Jornal O Ponto - abril de 2008

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A dura rotina dos jovens brasileiros que tentam conciliar aula e trabalho, um enclave na conclusão universitária.

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[página 05] JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

A n o

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a b r i l / m a i o

o ponto d e

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H o r i z o n t e / M G

D I S T R I B U I Ç Ã O G R AT U I TA

Violência nas universidades Japão no Brasil

Especialistas discutem o comportamento das instituições de ensino diante do aumento de ocorrências policiais em suas dependências. pa [página 06]

João Paulo Borges 5º G

O Brasil, com o maior contigente de imigrantes japoneses no mundo, celebra a chegada do navio Kasato Maru em Santos há 100 anos. [página 16] Pedro Henrique Vieira 5 º G

CENTENÁRIO DO GALO O maior patrimônio do Clube Atlético Mineiro, a torcida, comemora ano histórico

[página 07]

Má arbitragem

Montagem de Marina Jordá sobre foto de Samuel Aguiar 6º G

Droga sintética [ ] página 11

A não regulamentação da profissão é apontada como uma das principais causas da questionavél qualidade dos árbitros do futebol brasileiro.

Mostra Felco [

página 15]

[páginas 08 e 09]

Brasil, 1808

Apreensões

O jornalista Laurentino Gomes, autor do livro “1808”, conta a O Ponto curiosidades sobre a vinda da Família Real para o Brasil. [página 13]

Como os Órgãos de Segurança Pública lidam com os produtos apreendidos, desde o recolhimento até o leilão ou inutilização. [página 04]


02 - Opinião

5/12/08

11:28 AM

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Editor e diagramador da página: Carlos Eduardo Marchetti

o ponto

02 O P I N I Ã O

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Repressão policial a alunos da UFMG LUCAS DE MENDONÇA 6º PERÍODO Na quinta-feira, 3 de abril, estudantes do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG iriam exibir o documentário “Grass” e foram reprimidos pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Trata-se de um filme comercializado em bancas e locadoras, que aborda a questão da maconha com bases científicas e, ao tratá-la desta forma, revela sua peculiaridade em relação às outras drogas (do álcool às chamadas “drogas pesadas”) e, principalmente, sua ilegalização na década de 30 graças à militância do ultraconservador Harry J. Anslinger no cenário político-econômico estadunidense. Após vários incidentes de falta de segurança dentro da UFMG (como os casos de estupro e assassinatos no campus), a antiga gestão da Reitoria firmou uma parceria com a PMMG. Os estudantes pediram autorização para a exibição do filme no prédio, o qual foi indeferido tanto pela Diretoria do IGC quanto pela Reitoria da UFMG, alegando que o filme fazia apologia ao uso da maconha. O livre debate foi censurado antes mesmo de ser realizado. Após este lamentável fato, os estudantes não recuaram e , quando da exibição, dois policiais militares apareceram dentro do IGC para tentar barrar o filme. O público ficou indignado e os policiais se sentiram intimidados com a atitude dos estudantes e chamaram reforço. Foram cerca de 15 viatu– ras com policiais armados até

os dentes – escopetas, cacetetes e revólveres. A PM proibiu a entrada/saída das pessoas e procurava pelos responsáveis pela exibição do vídeo. Com esta atitude, o caos era evidente. A portaria se tornou um furacão de indignação por parte da comunidade e, como era de se esperar, a polícia atuou com truculência, prendendo um estudante. Após a prisão, a revolta era iminente. No momento em que o levavam para o carro da PM, vários estudantes protestavam contra a ação inconstitucional da PM – que só poderia ter atuado ali com a autorização da Rei– toria. Neste bate-boca, o clima ficou tenso e a polícia – que contava inclusive com um helicóptero - agrediu cerca de 30 estudantes com ca– cetadas, coronhadas, etc. A PM chegou a circular de carro durante 4 horas com o estudante preso. Uma estudante teve um ferimento na cabeça. Testemunhas tentaram chamar o SAMU por celular e não foram atendidas, pois, segundo os opera– dores que as atenderam, o risco de trote por celular é alto. Isso foi o estopim para os estudantes se reunirem em caráter de urgência e decidirem pela ocupação da Reitoria, onde expuseram sua indignação, a inconstituciona– lidade da ação policial e a irresponsabilidade da Reitoria. Foram reivindicadas antigos pedidos do movimento estudantil ainda não atendidos pela falta de diálogo e ação dos reitores. Várias demandas do movimento deverão ser atendidas e foi montada uma sindicância para o acompanhamento.

100 anos de um clube BRUNO MARTINS 7º PERÍODO Primeiro campeão brasileiro em 1971, campeão da segunda divisão em 2006, campeão mineiro 39 vezes, duas Taça Conmebol e outros títulos. Isso faz do Clube Atlético Mineiro uma equipe grande do nosso futebol , de nível nacional e internacional, um clube que além de tudo conseguiu ser importante durante 100 anos. Não é para qualquer um completar o centenário mantendo uma torcida tão fiel e apaixonada pela equipe. Um amor tão grande que rompeu as barreiras do futebol e que também foi retratado no futsal. Talvez esse esporte nunca fora tão valorizado como na época em que existiu o Atlético Pax de Minas, recorde de púbico no Mineirinho, show de bola, liga de futsal transmitida e assistida em todo Brasil. Verdadeiros craques do esporte, como o

Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

maior de todos os tempos, Manoel Tobias, tudo impulsionado pela massa alvinegra. Como se não bastasse tanta paixão, o clube ainda conseguiu se aproximar mais ainda do público, com a queda do time para a segunda divisão, em 2005. Tristeza que foi absorvida em 2006, festa e mais festa da torcida no Mineirão, jogos eletrizantes, novos ídolos, como Marinho, Roni, Diego, Danilinho, Rafael Miranda e Eder Luiz e a superação: Campeão Brailieiro da série B, com direito a show de Beth Carvalho e sua canção "Vou festejar", hino do clube nesta competição. Este é o Galo de Cerezo, Éder Aleixo, Reinaldo, Marques, Dadá, Luizinho e tantos outros que fizeram história neste glorioso clube que completou 100 anos no dia 25 de março, sem muito o que comemorar atualmente, mas muito o que festejar por aquilo que já fez. Parabéns Galo!!

Tratamento gráfico - Marina Jordá - 6º G

Há luz na escuridão ALEXANDRE LACERDA 5 º PERÍODO

Ilustraçao feita por alunos da UFMG durante a recente ocupação da reitoria

Isabella versus 552 homicídios Qual pauta a mídia privilegiou? CARLOS EDUARDO MARCHETTI 6º PERÍODO No dia 11 de abril, o Jornal Bom Dia Brasil apresentou uma matéria de 9 minutos e 3 segundos para o caso da garota Isabella. Na parte da tarde, foi a vez do Jornal Hoje exibir outra matéria de 8 minutos e 24 segundos sobre o caso. Cobertura similar foi feita pelo Jornal Nacional com 7 minutos e 55 segundos. Um pouco mais tarde, foi a vez do Jornal da Globo dedicar 5 minutos e 44 segundos. A novidade do dia era o fim das prisões temporárias do pai e madrasta da garota. Desde o dia do crime, os telejornais de todas as emissoras têm dedicado cobertura semelhante ao caso (essa não tem sido uma característica apenas da rede Globo). Dia após dia passamos a acompanhar a “trama” nos diversos tipos de programas televisivos, todos, no entanto, abordando a questão em tom “novelístico”, vide a repercussão e o tempo de cobertura explicitado acima. Chamo a atenção para o dia 11 de abril, pois no mesmo dia em que a Rede Globo dedicava em seus telejornais nacionais pouco mais de 31 MINUTOS para a cobertura do caso Isabella, uma notícia desconcertante era veiculada no Jornal Nacional. Com tempo de 1 MINUTO e 55 SEGUNDOS, a matéria informava que entre janeiro e março de 2008, 552 pessoas foram

assassinadas na região metropolitana de Salvador. Quatrocentas e oitenta e três apenas na capital. Na reportagem, o secretário de segurança pública da Bahia lamentava que diante do caos social, restava como opção, o aumento do efetivo da polícia (mais precisamente 3,2 mil homens para a Polícia Militar e quatro mil na Polícia Civil). Mais uma vez, o discurso favorável à repressão ganhava destaque no horário nobre. Dentre esses 552 homicídios é bem provável que dezenas tenham sido cometidos com barbaridade similar, senão pior, que o ocorrido com a garota Isabella. Porém, ao contrário deste, os crimes da periferia de Salvador (e também os de BH, Rio, São Paulo, Belém, Natal e outros) são originados da exclusão social - um debate que pouco interessa à imprensa hegemônica, afinal, a criminalização de tais acontecimentos atende melhor a pseudo-indignação dos “colonistas” e sua mídia. É impossível não questionar o fato de que uma mesma notícia receba uma cobertura de mais de 30 minutos, num mesmo dia, 12 dias após ocorrido aquilo que a levou ao público. O caso Isabella apresenta todos os pré-requisitos técnicos de uma notícia de “sucesso”, vide nossos valorosos manuais. Se esta é a mídia que domina nosso país, questioná-la não é apenas uma questão ideológica. É também uma questão ética.

O que aconteceu, Ronaldo? PEDRO HENRIQUE VIEIRA 5º PERÍODO Ele se destacou graças a seu talento no futebol. Ronaldo Luís Nazário de Lima tem um dos rostos mais conhecidos do mundo. Um craque, um grande artilheiro. Logo aos 16 anos chamou a atenção por sua indiscutível habilidade. O sucesso na Seleção Brasileira e nos clubes em que jogou fez de Ronaldo um ídolo admirado em todo o mundo. Um menino simples, que veio do subúrbio do Rio de Janeiro e hoje é um dos atletas mais ricos do mundo. Em 1999 viveu um grande drama, com a grave contusão no joelho direito. Ficou afastado dos gramados por quase dois anos. Mesmo desacreditado, Ronaldo foi à Copa de 2002 e foi o principal jogador brasileiro, além de artilheiro do Mundial. Ele calou os críticos. Ficou marcado como exemplo de superação. Em fevereiro deste ano sofreu outra grave contusão, desta vez no joelho esquerdo.

Em recuperação no Rio, a estimativa é que ele fique afastado por um ano. No fim de abril, o jogador do Milan se envolveu num escândalo com três travestis, caso repercutido internacionalmente. Numa entrevista exclusiva, ele reconheceu o erro, mas sua imagem está arranhada. A vida pessoal do astro é sempre motivo de discussão e repercussão mundial. Ronaldo sempre foi fã das saídas noturnas, teve relacionamentos com lindas mulheres e casou-se duas vezes. Mas o que leva uma celebridade que, aparentemente pode ter tudo, a se envolver num escândalo tão grotesco trazendo graves prejuízos à sua imagem? Sabemos o craque que Ronaldo é e o quanto ele fez pelo futebol. Agora certamente ele investirá no resgate de sua imagem. Esperamos que, superada essa fase e restaurado o problema no joelho, ele retorne aos campos para fazer os gols que sempre encantaram o futebol mundial.

O "novo" rock está aí. As aspas são em função da constante renovação que o estilo musical mais controverso do mundo da música atravessa. E nada melhor que os nova-iorquinos do Interpol para confirmar isso com muita competência e estilo. Foi o que ocorreu no último mês de março, em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Para os felizardos que tiveram a chance de gastar um pouco mais e assistir uma apresentação histórica, fica o sentimento de realização. Quem não foi, poderá conferir facilmente pela Internet, através da implacável tecnologia que não perdoa ninguém, mas sem a mesma emoção, é claro. Desde o meio da década de 90, quem gosta de rock'n'roll anseia por algo novo ou se apega a bandas inegavelmente talentosas de décadas passadas. No começo do novo século, The Strokes parece ter surgido para preencher essa lacuna. Juntamente com ela, veio a Interpol. Com menor repercussão e peculiaridade imensa, ambas foram conquistando terreno e de alguns anos para cá, parecem estar prontas para assumir o papel de grandes bandas no âmbito mundial. O show que pude acompanhar apenas ratificou isso. O estilo, adotado por eles, é chamado de "Indie Rock" e tem conquistado muitos adeptos de maneira avassaladora. Com três CD's lançados, o último em 2007 ("Our Love To Admire”), a banda (se já não é) tem tudo para se tornar uma "religião". O som original, sombrio, e ao mesmo tempo simples, contagia. Não é só a intensidade da poderosa voz de Paul Banks que faz a Interpol uma banda diferente. A harmonia entre os integrantes, a precisão e o repertório variado apresentados no show encantaram os fãs. O modo como o espetáculo se desenha e a energia entre público e ídolos tornam tudo muito particular. Não era para menos. A vinda da Interpol ao Brasil e o surpreendente comparecimento do público aos shows nas três maiores capitais do país é sim uma mostra de como a tentativa de divulgação das bandas por meio do mundo virtual, somada à facilidade com que o usuário pode ter acesso a praticamente todo material de seus ídolos, vem aos poucos dando certo. A Interpol é uma luz para os adoradores do novo (com algumas influências) rock soturno. Um indício de que já há algum tempo podemos sorrir novamente, principalmente os fãs brasileiros que vêm sendo premiados com a vinda de outras tão boas atrações internacionais de maneira até freqüente, nos últimos anos. É a tecnologia a favor do novo rock e o novo rock a nosso favor.

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

o ponto

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec Tel: 3228-3127 – e-mail: oponto@fch.fumec.br

Coordenação Editorial Prof. Aurélio José (Jornalismo Impresso)

Monitores de Produção Gráfica Diogo Mattoso e João Paulo Borges

Conselho Editorial Profª. Dúnya Azevedo ( Proj. Gráfico) e Profª. Maria Fiúza (Fotografia) e Ana Paola Valente (Edição)

Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda Isabela Myrrha e Marcelo Antinarelli

Monitores de Jornalismo Impresso Carlos Eduardo Marchetti, Cristina Barroca e Poliane Bôsco Monitores da Redação Modelo Bárbara Rodrigues e Letícia Bethônico

Tiragem desta edição 5000 exemplares Colaboradores voluntários Adriana Gabriel e Pedro Henrique Vieira

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 – Cruzeiro Belo Horizonte – Minas Gerais

Profª. Thaís Estevanato Diretora Geral

Professor Emerson Tardieu de Aguiar Presidente do Conselho Curador

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Prof. Antônio Tomé Loures Reitor da Universidade Fumec

Profª. Cláudia Chaves Coordenadora do Curso de Comunicação Social

Prof. João Batista de Mendonça Filho Diretor de Ensino


03 - Política

5/12/08

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Editores e diagramadores da página: Tiago Haddad e Luiza de Sá 2º e 8º Períodos

o ponto Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

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JORNALISTAS VÃO ÀS URNAS CHAPA DA SITUAÇÃO, ENCABEÇADA PELOS MEMBROS DA ATUAL DIRETORIA, VENCE ELEIÇÕES TIAGO HADDAD E LUIZA DE SÁ 2º E 8º PERÍODOS A disputa pela diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) trouxe uma novidade: duas chapas inscritas. Desde 1999, o SJPMG realiza eleições com somente uma chapa. O grupo vencedor deste ano foi a chapa Jornalistas de Fato, que possui membros da atual gestão. Mil e noventa e um jornalistas associados estavam aptos a votar num universo de 3.240 filiados. O principal motivo desse “déficit” seria a inadimplência de grande parte dos sindicalizados. Apesar disso, apenas 492 pessoas foram às urnas. Desse total, 406 votaram na chapa 2 - Jornalistas de Fato - e 76 na chapa 1 Oposição Sindical. Sete votos foram nulos e três brancos. De acordo com a jornalista Eneida da Costa, presidente da comissão eleitoral, o quórum da eleição era de 327 votos. Segundo a comissão eleitoral, a última urna foi fechada às 22 horas, do dia 06 de maio, e a contagem dos votos se estendeu durante a madrugada. A nova diretoria toma posse no dia 16 de junho, data em que termina o

outra, pelo grupo de Délio Rocha e a chapa de oposição articulada por Adriano Boaventura e Leovegildo Leal.

“Não podemos responsabilizar a categoria. Se os jornalistas hoje não se mobilizam a culpa é de quem está na direção” Leovegildo Pereira Leal

Délio Rocha menciona que procurou os integrantes da Chapa 1 para tentar uma composição, mas isso não aconteceu porque, segundo Boaventura, há divergências fundamentais. “O sindicalis-

inicialmente, seu grupo buscava uma chapa que trouxesse uma política sindical nova para o sindicato, pois, segundo ele, a política sindical no

Brasil está

Jornalistas deixando de lado as questões reais da categoria nos veículos. “Nós entendemos que nossa luta é pela liberdade de imprensa, pela democratização da informação, mas sobretudo, pelas condições de trabalho dos nossos associados”, afirma. Ele também defende um sindicato mais presente nas redações e nos veículos.

é uma heran-

numa crise extraordinária. “O grupo do Aloísio (Lopes) tentava fazer com que não houvesse duas chapas ou mais”,afirma Délio. Segundo ele, a unificação se contemplou com a indicação do nome de Aloísio Morais para a presidência. “Não houve dificuldade em aceitar a composição com o outro grupo em torno desse nome. Renunciei a candidatura à presidência em função de um grupo de força maior den-

De acordo com Leovegildo Leal, a Chapa 1 come-

Laboratorio de Fotografia

mandato da atual diretoria. De acordo com Eneida da Costa, o período eleitoral transcorreu com aparente tranquilidade. A formação das chapas Até o mês de março deste ano, existiam três chapas em processo de formação e discussão de propostas, sendo uma articulada pelo grupo de Aloísio Lopes, atual presidente licenciado do SJPMG,

mo que a Jornalistas de Fato propõe é diferente da Oposição Sindical”, explica Boaventura. Os outros dois grupos, após várias reuniões, encontraram pontos convergentes em suas propostas e decidiram pela união em chapa única. Aloísio Morais explica que a chapa possui membros da atual diretoria. Délio Rocha afirma que,

tro do sindicato”. Rocha afirma que o nome de Morais representa a nova política que eles pretendem para o SJPMG. Aloísio Morais disse que não participou desse processo de discussão e de nenhuma reunião dessas tendências, pois elas aconteciam à noite no horário do seu trabalho.“Só entrei no processo a partir do momento em que meu nome foi lembrado como um possível consenso para encabeçar essa chapa”, explica Morais. A Chapa 2, vencedora do pleito, possui membros da atual gestão do sindicato. Apesar da unidade, Rocha tem críticas à atual gestão e diz que a política tocada no Sindicato se preocupou muito com questões legais como o diploma e o Conselho dos

“O exército de mãode-obra de reserva faz com que o companheiro que está empregado não se mobilize numa campanha salarial”

çou seu processo de formação em setembro de 2007 e não se construiu baseada em nomes, de forma personalista, mas, sim, em cima de uma Carta de Princípios. Segundo Leal, esta carta faz uma reflexão do que é o sindicalismo hoje, sua origem e seu reflexo no sindicato dos jornalistas. O integrante da Oposição Sindical, Adriano Boaventura, afirma que esse modelo de sindicalismo que é praticado em grande parte dos sindicatos do Brasil, inclusive no SJPMG, é o motivo do afastamento dos trabalhadores de suas entidades de classes. “O sindicalismo que combatemos

ça da social-democracia e do reformismo, no qual interesses partidários se sobrepõem aos interesses da categoria.” Boaventura destaca a importância dos partidos, e defende que eles participem dos sindicatos. “Os interesses do partido não podem nunca estar acima dos interesses da categoria”, ressalta. Campanha salarial Leovegildo Leal disse que o debate durante a campanha não deveria ser pautado pela questão eleitoral e, sim, pela campanha salarial. Ele sugere a alteração do calendário do sindicato para que a campanha eleitoral não atropele a salarial. “A campanha salarial tem que ser trabalhada com muita antecedência da data-base.” Leal explica que existe uma dificuldade em mobilizar a categoria e as assembléias estão esvaziadas. Ele também argumenta que a categoria não pode ser responsabilizada pela desmobilização. “Se os jornalistas hoje não se mobilizam a culpa é de quem está na direção porque, caso contrário, não pre-

saria de direção”. A saída, segundo ele, seria realizar visitas aos locais de trabalho, negociar pautas comuns etc. Uma das propostas da chapa, discutida durante as prévias, foi a unificação da campanha salarial de todos os segmentos da categoria. Aloísio Morais afirma que a campanha salarial é a principal razão de ser do sindicato, e que ela reflete o momento e as mudanças do mercado de trabalho. Ele ainda argumenta que novas reivindicações são recorrentes e a questão salarial está sempre no centro dos debates. Para Morais, o sindicato tem que atuar fazendo a categoria trazer novas reivindicações. Délio Rocha explica que a proliferação de escolas prejudica a campanha salarial. “O exército de mão-de-obra de reserva faz com que o companheiro que está empregado não se mobilize numa campanha salarial porque há uma fila de pessoas desempregadas esperando-o ser mandado embora”, argumenta. Colaborou Carlos Eduardo Marchetti - 6º Período

Precarização da profissão e exigência de diploma em debate É comum, na grande mídia, o aproveitamento da matéria que um jornalista faz para um determinado veículo em outro do mesmo proprietário. Os casos mais conhecidos são do jornal O Tempo, que republica matérias no Super Notícias e no Pampulha, ambos da Sempre Editora, e do Estado de Minas e Aqui, que também republicam matérias, que ainda são divulgadas no portal Uai, todos de propriedade do Diários Associados. Para Adriano Boaventura, esse tipo de problema tem que ser amarrado na pauta da campanha salarial. Para isso, seria necessário documentar esse reaproveitamento de matérias, fazendo um acompanhamento diário para ser encaminhado ao Ministério Público, pois envolve, além do direito autoral, uma série de outras questões para as quais se devem criar instrumentos para combatê-las. “A questão não é ser contra os tablóides, mas a forma como os tablóides são produzidos é que é complicada”, explica. Ele acredita que a não exigência do diploma está ligada à precarização da profissão. “Como não precisa de diploma, o patrão

vai achatar salários e obter mais lucros em cima do trabalho do jornalista”, argumenta. Por isso, segundo ele, a relação do sindicato com o patronato tem que ser de negociação, pois é preciso saber que o jornalista está vendendo sua força de trabalho. Um dos pontos fortes da campanha da Chapa 2, vencedora da eleição, foi a luta contra a precarização da profissão. Para Délio Rocha, essa tal de sinergia é uma forma de precarizar a profissão e, o pior, está precarizando a informação. Ele argumenta que as matérias publicadas nesses jornais que reaproveitam matérias, parecem notas escritas para rádio, e que quem lê continua desinformado. Para combater a precarização, Rocha disse que não se preocupa com o encerramento das atividades de um veículo, como o ocorrido com o Diário da Tarde. Ele explica que o argumento de que o trabalhador estaria perdendo o emprego não vale, visto que, nesses casos, o jornalista trabalha para vários veículos ao mesmo tempo. “É a mesma turma fazendo cinco veículos. Não pode. Você tem o pedreiro ou mestre-de-obras tra-

balhando em cinco construções diferentes? Não tem. Então por que o jornalista pode?”, questiona. “Devemos exigir o cumprimento da CLT, legislação existente”, completa. O Diploma Ambas as chapas concorrentes defendem a exigência de diploma para o exercício da profissão. “Quem defende a não exigência de formação superior argumenta que o mercado vai selecionar os melhores. Só que o mercado já seleciona os melhores. A diferença é que, sem exigir uma formação, ele vai continuar selecionando os melhores só que a custos mais baixos”, explicita Boaventura. Aloísio Morais disse ser defensor ardoroso do diploma, visto que desde as criações das escolas de comunicação se mostrou cada vez mais necessário a graduação. Para ele, é importante a formação para passar os princípios da ética para os estudantes, e dar uma formação mais ampla para o futuro jornalista.


04 - Cidades

5/12/08

11:30 AM

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Editores e diagramadores da página: Sarah Curty, Anália de Oliveira e Flávio Campos 6º Período

04 C I D A D E S

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Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

Mariamma Fonseca - 6G

APREENSÕES CARROS, CASAS, CDS, DROGAS, COMPUTADORES, DINHEIRO. ENTENDA O QUE É FEITO COM OS BENS QUE SÃO APREENDIDOS PELOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA BRASILEIROS João Paulo Borges 5ºG

AMANDA ARAÚJO MARIAMMA FONSECA 6º PERÍODO Entre caixas, entulhos e muita poeira, encontram-se violões, bicicletas, máquinas de algodão doce, sofás e outras mercadorias no Setor de Bens Apreendidos da Polícia Civil, o Sebap. Grande parte dos objetos recolhidos pelos Órgãos de Segurança Pública fica estocada em galpões aguardando um julgamento que pode demorar anos. O início do processo de apreensão ocorre através de denúncias anônimas, feitas pessoalmente nos órgãos de segurança pública, no site do Ministério Público, pelo Disque-Denúncia (181) ou através de cartas. Para a preservação da ordem pública, existem diferentes órgãos com atribuições específicas, tais como as Polícias Federal, Civil e Militar. Antes de as denúncias serem investigadas é realizado um levantamento prévio para saber a procedência do caso. Os fatos são apurados e analisados para verificar se há indícios criminosos. O Ministério Público recebe a denúncia e, se necessário, a encaminha para a Polícia Federal em forma de requisição que é transformada em inquérito policial. Durante as investigações, podem ocorrer apreensões das mais variadas espécies, como drogas importadas sem o pagamento de impostos (descaminhadas) e contrabandeadas (ilegais no Brasil), bens móveis e imóveis, documentos que comprovam fraudes, alimentos, entre outros. Caso ocorra a apreensão de dinheiro ou cheques, a autoridade que presidir o inquérito deverá, de imediato, intimar o Ministério Público que fará a conversão do valor apreendido em moeda nacional ou, se for o caso, a compensação dos cheques emitidos após a direção da investigação. Toda quantia apreendida é depositada em conta ju-

dicial junto com recibos que comprovam que o MP recebeu esse dinheiro. Depois do julgamento, os valores são encaminhados ao cofre do Governo Federal. Segundo o Delegado Federal Lúcio Campolina, chefe do Núcleo de Disciplina da Corregedoria Regional de Polícia, a apuração de infrações penais contra a ordem política e social ou em função de bens, serviços e interesses da União é de responsabilidade da Polícia Federal. A PF atua junto à Receita Federal evitando o contrabando e o comércio de mercadorias descaminhadas, prevenindo e reprimindo o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. A base legal para essas apreensões está prevista no Código de Processo Penal e no artigo 60 da nova lei de entorpecentes número 11343/06, que diz que o juíz pode decretar a apreensão de bens móveis, imóveis e com indícios de proveniência ilegal a qualquer momento do julgamento. A Polícia Civil exerce a função de polícia judiciária e apura infrações penais. Quando há registro de casos em que a apreensão é necessária, os agentes civis são acionados. A Polícia Militar é apenas responsável pela manutenção da ordem pública e o policiamento ostensivo, não cabendo a ela a apreensão de bens. Marco Antônio Monteiro de Castro, Delegado Regional da PC, relata que todo material apreendido pela autoridade policial é encaminhado ao Sebap. No local existem todo tipo de objetos, como televisores, bicicletas, fitas VHS, CDs, DVDs, computadores, rádios e outros. Se o autuado não conseguir provar que o bem lhe pertence, este fica à disposição da Justiça e, se houver interesse público na utilização de alguns desses bens, a autoridade de polícia judiciária poderá fazer uso. Caso contrário, esses materiais podem ser leiloados e convertidos em dinheiro, que ficará depositado até o final do

processo. Drogas, cigarros e outras mercadorias que não podem ir à leilão são destruídas, incineradas ou inutilizadas. Os bens perecíveis ou aqueles que se desvalorizam com o tempo podem ser doados a órgãos públicos ou entidades beneficentes. “Os bens apreendidos poderão ser utilizados pelos órgãos ou entidades que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades”, é o que diz o artigo 61 da lei 11.343. Leilões Cabe à Receita Federal atuar em operações de apreensões nas alfândegas e aeroportos do país, além de organizar os leilões. “Geralmente o juíz nomeia um responsável pela parte administrativa do leilão”, explica o Juíz Federal George Marmelstein Lima. O juíz, através de sentença, decide o valor dos bens e determina que sejam vendidos em leilão. Para participar do processo, uma pessoa física deve apresentar a carteira de identidade e o CPF para validar seus lances. Representações jurídicas deverão se habilitar de acordo com o edital que exige alguns documentos como registros e CNPJ, por exemplo. Os leilões são divulgados no site da Receita Federal, no Diário Oficial da União e do Estado e em alguns jornais, onde é possível acompanhar quais serão as próximas ofertas em cada estado brasileiro. Na ocasião, quando um bem é arrematado, incide sobre o seu valor cobrança de ICMS. Os valores obtidos são revertidos para o Tesouro Nacional (cofre do Governo) e, conforme o caso, em benefícios à Segurança Pública e recuperação de vítimas de dependência química por meio da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad).

Para onde vão as mercadorias não estocadas e não leiloadas

Fonte : Receita Federal


05 - Cidades

5/12/08

11:35 AM

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Editor e diagramador da página: Giancarlo Ranieri e Poliane Bôsco - 6º e 7º Periodo

o ponto Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

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C I D A D E S 05

UNIVERSIDADES INSEGURAS OCORRÊNCIAS POLICIAIS AUMENTAM EM UNIVERSIDADES E PREOCUPAM A SOCIEDADE Bruno Chiari 6º G

BÁRBARA RODRIGUES LETÍCIA BETHONICO 5º E 6º PERÍODOS A insegurança está rompendo limites na capital mineira e atravessando até mesmo os portões universitários. Exemplo disso são os últimos crimes ocorridos em universidades belo-horizontinas. Em quatro meses, pelo menos três instituições de ensino superior registraram ocorrências policiais nas suas dependências. Na mais recente, um homem armado entrou em um centro universitário na região Oeste e atirou em uma estudante, no dia 7 de abril. A tentativa de homicídio poderia ter ocorrido em qualquer outro centro acadêmico. Isso porque, atualmente, não existe uma política rígida de segurança que impeça a entrada de estranhos e que detecte a presença de armas brancas e de fogo em universidades. Mas até onde é necessário um controle rígido? Procurado para comentar sobre o ocorrido do dia 7, o gerente executivo da Uni-Bh, Luismar Ferreira, disse que o lugar mantém uma ampla relação com alunos e comunidade do entorno. “Realizamos no campus o projeto AMA – Atendimento Multi Assistencial, que atende cerca de 120 crianças carentes promovendo atendimento médico e odontológico gratuitos. Não podemos colocar um sistema de segurança em que só o aluno possa entrar aqui; temos um fluxo diário de mais de 1500 pessoas, maior do que o de algumas cidades mineiras”, explica, acrescentando que após este incidente, vai haver um aumento da segurança física no local. Por questões de sigilo, o gerente não quis revelar como funciona o sistema de segurança utilizado no campus, mas garante que sempre foi eficaz, sem desrespeitar o direito à liberdade. De acordo com a aluna do curso de Educação Física, Carmem Sanábio, 24, só após o episódio a portaria passou a exigir documento com-

munidade em torno adotando políticas de segurança interna eficazes, sem retirar o caráter de convívio e de liberdade que nela possui. Não é segredo que a violência atinge todas as camadas sociais, e é reflexo de muitos fatores. Entretanto, como fazer da universidade um espaço seguro, livre e democrático? Para a socióloga e professora Maria Eliana Novais, os conceitos de segurança e insegurança são simbólicos, mas ao mesmo tempo, fazem parte da realidade, sendo portanto, muito concretos. “Por exemplo, moradores de casebres localizados à beira de rodovias, em áreas de risco sentem-se seguros enquanto moradores de condomínios fechados, com segurança privada, sentem-se inseguros”, explicou.

A Polícia Militar foi acionada após a tentativa de homicídio de uma estudante dentro do campus do Uni-BH foto para ter acesso ao campus, que possui catracas na entrada. A segurança se tornou mais rígida também no dia da ocorrência policial. No processo de apuração no Uni-Bh, o repórter fotográfico Bruno Chiari foi supreendido pelo assessor de imprensa da instituição, Leandro Khoury, que com ajuda de um segurança, tomou o equipamento do repórter e apagou as imagens feitas até então. O assessor declarou que o repórter do O Ponto não tinha permissão para fotografar no local. Bruno Chiari, que estava com a credencial do jornal laboratório no dia, conseguiu recuperar as fotos. Incidente na Newton Paiva Há apenas quatro meses, um episódio parecido, mas com fim trági-

co, chocou os belo-horizontinos: o estudante Roberto Márcio Marra, de 24 anos, assassinou a namorada, Érica Alves Arantes, 22 anos, e se matou em seguida, dentro do Campus Carlos Luz, da Universidade Newton Paiva. Na ocasião, a instituição lamentou o ocorrido em nota à imprensa, afirmando que seu sistema de segurança é limitado pela Constituição Federal, a qual proíbe que alunos, professores, funcionários e qualquer outro freqüentador sejam revistados. Os estudantes expressaram sua indignação através de mensagens em comunidades de um site de relacionamento, reivindicando instalação de detectores de metais na entrada do campus, e realizaram reuniões com a diretoria para pedir reforço na segurança.

Glauco Fábio Mendes, chefe de segurança do campus Carlos Luz, afirma que após o incidente foram tomadas várias medidas para reforçar a segurança, como colocar vigias motorizados do 34° Batalhão da PM para fazerem ronda nas imediações do campus. “Mas todas as medidas são aplicadas com cautela, pelo direito de ir e vir de todos e para não ter uma repercussão negativa”, ressalta. Sobre a reivindicação para instalação de detectores de metais, o chefe de segurança diz que a medida é impraticável . “Os detectores causam um desconforto ao aluno, que tem de tirar todo o material para ser revistado se atrasando para as aulas”, explica. A universidade, enquanto espaço público de caráter social, precisa zelar pelos seus estudantes e pela co-

UFMG Na maior universidade do Estado, a segurança também é uma constante preocupação. De acordo com o chefe de segurança da UFMG, Mário Bréscia, a circulação dentro do campus da Federal é intensa: aproximadamente 50 mil pessoas por dia. Para manter um controle, a universidade possui vigilantes 24 horas e câmeras que registram a entrada e saída de veículos. Bréscia destacou ainda, que cada prédio possui uma independência política e administrativa, ou seja: o diretor responsável por cada repartição é quem decide qual método de segurança adotará. "Todos os prédios tem pelo menos um porteiro, que faz mais o papel de verificar o acesso interno e dar informações". Devido a isto, o chefe de segurança destacou que a parceria da Universidade Federal com a Polícia Militar é fundamental. Segundo ele, a PM atua com mais freqüência nos casos de furto de carro e patrimônio interno da universidade. "A PM auxilia nos trâmites democráticos de boletim de ocorrência por furtos, e a parceria garante que o atendimento não demore o tempo que levaria para contatar o 190", ressaltou.

AÇÃO POLICIAL NA UFMG É CONTESTADA Lucas Mendonça 6ºG

Lucas Mendonça 6ºG

Estudantes afixaram faixas em protesto contra a intervenção da Polícia Militar nas imediações do Instituto de Geociências da UFMG, durante a ocupação da reitoria Se por um lado falta segurança a ponto de ocorrer crimes nas universidades, por outro, quando a polícia é acionada, pode representar abuso de autoridade, sendo necessária uma reflexão sobre o direito de “ïr e vir”dos indivíduos no espaço acadêmico. Um outro caso relacionado com a polêmica da violência dentro das universidades chamou a atenção da opinião pública. Estudantes do IGC (Instituto de Geociências), na UFMG, assistiam "Grass"- um documentário comercializado nas bancas e locadoras, que aborda a questão da maconha- quando foram supreendidos pela Polícia Militar. Como conseqüência, houve um confronto violento entre um grupo de estudantes e os policiais. Os uni-

versitários, indignados, acham que houve repressão e questionaram se faz parte do papel de uma Universidade permitir a entrada de policiais no campus, o que é, segundo eles, proibido por lei. Sobre o ocorrido no IGC,o chefe de segurança Mário Bréscia não quis fazer declarações. "Esta foi uma situação atípica e há uma Comissão de Sindicância, da qual serei testemunha, que está investigando o caso. Ainda não temos um resultado formal do que aconteceu". Porém, quando perguntado sobre a necessidade de se fazer um controle mais rígido dentro do campus, ele continuou defendendo a presença da PM e salientou que toda vez que algum prédio adota um controle maior na área da segurança, como o uso do

crachá, os alunos costumam não concordar. "Isto esbarra em questões culturais, como na época da ditadura, onde se lutava por liberdade. E a universidade é um espaço livre, mas como todo espaço público, deve ter um limite e um controle, pois quando acontece algo, a tendência é reclamar da segurança".

“E a universidade é um espaço livre, mas como todo espaço público, deve ter um limite e um controle. “ Mário Bréscia, Chefe de segurança da UFMG

Ainda sobre a polêmica do IGC, a reitoria não concordou com a atuação da Polícia Militar. O caso IGC, segundo a socióloga Maria Eliana Novais, localiza-se mais no espaço dos valores éticos e morais do que na área da segurança. “Vivemos em uma democracia recente, e esta geração também herdou da época da ditadura militar um certo receio à força policial”, afirmou. De acordo com ela, há duas situações em que é necessária uma intervenção da polícia: quando solicitada para resolver questões de segurança que envolvam o público que trabalha, estuda ou freqüenta o local. “Nesta perspectiva, o policiamento público atua de forma suplementar à segurança privada existente. E a segunda, quando atos e

práticas que ocorrem no espaço privado ameaçam a população ou patrimônio público, como brigas, furtos e barulho excessivo”, destacou. A professora apontou ainda um fator importante. A segurança em espaços privados tem conotações diferentes dos espaços públicos, mesmo que os espaços privados sejam abertos à freqüentação pública. Em suma, ela acha que a valorização das relações humanas no âmbito familiar, educacional e institucional são fundamentais para a construção de uma sociedade mais segura. “O respeito pelo indivíduo, pelo ser humano, tem que ser recuperado enquanto valor moral e ético. Acredito que esta dimensão deve ser incorporada a qualquer discussão sobre a segurança”, completou.


06 - Educação

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Editor e diagramador da página: Eloisa Ribeiro e Natasha Muzzi 6ªG

06 E D U C A Ç Ã O

o ponto Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

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Acabou a brincadeira JOVENS BRASILEIROS TÊM A DURA TAREFA DE CONCILIAR A DUPLA JORNADA ESTUDO E TRABALHO NO DIA-A-DIA LUDMILLA RANGEL 6º PERÍODO Longas jornadas de trabalho seguidas de horas sentado em sala de aula. Atrasos, faltas injustificadas, trabalhos feitos na última hora e cochilos na sala. “É um pouco cansativo, mas ao mesmo tempo é motivador, tenho que pagar a faculdade com meu suor, por isso não falto e aproveito cada aula”. Wanderson Silva, 26 anos, estudante de Publicidade e Propaganda trabalha de segunda a sexta, das 8h às 17h e estuda à noite. Ufa... Essa é a rotina de milhares de jovens que conciliam trabalho e estudo. Em 2007, o Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ), constatou que 80% dos jovens no Brasil entre 15 e 24 anos desenvolvem alguma atividade: estudam, trabalham ou fazem as duas coisas ao mesmo tempo. A maioria tem uma jornada de trabalho superior a 40 horas semanais. Empregos informais ou estágios rigorosos, os jovens entram no mercado de trabalho cada vez mais cedo. Uma das dificuldades para os estudantes que trabalham é manter as notas fora do vermelho ao final do semestre. Segundo João Batista Santos de Assis, professor e coordenador do curso de Engenharia Civil da Puc Minas, é comum numa turma de 60 alunos ingressantes somente de 10 a 20 conseguirem se formar regularmente, isso é, sem reprovações. Outro ponto importante citado por João Batista é a diferenciação dos cursos em relação ao horário de estudo. “Ao compararmos os turnos, pode-se dizer que o noturno é mais brando que o matutino, justamente pelo fato dos alunos da noite serem os que trabalham o dia todo”. O fato é que existe certa impressão de que só os estudantes da noite trabalham, quando a história não é bem assim. Os alunos da manhã não são ociosos. Trabalham, mesmo que em menor quantidade. Há dificuldade de encontrar estágio ou emprego que não choque com o horário da faculdade, já que a grande maioria dos estágios oferecidos pedem disponibilidade período integral. Trabalhos até altas horas, que não deixam tempo para estudo, e nem sempre são relacionadas à área estudada, são os principais obstáculos enfrentados por estes jovens. Jaylhane Veloso, 18 anos, cursa o 2º período de Turismo em turno integral, e sente muita dificuldade em encontrar es-

Foto: Ludmilla Rangel

OPINIÃO DE PSICÓLOGO

Mesmo durante o trabalho, Wanderson näo desgruda dos livros da faculdade Frederico Dutra 5ºG

É sempre um desafio estudar e trabalhar, ainda mais quando se é muito jovem. Sabemos que a adolescência é uma etapa da vida com características inconfundíveis: contestação, necessidade de andar em turma, certa sonolência, etc. Conciliar a rotina de trabalho ao estudo não é nada fácil. Pela manhã vem aquele sono e preguiça de quem teve que ir dormir tarde. Disciplina, obedecer a ordens, cumprir metas, horário e sair correndo do trabalho para ir estudar a noite. Muitos adolescentes precisam trabalhar para poder estudar, pois a família não pode sustentá-los. Sem dúvida, algumas etapas serão "queimadas”, como festas, vida noturna, etc. Poderá aparecer algum sintoma de ordem emocional: stress, queda de cabelo, erupções na pele, processos alérgicos, dores de cabeça, irritabilidade e dificuldade para dormir. É um período que exige cuidados e atenção consigo mesmo. Em qualquer sinal de fadiga a orientação é procurar um médico a fim de ser avaliado e de se evitar danos maiores. Solange Couto – Psicanalista Psicóloga, formada pela PUC

Estudante aproveita a espera pelo ônibus para adiantar a leitura antes do trabalho tágios. A alternativa encontrada foi um emprego na área de telemarketing. “O horário do meu curso é muito inflexível, o jeito foi procurar um emprego onde eu pudesse encaixá-lo no meu tempo "livre", de 18h às 22h. Na faculdade, acabo com baixo rendimento, apesar do esforço”. Para Luan Rezende, 18 anos, estudante de Arquitetura e Urbanismo, a busca pelo emprego fora da área de estudos veio devido à falta de oportunidade de estágio. Trabalha pela manhã e estuda à tarde. Atenção aos estágios Falar em estágio gera certa revolta entre os estudantes que já entraram em furadas. Muitas são as oportunidades que na prática, oferecem ao universitário "grande chance" para desenvolver habilidades em manusear máquinas de xerox e nada mais. Esses são os chamados estágios irregulares – onde não oferecem a experiência prática nem a complementação da aprendizagem

escolar exigida pela Lei nº 6.494/77. Na maioria das vezes os estagiários desempenham as atividades comuns aos empregados, mas com uma remuneração inferior. Estágios voluntários também estão disponíveis. Anderson Siqueira, estudante do 6º período de Jornalismo, diz que a experiência como voluntário foi gratificante. “Em agosto de 2007 comecei trabalhando voluntariamente. Com muita humildade e trabalho, hoje sou remunerado e consegui dar início à minha carreira profissional”, afirma Anderson.Para ele o estágio é uma ótima oportunidade para os estudantes que näo tem experiência e que querem adentrar no mercado de trabalho antes de se formarem. Geralmente säo oferecidos pela própria universidade. Marconi Moura, 20 anos, cursa o 5º período de Psicologia e até o momento não iniciou o estágio obrigatório. Para custear os estudos trabalha no período integral em uma área diferente. “É muito difícil encontrar estágios que tenham as mesmas condições de um emprego de carteira assinada. Alguns benefícios como maior remuneração, vale-refeição e vale-transporte fazem a diferença", explica Marconi. Apesar de todas as dificuldades encontradas o sacrifício vale à pena. Lembrase do Wanderson? No 2º período, antes mesmo de concluir sua graduação, recebeu um prêmio em reconhecimento ao seu esforço: a pós-graduação gratuita. Ele faz parte de um grupo que irá iniciar às disciplinas aos finais de semana. A correria vai aumentar!

Depoimentos “Penso que o Brasil deveria o mais rápido possível instituir cursos noturnos mais dilatados (de cinco anos para seis anos), para que deste modo pudéssemos melhorar as cobranças do alunado e ser como os cursos matutinos.” João Batista Santos de Assis – Professor e coordenador do curso de Eng. Civil PUC – MG.

“Prefiro que ele (Wanderson) estude, faço o que posso para incentivá-lo, porém existe um sacrifício de todas as partes. Sei que mesmo com meu apoio o cansaço no fim do dia pesa na capacidade de concentração às aulas.”

Frederico Dutra 5ºG

Júlio César Garrido - Assessor de comunicação, estudante de Publicidade e Propaganda e chefe de Wanderson.


07 - Entrevista

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Editora e diagramadora da página: Eloisa Ribeiro 6º Período

o ponto Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

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E N T R E V I S T A 07

1808: a fuga que mudou a história luso-brasileira Título :1808 Autor : Laurentino Gomes Páginas: 414 Editora: Planeta ELOISA RIBEIRO 6 º PERÍODO Após reunião do Conselho de Estado no final de 1807, o príncipe regente D. João VI determinou que toda a corte real portuguesa seria transferida para o Brasil. A partida se fez necessária para fugir das tropas de Napoleão Bonaparte e evitar a invasão francesa. O príncipe tinha plenos poderes, já que a rainha D. Maria I estava afastada de seu posto devido a um estado de loucura agravado. Após dois longos meses de viagem, falta de mantimentos e epidemias de piolho, em março de 1808 a família real chegou ao Brasil. Em 2008, comemora-se duzentos anos da chegada da família real. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Aníbal Cavado Silva, presidente de Portugal, celebraram a data com o lançamento de uma medalha comemorativa durante cerimônia realizada no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. As festividades não pararam por aí. O jornalista paranaense Laurentino Gomes, formado pela Universidade Federal do Paraná , presenteou a todos com o livro “1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil “, resultado de dez anos de pesquisa. O autor apresenta esse episódio tão importante na história nacional em uma linguagem simples, no formato livro-reportagem, de forma acessível a todos os interessados. Durante entrevista gentilmente cedida ao jornal O PONTO, Laurentino Gomes apresenta a obra que já vendeu mais de 200 mil exemplares em todo o país. O Ponto - Como surgiu o interesse por esse capítulo de nossa história? Durante esses dez anos de pesquisa você contou com a ajuda de uma equipe ou fez tudo sozinho? Quantas e quais fontes de pesquisa foram utilizadas? Laurentino Gomes - Este livro nasceu em 1997 na redação de uma revista, onde eu trabalhava como editor executivo. Naquele ano, o diretor de Redação decidiu fazer uma série de edições especiais sobre a história do Brasil que circulariam junto com a edição regular da revista, como brinde para seus leitores. Seriam cinco suplementos. Fiquei encarregado de coordenar a equipe que trataria da fuga da corte portuguesa para o Brasil. 1808 é a investigação jornalística mais longa, profunda e exaustiva que fiz nos meus trinta anos de carreira profissional O lançamento do livro foi programado para coincidir com a comemoração dos 200 anos da vinda da família real ao Brasil? Sim, todo o cronograma de lançamento do livro levou em conta a oportunidade oferecida pelas comemorações dos duzentos anos da fuga da corte portuguesa para o Brasil. Um jornalista precisa se preocupar com o momento mais adequado para chamar a atenção dos leitores para determinado assunto. Por exemplo: não adianta fazer uma capa de revista sobre copa do mundo de futebol quando ainda faltam dois anos para a campeonato mundial. Existe sempre a hora certa para tratar de determinados assuntos. É o que os jornalistas chamam, no jargão das redações, de “gancho”. Não faria muito sentido lançar esse livro daqui a dois ou três anos, perdendo a oportunidade que as comemorações oferecem de atrair mais a atenção dos leitores. Aliás, não se pode esquecer que a mais importante obra sobre esse tema, o livro “D. João VI no Brasil”, do historiador pernambucano Manuel de Oliveira Lima, foi lançada em 1908, no primeiro centenário da vinda da corte para o Rio de Janeiro. Ou seja, tanto entre jornalistas quanto entre os historiadores precisa existir ese senso de oportunidade.

LIVRO REPORTAGEM DESCREVE A VINDA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA AO BRASIL DE FORMA LEVE E BEM HUMORADA “1808” está há várias semanas no ranking dos livros mais vendidos do Brasil, em alguns locais, os exemplares estão até em falta. Na sua opinião, o que mais atraiu a atenção dos leitores para seu livro? Acho que foi a linguagem didática, acessível a leitores comuns que não estavam habituados a comprar livros de História. Além, é claro, da oportunidade oferecida pelas comemorações dos duzentos anos da vinda da corte. A história do Brasil é um manancial inesgotável de oportunidades para um escritor. Só precisa ser bem contada. O Brasil tem excelentes historiadores acadêmicos, mas infelizmente eles nem sempre conseguem transformar em linguagem acessível as descobertas e interpretações que desenvolvem nas universidades. Nesse aspecto, os jornalistas levam alguma vantagem porque estão preocupados apenas com os leitores finais e não com a avaliação da comunidade acadêmica. Isso permite que sejam mais didáticos no tom, no enfoque e na linguagem.

Jornalista que não conseguir produzir um título ou um subtítulo atraente ou provocativo simplesmente não será lido. Terá feito um trabalho inútil, para poucos leitores. Eu poderia, por exemplo, ter colocado na capa do “1808” a seguinte chamada: “A corte joanina no Brasil: novas dimensões”. E, obviamente, se fiz uma pesquisa séria e profunda durante dez anos, eu quero que as pessoas leiam o meu livro. É minha obrigação passar adiante a mensagem que considero relevante. Tudo que está ali é baseado em referências bibliográficas, que eu procuro demonstrar de forma irrefutável no texto do livro. Ou seja, a rainha era, sim, louca. O príncipe era medroso. A corte era corrupta. E juntos eles conseguiram enganar Napoleão e mudar a história de Portugal e do Brasil. Nada disso é ficção. Aliás, eu não fiz um livro de ficção. Fiz um livro de História, no qual cada informação é fundamentada em referências bibliográficas e todas citadas nas páginas finais da obra.

Qual o diferencial do livro 1808 para os outros de história já existentes? Infelizmente, a história da corte portuguesa no Brasil permanece até hoje muito contaminada pela caricatura. Um exemplo é o filme Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, da cineasta Carla Camurati. O D. João interpretado pelo ator Marco Nanini é um rei abobalhado, comedor de franguinhos assados e incapaz de tomar qualquer decisão. A Carlota Joaquina, que aparece na pele da atriz Marieta Severo, é um rainha pérfida, maquiavélica e devassa. Essas visões são fruto do preconceito. No meu livro, procuro demonstrar que os personagens da corte de D. João VI eram, sim, caricatos, mas quem for a Brasília hoje vai encontrar gente tão ou até mais caricata do que naquela época. O que está errado é limitar o papel desses personagens à simples caricatura. Eles tiveram uma importância para a história do Brasil e de Portugal que vai muito além disso.

Vários historiadores publicaram críticas em relação à linguagem utilizada no livro e também quanto a suposta falta de novidades. O que você tem a dizer sobre isso? Na introdução do livro eu explico que não tive a ambição de fazer uma obra acadêmica. Fiz uma reportagem em forma de livro, que bebe na fonte do profundo conhecimento acadêmico já produzido sobre o assunto no Brasil. Devo o meu livro, portanto, aos muitos e competentes historiadores que me antecederam. Meu objetivo com “1808” era, portanto, contar essa história com linguagem jornalística, o que o torna bastante acessível aos leitores comuns. Discordo no que diz respeito à falta de novidades. O livro procura corrigir alguns mitos a respeito desse importantíssimo evento da história brasileira, como a escala de D. João na Bahia. Além disso, no final, o livro traz informações inéditas sobre a vida do arquivista real Luiz Joaquim dos Santos Marrocos. Considero uma contribuição, ainda que modesta, para a historiografia brasileira sobre o período. Portanto, o livro tem novidade, sim. Basta lê-lo com atenção para perceber isso. Mas a principal novidade é que ele está sendo lido com prazer por centenas de milhares de brasileiros. Essa, sim, é a minha grande recompensa.

No subtítulo, você diz : “ Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”. Isso é uma conclusão pessoal ou existe comprovação histórica para tais fatos? Usei esse subtítulo provocativo de forma proposital, para chamar a atenção do leitor. Acho que é uma obrigação dos jornalistas transformar assuntos relevantes, complexos e difíceis de entender em reportagens atraentes e de fácil compreensão para seus leitores mais leigos. Isso exige fazer títulos, subtítulos, legendas e textos que sejam sedutores e irresistíveis. É preciso levar em conta que, no mundo atual, estamos sempre competindo pelo tempo e pela atenção dos leitores.

O livro pode ser classificado como Livro Reportagem? Quais as técnicas utilizadas para a redação do livro? Sim, “1808” é um livro reportagem sobre acontecimentos de duzentos anos atrás. Das técnicas de apuração jornalística, a única que não pude usar foi a de entrevistas com os perso-

Pintura extraída do livro que mostra a partida da família real rumo ao Brasil

nagens pela óbvia razão que já estão todos mortos. Mas entrevistei especialistas em história naval, consultei bancos genealógicos, compilei inúmeros documentos e visitei sites especializados em atualização monetária – para saber quanto custaria hoje, por exemplo, um escravo que em 1808 eram comprado por 98 mil réis. Ou seja, foi a mais longa, profunda e exaustiva reportagem que fiz na vida Após lançar o olhar sobre esse período, fica mais fácil entender o Brasil hoje? Por que? Estudar história é fundamental para entender o que o historiador Sérgio Buarque de Holanda definiu como as "raízes do Brasil". Não dá para explicar o Brasil de hoje sem entender o que aconteceu aqui duzentos anos atrás. Problemas brasileiros que julgamos muito atuais - como a corrupção, a troca de favores, a criminalidade e a desigualdade social - já estavam profundamente fincadas na realidade nacional no tempo de D. João VI. Os treze anos que D. João e a corte portuguesa permaneceram no Brasil foram um período de muita corrupção, troca de favores e promiscuidade entre os negócios públicos e privados. Já naquela época o Rio de Janeiro era uma cidade violenta, em que as pessoas eram assaltadas na rua ou podiam ser atingidas por pedradas disparadas ao acaso, tanto quanto hoje podem ser vítimas de balas perdidas. Mas ali estava nascendo também o país grande, integrado, relativamente tolerante do ponto de vista racial, político e religioso que temos hoje. É como se 1808 fosse o nosso código genético, para o bem e para o mal. O estudo do passado é, portanto, fundamental para entender o presente e tentar encontrar as soluções que o país precisa.


08/09

- Esportes

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Editor e diagramador da página: Rodrigo Espeschit / Editores Ad

o pont

08 E S P O R T E S

Belo Horizonte – Abr

ARBITR

muito aquém do f PAÍS DO FUTEBOL SOFRE COM FRACA ATUAÇÃO DOS ÁRBITROS E A PEDRO HENRIQUE VIEIRA 5º PERÍODO

tragem no Brasil, e 12, dos 18 entrevistados, responderam sim.

“Bom árbitro é aquele que não aparece Regulamentação complicada Presidente interino da Comissão de Arbiem campo”. Esta velha máxima do futebol mundial há tempos não se enquadra na ar- tragem da Federação Mineira de Futebol bitragem brasileira. Mal preparados, os ár- (FMF), José Eugênio é a favor da regulamenbitros muitas vezes se destacam mais que os tação da arbitragem, mas pela atual situação, verdadeiros protagonistas do futebol: os jo- acredita que não acontecerá em pelo menos 20 anos: “A possibilidade de gadores. Com fracas atuaprofissionalizar os árbitros ções, em várias oportunie assistentes é mínima, pois dades os donos do apito no são vários em todo o Brasil. Brasil interferem no resulAssim, eles têm que ter outado, utilizando critérios tro emprego. Mas tinha que duvidosos, não deixando o regularizar a profissão, pois jogo seguir, inventando falteríamos salário, carteira astas, não marcando outras sinada, podendo ter patroclaras ou se confundindo na cínio, assim como os clubes aplicação dos cartões. Entêm para pagar seus jogafim, grande parte dos árbidores. Quem tem que correr tros do país prejudica alatrás disso é o Sindicato dos guns clubes e atrapalha o Árbitros”. bom andamento de uma Segundo o vice-prepartida de futebol. sidente do Sindicato dos Essa falta de qualidade Árbitros de Futebol de Mimuitas vezes está ligada ao nas Gerais e presidente do fato de a profissão não ser José Eugênio - Presidente interino da regulamentada, sendo o ár- Comissão de Arbitragem da Federação conselho da Associação Nacional dos Árbitros de Futebitro um prestador de servi- Mineira de Futebol bol (ANAF), Aguinel Faria ço, recebendo por jogo. IsMozzer, já está no Congresso faz com que ele tenha outro emprego, não podendo dedicar-se exclu- so, há mais de dois anos, uma proposta de resivamente à arbitragem, resultando na falta gulamentação da arbitragem: “Estamos otide tempo para se preparar fisicamente e es- mistas. É bem provável que a profissão seja regulamentada, pois é algo óbvio e necessátudar a fundo as regras do futebol. Para o árbitro Juliano Lopes Lobato, 35, rio. O ofício sequer é reconhecido”. Atualmente, os clubes no Brasil enfrentam que é do quadro de arbitragem da Federação Mineira de Futebol (FMF) e da Confederação grandes dificuldades para manter seus craques Brasileira de Futebol (CBF), é inviável um ár- no elenco, sanar dívidas, montar uma equipe bitro não ter outro emprego: “O profissional competitiva e investem pesado na estrutura, na não pode se dedicar 100% à arbitragem, por- contratação de jogadores, nas divisões de baque quando ele completar 45 anos de idade, se e nas áreas comerciais e jurídicas. E tudo isserá obrigado a abrir mão da carreira por de- so pode cair ladeira abaixo num erro da arbiterminação da FIFA (órgão máximo do fute- tragem, que muitas vezes decide uma partida. Para minimizar os questionamentos dos bol mundial)”. Árbitro há quase 12 anos, Lopes é professor de Educação Física, trabalha clubes e das torcidas quanto às escolhas dos com escolinhas de futebol e tem ainda duas árbitros para uma determinada partida, no quadras de grama sintética. Nas horas vagas, dia 15/05/2003, entrou em vigor a lei 10.671 pratica atividades físicas e participa das reu- do Estatuto do Torcedor, que impõe o sorteio como meio de selecionar os árbitros e assisniões da Comissão de Arbitragem. De acordo com pesquisa da revista Pla- tentes que vão atuar nas partidas de futebol car divulgada em março deste ano, dos 18 no Brasil. De acordo com José Eugênio, mesmo com árbitros e assistentes brasileiros entrevistados e que fazem parte do quadro da FIFA, esta imposição legal, a Federação Mineira de 13 alegaram que a arbitragem não é a sua Futebol tem a liberdade de escolher os árbiprincipal fonte de renda. A pesquisa per- tros: “Colocamos dois trios de arbitragem no guntou ainda à elite do apito no país se eles sorteio. É lógico que sempre selecionamos os são a favor da profissionalização da arbi- melhores. E o que sair, vai para o jogo”.

“A possibilidade de profissionalizar os

árbitros e assistentes é mínima. Assim, eles têm que ter

outro emprego”

De Pedro Henrique Vieira 5ºG

18 árbitros e assistentes

entrevistados, a arbitragem não é a principal fonte de renda para

13

deles.

Eduardo Costa

Crise na arbitragem nacional Atuando como árbitro assistente no futebol profissional de 1986 a 2003, ano em que começou a trabalhar na Federação Mineira de Futebol (FMF), José Eugênio assumiu interinamente a presidência da Comissão de Arbitragem em meio a uma crise na profissão em Minas Gerais. No fim de fevereiro deste ano, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu afastar sete árbitros mineiros de seu quadro nacional por causa do superfaturamento de passagens aéreas. Entre eles está Cléver Assunção Gonçalves, que trabalhou em dez partidas do Campeonato Brasileiro da Série A no ano passado. Afastados, os árbitros acusaram o então presidente da Comissão de Arbitragem da FMF, Lincoln Afonso Bicalho, de pressionar os juízes para que manipulassem resultados de jogos no Campeonato Mineiro e na Série B do Brasileiro do ano passado. Bicalho se afastou do cargo até que tudo seja esclarecido. Sendo assim, José Eugênio, então secretário da Comissão de Arbitragem, assumiu o cargo. Até o fechamento desta edição, Bicalho continuava afastado. Em cenário nacional, o episódio mais lamentável dos últimos tempos na história da arbitragem no futebol brasileiro aconteceu em 2005, quando os árbitros Edílson Pereira de Carvalho (FIFA) e José Paulo Danelon foram acusados de manipularem resultados dos jogos da primeira e segunda divisão do Campeonato Bra-

sileiro. Eles “negociavam” com o empresário Nagib Fayad para interferirem no placar das partidas que eram pleiteadas em sites de apostas. A denúncia, feita pela revista Veja em outubro daquele ano, ganhou ampla repercussão e fez com que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) anulasse todos os 11 jogos apitados por Edílson, que foi preso com Fayad no dia 24 de outubro daquele ano. O cancelamento das partidas beneficiou o Corinthians, que em novas partidas, recuperou quatro pontos por conta da vitória sobre o Santos e do empate com o São Paulo. Antes da anulação, o clube do Parque São Jorge tinha perdido os dois clássicos. O Internacional alega ter sido prejudicado, pois tinha grandes chances de levantar o caneco. Isso porque o Corinthians foi Campeão Brasileiro em 2005 com apenas três pontos a frente da equipe do Rio Grande do Sul. Fatos memoráveis na história do futebol apontam erros gravíssimos da arbitragem brasileira, o que, em sua maioria, causaram a interferência direta no resultado de uma partida. Mas sai ano, entra ano e ela continua a mesma: fraca, perturbada e espalhafatosa. A regulamentação da profissão melhoraria gradativamente o nível da arbitragem no Brasil, mas sem comprometimento, seriedade e imparcialidade, continuaria na mesma. Árbitro é juiz, ele tem que aplicar as regras de forma clara e correta. A justiça não pode olhar tendenciosamente para nenhum dos lados, pois sua principal característica é justamente a imparcialidade. Já passou da hora dos clubes, entidades e torcedores acordarem e não admitirem que o país que tem a competição nacional mais disputada do planeta, que é o maior exportador de jogadores do mundo e é reverenciado como a nação do futebol, possa sofrer com a carência do bom e competente árbitro.


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- Esportes

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tores Adjuntos: Ana Luiza Grandinetti e Bruno Chiari - 6º Período

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RAGEM

futebol brasileiro

E ASSISTE CALADO A NÃO REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO

Tecnologia não é bem-vinda no futebol Vários esportes utilizam a tecnologia visando a melhoria da arbitragem. Não é o caso do futebol. A FIFA, responsável por determinar as regras do futebol, descartou a inovação da chamada bola inteligente, que contém um chip em seu interior e tem como objetivo avisar ao árbitro o momento em que a bola ultrapassasse a linha do gol. O presidente da entidade, Joseph Blatter, é contrário também ao uso do videoteipe, assim como a utilização de outros mecanismos tecnológicos, como câmeras nas traves. O órgão decidiu, ainda, suspender todos os recursos, ignorando possíveis avanços para minimizar os erros dos árbitros dentro de campo. José Eugênio, presidente interino da Comissão de Arbitragem da FMF, também não é a favor do videoteipe, quando o árbitro pára o jogo para conferir se a marcação está correta ou não, como é o caso do Tênis e do Vôlei. Para ele, isso acabaria com a magia do futebol, diminuiria o público, pois o esporte vive é da polêmica. “O problema da arbitragem é justamente a tecnologia. Quando eu trabalhava nos anos 80 e 90, tinha pouquíssimas câmeras no estádio. Não aparecia tanta coisa. Mas hoje existem várias, e isso possibilita a televisão mostrar todos os lances detalhadamente, identificando o erro da arbitragem. É complicado para um árbitro, que é um ser humano, competir com a tecnologia”, avalia o presidente interino. Em contra partida, a FIFA anunciou que deve testar a utilização de mais dois árbitros assistentes, visando aprimorar a marcação de impedimentos. Uma inovação que visa melhorar a qualidade da arbitragem no futebol sempre é válida, mas fica a dúvida sobre a sua eficiência. Há alguns anos, a pedido da FIFA, a Federação Paulista de Futebol utilizou dois árbitros em

campo, mas a iniciativa não deu certo, pois os profissionais têm critérios e interpretações diferentes, o que causou contradição na marcação de determinados lances. Na opinião do diretor de futebol do Atlético e ex-jogador, Beto Arantes, vários esportes no Brasil e no mundo evoluíram, tanto na parte tecnológica, quanto na mudança de algumas regras, e o futebol permanece quase intacto desde sua iniciação. Arantes destaca que grandes mudanças podem fazer com que o esporte mais querido do Brasil perca um pouco de seu brilho: “O futebol é bom porque ele é do jeito que ele é. É aquele menino que nasceu nu e vai morrer nu”. Pedro Henrique Vieira 5ºG

Para ser um árbitro de futebol em Minas Gerais, o interessado tem que fazer sua inscrição na Federação Mineira de Futebol (FMF) e realizar um curso durante oito meses, com aulas teóricas ministradas uma vez por semana e as práticas acontecendo duas vezes ao mês nos campos de futebol. Concluído o curso, o árbitro recebe o certificado da FMF e começa a trabalhar nas categorias inferiores amadoras (mirim, pré-mirim e infantil). Após esse início, ele passa a apitar partidas do futebol amador adulto. Sobressaindo-se, ele começa a atuar nas categorias de base, iniciando no infantil, juvenil e, posteriormente, no júnior. Chegando a esta última categoria, o árbitro está apto para trabalhar na 2ª divisão do Campeonato Mineiro, depois no Módulo II e, em seguida, na elite do futebol de Minas Gerais. Destacando-se em território mineiro, o árbitro é indicado para o quadro da CBF e, posteriormente, para o da FIFA. Mas existem critérios para pertencer ao quadro internacional: o árbitro tem que ter no máximo 37 anos de idade e ter atuado por, no mínimo, dois

Beto Arantes, diretor de futebol do Atlético, é contra o uso da tecnologia no futebol

Remuneração dos árbitros e assistentes Sendo prestador de serviço, os árbitros não têm salário fixo. No Módulo I do Campeonato Mineiro, a menor quantia que o árbitro recebe por jogo é R$1.000, e os assistentes, R$500. Ambos recebem passagens e diárias, cujo valor desta última é duas

Como se tornar árbitro

vezes o valor do bilhete de viagem. Sendo do quadro da FIFA, tanto os árbitros quanto os assistentes ganham 50% a mais destes valores. Já no Módulo II, o juiz ganha R$450, e os assistentes, R$225. No Campeonato Brasileiro da Série A, a taxa é

bem mais generosa, com o árbitro FIFA ganhando R$2.700, mais R$300 de diária, mais passagens. Os assistentes que pertencem à entidade recebem R$1.300. Do quadro básico, caso do árbitro Juliano Lopes Lobato, a taxa é de R$1.600 por partida.

anos na Série A do Campeonato Brasileiro. Além disso, é preciso haver disponibilidade de vagas para entrar no quadro de arbitragem do órgão máximo do futebol.

Fatos memoráveis que marcaram a arbitragem mundial Nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1986, a Argentina venceu a Inglaterra por 2 a 1 graças a mão salvadora de Maradona, que disse: “fiz o gol com a cabeça e a mão de Deus”. Em outra ocasião, a Seleção Brasileira fez a Argentina provar do próprio veneno. Na Copa América de 1995, Túlio Maravilha ajeitou a bola com o braço e chutou para marcar. O Brasil venceu a partida nos pênaltis. Duieguito fez escola. Na semifinal do Campeonato Paulista deste ano, o imperador Adriano abriu o placar contra o arqui-rival Palmeiras num peixinho usando a mão para fazer o gol. Na década de 40, Cidinho ficou conhecido como o juiz “bola nossa”. Em um jogo entre Atlético e Botafogo a bola saiu para lateral e o jogador do Galo perguntou para o juiz de quem era a bola. Cidinho, declaradamenete atleticano, respondeu: “É nossa, Afonso, a bola é nossa”. Em 1973, o jogo entre Santos e Portuguesa terminou sem gols. Na disputa de pênaltis, o juiz Armando Marques errou a contagem dos gols e consagrou o Santos campeão paulista daquele ano, quando a Portuguesa ainda tinha duas cobranças a serem realizadas.

O Cruzeiro tinha a melhor campanha em 1974 e a vantagem de decidir a final do campeonato brasileiro contra o Vasco em casa. Alegando falta de segurança (sic), a diretoria cruzmaltina conseguiu reverter o mando de campo para o Maracanã. Bastava um empate para o Cruzeiro ser campeão. Nos minutos finais, quando o jogo estava 2 a 1 para a equipe carioca, o árbitro Armando Marques anulou um gol legítimo do time celeste. No ano de 1981, Atlético e Flamengo disputaram um jogo extra para decidir quem se classificaria para a próxima fase da Copa Libertadores. Em um apito escandaloso, o árbitro José Roberto Wright encerrou a partida aos 37 minutos do primeiro tempo, quando o quinto jogador atleticano foi expulso, sem motivo aparente, impossibilitando o término da partida.


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Laboratório de Publicidade e Propaganda

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Belo Horizonte – Abril / Maio 2008


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Editores e diagramadores da página: Pedro Henrique Vieira e Poliane Bôsco 5º e 7º Período

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E S P O R T E S 11

PAIXÃO CENTENÁRIA CLUBE ATLÉTICO MINEIRO CELEBRA 100 ANOS AO LADO DE SEU MAIOR PATRIMÔNIO: A MASSA Fotos: Pedro Henrique Vieira 5º G

PEDRO HENRIQUE VIEIRA 5ºPERÍODO Quem poderia imaginar que um grupo de senhoras, organizado por D. Alice Neves, iria se tornar uma das torcidas mais fanáticas do futebol nacional? No ano em que comemora seus 100 anos de existência, o Clube Atlético Mineiro se orgulha de ter uma torcida apaixonada, maior patrimônio do clube. D. Alice Neves foi um símbolo no início da história do clube. Mãe de Mário Neves, um dos fundadores do Atlético, ela fez de sua casa o lar dos atleticanos. Lá aconteceram as primeiras reuniões do time, e se tornou a sede da torcida feminina alvinegra. D. Alice foi a organizadora da torcida uniformizada. Camisas, calções, bandeiras e escudos; o primeiro uniforme e o primeiro esquadrão em preto e branco foram bordados a mão por essa apaixonada torcedora. Sua sombrinha ficou conhecida como instrumento para calar os desafetos. Ai de quem falasse mal do Atlético. No ano de 1969 o Galo marcou a história do futebol como o único clube a vencer a Seleção Brasileira. Classificada para a Copa do Mundo de 1970, a Seleção Canarinho realizou um jogo amistoso em preparação para o mundial. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF), escolheu o Clube Atlético Mineiro para encarar as “feras do Saldanha”. Ao contrário do que todos esperavam, o Atlético ganhou da Seleção Brasileira por 2 a 1. A torcida foi à loucura e cantou: “1 2 3, o Brasil é freguês” e “4 5 6, vem mais forte da outra vez”. Servidora da Prefeitura de Belo Horizonte na época, D. Marilena Alves de Oliveira, hoje com 70 anos, estava presente naquele jogo com mais de 70 mil atleticanos no Mineirão. “Somos todos brasileiros e apaixonados por este país, mas, naquele dia, existia uma única nação no coração do atleticano: o Clube Atlético Mineiro”, relembra. Depois desse feito, o Galo conquistou, em 1971, o principal título de sua história: o primeiro Campeonato Brasileiro. O Atlético foi ao Maracanã jogar a final contra o Botafogo e mais de 20 mil torcedores atleticanos acompanharam o time à cidade maravilhosa. D. Marilena conta que saiu de Belo Horizonte num fusquinha com sete pessoas, entre elas seus três filhos pequenos. Ela viu o Galo sagrar-se campeão, após vencer o clube carioca por 1 a 0. A crise e a volta por cima Nos últimos anos, a torcida viu a administração do Atlético se atolar em dívidas, acumulando um déficit de cerca de 220 milhões de reais. O Atlético iniciou o século XXI em maus lençóis. Depois da boa campanha no ano de 1999, quando conquistou o Campeonato Mineiro e chegou à final do Brasileiro, e o título do Estadual em 2000, o clube ficou seis anos sem levantar um troféu. Em 2005, depois de permanecer na primeira divisão desde o início do Campeonato Brasileiro em 1971, foi rebaixado para a Série B. Em 2006, quando o Galo viveu o ano mais conturbado de sua história, jogando pela segunda divisão, buscou apoio em seu patrimônio maior: a Massa Atleticana. Com um público de 606.520 torcedores em 19 jogos disputados em casa, a torcida alvinegra teve a melhor média de público das três divisões do futebol brasileiro, com 31.922 pagantes por jogo. O apoio fez com que o Galo se reerguesse, voltando à Série A como campeão da segunda divisão. No último jogo, no confronto contra o América-RN, outro recorde: o público de 74.694 torcedores no Mineirão. Para D. Marilena, que já esteve em vários estádios do Brasil e conheceu diversas torcidas, nenhuma se iguala a do Atlético: “Nenhuma chega perto da Massa. O Galo é tudo: é alegria, tristeza; uma parte lá dentro da gente reserva um lugar especial para o Atlético”. Em homenagem à torcida alvinegra, o vereador e ex-jogador do Galo, Reinaldo Lima, criou a Lei nº 9.483/07 que reserva o dia 25 de março como o Dia do Atleticano. Durante esses 100 anos de história do Atlético, o Cruzeiro se firmou como o maior rival dos atleticanos. Para o diretor de Comunicação do Cruzeiro, Guilherme Mendes, o Atlético tem história e tradição que merecem ser respeitadas: “O Cruzeiro tem pelo Atlético Mineiro o respeito que todo time importante do futebol merece. No primeiro clássico do ano, prestamos uma homenagem (placa comemorativa) ao nosso rival pelo seu centenário. Em nossas partidas conseguimos mobilizar milhares de pessoas. O maior clássico de Minas Gerais se tornou um dos mais especiais do futebol porque envolve uma enorme paixão”, comenta. De 1965, quando “nasceu” o Mineirão, até 2007, o Atlético levou cerca de 1,6 milhão de torcedores a mais que o clube azul. Além disso, o maior público pagante do estádio é do Galo: 115.142 torcedores no jogo amistoso contra o Flamengo, em 1980. Somando todos os anos do Campeonato Brasileiro, a torcida do Atlético é dona da segunda melhor média de público: 24.563 torcedores por jogo.

“Amor pelo Atlético é cultural” O deputado estadual João Leite marcou época no Atlético. O ex-goleiro, que foi revelado no clube, vestiu a camisa atleticana em 684 partidas, sendo o atleta que mais atuou no profissional do Galo. Atleticano desde criança, quando seu pai o levava ao estádio para ver o Galo, João Leite não esconde sua paixão pelo clube e sua admiração pela torcida. O PONTO: Como você se sente sendo o jogador que mais atuou pelo Atlético? João Leite: Fico muito honrado de ter jogado num time tão querido, que faz parte da cultura de Minas Gerais e do Brasil. O Atlético representa muito para mim, é uma parte significativa na minha vida. Op: Na política desde 1993, você nunca pensou em assumir a presidência do Atlético? JL: Os atleticanos me pedem isso nas ruas, mas tomei uma decisão quando ingressei na política de não me envolver na vida do clube. Por enquanto não tenho interesse em disputar a presidência do Atlético, pois o modelo que eles usam está exaurido. Espero que venha uma mudança. OP: O que você acha do atual momento do Atlético? JL: O sucesso do Atlético sempre esteve ligado aos jovens jogadores. O clube tem que investir nas categorias de base, não comprar atletas através do que viu em DVD. Hoje o time tem uma boa estrutura física, com um grande centro de treinamento que é a Cidade do Galo. Isso melhorou muito, tanto para a preparação dos profissionais, como para os jogadores da base. OP: Quais foram os fatos mais marcantes na sua passagem pelo Atlético? JL: Pelo lado positivo, foram as conquistas do hexacampeonato mineiro (1978 a 1983), pois eu estive presente em todas. Pelo lado negativo, foi a perda do Campeonato Brasileiro em 1977. A expectativa em cima do Atlético naquele ano era muito grande, mas devido ao injusto regulamento, fomos vicecampeões invictos, perdendo para o São Paulo na final na decisão por pênaltis. Aquele momento foi muito difícil. OP: Como você vê a atuação da torcida na vida do Galo? JL: O fanatismo da torcida pelo Atlético não têm explicação e marca a história do clube. Talvez mereça um estudo de caso. O atleticano não torce por causa de títulos, sim porque ama o time. É uma coisa de família, os filhos já nascem atleticanos. É muito forte a ligação da torcida com o clube, e essa relação com os jogadores faz parte da história do Galo. O amor pelo Atlético é cultural, está no imaginário das pessoas.


12 - Meio Ambiente

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11:49 AM

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Editor e diagramador da página: Samuel Aguiar 6º Período

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Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

Um projeto de sucesso CERCA DE MIL E SEISSENTAS PESSOAS SÃO BENEFICIADAS POR INDÚSTRIA DE PLÁSTICO

A leveza e a maleabilidade fazem do plástico um dos materiais preferidos para embalar e transportar produtos. Seu baixo custo de produção e o pouco risco no seu manuseio são outras vantagens que esse produto oferece. Resultado: o mundo consome 100 milhões de toneladas de materiais plásticos todos os anos (dados da Science Society Sustainability), quantidade que vem crescendo de três a quatro por cento a cada ano. Desse total, 37 milhões de toneladas são destinadas à produção de embalagens plásticas. Porém a indústria plástica criou um dos maiores problemas deste século: a eliminação do lixo plástico. Os materiais plásticos ocupam muito espaço nos aterros, devido a dificuldades de compactação e à sua baixa degradabilidade. As embalagens plásticas, lançadas indevidamente no ambiente, contribuem para entupimentos, proporcionam condições de proli-

feração de doenças e agridem a fauna aquática (dados da SLU) Uma das formas encontradas para resolver esse problema é a reciclagem desses resíduos. Além de práticos, os materiais plásticos são totalmente recicláveis. A reciclagem não só reduz a quantidade de lixo nos aterros sanitários (aumentando sua vida útil), como acelera a decomposição da matéria orgânica (o plástico impermeabiliza as camadas de material biologicamente degradáveis, prejudicando a circulação de gases e líquidos, o que prejudica a decomposição de material orgânico).

Meio de vida O que para uns é visto com um problema, um desafio e até mesmo um infortúnio, para outras é vista como oportunidade e solução. Foi assim que centenas de pessoas espalhadas pelo mundo começaram a “enxergar” o lixo. Em países onde existem milhares de miseráveis, como o Brasil, o lixo é um meio de vida. “Conheço pessoas que viraram catadores e hoje sustentam famílias de mais de cinco

pessoas. Pessoas que antes de serem catadores eram mendigos, viciados, prostitutas, ladrões e até ex-traficantes. Gente que não tinha onde cair morta!”, explica Henrique Motta Pedrosa, administrador da Unidade Industrial de Processamento Plástico, localizada no bairro Juliana, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Inaugurada em agosto de 2007, a fábrica foi construída em um terreno de 8 mil metros quadrados cedidos pela Prefeitura de Belo Horizonte.A obra teve um custo de 4,2 milhões de reais, incluindo equipamentos, investidos pelo governo federal. “Trata-se de um projeto único. A diretoria da cooperativa é composta somente por catadores e administrada com apoio de um técnico na parte administrativa. O lucro é dividido em três partes: investimento na fábrica, divisão entre as nove associações de catadores que fazem parte da cooperativa e a terceira parte vai ser investida na comunidade local, que possui um acordo para a instalação da fábrica”, explica Pedrosa.

O produto gerado pela indústria é o pellet – uma forma semi-industrializada de plástico, que é a matéria-prima da indústria plástica. O pellet é vendido para outras empresas do ramo, pelos próprios catadores. “Mil e seiscentas pessoas são beneficiadas direta e indiretamente pela fábrica. Sendo que são

processadas em média por dia entre mil e quinhentas e mil e oitocentas toneladas de lixo plástico. A idéia é atingir dois mil e quinhentas toneladas ao dia.” Mas segundo Pedrosa, o maior triunfo da fábrica não é esse. “As associações passaram a comercializar seu produto diretamente com as

fábricas. Eliminaram assim os atravessadores, para que o lucro possa ser dos catadores, dividindo entre eles. A gente torce para que dê certo, que essas pessoas possam ter uma vida melhor e um pouco de dignidade. Aliás, não é fácil empurrar um carrinho com até 900 quilos debaixo do sol”. Samuel Aguiar - 6º período

RAPHAEL COSTA RODRIGO BORTOLINI 8º PERÍODO

Sacola contribui para preservação ambiental FLÁVIA GUERRA SAMUEL AGUIAR 6º PERÍODO Arquiteta Maria Cecília Guerra C. Torres, 25 anos é adepta do uso de sacolas retornáveis desde novembro do ano passado, começou a perceber, em níveis palpáveis das modificações geradas no clima em função do aquecimento global com as conseqüências de se jogar sacolas em lixos domésticos. “Pesquisando sobre o assunto, percebi que todos nos podemos fazer um mínimo de esforço para impedir que se agrave esta situação. Cuidar de onde vivemos é primordial”, relata Cecília. Em um país como o Brasil, pode-se se dizer que selecionar e separar os lixos, uma questão social. Além do mais, existem pessoas que sobrevivem do lixo e passam o dia fazendo o trabalho que cada um deveria fazer, porém, sem estrutura e em condições insalubres.

Em Belo Horizonte foi sancionado a lei que determina um prazo máximo para que todo o comércio substitua a sacola branca por sacolas biodegradáveis. “O que ajudará muito, uma vez que elas são responsáveis por 10% do lixo gerado, impedem a decomposição do lixo orgânico e ainda entopem esgotos e vias fluviais”, e acrescenta “Poupar energia, gerar menos lixo e separá-lo são três questões básicas.Chegamos ao ponto que não podemos jogar responsabilidade para futuras gerações. O problema existe, é grave e já nos atinge”, ressalta. Para a arquiteta, levar a sacola retornável às compras de supermercado e padaria, não só contribui com o meio ambiente como também incentiva de modo indiretamente as pessoas, para que assim se familiarizem com a cena. “A mídia tem um papel importantíssimo de informar o cidadão sobre o prejuízo que as sacolas brancas causam à natureza e os anos

que elas levam para se decompor”, diz. O simples saco plástico atual não é biodegradável. Leva séculos para se decompor no meio ambiente, de forma agressiva em razão das moléculas serem inquebráveis, além disso, as partículas do plástico fragmentado infiltram-se no solo e contaminam os lençóis freáticos. Se a conscientização for coletiva, haverá uma redução incrível de sacos plásticos descartados no mundo. Calcula-se 1 milhão de sacolas jogadas fora por minuto, ou seja, quase 1,5 bilhão por dia, num resultado que chega a 500 bilhões por ano. Ambientalistas sugerem uma solução, como voltar o antigo hábito de carregar sacolas de pano às compras. Uma idéia de influência aos consumidores que pode ser aplicada, com custo baixo, sendo fabricada com o próprio estilo e manualmente, utilizando materiais 100% renováveis. Vale a pena consumir esta idéia.

Muitos supermercados ainda não aderiram ao uso de sacolas recicláveis

Saiba mais sobre o plástico • Vantagens do uso de Plásticos: Menor consumo de energia na sua produção. Redução do peso do lixo. Menor custo de coleta e destino final. Poucos riscos no manuseio. Além de práticos, são totalmente recicláveis. • Fatores que estimulam a Reciclagem: Redução do volume de lixo a transportar: tratamento e disposição. Aumento da vida útil dos locais de deposição de lixo • Plásticos são derivados do petróleo, produto importado (60% do total no Brasil). • O lixo brasileiro contém de 5 a 10% de plásticos, conforme o local.

Saiba mais sobre a fábrica • A fábrica fica localizada na Rua Alberto Gomes da Fonseca, no bairro Juliana, Região Norte de BH. • A obra teve um custo de 4,2 milhões de reais, incluindo os equipamentos.

• Média coletada de plástico pela Prefeitura: 90 toneladas/mês. • Do total de plásticos produzidos no Brasil, só reciclamos 15%.

• A fábrica foi construída em um terreno de 8 mil metros quadrados. • A fábrica só começou a operar no início de 2007.

• O tempo de decomposição do plástico é estimado em cerca de 450 anos.

• Atualmente 14 pessoas trabalham na fábrica.

• De acordo com último censo publicado pela Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), foram recicladas, em 2005, no Brasil 174 toneladas do PET, número que representa 47% do total comercializado.

• Diretamente e indiretamente a fábrica beneficia 1500 pessoas.

• Atualmente, o maior mercado para o PET pós-consumo é a produção de fibra de poliéster para indústria têxtil, onde é aplicado na fabricação de fios de costura, forrações, tapetes e carpetes, além de mantas de TNT. Outra utilização muito freqüente é na fabricação de cerdas de vassouras e escovas.

• São processados hoje na fábrica uma média entre 1500 a 1800 toneladas por dia, mais a intenção é chegar no patamar de 2500 toneladas dia. • O produto gerado na indústria será o pellet - uma forma semi-industrializada de plástico que é a matéria-prima da indústria plástica - que posteriormente é comercializada para outras empresas.


13 -Comportamento

5/12/08

11:48 AM

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Editoras e diagramadoras da página: Laura Damasceno, Mariana Cyrne, Mariana S. Silveira

o ponto Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

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C O M P O R T A M E N T O 13

DO WOODSTOCK ÀS FESTAS RAVE DA UTILIZAÇÃO DAS DROGAS SINTÉTICAS COMO FORMA DE PROTESTO NA DÉCADA DE 60 AO USO BANALIZADO PELA JUVENTUDE NOS DIAS DE HOJE FABIANA MARTINS E MARIA IZABELLA 6º PERÍODO Para muitos, a década de 60 deixou saudades... A juventude participava diretamente das questões sociais e políticas, era contestadora, atuante, e assim, reinventava e difundia uma nova mentalidade. Na música, este foi um período transcendental, repleto de artistas expressivos cujas canções eram a trilha sonora perfeita para aqueles tempos. A lisergia dos Beatles, a poesia de Jim Morrison e o The Doors, a inconfundível voz de Janis Joplin e os imortais solos de guitarra do Jimi Hendrix são exemplos clássicos disso. Neste contexto, as drogas sintéticas passaram a ser utilizadas como forma de protesto aos rumos que o mundo estava tomando. O LSD (ácido lisérgico), mais que uma droga de boas sensações, se tornou parte de uma iniciação mística e espiritual, que colocava parte da geração sessentista em uma mesma sintonia. Estes anos foram fortemente marcados pela livre experimentação de drogas, pelo Rock’n’Roll (que teve como ponto auge o festival Woodstock em 1969) e pelo sexo sem culpa. Quase quarenta anos se passaram desde então e, de acordo com o Relatório Mundial sobre drogas realizado pela ONU em 2005, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de consumo de ecstasy da América Latina. Os motivos que levam a juventude de hoje ao consumo dessas drogas continuam em aberto: talvez seja a ausência de uma “bandeira ideológica”, a curiosi-

dade ou a simples vontade de experimentar o novo. Outro ponto curioso sobre essas substâncias é que, diferente do que se poderia imaginar, elas não estão nos morros: em sua maioria são consumidas e vendidas por pessoas instruídas e com boa condição social. Antigamente, o LSD e o ecstasy eram importados, trazidos ao Brasil por jovens com condição financeira estável, após viagens ao exterior. Com o passar dos anos e o aumento da procura por essas drogas, elas começaram a ser produzidas também no Brasil; mas continuaram sendo vendidas pelos jovens de 18 a 25 anos que consomem essas “valiosas” substâncias (um comprimido de ecstasy custa R$25 e o LSD R$30, em média). Para Janaina Moreira, psiquiatra do AMPARE (Associação Mineira de Pais e Amigos para Prevenção e Recuperação do abuso de drogas), apesar da idéia de que junto com o maior ganho material vem o maior acesso à informação e em conseqüência mais maturidade, isso nem sempre corresponde à realidade, uma vez que esse tipo de droga é utilizado por uma maioria supostamente esclarecida, de classe média. Ainda segundo a psiquiatra, outro fator que deve ser levado em conta são as graves consequências físicas e psicológicas causadas pelo uso dessas drogas. Os efeitos neurotóxicos do Ecstasy sobre os neurônios e a glia (membrana que os envolve e possibilita a transmissão de informações) são conhecidos há bastante tempo. Observa-se, entre outros sintomas: agitação, euforia, taquicardia, dor de cabeça, dores no pei-

to, pressão alta e elevação da temperatura corporal. Nos casos mais graves, pode levar a convulsões, alucinações, acidente vascular cerebral, arritmias, parada cardíaca, insuficiência dos rins, hipertemia maligna, entre outros. O uso excessivo deste processo causa lesões irreversíveis nestas células. De acordo com a Polícia Federal é difícil apreender as drogas sintéticas, pois elas são pequenas e fáceis de esconder. Em 2004, o número de ocorrências registradas pelo abuso de substâncias sintéticas em Minas Gerais foi de 170, e em 2006 passou para 474. De janeiro a abril deste ano foram apreendidos mais de 54 mil comprimidos de ecstasy no Brasil. Segundo autoridades, as festas de música eletrônica, também conhecidas como “raves”, são as principais difusoras de drogas. O produtor Otacilio Mesquita, dono da Multi Music Eventos, empresa responsável por 80% das festas eletrônicas produzidas em Minas, rebate a afirmação e garante que o combate às drogas feito nessas festas é o mesmo ou até maior do que o realizado em todos os outros tipos de evento. Outro ponto delicado desta questão é o tratamento contra a dependência química, já que não envolve apenas a interrupção de seu uso, mas o auxílio em relação a todo o processo de adoecimento da pessoa em questão, que geralmente tem seu processo de desenvolvimento atrasado e dificuldade para conseguir encarar as coisas de cara limpa, de frente, sem medo. Max Valadares

Depoimentos de quem experimentou drogas sintéticas* “Vendia para meus amigos, ‘chegados’ e até estranhos. Traficava porque gostava de ser conhecido; chegava nas festas e todo mundo sabia quem eu era, me respeitavam, eu tinha prestígio. Gastava R$3.000 por fim de semana; era muito dinheiro, fácil e rápido. Nessa época eu tomava cerca de 5 ‘balas’ (nome usado pelos jovens para se referir ao ecstasy) por noite.” João Pedro Cardoso, 20 anos, estudante e mora com sua família na região Centro-Sul da capital mineira. Durante alguns meses se envolveu com o tráfico de drogas sintéticas.

“ As drogas sintéticas estão em toda parte. Tem gente que toma para ir a sítios com os amigos, outros para irem a shows de música da Bahia, etc. Não podemos pôr a culpa só na música eletrônica, porque o problema vai muito além disso, é um problema da sociedade como um todo. Essas festas podem até levar mais ao uso da ‘bala’ e do ácido, mas conheço muita gente que vai a raves e não usa nenhum tipo de entorpecente, vai apenas para se divertir e curtir a música”. Carolina Alves, 21 anos, usuária

“As vezes sinto necessidade de ‘dar um tempo’ nas drogas, senão fico com uma sensação muito ruim”. Gabriel Valadares, 22 anos, admite fazer uso de drogas lisérgicas com certa frequência. Ele costuma consumí-las aos fins-de-semana. Jovens se divertem ao som de músicas eletrônicas - ambiente é considerado propício ao uso de drogas sintéticas como o LSD e o ecstasy

Quando, como e onde As drogas sintéticas são produzidas a partir de uma ou várias substâncias psicoativas em laboratórios semelhantes aos dos farmacêuticos. Essas drogas provocam alucinações no usuário por estimular ou deprimir seu sistema nervoso central. Podem ser consumidas sob as formas de injeção, comprimido ou pó, variando seu efeito e seus malefícios de acordo com a substância utilizada. As mais conhecidas são o LSD, ecstasy e anfetaminas.

LSD

A dietilamida do ácido lisérgico foi sintetizada pela primeira vez em 1938 e, em 1943, teve seus efeitos descobertos acidentalmente pelo químico suiço Albert Hofmann. Após o manuseio contínuo da substância, ele se viu afetado por sensações alucinógenas. Descobriu-se então que o LSD é tão potente que pode ser absorvido pela pele. A droga ganhou popularidade na década de 60 com o movimento psicodélico na Inglaterra e então difundiu-se entre universitários norte-americanos, hippies, músicos e intelectuais.

Ecstasy A metilenodioximetanfetamina MDMA, foi sintetizada pelo químico alemão Anton Kollisch, em 1914, para ser usada como redutor de apetite. Em 1960 foi redescoberta e indicada como elevador do estado de ânimo e complemento nas psicoterapias. Passou a ter uso recreativa em 1970 nos Estados Unidos e em 1985 foi proibida. Há 15 anos começou a ser usada na Inglaterra e hoje é consumida em maior parte por jovens de classe média em diversas partes do mundo.

* Os nomes dos entrevistados citados acima são ficticios.

Anfetamina

Surgiu em 1887 na Alemanha. Cerca de 40 anos depois começou a ser usada por médicos com o intuito de estimular o sistema nervoso central. Em 1932 foi lançada em versão comercial e, nas últimas décadas, passou a ser bastante usada em tratamentos para emagrecer, já que é temporariamente eficaz na redução do apetite. No entanto, com o passar do tempo o organismo desenvolve tolerância à anfetamina, tornando-se necessário o aumento contínuo das doses para se alcaçar os mesmos efeitos.


14 - Crônicas

5/12/08

11:49 AM

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Editoras da página: Adriana Gabriel, Bárbara Rodrigues, Poliane Bôsco 4º, 5º e 7º Períodos e diagramadora da página: Poliane Bôsco

AS CRÔNICAS A SEGUIR SÃO FRAGMENTOS DO COTIDIANO, POR MEIO DE DIVERSAS VISÕES. NO POEMA PRAZERES DA MESA, O SIMPLES ATO DE COMER É TRANSFORMADO EM SOLUÇÃO PARA AS AFLIÇÕES DO DIA-A-DIA. EM LÁ EM ITAPOÃ, UM BANHO DE MAR SE TORNA UM MOMENTO DE REFLEXÃO. ERA UMA VEZ UMA VIDA E MEMÓRIAS EM SILÊNCIO RELACIONAM A VIDA E O TEMPO, UMA DE MANEIRA REAL E A OUTRA FICTÍCIA.

Lá em Itapoã Era um moço sutil com olhar ameno de tristeza e um andar calmo que inspirava uma segurança desestruturada. O lugar era Itapoã, onde sempre fazia sol à tarde, um sol gostoso que deixava a pele a vontade. As pessoas transitavam na avenida como se transitassem por meio dele, como se todos aqueles lhe fossem raros e conseguissem passar o olho em sua alma exposta pelo sol amigo. Na verdade, estava indo banhar-se, refrescar toda aquela rotina que impregnava seu corpo como um poluente que não combinava com nenhum elemento da tabela periódica. E ao chegar, o êxtase de contemplar a imensidão do mar. Parece sempre a primeira vez: ele chega, encosta, vira-se para encarar o mar azul e movendo-se como uma estátua via todos seus amores passarem por ali.

Talvez lutar pelo meio ambiente E se lutasse contra a escravidão? Não conhecia nenhum escravo Gostaria de dar uma grande risada pensando na tristeza do mundo Não era insensível o bastante

Sentia-se um paliativo Era um fracasso mal sucedido Não causaria incômodo Preguiça de Ser Nojo da palavra Tédio da vida Comeria. Comer bem é a melhor vingança Vingança do não Ser Vingança da falta Do excesso que não existe

Era uma vez uma vida. Vivida como todas as outras têm o direito de serem vividas, apreciadas, aproveitadas para depois desfrutarem de sua efemeridade natural. É assim com todas as vidas, elas nascem, se desenvolvem, se reproduzem e morrem. Porém, certas vidas são interrompidas no meio do processo normal do curso. E não interrompidas no sentido literal, como o caso de tantas mortes que ocorrem injustamente não só nas favelas, não só no Rio, não só no Brasil. Pessoas morrem todos os dias em todos os lugares por todos os motivos. Porém, algumas perdas chocam mais que outras e, por isso, se tornam mais importantes, ou somente mais noticiosas. A escolhida da vez é a garotinha Isabella, atirada do 6° andar do prédio de apartamentos onde moram seu pai e sua madrasta. O que mais choca nessa história é que o fato em si, a morte da garotinha, já ficou em segundo plano. O que importa agora é o salseiro que se criou em torno da suposta culpa do casal Nardoni, seu pai e madrasta. Por isso, voltemos ao início do texto: Era uma vez uma vida... Em março de 1994, diversos veículos de imprensa publicaram uma série de reportagens sobre supostas denúncias de abuso sexual contra alunas da Escola Base, em São Paulo. Entre os acusados estavam pais, os donos da escola e funcionários. O delegado responsável pelo caso divulgou informações à imprensa baseadas em avaliações e investigações preliminares. É fundamental res-

saltar que a veracidade das informações não havia sido devidamente checada. Ainda assim, as informações foram divulgadas. O resultado dessa irresponsável atitude

B o rg e s º G 5

Queria sentir a dor do mundo Lamentar a fome da Somália Sofrer a exclusão Morrer de solidão Nem com isso se importava

le dia, mas porque havia chovido lá e o sol veio logo em seguida. Depois ia sempre beber debaixo dos coqueirais que, para ele, eram responsáveis por uma paz a qual ele não conseguia exprimir em palavras. O que ele não sabia é que não eram os coqueiros os responsáveis, mas sua falta de sobriedade que começava a gritar. O sol se punha e com ele todo o desejo do inédito que o moço sempre esperava. Suas expectativas eram ofuscadas pela ambiguidade do lugar, que representava seu mais claro gozo de medo: o de nunca conseguir sair de Itapoã.

VINÍCIUS LACERDA 7º PERÍODO

Era uma vez uma vida...

au l o

Comeu até seu último suspiro Seria seu maior problema

Esses amores são carregados. Uns eram mais leves e careciam de mão-de-obra menos complexa, como a luxúria que trabalha dia e noite sem parar, pois faz questão de estar presente. Outras, porém, tem o peso de uma tonelada, e passam devagar, com detalhes físicos explícitos e eram carregados, geralmente, pelo amor. Que, diga-se de passagem, é um ótimo carregador, mas cobra muito caro. Passado o movimento nostálgico da frustação, o moço encaminhava-se para o bar com o intuito de beber todas as suas verdes águas ardentes que pareciam esperar o seu mais fervoroso fã. A barraca era um pouco mais elevada que as outras, lá era possível sentir o vento de uma forma mais consistente e ter uma visão melhor do arco-íris que se formava naquele fim de tarde. Não porque era aque-

oP

Prazeres da Mesa

Cantaria pagode Não seria tão ridículo

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J oã

Crônicas e poesias

14 C R Ô N I C A S

o ponto Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

foi a depredação e saque da escola, a prisão dos donos do estabelecimento. O mais cruel foi o linchamento moral sofrido por todos os

envolvidos. Acusados e julgados pela imprensa que, por sua vez, suscitou o julgamento e condenação pela sociedade, os acusados tiveram suas Vidas praticamente exterminadas. Não no sentido de morte morrida, mas de morte moral, morte social. Ao longo das investigações, o caso foi arquivado por falta de provas, pois não havia qualquer fundamento que justificasse a denúncia. Ou seja, inocentes foram julgados e condenados a priori, e mesmo depois de inocentados pela justiça, o estrago já havia sido feito, a Vida já havia se esvaído, pelo menos enquanto a memória popular continuasse os julgando injustamente. O mérito aqui não é de julgar ou condenar ninguém, quem julga e condena é a Justiça. Mais uma vez estão condenando a priori um casal com base em laudos preliminares e inconclusivos. Polícia investiga, Justiça julga, Imprensa reporta... No Brasil, a lei vem sendo subvertida, pois as pessoas estão precisando se provar inocentes. Todo mundo e inocente até que se prove o contrário, e não o contrário. Responsabilidade... é o que se clama, para que mais uma vez não seja preciso escrever Era uma vez uma vida...

ÁLVARO CASTRO 5° PERÍODO

Comeu até o último suspiro Seria seu maior problema

MARCELA BOECHAT 7º PERÍODO

Se você também tem momentos de inspiração, envie suas crônicas, poesias, artigos e sugestões de pauta para o e-mail: redacao.monitoria fumec@gmail.com

Mémorias em Silêncio Era do antigo morador da casa da colina, um jornalista renomado na cidade. Ele também escrevia contos, os quais eu ajudei a contar. Às vezes este senhor passava as noites comigo, e de todo o trabalho que eu produzia jogava a metade fora. Mas não me importava, pois sabia que estava sendo instrumento para levar o saber, a cultura a alguém. O tempo passou e este senhor foi ficando velho, já não conseguia me utilizar com a mesma habilidade de antes. Por um tempo achei que este tivesse sido o motivo de ele ter me largado no sótão por longos meses... Porém, num belo dia, ou melhor, num péssimo dia, descobri a verdade: fora substituída por uma máquina mais jovem! A danada tinha placas de memória, teclas sem barulho e um rato pendurado por um fio, através do qual ouvi dizer que se podia "viajar o mundo em um click". Fiquei arrasada, me senti inútil, abandonada às poeiras... Apesar da novidade e da solidão daquele sótão, não me deixei abater. Sabia e sei do meu valor. Sem a minha invenção, a tal "moderninha" não teria sido possível. Além do que, se ela tem mais memória, eu tenho mais experiência, e ainda por cima não pifo tão fácil!

Depois de décadas no escuro, finalmente a tampa da caixa em que eu estava se abriu. Um homem com ar importante me retirou de lá de dentro, me analisou com muita atenção e depois disse que eu estava em ótimo estado. Minhas teclas saltitaram de emoção, "até que enfim vou voltar à ativa", pensei. Fui colocada no porta-malas de seu carro e enquanto era transportada fiquei a me perguntar que tipo de escritor seria o homem. Cheguei até a me imaginar ajudando a construir lindas cartas de amor, ou relatos de crimes, até que o automóvel parou. Me retiraram novamente da caixa só dentro do lugar, e foi aí que eu descobri que o homem não era escritor, era dono de um museu! E é lá que eu vivo agora, pois hoje existem poucas de mim pelo mundo. Pelo menos agora terei companhia.

BÁRBARA RODRIGUES 5ºPERÍODO


15 - Cultura

5/12/08

11:45 AM

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Editores e diagramadores da página: Carlos Eduardo Marchetti e Lucas de Mendonça - 6º período

o ponto Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

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C U L T U R A 15

A classe obreira vai ao Palácio DURANTE CINCO DIAS, FILMES DE CUNHO POLÍTICO E ECONÔMICO SÃO EXIBIDOS NO PALÁCIO DAS ARTES EM MOSTRA GRATUITA QUE PRIORIZA PRODUÇÕES LATINO-AMERICANAS CARLOS EDUARDO MARCHETTI 6º PERÍODO Fim da sessão. Aplausos acalorados. É assim que termina o 3º dia do Felco, Festival Latino Americano da Classe Obreira. O filme “Brad – uma noite mais nas barricadas” encerra a noite com o cinema Humberto Mauro lotado. O longa-metragem conta a história de Brad Will, voluntário do Centro de Mídia Independente

(CMI),morto por paramilitares, enquanto registrava as imagens da tentativa de derrubada do (auto) governo popular instaurado em Oaxaca, estado mexicano. O ano de produção do filme é 2006 e para aqueles que acreditam que a juventude questionadora e militante

continua restrita à romantizadgeração de 1968, ledo engano. Afinal, essa é uma das propostas da mostra: exibir aquilo que a mídia hegemônica transforma em senso comum, omite ou transgride de alguma forma. Entre os dias 2 e 6 de abril outras 31 pro-

duções foram apresentadas ao público no cinema do Palácio das Artes. Com entrada gratuita, a mostra chega à sua terceira edição em Belo Horizonte com uma proposta que contempla produções do Brasil. Festival marginal Para o “poeta marginal” Guilherme Santos, o Felco é muito mais que um festival de filmes de protestos. É uma alfabetização política. “Já faz três anos que conheço a mostra

e percebo que o Felco é um festival marginal, afinal o próprio operário é marginalizado historicamente. Sua proposta é mostrar uma cultura de resistência, de não opressão e não repressão”, explica. Segundo outro espectador, que preferiu não revelar seu nome , é necessário levar mostras como essa aos diversos movimentos sociais como forma de manter o diálogo entre a área acadêmica e as organizações populares. “Espero que esse tipo de iniciativa seja divulgada em outros espaços não burgueses como o Palácio das Artes. Quando se escolhe o lugar onde será divulgado, escolhe-se também o tipo de público”, aponta. Com discordâncias, Guilherme Santos afirma que o Felco representa um cinema acessível, principalmente às pessoas que não tem a possibilidade de perceber o que é o cinema fora do circuito comercial. Dentro dessa perspectiva, Guilherme afirma que a “invasão” de um espaço cultural privatizado, representado aqui pelo Palácio das Artes, não pode ser deixado de lado. “Vamos ‘invadir’ cada vez mais esses lugares”, ironiza. Brasil é América Latina De acordo com Aline Souza, coordenadora da mostra, o Felco surgiu na Argentina em 2004 e desde então tem se espalhado pela América Latina. “Esse ano, optamos por uma retrospectiva Brasil para dar vazão às produções brasileiras. Embora muitos acreditem que o Brasil não faz parte da América Latina, pelo simples fato de não termos sido colonizados por espanhóis. Temos os

“O documentário sobre Milton Santos traz uma mensagem libertária para os dias tumultuados no mundo, além da diferença entre os hemisférios norte e sul”. David Guerner – ativista político mesmos problemas que a Venezuela, Bolívia e Argentina. Somos todos irmãos”, explica. De acordo com Aline, muitos questionam a realização de uma mostra como essa num local “elitizado” como o Palácio das Artes. Para a coordenadora, a reposta é dada em tom de

pergunta: “Por que não?” Para Aline, da mesma forma como as mostras itinerantes têm como função levar as produções para os guetos e para as sedes

“Iniciativas como essa são importantes, pois os filmes independentes têm uma mensagem político-social”. Viviane Amantéa - bióloga dos movimentos sociais, é importante chamar os estudantes e as pessoas que trabalham no centro da cidade. Para Richardson Pontone, também coordenador do Felco, a intenção é levar futuramente o festival para praça pública. O que vale é o conteúdo Diretor e orientador de dois curtas exibidos na mostra, Richardson afirma que muitas dessas produções nasceram de intervenções e oficinas realizadas por voluntários. “O que temos aqui é uma mostra de materiais que estão à margem da grande mídia, produzidos pelos movimentos e destinados aos movimentos. Aqui não tem nenhum ‘olimpiano’ fazendo análise fílmica. A gente ocupa o espaço público, questiona o espaço público e põe um debate sobre o que é a TV digital, por exemplo”, critica. Segundo Aline, os organizadores da mostra criaram a Rede Felco Minas para estabelecer um grupo de contatos dos potenciais exibidores e coordenadores de edições futuras do festival. Fazem parte da rede: o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, as Brigadas Populares, a Escola Latina, dentre outros. Além de Brasil e Argentina, a Bolívia promoveu o festival em 2005 e o Chile pretende aderir à proposta ainda este ano. “É importante divulgar os movimentos da América Latina, pois como diz o filme do Milton Santos, estamos vivendo um barril de pólvora. Vamos trabalhar para que estes projetos sejam agora exibidos - e porque não publicizados - trazendo a publicidade para uma coisa boa e não para a mercadoria. A idéia é agregar os movimentos latino-americanos nesse momento riquíssimo nos âmbitos institucional, popular e autônomo no continente”, comenta Richardson.

Marina Jordá - 6º Período

Sob controle dos trabalhadores LUCAS DE MENDONÇA 6º PERÍODO Um dos curta-metragens exibidos no Felco foi “Flaskô, sob controle dos trabalhadores”. O filme narra a história de uma fábrica de produção de materiais plásticos localizada em Sumaré, interior de São Paulo. Após uma longa crise financeira, a indústria foi abandonada pelo seu falido proprietário – que chegou a atrasar o salário dos seus 70 trabalhadores por mais de 3 meses, os obrigando a procu-

rar ajuda com familiares e amigos. Este longo drama vivido pelos operários foi superado no dia 12 de junho de 2003, quando em assembléia geral foi decidido a ocupação e a auto-gestão da fábrica pelos próprios trabalhadores. Foi o início de um novo drama, que se desenrola até hoje. De um lado os operários, que fizeram a fábrica voltar à ativa e esta consegue se sustentar e colaborar com a comunidade, viabilizando reformas e novas construções pa-

ra os moradores locais.Do outo lado, o ex-proprietário, junto ao Estado, que em reação ao movimento estão tentando retirar a fábrica dos operários e reintegrar a posse aos antigos donos. Vale lembrar que os operários tiveram de assumir diversos problemas deixados pelos patrões. As dívidas giram em torno de 110 milhões, sendo 70% de impostos com o poder público. É o início de uma longa e árdua luta. Hoje os trabalhadores são 94 e todos eles têm consciência de que sem mui-

Centro de Mídia Independente

ta luta, organização, solidariedade (inter)nacional e a expansão deste movimento operário, eles não terão meios eficazes de se defender contra a intervenção violenta e opressora do Estado – que está tentando leiloar a fábrica e intervir freqüentemente. Para assistir: O filme original pode ser visto na internet, através do Google Vídeo. O endereço é: http://video.google.com/videoplay?docid=281533787 0085387603. Operários da Flaskô em manifestação a favor da ocupação


Editor e diagramador da página: João Paulo Borges 5º Período

16 C U L T U R A

o ponto

Belo Horizonte – Abril/Maio 2008

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Neste ano, Minas é Japão DE ACORDO COM O CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS DE SÃO PAULO, O BRASIL É A MAIOR COMUNIDADE JAPONESA FORA DO JAPÃO, COM 1,5 MILHÃO DE INTEGRANTES BÁRBARA RODRIGUES DANIELE MOREIRA JOÃO PAULO BORGES 5º PERÍODO A chegada do navio Kasato Maru, no porto de Santos (SP), no dia 18 de junho em 1908, deu início a uma história que rendeu bons frutos a duas culturas muito distintas. Imigrantes japoneses em busca de novas oportunidades e a falta de mão-de-obra na área agrícola brasileira. Foi a combinação perfeita para uma grande parceria. Depois de um século de convívio, esta combinação será comemorada em todo o Brasil. Os mineiros ganharão um presente dos japoneses em agradecimento à boa recepção: será inaugurado em junho um jardim japonês, na região da Pampulha. O projeto, que foi aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), já em andamento, promete receber em sua inauguração a ilustre presença do príncipe herdeiro japonês, Naruhito Koutaishi. Ainda na Pampulha, há outro projeto de construção de um monumento representando o marco dos 100 anos de imigração, com conclusão prevista para agosto deste ano.

A história entre japoneses e mineiros começou com uma parceria que deu origem à construção da Usiminas, no início de 1958, trazendo para a cidade de Ipatinga mais uma leva de imigrantes, que seria responsável pela instrução dos operários. Depois desse grande empreendimento, muitos resolveram ficar, dando origem a uma comunidade de aproximadamente 10 mil japoneses que atuam em diversas áreas da economia e da tecnologia do Estado. Foi através desse projeto que Tatsuo Kanashiro veio para Minas. O presidente do Instituto de Cultura Oriental (ICO) e um dos fundadores da Associação Mineira de Cultura Nipo-Brasileira (AMCNB) carrega consigo uma grande bagagem de costumes e histórias da cultura japonesa passadas de gerações para gerações. Embora tenha nascido em São Paulo, no ano de 1937, Kanashiro fez sua vida no Japão. Foi ainda criança para a “Terra do Sol Nascente” onde estudou e se casou. Em 1964, retornou ao Brasil. Segundo ele, antes de retornar ao Brasil, o grupo de imigrantes que o acompanhava passou por uma espécie de

João Paulo Borges 5º Período

treinamento no qual foi ensinado um pouco sobre a cultura e a língua brasileira, antes da chegada ao país que considerava uma terra promissora.

"OS JAPONESES SE IDENTIFICARAM COM OS MINEIROS, POIS AMBOS FALAM POUCO E TRABALHAM MUITO” Tatsuo Kanashiro Ele lembra que seu tio-avô, que pertenceu a um dos primeiros grupos de imigrantes, recebeu instruções do governo japonês da época para não entrar para o crime e nem arranjar trabalhos medíocres. A AMCNB foi fundada na década de 50 em Belo Horizonte, no bairro Nova Cachoeirinha, por membros da comunidade mineira de descendentes radicados em Minas, com o propósito de preservar e divulgar a cultura japonesa e fortalecer as relações sócioeconômicas e culturais entre os dois países. Atualmente, a

Dança comemorativa dos 100 anos de imigração, realizada pelos membros da AMCNB Associação oferece aos japoneses e brasileiros, descendentes ou não, acesso à biblioteca, aulas de língua japonesa, artes marciais e artesanato japonês, festas com comidas típicas, apresentações de danças japonesas, entre outros. Fumio Akaki, atual Diretor de Cultura da Associação, chegou ao Brasil em 1957 aos 19 anos de idade. Veio da província de Kumamoto, no sul

do Japão, com um grupo de imigrantes que foi recrutado para trabalhar nas lavouras de arroz em Belém do Pará. Na época, Akaki era um jovem solteiro “cheio de sonhos, em uma terra nova”, nas palavras do mesmo, logo seguiu um caminho parecido com o de Kanashiro. Foi para São Paulo, onde trabalhou como ajudante em uma chácara, estudou e se casou. Em 1960 surgiu a

Manias japonesas invadem o Brasil Há dez anos, São Paulo sediou o AnimeCon, o primeiro grande evento sobre animação japonesa com concurso cosplay no Brasil. Já em Belo Horizonte, o pioneiro foi o Anime Festival, em 2004, no Colégio Marista Dom Silvério, que desde então se repete anualmente. Tais eventos vêm crescendo bastante na capital, e na opinião da pedagoga, a Internet é o principal motivo.

Nikkei: nippo-descendentes que vivem fora do Japão, independente da geração.

Ninjutsu As artes marciais japonesas também ganharam muitos adeptos brasileiros. Dentre elas está o ninjutsu que, segundo o instrutor Cassiano Júnior da Academia Ginga de Capoeira, é uma filosofia de vida e não se enquadra no rótulo de luta. “O objetivo é proteger corpo e espírito, através da paciência, perseverança e treino contínuo, e assim ser um bom ser humano”, afirma. O ninjutsu teve origem no século IX, em campos de batalha, como uma necessidade diante dos desafios a enfrentar, e chegou ao Brasil em 1973. De acordo com Cassiano, a arte atualmente é praticada mais por estrangeiros do que pelos próprios japoneses. Entretanto, em suas aulas, ele instrui os alunos utilizando pao B rges lavras em japonês. 5º Pe río d o A prática do ninjutsu exige o uso do traje negro e objetos característicos da técnica, como a vara de bambu.

Gaijin: termo pejorativo para estrangeiro, relativo a "gringo".

P

o

Issei: primeira geração de imigrantes japoneses. Nissei: filho de "isseis". Sansei: neto de "isseis".

Dekasegi: latino-americanos de etinia nipônica que vão para o Japão. Fansubber: pessoa que traduz, gratuitamente, arquivos da internet, principalmente vídeos. Anime: termo originado do francês, animé, designa os desenhos animados japoneses.

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o

Fansubs Outra mania japonesa que tomou conta dos brasileiros “otakus” (nome que se dá aos fanáticos, no Japão) foram os fansubs, que são grupos de fãs que legendam animes. Os responsáveis por esse desafio são conhecidos como fansubbers, como é o caso do estudante mineiro de 20 anos, Luiz Eduardo Lodi Machado. Aos sete anos, Luiz começou a assistir os primeiros animes de sua vida, exibidos na extinta Rede Manchete, e foi daí que nasceu sua paixão por desenhos japoneses. Paixão esta que o levou a criar, junto com o amigo Tiago Paes, o canal Aenianos (www.aenianos.com.br) da rede IRC (Internet Relay Chat), que é o serviço de comunicação utilizado como chat e troca de

Glossário

arquivos, onde os visitantes podem fazer downloads dos episódios legendados pela equipe e comentá-los, ter acesso a sugestões e tirar dúvidas. O canal, que existe desde 2005, tem uma média de 2000 downloads por episódio, tendo os animes de gênero "comédia romântica" como os mais requeridos pelos fãs. Luiz acredita que os funsubbers são importantes no Brasil, pois "muita coisa da cultura japonesa é transmitida através dos animes e da constituição de suas histórias". Luiz ressalta que este trabalho é feito de forma gratuita.

J

“Brincar de fantasiar”. Essa é a definição da estudante Bruna Cambraia para cosplay, a nova mania entre jovens e adultos brasileiros, importada do Japão. Os cosplayers, como são chamados os adeptos desta mania, se vestem e agem inspirados em seus personagens favoritos, participando de eventos e até de concursos relacionados ao tema. Bruna Cambraia, de 23 anos, atua como cosplayer há nove e já representou 20 personagens. Ela diz que o cosplay “caiu como uma luva”, pois sempre gostou de animes e mangás e do lado teatral do hobby. "Ser cosplayer para mim é maravilhoso, pois faço novos amigos que têm os mesmos gostos e conheço pessoas novas. Além da diversão, porque cosplay é isso", diz. Bruna é freqüentadora assídua de eventos cosplay em Belo Horizonte e até de fora do Estado. Segundo ela, nesses festivais há barraquinhas de comidas típicas japonesas, exibições de animes, apresentação de cosplay e de bandas de música japonesa, que atualmente estão vindo direto do Japão cantar as aberturas mais famosas dos desenhos. Em 2006 ela participou, com o namorado Régis Prata e Silva, do World Cosplay Summit (WCS ou Campeonato Mundial de Cosplay), na etapa JBC (Japan Brasil Communication), onde ficaram entre as 20 duplas que estavam concorrendo para representar o país no campeonato mundial no Japão. "O objetivo do WCS é divulgar um trabalho mais serio dos cosplayers, por isso tem essas exigências", ressalta. A cosplayer revela que em suas apresentações ela se sente “famosa por um dia”, pois tira foto com os admiradores dos personagens que ela representa e até distribuí autógrafos. Para ela, a vibração e os elogios do público pelo seu trabalho e esforço, valem mais do que receber medalhas e troféus. A pedagoga Gláucia Palhares, de 31 anos, é cosplayer há quatro e sócia da Hero Point Club, loja de DVDs e artigos japoneses. Gláucia diz que para ser um cosplayer é preciso ter uma vida financeira estável – pois as fantasias são caras e têm muitos detalhes - ter muita dedicação, semelhanças com o personagem e alguma noção de interpretação, para que a fantasia e a representação sejam realmente fiéis ao personagem. “Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, o cosplay não é apenas uma moda entre os adolescentes. O hobby também é levado a sério por muitos adultos”, explica.

oportunidade de trabalhar na Usiminas, o que acabou trazendo ele e sua família para Minas, onde criou raízes. São histórias como essas e milhares de outras espalhadas pelo Brasil, somadas à herança cultural vinda no navio Kasato Maru que fizeram com que as celebrações dos 100 anos da imigração tivessem tamanha repercussão e importância.

A pedagoga Gláucia Palhares encarnando a personagem Azula de "Avatar: A Lenda de Aang"

Manga: histórias em quadrinhos japonesas. Mangaka: desenhista de manga. Cosplay: do inglês costume play, ou brincar de vestir, hobby comum aos japoneses de trajar-se como seu personagem favorito. Otaku: termo pejorativo no Japão, traduzido literalmente como "fanático", normalmente usado para rotular os viciados em animes e mangas. No Brasil, a expressão virou sinônimo de amante da cultura oriental, mas em alguns lugares ainda é mal interpretada.


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