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Drama de familiares de desaparecidos ganham as ruas em forma de protesto
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
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Riscos da profissão repórter O glamour do jornalismo policial cedeu espaço ao medo. Os repórteres dessa área enfrentam muitos riscos em busca de uma boa matéria. Em 2007, noventa e cinco jornalistas foram assassinados no mundo todo. Na América Latina esse número chegou a onze. As agressões e ameaças são freqüentes, e a insegurança leva estes profissionais a recorrerem à ajuda da polícia. Laboratório de Produção Gráfica
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Cine volta à cena e é ampliado
A arte de reciclar o comportamento CRISTINA BARROCA
E LAURA
AGUIAR
A idéia de fazer uma reportagem sobre lixo surgiu nas aulas de jornalismo científico no semestre que passou. Ficamos responsáveis por visitar um tal “centro de reciclagem”. O dead line se aproximava, mas estávamos cada vez mais distantes do tema. Resolvemos enfim, marcar uma visita. O ônibus que nos levaria ao nosso destino passou por nós quando a caminho do ponto. O desânimo quase nos fez desistir. Tomamos a próxima linha. O lugar que nunca chegava, e nós, que estamos há pouco tempo na cidade, não fazíamos a mínima noção de nossa localização. Dentro do ônibus, movidas pelo desconhecido e pelo então inevitável preconceito, temíamos a estrutura do lugar. Imaginavamos cenas de um barraco perdido no meio do nada. Descemos do
A fundação Municipal de Cultura irá reformar o Cine Santa Tereza para que volte a funcionar como na década de 40. A recuperação do local, um dos mais antigos cinemas da capital, tem previsão de início para este mês e promete dar novos ares para o comércio da região. A reabertura do Centro Cultural é uma reinvindicação dos moradores do bairro. O cinema foi desativado na década de 1980. Biblioteca, oficinas de artes e exposições sobre o Clube da Esquina são promessas de atração para o local.O cinema também contará com uma sala de exibição de 140 lugares. Além do Santa Tereza, Cinema Brasil e Cine Paladium também voltarão à ativa.
ônibus e tivemos que caminhar alguns metros. Nos deparamos com um muro que ocupava todo o quarteirão. Era enorme e lindo. Todo enfeitado com obras de arte; flores, borboletas e formigas feitas de alumínio. Muitas cores e o predomínio do verde. Ficamos impressionadas, mas também envergonhadas pelo conceito antecipado. Descobrimos que nosso descaso não foi menor que o descaso daqueles que não pensam numa forma de ajudar o seu próprio ambiente. Fomos muito bem recebidas pela equipe do Centro Mineiro de Referência em Resíduos e a vontade era de ficar horas e horas a mais naquele pequeno quarteirão que pensa grande pelo planeta; e além de tudo, tem uma consciência antecipada muito além do que parece óbvio.
[ páginas 06 e 07] Foto: Cristina Barroca
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Trânsito é problema na capital
Observação:Brasil,Guatemala,El Savador, Honduras, Paraguai e Peru registraram a morte de 1 jornalista.
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Na briga diária por audiência O jornalismo popular tem ocupado cada dia mais espaço na mídia brasileira. Com a TV isso não é diferente. Quase todas as emissoras abertas têm um programa desse estilo. Sua principal característica é a identificação com o público, mostrando matérias do cotidiano dos seus telespectadores. Marcado pelo sensacionalismo, essa linha do jornalismo se esforça para acabar com o preconceito. Os programas têm apostado na melhoria editorial para se firmarem como um jornalismo de qualidade.
O aumento de veículos no trânsito de Belo Horizonte já está obrigando os órgãos responsáveis a buscar soluções para evitar que a capital mineira enfrente os mesmos transtornos de grandes centros urbanos como São Paulo. Para reduzir o caos nas ruas centrais, a BHTrans, empresa que regula o trânsito da capital mineira, criou e implantou o CIT (Controle Inteligente de Tráfego). O sistema conta com auxilio de câmeras de TV, paineis de mensagens variáveis e sistema centralizados de semáforos. Por meio desses equipamentos, equipe técnica monitora o tráfego, controla o tempo dos semáforos e informar ao motorista sobre as condições do trânsito nos principais pontos da cidade.
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Obstáculo à locomoção Mesmo com uma legislação específica, os portadores de necessidades especiais ainda encontram dificuldades para se locomover nas vias públicas da capital. Segundo entrevistados, muitas barreiras ainda prevalecem e nem mesmo os prédios públicos atendem os requisitos da lei. Outra reclamação constante é que menos da metade do transporte público é adaptado às necessidades dos cadeirantes. Em Belo Horizonte, o número de pessoas portadoras de necessidades especiais é estimado em 280 mil. Em Minas, esse número chega a 2,6 milhões.
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Patrimônio cultural Na contramão do clima frenético predominante nas baladas, em BH, três locais mantêm o ambiente boêmio como principal chamariz para seu público. Cantina do Lucas, Bar do Bolão e La Greppia são muito mais que uma simples sugestão. São os representantes mais famosos dos bares que preservam a tradição boêmia em Belo Horizonte. A fama da Cantina do Lucas se espalhou e o local foi tombado como patrimônio cultural e, atualmente, faz parte do roteiro turístico da capital mineira. Histórias e personagens como o garçon Olympio, que durante 40 anos se dedicou ao tradicional bar da capital, também dão charme ao local.
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Editor e diagramador da página: Carlos Eduardo Marchetti - 6º G
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Educação humanista LUCAS MENDONÇA 6 ºPERÍODO Para falarmos de educação, primeiramente temos de falar de como ela está situada, ou seja, há de se fazer uma dura avaliação que observe o desenvolvimento da educação no Brasil e no mundo, com o objetivo de saber o resultado obtido com as atuais políticas pela educação. O resultado desta avaliação: a privação do direito à sabedoria humana. Esta privação é imposta pela realidade econômica capitalista, que utiliza a educação como meio de obter lucro. Isto inclui a privatização de várias universidades públicas, que tem como objetivo tornar a produção científica voltada apenas para o mercado dominado pelas multinacionais. O interesse do mercado é o lucro na venda de suas mercadorias para manter uma taxa de lucro crescente, e isto é incompatível com as urgências sociais que temos hoje, mundialmente. Apenas cerca de 15% dos jovens brasileiros tem acesso à universidade. Destes estudantes, poucos deles possuem a possibilidade de obter uma formação de qualidade, que faça no mínimo o estudante se compreender numa realidade historicamente construída pelos homens e de que tanto o seu ser é social, quanto a sociedade é passível de transformações pelo seu sujeito. As universidades públicas brasileiras estão em miséria, contando com aproximadamente 1,5% do PIB nacional. E para suprir a deficiência do
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Estado várias empresas investiram na criação de diversas universidades privadas que contam também com subsídios do governo quando participam do ProUni. O ensino nestas universidades não se propõe a formar sujeitos críticos que pensem e atuem na realidade transformando-a, mas sim que a realidade imposta pelo capital transforme o estudante em mais um assalariado. No Brasil, temos valiosíssimas referências no que se refere à educação, como Paulo Freire, que propunha uma pedagogia crítica capaz de formar a consciência dos estudantes através da educação popular. Ou Maurício Tragtenberg, que produziu muito material a respeito da ‘Pedagogia Libertária’ que nos propõe: * Gestão da educação pelos diretamente envolvidos no processo educacional e a ‘devolução do processo de aprendizagem às comunidades onde o indivíduo se desenvolve’; * Autonomia do indivíduo, ‘o indivíduo não é um meio, é o fim em si mesmo; * Solidariedade, crítica permanente de todas as formas educativas que estimulam ou fundamentem-se na competição; * Crítica a todas as normas pedagógicas autoritárias. O estudante tem hoje a possibilidade agarrar-se na ciência e na tecnologia, tão desenvolvida que temos hoje, para produzir conhecimento e práticas na universidade que emancipe a sociedade no todo, tendo sempre consciência de que é esta a condição da emancipação individual de cada um de nós.
Eu acredito na comunicação FERNANDO KELYSSON 3º PERÍODO É sentida, pelos mais sensíveis, uma tensão no ar. O clima está carregado, não sei se percebem. No trânsito, o mais inócuo deslize, e a saraivada de buzinas são certeiras. E o clima marcial que se instala em ocasiões onde se reúnem pessoas que ambicionam o mesmo objeto. A fila, por exemplo, é uma situação extremamente perigosa. No elevador, no ponto de ônibus, no restaurante e tantos outros lugares onde somos obrigados a estarmos bem pertinhos uns dos outros, nós, seres humanos, muitas vezes começamos a nos estranhar como se não fossemos, todos, irmãos. Sabemos que sempre houve, mas parece que na pós-modernidade há mais, um clima de enfrentamento, de disputa onde o ego quer sobrepujar o alter. E então as fichas simbólicas são colocadas à mesa para o grande jogo da vida onde sempre um quer aniquilar o outro. Aliás “o outro” nunca esteve tão renegado como hoje. E isto é perigoso para todos, mas principalmente para os comunicadores. Sem o “o outro” não há comunicação. A direção do olhar de um jornalista deve estar apontada sem-
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pre para o outro e muito pouco para si mesmo, pois é no outro que este se reconhece. Acredito que passou o tempo das armas. Não queremos mais o que destrói. A emancipação econômica, por si só, jamais irá dignificar o homem. E o mais sério; a ciência poderá piorar as coisas se gerar efeito contrário, produzindo indivíduos mais obstinados para o mal. A ciência foi, e está sendo colocada à serviço do egoísmo e do capitalismo voraz. O capital seja ele humano, cultural ou econômico, bem como a ciência devem se curvar à um profundo exercício da ação comunicativa. Habermas nos apontou um caminho importante: o espaço livre para o processo dialógico onde todos podem ter razão, onde podemos renegar nossas certezas e admitir que o outro pode ter razão. Quem sabe isto seja democracia. Não é em vão que os Mass Media conseguiram impor cultura, induzir modus de vida. É uma pena que ao invés desses meios fazerem nascer um grande grupo de interesse universal, criou-se uma grande massa fragmentada girando em torno de si. Mas mesmo assim, eu acredito na comunicação, e quem sabe dela, a comunhão.
Brasil, nacionalismo, carnaval e futebol FELIPE CHIMICATTI 5 º PERÍODO
É a luta de classes, estúpido! CARLOS EDUARDO MARCHETTI 6º PERÍODO Numa clara intenção de fortalecer o discurso favorável ao agronegócio, os “colonistas” *, numa cajadada só, promovem o linchamento de toda e qualquer luta dos movimentos socias no campo e ainda defendem o projeto de desenvolvimento/dominação do agronegócio. Além da sempre atual luta pela reforma agrária, os movimentos sociais peleiam para impedir a nova jogada do capital: institucionalizar o cultivo de sementes trangênicas. O “colonista” Denis Rosenfield, reforça essa disputa em “Campo Vermelho”, texto publicado no Estadão no dia 18 de fevereiro. “O ano de 2008 se revela pródigo, pelo menos em invasões e em iniciativas do MST que procuram pôr em questão a moderna produção agrícola.” Essa mesma moderna produção agrícola brasileira mantém uma postura exploratória em relação aos trabalhadores do campo, apropriando-se da produção de maneira tão rústica que nos lembra as primeiras manifestações do capitalismo em nosso país. Seguindo sua cartilha, o “colonista” faz o seguinte questionamento: “Será que os produtores agrícolas deveriam dar ao Estado e aos ditos movimentos sociais o resultado de seu próprio empreendedorismo, de seu próprio trabalho? Exigese isso dos setores industriais, financeiros, de serviços e comerciais? Primeiro, o empreendedorismo referido não passa de mera exploração do capital, ou será que o “colonista” não conhece a situação do trabalhadores das grande propriedades canavieiras, por exemplo?
Segundo, os setores industriais, financeiros, serviços e comerciais são combatidos com a mesma envergadura. Afinal, por que discutimos a manutenção do superávit, os altos lucros dos bancos e o viés partidário que pôs fim à CPMF? Eis que surge uma pérola no texto: “O Estadão estampou, há alguns dias, em manchete de primeira página, o desmatamento realizado por assentados. As provas são abundantes. O MST, quando desmata, esconde e, no entanto, não deixa de alardear a sua defesa do meio ambiente”. Quer dizer então que devemos condenar o MST pelo desmatamento que realiza! E os madeireiros? E os latifundiários? E as empresas de celulose? E os exploradores da mão de-obra barata e escrava do campo? Nenhuma menção, afinal, para o PIG**, a culpa é inexoravelmente do governo e seus (ex)aliados históricos. Como já é de praxe, não poderiam faltar ataques a outros líderes da America Latina como Fidel e Chávez. Não obstante, aquilo que Rosenfield chama depreciativamente de “luz chavista”, pode ser entendido como representação da luta pela terra e contra a exploração histórica prevalecente. Se as camadas populares dialogam por meio de entidades representativas e se articulam sobre os mesmos interesses, culpe a História! Afinal, o capital não faz o mesmo? Enquanto filósofo, Rosenfield não passa de um colonista com carteirinha de sóciotorcedor do PIG. *Colonista: que expõem as idéias do patrão como se fossem suas. Submetida ao pensamento hegemônico ** PIG: Partido da Imprensa Golpista
Agenda inútil e a farsa eleitoral ENZO MENEZES 7ºPERÍODO Agenda, no jornalismo, é basicamente isso: os veículos elegem certos assuntos e durante um período próximo o tema escolhido bombardeia os meios de comunicação, em detrimento de outras notícias com maior interesse público. Várias razões explicam a agenda (do medo do concorrente noticiar e você, não; à apuração preguiçosa, por exemplo), que tenta justificar sua ocorrência forjando um ineditismo (já reparou que quando há o desabamento de um prédio, no dia seguinte vários prédios também 'desabam'? Ou quando há um ataque de pitbulls, muitos cachorros, no dia seguinte, resolvem 'fazer' algumas vítimas também?). Bem, vejamos o caso da eleição presidencial dos EUA, por exemplo. Não exatamente a eleição, mas a disputa interna dos partidos para eleger, entre alguns nomes de ex-senadores, ex-governadores e ex-prefeitos, os indicados de democratas e repu-
blicanos para concorrer à presidência do país em 4 de novembro de 2008. E a grande mídia brasileira se farta com explicações sobre o funcionamento das eleições, cobre o dia-a-dia dos pré-candidatos, explica conseqüências para a política externa e interna, discute propostas....uma cobertura invejável. E daí? A quem interessa essa cobertura massiva da pré-escolha? Dizem que a eleição nos EUA afeta todo o planeta, por isso o interesse público em torno da questão. Aaaah tá, isso explica muito o suposto interesse de um lavrador no interior do Ceará pela indicação de McCain ou a desistência de Huckabee. A situação cria um paradoxo: não sei citar seis vereadores da minha cidade, sei o nome de todos os pré-candidatos. Não sei o que seis deputados mineiros pensam sobre temas relevantes para a política nacional, mas posso relacionar os interesses de democratas e republicanos sobre petróleo, Iraque, previdência.... e nem são as eleições ainda.
Ora ou outra algum brasileiro constitui no seio do seu discurso um inflamado imperativo ufanista, orientado em sua maioria pela (excelente) seleção de futebol que o país possui ou pela extensa festividade que o carnaval propõe. Atribuem a jogadores e desfiles de escola de samba as manetes do nosso nacionalismo e, especialmente nesses períodos, a política é esquecida ou, eufemisticamente, pormenorizada. Ser dessa forma brasileiro é bem menos do que ser cidadão, basta uma curta mobilização sazonal e pronto, está lá um nacionalista de mão cheia. Drummond em Alguma Poesia assim escreve: “Eu também já fui brasileiro/moreno como vocês./ Ponteei viola, guiei forde/e aprendi na mesa dos bares/que o nacionalismo é uma virtude/. Mas há uma hora em que os bares se fecham/e todas as virtudes se negam”. E ao encerrar as portas desse bar também se encerra nossa pátria e nossas convicções nacionais; é como se no fado tropical de Buarque tornássemos a ser colônia velada dos outros, muito por constituir em outras pátrias o modelo ideal e alcançável de civilização. Virtude Deveras ser brasileiro e se reconhecer como tal é uma virtude, mas, o reconhecimento se perde na maior parte do ano, perde-se nas políticas tortas que presidem as instâncias do poder, perde-se na desigualdade abissal que o país contempla, perde-se na contemplação exagerada ao estrangeiro. Lima Barreto, outro autor brasileiro, dos idos de oitocentos, também produziu feroz crítica ao nosso nacionalismo. Em seu romance O Triste Fim de Pilocarpo Quaresma, um homem de aproximadamente quarenta anos, funcionário público, devoto ao Brasil e a sua cultura, vê seu ufanismo ser negado em próprio solo nacional - muito por seu exacerbado amor a pátria -, tendo nas suas convicções nacionais a razão para sua desgraça. Um homem que, mesmo acreditando piamente em sua nação, não é contemplado como brasileiro, e sim como louco. E, ao ver o carnaval, o futebol e a bandalheira coexistirem de forma harmônica, num estilo bem romano de pão e circo, resta-nos refletir nos bares que encerram suas portas tarde demais, nas seleções dos glamorosos jogadores de futebol com seus astronômicos salários e no carnaval do povo que festeja o orgulho de ser brasileiro mais cinco dias no ano.
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Os Desaparecidos FAMÍLIAS DE DESAPARECIDOS DEMONSTRAM SEU SOFRIMENTO E PEDEM MAIS INVESTIMENTOS DO ESTADO NA DIVULGAÇÃO E NAS INVESTIGAÇÕES MARCELA BOECHAT THIAGO PRATES WANDERSON ADDA 7º E 2º PERÍODOS Em um ano, foram 264 pessoas desaparecidas em Minas Gerais. Destes, 147 são da capital. Os dados gerais da Policia Civil mostram que ao longo da existência do departamento, 1236 casos foram solucionados, sendo 75 crianças , 389 adolescentes , 697 adultos e 65 idosos. A delegada Cristina Coelli Cicarelli, responsável pela Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, em Belo Horizonte, afirma que o número de desaparecidos em Minas Gerais compõe um quadro “normal”. “Enquanto 40 pessoas desaparecem a cada dois meses em Belo Horizonte, em São Paulo, 30 pessoas desaparecem por dia. Permanecemos num índice compatível”. A delegada lembra ainda que quando o caso passa de desaparecimento para seqüestro ou contenha qualquer outro caráter criminal, o Departamento de Operações Especiais da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais, Deoesp/MG, torna-se o setor responsável. “Não podemos dizer que foi seqüestro ou rapto. Foi um desaparecimento”, ressalta o pedreiro Rivaldo de Freitas Ferreira, 34, pai de Douglas Freitas desaparecido na capital em março de 2006. O importante para a delegada é não deixar esse índice aumentar conforme ocorreu em 2006, quando uma queda no número médio de pessoas desaparecidas foi registrada. Segundo ela, as fugas são muitas vezes motivadas por maus tratos, exploração infantil e outros tipos de abusos dentro de casa. “90% dos casos são constituídos por atos voluntários”, enfatiza a Delegada. Benoni Beltrão, pai de Pedro Augusto Beltrão, afirma que o cansaço, a luta, e a situação angustiante de ter um filho desaparecido é algo que não deseja a ninguém. “Há 30 anos moro neste local. Meu filho sempre fazia aquele trajeto. A papelaria fica a 150m da minha casa”. Benoni não acredita que seu filho fugiu de casa. Espera por informações que, na maioria das vezes, são desencontradas. Vários foram os telefonemas e informações dadas a respeito de Pedro, mas nenhuma pista concreta. A suspeita de seqüestro foi descartada já que nenhum pedido de resgate foi feito. O caso de Pedro Augusto e de Douglas de
Freitas, jogador mirim do atlético, impressiona a sociedade. Ambas as famílias conseguiram grande apoio e dizem que o empenho da Delegada Cristina Coelli e dos funcionários da Delegacia Especializada na Localização de Pessoas Desaparecidas é mais que satisfatório. A infra-estrutura e os recursos, entretanto, deixam a desejar. “Lá não é uma delegacia. É um departamento. Tem poucos funcionários, não é ‘aquela` equipe. Vamos supor que se tenha um desaparecimento. O departamento tem co-
mo colocar carro na rua e a equipe faz realmente o que pode. Na minha opinião existe muita limitação porque não tem uma equipe investigativa, uma equipe de inteligência”, reforça a mãe do menino Pedro, Cléia Maria Santos. Em resposta à crítica da mãe de Pedro Augusto, o chefe do Departamento de Investiga-
ções da Polícia Civil, delegado Antônio Faria, salienta que houve um concurso em andamento e, em breve, a polícia poderá contar com um efetivo maior para atender os familiares e dar agilidade às investigações dos casos de desaparecidos. Segundo a socióloga Cristina Leite, os desaparecimentos não podem constituir um quadro chamado “normal”. A responsabilidade pelas crianças e adolescentes não é somente dos pais. Segundo o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente, toda a sociedade é responsável. “Na nossa sociedade ninguém presta atenção em ninguém. O Pedro desapareceu no centro da cidade e ninguém o viu? As pessoas só pensam nelas mesmas. Você vai para o Centro agarrando a bolsa”, denuncia Cristina. O movimento “Onde estão nossas crianças?”, do qual a socióloga faz parte, tem como
um de seus objetivos a mudança de visão da sociedade como um todo. “Os desaparecimentos não são novidade. Com o caso do Pedro e do Douglas os problemas que eram da periferia, distantes, chegaram a outras classes. Os casos dos meninos chamam atenção das autoridades. Não há uma variação no índice estatístico dos desaparecimentos, mas a sociedade não pode se conformar”, enfatiza a Socióloga. É justamente contra essa conformidade que as famílias com entes desaparecidos estão lutando. Elas se unem e criam uma rede de ações, na tentativa de conscientizar as pessoas para o que é cada vez mais incidente nos grandes centros urbanos, os desaparecimentos. Na maioria dos casos os parentes das vítimas de desaparecimento nunca haviam tido contato ou prestado atenção especial aos casos divulgados. Só tomam conhecimento após a perda de um ente. Movimento No dia 30 de setembro do ano passado, realizou-se um ato com o objetivo de chamar atenção de toda sociedade e do poder público para o número crescente de casos de pessoas desaparecidas.Os amigos e parentes de Pedro Augusto Beltrão, desaparecido no dia 08 de agosto de 2006, juntamente com várias outras famílias, criaram o movimento “Onde estão nossas crianças: não espere desaparecer alguém que você ama para sua solidariedade aparecer”. Seu primeiro ato foi realizado na rua da Bahia esquina com rua Goiás, local onde o menino foi visto pela última vez. O movimento cobra atitude e pretende escancarar a indignação de cada um que sofre com os desaparecimentos de familiares e amigos. “Em 2006 realizamos o 1° Ato público “Onde Estão Nossas Crianças?”, com a participação de centenas de pessoas. Isso só foi possível graças ao apoio voluntário de empresas, instituições e pessoas que contribuíram com recursos, os mais diversos, para o sucesso da caminhada. Em 29 de setembro de 2007, realizamos o 2° Ato Público “Onde Estão Nossas Crianças?”. Precisamos novamente da ajuda e apoio de todos que puderem participar com patrocínio, trabalho, doação de materiais, enfim, todos os recursos necessários para a produção e execução deste evento”, declara a mãe de Pedro Augusto, Cléia Maria da Conceição Santos.
Medidas adotadas para se evitar o desaparecimento
Fique Atento • A família do desaparecido não precisa esperar 24h . Assim que a pessoa sair da rotina, a família já pode entrar em contato com a Polícia Civil. • Os principais motivos que levam as crianças a sairem de casa: conflito familiar, a falta de afetividade e limites. • Os dolescentes saem de casa devido aos conflitos e choque de geração com a família. Alguns dos motivos são a violência doméstica e abuso sexual. • Os adultos que desaparecem geralmente têm algum tipo de deficiência mental. Saem pela rua e geralmente se perdem. Fontes: Frederico Cabral - Psicólogo Tatiane Falconi - Assistente Social Projeto Conviver
• Orientar os filhos a não aceitarem doces, presentes, ou qualquer outro objeto de estranhos, podendo aceitá-los de conhecidos e parentes, somente com prévio consentimento dos responsáveis. • Manter bom relacionamento com a vizinhança. • Procurar conhecer as pessoas que convivem com seu filho. • Participar ativamente dos eventos envolvendo o seu filho, como aqueles ocorridos em escolas e aniversários. • Ensinar ao seu filho o seu nome completo, endereço e telefone e os nomes dos pais e irmãos. • Não autorizar o seu filho a brincar na rua sem a supervisão de um adulto conhecido. • Evite deixar o seu filho em casa sozinho. • Providenciar a carteira de identidade do seu filho, através do Instituto de Identificação. • Observar o comportamento de novos vizinhos em relação ao tratamento dispensado aos menores que com eles convivem,
comunicando à Polícia qualquer fato suspeito. • Observar, em via pública, o trânsito de menores desacompanhados, idosos e portadores de necessidades especiais, caso apresentem desorientação, possibilidade de extravio ou mesmo dificuldade de expressão, comunique o fato à Polícia para que prestem a devida assistência antes que ocorra o seu paradeiro. O ideal é que você possa levar a pessoa até o posto policial mais próximo. • Comunicar e registrar o desaparecimento do menor ou do adulto imediatamente após constatada a sua ausência, na Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida. Deve-se apresentar fotografia e documentação do ausente, caso existente, para início da busca. Para o menor, é necessária a apresentação da cópia da certidão de nascimento. No entanto, a ausência do documento não impede o registro e a busca.
Fonte: http://www.desaparecidos.mg.gov.br/
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Mais carros que passageiros O QUE OS ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS FAZEM PARA MELHORAR O COTIDIANO DOS MOTORISTAS Samuel Aguiar 6ºG
CLARISSE SIMÃO FREDERICO ROSSIM LORENA ASSIS 3º E 7º PERÍODOS
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asta sair de casa para perceber que a situação do trânsito em Belo Horizonte não está nada boa. O caos que se estabeleceu pelas ruas da capital não é nenhuma novidade e vem sendo debatido por diversos setores da sociedade. Essa discussão é embasada na indignação dos motoristas, na revolta dos pedestres e na busca de solução pela Prefeitura, juntamente com a BHTrans, órgão que gerencia o trânsito da Capital. A cidade de Belo Horizonte foi planejada para abrigar cerca de 200 mil habitantes. Hoje, esse número chega a aproximadamente três milhões, incluindo a região metropolitana, segundo dados divulgados pela Prefeitura. O resultado de tudo isso é o crescente aumento de veículos que circulam na cidade. O departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran) afirma que a frota da capital tem, atualmente, cerca de um milhão e cinquenta e oito mil carros. Com um crescimento anual que varia de 4% a 8% desde o início da década, o trânsito caótico parece uma situação difícil de evitar. Esses dados preocupam não apenas os órgãos responsáveis pelo trânsito, mas também a sociedade, cada vez mais prejudicada com os congestionamentos, tumultos, demora nos percursos e com o estresse decorrente do tráfego intenso. O aumento efusivo da frota de automóveis na capital mineira surpreendeu até mesmo a BHTrans, que não havia se preparado para tamanha demanda. Em busca de melhorias para essa situação, a Prefeitura de Belo Horizonte, através da BHTrans, em parceria com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), implementou o Controle Inteligente de Tráfego, (CIT), que consiste em uma nova tecnologia de controle semafórico centralizado. Para aliviar a situação no curto prazo, medidas como essa surgem como soluções emergenciais.
Congestionameto na Avenida Afonso Pena
Centro de Controle busca melhorar o trânsito O objetivo do CIT é coordenar, agilizar e organizar o tráfego para que o motorista reduza o seu tempo de viagem e economize gasolina. Os carros ficam menos tempo parados devido ao maior controle sobre o tempo dos semáforos. Com isso, a poluição atmosférica, e a sonora, também são reduzidas, pelo simples fato de haver uma emissão menor de gases poluentes e barulho. O custo da implantação do CIT em Belo Horizonte foi de aproximadamente R$ 21 milhões. Com o sistema, estimase que será reduzido em 26% o tempo em que o motorista fica parado no semáforo, contribuindo também com a redução de acidentes O sistema funciona em três etapas: A primeira é o monitoramento do tráfego, através de câmeras instaladas pela cidade que são coordenadas pelo Centro de Controle Operacional (CCO). A segunda se refere ao
controle do tempo dos semáforos nas interseções, por meio do monitoramento das câmeras e a terceira é o painel de mensagem variável que informa o motorista, em tempo real, a situação do trânsito nos principais pontos da cidade. Informa também obras nas pistas, rotas alternativas e ocorrência de acidentes. O sistema está instalado em 263 cruzamentos da área central da capital.O controle funciona em toda a área central. O sistema conta com o auxílio das câmeras de TV, dos painéis de mensagens variáveis e dos sistemas centralizados de semáforos. "Na área central, o modo de trabalhar da máquina foi alterado. Foram implantados sensores no pavimento, que medem continuamente qual é o fluxo do trânsito e enviam para os computadores do Centro de Controle Operacional, (CCO), para calcular qual seria o melhor tempo do sinal
As cameras do CIT BHTRANS (Controle Inteligente de Tráfego) fazem monitoramento 24h dos principais corredores da Capital, verificando a fluidez do transito e evitando congestionamentos
verde para aquele momento", enfatiza a supervisora do CIT, Gabriela Pereira. Como exemplo, podemos citar a seguinte situação: Se na Praça Sete o trânsito estiver congestionado,
certar manualmente cada um dos semáforos. Hoje, daqui de dentro (do CCO), nós podemos fazer isso com rapidez", afirma Gabriela Pereira.
“ Fui agredido verbalmente várias vezes, mas amigos meus já sofreram agressões mais sérias e esse é o pior problema da profissão ” Luís Mário, fiscal o tempo do sinal verde será maior. Se a pista estiver livre, nesse caso, o tempo do sinal verde será menor. Além destas vantagens direcionadas aos motoristas, o instrumento age também com eficiência na manutenção dos sinalizadores de trânsito, "Antigamente o agente deveria ir a todos os cruzamentos de Belo Horizonte para con-
Fiscais entram em cena Os fiscais de trânsito entram em ação quando a situação nas ruas se torna caótica, trabalhando para conter tumultos causados por diversos aspectos: semáforos queimados, acidentes, imprudência de alguns motoristas e falta de uma melhor sinalização. A profissao de fiscal de trânsito existe desde 1992, poAmanda Araújo 6ºG
rém foi só em janeiro de 1998, com a implementação do novo código brasilero de trânsito, que a quantidade de profissionais se intensificou em Belo Horizonte. Hoje existem aproximadamente 350 fiscais que controlam e ajudam na fluidez do tráfego. O trânsito em Belo Horizonte já não é mais calmo como há cinco anos. Os fiscais de trânsito desempenham um papel fundamental nas ruas, já que são eles que coordenam toda a movimentação e a organização das pistas. Fiscal de transito há sete anos, o paulista Luís Mário diz que é um trabalho que deveria ser melhor remunerado e reconhecido. “O trabalho do fiscal às vezes é deixado de lado, tanto pela prefeitura quanto pelos motoristas, que vêem em nós, uma forma de atraso no dia-a-dia”, afirma Luís Mário. O trabalho estressante, os baixos salários e a falta de reconhecimento são reclamações dos fiscais. “Sustentar a minha família com o salário que eu ganho não é fácil, mas muitos brasileiros também fazem maiores milagres”, afirma. Mas a principal queixa é sobre as condições de trabalho. “Estamos expostos a todo tipo de pessoa, e em carros a valentia aumenta”, enfatiza o fiscal. As agressões físicas também são freqüentes, pois a figura do fiscal não é bem vista por grande parte dos motoristas. Desta forma, a urgente melhoria e adequação do trânsito ao aumento de veículos na capital não diz respeito somente aos motoristas. Os fiscais de trânsito, assim como os controladores do CIT, trabalham de forma exaustiva, seja dentro das salas da BHTrans com sistemas caros de controle à distância do tráfego, com a ajuda dos painéis informativos, ou trabalhando nas ruas, contando apenas com os sons dos apitos.
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Locomoção Deficiente APESAR DE LEIS ESTABELECIDAS Á SEU FAVOR, OS DEFICIENTES FÍSICOS DE BELO HORIZONTE AINDA NÃO TÊM RECURSOS QUE GARANTAM SUA ACESSIBILIDADE NO MUNICÍPIO FERNANDA VITERBO VIVIAN GUERRA 7º PERÍODO Atualmente, 24,5 milhões de pessoas da população brasileira sofrem com algum tipo de deficiência seja mental, física, sensorial, entre outras. Dessas, 2,6 milhões estão em Minas Gerais. Dados como esses só confirmam a necessidade do tratamento prioritário e apropriado aos deficientes, que na maioria das vezes , não existem nos locais públicos ou são incompletos. Nos transportes públicos, temos algumas condições oferecidas, como a plataforma elevatória , o assento exclusivo e o espaço para a cadeira de rodas com o botão de parada na altura da pessoa. Mas da frota de 2.815 ônibus, apenas 761 têm o equipamento. Apesar da pouca quantidade , essas são condições que facilitaram a vida dos deficientes. Emerson Jr. , deficiente físico, diz que os recursos oferecidos ainda não são suficientes, pois existem ônibus que não comportam cadeiras de rodas e nem dispõem de espaço para guiá-las. Ele alega também que a distância entre o piso do ônibus e a calçada é muito alta, o que dificulta sua entrada e saída veículo. “Prefiro andar com uma pessoa próxima que me oriente e me ajude. As pessoas na rua muitas vezes não sabem lidar com o aparelho usado pelo deficiente”, completa Emerson Jorge Almeida, também portador de deficiência física. Emersom possui um carro adaptado para uso manual, mas afirma que quando precisa usar o táxi, os motoristas custam a parar , pois sabem que terão que ajudá-lo a entrar no carro e conseqüentemente gastarão um tempo maior. Além das barreiras arquitetônicas, os deficientes
têm de enfrentar as barreiras sociais, como os maltratos dos motoristas e cobradores do transporte público. Jorge diz também que nunca passou dificuldade com a vaga exclusiva, mas sabe que tem muitas pessoas que as utilizam sem precisar. Nos prédios públicos, segundo a lei, é obrigatório o acesso para deficientes, como rampas e elevadores. No entato, ainda existem muitos lugares que não obedecem essa lei, fazendo com que os portadores de necessidades especiais tenham que pedir ajuda. “O hospital é o único local público que eu sei que posso ir sozinho” , diz Emerson sobre o acesso exclusivo nos hospitais.
Leonardo Sattre
“O ideal seria que qualquer deficiente fosse capaz de ir e vir sozinho.” Vera Carneiro , assessora técnica da Câmara de Arquitetura do Crea. Para os deficientes visuais, atravessar a rua não é fácil. Sueli Teixeira diz que sempre utiliza sua bengala e conta com a colaboração de outros pedestres. “Mesmo com o barulho, as vezes não dá para saber quando o sinal está aberto ou fechado”. O governo não oferece muita assistência para deficientes visuais, nem nas ruas e nem nos transportes. Apesar das tentativas do governo, as pessoas portadoras de deficiência ainda acham que o poder público pode buscar melhorar mais ainda a qualidade de vida dos deficientes. Existem muitos problemas que com o tempo podem ser ajustados, tais como passeios públicos quebrados, raízes de árvores que afloram da terra, calçadas com desníveis ou escorregadios, lixeiras, postes, telefones públicos e placas de propaganda nas calçadas. Flagra : Carro estacionado em local reservado para deficientes, no centro de Belo Horizonte.
Ritmo de mudanças é lento e deficientes são prejudicados Leis? Há muitas. Tanto nos âmbitos municipal, estadual e federal. Mas quem disse que elas são seguidas? O ritmo das mudanças é lento, admite o próprio secretário Municipal de Direitos de Cidadania, Newton de Souza, e a lei municipal 9.078, publicada em janeiro de 2005, ainda é constantemente ignorada. O presidente do Conselho Municipal de Pessoas Portadoras de Deficiência e coordenador dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, José Carlos Dias, disse que a regulamentação da lei foi colocada em discussão na última reunião do Conselho, no dia 13 de agosto do ano passado. Segundo ele, a ausência da regulamentação é fruto da falta de esforço geral. Belo Horizonte possui, atualmente, cerca de 280 mil pessoas com algum tipo de deficiência. Guia de acessibilidade Enquanto a lei não é regulamentada, trabalhos educativos são implementados como o lançamento, em 2004, dos guias de acessibilidades urbana e predial, feitos em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), com o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), e que orientam construtores, engenheiros e arquitetos. José Carlos ressalta que as mudanças arquitetônicas não
beneficiam apenas os deficientes, mas também idosos, obesos, mães com crianças no colo e pessoas com lesões temporárias. O Ministério Público (MP) e o Crea têm parceria firmada para fiscalizar a adequação dos prédios de uso público. “O deficiente também é consumidor, mas tem até barzinhos sem banheiros adaptados e sem rampa de acesso. Tudo isso na cidade que é considerada a capital dos bares”, alerta a arquiteta Vera Carneiro, assessora técnica da Câmara de Arquitetura do Crea e que fez parte da Comissão de Acessibilidade da entidade. Ela afirma que falta muita coisa a ser feita, apesar de a cidade já ter registrado alguns avanços e de considerar, atualmente, o cenário alentador. A assessora técnica do Crea lembra que o ideal seria que qualquer deficiente fosse capaz de ir e vir sozinho.”Ser ajudado ou empurrado não é a condição ideal. Em outros países, o deficiente viaja de ponta a ponta sem precisar de ajuda”, comenta. O secretário Newton de Souza diz que as obras de revitalização do Centro e novos prédios a serem construídos no município adotam as normas de acessibilidade e aponta que os atuais prédios da prefeitura foram adaptados.
Principais barreiras enfrentadas Cadeirantes e pessoas com dificuldade de mobilidade
• Falta de rampas e/ou elevado res em prédios de uso público e privado • Passeios, canteiros e praças sem rebaixamento • Rampas com a inclinação inadequada • Obstáculos nos passeios, como buracos, postes, paralelepípedos
Deficientes visuais
• Elevadores sem teclado em braile • Caixas eletrônicos sem comando de voz ou teclado em braile • Falta de guias nos passeios • Semáforos sem aviso sonoro
Deficientes auditivos
• Falta de intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais) em estabelecimentos públicos, priva dos e comerciais • Programas de TV sem legendas nem intérpretes
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Não-geração
Uma consciênc CRISTINA BARROCA LAURA AGUIAR
8ºPERÍODO
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Ana Paula
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Ana Paula da Silva e Warley Nascimento cursam o 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública da rede estadual. Ambos estão com 18 anos e pretendem prestar vestibular, ele para Publicidade e Propaganda e ela sonha em se formar, primeiro, em Educação Física, e depois, em Artes Cênicas. “Porque eu amo teatro”, explica. O que há em comum entre estes dois estudantes não é apenas a faixa etária e o período escolar, eles também são cidadãos preocupados com o meio ambiente e com uma sociedade mais organizada e responsável. “Eu vou aprender a preservar e reutilizar coisas para diminuir o impacto sobre o meio ambiente . Eu não sabia que lixo tinha utilidade, que dava oportunidade de emprego”, comenta Warley. Um dia, os dois foram surpreendidos por panfletos e apresentações na escola, que traziam a novidade da existência de um local com uma iniciativa inédita e de propostas que visavam uma melhor qualidade de vida para a população. E que por mais com-
plicado e distante que pareça, o desafio se mostrava simples e até mesmo divertido. Tiveram que pasFot o: sar por uma prova de seleção em que foram Cr ist ina analisados mais de 300 concorrentes. E enfim, conseguiram entrar para o Centro Mineiro de Referência em Resíduos. “Quando a coordenadora falou, eu achei legal porque nós jogamos lixo na rua em qualquer lugar e não estamos nem aí. Agora, aprendendo, podemos repassar o conhecimento na escola e em outros lugares”, conta Ana Paula. Mas Centro Mineiro de quê? Referências em quê? O que tem isso? Trata-se então de um espaço aberto aos municípios, empresas, Warley comunidades e cidadãos no apoio a um tratamento adequado. “Oferece informações, experiências e capacitações técnicas e gerenciais para transformar resíduos em geração de renda”, assim definido pelo Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social), um dos parceiros do projeto. Este é um programa do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), que funciona como um centro de capacitação profissional, e também como irradiador de informação e conhecimento, com espaços para mostras, exposições, convenções, seminários, encontros técnicos e biblioteca especializada.
“QUANTO TEMPO O MUNDO AINDA VAI DURAR COM ESSA POLUIÇÃO?” Alunos do ensino fundamental questionam sobre o meio ambiente em mural do CMRR
O que se encontra no CMRR O interessante é que os alunos não só e simplesmente aprendem a reciclar e fazer obras de arte com o material (papel, plástico ou vidro). Camila Piastrelli comenta que nas outras oficinas os produtos são reciclados, mas que no caso do papel “os alunos produzem por meio de reciclagem e depois criam outros produtos como agendas.” Mas também entendem que aquele papel que eles estão usando é necessário e reutilizável. Ou seja, o foco não está na reciclagem, mas, sim, na geração do resíduo. “É importante focar nisso porque, se não o fizermos, haverá um consumismo absurdo com a desculpa da reciclagem”, explica Ellen Dias. A questão de redução de geração do resíduo é trabalhada eficientemente, conta a monitora. Tomando como exemplo o papel, ele só será reciclado se tiver os dois lados utilizados, pois se houver um lado em branco, ele vira blo-
co de notas. Assim também acontece com o uso da água. Os próprios alunos entendem que é preciso aproveitar o excesso de água que se retira na formação do papel. Inventário Para a pessoa ter uma postura crítica sobre os resíduos ela deve, em primeira instância, ter conhecimento sobre a situação em questão. Um lixão ou aterro sanitário: Qual a forma adequada de disposição do lixo? De quem é a competência para dispor e tratar o lixo que você gera? Como se posiciona Minas Gerais em relação aos resíduos? Pois bem. Nesta sala de inventário esses conceitos são esclarecidos. Toda sextafeira, o Centro recebe alunos de outras escolas. São visitas orientadas e eles costumam ficar 30 minutos recebendo respostas a todas as perguntas, e passam cerca de 2 horas no local. É o programa Portas Abertas.
Alunos na oficnica de papel do centro
Cozinha Experimental Muitas vezes, o que jogamos fora é o que tem maior potencial nutritivo e o lugar de maior disperdício numa casa é a cozinha. A partir daí, foi criado um espaço onde será trabalhado o reaproveitamento integral dos alimentos, com o intuito de atingir as donas de casa e faxineiras de escolas. Ellen exemplifica com uma casca de banana e ensina que “se você lavar e tiver um procedimento adequado, pode colocá-la na massa de um bolo e com certeza vai ficar muito saboroso.” Biblioteca O assunto nao-geração de resíduos é novo. Encontrar livros específicos e compor uma boa biblioteca é difícil, mas, mesmo assim, o Centro possui um acervo ainda pequeno, mas já com algumas informações técnicas sobre resíduo e consumo consciente.
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o de resíduos: cia antecipada A capital mineira sem os lixões
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Foto: Laura Aguiar
CURIOSIDADES * No refeitório, as mesas e as cadeiras são todas feitas de materiais reaproveitados, como lona, banners e madeiras doadas pela Cemig. * A Cozinha Experimental ainda não está funcionando. Em breve, os alunos das oficinas poderão aprender como reutilizar alimentos; que são os itens mais desperdiçados na casa. * Na sala de Inventário de Resíduos, qualquer pessoa que esteja visitando o Centro tem a oportunidade de saber mais sobre a situação dos redíduos na sua região (dentro de Minas Gerais).
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:C inserção desses alunos no mercado é farist ina vorável. “O objetivo maior do curso é que o aluno descubra que deseja fazer alguma coisa na área”, afirma Sandra. Além de todo associativismo e empreendorismo oferecido pelo curso, os alunos também podem usufruir de vale transporte, material didático, uniforme, almoço ou lanche. Camila Piastrelli está cursando o 6º período de Artes Visuais. No CMRR (Centro Mineiro de Referência em Resíduos), ela começou como aluna Ellen Dias da oficina de papel, e de acordo com o seu desenvolvimento, passou a ser monitora de sua própria turma e a ajudar nas visitas guiadas nas sextas-feiras. Agora, ela monitora também o curso de gestão. “Sempre tive muito interesse por reciclagem e por estar estudando licenciatura em artes visuais. É interessante ter contato com alunos”, explica. Antes, havia no local o depósito da Casa do Rádio. A empresa faliu e como pagamento deixou o espaço para o Estado. De acordo com Ellen, o Juiz da Fazenda Pública proferiu uma sentença em que obrigatoriamente, no local, deveria ser desenvolvido ações de educação para jovens. Foi aí que surgiu o CMRR, uma vez que as pessoas envolvidas perceberam que um dos grandes desafios da educação ambiental é em relação á geração de resíduos.
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Exercer a cidadania por intermédio da não-geração de resíduos é uma experiência que exige criatividade e vontade de mudar o quadro ambiental, e nada tem a ver com quantos anos se tem. As idades para fazer parte deste time são diversificadas e vão desde crianças com 12 a senhoras de 60 anos. Segundo Ellen Dias, a coordenadora de comunicação e eventos do Centro Mineiro de Referência em Resíduos, o que atrai essas pessoas ao centro é a possibilidade de geração de trabalho e até mesmo com renda.E complementa dizendo que isto não passa de “um modelo de desenvolvimento econômico tendo como alicerce a educação ambiental”. A Secretaria de Estado da Educação selecionou 24 escolas públicas estaduais para a participarem ca da seleção. Com 97 alunos desde agosto até o r r Ba dezembro do último ano, o curso completou um total de 320 horas. “A carga horária podia até ser maior”, sugere a professora do módulo de papel, associativismo e consumo em meio ambiente, Sandra Ramos. Ao se formarem, os alunos serão gestores de resíduos e com qualificação. O curso é baseado em quatro áreas: resíduos de supermercado, serviços de saúde, de postos de combustíveis e da construção civil. Isso quer dizer que o aluno, além do diploma do ensino médio, pode adquirir um certificado complementar que é o de técnico na área de resíduos. Camila Piastrelli Algumas empresas já mostraram interesse em empregar esses técnicos. E a demanda para a
O repensar dos cinco Rs Pensar não dói. Desde seus primórdios o ser humano pensa. Ou pensa que pensa. Com os desafios ambientais que o mundo atual já começou a enfrentar, o homem está tendo a oportunidade de repensar suas ações. Ou seria pensar? Enfim, repensar é o primeiro dos cinco Rs. Os outros são Reutilizar, Reciclar, Resíduos e Recusar. O que não faltam são motivos para repensar no futuro do planeta: degelo polar, aumento nas temperaturas médias, extinção de várias espécies e redução de áreas verdes. As estatísticas não mentem: cerca de 1,2 bilhão de pessoas no planeta não têm acesso à água potável (Fonte: ONU); O Brasil é o quarto maior emissor de gases de efeito estufa no planeta, sendo mais de 70% das emissões de dióxido de carbono (CO2) vindas do desmatamento da Amazônia (Fonte Greenpeace). Para satisfazer
as necessidades de água, de materiais e de energia, o ser humano consome 20% a mais do que o planeta pode oferecer (Fonte: Instituto Akatu); em 30 anos, as espécies de água doce sofreram uma redução de 30% (Fonte: WWF); anualmente, 1,5 milhão de pessoas morrem no mundo em função de doenças respiratórias, causadas principalmente, pela queima de combustíveis fósseis (Organização Mundial da Saúde -OMS); dentre outras. Portanto, a tarefa de repensar começa pela sensibilização para a mudança de comportamento e em seguida, por meio da internalização do conceito de responsabilidade individual, o ser humano passa a adotar atitudes ambientalmente favoráveis no seu cotidiano. A construção de um futuro sustentável só será possível com a soma de esforços individuais para uma mudança no modo de pensar e agir.
Consumo sustentável é aquele que o individuo sabe usar os recursos naturais para satisfazer suas necessidades, sem comprometer as aspirações das gerações futuras. Repensar os valores e princípios que guiam as ações é o primeiro passo para o consumo sustentável. No ato da compra, leve sua própria sacola, compre somente o que você sabe que vai, de fato, utilizar e se possível reutilize quantas vezes for possível. Procure por itens com diferenciais ecológicos, seja no próprio produto, seja em seu processo produtivo. Se você mora perto do trabalho, caminhe em vez de usar o carro ou ônibus. Acendeu a luz, apague-a depois. Enquanto escovar os dentes, deixe a torneira fechada. São ações pequenas e individuais, mas, se todos as fizerem, o efeito/benefício será longo e coletivo. Repense, ainda há tempo.
Flor de papel feita por alunos do CMRR
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Os perigos do jornalismo policial REPÓRTERES ENFRENTAM AMEAÇAS E AS MAIS DIVERSAS SITUAÇÕES DE RISCO, EM BUSCA DE BOAS MATÉRIAS E FUROS JORNALÍSTICOS. ASSUNTOS E HISTÓRIAS NÃO FALTAM NO DIA-A-DIA Arquivo O ponto
ANDRE MOURA LUCAS BARBOSA 7º PERÍODO O jornalismo policial não sustenta mais o rótulo de elegância que lhe foi atribuído nos livros e filmes antigos. O glamour da reportagem investigativa deu lugar ao medo e a apreensão. A violência aumentou muito nos últimos anos e a facilidade de se comprar armas faz com que qualquer simples ocorrência policial se transforme em uma verdadeira guerra. Na história do jornalismo policial, muitos repórteres foram agredidos, torturados e em alguns, casos até mortos, porém, nos últimos anos esses casos têm se tornado mais comum. Episódios como o assassinato do jornalista Tim Lopes, que foi morto por traficantes em 2002, quando fazia uma reportagem em uma favela, fazem muitos jornalistas optarem por outras áreas da profissão. A atuação como repórter policial, que até pouco tempo foi tida por muitos jornalistas como um desafio obrigatório para ingressar na profissão, por ser uma área que apura o
“faro” para furos e ajuda a desenvolver a veia de investigador, não é mais visto dessa maneira. A maioria dos jornalistas abandona a crônica policial com pouco tempo, por causa do medo da violência. A busca por notícias é intensa e os jornalistas estão sempre atrás de furos. Ao contrário do que ocorre em outras editorias, a cobertura policial tem um enfoque que, na maioria das vezes, desagrada a principal personagem da matéria. Por isso, o repórter sofre várias represálias. “A violência raramente é física, normalmente ela vem por meio de ameaças telefônicas ou e-mails. Quando feitas no calor dos fatos, nem devem ser consideradas porque quase sempre são desabafos.” Comenta o repórter policial do jornal “Diário da Tarde” Landercy Hemerson. Ele também diz que é preciso antes de tudo, avaliar as condições de segurança e jamais se expor a uma situação de risco. “O repórter da área de polícia deve ter noção dos limites de sua profissão, não deve agir como a polícia, ele deve saber que é um repórter policial, mas não é da polícia”, explica.
O repórter Carlos Viana conta que passou por várias situações de risco.” Já estive em situações muito complicadas envolvendo tiroteios, desabamentos e, pasmem, até o arremesso de uma granada que acabou ferindo duas mulheres em um beco do Bairro Cabana, na região oeste de BH”, lembra. Para ele nunca se deve estar perto demais do perigo a ponto de se arriscar sem necessidade, “Esse posicionamento não significa deixar de correr riscos, porém, vale mais o senso de auto-preservação do que buscar um prêmio que possa colocar em risco a própria vida.” afirma. O maior desafio que esses jornalistas encontram é continuar publicando suas matérias, mesmo correndo riscos. O medo e a insegurança acabam fazendo parte da rotina do repórter e, por isso, as reportagens policiais devem ser mais trabalhadas do que as normais, analisando cuidadosamente versões contrárias e documentos, comparando dados e revendo depoimentos e gravações, sem se esquecer nunca de que a verdadeira função do repórter policial, é denunciar.
As coberturas de conflitos urbanos tranformam o jornalismo em uma profissão perigosa
Arquivio pessoal
Riscos fazem repórter buscar apoio policial Raphael Ramos, repórter policial do jornal O Tempo, que atua a apenas dois anos na área,diz que nunca correu risco de morrer pois sempre busca o apoio da polícia antes de sair para fazer uma matéria. o jornal O ponto, conversou com o repórter sobre seu trabalho. O PONTO:Você já cobriu algum fato policial em que teve medo de morrer? Raphael Ramos: Não. Quase sempre ao sairmos para a pauta já sabemos que a polícia estará no local e buscamos assim nos resguardar de qualquer perigo iminente. Apesar disso, já fiz uma matéria onde o clima do local era tenso devido à situação. Nesse caso fui fazer uma matéria na Pedreira Prado Lopes onde uma família estava sendo expulsa do local por traficantes. Para fazer essa cobertura, a equipe precisou de escolta policial, além da ajuda de líderes comunitários para subir o aglo-
merado. O clima estava tenso, mas não tive medo de morrer. OP: Você já sofreu algum tipo de violência? RR: Violência física não. Porém, muitas vezes, a equipe da qual faço parte já foi hostilizada por parentes de pessoas envolvidas na matéria. Isso é comum nessa área de polícia. Acredito que isso aconteça muito porque lidamos com as pessoas no momento em que elas estão mais emocionadas. Seja porque perderam um parente querido ou, então, porque estão sendo acusadas diretamente de algum crime e estão sendo pressas. Mas isso é algo
que não temos como fugir. OP: Você gosta de cobrir fatos policiais? Você tem medo de trabalhar na área? RR: Gosto sim e não tenho medo! Trabalhar com jornalismo policial é um aprendizado contínuo. A busca pela informação e o trato com a fonte são um pouco diferentes. Isso requer sempre um cuidado especial. Acredito que isso é o que diferencia a cobertura policial de outras coberturas. Somos “obrigados” a sempre ter um cuidado especial na hora de fazer uma pergunta, na hora de conseguir uma informação para não espantarmos a fonte que, na maioria dos casos, es-
tá influenciada pela emoção. Isso acaba nos dando um jogo de cintura que é muito importante na profissão de jornalista e também pode ser utilizada em outras situações. Acredito ser essa uma experiência que poucas áreas do jornalismo podem possibilitar. OP: Você possui técnicas próprias ?
RR: Não tenho uma técnicprópria. Apesar disso, posso dizer que sempre tomo alguns cuidados. O respeito à fonte é um deles. O jornalismo policial lida com a emoção o tempo todo e acredito que respeitar isso é sempre muito importante. É lógico que a busca pela informação deve ser constante, porém, acredito que ela deva respeitar alguns limites de to-
dos aqueles que estão envolvidos em uma história, seja no momento em que estas pessoas se manifestem ou então não queiram falar. E isso é um trabalho de sensibilidade que o jornalista deve ter no momento da apuração. É importante também cuidado na hora de escrever, pois o grande poder de penetraçao da imprensa pode mudar a vida de uma pessoa.
Fonte: Associação Mundial de Jornalistas
Observação: Países como Brasil, Guatemala, El Savador, Honduras, Paraguai, Peru, Mianmar, China, Quirguistão, Turquia, Estados Unidos e Zimbábue, registraram a morte de 1 jornalista.
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Um novo round para o
JORNALISMO Popular x Sensacional
TELEJORNAIS EM MOLDES POPULARES SÃO APRIMORADOS E BUSCAM ALCANÇAR AUDIÊNCIA EM TODAS AS CAMADAS DA POPULAÇÃO FERNANDA VITERBO BRUNO NOVAIS 7º G
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alvez grande parcela da sociedade tenha mesmo se cansado de telejornais tradicionais, longos e padronizados, apesar de sérios e críveis. Não é à toa que o jornalismo popular ganha espaço em todas as emissoras do Brasil e um número ainda maior de telespectadores a cada dia. No início de ano 2006, uma pesquisa realizada pela rede Globo apontou que o brasileiro tem dificuldades de entender reportagens mais complexas. O fato levou o jornalista e apresentador William Bonner a comparar seu telespectador com o chefe da família Simpson. Infeliz na analogia, Bonner foi, ao menos, sensato ao notar que o número de telespectadores do clássico jornalismo era menor e perdia para novos jornais, exibidos em outras emissoras. Aqui agora A reestréia do "Aqui agora", no último dia 3 de março, reforça a retomada dessa fór-
mula na luta pela audiência do telespectador. Depois de 11 anos afastado da grade de programação do SBT, o programa foi repaginado na tentativa de dar uma renovada no popularesco telejornal de sucesso dos anos 90. De fato, essa nova maneira de fazer jornalismo tem atraído a atenção e a fidelidade do telespectador brasileiro. O jornalismo popular conseguiu superar a espetacularização e, hoje, pode ser produzido com seriedade, sem que seu único e principal objetivo seja a venda. Informar através de um modelo popular e ser um representante social de determinada parcela da população são as intenções dos jornais populares na televisão. Em Minas Gerais, o “Minas Urgente”, da TV Bandeirantes, o “Balanço Geral”, exibido pela Record e o “Jornal da Alterosa”, da TV Alterosa, são bons exemplos de telejornais feitos nos moldes populares. Ao contrário do que acontece no jornalismo tradicional, o popular busca conhecer a cultura do povo e se ins-
talar no mesmo patamar em que seus problemas estão. Dessa forma, é construída uma identificação com os telespectadores, que passam a confiar no que assistem devido à proximidade que o jornal estabelece com o meio em que vivem. A linguagem utilizada nos programas populares também é responsável pela compatibilidade com o seu público, já que a formalidade dá lugar ao simples e coloquial, bem mais iminente nas classes C e D, alvo dessa vertente jornalística. Enfim, o uso de gírias, expressões populares e a clareza na transmissão das informações intensificam a relação entre emissor e receptor. “A principal diferença do popular para o tradicional é a linguagem e a posição do apresentador, que pode se expressar”, afirma Ricardo Sapia, apresentador do “Minas Urgente”. O jornalismo popular foi construído com o intuito de informar classes menos favorecidas sobre os problemas econômicos, políticos e sociais existentes, além de alertar a sociedade sobre co-
mo cobrar seus direitos. De acordo com Sapia, a tendência na televisão brasileira é que os jornais populares estejam cada vez mais presentes na grade das emissoras, já que a população se interessa por esse tipo de jornal mais dinâmico, com comentários e explicações de especialistas sobre as notícias de cada dia. Diferente do habitual, que parece desprovido de preocupações sociais, os programas populares adotam o entretenimento e prestação de serviços, além de ter o próprio telespectador como um colaborador do conteúdo que será mostrado todos os dias. Em alguns casos, médicos e advogados são chamados ao estúdio para responder perguntas feitas por telefone ou e-mail, outros, patrocinam testes de DNA ou ajudam encontrar pessoas desaparecidas. De acordo com o apresentador do “Balanço Geral”, Carlos Viana, o telejornal popular é aquele que atende o povo em seus direitos e se aproxima de todas as camadas, ajudando a resolver questões do cotidiano.
Infelizmente, essas produções midiáticas ainda carregam um preconceito histórico construído pela elite do jornalismo que, muitas vezes, atribui características negativas a esse modo de transmissão e acredita não ser possível produzir um noticiário eficaz sem que o sensacionalismo tome conta da informação. Apesar de muitos programas brasileiros ainda se enquadrarem nos modelos escandalosos e melodramáticos, existe, hoje, emissoras que trabalham em torno do mercado popular, mas transmitem informações sérias e indispensáveis ao cidadão que deseja se manter informado. O sensacionalismo, na verdade, funciona como um artefato adicional para qualquer programa televisivo ou impresso. Cabe à edição e produção utilizá-lo ou não, e essa é uma das diferenças entre jornalismo popular de qualidade e um noticiário sensacional, que é regido pelo espetáculo e prioriza a venda.
A apelação aparece quando o apresentador cria um cenário espalhafatoso em cima do que vai ser noticiado, exaltando os sentidos de quem assiste à televisão. A informação, se transforma, portanto, em mercadoria, quando o apresentador tenta segurar a audiência do ibope deixando a matéria principal para o fim. “O sensacionalismo é usado pra ganhar audiência. Quando tenho algo para mostrar, mostro logo no início do programa, sem ficar enrolando para depois do intervalo”, conclui Sapia. Nos telejornais populares, as manifestações apelativas acabam contribuindo com o maldoso tabu de que todo jornal feito pelo povo e para o povo é exagerado. Para o jornalista Carlos Viana, em todo programa que mostra a realidade, haverá dias quem cenas mais chocantes serão exibidas, mas garante: “Temos um limite para tudo. Queremos, sim, pautas policiais, mas o objetivo do programa é informar, e não mostrar sangue”. Foto divulgação
Fernanda Viterbo
Apresentadores do Aqui Agora que reestreou em março
Notícias populares no Brasil
“A principal diferença do jornalismo popular para o tradicional é a linguagem e a posição do apresentador, que pode se expressar” Ricardo Sapia, jornalista apresentador do telejornal MInas Urgnte, exibido diariamente na TV Bandeirantes.
No Brasil, o modelo de jornalismo popular teve início na segunda metade da década de 60, com o conhecido programa “O Homem do Sapato Branco”, apresentado por Jacinto Figueira Junior. O apresentador costumava entrevistar seus convidados com um sapato branco, com o objetivo de passar uma imagem de “médico” do povo, alusão ao fato de esses profissionais usarem vestimentas brancas. No programa, o apresentador se dedicava a auxiliar o público em seus direitos e mostrava como caminhava o país em aspectos políticos e sociais. Por causa da censura enfrentada pela mídia na época da ditadura, o programa deixou de ser exibido, e só retornou às telas na década de 80. Desde então, vários programas destinados a ajudar o povo apareceram na TV brasileira e se mostraram eficientes e populares no fazer jornalismo. Já na década de 90, o jornalismo popular tornou-se mais freqüente na grade da televisão, e alcançava altos índices de audiência. Histórias íntimas e reais ganharam destaque nos telejornais, o que marcou uma mudança nos padrões de programação. Segundo Lígia Campos de Cerqueira de Lemos, pesquisadora do Gris (Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade da UFMG) e professora da Faculdade Promove, o
ápice dos telejornais populares está na identificaçãodo público com a maneira com que as informações são passadas.“É uma maneira de falar do desconhecido, do estranho, que faz com que o público se aproxime e identifique com os casos, que são mais comuns”, afirma. Ainda de acordo com a especialista, que tem um trabalho de mestrado sobre “Telejornalismo dramático e cotidiano”, os jornais populares podem ser considerados um marco na televisão brasileira, pois além de mostrarem a realidade de um país carente e desigual, são capazes de mobilizar uma parcela da sociedade que não era tão informada como é agora. “O sucesso do jornalismo popular está no fato de tirar a matéria do cotidiano”, acrescenta Lígia. Foto Divulgação
Laura Lima, apresentadora do Jornal da Alterosa
10 - saúde
27.03.08
12:51
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Editora e diagramadora da página:Vanessa Barbosa Fernandes -7º Período
o ponto
10 S A Ú D E
Belo Horizonte – Março/2008
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Slow atitude,slow food A INTERAÇÃO DO SLOW-FOOD COM A SOCIABILIDADE FAMILIAR NA VIDA MODERNA
LAURA CARVALHO 7º PERÍODO Pressa, ansiedade, estresse e a sensação de que nunca é possível fazer tudo. Estas são as características de um cenário o qual a maioria de nós está habituada a conviver. Pense. Um dia continua tendo 24 horas, 1 hora vale 60 minutos e, aleluia, cada minuto ainda possui 60 segundos. O que nos leva a crer então que não estamos tendo tempo? Esta história começou provavelmente na Revolução Industrial, por volta da segunda metade do século XVIII, com a invenção de máquinas que trabalhavam mais rápido que os homens. Muitas atividades foram agilizadas, entre elas, a capacidade de deslocamento. O que era comumente realizado pela força animal, tornou-se motorizado. E esse impacto provocou a organização rápida e sólida do tempo. A tecnologia disparou a oferecer velocidade a quem quisesse consumi-la, dando início a um processo de aceleração contínua a todas as atitudes, profissões e tecnologias. Nos tempos atuais basta um passeio ao shopping para constatarmos ser praticamente impossível encontrar produtos como celulares e eletrodomésticos, que sejam mais lentos que sua versão anterior.
Ao vivermos as conseqüências de um mundo em que para tudo vale a regra do “quanto mais rápido, melhor”, não podemos desprezar as suas gigantescas proporções que esbarram a todo tempo no bem estar e saúde do ser humano. A dissociação de coisas pequenas e aparentemente sem importância também leva a deteriorização social. Repare por exemplo na forma como nos relacionamos com a comida. Ao deixarmos a simples atitude de um almoço em família perder importância distanciamos de valores essenciais, tranqüilidade, atenção, cuidados e afeto. A Revista American Psychologist (Vol. 56, no. 1) dedicou, em janeiro de 2001, a sua seção de "Perspectivas Internacionais" às questões de "família”". Nela torna-se claro que a função principal da família é estruturar a base de nossa personalidade. Uma instituição tão antiga quanto o ser humano que garantiu sua própria existência por atender às necessidades mais básicas da vida humana: alimento, segurança e afeto. Sem essas coisas, o homem não conseguiria sobreviver, tal a fragilidade com que nasce. O que acontece, entretanto, é que a família moderna abriga conceitos antes nunca aceitos dentro deste ambiente. A concessão de uniões homossexuais, independentes e o alarmante numero de gravidez na adolescência. Os papéis dos pais antes bem definidos, agora também sofreram alterações, tornou-se mais permissiva, aceitando-se que o filho tenha vontade própria. Em muitos casos, porém, utilizam a liberdade como justificativa de sua ausência. Passaram da repressão extrema para a liberdade excessiva: vale tudo. Os limites tão necessários ao desenvolvimento do senso de
realidade e respeito ao outro passaram a ser considerados prejudiciais ao crescimento. É na contramão dos preceitos da sociedade de consumo que surge um movimento chamado Slow food, propondo a valorização de uma boa alimentação com a escolha de produtos artesanais e preocupando-se com a estruturação psicológica familiar. Muitos dizem que a família está deixando de existir como antigamente em que almoços e jantares eram realizados em conjunto. Essa nova maneira de viver do século 21 tem deixado as pessoas individualistas e submissas ao trabalho. É o caso de Regina Moura, advogada, que percebeu que sua vida familiar estava cada dia pior. Assim resolveu aderir ao movimento. Segundo ela nunca podia almoçar em casa e sempre chegava tarde em conseqüência das inúmeras audiências. Seu trabalho tomava todo o seu tempo e seu casamento e a relação com os filhos enfraqueceu. “Com toda a correria do dia-a dia, estava deixando de lado meus filhos e meu marido, chegava em casa por volta das dez da noite. Via meus filhos só dormindo!”, afirma Regina. São nos momentos mais íntimos e simples que se é possível estabelecer uma relação mínima de confiança entre pais e filhos, marido e mulher. Saborear uma boa comida acompanhar a alimentação dos filhos ajuda nas relações pesssoais. Essas são as premissas básicas do Slow –Food.
Criado por Carlos Petrini em 1986 na Itália, o movimento é na verdade um contraponto ao Fast-Food, em que o próprio nome já se referencia “comida rápida”. Ao contrário da ordem habitual praticidade a todo custo o Slow-Food aparece como alternativa para aqueles que percebem a desintegração familiar. Sua filosofia se opõe à padronização do gosto, defende a necessidade de informação do consumidor, protege identidades culturais ligadas à tradições alimentares e gastronômicas, protege produtos alimentares e comidas, processos e técnicas de cultivo e processamento herdados por tradição, e defende espécies vegetais e animais, domésticas e selvagens. Nesse passo o Slow-food pode ser entendido como uma forma de resgate de valores atualmente perdidos, portanto, ele é de certa maneira uma tentativa de construção da sociabilidade familiar que vêm se abalando nas últimas décadas.
Cultura de fast food se massifica Com a correria do dia-a-dia, as pessoas estão se preocupando menos com costumes e hábitos seculares adquiridos pelas famílias, isso quando pensam neles. A maioria prioriza o trabalho, pois precisa dele pra viver e se contenta com um almoço rápido, sem pensar nas reações para o organismo, ou até mesmo com um sanduíche comprado num fast-food de qualquer esquina. Muitos escolhem esse tipo de servico por ser rápido e fácil, e o consideram saboroso. Como o próprio nome diz, fast-food é uma re-
feição prática, segmentada, que surgiu na década de 50, fazendo com que valores e hábitos mudassem de forma significativa. Mas a pretensa facilidade esconde consequências nocivas à saúde, como denunciado no documentário “Super Size Me a dieta do palhaço”, de 2004, em que uma pessoa passa um mês se alimentando somente no Mc Donald`s, para mostrar os reflexos no organismo. Ele também faz uma crítica ao tamanho gigante, o ‘super size’do título, que cria o hábito de pedir sempre a maior quantidade de ali-
mentos gordurosos, o que futuramente pode desencadear obesidade e problemas cardiovasculares. A maioria das pessoas que se alimenta por fast food procura praticidade e conforto. É a opinião de José Carlos Nascimento, de 27 anos, funcionário do MC Donald`s há dez anos e gerente há três, que afirma que as pessoas os procuram também pela satisfação e qualidade do produto, já que o estabelecimento passou a fornecer saladas, frutas e frango grelhado. Para ele, o segmento atende todas as pessoas de
acordo com a vontade,mas dentro do padrão. Para José Carlos, os vínculos familiares não está deixando de existir, já que o público-alvo nos fins de semana se caracteriza por pais e filhos reunidos em torno dos sanduíches. Já Fernando Évcei Oliveira, engenheiro de 24 anos, procura por esse tipo de segmento pelo menos três vezes por semana. Segundo ele, o custo é alto, mas o benifício vale a pena, pois é saboroso, prático rápido,confortável e além disso, encontra-se esse tipo de serviço em
qualquer esquina.”Só estaciono, entro e faço o pedido. As consequências são muito ruins, sei que tenho outras escolhas, mas também aprecio e gosto muito, mesmo sabendo que não é nutritivo e que não traz benefícios à saúde, mas sustenta” afirma. Com isso, o individualismo e Fast-Food caminham juntos no mundo contemporâneo, com a consequente padronização de tempo e trabalho por parte das pessoas, que se dedicam menos a hábitos saudáveis e comprometem a sociabilização.
11 - cultura
26.03.08
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Editora e diagramadora da página:Fabiana Colares 7ºPeríodo
o ponto Belo Horizonte – Março/2008
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C U L T U R A 11
Cine Santa Tereza
volta
AMANDA LELIS 4º PERIODO
O
Cine Santa Tereza é um dos mais antigos cinemas de Belo Horizonte e será reaberto ao público. Depois de abrigar várias casas noturnas, e permanecer entregue à ação dos vândalos e do tempo, o antigo Cine Santa Tereza volta a ganhar vida. O prédio de dois andares, localizado na Praça Duque de Caxias, na região leste de Belo Horizonte, será um dos dez centros culturais que a Fundação Municipal de Cultura irá reformar. O primeiro andar terá uma biblioteca, onde funcionarão oficinas de artes, e contará com fotos, objetos, e documentos sobre a trajetória dos compositores e músicos do Clube da Esquina. O segundo pavimento manterá a tradição de cinema, com um telão e auditório para 140 pessoas. Popularização do cinema O cinema em Minas nasceu na região central da cidade e depois se espalhou pelos bairros. Na década de 50, Minas Gerais foi marcada pela discussão e reflexão sobre cinema, mais do que pela exibição. Era a época da popularização do cinema.
à ativa
O GALPÃO QUE ACOLHEU O CINE SANTA TEREZA, ABRIGOU CASAS NOTURNAS E AGORA VOLTA À TONA COM REFORMAS PARA REABRIR O CINEMA AO PÚBLICO Em Maio de 1944, o bairro provinciano aproxima-se mais da modernidade e refinamento da metrópole nascente, e inaugura, na Praça Duque de Caxias, o Cine Santa Tereza. Nessa época, o cinema encantava o imaginário da população, as salas de exibição eram freqüentadas por uma diversidade de pessoas que o caracterizavam como principal forma de lazer e ponto de encontro. Durante 40 anos, o cinema fornecia distração aos moradores do bairro, promovendo a cultura, o convívio social e a informação, já que antes da exibição dos filmes eram expostos documentários e noticiários, narrando recentes fatos acontecidos na capital. Era uma arte acessível a todo público. Luis Góes, pesquisador e escritor, vive no bairro de Santa Tereza há mais de 60 anos e tem boas lembranças do tempo em que o Cine funcionava. ‘’Do cinema eu guardo as boas recordações dos filmes,
dos seriados acompanhados fielmente, dos flertes, do passeio após a exibição, e de um modo de vida totalmente diferente do visto nos dias de hoje.” recorda o pesquisador. Centro Cultural Luis falou sobre a importância do cinema para o bairro, que além de garantir diversão era uma arte exposta para todos que se interessavam, acessível a todo público, que infelizmente foi perdendo lugar para os aparelhos de televisão que, aos poucos, invadiam as casas. O Cine funcionou de 1944 a 1980, quando foi fechado, em fevereiro. O prédio cedeu então lugar a outras manifestações culturais. Na última semana de outubro e inicio de novembro, após 27 anos, o prédio passou por reformas, para receber a mostra Cine BH. Os belo-horizontinos puderam reviver a época em que o cine funcionava. O evento dedicado ao cinema nacional fez uma ho-
menagem aos 110 anos da cidade e a diferentes momentos e gerações da cinematográfica mineira. Para isso, foi reestruturada a parte interna, com algumas paredes sendo destruídas e o piso reinstalado. Sua fachada original será preservada, até hoje ela continua como era naquele tempo. Agora o espaço está sendo transformado em um centro cultural. As obras começaram esse mês. Segundo o diretor de centros culturais da Fundação Municipal de Cultura, Bernardo Mata Machado, o centro deve ser entregue à população até o fim do próximo ano. Santa Tereza O bairro Santa Tereza, além de ser um dos bairros mais tradicionais de Belo Horizonte, é como ponto de cultura da cidade, do cinema e da música. Ainda é um bairro boêmio, mas não tem mais programação cultural permanente. É considerado o berço de um dos
grupos mais importantes da Música Popular brasileira, O Clube da Esquina. A reabertura das bilheterias é aguardada pelos velhos freqüentadores do Santa Tereza e de outras salas da capital, como o Cine Pathé, na região da Savassi. Com a volta do cine, o comércio na região deverá melhorar. Comerciantes e moradores esperam ansiosos pela reabertura do espaço, onde poderão relembrar momentos que marcaram a história da cidade e de suas vidas. Os comerciantes da região serão um dos mais beneficiados com a nova casa de cultura. As vendas deverão aumentar, já que o bairro ficará mais movimentado. Os Centros Culturais que estão sendo realizados focam os eixos da criatividade e da identidade. E esta é uma reivindicação de muito tempo dos moradores do bairro, e será um investimento para toda a sociedade e um resgate da história de Belo Horizonte.
Clube da Esquina
Foi lançado recentemente no Brasil os “1001 discos para ouvir antes de morrer”, original do inglês Albums you must hear before. Para definir a lista dos 1001 discos Robert Demery, coordenador editorial do projeto, mobilizou 90 jornalistas e críticos de música de todo o mundo.O livro contextualiza historicamente cada álbum. O Brasil possui cerca de 20 representantes da Música Popular Brasileira (MPB), dentre eles estão Milton Nascimento e Lô Borges, dois integrantes do clube da esquina. O Clube da Esquina foi um movimento musical nascido da amizade entre Milton Nascimento e os irmãos Borges – Marilton, Márcio e Lô – em Santa Tereza na década de 60. Em 1972 a EMI gravou o primeiro LP, Clube da Esquina, apresentando um grupo de jovens que chamava atenção pelas composições engajadas, mistura de sons e riqueza poética. Álbum que os consagrou recentemente como um dos 1001 discos para ouvir antes de morrer, lançado em âmbito mundial.
12 - cultura
26.03.08
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o ponto
12 C U L T U R A
Belo Horizonte – Março/2008
Bares da capital mineira mantêm viva a
a
C
u r t a l u d
Boemia
CANTINA DO LUCAS, BAR DO BOLÃO E LA GREPPIA SÃO BOAS ESCOLHAS QUANDO O ASSUNTO É CULTURA E DESCONTRAÇÃO GABRIELA FALCI TEREZA LOBATO 7ºG
V
em de longe a tradição boêmia de Belo Horizonte. A noite da cidade já foi cúmplice de várias gerações de artistas intelectuais. Há anos com o título de capital brasileira dos bares, BH é referência nacional quando o assunto é boemia. Dona de uma cultura noturna a cidade possui bares e restaurantes para todos os gostos e estilos. Alguns desses se destacam por sua tradição, são estabelecimentos antigos, que permutam por gerações e guardam muito da história local. Em destaque podemos citar três nomes: Cantina do Lucas, Bar do Bolão e La Greppia. Fundados há quase meio século eles são considerados opções bem atuais pelos moradores da capital. A Cantina do Lucas é o segundo bar do Brasil a ser tombado como patrimônio cultural. Fundado em 1962 o estabelecimento traz muito da fundação da cidade e da tradição boêmia do belo horizontino.
Pouco mudou na Cantina do Lucas nas últimas décadas. O estabelecimento ainda guarda muito da decoração, do cardápio e mantém os garçons de longo tempo de serviço na casa. Os tempos dos intelectuais são constantemente relembrados, mostrando a preocupação com a história e a identidade da Cantina, sem deixar de lado o bom serviço e atendimento ao público. Deco, 65, é garçom da Cantina do Lucas há 36 anos. “Sou conhecido por esse apelido desde que trabalho aqui. Não sou aquele jogador de futebol de Portugal, mas todos me conhecem assim.” Muito emocionado, Deco conta das amizades que fez, dos famosos que conheceu e da história que a Cantina carrega. “Só não vi a Xuxa e o Pelé, mas vi muitos artistas famoso se sentarem nessas mesas.” Circea Assis, gerente da Cantina, conta que o local, fundado há 45 anos, é muito bem frequentado e seu público principal são artistas, jornalistas, advogados, políticos e empresários. “Aqui ao lado está a Universidade Federal de Direito, em virtude disso, recebemos muitos es-
tudantes, professores e advogados” Algumas pessoas vêm ao bar diariamente, sentamse para estudar ou para conversar com os amigos.” O funcionário público Sérgio Fantini costuma frequentar a Cantina à noite durante a semana, tomar sua cerveja, comer o seu tira-gosto e bater papo com os amigos. “Venho aqui há 28 anos. Gosto porque tem 3 ambientes diferentes, um de refeição, um interno que é mais tranquilo, e um externo que tem a cara de boteco.” Do outro lado da cidade, temos o famoso “fim de noite”, Bar do Rocha, conhecido como Bolão. Foi fundado em 1961, pelo “Seu Rocha”, José da Rocha Andrade e sua esposa D.Maria dos Passos Rocha, vindos de Ponte Nova. Ao definir a faixa etária dos frequentadores do Bolão, um dos proprietários Sílvio Rocha, filho do “Seu Rocha”, brinca dizendo que vai dos 5 aos 90 anos. “O ponto forte do Bolão, que atrai o cliente, é a qualidade da comida, que o faz voltar sempre ao estabelecimento.” Silvio acredita ser esse o motivo que faz com que o Bolão represente bem a boemia mineira, um bom
serviço, com comida e atendimento de qualidade, típico dos bares da capital. Outro local que atrai os clientes até “altas horas da madrugada” é o La Greppia, um bar cultural que oferece rodízios de massas nas noites mineiras. Funciona com o atual nome desde 1996, sendo os últimos 7 anos ininterruptos de atendimento 24 horas. “Essa é a vantagem do nosso serviço que nos faz ter uma clientela fixa. A qualquer momento que as pessoas vierem, estaremos de portas abertas para servi-los. Isso é boemia.”, complementa o gerente Geraldo Totino, que trabalha na casa há 10 anos. Freqüentadores assíduos do La Greppia, o ator Almari Reis e o dramaturgo Wesley Marchiori, confirmam que o atendimento 24 horas é um grande atrativo, mas também apreciam o ambiente que é muito frequentado por artistas e tem abertura para a exposição de obras de arte. O La Greppia tem um espaço reservado em suas paredes para a exposição de pinturas, fotos e obras de arte, que trocam a cada mês, como a da artista Carla Lamonier, “Mandalas”. credito fto
Localizada no tradicional Edifício Maleta, a Cantina do Lucas, fundada em 1962, foi tombada como patrimônio cultural de Minas
O garçom que virou história Sendo a cidade com maior número de botecos por habitante, BH não poderia deixar de ter uma história como a do garçom Olympio Perez Munhoz. Conhecido amistosamente pelos boêmios como “seu Olympio”, o garçom trabalhou durante 40 anos no tradicional bar do centro da cidade, Cantina do Lucas, desde a sua fundação em 1962 até o ano de 2002, quando se viu obrigado a pedir licença médica. O garçom recebeu homenagens por ter servido e esbanjado seu carisma a tantas gerações. Uma foi da própria Cantina, onde seu prato mais famoso foi batizado em nome do célebre funcionário. Outra homenagem foi a cidadania honorária concedida pelo vereador Arnaldo Godoy, em 1996. Olympio fez amizade com universitários, políticos e artistas, e os serviu durante a época de ditadura, quando iam à Cantina do Lucas e faziam as suas discussões sentados à mesa do bar. Quando a Cantina do Lucas foi tombada como Patrimônio Histórico, em entrevista, indagado sobre o tombamento, Olympio respondeu à repórter: “Podem tombar o que quiserem, não me tombando!” Seu Olympio, um dos garçons mais velhos do país, faleceu em 2003, depois de ter sido internado com pneumonia, perto de completar os seus 85 anos. “Seu corpo foi velado no Sindicato dos Jornalistas, na avenida Álvares Cabral, e enterrado em Ouro Preto”, explica Circea Assis, gerente da Cantina.