

Mas Murta prosseguiu traçando considerações pertinentes, principalmente ao afirmar que com dedicação e imposição de metas aumentam consideravelmente a possibilidade de um novo jornalista conseguir um bom emprego. - Isso pressupõe, porém, preparação. Resumidamente, diria que ela está baseada numa espécie de tripé: a cultura geral acumulada ao longo da vida; incluindo a humanística, a qualificação técnica na universidade; com um bom fundamento crítico, que vai nos permitir bem articular um cipoal de informações, e, por fim, o conhecimento da língua portuguesa. Se acreditam no próprio taco, não desistam diante do primeiro não. E corram o risco: se apresentem para um teste, por exemplo, oferecendo algo como dois, três dias de trabalho para análise. O mínimo que pode acontecer é dar certo. Ou, pelo menos, colocar um grilo na cabeça do editor. Já pensaram nisso?

Sim, Murta, eu já pensei... A universidade devia ser o pilar central Voltando a apuração, outro ponto me incomodou. Muitos dos jornalistas que conseguiram um emprego logo de cara repetiram a expressão: “Nossa, tive muita sorte...”. É claro que o fator sorte não pode ser deixado de lado, mas nesses casos a palavra pode ser substituída por competência. (...) Bianca Pyl, logo depois de formada pela Universidade Santa Cecília, em São Paulo, produziu a revista Mídia Social - campeã no Intercom Nacional, em Santos, e atualmente é repórter da Revista Viração. - Eu me formei a partir das minhas pesquisas, meus estágios, etc. A faculdade dá uma base teórica legal e uma parte prática boa, mas quem forma mesmo é a rua! Bom, Bianca, aí tenho que discordar de você. A rua é uma ótima escola para se lapidar um profissional competente,

não há como negar. Mas a universidade deveria ser o pilar central dessa formação prática e teórica, força motriz de jornalistas críticos, que não se cansam de experimentar, tentar e inovar para resgatar a função pública dessa profissão que, acima de tudo, envolve muito responsabilidade. Jornalismo de espetáculo, amontoados de informações, processos industriais e comerciais não nos faltam. E a postura crítica, onde está? Se ao mercado está se sobressaindo nesta função, é porque os cursos não cumprem seu papel pedagógico, como se esperaria. Mês passado, assistindo a um programa de TV, me deparei com Emanuel Carneiro, diretor-geral da Rádio Itatiaia, a maior emissora de Minas Gerais, argumentando algo como "infelizmente-não-temos-espaçopara-contratar-os-excelentesprofissionais-que-as-universidades-despejam-no-mercadotodo-semestre". Será, Emanuel? (...)

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O mercado de comunicação em BH é de uma pobreza de dar dó As apreensões dos jornalistas recém-formados são bem parecidas com as de todos estudantes que se formam na universidade hoje: de encarar o mercado. Tais preocupações dizem respeito à necessidade de atualização constante, cobrança por aprender outras línguas, ter capacidade para lidar com diversas tecnologias

e mostram preocupações semelhantes. Eles partilham da apreensão de não encontrar um emprego na área na qual se dedicou, o jornalismo. (...) Formado em jornalismo em Belo Horizonte, Ivan Bonfim fala que a cidade não possui veículos de comunicação que correspondam a sua posição no país. (...) É realmente algo observável e que se faz

presente em todos os lugares, principalmente em se tratando da redução de contratações, o enxugamento das redações de jornais impressos, entre outros fatores, que levam os estudantes de jornalismo se amedrontarem ao som da palavra: mercado. Mas e as possíveis soluções? Questionados sobre as possíveis soluções para este

cenário, os entrevistados respondem com a crença de que há espaço para os qualificados, mas que a relação financeira poderia ser melhor, para isso cada um propõe uma alternativa. Daniela Venâncio, jornalista recém-formada pela Universidade Fumec, se incomoda com a falta de investimento no profissional de comunicação.

Ana Paula Condessa

- O que me 8º parece é que as empresas, instituições e até os órgãos públicos ainda não perceberam a importância da comunicação e o elo que tem que ser construído entre as diversas áreas (jornalismo, publicidade e relações públicas). (...)

período

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Felipe Torres e

Jornalistas analisam a defasagem do ensino

Ana Paula Condessa

Felipe Torres e Ana Paula Condessa entrevistaram três jornalistas recém- formados para entender o que se descortina após a faculdade. A formação ética e crítica é apontada como forma de vencer as barreiras do mercado. Confira a seguir os principais trechos:

nalismo de uma maneira geral. Acredito que acrescentar disciplinas também seria produtivo, como por exemplo, noções de direito, ciência e tecnologia, administração, saúde pública, etc., já que se o jornalista escreve sobre todos esses assuntos ele tem que pelo menos ter noção desses campos.

O Ponto: Como você vê a formação do jornalista, o que pensa ser relevante? Daniela Venâncio: A formação do jornalista está um pouco defasada em algumas universidades de uma maneira geral. Acredito que a faculdade deveria aumentar a carga horária de matérias teóricas como filosofia, antropologia, sociologia, já que são essas disciplinas é que vão fazer diferença no perfil do jornalista. A prática é importante, mas é rotineira é um quase mero fazer. Uma visão mais humanística é o que eu acredito faltar nos cursos de jor-

OP: Você se incomoda com a realidade do mercado jornalístico? Qual seria sua sugestão para mudar esse cenário? DV: O que me incomoda é a falta de investimento no profissional de comunicação. O que me parece é que as empresas, instituições e até os orgãos públicos ainda não perceberam a importância da comunicação.(...) Outro ponto que me incomoda são as condições trabalhos que temos, ou seja, carga horária acima do recomendado pelo sindicato e baixos salários, falta de plano de carreira, etc.

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OP: Qual o cenário enfrentado hoje pelo jornalista recém formado? Ligia Dagostini: O que se escuta por aí é o de sempre: o mercado está difícil, etc. Mas atualmente esse discurso é repetido para muitas áreas, se é que serve de consolo. Formeime agora, ainda não entrei na famosa “depressão” pós-formatura. Estou no estágio de ficar feliz por acordar tarde mas, ao mesmo tempo, insegura quanto ao meu futuro. Essa sensação, às vezes, é meio angustiante. Por outro lado, é muito bom quando alguém te pergunta o que você é e você responde que é jornalista. Impõe o maior respeito, mesmo esclarecendo que não tenho emprego. (...) Formar nova também gera crise: será que foi a minha escolha acertada? Não achei que fosse ter dúvidas, já que na faculdade não tinha muito tempo para pensar nisso. Tenho um amigo, também jornalista, que está trabalhando na área. Quando fa-

lei de minhas dúvidas, ele falou que sente o mesmo. OP: Qual o cenário enfrentado hoje pelo jornalista recém formado? Ivan Bomfim: Terrível. Medonho. O mercado de comunicação em BH é de uma pobreza de dar dó. Temos poucos veículos midiáticos, e grande parte deles contrata apenas estagiários. Pela sua dimensão e importância, uma cidade como belo Horizonte não poderia apresentar um quadro como o que está aí. Praticamente não há revistas importantes. E o principal: é o mercado do Q.I., o famoso "quem indica". Mérito é uma palavra de menor importância na nossa realidade. OP: Qual é sua sugestão para mudar esse cenário? IB: Primeiro, é algo estrutural. Além do mercado, a culpa está, também, nas faculdades e nos alunos. As faculdades se preocupam com laboratórios,

o que é muito importante, mas se esquecem de que o jornalista é um profissional que trabalha com o bem público, com a sociedade. Entre outras áreas das Ciências Humanas, os jornalistas são conhecidos como "tábuas rasas", pois o conhecimento que mostram, em parte dos casos, é técnico, não social. Como falar da realidade urbana sem ter conhecimento (conhecimento de verdade, não "noções") sobre Sociologia, História, Política, Economia e Ética? É um desastre que a maioria dos cursos ofereça apenas uma disciplina de Ética Jornalística, e, muitas vezes, apenas no fim dos cursos, quando as diretrizes do profissional já estão formadas.Tais fatos atingem também os alunos, pois a maioria não se preocupa muito com a realidade social. Querem apenas aprender a fazer release, editarem vídeos, etc. O jornalista deixa de ser um "comunicador social" para ser um comerciante da informação.

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Belo Horizonte – Setembro/Outubro/2007

Samuel Aguiar - 5º Período

Arte ampliada

PERTENCER ACOMO UMA IGREJA APÓS FUNCIONAR IGREJA EVANGÉLICA E FICAR FECHADO DURANTE ANOS, O CINE PALLADIUM SERÁ TRANFORMADO EM UM GRANDE COMPLEXO CULTURAL, ATÉ 2008

TAÍSSA RENDA E WANDERSON ADDA 2º PERÍODO Quem vivenciou os “anos dourados” do Cine Palladium já pode se preparar para voltar a freqüentar o espaço que, agora, não terá apenas bons filmes. O antigo cinema da Rua Rio de Janeiro, no centro de Belo Horizonte, está se transformando em espaço multi cultural. A área comprada pelo Sesc-MG foi ampliada e interligada a outro imóvel, na Avenida Augusto de Lima, onde será construído um complexo cultural, o Sesc Palladium Domus Artium. As obras iniciadas em 2004, apesar de não terem apoio da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, vêm sendo feitas em conjunto com outras realizações do município, incluídas no projeto de recuperação do Hipercentro da capital. Inaugurado em 29 de julho de 1963, o Cine Palladium pretendia dotar a cidade de uma casa de espetáculos à altura do progresso, sendo planejado e construído de maneira a oferecer o conforto ideal aos freqüentadores. Após 30 anos de existência, o local ainda mantinha as maiores médias de público, mesmo parcialmente destruído por um incêndio, na década de 70. Como surgimento das locadoras, não só o Cine Palladium, mas todas as salas de cinema da época, passaram por uma reformulação, e acabaram sendo transferidos para os shoppings centers. Decretava-se, então, a falência de um espaço que foi um marco cultural na história de Belo Horizonte. Para realizar esse projeto, o Sesc-MG comprou o local em 1999, quando pertencia a uma

igreja evangélica que, no entanto, não chegou a funcionar. O Sesc adquiriu também a sobreloja do prédio e dois terrenos ao fundo, que, anteriormente, eram explorados como estacionamento. A área do antigo Palladium era de 1.200 m2 e os dois lotes ao fundo somavam outros 1.100 m2. A compra dos lotes permitiu cumprir exigências legais para a construção de um teatro oficial incluindo uma caixa cênica de 17 m. A soma total dos terrenos garantiu um espaço maior que o previsto, forçando o Sesc-MG a ampliar o projeto inicial. Segundo o engenheiro e gerente de obras e manutenção do Sesc-MG, Francisco de Assis de Miranda Chaves, o que o novo espaço busca não é ser o maior, mas o melhor, dentro das condições físicas apresentadas. “Estamos aproveitando um espaço já existente, mas buscamos dentro da obra fazer um espaço diferente. O Palladium será o primeiro teatro de Minas que oferecerá ao público um estacionamento próprio, com 135 vagas”, destaca Chaves. O engenheiro também enfatizou: “O Sesc Palladium Domus Artium será também o segundo maior teatro do Estado, com cerca de 1350 lugares, perdendo apenas para o Grande Teatro do Palácio das Artes”. O novo teatro terá também seis grandes camarins, palco com acesso de elevador monta-carga e fosso de orquestra. O projeto final prevê, ainda, teatro de bolso e cinema de artes com 110 lugares, cada, além de biblioteca/ café, galeria de artes, centro de artesanato e salas para cursos e eventos de negócios. A construção terá quatro andares subterrâneos, onde estarão os estacionamentos, um pilotis,

uma sobreloja e mais três andares corridos, salas e cobertura. Domus Artium, em latim, significa “casa das artes”, e é justamente em uma grande casa de artes que o Sesc-MG pretende transformar o antigo cinema. De acordo com o diretor de teatro e chefe do setor de orientação técnica de recreação do Sesc-MG, Fernando Penido, o espaço será um presente para os belo-horizontinos que ganharão um lugar moderno e acessível. “Os cursos e oficinas serão abertos ao público. Nossa intenção é colocar no Palladium, além de cursos usuais, uma galeria de artes e um centro de convenções. A idéia é fazer um espaço para todos”, completa. Penido informou que os cursos serão terceirizados e terão custos abaixo da média apresentada na capital. Fernando Penido afirmou também que o espaço será um tipo de ‘popularizador da arte’.“Não queremos pensar na arte para a elite, mas usá-la em qualquer segmento e para qualquer padrão social. As empresas e produções dependem do público, então quanto maior for o alcance dos projetos, melhor. O Sesc tem a preocupação de formar um público freqüentador de teatro”, finaliza Penido. A previsão de conclusão das obras do Sesc Palladium Domus Artium é para o final de 2008 e será aberto ao público no início de 2009. Apesar de ainda não haver nenhuma programação agendada para inauguração do espaço, Penido informou que, além de produções locais, regionais e nacionais, o Palladium também pretende trazer ao público mineiro atrações de prestígio mundial.

Novo Palladium ajudará a recuperar Hipercentro de BH Na intenção de recuperar o Hipercentro de Belo Horizonte e transformá-lo num local adequado ao trânsito de pedestres, a Prefeitura Municipal, juntamente com o governo do Estado, vem realizando obras em locais que já foram bastante freqüentados pelos moradores da capital. Já foram concluídas as obras na Praça Sete e Rua dos Caetés e Carijós e ainda em andamento estão um trecho da Rua Rio de Janeiro e o Bulevar Arrudas. Além disso, a Prefeitura também está transferindo os camelôs para os shoppings populares. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Políticas Urbanas de Belo Horizonte, o programa Centro Vivo tem como proposta todos os tipos de ação que revitalizem o Centro de Belo Horizonte e aumentem a procura pelo local. Assim, o Sesc Palladium Domus Artium está inserido neste contexto, já que oferece à população novos tipos de entretenimento. Em visita às obras e entrevista a um jornal diário da capital no dia 13 de abril deste ano, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, elogiou a reforma do espaço. “Minha impressão é a melhor possível. É uma obra encantadora que está à altura do que a população espera do empresariado. Será um ponto de destaque no processo de revitalização do Hipercentro”, finalizou Pimentel.

Wanderson Adda - 2º Período

CINEASTA MINEIRO ACREDITA QUE É PRECISO INVESTIR MAIS EM CULTURA O produtor e diretor de curtas Carlos Magno Rodrigues acredita que o problema social e cultural não será resolvido com a construção de um novo “palácio”. Ele critica a criação de espaços culturais sem um vínculo com a formação do público. Em seu currículo, Carlos Magno possui obras como ‘Sebastião, o homem que bebia querosene’, curta vencedor do 9° Festival Internacional de Curtas, realizado em julho, na capital mineira. Assim como ele próprio, suas obras são polêmicas mas, sobretudo, instigantes. O PONTO: Os belo-horizontinos, de uma forma geral, e, principalmente, os que conheceram e viveram os tempos do Cine Palladium, sabem da importância do local para a sociedade. O que você acha da reforma do cinema, agora como espaço “multi-uso”? Carlos Magno: O Palladium era um espaço onde havia filmes comercias, não chegava a ser um Savassi Cine Clube, mas tinha uma fo-

lha de filmes que fugia à regra da época. Após a reestruturação do cinema, numa tentativa de seguir os europeus, foram criadas várias salas de cinemas, como o Belas Artes e o Imaginarium. Assim, o público ficou seleto, as salas menores e o ingresso mais caro, dificultando o acesso das classes mais baixas. Hoje, ocorre no Brasil uma seleção de público e mídia. Vivemos em um país de miseráveis onde os privilégios são a base e o elemento diferenciador. O que nós precisamos é, primeiro, não de um Palladium, porque de “palladiuns” nós estamos cheios. Enquanto não mudarmos a mentalidade, cair na real e ver que é necessário socializar capital, propriedade e, principalmente, socializar o intelecto, vão continuar aparecendo espaços ociosos para meia dúzia de pessoas que podem comprar um capuccino de seis dólares. OP: E como cineasta, você acha que o cinema mineiro ganhará mais força após a reforma

do Palladium? A procura por filmes nacionais tende a aumentar? CM: Não se pode pensar em cinema mineiro, o cinema é do mundo, então não podemos pensar que esta transformação será para o cinema mineiro. Sem a formação do público brasileiro nada mudará, então como solução emergen- Para Magno, o povo brasileiro precisa ter formação intelectual cial, a escola pública deveria criar uma disciplina relacionada à cinema, tv e Carlos Magno - É sempre bom ter espaços de novas mídias, para que o aluno possa aprender socialização do conhecimento, mas antes de a utilizar os meios, do contrário continuarão a criar estes espaços seria bom se criar artifícios, meios para a construção de conheciassistir o que a Rede Globo apóia. mento. O problema brasileiro está na má forO PONTO: Você acha que existe relação mação e não na falta de espaço. O problema entre a reforma do Cine Palladium e o “redi- está nas pessoas, na falta de socialização de mensionamento” (aumento do prestígio) do conhecimento. Criamos uma identidade com base no privilégio. cinema para os brasileiros?


14 pagina portugueses

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Editora:Poliane Bôsco 6º período - Diagramador da página: Rafael Barbosa 8º período

o ponto

F U M E C 15

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Belo Horizonte – Setembro/Outubro/2007

Portugueses redescobrem o MARCELA BOECHAT 6º PERÍODO Vindos da pequena Abrantes, região central de Portugal, Rafaela, Tiago, Vera e Maria João, com muita sutileza e discrição vieram aterrissar na grande Belo Horizonte. Numa mistura de idiomas e estranhamen-

to cultural chegam os portugueses estudantes de jornalismo. Para alguns, curiosa. Para outros, aventureira. A escolha do destino realizada pelos portugueses representa um laboratório científico de experimentações culturais entre dois países historicamente ligados. O intercâmbio de estudos feito entre a

BRASIL

Universidade FUMEC e a Escola de Superior de Tecnologia de Abrantes ( ESTA) surpreende e aguça a interação das duas instituições. E porque não um espaço destinado a publicação de artigo e críticas de nossos visitantes portugueses? Esse grupo que nos apresenta diferenças de expressão e que ao viajar pelo Bra-

Carolina Miyuki 5º H

Terra de Vera Cruz

MARIA JOÃO CATADOR Experiência e aprendizado - Portugueses passam um mês na universidade Fumec

sil, desenha sua visão de nosso país, deixa sua impressão real da viagem e da rotina dos estudantes brasileiros. Nesta página especial novos códigos de expressão da Língua portuguesa são apresentados pelo olhar lusitano da crítica feita por Tiago Lopes e artigos de Rafaela Santos e Maria João Catador.

O sono começou a faltar muitos dias antes de embarcar rumo à terra de “Vera cruz”. Brasil sempre foi o país que sonhara visitar. Não posso negar que as expectativas eram muitas. Imaginava as praias que sempre me apaixonaram quando abria as revistas, aquelas que via quando as novelas da globo entravam na nossa “telinha”. Começando pelo Nordeste, Salvador não iluminou o meu olhar curioso. Em vez do paraíso, a zona do “farol da barra” mostrou miséria, pessoas aglomeradas realizando a função de mirones, observando os turistas deslumbrados. Apesar da minha mente estar preparada para ver “meninos de rua” é sempre um choque constatar que somos impotentes a tanta degradação. Porto Seguro. Segundo Destino. Pedi por tudo para puder sorrir sem disfarçar a minha impunidade. Lindo, maravilhoso. Fiquei sem palavras

quando vi tamanha beleza, tamanho paraíso. Tenho a certeza que avistei praias que jamais terão mão humana. Belo Horizonte era a minha meta. A universidade FUMEC disponibilizou algumas matérias que eram do meu agrado, principalmente para quem quer seguir Jornalismo. Confesso que a atração por uma cidade sem praia desde logo é uma barreira. Tentei encarar isto como mais uma experiência. Não é fácil estar longe de quem se ama. As saudades são muitas. Felizmente as pessoas que nos ajudam desde o dia que entramos com o sorriso nesta escola continuam fieis. O nosso coração fica um pouco mais aconchegado. Muitas coisas neste intercâmbio têm que ser repensadas, mas como em tudo na vida ninguém é perfeito. Não vou ser a mesma pessoa quando voltar ao meu lar. Dou muito mais valor a tudo que deixei para trás. Amo Portugal.

TIAGO LOPES

Talvez te veja hoje... O ser humano é, antes de mais, um animal social, já dizia Aristóteles. No processo de socialização, o ser humano conta com dois estágios: 1.) a sedimentação social de um grupo especifico, com uma série de características intrínsecas a que chamaremos de Cultura. 2.) viajar, sair do grupo em que estão inseridos, e conhecer novas Culturas. Pois bem, viajar é tudo o que qualquer português gosta de fazer! E se a vigem for a uma cidade simpática, como Belo Horizonte, então fica tudo bem mais fácil. É certo que é uma cidade grande, frenética, que vive de cheiros e de sons intensos... Mas é igualmente certo, que é uma cidade que nos recebe com muito carinho... Este movimento frenético, mas ao mesmo tempo doce e carinhoso, também acontece na Literatura Portuguesa. Um dos autores que

mais se tem destacado em Portugal, nos últimos anos, nesta mistura entre o alucinante e o sereno é António Lobo Antunes. Falar de António Lobo Antunes é falar de excelência literária em português. Dono de uma invulgar mestria para domar as palavras, como quem doma cavalos selvagens, o autor consegue criar textualidades intensas. O leitor quase que mergulha nas palavras, sem respirar entre uma página e a outra! António Lobo Antunes consegue esta magia, em todos os seus livros. “Ontem não te vi em Babilónia”, lançado em Portugal no término do ano 2006, é o último livro deste filho da lusa gente. Usando a noite como pano de fundo, o autor cria uma estória cheia de pequenas estórias de vidas dissemelhantes. Numa linguagem que muda de registo, com a facilidade com que mu-

damos de penteado, Lobo Antunes cria uma surrealidade que se torna real, durante o processo da leitura. O leitor como que termina de escrever, o que o autor deixou por completar. O pensamento do leitor torna-se opensamento do autor e vice-versa, numa troca de papéis fascinante. Falando em trocas, em todo o romance nunca se chega a perceber qual o verdadeiro narrador, uma vez que as personagens trocam entre si essa responsabilidade diegética. “Ontem não te vi em Babilónia” é um laboratório científico de literatura experimental, surpreendentemente inteligente e sagaz. Nele se experimentam novos códigos de expressão da Língua Portuguesa, misturando-se as palavras, como quem mistura açaí com banana. O uso dos sintagmas no-

minais complexos, neste romance, atinge um grau de perfeição perto do divino. Curiosa a opção do autor em utilizar somente pontos finais no final de cada capítulo. É o leitor que decide como, quando e porquê fazer uma pausa, respirar fundo e mergulhar, uma vez mais, neste romance do autor português. A pontuação, num texto, limita a criatividade e cria barreiras ao autor; barreiras essas que Lobo Antunes eliminou com muita elegância. O desfile de qualidades de “Ontem não te vi em Babilónia” podia continuar, mas caberá a si, leitor, decidir quais as qualidades ocultas, do romance de Lobo Antunes. Atreva-se a ler este labirinto de criatividade, intelectualmente estimulante. Uma experiência a não perder... Fica o conselho. Boas leituras!

RAFAELA SANTOS

Do pequeno para o grande mundo De uma cidade do tamanho de uma semente chegamos a uma cidade do tamanho de um maracujá. A incerteza do que se encontra à chegada numa terra onde nunca se esteve é um dos principais sentimentos que nos invade. Belo Horizonte (BH) é diferente das concepções europeias, não estivéssemos nós na rota de Pedro Álvares Cabral. Tal como ele, assim chegamos à terra que não conhecemos, onde nunca estivemos. À primeira vista Belo Horizonte é muito bonita à noite, sobrevoada. São luzes mais luzes que se cruzam como estrelas no universo. Cansados aterramos numa cidade que vai ser nossa durante um mês. Para trás deixamos um país que muito amamos e uma cidade que escolhemos para estudar. Abrantes é a terra que nos vê crescer dia a dia, como pessoas e também, como aprendizes de vários ofícios que um dia irão ser nossos. Lembramo-nos dela como uma cidade Ribatejana repleta de muitos tesouros por descobrir. O seu património é tão vasto que é

impossível enumerar os lugares mágicos a visitar. São 19 as freguesias que compõem o município de Abrantes. São estes pequenos diamantes que ditam a beleza inegável da cidade Ribatejana. A Escola de Tecnologia de Abrantes (ESTA) é um dos rubis da cidade, não só porque traz saber à cidade, como porque, a enche de interactividade. As noites passadas no Bar Portugal ensinam os estudantes a entender que a vida é como uma doce bebida, composta por vários ingredientes que ditam quem somos e o que seremos amanhã. É em busca do ser que no futuro podemos ser, que vamos colhendo as várias sensações, sabores e cheiros que BH nos oferece. O Farroupilha é um ponto de partida para uma viagem por uma terra que vai passar a ser nossa. Pela mão da professora Zahira conhecemos uma gastronomia que só de olhar nos enche a alma. São carnes mais carnes de todos os gostos e sabores que invadem a nossa mesa. Experimentamos tantas quantas o nosso corpo consegue aguentar.

A noite passa devagar, típico de quem chega pela primeira vez, a qualquer lugar. O dia amanhece no belo horizonte, é o momento de conhecermos a FUMEC. Uma escola enorme para quem está habituado à ESTA. A doce Luciana e a sempre animada Marcela são as nossas bússolas numa terra tão vasta que só de pensar nos perdemos. A Praça da Liberdade é o primeiro mistério a conhecer, um lugar onde os palacetes antigos se cruzam com um belo edifício concebido por Niemeyer. A Savassi é o ponto central em BH. Tudo fica na Savassi: os cafés, as lojas, os bares e os restaurantes. O Mercado Central majestoso impõe-se a todos os que chegam. Vendem-se animais vivos, doces, licores, um pouco de tudo. Ao visitante obriga-o a ver para lá de cada banca. É uma estória que é narrada em cada lugar. Ao visitar o Museu Abílio Barreto reencontramos os portugueses, um pouco de cada um de nós. O Casarão Secular remete-nos

para o interior norte de Portugal. Onde existem ainda casas senhoriais que hoje, se transformaram em hotéis. BH é um misto de sensações. O Parque Municipal e o Parque das Mangabeiras são exemplo disso. Parecem dois paraísos que a Terra esconde. No Parque Municipal muitas são as árvores que se impõem, fazendo-nos sentir formigas.No Parque das Mangabeiras a vegetação é enorme são árvores mais árvores. Os micos e os quatis invadem o espaço. Afinal, aquela é a casa deles. São os anfitriões do parque que de tão vasto nos lembra a importância de conservar o que é nosso. Afinal, são estes elementos que podem fazer a distinção entre as culturas. São estes os minérios que nos aproximam de uma realidade que não é a nossa. De BH levamos os tesouros, como relíquias sagradas, guardadas a sete chaves no mais profundo do nosso ser. Levamos a cidade e os amigos que fizemos. A todos, o nosso muito obrigada.


16 cultura Victor

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Editor e diagramador da página: Victor de Olivera - 6º período

o ponto Belo Horizonte – Setembro/Outubro/2007

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C U L T U R A 16 Bruno Chiar 5ºGi

Entrada da Exposição “Oscar Niemeyer - Brasileiro, arquiteto e cidadão”, no Museu de Arte da Pampulha. Uma das diversas homenagens ao centenário do arquiteto brasileiro.

100 anos do mestre O ARQUITETO COMPLETA 100 ANOS EM DEZEMBRO E RECEBE HOMENAGENS POR SUA OBRA SARAH CURTY MARIAMMA FONSECA 5º PERÍODO “Era um protesto que eu levava como arquiteto, de cobrir a igreja da Pampulha de curvas, das curvas mais variadas, essa intenção de contestar a arquitetura retilínea que então predominava". Foi assim que Oscar Niemeyer Soares Filho descreveu seu projeto para a Igreja de São Francisco de Assis, em 1940. Carioca, formado em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, não queria, como a maioria dos seus colegas, se adaptar a arquitetura comercial que era comum na época. Em 15 de dezembro Niemeyer completa 100 anos de idade, sendo 71 deles dedicados à arquitetura, com inúmeras obras, exposições e até críticas sobre seus projetos. Fases do arquiteto Nas exposições comemorativas de seu centenário, que ficaram até setembro no Museu de Arte da Pampulha e no Palácio das Artes, o percurso de sua história arquitetônica é dividido em cinco fases. Pampulha: O Berço da Arquitetura Moderna Brasileira (1940 a 1943), é a estréia de sua história de sucesso. Com o projeto do complexo da Pampulha, em 40, a pedido do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek. Este foi o primeiro projeto que Niemeyer fez sozinho, aos 33 anos. Utilizando o concreto armado para dar aos seus prédios for-

mas sinuosas, Oscar fez do complexo da Pampulha um marco na arquitetura brasileira e mundial. Apesar de ter recebido muitas críticas (a Igreja Católica, por exemplo, negou-se a abençoar a Igreja de São Francisco de Assis, por ser um projeto completamente fora dos padrões), seu estilo leve, arredondado e com muito movimento, quebrou com o que, até então, era apenas herança de um passado colonial. A segunda fase é Forma Livre e Organicidade (1943 – 1953), marcada pela combinação da liberdade formal com técnicas de engenharia e cálculo de materiais. Durante esta fase, participa do projeto em Nova Iorque para a nova sede da Organização das Nações Unidas (ONU) e projeta sua casa em Canoas, no Rio de Janeiro. Em 1945, Niemeyer ingressa no partido comunista brasileiro, o que influenciou toda a sua obra. Para a estudante de arquitetura da Universidade Fumec, Marina Homem, o comunismo influencia de forma a integrar pessoas de baixa renda com ricos, interagindo, ao mesmo tempo, com a cidade. “Exemplos disso são os edifícios JK, aqui em Belo Horizonte, e o Copan, em São Paulo, com apartamentos de um, dois ou três quartos para abrigar todas as classes sociais”, diz. Já o arquiteto Paulo Roberto Meireles afirma que “na utopia romântica do comunismo, onde deveríamos construir um mundo mais justo e fraterno, o urbanismo e a arquitetura são um dos pilares da sociedade ur-

Controvérsias sobre Oscar Niemeyer é um revolucionário. “Esta prática de se tirar partido dos elementos estruturais não apenas como ‘suportes’ dos edifícios, mas também como elementos estéticos, provocou uma revolução na engenharia”, diz o arquiteto Paulo Roberto Meireles. Porém, para muitos, a arquitetura de Niemeyer não vale por suas qualidades funcionais, mas por suas propriedades estéticas. “Uma cidade cujas ruas são calçadas com pedras irregulares pode ser extremamente bela para os visitantes, mas um verdadeiro suplício para os moradores”,diz o jornalista Maurício Puls, reiterando a idéia de que os prédios de Oscar são bons para admirar em vez de serem bons para morar. O arqui-

teto suíço Max Bill, designer gráfico da Bauhaus, escola alemã e uma das maiores expressões do modernismo, criticou as obras de Niemeyer quando veio ao Brasil em 1954. “É o fim da arquitetura moderna. É um desperdício anti-social, sem responsabilidade.” Apesar de muitas pessoas acreditarem que Oscar Niemeyer é um mito, outros tantos crêem que isto é puro oportunismo do arquiteto.A arquiteta Daniela Viana defendeu em seu mestrado de História da Arte sua tese com o seguinte título: “Oscar Niemeyer e o Mercado imobiliário de São Paulo na década de 1950: O escritório satélite sob direção do arquiteto Carlos Lemos e os edifícios encomendados pelo Banco Nacional Imobiliário”,

bana. Os arquitetos que tem inclinação social buscam na sua prática profissional ferramentas que viabilizem a edificação dos conceitos do ‘comunismo’, afirma.

em protesto contra a política universitária e vai a Paris para a exposição de sua obra no Museu do Louvre. Lá se instala, e nesta época de exílio, durante a quarta fase Vivendo os Anos de Chumbo no Exterior e a Caminho de uma Arquitetura Social (1965-1989), realizou vários dos seus trabalhos no exterior como a Universidade de Constantine, na Argélia, o prédio da Editora Mondadori e da Fata Engeneering, na Itália e a sede do Partido Comunista Francês. Na década de 80, Niemeyer volta ao Brasil e retoma as atividades da revista Módulo, que fundou em 55 e da qual era editor, e que foi fechada pelo regime militar dez anos depois. Ele volta a desenvolver projetos no Brasil e no exterior, como o Memorial da América Latina, em São Paulo (1987-88), o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, em 1991, o auditório em Ravello, na Itália (2000) e, em 2001 a Residência em Oslo, Noruega. Esta fase tem o nome O Museu Pessoal e o Museu do Homem (1989 até dos dias de hoje), que será marcada com a contrução do Centro Administrativo de Minas Gerais, projetado por ele.

Brasília - Projeto completo Brasília - Modernidade, Magia e Eternidade (1953 – 1965) foi a terceira fase da sua obra. Com Juscelino como presidente da República, Niemeyer e Lúcio Costa, um dos pioneiros da arquitetura modernista, criam a nova capital do país. Brasília é construída e inaugurada no intervalo de três anos e meio. Lúcio foi o vencedor do concurso, organizado por Niemeyer, para o projeto urbanístico da cidade. Enquanto ele fez o plano piloto da capital, Oscar projetou os prédios. Hoje, Brasília é Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco e um marco nos trabalhos do arquiteto. Para ele, foi lá que sua arquitetura ficou, ao mesmo tempo, mais livre e mais rigorosa: "Livre, no sentido da forma plástica. Rigorosa, pela preocupação de mantê-la em perímetros regulares e definidos”, frase de Oscar na época da construção. Com o golpe militar de 1964 e a ditadura tomando conta do Brasil, Niemeyer retira-se da coordenadoria da UnB com mais 200 professores, Completando 100 anos em 15 de dezembro de 2007, Oscar Nieme-

Exposição comemorativa

yer foi homenageado, entre os meses de agosto e setembro, com a exposição itinerante “Oscar Niemeyer - Arquiteto, Brasileiro e Cidadão”, apoiada pelo Governo Estadual, Prefeitura de Belo Horizonte e pelo Instituto Tomie Ohtake, em parceria com o Instituto dos Arquitetos Brasileiros. A homenagem foi divida em duas partes, uma poética, no Museu de Arte da Pampulha, e uma documental, no Palácio das Artes. “Vindo do arroubo da sua juventude, o Conjunto da Pampulha tanto marca a identidade da capital, quanto foi fundadefendida em mental na definição de uma linguagem arquitetônica comarço de 2003 na nhecida mundialmente ”, afirma Marcus Lontra, Unicamp. Em um arcurador da exposição do MAP. tigo publicado em 2003 no site da Unicamp, Daniela afirma que Niemeyer não mantinha controle direto sobre os Reforçando a idéia projetos e, por isso, nesta época sua obra mais aceita, de que Niemeyer não é apenas teria um perfil diferenciado.Mesmo com criesteticista, o arquiteto Gustavo Penna, conticas a uma fase chamada de renegada, a pesselheiro do Instituto dos Arquitetos do Brasil quisadora reconhece: “Creio que ele cresceu (IAB), em artigo, afirma que “o Modernismo, com a crítica, o que o enobrece ainda mais(...) é notória sua importância para a produção com sua proposta sedutora, libertava os ediposterior de Niemeyer”. Até quem não sim- fícios do chão e da simetria. Abria largas japatiza com o estilo, reconhece sua dedicação nelas, integrava ambientes, incorporava a naà graça e à beleza com que persegue o novo. tureza e permitia o desenho e a poética”.


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