COLCHA de retalhos página 16
Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 9
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Número 73
| Abril/Maio de 2009
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Belo Horizonte / MG
Distribuição gratuita
Acordo trava língua Cidade Projeto social em salão afro
páginas 08 e 09
Foto: Thiago Prates - 5º G
O salão de cortes e penteados afro de Dora Alves, no centro de Belo Horizonte, abriga jovens em situação de risco social e abre novas perspectivas de vida e renda. página 12
Enquanto o mundo lusófono está cercado de polêmica e incerteza em relação ao Novo Acordo Ortográfico, no dia 1º de janeiro de 2009, o Brasil se tornou o primeiro país de língua portuguesa a adotar as novas regras. Em Portugal, a entrada em vigor das novas normas gerou discussão entre a população que, em parte, manifesta-se contra o acordo e defende a manutenção da tradição na grafia.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Aloísio de Morais, inaugura o ciclo de palestras e debates do Projeto Fumec & Mídia e fala aos alunos sobre as perspectivas profissionais. página 03
Saúde Emenda 29 A Emenda Constitucional 29 (EC 29), que prevê um gasto regular para a saúde pública, encontra-se emperrada nos trâmites do Congresso Nacional. Falta a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) para regular e medida legislativa. páginas 04 e 05
Dora Alves
Política Nova lei de estágios
Tecnologia Joga no Google!
Entenda como a nova legislação vai inibir o exercício irregular do estagio para estudantes do ennsino fundamental, medio e superior. página 06
Você consegue passar um dia sem utilizar o Google? Saiba mais sobre a empresa que se tornou mania internacional. página 07
Cultura Eu fiz e estou vendendo!
Cultura Black Music
página 10
Amantes do Soul invadem o centro de BH e trasnformam o quarteirão da rua Goitacazes em pista de dança. Ilu
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Educação Mercado de trabalho
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02 • Opinião
Editor e diagramador da página: Claudia Lapouble - 6º período
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
O Ponto
Ilustração: Rodrigo Zavagli 6ºG
Que venham as mudanças...
A eterna antítese fé e razão Nathalia Drumond 6º período A rigidez e o conservadorismo da Igreja Católica são constantemente fontes de polêmicas e as contradições entre o que prega e o que pratica são alvo de fortes críticas. Apesar de seu carisma, o papa João Paulo II passou por situações delicadas em seu pontificado, como quando foi vítima de um atentado a tiros, em 13 de maio de 1981. Já do seu sucessor não se pode dizer o mesmo. Desde que assumiu o cargo eclesiástico mais alto da religião Católica, Bento XVI tem passado por momentos conturbados devido a posicionamentos e declarações polêmicas. Tais acontecimentos abalam de tal forma a Igreja, que mesmo os cristãos mais fiéis estão insatisfeitos e questionam o quão antiquados os valores desta fé se mostram. Não é minha intenção aqui criticar os princípios ou a moral do catolicismo; nasci em uma família católica, frequentei missas, estudei em escolas católicas e fiz aulas de catecismo por três anos. Meus valores, pautados no Cristianismo, entretanto, não me permitem fechar os olhos para as incoerências e, principalmente, para algumas barbaridades que têm sido seguidamente pronunciadas pelos detentores dos mais altos cargos eclesiásticos. Entre os absurdos recentes da Igreja está o caso do bispo Richard Williamson, que negou o holocausto, provocando alvoroço na mídia, a ira da comunidade juidaica do mundo todo e uma crise na Instituição. Bento XVI teve que se desculpar com o povo judeu, viu-se obrigado a condenar a atitude do bispo – que foi advertido e afastado de seu posto na Argentina -, e confessar que “a Igreja arrisca a se autodevora com disputas internas”. O próprio papa foi protagonista de situações polêmicas. Pelo Dia Internacional da Mulher, em um artigo publicado no jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, o pontífice declarou que a máquina de lavar roupas teria sido mais importante na liberação feminina que a pílula anti-concepcional e o acesso ao mercado de trabalho. Em sua recente viagem à África, continente com maior porcentagem de portadores de HIV no mundo, Bento XVI afirmou que a distribuição gratuita de preservativos não é a melhor forma de evitar a doença, ao contrário, estimula a promiscuidade e aumenta ainda mais
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o número de pessoas infectadas pelo vírus. É difícil acreditar que ainda hoje a Igreja seja contra o uso de métodos contraceptivos e de prevenção a doenças, “permitindo” relações sexuais apenas para fins de procriação. A abstinência sexual que a instituição prega, não só não é a solução para tais problemas, até porque, dentro da própria religião, o escândalo dos padres pedófilos representa um abalo em seus alicerces . Por fim, o caso mais próximo a nós, brasileiros: a gravidez de gêmeos da menina pernambucana, de apenas nove anos, estuprada várias vezes pelo padastro. A gestação,considerada de altíssimo risco, teve de ser interrompida, o que é permitido pela lei brasileira nessas circunstâncias (estupro e risco de vida para a gestante). Apesar do aval legal, os médicos e a mãe da garota foram excomungados pela Igreja. A justificativa: os fetos, inocentes, não poderiam pagar pelos erros alheios. Então, a quem caberia tal conta? À mãe, uma criança tão inocente quanto as outras duas que estavam sendo geradas no seu ventre? Deveria ela pagar tão caro, com a perda da infância ou até mesmo da própria vida? Segundo a Igreja, sim. Já o padastro, estuprador, não foi excomungado porque, apesar de monstruoso, não é um assassino. O Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, foi quem decretou a excomunhão e teve o apoio do Vaticano. Cada qual tem sua fé e escolhe os caminhos que pretende seguir. Faço meus questionamentos baseada no tempo em que vivemos, cuja evolução a Igreja Católica parece não ter conseguido acompanhar. A posição da mulher evoluiu, sim, e a pílula anti-concepcional é uma forma real de sua liberação – apesar de todas elas amarem suas máquinas de lavar! E em tempos de AIDS, sexo só é pecado se for feito sem camisinha. Os tempos mudaram. Os pensamentos são outros. A globalização e o avanço dos meios de comunicação oferecem inúmeras formas de informação permitindo refletirmos quanto aos pontos de vista que melhor nos pareçam; não somos mais obrigados a aceitar uma certa doutrina como verdade absoluta. O que a Igreja Católica ainda não percebeu, apesar de evidências muito claras – como a redução de jovens entre os fieis da religião – é que ela precisa mudar de mentalidade ou se tornará ultrapassada e ainda mais démodé. Mantendo imposições tão descontextualizadas estará fadada à decadência.
Caro leitor, Você está recebendo a primeira edição de O Ponto após a reforma gráfica anunciada no último número. A equipe de O Ponto espera que o trabalho desenvolvido ao longo do último semestre, além de ter uma boa recepção do público, cumpra o seu objetivo: modernizar nosso produto e atualizar os estudantes quanto às tendências e demandas do mercado. Reformas são necessárias, mas podem ser polêmicas. Neste número, por exemplo, num esforço de reportagem e edição, trazemos uma discussão acerca da reforma ortográfica nos países em que a língua portuguesa é o idioma oficial. A unificação já foi ratificada no Brasil, em Portugal, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Mas, ao contrário do Brasil, que implantou a mudança sem muita polêmica; em Portugal, há insatisfação e protesto da população. Mas como não só de polêmicas sobrevive um jornal, este número reúne também reportagens com foco em iniciativas que resultaram em projetos de inclusão social, exemplos de vitórias pessoais além de outras histórias de vida e de comportamento dos belo-horizontinos. Inauguramos, ainda, nesta edição, a página cultural multitemática Colcha de Retalhos. Atenção estudantes de Comunicação e demais interessados: esta seção está aberta para sua colaboração! Boa leitura!
o ponto Coordenação Editorial Prof. Aurélio José (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Profª. Beatriz de Resende Dantas (Fotografia) Prof. Reinaldo Maximiano Pereira (Produção e revisão de texto) Monitores de Jornalismo Impresso Amanda Lelis, Bárbara Camargo, Juliana Pizarro Monitores da Redação Modelo Bárbara Rodrigues, Felipe Chimicatti Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3127 · e-mail: oponto@fch.fumec.br Presidente do Conselho Curador Prof. Air Rabello Filho Reitor da Universidade Fumec Prof. Antônio Tomé Loures Diretora Geral Profª. Thaís Estevanato Diretor de Ensino Prof. João Batista de Mendonça Filho Diretor Administrativo e Financeiro Prof. Antônio Marcos Nohmi Coordenadora do Curso de Comunicação Social Prof. Sérgio Arreguy Monitores de Produção Gráfica João Paulo Borges e Aline Chamon Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda Isabela Myrrha e Marcelo Antinarelli Colaboradores voluntários Claudia Lapouble, Pedro Henrique Leone Rocha e Roberta Andrade Tiragem desta edição: 10.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas · Fumec
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
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Editor e diagramador da página: Bárbara Rodrigues e Juliana Pizarro - 7º período
Fumec & Mídia • 03
O Ponto
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
Fumec & Mídia debate mercado de trabalho O jornalista Aloísio de Moraes foi o primeiro convidado de uma série de encontros iniciada este mês sobre tema recorrente entre os estudantes; para o profissional, “diante da competência, não há mercado recessivo” O Ponto Da Redação
foto: Bárbara Rodrigues 7ºG
Palestra Com cerca de 40 anos de profissão, atuando em jornais, universidades e assessorias de imprensa, o jornalista convidado organizou sua palestra a partir de três aspectos básicos, que contemplam a relação do jornalista com a profissão: a formação do estudante, a recessão do mercado e o futuro da mídia como um espaço diversificado de atuação. Segundo Moraes, que se considera um otimista obstinado, embora o número excessivo de faculdades em Minas Gerais (cerca de 40 instituições) comprometa a qualidade do ensino prestado, ainda
Foto: Bárbara Rodrigues 7ºG
Deborah Lopes Pennachin, prof. do curso de Jornalismo Aloísio Moraes, pres. do SJPMG,Thaís Estevanato, dir. geral da FCH, João Batista de M. Filho, dir. de ensino, e Sérgio Arreguy, coord. do curso de comunicação social é possível fazer bons cursos, com infraestrutura e qualidade docente. “A partir daí, cito o exemplo de vocês. É preciso se preparar o máximo possível, a partir das seguintes prioridades: ler, ler e ler, associado à garra, determinação e humildade. Com certeza, esse é o caminho para enfrentar a concorrência e diminuir , com sucesso, a distância entre o sonho que os separam do mercado.” Sinergia Durante breve histórico sobre o jornalismo, o presidente do SJP-MG indicou a mudança no perfil da profissão e dos jornalistas. De acordo com ele, antigamente existiam poucas faculdades de comunicação e o destino dos profissionais era a redação ou o estúdio dos jornais, rádios e televisões. “Hoje a pessoa pode não somente se formar em comunicação, que engloba Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas, como atuar em assessorias de comunicação, se tornar pequenos empreendedores ou até mesmo trabalharem em casa”, completa. Uma característica abordada pelo jornalista, adotada recentemente pelas redações, é a chamada sinergia, que é quando um repórter produz um mesmo material que é aproveitado em veículos diferentes e até por emissoras diferentes. Para ele, esta prática pode representar empecilho à medida que cobre funções que poderiam ser feitas por outros profissionais. Experiência e rumos Em relação à experiência na formação jornalística, Aloísio destacou a importância do laboratório no curso de comunicação para aproximar o estudante da
“Os profissionais convidados nos darão uma luz sobre qual caminho seguir no jornalismo.” Thiago Prates - 5ºG
realidade da profissão, mas descarta a relevância do estágio: “o Sindicato entende que o estagiário está fazendo o papel de jornalista formado, trabalhando até seis horas por dia, quando deveria estar estagiando, isto é, em processo de treinamento, de aprendizagem”, explica. Em contrapartida, coloca como possível saída para os estudantes a abertura de suas próprias empresas de assessoria. Questionado pelos alunos sobre o perigo do descrédito profissional que esta alternativa possa significar, Aloísio Moraes foi enfático: “em função do modelo de desenvolvimento econômico do país, o aluno tem que se preparar para ser um profissional de comunicação e não especificamente de jornalismo, relações públicas ou propaganda. Essa diversidade, desde que guardadas as devidas proporções, não fere a originalidade e a especificidade de cada área de atuação. A criação de portais é outra alternativa que vem dando bons resultados. Em síntese: de posse de uma formação sólida, atento às tendências do mercado, vocês podem ocupar os espaços com ética, competência e valorização”. Apesar dos obstáculos que vão desde o reconhecimento do diploma até a concorrência com aqueles contratados pelo “Q.I.” (quem indica), Moraes afirma que a qualificação é a chave para o sucesso sempre. Segundo ele, as redações estão tão carentes de profissionais com bons textos que, quando algum repórter escreve bem, é praticamente disputado pelos editores. “Acredito que o recémformado é como um jogador de futebol iniciante: se mostrar que é bom de bola vai ser achado”, finaliza.
foto: Bárbara Rodrigues 7ºG
Mercado de trabalho: possibilidades e limitações foi o tema da palestra, seguida de debate, realizada na última terça-feira de março, 31, pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) e editor-adjunto do jornal Hoje em Dia, Aloísio Moraes. O evento – primeiro de uma série de quatro já agendados para este semestre letivolançou o projeto Fumec & Mídia e mobilizou alunos e professores do jornalismo e publicidade/propaganda do curso de Comunicação Social da Fumec/FCH. A iniciativa, conforme o professor e coordenador da Redação Modelo do curso de jornalismo, Rogério Bastos, tem o objetivo de aproximar os estudantes dos profissionais de projeção da mídia na capital, que atuam no jornalismo impresso, rádio, TV, assessorias de comunicação e agências de publicidade, para uma discussão ampla sobre as questões que envolvem o dia a dia destes setores e sua relação com a formação acadêmica. Na abertura dos trabalhos, a diretora-geral da FCH, professora Thais Estevanato, fez questão de ressaltar a importância do projeto, “na medida em que possibilita encurtar a distância entre a teoria e a prática , tão reivindicada pelos alunos, e desmistificar as resistências com relação ao mercado de trabalho.” Defensor do projeto Fumec & Mídia, “pelo o que significa de extensão da sala de aula”, o coordenador do curso de Comunicação Social da FCH, professor Sérgio Arreguy, já estuda a possibilidade de incluí-lo no calendário oficial da instituição. “Qualquer projeto sintonizado com os princípios da FCH e que signifique avanço na produção de conhecimento dos nossos alunos, será bem vindo”, sugere.
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“Diploma é imprescindível”
Foto: Roberta Andarde 6ºG
O PONTO: Qual sua opinião sobre o estágio? Deborah Lopes: Estágio é importante, desde que não signifique exploração da mão de obra, como apontou Aloísio. Outra desvantagem é que os estagiários são cíclicos, e isso diminui as possibilidades de contratação. E sobre o famoso “Q.I.” (quem indica)? Quem é competente não depende do QI, porque ele pode, no máximo, servir como porta de entrada, mas não garante a estabilidade no emprego. Qual sua visão sobre a sinergia apontada como prática freqüente nas empresas jornalísticas? É algo inevitável e devemos aprender a lidar com ela. Inclusive, para ajudar, há um lado positivo nesta história: essa prática, paradoxalmente, significa a autonomia do profissional, o que por muito tempo fez falta nas redações. Qual sua posição sobre a regulamentação do diploma? É imprescindível o diploma, bem como o curso. A universidade é o lugar do desenvolvimento do pensamento crítico, o que é essencial para o profissional. O projeto Fumec & Mídia veio para ficar? Não tenho dúvida. Porque ele significa mais um espaço livre de discussão e aprendizagem dos alunos. Considero esta atividade uma continuação da sala de aula, imprescindível na relação teoria e prática.
“Projetos como esse nos informam sobre o que acontece no mercado de trabalho. ”
Juliana Moreira- 7ºG
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04 • Saúde
Editor e diagramador da página: Frederico Porto, Tatiana Belisário, Amanda Lelis e Felipe Chimicatti
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
O Ponto
Emenda 29 A saúde não pode esperar
Desde 2000, a Emenda Constitucional 29, que garante os recursos mínimos para o setor da saúde, aguarda por regulamentação; MG não cumpre meta estabelecida e investe menos de 12% da receita
Movimentação frente ao Hospital João XXIII, no centro de Belo Horizonte; pacientes de toda Minas Gerais procuram a capital, o que sobrecarrega o atendimento Fernando Kelysson Thiago Prates Daniel Araújo 5º período Em morosa tramitação no Congresso Nacional, a Emenda Constitucional 29 (EC 29) que prevê a revisão da porcentagem de verba que deve ser revertida para a saúde pública - aguarda regulamentação desde setembro de 2000, quando foi criada. O artigo 198 da Constituição Federal prevê que esta emenda - a partir de 2004 - depende de um Projeto de Lei Complementar (PLC) para sua plena gestão, lei esta que deve ser revista a cada cinco anos. Embora já formulado, o PLC ainda aguarda votação por parte do Congresso Nacional. Na EC 29 está previsto que os Estados da federação deverão gastar, no mínimo, 12% do montante de sua arrecadação anual com saúde, os municípios 15% e a União o mesmo que gastou no ano retroativo, corrigido pela variação do PIB nominal. Estabelece ainda
mecanismos de fiscalização e de controle dos recursos da saúde para combater desvios e fraudes, além de determinar onde alocar a verba. Segundo dados do Conselho Municipal de Saúde, o governo federal gastou, em 2008, R$ 48 bilhões com saúde, o que corresponde a cerca de 7% de sua receita, valor este bem inferior ao que propõe a Emenda Constitucional 29. A regulamentação da Emenda representaria um aumento de R$ 23 bilhões para a saúde até 2011, caso fosse seguida de acordo com sua proposta. A proposição legislativa dos gastos destinados à saúde atendeu uma demanda social. O Sistema Único de Saúde (SUS), em sua origem, carrega uma insustentabilidade relativa à forma de repasse da arrecadação. A Constituição de 88 previa a utilização de 30%
do orçamento da Seguridade Social para a saúde pública, além dos empréstimos junto ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que deixou de ser cobrada a partir de Janeiro de 2008. Essa insustentabilidade do SUS veio, portanto, da instabilidade na arrecadação; problemas que poderiam ser sanados nos preceitos da Emenda. O presidente do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte e integrante do Conselho Nacional de Saúde, Paulo Carvalho, afirma que o SUS tem, de maneira errônea, terceirizado os seus serviços, chegando a utilizar 68% dos seus recursos no setor privado. Com isso, a saúde que deveria estar sob o controle total do Estado tem sido explorada por empresas que especulam o setor e não
possuem compromisso com as instituições públicas. Segundo Carvalho, é desinteressante para a indústria farmacêutica, os planos de saúde e muitas empresas do ramo que o SUS tenha autonomia. No caso de ineficiência da distribuição dos recursos da saúde na esfera pública, o setor privado prospera ainda mais, criando um rombo na administração do setor. Carvalho, na condição de conselheiro, apóia a criação da Contribuição Social para Saúde (CSS) e concorda que o Governo Federal destine sempre o mesmo montante do ano retroativo, corrigido pela variação do PIB nominal que, segundo ele, pode ser valor bastante expressivo na medida em que a produção e a arrecadação forem abundantes.
“O SUS tem, de maneira errônea, terceirizado os seus serviços, chegando a utilizar 68% dos seus recursos no setor privado”. Paulo Carvalho, presidente do Conselho Municipal de Saúde
A Emenda em Minas Carvalho explica que os municípios brasileiros não terão muita dificuldade de adequação à Emenda 29, pois 90% deles tem investimento superior a 15% de seus orçamentos em Saúde. Belo Horizonte investe 19%. “Com os
Estados já é diferente, dos 27, apenas 17 ainda não aplicam os 12% exigidos na Emenda”, analizou Carvalho. Minas Gerais vem investindo menos da metade do percentual exigido. O Secretário de Saúde, Marcus Pestana, garante que o governo mineiro está cumprindo a emenda, só que no percentual foram incluídos gastos como despesas com saneamento (Copasa), Hospital Militar, Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e com o Ipsemg. A Secretaria de Estado da Saúde informou que o orçamento do Estado para 2009, aprovado pelo Tribunal de Contas, prevê a aplicação de cerca de 14% de sua arrecadação fiscal em saúde. Deste total, 9% referem-se ao sistema saúde, incluindo as despesas citadas e os outros 5% são destinados às fundações e autarquias ligadas ao setor, como a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), a Fundação Ezequiel Dias (Funed) e a Escola de Saúde Pública (ESP). A Secretaria ainda informou que fará os ajustes orçamentários previstos pela EC 29 até 2011.
Demonstrativo de gastos da PBH com saúde em relação a Emenda Constitucional 29/2000 Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde - PBH
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Percentual aplicado em saúde Percentual fixado pela EC 29/00
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Saúde • 05
Editor e diagramador da página: Frederico Porto, Tatiana Belisário, Amanda Lelis e Felipe Chimicatti
O Ponto
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
A centralização é o gargalo do SUS Foto: Thiago Prates - 5º G
O aposentado Oswaldo Saturnino, 90, precisa se deslocar de Guanhães para Belo Horizonte, de seis em seis meses, para monitorar o marcapasso. Em sua cidade não há um cardiologista especializado nesse tipo de procedimento. Mila Belga, 27, tem diabetes e está na fila para fazer transplante de pâncreas. A jovem de Muriaé vem à capital de 15 em 15 dias para fazer tratamento nos olhos que foram afetados pela diabetes: sua cidade é carente de oftalmologistas. Outro caso, também problemático, é o de Marta de Jesus, 29, que veio de Carbonita, no Vale do Jequitinhonha, para acompanhar o tratamento de seu filho Ian, de cinco anos, que nasceu com as pernas atrofiadas. Eles se mudaram para Belo Horizonte há oito meses e moram num albergue mantido pela prefeitura para acolher pacientes carentes que vêm se tratar na capital, onde
Marta trabalha. Ian faz o tratamento com “gaiolas” nas antepernas para a correção da deficiência, no Hospital das Clínicas. “Seria quase impossível fazer o tratamento morando tão longe”, afirmou Marta. Estes casos estão entre milhares de outros em que pessoas se vêem na necessidade de se deslocarem para BH, pois o atendimento que necessitam ainda não chegou a suas cidades. Minas Gerais é o Estado brasileiro com mais municípios - 853 no total - o que implica em uma grande demanda para sua rede pública de saúde. Segundo dados do Conselho Municipal de Saúde, 48% dos atendimentos realizados em Belo Horizonte, pelo SUS, são de pacientes do interior. Por outro lado, cidades como Rio de Janeiro e São Paulo têm seu serviço público ocupado em 14% e 19%, respectivamente, com a demanda do interior. Serviços como exames de
rotina, atendimento emergencial, hemodiálise e outros poderiam ser oferecidos nas próprias cidades, deixando para a capital somente procedimentos como exames sofisticados que requerem alto custo, tratamentos intensivos e cirurgias especiais. Hoje, a rede pública de saúde em Belo Horizonte atende 40 mil pessoas por dia nos 146 centros de saúde da cidade. Só o hospital João XXIII, que atende casos de traumas, queimaduras, intoxicações e situações clínicas ou cirúrgicas em que há risco de morte, atende 450 pessoas por dia. O hospital é mantido pela Fhemig. Com a regulamentação da Emenda 29, a Secretaria de Estado da Saúde disporá de mais recursos para estruturar as 13 macrorregiões sanitárias, 18 cidades pólo e 75 microrregiões sanitárias como está previsto no Plano Diretor de Regionalização de Minas Gerais (PDR/ MG), desafogando a unidade da capital.
Marta e seu filho no Hospital no das Clínicas: Viagens
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) - Tramitação na Câmara As propostas de Emenda constitucionais podem ser aprovadas por: • • •
Um terço dos senadores ou deputados, dependendo da casa legislativa ou Pelo Presidente da República ou Por iniciativa de pelo menos a metade mais uma das Assembleias Legislativas do país
Na Câmara
A PEC é enviada à Comissão de Constituição e Justiça, que tem prazo de cinco sessões ordinárias do plenário para votar parecer de admissibilidade (aceitação da proposta: se é constitucional ou não)
Parecer Favorável • É constituída uma comissão especial para apreciação do mérito da proposta • A comissão tem prazo de até 40 sessões ordinárias do plenário para votar o parecer (aproximadamente dois meses) • Dentro desse prazo, os deputados tem as dez primeiras sessões ordinárias para apresentar emendas
Parecer contrário Tem de ser votado no plenário. Se derrubado, segue adiante • Plenário Condições de votação: presença mínima de três quintos dos membros e o mesmo número de votos favoráveis para aprovação
Proposta aprovada • • •
•
Vai para o Senado para votação em dois turnos Se já havia sido aprovada pela Câmara e não foi modificada no Senado, é promulgada pelo Congresso em sessão conjunta Se já havia sido aprovada na Câmara e foi modificada no Senado, pode ser parcialmente promulgada. Artigo alterado volta à Casa de origem, onde a tramitação recomeça Não cabe veto do presidente
•
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Após um intervalo de duas sessões, a PEC vai para votação no plenário em dois turnos, com prazo de cinco sessões entre eles No plenário, os deputados podem alterar a PEC votando partes em separado (destaques) ou unindo emendas (emendas aglutinativas) Aprovação em dois turnos
Proposta rejeitada Se rejeitada pela Câmara em qualquer dos turnos de votação, é arquivada e só pode ser reapresentada no ano legislativo seguinte
Fonte: Manual de Redação da Folha de São Paulo
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06 • Política
Editor e diagramador da página: Álvaro Castro - 6º período
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
O Ponto
Nova lei regulamenta a contratação de estagiários Legislação impede que os estagiários exercam funções que não condizem com o cargo Juliana Pio 1º Período “Não sei por que faço estágio; além de não aprender nada, sou obrigado a servir café para o meu chefe todos os dias.” Muitos já ouviram falar de algum estagiário que já esteve diante de uma situação como esta. Tema recorrente nas conversas de estudantes e, não raro, em reuniões de empresas, instituições de ensino e Justiça do Trabalho, a questão da seriedade do estágio no Brasil levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sancionar, no dia 25 de setembro de 2008, a Lei nº 11.788, que regulamenta as relações entre instituições de ensino, empresas, profissionais liberais e estudantes. A medida visa ampliar as responsabilidades das empresas e proporcionar uma melhor formação discente. De acordo com o artigo 1º da nova Lei, estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos, que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. “O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de
ários. Estes, que eram usados como mão-de-obra barata, faziam o trabalho de um profissional, porém recebendo menos e sem os encargos trabalhistas e direitos como férias, 13º salário, licença-maternidade e planos de saúde, entre outros, além de uma enorme carga horária. Outro motivo de reclamação era a exigência de experiência por parte de empresas. Ora, se o estudante ainda não havia conseguido o primeiro estágio, naturalmente, não teria qualquer tipo de experiência para oferecer à empresa contratante. Isto vinha beneficiar somente àqueles que já tinham algum tipo de experiência. Do contrário, muitos realizavam tarefas diferentes daquelas combinadas no contrato. O fato é que antes da nova lei, tudo servia para prejudicar o estagiário, de modo que, muitos, ao acabar o contrato, não conseguiam sequer aprender o necessário para se tornarem bons profissionais no mercado, tão logo recebessem o diploma. Em virtude disso, a atividade se tornava alvo fácil de sobrecarga de responsabilidades, baixos salários e uma total ausência de regulamentação. Para Ana Paula, essa situação irá tomar novos rumos com o surgimento da nova lei. “A fiscalização mais rigorosa não possibilita a contratação de ‘mão de obra barata’, mas sim a de profissionais qualificados, a serem
integrar o itinerário formativo do educando, visa o aprendizado de competências próprias da atividade profissional e a contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho”, salienta Ana Paula Queiroz Guimarães, psicóloga e coordenadora de consultoria interna de RH do Diários Associados Minas. Na realidade, o que acontecia era uma indiferença por parte das empresas com os estagi-
treinados e desenvolvidos dentro de uma empresa. Os acompanhamentos mais próximos da faculdade e empresa possibilitam feedbacks mais precisos para o desenvolvimento acadêmico e profissional do estudante. A redução da carga horária possibilita ao estudante maior disponibilidade para desenvolver suas atividades acadêmicas. Acredito que quanto maior o aprendizado acadêmico, maior é a influência positiva nas atividades desen-
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Ilustrações: Rodrigo Zavagli - 6ºG
volvidas na empresa”, ressalta a psicóloga. Portanto, o estudante e estagiário, mesmo que esteja empregado, é bom ficar atento às mudanças efetuadas pela nova lei. Há de se ressaltar que esta somente é válida para novas contratações ou para a renovação do contrato. A idéia é procurar valorizar o estágio como um ato educativo e não somente como mão-de-obra barata. As principais alterações se deram quanto à carga horária, que agora passa de 8h diárias para 6h (ou 30h semanais) e também o direito ao recesso remunerado, preferencialmente no período das férias escolares, que são de 30 dias. Isso, após um ano de estágio, na mesma empresa, e proporcional quando for abaixo de 12 meses. Há de se ressaltar que os contratos não podem exceder ao período de dois anos. Ainda que a relação do estagiário com a empresa não caracterize vínculo empregatício, estão assegurados auxílio transporte, assistência médica e seguro de vida, sem qualquer ônus ao contratado. Diante disso, será obrigatório às empresas contratantes, enviarem, a cada seis meses, um relatório à instituição de ensino com as atividades monitoradas realizadas. E, durante este período, ainda será obrigatório o acompanhamento do estagiário por um profissional da área. Ao contratado cabe assinar um termo de compromisso, frequentar o estágio, discutir, sanar dúvidas com o orientador, aprender, elaborar relatórios com intervalos de, no máximo, seis meses e administrar racionalmente os próprios proventos.
Com o intuito de explicar a legislação a estudantes, instituições de ensino e empresas contratantes, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) publicou e vem distribuindo, gratuitamente, uma cartilha esclarecedora sobre a Lei nº. 11.788. Cartilha esta, que está disponível também para impressão na internet. (http://www.mte.gov. br/politicas_juventude/Cartilha_Lei_Estagio.pdf ) A nova lei do estágio também foi motivo de discussão entre os especialistas, que estão divididos entre os impactos que esta irá provocar. Alguns dizem que tais mudanças devem aumentar o número de vagas e torná-lo, propriamente, mais uma atividade de aprendizagem. Outros, levando em consideração que a lei foi aprovada em meio a uma crise sistêmica, acreditam que uma possível retração econômica poderá acarretar corte de funcionários. De acordo com alguns analistas, as novas restrições também poderão fazer com que as empresas percam o interesse em contratar estagiários, diminuindo, com isso, os custos. “Isso é relativo. Para efetivação de um estagiário deve existir a vaga na empresa, além do estudante ter apresentado uma boa aprendizagem, adaptação, iniciativa,
espírito inovador dentre outros. Acredito que a nova lei (ou a anterior) influencia menos que o desenvolvimento individual de cada estudante”, assegura Ana Paula. O limite de permanência de dois anos dos estagiários nas empresas tem sido também um dos pontos de polêmica. Enquanto, para alguns, a medida favorece a rotatividade desses jovens no mercado de trabalho, para outros, inibe sua conseqüente efetivação. Muitos especialistas acreditam que o acesso às vagas será dificultado aos alunos dos primeiros anos, uma vez que as empresas não devem investir em talentos que poderão ser dispensados posteriormente. A verdade é que os estagiários são importantes para as empresas e vice-versa. Com a cabeça ainda voltada para o meio acadêmico, o estudante também traz novas idéias, oxigena a empresa e ainda faz uma ponte entre a teoria e a prática. Por outro lado, a empresa, com profissionais experientes contratados, também pode proporcionar aos estagiários, maiores conhecimentos sobre a profissão e, de acordo com Ana Paula, a formação de profissionais sem vícios, já inseridos no contexto cultural da empresa.
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Tecnologia • 07
Editor e diagramador da página: Diogo Hot e Rodrigo Zavagli - 6º período
O Ponto
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
A busca pelo poder Em constante crescimento, Google torna-se o todo poderoso da Internet e cria um monopólio na Web Foto: reprodução de página da Web
ALEXANDRE CARVALHO ANA FLÁVIA GOULART HENRIQUE CARVALHO 5º PERÍODO Ao completar dez anos de sua fundação e instalação em uma garagem alugada na Califórnia, EUA, a maior ferramenta de busca online do mundo, o Google, teve seu valor de mercado estimado em outubro de 2008 em 120 bilhões de dólares. Hoje, são realizadas cerca de 100 milhões de buscas, diariamente, utilizando o site criado pelos estudantes Ph.D de Stanford Larry Page e Sergey Brin. Esse número, em constante crescimento, trouxe à tona uma realidade constatada por especialistas de todo o mundo: é praticamente inevitável o estabelecimento de uma monocultura do Google na internet. Quando o Google surgiu, outros sites de busca já estavam em operação, como o Alta Vista. O diferencial, determinante para o sucesso do novato, foi o lançamento de uma tecnologia mais avançada: o PageRank. O sistema garante que os resultados mais acessados pelos usuários apareçam primeiro quando uma busca for realizada, como
se as páginas fossem votadas pelo número de acessos que elas recebem, constituindo um ranking classificatório. Tal tecnologia, aliada à simplicidade e à qualidade do serviço oferecido, fez do Google uma ferramenta mundialmente conhecida e utilizada. Hoje, “google” é até mesmo um verbo empregado pelos norte-americanos quando querem inferir que irão pesquisar sobre um termo desconhecido: “Google it!”. Segundo o Analista de Sistemas Celio Faria Junior, formado em Ciência da Computação pela Universidade Fumec, a soberania da marca no campo é indiscutível e a justificativa para tal está na maneira em que a empresa é conduzida. “A combinação tríplice de muito dinheiro, feedback incrível e a posse do sistema que, apesar do avanço tecnológico na área, ainda é a melhor ferramenta de buscas na internet, é muito difícil de ser superada. É uma empresa que defende a filosofia de fazer dinheiro sem ser má e, ao mesmo tempo, tem um lucro absurdo”, afirmou o analista. Ele se refere à filosofia descrita nas missões do Google como empresa. Toda companhia, ao ser fundada, define sua missão Fotnte: www.comscore.com
Escolha pelo Google como site de busca em alguns países Europa
Ásia e Oceania
Índia 80% 94% Austrália 77% 93% 72% 93% N. Zelândia 57% 93% Singapura Malásia 51% 92% Japão 92% 40% 88% Hong Kong 26% China 84% 19% Taiwan 84% 18% Coréia 5% 83% 81% 80% América Latina 80% 76% Chile 93% 73% Venezuela 93% 32% Colômbia 91% Argentina 89% América do Norte Brasil 89% Canadá 78% México 88% EUA 53% Porto Rico 57%
Portugal Espanha Suíça Finlândia Bélgica Dinamarca Áustria Itália Holanda França Noruega Suécia Alemanha Irlanda Reino Unido Rússia
Gráfico mostra o domínio do Google nos grandes centros
07 - Google.indd 1
Em dez anos, o Google tornou-se unanimidade em sites de busca e visão, o objetivo de quem se insere no mercado. O Google determinou dez princípios básicos como “Democracia na Internet funciona”, “Você pode fazer dinheiro sem ser mau” e “Rápido é melhor que devagar”, que demonstram a ideologia forte e positiva que a empresa carrega. De acordo com Faria Junior, enquanto eles agem de acordo com tais valores, os usuários têm muito a se beneficiar com o monopólio do Google no campo em questão, já que o serviço prestado é realmente de qualidade. Porém, sua posse de informações é infinita - assim como seus objetivos nessa área – e, por isso, perigosa. “A maior parte da receita do Google vem de publicidade, pelos anúncios feitos em seu site. São chamados, por eles, de links patrocinados, despistando a propaganda realizada”, explicou. “Hoje, se você pesquisar por vinho, o Google te traz anúncios. Se escrever cachaça, não. Charuto, sim. Cigarro, não. Ou seja, é uma empresa tão arrojada que não vende anúncios de sexo, cigarro ou bebida. Isso é muito bom, mas demonstra o poder do Google sobre os usuários: ele dita o que é bom e o que não é”, informou Faria Junior. Já o coordenador de informática da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec, Marden Pinheiro, acredita que o Google possui projetos muito maiores do que a venda
de informações sobre os usuários. “É possível que ele use o perfil montado para definir seus próximos lançamentos, mas não creio que chegarão a esse ‘fundo do poço’. Para mim, o papel da empresa no mercado já é muito maior que isso. Além disso, se o fizer, pode ser o seu fim”, argumentou Pinheiro.
‘‘É uma empresa que defende a filosofia de fazer dinheiro sem ser má e, ao mesmo tempo, tem um lucro absurdo’’
Celio Faria
O que nos protege desse domínio é justamente a conduta que o Google possui, presa às suas próprias convicções e à idéia de dar mais do que receber. De acordo com o analista Celio Faria Junior, o mercado de buscas vem crescendo moderadamente, pois o ritmo de digitalização do mundo, apesar de alto, diminuiu. O papel majoritário do Google é, para ele, garantido. Porém, a dominação do mundo não acontecerá. “O maior exemplo disso é o fracasso do celular lançado por eles, o Android, que possui uma plataforma fenomenal e ferramentas fantásticas. Ainda assim, o celular mais desejado é o IPhone. Empresa nenhuma tem condições de dominar tudo
porque o capitalismo não permite. Mesmo quando a Microsoft dominava totalmente o Office, o pessoal ainda encontrava uma maneira de piratear”, concluiu Faria Junior. Essa opinião é compartilhada pelo coordenador Pinheiro, que destaca ainda o benefício dos usuários com o monopólio. “O Google se tornou hegemônico, todo mundo usa. Logo, ele é sempre aperfeiçoado. Como os outros perdem seus acessos, fica cada vez mais difícil mantê-los no estado da arte da pesquisa. Assim, quanto mais usamos, melhor o Google se torna”, explicou o coordenador. Porém, nos alerta para um problema: “o maior perigo neste caso – e não seria a primeira vez – é a empresa sentar-se sobre o seu domínio, preguiçosamente, depois de ter ‘arrasado’ a concorrência. Neste caso, pior para todos nós, pois teríamos perdido as outras opções, e seriamos obrigados a recorrer ao monopolista”, concluiu. Para aqueles que, ainda assim, temem o conhecimento do Google sobre você, há sempre diferentes opções para efetuar as buscas na internet. O Alta Vista, Yahoo! e o Live Search, da Microsoft, são algumas delas. Mas já advertimos que é muito difícil escapar da tendência de digitar google.com: até mesmo para escrevermos essa matéria nos rendemos à soberania do maior site de buscas da internet.
5/7/09 10:33:09 AM
08 • Educação
Editor e diagramador da página: Nathália Drumo
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
O Ponto
Desacordo Ortográfico Enquanto o Brasil ratifica o Acordo Ortográfico, em Portugal a população se manifesta contra as mudanças TAISSA RENDA CAROLINA COSTA 5º PERÍODO
Cercada de polêmicas e incertezas, a unificação da ortografia nos países de língua portuguesa entrou em vigor no dia 1º de janeiro deste ano em metade dos países que têm o Português como idioma oficial. O Novo Acordo Ortográfico foi ratificado no Brasil, Portugal, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Os demais - Timor Leste, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola -, aguardam a decisão de seus respectivos governos. Apesar da anuência dos governantes desses quatro países onde as novas regras foram implantadas, a decisão está longe de ser unanimidade. Em Portugal, a maioria da população está insatisfeita e protesta contra o Acordo. Segundo a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), as mudanças na ortografia afetarão em média 200 milhões de pessoas em todo o mundo e, de acordo com o Ministério da Educação (MEC) brasileiro, a unificação acarretará alterações em 1,6% do vocabulário usado em Portugal e 0,5% no Brasil. Sendo assim, as diferenças ortográficas existentes entre as duas vertentes do Português serão resolvidas em 98%. Nos países em que o Acordo não for ratificado, a ortografia permanecerá inalterada. “O Acordo Ortográfico não se torna parte dos ordenamentos jurídicos nacionais dos signatários e assim as alterações que estabelece não se verificarão na ortografia desses países”, esclarece um documento no site da CPLP. A não alteração da grafia nos países que não se dispuserem a ratificar o Acordo provoca discussão de seus opositores, que consideram o fato uma violação da essência de sua proposta de unificar a linguagem. De acordo com o deputado do Parlamento Europeu, Vasco Graça Moura, “não sendo pois, o Acordo ainda válido nesses países, não se vê como se pode sustentar que ele vigora no ordenamento internacional. E não estando em vigor no ordenamento internacional, ainda menos se vê como há de estar em vigor no nosso país.” Em 2004, estabeleceu-se em um protocolo modificativo, com participação de todos os membros da CPLP, que bastaria a aceitação de apenas três países para que a reforma entrasse em vigor. Para Graça Moura, tal decisão repre-
senta “um clamoroso falhanço diplomático e jurídico”, já que ela não possui poder para dispensar a ratificação dos demais, nem mesmo de obrigá-la, sendo dessa forma, inconstitucional. “Se o protocolo modifica uma convenção internacional sujeita a ratificação, terá de ser ratificado por todos,” concluíu o deputado. Outro ponto crítico do acordo é o que salientam docentes do Departamento de Linguística da Faculdade de Lisboa. Segundo eles, o Acordo engloba critérios de naturezas diferentes, contraditórios entre si. Esses princípios introduzem incorreções de caráter técnico e científico ao desconsiderar a força da etimologia, emudecer algumas letras consonânticas nas pronúncias da lígua culta, consagrar o usual e fazer generalizações. O Professor Doutor da Universidade Nova de Lisboa, Adriano Duarte Rodrigues, explica que estão em jogo questões sobretudo econômicas, que são contraditórias porque, se por um lado a homogeneização ortográfica facilita o intercâmbio internacional da nossa língua, por outro, a adaptação às novas regras vai exigir da parte das editoras grandes investimentos financeiros e muito tempo. Autoridades portuguesas acreditam que a adoção do Acordo irá beneficiar totalmente o Brasil, ficando os outros integrantes da CPLP dependentes da edição e das indústrias culturais barsileiras. Nesse caso, os prejuízos para Portugal seriam muitos: a inutilização de dicionários e livros didáticos – milhões deles adiquiridos pelo Plano Nacional de Leitura –, os custos para aquisição de novos materiais e reclicagem de professores, e a perda da importante posição das exportações da edição portuguesa para a África. Manifesto “Em Portugal, o Acordo Ortográfico só entrará em vigor definitivamente no ano 2012. Até lá é facultativo”, explica Rodrigues. “As opiniões têm sido muito diversas, com alguns entusiastas, alguns protestos e muitos indiferentes. Se reparar bem, este acordo não é muito rígido, não há qualquer alteração no domínio propriamente da língua falada, nas componentes fonética, morfológica ou sintáxica, mas meramente ortográfica”. Em Portugal, um manifesto digital em defesa da língua portuguesa, contra o Acordo Ortográfico, feito por iniciativa de 19 personalidades da cultura, política e economia, reuniu mais de 4000 assinaturas portuguesas.
O manifesto pretende “contribuir como um poderoso movimento de reflexão, apoiado pela opinião pública, sobre os defeitos do Acordo Ortográfico e a necessidade de o bloquear”, afirmou o professor. O texto do manifesto enfatiza: “Recusamos deixar-nos enredar em jogos de interesses, que nada leva a crer de proveito para a língua portuguesa”. Porém, a participação de Portugal é decisiva. Quando o Acordo foi assinado, o que se pretendia era fazer uma unificação das duas vertentes ortográficas do idioma. Caso Portugal não implantasse o Acordo, este passaria a ser apenas uma reforma unilateral no Brasil e deixaria de ser um acordo internacional. A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) era contrária à ratificação do Acordo Ortográfico. Em seu site na internet ainda é possível ler o seguinte texto: “ao contrário do que é dito pelos seus defensores, não se afigura a aproximação das diversas variantes do Português, mas sim a consagração das diferenças naquilo que é fundamental (a sintaxe, a semântica e o vocabulário) com clara vantagem para a variante do Brasil”. Após a divulgação da ratificação de Portugal, a APEL se manifesta favorável ao acordo e em mensagem para O Ponto, por meio de sua assessoria, explica que “uma vez que o Acordo foi aceito pelo Parlamento e promulgado pelo Presidente da República, a posição da APEL é de cooperar na respectiva implementação, na medida das suas responsabilidades e competências” garante Ana Tristão do Gabinete de Comunicação Institucional da APEL. Em entrevista à BBC, o deputado Vasco Graça Moura diz que o Acordo Ortográfico é praticamente a adoção da grafia em vigor no Brasil, com a pretensão de que ela se aplique a todos. “No dia em que a grafia brasileira puder ser utilizada em todos os espaços em que se fala a língua portuguesa, é evidente que os interesses econômicos brasileiros, muito em especial os ligados às edições escolares, estarão altamente beneficiados”, afirma o deputado. Graça Moura diz ainda que a reforma “não traz nenhuma vantagem aos falantes do português do lado de cá do Atlântico e também não traz para os outros países de língua portuguesa”. Para ele, os prejuízos vão além da área econômica, mas se afiguram também na insegurança de professores e estudantes apanhados na transição e na difícil adaptação dos falantes da terceira idade.
Ilustração: Roberta Andrade 6ºG
Não esqueça, anote as novas regras do Português
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As letras “k”, “w” e “y” serão integradas ao alfabeto.
Não se acentuarão mais “i” e “u” tônicos formando hiato quando vierem depois de ditongo: feiúra - feiura / baiúca - baiuca
Não existirá mais o trema, que será mantido apenas em nomes estrangeiros: conseqüência - consequência / bilíngüe - bilíngue
Os hiatos “oo” e “ee” não serão mais acentuados: enjôo - enjoo / lêem - leem
Os ditongos abertos “ei” e “oi” não serão mais acentuados em palavras paroxítonas: idéia - ideia / bóia - boia
Não existirá mais o acento diferencial em palavras homônimas (grafia igual, som e sentido diferentes): pára/para, péla/pela, pêlo/pelo, pêra/pera, pólo/polo
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Educação • 09
athália Drumond e Roberta Andrade - 6º período
O Ponto
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
Com a reforma não se ganha nada
Foto: arquivo pessoal
Em entrevista a O Ponto, Tiago Lopes, 22 anos, formado em Comunicação Social na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e Produtor de conteúdos culturais, fala como o Novo Acordo Ortográfico foi recebido em Portugal. O Ponto: O Novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa foi assinado em 1999, mas só entrou em vigor no começo deste ano e ainda prevê um período de três anos de adaptação. Como você enxerga a demora da ratificação e como Portugal se prepara para a alteração definitiva das regras ortográficas? Tiago Lopes: Politicamente a questão é mais complexa. De fato o acordo só foi ratificado tardiamente, porque nenhum governo quis ficar conotado como sendo o governo que aprovou a reforma que tanta polêmica tem levantado. Os prazos de implementação do Acordo não foram ainda debatidos com propriedade, mas já há algumas iniciativas em curso para a sua implementação. A iniciativa mais significativa é a TLEBS - Terminologia Línguistica do Ensino Básico e Secundário. De qualquer forma, o mais importante está por fazer: compilar um dicionário especializado das palavras e expressões que serão contempladas pelo Acordo. Em Portugal esse dicionário ainda não foi sequer projetado. O Acordo não foi bem recebido em Portugal. Qual a sua opinião em relação a ele? Realmente o Acordo Ortográfico não teve boa aceitação em Portugal. São muitos os setores que se levantam con-
tra aquilo que se afirma como sendo uma descaracterização cultural e uma perda de identidade linguística. Eu faço parte daqueles que se levantam contra o Acordo. Acredito que a língua portuguesa não ganha nada com a uniformização. O bonito, a riqueza do Português, estava na Tiago Lopes se manifesta contra o Acordo sua diversidade, nas diferenças que se podiam encontrar à escala meu país. O problema de base do Acordo global. Ortográfico é simples: não se podem E os demais países de língua portu- implementar leis, com as quais a populaguesa, como estão lindando com este ção não concorda. As leis necessitam de Novo Acordo? uma aprovação cultural para serem efeA aceitação dos países varia muito. Sei tivamente realizadas. E neste momento que o Brasil é, possivelmente, o país que a grande maioria dos portugueses, cerca melhor tem aceitado a Reforma. Angola de 75%, está contra a reforma linguística, e Moçambique estão entrando com uma por não perceber as vantagens desta. enorme lentidão no processo pelas mesApesar de se posicionar contra mas razões que Portugal. Adiar aquilo a mudança ortográfica, há algum que ninguém quer. Este é um acordo aspecto da reforma que você considera ridículo pela forma como nasce. positivo? Quais serão os impactos mais signiA única vantagem enunciada pelos ficativos a partir da unificação da lín- poderes políticos é a facilidade dos gua portuguesa? negócios e comunicação entre os CPLP, O impacto das reformas linguísticas mas essa razão é amorfa. Até o presente, vai ser brutal em todos os setores. As a comunicação e os negócios têm se alterações exigirão um esforço de adap- realizado sem ser necessário destruir o tação, que muito sinceramente não me patrimônio linguístico natural. O que disponho a fazer. Pode ser entendido está em causa é a destruição de uma culcomo teimosia, mas eu não me dispo- tura secular em prol de vantagens que nho a abrir mão da herança cultural do ninguém compreende.
Reformas da língua portuguesa Até 1911 havia uma só ortografia da língua portuguesa. Nesse ano, Portugal fez uma reforma unilateral que aprofundou as diferenças de grafias, pois o Brasil não foi consultado. A partir de então, o Português passou a ter duas vertentes. Em 1943, a Academia das Ciências de Lisboa propôs um Acordo Ortográfico que foi ratificado apenas por Portugal. Mais tarde, no ano de 1973, pequenas alterações foram introduzidas para promover uma aproximação com o Brasil. O Novo Acordo Ortográfico original foi aprovado no dia 12 de Outubro de 1990 e assinado pelos integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em Lisboa. Este, previa que as mudanças entrariam em vigor no dia 1º de Janeiro de 1994, após o aval de todos os países envolvidos. Porém, até 1994 apenas Brasil e Cabo Verde haviam consentido as mudanças, fazendo com que a reforma não entrasse em vigor. Devido ao ocorrido, foi preciso modificar os protocolos (sem alterar o texto do Acordo). O primeiro, de 1998, manteve a neces-
O hífen não será mais utilizado em prefixos terminados em vogal seguida de palavras iniciadas com “r” ou “s”. Nesse caso, essas letras deverão ser duplicadas: contra-regra - contrarregra / ultra-sonografia - ultrassonografia O hífen será utilizado quando o prefixo terminar com uma vogal e a segunda palavra começar com a mesma vogal: microondas - micro-ondas / antiinflamatório anti-inflamatório
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sidade de aprovação de todos os países, mas aboliu o prazo de validação. O segundo, em 2004, estabelecia que para entrar em vigor, a reforma precisaria apenas do consentimento de três países da comunidade. O Brasil ratificou no mesmo ano, seguido de Cabo Verde, em 2005, e São Tomé e Príncipe, em 2006, fazendo com que a reforma fosse oficializada no dia 1º de Janeiro de 2007. Os entraves políticos e as crises internas impediram que Portugal assinasse o Acordo. Como o país era considerado fundamental para o avanço das mudanças, apesar de oficializada, a reforma não foi, de imediato, colocada em prática. Após polêmicas e adiamentos, Portugal ratificou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, no dia 16 de maio de 2008 e estabeleceu prazo de seis anos para as novas regras começarem a valer. No Brasil, a nova ortografia passou a vigorar no dia 1º de janeiro de 2009, com o período de transição válido até 31 de dezembro de 2012.
O hífen não será utilizado quando o prefixo terminar em vogal diferente da que inicia a segunda palavra: auto-ajuda - autoajuda / auto-escola - autoescola Em Portugal haverá a eliminação do “h” em certas palavras como humidade e húmido passando a escrever-se como no Brasil, umidade e úmido respectivamente. Retira-se o “c” e o “p” das palavras onde não são pronunciadas: acção - ação / facto - fato / Egipto - Egpto / óptimo - ótimo
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O Super-Herói das ruas de Belo Horizonte Fotos: Samuel Aguair - 8ºG
Fotos: Michele Cristina e Flávia Leão - 5ºG
...o sinal vermelho marca a largada para Lacarmélio iniciar suas vendas
O dia começa agitado. Em casa, Lacarmélio esboça sua próxima história em quadrinhos, antes de ir para as ruas e começar a labuta...
Adorei a última revista. Esta é a nova?
Leia Celton!
ra tarde de sexta feira e a Avenida Cristóvão Colombo, o “coração” da Savassi em Belo Horizonte, borbulhava de gente. Em meio ao caos cotidiano, o vai-e-vem de pessoas pelas calçadas, a fumaça e o barulho dos carros, surge um homem carregando uma enorme placa, vestido de terno amarelo e gravata laranja, num calor insuportável. Como um personagem de histórias em quadrinhos, ele corria enfrentando a selva de carros e de pessoas que andavam apressadas, aproveitando-se de cada minuto do sinal vermelho. “Celton, Celton, eu quero uma revistinha!”, gritava um jovem motorista com R$ 2,00 na mão estendida pela janela do carro. O nome Celton, na verdade, é do herói das histórias em quadrinhos que tem como cenário para suas aventuras a cidade de Belo Horizonte, mas quem se arrisca nas ruas é Lacarmélio de Araújo, o criador da revista, que adotou o nome de seu personagem. História de Vida Celton nos contou que o sucesso de sua iniciativa se deve a anos de dedicação antes da publicação da sua primeira revista. A idéia surgiu quando ainda era criança, aos seis anos de idade. Nessa época ele já dizia: “Eu quero ser desenhista de história em quadrinhos”. Sempre gostou das artes em geral. Em 1972, quando Celton e sua família vieram do interior para morar em Belo Horizonte, ele ainda desenhava por hobbie, mas já sonhava em ser profissional. Ao longo da vida teve que trabalhar em outras áreas, mas seu sonho não se perdeu. Durante os 20 anos em que trabalhou em uma gráfica como desenhista também aperfeiçoou o desenho
HQ e Cinema Em 2007, a Petrobras lhe convidou para um projeto. Era uma revista em quadrinhos para o festival de cinema que aconteceria em Tiradentes. Isso lhe rendeu muita repercussão e ajudou a divulgar, ainda mais, o seu trabalho. Porém, ele alerta para os desavisados que acham que tudo isso foi um patrocínio. Lacarmélio explicou que, na verdade, foi um trabalho encomendado, com um objetivo definido. “A parceria foi muito boa para mim, o grande problema foi que, depois, as pessoas acharam que eu estava nadando no dinheiro. Muita gente se assustou pelo fato de estar de A invasão das bancas volta às ruas”, comentou. No fim da conversa, Celton compartilhou seus planos e expectativas para 2009, que incluem a venda nas bancas e a tentativa de conquistar também o público paulista. Para ele, a revista ganharia muito se saísse das ruas, mas nos revelou que não é fácil revista, e Belo Horizonte passou a ser cenário de suas assim. “As bancas são um clube fechado, por isso vou fazer histórias. Com isso, estudou mais a história de BH como no começo, ir devagarzinho, ganhando meu espaço”, e Minas Gerais, e a cidade desconhecida, habitada ressaltou. por personagens de influência Norte-Americana, da Já em São Paulo, Celton pretende vender as revistinhas qual o super-herói Celton vivia, deixou de ser cenário como vende aqui em BH, nos engarrafamentos das principais nas histórias. “Recomecei com uma revista inédita avenidas da cidade. Ele está planejando passar 15 dias em um número um, com histórias inéditas, dando, também, apartamento alugado e partir para as ruas. Se tudo der certo, uma ‘geral’ na minha vida, passando a descobrir o quem sabe os traços do nosso Super-herói Lacarmélio de que estava dando errado”, revelou. Araújo ganharão, em breve, as ruas de todo nosso país.
e a escrita, ele contou que costumava pensar nos seus quadrinhos, e aproveitando o dinheiro que sobrava no mês, encomendava pequenas quantidades de revistinhas para vender em bares e ruas de BH. Nessa época, porém, Celton ainda não tinha lucro algum com a revista, mas continuou perseverante. Ele diz que é “pé no chão”, não acredita nesse papo de sucesso, de talento por si só, sabe que tem contas a pagar e por isso nunca se deixou levar só pelo sonho da revistinha. O carisma de Celton é diferencial na sua abordagem, “eu acho que ele é um grande vendedor, é um exemplo para todos”, comentou a estudante Mariana Fonseca, que passava pelo local e aproveitou para comprar um exemplar.
Reformulação Diante da pergunta do porquê da sua inseparável placa, Celton revelou que antes de ter essa idéia, recorria aos muros públicos para divulgar seu trabalho, pichando “Leia Celton”, mas logo foi advertido pela prefeitura. Por isso, a placa hoje serve como forma de divulgação, atraindo olhares curiosos de quem passa pelas ruas. Aliás, foi só em 1998, quando voltou a publicar a HQ, que decidiu reformular a
Diversão para todos O público da revista é bastante diversificado, desde crianças até idosos. Sabendo disso, Celton desenvolve suas idéias sem pensar em um leitor específico. É a partir dos comentários que recebe por e-mail, daqueles que acompanham seu trabalho, que ele se inspira para criar suas histórias e seus personagens, além do cotidiano da própria cidade. Ao longo de suas histórias, podemos observar vários pontos marcantes da capital, como o Mineirão e a Igrejinha da Pampulha, por exemplo. Segundo Celton, algumas vezes surge uma idéia da qual ele gosta muito, mas, antes que ela seja colocada em desenvolvimento, é preciso “sondar” a receptividade do público. “Não faço a revista para mim, e sim para os meus leitores”, explica. Mas nem sempre essa receptividade é positiva. Celton narrou um acontecimento engraçado. Uma vez, um casal de senhores fez o sinal da cruz repudiando e se horrorizando com o título da revistinha na sua placa, “O Capeta do Vilarinho”, enquanto ele vendia em frente ao Minas Shopping. Mas Celton não é do tipo “brigão”, acontecimentos assim, são “ossos do ofício” e, por isso, leva sempre na esportiva. O reconhecimento do público é sua maior conquista, é uma realização diária. “Só penso que devo ter sempre um “pé atrás” com relação a isso, pois qualquer “manota” pode colocar tudo a perder”, ponderou.
Continua, pelas ruas da capital...
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Comportamento • 11
Editor e diagramador da página: Filipe Barbosa e Lira Favilla - 6º período
O Ponto
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
Geração Beat Entenda o movimento e suas consequências para a sociedade contemporânea Francisco Vorcaro Lívia Rios Maria Adélia 5º Período www.trekearth.com
Você provavelmente nunca ouviu falar dos Beats. Mas com certeza deve ter ouvido falar dos hippies, punks e góticos, certo? Denominados pela grande mídia como moviMarcados pela automentos de contra cultura, ou seja, grupos que nomia do faça-vocêmesmo, o interesse vão à contracorrente dos valores impostos pela pela aparência sociedade e decidem por conta própria criar agressiva, a simplisua própria sociedade. Apesar das diferenças cidade, o sarcasmo apresentadas entre cada um destes movimenniilista e a subversão tos, todos apresentam algo em comum, eles são da cultura. reflexos do pioneirismo e audácia de um grupo de enérgicos e talentosos jovens norte-americanos, conhecidos como Beats. O termo Beat é de origem controversa. Jack Kerouac, principal escritor do movimento, queria www.kerouac.com que o termo fosse uma abreviação de beatitude, enquanto críticos e estudiosos, atribuíram tal denominação a influência direta do jazz, princiJack Kerouac resolveu pal fonte de gírias e novos termos da contra culpegar estrada e sair tura da época. Somado ao radical Beat, o sufixo viajando pelo mundo. Desta viagem resultou do satélite russo Sputnik, enviado ao espaço o livro “On the road” em 1957, surge a palavra Beatnik, usada para que foi marcado como designar, dali em diante, os seguidores do símbolo da literatura movimento. beat. Com um estilo Inserido num cenário social de prosinconfundível o livro se peridade econômica dos Estados Unitornou o manifesto da dos da década de 50, o movimento geração e precursor de beat nadou na contracorrente do uma revolução cultural otimismo da classe média nortenos EUA. americana, sendo o pioneiro da manifestação consistente da crise que estava latente na www.colband.com.br América do pós-guerra. A geração Beatnik veio com uma angustia existencial não muita definida, e tinha como propósito a modificação de postura perante o convencionalismo e moralismo extremados que ainda imperava na sociedade. Negando os moldes da vida convencional, os beats se viam num estilo de vida que o “american way of life” não poderia comportar. A ânsia por mudanças, busca de experiências autênticas, compromisso selvagem Durante a Guerra Fria a expressão e espontâneo com a vida até seus era muito utilizada para mostrar as mais perigosos limites, promoveu diferenças da qualidade de vida entre uma ruptura principalmente da liteas populações dos blocos capitalista ratura, mas também na própria postura e socialista. A cultura popular de encarar e viver a vida. americana abraçava a idéia de que O embrião do movimento foi o campus qualquer indivíduo, independente da da Universidade de Columbia, onde um sua vida no passado, poderia aumentar grupo de jovens estendeu sua convivência significativamente a qualidade de sua para dentro dos bares de jazz e apartamentos vida no futuro através de determinação, pobres do subúrbio de Nova Iorque. Posteriortrabalho duro e habilidade. Acredita na mente, se entregaram a diversas viagens cruzando crença da “superioridade” da democracia o país buscando uma nova maneira de ver e entendita livre, fundada num mercado de der a vida. Assim, regados a jazz, drogas, sexo livre e trabalho competitivo sem limites. “pé na estrada”, resolveram fazer sua própria revolução cultural.
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Para esclarecer a importância e influência do movimento Beat para a sociedade contemporânea, entrevistamos o professor da disciplina de psicologia social da Universidade Fumec, Sr. Jacques Akerman. Foto: Livia Ramos - 5ºG
O ponto – Na sua opinião, qual foi o impacto do movimento Beat para sociedade pós-segunda guerra na década de 50?
Jacques - O próprio movimento Beat já foi um efeito do contexto pós-guerra. Com o declino da idéia de que a racionalidade, o bom uso da razão pudesse nos levar a um bom lugar, instaurou-se, através do movimento, uma ruptura com as tradições vigentes, com a idéia de família, trabalho e com a idéia de pátria. E isso, paradoxalmente, teve um lado positivo, da perspectiva da criação, da liberdade de expressão, da arte e da literatura, e outro negativo, representado pelo esvaziamento de certas referências importantes, e pelo imperativo do gozo levado ao extremo, com todas as suas implicações. E qual foi o seu impacto no imaginário da juventude da década de 50? Embora eu não tenha convivido com eles, diria que um movimento quando ganha expressão de massa, é como se houvesse certa autorização da cultura para que o indivíduo pudesse atuar (na dimensão mesma do ato), em detrimento da reflexão, do saber, da teoria. O elemento mais importante para se pensar na subjetividade é o uso do corpo traduzido no ato, na perspectiva do gozo e das diversas formas de prazer, e não mais na perspectiva da renúncia. Esse eu diria que foi o maior impacto no imaginário da juventude da pósmodernidade. Como você acha que esse movimento afetou o comportamento dos jovens nas décadas posteriores? O movimento Beat faz esse questionamento radical das tradições e isso, pode-se dizer, está presente até hoje com as variações dos movimentos que se seguiram, como, por exemplo, o movimento Hippie. A idéia da ruptura faz parte da nossa cultura, todos rompem o tempo todo com alguma coisa, ela foi absorvida pelo capitalismo e virou um produto, o “chique” hoje é não ser tradicional. E isso afetou o comportamento das pessoas, interferindo nos costumes, nas tradições e na sexualidade. E no Brasil, você enxerga alguma influência? O mundo inteiro herdou um pouco, com maior ou menor intensidade, dessa ruptura com as tradições, da qual falamos. E com o Brasil não foi diferente, os extremos sociais estão aí, convivendo lado a lado, com todos os tipos de referência. A maior influência, porém, pode-se dizer, é o sentimento de insatisfação e de inconformismo traduzidos numa perspectiva de expressão da cultura. Na música, é possível reconhecer alguma influência no Rock, e também na literatura, em especial a dos anos 80, que de certa forma veio romper com a literatura clássica. A ditadura em 64, porém, inibiu grande parte das manifestações culturais, naquele contexto, tudo que tivesse certa conotação de ruptura, viria a ser ameaçador.
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12 • Cidade
Editor e diagramador da página: Pedro Leone - 6º período
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
Vidas trançadas no salão
O Ponto
Criado há 40 anos, projeto Meninas de Dora abre novas perspectivas para jovens em risco social PEDRO GONTIJO 5º PERÍODO A simplicidade do shopping São Vicente, na Avenida Amazonas, centro de Belo Horizonte, esconde no segundo andar um lugar inusitado em meio à capital. Ao entrar, o ambiente familiar que já é perceptivo logo no começo e os sorrisos amigáveis que se multiplicam, mostram que o salão de cabeleireiro de Dora Alves é mais do que aparenta ser. O local de paredes pretas e cinzas estampa na placa da entrada a ideologia de sua proprietária, “União de todas as raças”. Somos convidados a entrar e sentamos juntos a dois jovens que esperavam ser atendidos. Dora Alves, de 56 anos, teve uma origem humilde num aglomerado de Belo Horizonte no bairro Primeiro de Maio. Aos oito anos de idade perdeu seu pai e aprendeu trançar cabelos para complementar a renda. “Cheguei até a fazer pirulito em casa pra vender”, diz Dora. A medida que aperfeiçoava suas técnicas como cabeleireira, ensinava o que aprendera às meninas que moravam próximas a ela. Apareciam os traços do que viria a ser o seu projeto social “Meninas de Dora”. Um salão de beleza étnico, de valorização da cultura afro, dedicado a todo público interessado, acolhendo jovens em situação de risco social. A esses jovens é dado trabalho, abrigo, carinho, respeito, dignidade. Uma oportunidade para começar uma nova realidade, a se valorizar através da imagem e do trabalho. É assim que Dora, hoje, faz do projeto um modo de vida que encanta quem a conhece. A simbiose entre Dora e seu projeto é tão
intensa que ela não sabe precisar quantas pessoas já passaram pelo salão, ou até mesmo há quanto tempo esse trabalho vem sendo feito. Meninas de Dora O projeto de Dora existe a mais de 40 anos, e no dia 28 de novembro de 2007 se transformou em uma ONG, devido à necessidade de se legalizar perante o Estado. Por diversas vezes, órgãos da prefeitura ameaçaram fechar o projeto. “Dizem que não há estrutura para que eu atenda essas pessoas, que eu teria que ter psicólogos, pedagogos, mas eu continuo do mesmo jeito, o que eu vou fazer, mandar elas de volta pra onde estavam sem oportunidades, sem cuidados?” Todo o trabalho social desenvolvido por Dora é pago com o lucro do salão, desde a alimentação das meninas ao material para que elas possam trabalhar. Na medida em que a conversa se desenvolve, é possível perceber porque é tão difícil classificar o trabalho feito por ela. Não se trata de um local fixo onde as pessoas vão e pedem ajuda, recebem um prato de comida ou agasalhos. Dora realmente abraça essas pessoas e todos os funcionários de seus dois salões, um na Av. Amazonas, e o outro mais recente, dado de presente pelo seu marido, na Av. Augusto de Lima ambos no centro da capital. Várias dessas meninas moram na casa da própria Dora até conseguirem se estabelecer. “Muitas das pessoas que passaram por mim hoje em dia são empresárias, tem sua casa própria, tem renome no mercado.” O projeto da cabeleireira virou inclusive objeto de estudo da professora
Fotografias: Thiago Prates 5ºG
Dora Alves (esq.) junto à equipe do salão que abriga como sua família
Nilma Lino Gomes em sua tese de Doutorado da USP – “Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte”, que depois se tornou o livro “Cabelo, corpo e identidade negra”, da mesma autora. Após uma aparição de seu projeto em uma rede de TV, Dora passou a ser mais conhecida e seu projeto a ter mais visibilidade. “No dia seguinte à exibição, havia cerca de 120 pessoas na porta do salão pedindo para participar do projeto. Fizemos uma seleção e pega-
mos 80 dessas pessoas para um curso profissionalizante.” Esta oficina ficou conhecida como “Clube das Trançadeiras” e hoje Dora leva esse curso para diversas regiões de Minas Gerais ensinando penteados étnicos tais como tranças africanas, tranças jamaicanas, alongamentos e dreads. A cabeleireira também ministra um curso profissionalizante na escola Raimundo da Silva Soares, que atende moradores da Pedreira Prado Lopes e da vila Senhor do Passos, e no Ciame Pindorama (Centro Integrado de Atendimento ao Menor), além de já ter feito oficinas em diversas entidades voltadas para o “auxílio” ao menor, como no Centro de Internação Provisória – Ceip - Dom Bosco, e no Presídio Feminino de Belo Horizonte. Realizando Sonhos Antes de encerrar, já ao fim da tarde, surgem no salão dois rapazes. Um deles, Bruno Goretti, havia conhecido Dora enquanto estava no Ceip Dom Bosco. A
cabeleireira estava dando um curso na instituição e cuidou do cabelo do rapaz. “Eu estava com cabelo gigante”, diz Bruno, colocando as mãos acima da cabeça. “Depois do curso fizemos um desfile, e o Bruno, ao final, subiu no palco fez um discurso e começou a cantar um dos rap´s que ele tinha feito. Fiquei emocionada com aquilo. Falei pra ele me procurar quando saísse de lá”, contou Dora. O motivo da visita: Bruno havia deixado o Ceip Dom Bosco na última sexta feira. De repente, Dora se levanta, ”Bruno meu filho, vem cá. Canta pra gente”. O rapaz mostra certa timidez, mas de prontidão atende ao chamado da cabeleireira. “Vamos arredar essas cadeiras aqui”, diz já escolhendo o local que transformaria em palco. O rapaz que fazia dreads com uma das meninas logo se vira afim de ver o que acontecia, o garoto franzino começa a buscar ritmo no bater das mãos nas pernas e começa a mostrar o que sabe. Na letra, um misto de dor e esperança, em versos inspirados na vida do próprio compositor. Ao final, sorrisos e aplausos em um lugar que transpira oportunidade.
“As meninas vem morar lá em casa. Ficam o tempo que precisarem até terem condições de ter uma casa só delas, uma forma de levar a vida com suas próprias pernas. Hoje tem meninas que passaram no projeto que já tem seu próprio salão.” Voltados para a cultura afro, os salões de Dora contam com funcionários acolhidos pelo projeto
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Dora Alves
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Editora da página: Clarissa Schembri - 6º Período Diagramadores da página: Bárbara Camargo e Felipe Chimicatti - 7º período
O Ponto
Cultura • 13 Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
Quarteirão do SOUL
Frequentadores dos antigos bailes soul da capital e novos amantes do estilo black music fizeram da região central de Belo Horizonte, um reduto de boa música, dança e comunhão, nas tardes de sábado
Fotos: Clarisse Schembri - 6ºG
JULIANA MOREIRA 7º PERÍODO Em abril de 2004, o universo da Black music ganhou um importante espaço no centro da capital mineira: o Quarteirão do Soul. O movimento alcançou grande destaque no cenário musical de Belo Horizonte surgindo, então, com o intuito de reunir amigos que freqüentavam os chamados bailes Black na década de 70. Os bailes foram se extinguindo ao longo dos anos com o fechamento dos espaços. A vontade de oficializar o estilo musical e a identidade de seus adeptos fizeram com que DJ Geraldinho (responsável pela animação local) e a velha guarda os precussores do movimento na capital - transformassem o quarteirão da rua Goitacazes, entre São Paulo e Curitiba, em uma verdadeira pista de dança. Os frequentadores pregam o discurso de igualdade e todos os segmentos sociais e culturais são bem-vindos. Os trajes criados pelo movimento Soul se espelham na figura do cantor norte-americano James Brown, que popularizou o estilo no mundo. O evento, que ocorre todos os sábados a partir das 15 horas e que perdura até ás 20 horas, recebeu importantes incentivos de nomes como o DJ Coisa - Paulo Soares - para que pudesse se expandir estruturalmente: O DJ alimentou, em princípio, o encontro com seus equipamentos de som e é um importante nome no cenário da música eletrônica nacional, especializado em Black Music e Disco Funk há mais de 30 anos. Seu trabalho é conhecido através da banda Berimbrown e ainda realiza vários shows e apresentações pela cidade. A
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idéia começou quando o DJ Geraldinho, a pedido do DJ Abelha e Ronaldo Black, gravou um cd de músicas dos anos 70. No momento em que foi testar as músicas na Caravan 86 do DJ Abelha, o alto som do veículo junto à perfomace do dançarino Ronaldo Black, chamou a atenção dos transeuntes e firmou, a partir daí, as raizes do movimento. Depois disso os encontros passaram a ser frequentes. Hoje o movimento se mantêm das doações dos participantes e conta com o apoio de um bar local. Inclusive os equipamentos do evento advém da verba arrecadada. Além disso, a festa do Quarteirão do Soul já contou com o respaldo da rádio Favela na divulgação do evento, transmitindo ao vivo o encontro. Inclusão Mais do que a criação de um espaço de expressão cultural, o movimento proporcionou aos participantes a inclusão social. A curiosidade dos estudantes e profissionais dos meios de comunicação pelo trabalho e pela vida dos DJs e dançarinos, envolvidos no projeto da Black Music, trouxe a eles auto-estima e um sentimento de pertencimento social, pois são em sua maioria cidadãos comuns oriundos de classes econômica baixas. Despertou-os para a necessidade de se informarem, para o aprimoramento das apresentações e, consequentemente, da repercussão e divulgação do movimento. Um dos fundadores dessa retomada nas apresentações de Soul da capital - DJ Geraldinho - trabalha como lavador de carros no próprio quarteirão onde acontece o encontro: “De segunda a sexta eu sou um lavador de carros. Quando chega o sábado, depois do meio dia, deixo de
ser o lavador de carros e viro o DJ Geraldinho. Sinto muito orgulho disso. E aqui é energia, paz e união entre os pobres de todas as cores, todos são amigos, não existe cor, não existe racismo, todo mundo quer se divertir, em um evento que quer a paz.” E é com esse vigor e amor pela identidade cultural que movimentos importantes como esse sobrevivem e chamam a atenção de quem passa pelo centro de Belo Horizonte. Seja pelo embalo da música; pelo ritmo encantador ou até mesmo pelo tapete vermelho estendido no meio da rua, sob o qual os partcipantes esbaldam sua dança. Quem se permite parar para observar e entender o quê acontece no movimento logo percebe que o evento, na verdade, trata-se de um refúgio da rotina estafante enfrentada diariamente pela maioria dos integrantes do movimento. Todos passam horas a fio dançando sem parar para descansar e nem parece que se trata de um público que, em grande parte, pertence a terceira idade. Durante a semana, a vida destas pessoas transcorre com normalidade - sem a agitação típica do sábado de Soul, apesar de terem sempre em mente o baile; o próximo encontro. Para isso, eles vão a brechós em busca de vestimentas e discos para incrementarem a perfomance, tornando a festa sempre inusitada. Alguns participantes, além de se apresentarem no Quarteirão, trabalham como dançarinos em outros bailes de Belo Horizonte durante a semana, seja indiretamente promovendo eventos ou fazendo perfomances. Estes trabalhos extras permitem que eles extraiam renda de uma prática que é hobby, terapia e profissão: a dança.
As origens do soul O surgimento do Soul foi nos EUA no final da década de 50. O termo Soul significa “alma” em inglês, caracterizando assim a essência do estilo afro-americano. O movimento surgiu em meio a vários movimentos de liberalismo social nessa ótica, o Soul se tornou uma referência a música dos negros. Uma música emotiva, dançante - mistura de Jazz, Rythm and Blues, e a música Gospel. O Soul foi se expandindo, criando ícones como Otis Redding, Aretha Franklin, James Brow e Sam Cooke. Teve sua penetração na música brasileira nos anos 60. As características do balanço negro americano podem ser indentificadas nas primeiras músicas de Jorge Ben Jor, Wilson Simonal, Roberto, Erasmo Carlos e Tim Maia, este último figurando como grande influência no cenário do Soul nacional . O surgimento dos bailes em Belo Horizonte foi uma influência dos cariocas. Teve seu auge até a década de 70 e, a partir daí, começou sua decadência, mudando do centro às periferias. Sua repercussão foi preenchida pelo movimento da Disco nos anos 80. Esta voltando, por ora, com relativa força através de iniciativas como o Quarteirão do soul na capital mineira, frequentada por pessoas anônimas, trabalhadoras que têm amor pela música, resgatando, a partir dela, parte de suas identidades culturais e, ainda, fazendo da dança um espetáculo acessível a todos os transeuntes do centro da cidade.
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14 • Saúde
Editor e diagramador da página: Hugo Tostes Mageste - 6º período
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
O Ponto
Medicina recorre à crioterapia Tratamento utiliza aplicações de gelo para curar e prevenir lesões musculares DANIELA SOUZA ANA PAULA MARUM MARIANA CAMPOS 5º PERIODO Desde crianças, ouvimos dizer que quando machucamos é só colocar gelo que melhora. Realmente esse procedimento é eficaz e já era usado para o efeito analgésico desde a Grécia e Roma Antiga, com neve e gelo natural. Hoje essa idéia ainda vem sendo utilizada, mas de forma aperfeiçoada para diversos fins. É a chamada Crioterapia ou “terapia com frio”. Na medicina esportiva, em especial no futebol, é a técnica mais eficaz para qualquer tipo de lesão do atleta e na recuperação do físico entre um jogo e outro. Além de ser um procedimento de baixo custo e de fácil manuseio, os profissionais da saúde escolhem esse método para diversos efeitos fisiológicos: anestesia, redução da dor, redução do espasmo muscular, relaxamento, mobilização precoce, melhora a amplitude de movimentos e estimula a rigidez articular. O fisioterapeuta Henrique Silveira Costa, afirma que o uso do gelo é mais eficaz quando age nas primeiras 72 horas após a lesão. “Após esse período deve ser mantido como diminuição do edema e, sendo assim, também alivia a dor local. No caso da lesão muscular, o gelo condensa a inflamação e o edema não se espalha”, explica.
Essa terapia, usada por meio das formas líquida, sólida e gasosa, tem como objetivo terapêutico a remoção do calor corporal para que haja diminuição da temperatura dos tecidos e favoreça a redução da taxa metabólica local. Ela produz anestesia, diminui os espasmos musculares e incrementa o relaxamento dos músculos. Portanto, todas as técnicas que utilizam o frio como compressas e bolsas frias, spray de vapor frio, e até mesmo o simples hábito de se fazer massagem com gelo nas lesões, são chamadas crioterapia. De acordo com a professora de educação física e personal trainer Mariana Dornelas, a forma mais comum entre os atletas de alta competição é o banho de imersão em água com gelo da parte lesionada. “O frio intenso desse procedimento faz a temperatura da pele diminuir permitindo que os espaços internos do corpo conservem calor”. O crioalongamento, uma das ramificações da terapia, indicado para diminuir o tônus muscular e tornar o músculo menos sensível ao alongamento, se faz com aplicações alternadas de frio e alongamento muscular. E é muito utilizado em outro esporte que tem essa técnica como aliada, o Triathlon, não só para tratamento, mas como prevenção, aplicando o gelo após o treinamento nos locais mais propícios à lesão.
Como aplicar? Para a aplicação do método da crioterapia siga as dicas abaixo:
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O gelo deve ser aplicado logo após a lesão ter ocorrido; Utilize o gelo picado dentro de um saco plástico; Envolva o saco em uma proteção de pano fino; Deite-se com o membro lesionado em elevação acima da linha do coração; Comprima levemente o gelo para facilitar a drenagem e absorção do edema; Pressione na área, o gelo por pelo menos 15 minutos ou até que a região fique avermelhada; Reaplique a cada duas horas, durante todo o dia; Mesmo com a aplicação do método, não deixe de procurar atendimento especializado para fazer um diagnóstico e ser encaminhado a um tratamento mais completo. Você pode utilizar o gelo mesmoque não tenha se lesionado, apenas para prevenção, pois a aplicacão no local é importante. Quem não teve a oportunidade de ver as famosas piscinas de gelo em provas de triatlhon?! Então, mesmo que o atleta não esteja lesionado ou não sinta dor, é utilizado o gelo (local, em piscina, banheira ou tonéis) que acaba se tornando extremamente importante na recuperação pós-treinos ou competições. No esporte a crioterapia é usada no crialongamento, massagem com gelo.
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No entanto, a “terapia com frio” também possui contra-indicações e deve ser aplicada sempre com cautela em indivíduos com hipersensibilidade ao frio. O tempo de cada sessão do tratamento é de 10 a 30 minutos podendo ser maior em pessoas obesas. Para o professor de educação física Leandro Mendes de Carvalho, não existem, ainda, estudos científicos suficientes que comprovem a eficiência deste método de recuperação de inflamações, é somente na prática que os resultados são vistos. “Muitos preparadores físicos o utilizam principalmente
após esforços intensos, para recuperarem seus atletas mais rapidamente, fazendo com que diminuam os sintomas de dor e inchaço comuns após provas de alta intensidade”. Autor do livro “Crioterapia: fisiologia e técnicas terapêuticas”, Ademir Rodrigues afirma que “a crioterapia é um dos mais importantes recursos terapeuticos, e que ainda não chegamos nem perto de podermos usufruir todos os seus benefícios”. Na Inglaterra, por exemplo, já há estudos e práticas com base na crioterapia para trata-
mento do alcoolismo. Segundo o tablóide britânico “Daily Star”, o ex-jogador de futebol Paul Gascoigne procurou se adequar à terapia com frio após passar por problemas com álcool. Nesse processo, o paciente é submetido a um resfriamento corporal de até -135° por até 3 minutos. Utiliza-se o nitrogênio líquido, e o sangue estimula a criação de defesas naturais e anticorpos, propiciando o combate ao vício. No Brasil, o Conselho Regional de Medicina não aprova o método para essa finalidade por não ser comprovado cientificamente. Foto: Álvaro Castro - 6ºG
Fernandinho em tratamento no Centro Avançado de Reabilitação Esportiva (CARE) na Toca da Raposa II
Gelo ou Calor? As aplicações do calor ou do frio são recursos valiosos na prática da fisioterapia. As terapias com o calor (termoterapia) e com o frio (crioterapia) não levam à cura de nenhuma enfermidade, porém, são instrumentos importantes que auxiliam no tratamento de várias patologias ortopédicas e neurológicas. São recursos sintomáticos, que quando aplicados adequadamente, reduzem o espasmo muscular e a sintomatologia dolorosa, preparando a região afetada para a aplicação das técnicas terapêuticas.
Utilização do calor
Utilização do gelo
Alivia a dor Aumenta a flexibilidade dos tecidos músculo-tendíneos Diminui a rigidez das articulações Melhora o espasmo muscular Melhora a circulação
Diminui o espasmo muscular Alivia a dor Nos traumatismos (entorses, contusões, distensões musculares, etc.), previne o edema e diminui as reações inflamatórias A quantidade de aplicação depende da lesão e o grau da mesma
Contra-indicação: Não aquecer regiões do corpo que estiverem anestesiadas, inflamadas ou feridas com sangramento, em áreas onde haja tumores, sobre os testículos, sobre o abdome de gestantes ou em áreas do corpo de pessoas inconscientes.
Obs.: Os espasmos musculares e os problemas articulares podem ser reduzidos tanto com o processo de calor quanto do gelo. *Fontes: Fisioterapeuta, Marcelo Renato Massahud (www.
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marcelomassahud.blogpost.com), Personal Treiner, Jeferson Porto (www.jppersonal.com)
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Personagem • 15
Editor e diagramador da página: Luísa Farah e Valquíria Borges - 6º período
O Ponto
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
Apogeu e declínio de um aspirante a jogador MARCIO FREDERICO MAZONI ANDRADE 3º PERIODO Geraldo*, 36 anos, nascido em Santana de Ferros, Minas Gerais, começou sua carreira no futebol em 1987, aos 15 anos, jogando como amador no time local de sua cidade, o Aymoré Futebol Clube. Um ano depois, graças ao seu excelente desempenho nos gramados, foi convidado a disputar o Campeonato Regional de Guanhães, MG. Durante o campeonato, destacou-se na posição de centroavante e, na semifinal, jogando contra o time de Virginópolis, sua equipe ganhou duas partidas, chamando a atenção do então técnico da equipe visitante, Jairo, também treinador do Valériodoce de Itabira. Jairo o convidou para se apresentar ao time júnior do Valério e Geraldo se mudou com chuteira e tudo. O jogador permaneceu no clube itabirano por quatro anos, sempre com boas atuações, até que sua promissora carreira começou a desmoronar. Fugas das concentrações, consumo de bebidas alcoólicas e drogas passaram a ser rotineiros, até que a diretoria do Clube começou a perceber. Mas ainda assim, deram a ele uma chance. Porém, o jovem jogador queria mesmo era se divertir e, aos 19 anos, resolveu voltar para sua pequena área, Santana dos Ferros. Em casa não encontrou o tão esperado apoio, e ainda sofria as privações que a precariedade econômica de sua família impunha. Geraldo passou, então, a só “curtir” a vida, o que, para ele nessa época se traduzia em álcool e drogas. Mas a diretoria do Valério insistia em lhe dar outra chance. Seus representantes foram de carro à Santana dos Ferros para tentar levá-lo de volta ao Clube. Insubmisso, Geraldo não demonstrava interesse algum em jogar bola. Dessa vez sua permanência foi pequena e, uma semana após a sua chegada, os diretores do Valériodoce dispensaram-no. Geraldo retornou novamente à sua terra e continuou com sua vida marginal, desmotivado e insatisfeito. Brigou com seu pai e, aos 20 anos, veio para Belo Horizonte. Conseguiu um emprego de ajudante de eletricista na empresa Paranasa, onde permaneceu por três anos, porém ao alcançar uma relativa independência financeira, pediu demissão. Passou a fazer “bicos” na capital
por aproximadamente dois anos, até que conheceu sua atual mulher, a quem é muito grato por tê-lo ajudado a emergir do mundo das drogas e mergulhar de novo no mundo da bola. Retornou às atividades físicas, voltando a jogar futebol de várzea no Torneio Classista de Betim. Jogava pelo Aymoré Futebol Clube, onde foi campeão do torneio, ainda atuando como centroavante. No ano seguinte, disputou a Copa Itatiaia, patrocinada pela Rede Itatiaia de Rádio. Atuou por dois anos e meio em torneios, até abandonar o futebol, por causa da insatisfação da esposa, que reclamava de sua constante ausência no lar. Um ano depois, foi convidado a disputar um torneio de futebol pela equipe do Santa Clara Futebol Clube, em Vespasiano, destacando-se como goleiro. Faltando um jogador de seu time numa partida, o técnico pediulhe que atuasse na sua posição orginal, centroavante, na disputa da final do Torneio, no qual foi campeão, tendo recebido troféu e medalha de condecoração. No domingo seguinte, na entrega de faixas, aconteceu um imprevisto: rompeu o ligamento cruzado de seu joelho esquerdo. Foi submetido a uma cirurgia no joelho. Depois desse fato, afastou-se definitivamente do futebol e segue sua vida profissional como porteiro. Geraldo acredita que se tivesse tido um patrocinador financeiro e principalmente amigos de verdade para ajudá-lo nas questões emocionais, sua vida poderia ter sido melhor e, se tivesse continuado em sua jornada futebolística, gostaria de ter encerrado sua carreira como jogador profissional, de preferência no Cruzeiro Esporte Clube de Belo Horizonte, o time de seu coração.
“Cada indivíduo é único, com sua história de vida e sua capacidade de superação”.
Sigmund Freud
*“Geraldo” é um pseudônimo adotado, a pedido do protagonista, para que a sua identidade fosse preservada.
Análise de um especialista A psicóloga Maria Alice de Andrade Palhano, formada pela PUC-Minas, psicanalista e autora de dois livros: “O esconderijo das palavras” e “As pessoas diferentes são iguais”, afi rma que para se analisar a história de vida de um sujeito, devemos considerar vários fatores. O núcleo familiar, social e econômico em que vive e as suas condições bio-psíquicas. Segundo ela, o sujeito como indivíduo (aquele que não se divide) é “único”portanto, é essencial que se analise a forma com que ele elabora sua história de vida, suas frustrações, perdas e oportunidades. Geraldo, por exemplo, teve boas chances de se tornar uma pessoa bem sucedida e melhorar as condições de vida de sua família. Não faltaram pessoas para reconhecer sua capacidade, entretanto, ele trazia consigo traumas antigos que redundaram em falta de auto-estima e
dificuldade de discernir melhor as pessoas com que se relacionava e os ônus de suas escolhas apressadas. A exemplo disso, podemos mencionar casos de irmãos (até mesmo gêmeos) que viveram as mesmas circunstâncias e construíram suas vidas de formas diferentes. Em resumo, são muitos os fatores que contribuem para a formação da estrutura psíquica do indivíduo. O contexto social tem importância preponderante. Entretanto, podemos citar Sigmund Freud num pensamento conclusivo: “Cada indivíduo é único, com sua história de vida e sua capacidade de superação”. Ilustração: Amanda Lelis - 6ºG
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16 • Colcha de Retalhos
Editor e diagramador da página: Amanda Lelis e Claudia Lapouble - 6º período
Belo Horizonte, Abril/Maio de 2009
O Ponto
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COLCHA de retalhos
Nicotina Azul
Mecha roubada
Gabriela Gois
Felipe Chimicatti
Um garoto arrasado por bandidos, torres sendo explodidas em nome de uma crença egoísta, milhares de pessoas assassinadas em guerras por terra, água e dinheiro. Crianças morrem em favelas todos os dias, e comercias sobre preservação do meio ambiente e efeito estufa circulam entre a barbaridade e caos. A humanidade perdeu a moral sobre si mesma, tornando o mundo um esgoto populoso de ratos que buscam a felicidade instantânea através do consumismo, que acreditam que o relativismo é a salvação e que a cura é um livro de autoajuda. Afogados no efeito narcotizante, os homens não acreditam mais no que vêem, perdem sua capacidade parcialmente natural de pensar antes de agir. Nós estamos doentes, perdendo uma gota de sangue a por dia, causando hemorragia global maior do que se pensa. E em meio a todo esse caos, a janela do MSN piscou, me indicando que é tudo mais fácil quando se está morto. Eu gostei da frase, causa impacto, mas no fundo é tão óbvia e vazia quanto o céu e me remete ao muito escutado substantivo ‘morte’. Ontem eu estendi uma toalha sobre a grama e fiquei algum tempo olhando o nada, pensando na curta linha do tempo estabelecida sobre nós, as formigas, ratos e homens que convivemos tão amigavelmente na tal hemorragia. Em como eu já tenho alguns falecidos anos passados, mas ao mesmo tempo possuo a tal juventude invejada pelo asilo, e que meu desejo de sentir o vento no cabelo em uma infinita highway montada em uma Harley pode não ser realizado. Talvez um dia todos nós acordemos com a vontade incessante de reciclar, amar o próximo, usar camisinha,
beber e não dirigir, não matar, não roubar e coisas politicamente corretas. Minhas esperanças ainda são nutridas por uma pequena parcela positiva do planeta, aquela parte que gosta de estender uma toalha sobre a grama e pensar no nada, que tenta ser feliz por um instante e busca a solução em um livro de auto-ajuda. Talvez realmente as coisas sejam mais fáceis quando se está morto.
Mecha fina Somente.
N
Incertezas
curta retalhos
quero caminhar sozinho de olhos vendados sentindo o vento no meu rosto quero seguir em frente sem medo de não saber o que me espera quero sentir o gosto da surpresa surpreso pela pressa louca toda desse mundo mas quando cair quero ter certeza de que outro sozinho irá me segurar
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Amanda Lelis
o dia estava calmo o mar estava calmo o vento era brisa e a cabeça em fúria
Amanda Lelis
O contraponto exposto traz à tona a sensação de desórdem e similaridade entre os dois mundos. A geometria das paisagens se opõe, não só pela sua carga de significado, mas por meio de sua estética. De um lado, o lugar marcado pelo inacabado é tomado pelas formas horizontais de cores fortes, enquanto do outro, a verticalidade compõe a estrutura do “belo” em tons de cinza. A vertigem expõe um ambiente caótico quase imperceptível no cotidiano. Mas, e quanto àquele que vive entre dois mundos?
Desescrito Claudia Lapouble
A ordem partira do avô: Homem sisudo De pretensões rubras e Invernos constantes. A ordem – calamitosa ordem – Dada pelo patriarca (coronel nas ambições) Foi derradeira: Vá-se, e lá, pegue um instante da vida Do teu irmão assim que ele dormir. Vá-se e sem pedir ou pesar, arranca-lhe Os malditos fios. Apesar do velho continente Sangrado continente – Não agradar o rapaz Seus anseios se perderam a bordo. Encontrou o irmão em Champs-Elysees, Tomaram chá, beberam rum, Flertaram em francês mal dito e por fim, Ao tombar seu Sansão em vagabundo albergue, Arrancou-lhe uma porção de fios. Tornou o homem Com os fios E os brios calejados. O avô, Sisudo em seu desenlace, Viu a paternidade confirmada: Tinha rebento novo em seus dias.
VA LE TE
Pedro Leone
ying
Haveria de ser uma, Tirada às pressas, Feita à tesoura e sigilo. Como Dalila o fez, Cuidadosamente. Mecha fina De poucos fios.
as palavras. enquanto busco emendá-las entorto o eixo que as endireita perco a reta do contexto e traço o epílogo, pretexto para o fim
Vida selvagem
Claudia Lapouble
Existiu um tempo, na selva de palavras, em que a prosa reinava. Um dia chegou a poesia, decidida a devorá-la. A prosa, bicho esperto, fugiu, decidida a voltar...
Mas o rapaz, Que outrora fora tombado, Repudiou irmão, filho e avô, E sem precisar confirmar pra si coisa alguma Foi-se em direção a Champs-Elysees Flertar em francês maldito o colo das raparigas.
Fôlego
Pedro Gontijo
Palavra Mola presa, liberdade, Incerta, despretenciosa, Falta, ausência Inpiração, amargura, Desejo Ufa, Tive uma idéia!
yang
Amanda Lelis
calmaria é redemunho num mar em labirinto a brisa, enfurecida e a cabeça, ao vento...
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