Jornal O Ponto - agosto 2009

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 10

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Número 74

| Agosto/Setembro de 2009

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Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita

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2 • Opinião

Editor e diagramador da página: Felipe Chimicatti 8º período

Belo Horizonte, 27 de Agosto de 2009

O Ponto

Comunicação repudia decisão do Supremo Rodrigo Zavagli 6º G

O Curso de Comunicação Social da Universidade Fumec, na defesa incondicional dos 40 anos de tradição da instituição, dedicados exclusivamente ao ensino superior de qualidade, vem a público manifestar seu repúdio à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, no último dia 17 de junho, votou, por maioria, pelo fim da exigência de diploma universitário para o exercício da profissão de jornalista. São 32 faculdades de jornalismo existentes em Minas Gerais, 3.500 jornalistas sindicalizados, centenas de veículos e assessorias de comunicação que absorvem a mão de obra especializada. Em nome, especialmente, dos alunos que cursaram jornalismo na Fumec, testemunhas que são da seriedade dos nossos princípios e práticas acadêmicas, voltadas exclusivamente para uma formação profissional digna das demandas de mercado, em particular, e sociais, de uma maneira geral; e também da sociedade, que merece profissionais comprometidos com a verdade e com a democracia, cabem os seguintes esclarecimentos: •

Independentemente da decisão do STF, continuaremos produzindo o ensino de jornalismo, sem nenhuma concessão à qualidade, critério que predomina desde a criação do curso de Comunicação Social, há 11 anos;

Por pior que seja a decisão do STF, acreditamos que o mercado de trabalho, como defende o ministro Marco Aurélio Mello – único que votou contra a famigerada decisão do órgão –, continuará exigindo formação superior específica dos profissionais de jornalismo, porque se constitui num diferencial de importância e necessidade indiscutíveis;

Convidamos a sociedade, as Instituições de Ensino Superior (IES) e a categoria profissional para nos acompanhar nesta campanha em defesa do diploma e da excelência do curso superior em Jornalismo, e contra o exercício de qualquer profissão sem a devida formação do profissional em curso superior.

o ponto •

Cabe reiterar que nossa luta é, e sempre foi, por um ensino superior de qualidade e que o diploma, como conseqüência, reflita a excelência desse ensino em seus aspectos epistemológicos e profissionais, tornando-se requisito indispensável e, antes de tudo, uma necessidade a todos que manifestarem o desejo de trabalhar com a atividade jornalística.

Prof. Sérgio Arreguy, coordenador do Curso de Comunicação – Fumec/FCH

Carta à redação “Foi com muita surpresa que li a matéria ‘O palco é o sinal; o sinal é o palco’ (‘O Ponto’, de fevereiro/09, página 04). Lá há uma informação errada a respeito do Projeto Manuelzão. O Projeto é definido como projeto ‘que consiste em realizar expedições de canoa pelo Rio das Velhas, entre outros, e ir parando nas cidades às suas margens para realizar discursos, panfletagem e palestras em prol da conscientização da população para a preservação dos rios de suas cidades’. O Projeto Manuelzão não é isso que foi publicado na matéria. É um projeto de ensino, pesquisa e extensão da UFMG cujo objetivo é a revitalização da bacia do Rio das Velhas. Ao definí-lo por parte de uma de

suas estratégias de mobilização, ‘O Ponto’ simplifica, banaliza e restringe o trabalho do Manuelzão a ações pontuais e com eficácia limitada para seu objetivo fim. As repórteres não procuraram o Projeto, nem mesmo tiveram o trabalho de olhar o site do Manuelzão para qualificá-lo corretamente. Solicito, por favor, uma retificação na próxima edição do jornal ‘O Ponto’.”

Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Profª. Beatriz de Resende Dantas (Fotografia) Prof. Reinaldo Maximiano Pereira (Produção e revisão de texto) Monitores de Jornalismo Impresso Amanda Lelis, Bárbara Camargo e Juliana Pizarro Monitores da Redação Modelo Bárbara Rodrigues e Felipe Chimicatti Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3127 · e-mail: oponto@fch.fumec.br Presidente do Conselho Curador Prof. Air Rabello Filho Reitor da Universidade Fumec Prof. Antônio Tomé Loures Diretora Geral Profª. Thaïs Estevanato Diretor de Ensino Prof. João Batista de Mendonça Filho Diretor Administrativo e Financeiro Prof. Antônio Marcos Nohmi Coordenador do Curso de Comunicação Social Prof. Sérgio Arreguy Monitores de Produção Gráfica João Paulo Borges

Humberto Santos Assessoria de Comunicação do Projeto Manuelzão

Resposta da redação Em publicação de fevereiro de 2009, O Ponto traz a matéria “O Palco é o sinal; o sinal é o palco” em que narra a trajetória de grupos de malabaristas que enfrentam a já corriqueira rotina dos sinais da capital mineira. A citação ao Projeto Manuelzão se deve à relação de um dos grupos, a Trupe Gaia, com o projeto, tão importante no cenário social e ambiental do Estado e do país, mas não o enfoque principal da matéria. A redação de O Ponto agradece pela manifestação do assessor de comunicação do projeto, Humberto Santos, e informa que, quando se fizer pertinente e a pauta for sobre o Projeto Manuelzão, certamente, as informações serão tratadas de maneira mais aprofundada.

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Coordenação Editorial Prof. Aurélio José (Jornalismo Impresso)

Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda Isabela Myrrha e Marcelo Antinarelli Colaboradores voluntários Claudia Lapouble, Pedro Henrique Leone Rocha e Roberta Andrade Tiragem desta edição: 3.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas · Fumec

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

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Fumec • 3

Editor e diagramador da página: Amanda Lelis e Juliana Pizarro

O Ponto

Belo Horizonte, 27 de Agosto de 2009

Ponto & Vírgula é nova publicação da Redação Modelo da Fumec DA REDAÇÃO

ção edi ula a eir írg rim to e V p da Pon pa Ca evista r da

O curso de Comunicação Social da Fumec está lançando o primeiro número da revista Ponto e Vírgula. O projeto inovador elegeu a entrevista como gênero jornalístico principal e abre a oportunidade para os alunos aperfeiçoarem a técnica por meio de sua prática. Inicialmente com periodicidade semestral, a proposta da revista foi concebida pelo professor do curso de Jornalismo Rogério Bastos, editor-chefe da publicação e atual coordenador da Redação Modelo, um dos laboratórios do curso.

Bastos explica que a revista é especializada em entrevistas com autoridades nos diversos assuntos de interesse da comunicação social contemporânea, onde a estrela é o entrevistado. “Os entrevistados são escolhidos em função de sua experiência profissional e domínio amplo e profundo sobre os assuntos a serem abordados”, pontua. A publicação é voltada para o universitário mineiro e para os profissionais da comunicação e áreas afins e busca movimentar a cena local da informação, com distribuição gratuita. A revista tem apoio e parceria do Laboratório de Jornalismo Impresso, responsável pela publicação de O Ponto, jornal laboratório do Curso de Jornalismo que comemora, nesta edição, 10 anos de existência. A revista, feita por alunos de jornalismo a partir do quinto

período, busca trazer nas pautas discussões de assuntos relevantes e de interesse público. Os textos, estilo pingue-pongue (perguntas e respostas), primam pelo tom crítico. O editor-chefe avalia que, “a entrevista no formato perguntas e respostas é o grande achado na aridez que contempla o noticiário comum, do dia-a-dia. Além do que sempre foi uma demanda apresentada pelos alunos. Então, somei o útil ao agradável”. A primeira edição traz trinta e duas páginas, com destaque para a entrevista de capa “Orgia nos salários”, com o professor João Bosco Fonseca, advogado especializado em administração pública; e a entrevista “Estado se lixa para seus credores”, com o professor José Baracho, presidente da Comissão Especial de Precatórios da OAB-MG; além de seis colunas: “Abre Aspas”,

“Reprise”, “Brasil, um país de todos. Me engana que eu gosto”, “Fumec/Janela acadêmica”, “Farpas & Confetes” e “Frente e Verso”, que trarão notas, artigos e frases cuja principal função é criticar temas abordados diariamente pela imprensa. Rogério Bastos comenta o porquê de os alunos serem tão exigidos ao se tornarem repórteres da Ponto & Vírgula. “Esse tipo de entrevista pressupõe que o trabalho deve ser resultado de um planejamento maior que inclui leituras, compreensão ampla do assunto, repertório e bagagem intelectual”. Bastos finaliza com a expectativa do que a revista pode se tornar no cenário jornalístico mineiro. “Guardadas as devidas proporções, a revista é uma mosca que pousa na sopa geral do artificialismo do jornalismo cotidiano”, avalia.

Marketing de guerrilha contra “selva” do mercado Agência experimental Badoque, criada por alunos do último ano do curso de Publicidade e Propaganda da Fumec, propõe comunicação inusitada DA REDAÇÃO

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método usado para criar a agência. “Trabalhar com o marketing de guerrilha é interessante, pois conta com a participação do próprio cliente e do público alvo, então, é muito mais envolvente. É o público quem ajuda a compor essa informação.” A imagem escolhida para representar a empresa experimental Badoque é de um antigo brinquedo, usado para lançar pedras ou pequenos projéteis, conhecido também como estilingue: arremessa sem avisar, é surpreendente, muito preciso. Para operar um Badoque, diferente de um tanque de guerra, que acerta todo mundo, é necessário mirar bem o alvo, e isso é o

que a agência buscou com sua iniciativa. Como, por exemplo, fazer uma comunicação direcionada ao públio alvo e não para a massa. A idéia, segundo seus representantes, é falar com quem realmente interessa para cada cliente. Para realizar o trabalho de conclusão de curso, os integrantes da Badoque fecharam contrato com o Ultra Music Festival, uma grande festa de música eletrônica, em sua segunda edição em Belo Horizonte. Este ano, a festa acontecerá em setembro e a agência tornou-se responsável pelo planejamento do evento, sua divulgação, sugerindo ao cliente propostas de melhorias

e novidades para o festival. Foi por meio de pesquisas com o público específico do encontro musical, que o grupo buscou saber o que as pessoas esperavam e gostariam de encontrar em uma festa como essa. A iniciativa do grupo foi estimulada pela Totem – agência modelo do curso de Publicidade e Propaganda. Alguns dos integrantes da Badoque já tinham trabalhado com clientes da Totem. Parte desses clientes passou a apresentar demandas que superavam a capacidade de atendimento da agência modelo e, sendo assim, o grupo resolveu criar uma agência experimental para atender essas demandas. Divulgação

A um passo de serem recrutados para enfrentar a “selva” do mercado de trabalho, um grupo de estudantes do último ano do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Fumec, decidiu intensificar seus treinamentos, arregaçar as mangas e utilizar ferramentas do marketing de guerrilha para o trabalho de conclusão de curso. Todos os esforços foram concentrados para inserir na mídia um festival de música eletrônica de forma inusitada. ir Caolina Miyuki, Samir Duarte, Bruno Motta, Luiz Fernando Branco, Charles Alvarenga, Gabrielle Alvarenga, Pedro Gabriel D’Alcântara e Marina Muzzi criaram a agência experimental Badoque e passaram a atender clientes reais. “Temos um cliente real e optamos por criar um modelo de comunicação diferente e mais próximo do público”, explica Carolina Miyuki. Em um bom exemplo de espírito empreendedor, os integrantes da agência experimental pensaram em uma proposta diferente de tudo que já havia sido apresentado nas bancas de avaliação dos trabalhos de conclusão de curso na universidade. O projeto, denominado “comunicação inusitada”, é voltado para

marketing de guerrilha e foge das mídias tradicionais como TV, rádio, jornal entre outras. Entre as proposições, ações como um outdoor vivo - uma plataforma com pessoas dançando em uma estrutura pegando fogo - músicos tocando em abrigos de ônibus; um cubo de 3 m onde os visitantes possam interagir com projeções de imagens; um caminhão cuja a carroceria seria transformada em aquário, com paredes de vidro de 20 cm e peixo dentro, com uma banda tocando no centro desse aquário. Sendo assim,, a iniciativa torna-se também uma boa alternativa de divulgação para empresas com recursos financeiros limitados. Segundo a presidente e redatora da agência experimental, Gabrielle Alvarenga, a Badoque surgiu para colocar em prática tudo o que o grupo aprendeu durante o curso, porque engloba todas as áreas estudadas, diferentemente dos outros processos de conclusão de curso como, por exemplo, monografia e produtora. “A agência final te dá uma visão do que é o mercado, de como é lidar com um cliente real, isso é importante para nossa experiência”. A publicitária recém-formada ainda comentou sobre o

Grupo Badoque apresenta a agência no auditório Phoenix da Universidade Fumec/FCH.

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4 • Cidades

Editoras e diagramadoras da página: Renata Valentim e Roberta Andrade 6º período

Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009

O Ponto

Viaduto das Almas perto do fim Após 52 anos, o viaduto que foi cenário de diversos acidentes, será substituído por um novo, em linha reta Fotos: Pedro Gontijo 5º G

Arquivo Enecom

Viaduto das Almas, pouco depois de sua inauguração, em 1957, e agora, com 52 anos, exige uma estrutura melhor para aguentar o fluxo atual de veículos AMANDA LELIS 6º PERÎODO “Eu ainda era criança quando soube que Juscelino viria até aqui. Descemos eu e meu pai andando até o viaduto, porque não tínhamos carro nem cavalo, naquele tempo as coisas eram um pouco mais difíceis. Tinha tanta gente que não conseguimos nos aproximar, então, subimos num barranco e sentados lá, assistimos a cerimônia. É a única lembrança bonita que tenho desse lugar. Sua inauguração foi um sucesso”, narra Ilda. Ilda Marques, 60 anos. É o início da história do Viaduto Vila Rica. Com uma inauguração pomposa feita por Juscelino Kubitschek no dia primeiro de fevereiro de 1957, o Viaduto das Almas, como é mais conhecido, seria a primeira estrada pavimentada do governo de JK, responsável pela ligação da capital mineira com o Rio de Janeiro, até então capital federal. A responsável pela obra foi a Construtora Rabello Ltda. e o projetista foi o engenheiro Sergio Marques de Souza. Junto à inauguração do viaduto, foi, também, entregue uma praça cercada por um jardim, onde seria o local de parada dos viajantes, que atualmente foi abandonada e deteriorada com o tempo. O Viaduto Vila Rica está localizado entre Itabirito e Congonhas, no km 592 da BR-040, a cerca de 55 quilômetros de Belo Horizonte.

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Ao longo dos anos, o local deixou de ser um emblema de progresso para se converter num caminho de tragédias. O viaduto, apesar de muito moderno na época, foi construído em curva, com apenas duas pistas, sem acostamento – além de ter o tempo como agravante de deteriorização, o que incidiu em um número maior de acidentes. A borracharia localizada próxima ao viaduto é a principal parada dos que passam por imprevistos sobre o viaduto. Segundo Geraldo Augusto, borracheiro que trabalha ali há 15 anos, esse tipo de acontecimento é mais comum do que parece. “Muitos ônibus atravessam o viaduto com problemas no carro, algumas vezes é coisas simples, como algum pneu furado, e vêm pra cá. Mário Sales, caminhoneiro, há 25 anos, disse que o percurso que faz para suas entregas passa sempre pelo Viaduto das Almas, e já presenciou uma quantidade grande de acidentes: “desastres por aqui não tem número. Acontece todo dia um novo acidente. Nós, motoristas de caminhão, somos muito discriminados, mas somos companheiros com os que também andam por essas estradas, somos os primeiros a dar socorro a quem precisa. Há algum tempo, socorri uma estudante de Juiz de Fora, próximo a esse viaduto, mas ela não sobreviveu”, lembra.

De acordo com dados do Sindicato União Brasil Caminhoneiros – SUBC –, até 2004, cerca de 200 mortes teriam acontecido no local. Um dos acidentes mais trágicos, sempre lembrado por aqueles que fazem o percurso, aconteceu em 1967, foi um dos primeiros desastres no local. Um ônibus da Viação Cometa não conseguiu atravessar o viaduto e acabou caindo, deixando 14 mortos. Mas em 2010 essa história poderá se modificar. Em 2007 foram iniciadas as obras para a construção do novo viaduto, que substituirá o Viaduto das Almas. A construção está em fase final e a pretensão é de que a obra seja inaugurada em junho do próximo ano. Durante as obras, os operários presenciaram acidentes no outro pontilhão, como conta Darcio Mendes, motorista que trabalha na construção: “no final de 2008, presenciei um dos acidentes mais trágicos que me lembro. O motorista de um caminhão carregado perdeu o controle e bateu na Toyota que estava na sua frente. Ouvimos o barulho do choque dos carros daqui da obra e fomos correndo prestar socorro. Os dois carros caíram do viaduto. O motorista do caminhão e sua mulher, que estava com ele, foram lançados. Ela foi socorrida com vida, mas ele e o outro motorista não resistiram”. Helio Damas, fiscal de Obras de Artes Especiais, foi contratado pela Enecom,

empresa responsável pelo projeto e fiscalização das obras do novo viaduto. Segundo Damas, o novo projeto prevê a redução das curvas, que eram agravantes na ocorrência das tragédias. O novo viaduto possui 460 metros de extensão, cerca de 52 metros de altura – um dos pilares de sustentação possui 70 metros – 21 metros de largura e, o que apostam ser a característica fundamental da construção e que é oposta ao antigo, este viaduto será em linha reta, e deverá diminuir um pouco do percurso dos viajantes. Para a primeira parte das obras, a construção do viaduto, foram disponibilizados cerca de 30 milhões de reais, e a etapa foi concluída em 24 meses. Atualmente, existe a espera da conclusão da estrada que leva ao novo viaduto. Essa, que compõe a segunda parte das obras, ficou a cargo da Construtora Brasil. De acordo com José Eduardo Soares, engenheiro da Enecom responsável pela obra, o novo pontilhão foi construído com dois viadutos, um no sentido BHRio e outro no sentido Rio-BH, com espaçamento de três metros entre eles. Cada viaduto tem duas pistas, mais o acostamento. Como medida de segurança, foram feitas as chamadas “barreiras New Jersey”, feitas de concreto. Elas forçam o carro a voltar para a pista em caso de colisão, evitando que o veículo acidentado caia do viaduto.

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Cidades • 5

Editoras e diagramadoras da página: Renata Valentim e Roberta Andrade 6º período

O Ponto

Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009 Foto: Amanda Lelis 6º G

Operários trabalhando na construção do novo viaduto, que terá 450m de extensão, 52m de altura, pista dupla e acostamento, além de ser em linha reta

Do córrego ao viaduto Ao contrário do que a maioria das pessoas pode imaginar, o nome característico do viaduto não é devido aos acidentes, e sim por causa do córrego que passa por baixo dele, afluente do Rio das Velhas, o Monjolo, que era conhecido popularmente como Córrego das Almas. As pessoas que moravam perto dali diziam ver almas rondando por cima da água, durante as noites. Ao ser inaugurado, na antiga BR3, o viaduto foi batizado como Viaduto das Almas, e só teve seu nome trocado em 1970. De acordo com moradores da região, a mudança ocorreu para acabar com o “azar” que o nome trazia ao pontilhão. As lendas não deixaram de fazer parte do imaginário da população local e, ainda hoje, ouve-se muitas histórias. Ilda Marques trabalha no “Restaurante da Celinha”, próximo ao viaduto. “Fui nascida e criada aqui ao redor desse viaduto. Me lembro de muita história trágica. Alguns andarilhos dormem debaixo do viaduto, e um

deles passou a dormir em frente ao restaurante porque disse ter acordado em uma noite com uma visão. Eram pessoas caminhando com velas e cruzes nas mãos, depois disso, ele nunca mais ficou por lá”. Dona Maria Madalena tem 59 anos e há 32 mora numa casa próxima ao viaduto. Ela contou das histórias que ouve sobre o lugar: “tem um caminhoneiro que morreu ali, o caminhão despencou lá de cima e ele ficou preso entre as ferragens. Dizem que ele volta no horário certinho que aconteceu o acidente e fica rodando por lá, pedindo ajuda. Essa eu sei que é verdade, porque todo mundo fala e uma vez quem contou foi um amigo meu, o senhor que mora aqui perto, ele viu esse homem. Mas eu, graças a Deus, nunca vi nada”, acredita. Luiz Carlos do Vale tem 65 anos e trabalha como motorista de caminhão há 14. Ele relatou que sua maior dificuldade nas estradas, e, principalmente, no

Maria Madalena relatou histórias frequentes, sobre o Viaduto das Almas, no imaginário popular

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viaduto, é com os outros motoristas. “Dentro dessas estradas passamos por muitas experiências, o viaduto já está todo atrapalhado por causa do tempo, é preciso respeito para dirigir, é preciso pensar nos outros que também estão dirigindo. Eu mesmo já me assustei várias vezes. Durante a travessia do viaduto, me cortaram uma vez, um perigo.” A antiga estrutura, construída em concreto, foi capaz de suportar meio século. O Viaduto Vila Rica, que não foi planejado para agüentar o fluxo contínuo de carros e caminhões que hoje passam por ele, resistiu por todo esse tempo. Ainda com a criação do novo viaduto, os casos e contos sobre ele permanecem rondando os ares do local. Alguns moradores defendem a criação de um monumento para preservar o viaduto e suas histórias. Mas o monumento em sua homenagem já foi criado, no decorrer do tempo: sua história é contada – e perpetuada – de boca em boca.

O caminhoneiro Luiz Carlos do Vale reclama da falta de respeito dos outros motoristas

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6 • Cidades

Editor e diagramador da página: Nathália Drumond 6º período

Belo Horizonte, 27 de Agosto de 2009

O Ponto

Governo aumenta rigor antitabagista Políticas de controle ao fumo elevam impostos do cigarro e restringem consumo em locais coletivos NATHÁLIA DRUMOND JAIME HOSKEN GABRIEL VIEIRA 5º E 6º PERÍODOS As doenças relacionadas ao fumo correspondem à principal causa de mortes em todo o mundo, apresentando incidência maior até mesmo que a AIDS e a tuberculose. Segundo o Ministério da Saúde, ainda assim, no Brasil existem aproximadamente 30 milhões de fumantes e oito pessoas morrem a cada hora em decorrência de complicações provocadas pelo tabaco. As estatísticas alarmantes e as evidências de que os danos do cigarro não se limitam aos fumantes – a exposição à fumaça aumenta em cerca de 30% as chances de um fumante passivo desenvolver câncer de pulmão – fizeram com que o governo fortalecesse as políticas de controle ao tabagismo e adotasse medidas mais rigorosas nos últimos meses. Na década de 70, as autoridades de saúde já alertavam para a necessidade de se realizar o controle do tabaco no Brasil, mas o governo só começou a se preocupar nos anos 90, quando ficaram mais claras as evidências da gravidade das doenças ligadas ao uso do cigarro. Em 1996 foi criada a Lei Federal 9.294, de autoria do então deputado federal Elias Murad (PSDB-MG), que proibiu o fumo em ambientes fechados em todo o país. A falta de fiscalização fez com que a lei não saísse da teoria, mas representasse, de qualquer forma, o início de uma discussão que passaria a ocupar cada vez mais espaço na vida dos brasileiros. A partir de então, houve várias tentativas de se reduzir o consumo do tabaco no Brasil. Em 2000, para desestimular e tirar o glamour da droga frente aos jovens, o governo proibiu a veiculação de propagandas de cigarros. A lei foi sancionada apesar da forte pressão da indústria tabagista, que alegava que a medida infrigia os direitos de livre comércio e de liberdade de expressão e, por isso, eram inconstitucionais.

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Em 2001 foi a vez das doenças causadas pelo tabagismo passarem a estampar os maços de cigarro no país. As imagens chocantes foram percebidas, em princípio, com estranheza, mas logo passaram de mensagens inibidoras a motivo de chacota por parte dos fumantes. Recentemente, novas imagens, mais fortes, começaram a ser veiculadas nos maços. Diante de tantas ações, mas com resultados pouco satisfatórios, neste ano o governo passou a adotar uma postura mais rigorosa em relação ao assunto. Além do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do PIS/Cofins do cigarro, no final de março – o total da tributação passou de 58 para 65% –, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais criaram projetos de lei que proíbem o fumo em locais públicos. As recentes medidas foram adotadas de acordo com recomendações do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, que julgam ineficientes as ações individuais e apoiam intervenções mais abrangentes. Imposto A elevação do imposto sobre o cigarro é considerado pelo Programa Nacional de Controle ao Tabagismo como um dos principais instrumentos no controle do consumo do produto. Preços mais altos para o consumidor representam aumento nas taxas de abandono e da dissuasão dos jovens em relação ao produto. Em informe da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Deborah Malta, coordenadora da área de doenças e agravos não transmissíveis do Ministério da Saúde, afirmou que o principal ponto das medidas antitabagistas é evitar que adolescentes e jovens se viciem na substância. Além da melhoria da saúde da população, o dinheiro da receita poderia ser melhor investido, mas é gasto pela saúde pública no tratamento de complicações causadas pelo tabagismo. Segundo dados do Ministério da

Saúde, os custos das internações relacionadas ao tabaco somam a quantia de R$1,1 bilhão, o que corresponde a 8% dos gastos hospitalares com adultos acima de 35 anos. Com o reajuste do IPI e do PIS/Cofins do cigarro, o governo espera arrecadar este ano R$ 975 milhões e R$ 1,540 bilhões em 2010. Nesse âmbito da economia, a medida também pretende atingir os fumantes de classes sociais inferiores e de baixa escolaridade que, de acordo com estudos do próprio Programa, tendem a fumar mais e destinam uma parte significativa da renda mensal à compra do produto, aumentando a pobreza desses indivíduos e a perda de produtividade no caso de enfermidades provocadas pelo tabaco. Rigor No estado de São Paulo, o governador José Serra (PSDB) criou um projeto de lei proibindo fumar cigarros, charutos e similares em ambientes como escolas, museus, bares, restaurantes e empresas. O projeto, que elimina os espaços para fumantes em ambientes coletivos total, ou parcialmente fechados, dividiu opiniões a respeito dos seus efeitos, foi considerado discriminatório e até mesmo inconstitucional, mas apesar das especulações de que seria barrado, foi sancionado em sete de maio. Pela nova lei, que entrou em vigor no mês de agosto, o estabelecimento que não obedecer às novas regras deverá pagar multa de R$ 792, podendo chegar a R$3 milhões em caso de reincidência. As multas não se estendem aos fumantes e, se eles não se dispuserem a apagar o cigarro, a determinação é a de que se acione a polícia. Apesar do rigor da nova lei, pesquisa realizada em São Paulo pelo Datafolha, entre os dias cinco e seis de maio, mostram que 59% dos fumantes estão de acordo com ela e, 86% estão dispostos a respeitá-la. Para que a lei não fique apenas no papel, Serra afir-

mou que, além da instalção de detectores de fumaça, a fiscalização será feita por cerca de 500 fiscais da Vigilância Sanitária e do Procon. Como suporte aos fumantes, o governo paulista disponibilizará para aqueles que decidirem largar o vício informações sobre o consumo da droga, assistência terapêutica e medicamentos para tratamento. A medida está servindo de exemplo para cidades como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde projetos de lei semelhantes estão sendo criados, mas devido às falhas nos textos e à oposição de entidades comerciais, tiveram pareceres desfavoráveis. Em Minas Gerais, o projeto de lei da vereadora de Belo Horizonte Neusinha Santos (PT) pretende barrar o cigarro em ambientes fechados privados e públicos, corrigindo as falhas da Lei 9.294/96: a falta de rigor na fiscalização dos estabelecimentos e a instalação de fumódromos sem a separação dos demais ambientes. A proposta de Neusinha permite a criação de áreas para fumantes, desde que elas sejam delimitadas por barreiras físicas e possuam exaustores para impedir que as demais áreas, ocupadas por não-fumantes, sejam contaminadas. A intenção da vereadora é impedir que fumantes prejudiquem a saúde de quem não fuma. O texto do projeto, entretanto, foi considerado confuso por não explicitar os locais exatos onde se poderia ou não fumar, e sua aprovação foi adiada. Outro impecilho para que a lei seja aprovada em Minas Gerais, assim como no Rio de Janeiro, é a ameaça de pedido de inconstitucionalidade por parte da Federação dos Hotéis, Bares e Restaurantes de Minas. Ao mesmo tempo que a lei pode trazer melhorias para a qualidade de vida da população, também pode significar a perda de clientes, o que leva os estabelecimentos a se posicionarem contra.

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Editor e diagramador da página: Nathália Drumond 6º período

O Ponto

Belo Horizonte, 27 de Agosto de 2009

Os males que o cigarro pode causar

Em entrevista a O Ponto, o vereador de Belo Horizonte Elias Murad, autor da Lei 9.294 de 1996, que proibiu o fumo em ambientes fechados em todo o país, fez considerações a respeito da importância de medidas mais rigorosas de controle ao tabagismo.

Foto: arquivo pessoal

O Ponto: Apesar de já existirem leis que proíbem o fumo em recintos fechados em todo o país, a nova lei sancionada em São Paulo pelo governador José Serra proíbe inclusive a instalação de locais para fumantes nos estabelecimentos. O que o senhor pensa a respeito dessa lei? Murad: Julgo essa lei em SP mais radical do que a que existe em nível nacional. Essa teve sua origem num projeto de minha autoria, enquanto era Deputado Federal. Mas ela esta em vigor ainda! É uma lei federal que continua em vigor no país inteiro. Portanto, a lei de SP veio acrescentar à Lei 9.294/96 que já existia. Na minha opinião é muito bom que isso aconteça, pois as multinacionais tabaqueiras não dormem em silêncio. Estão sempre provocando problemas nessa área para que possam ficar em evidência. Por ser o cigarro uma droga lícita, a proibição do fumante em locais públicos não infrige os seus direitos de ir e vir, previstos na constituição? A separação de áreas específicas para fumantes e não-fumantes poderia solucionar o problema? Em princípio parece que sim, mas se olharmos coletivamente e de maneira ampla, verificamos que a separação pouco resolve esse problema. Na verdade não resolve, pois o indivíduo continua a fumar em locais coletivos. Em alguns países foi adotado esse sistema, mas ele não funcionou bem, porque o tabagista passivo, aquele que absorve a fumaça do ambiente impregnado, é o mais prejudicado. Por ser um local público, coletivo, o ambiente deveria ser limpo de cigarro. Dessa maneira, sou favorável a radicalização das leis contra o tabaco.

Fonte: Denise Steiner, demartologista, prevfumo; nucleo de apoio ao fumante da UNIFESP; www.euqueroparar.com.br

Polêmica Tanto em São Paulo, onde a lei do Governador José Serra já foi sancionada, quanto em Minas Gerais, onde ainda aguarda aprovação, o rigor das propostas para o controle do tabagismo causaram muita polêmica. A proibição do fumo em ambientes coletivos foi vista com maus olhos não só pelos fumantes, mas também por entidades comerciais, que questionam o radicalismo das medidas e alegam inconstitucionalidade. Do ponto de vista legal, segundo o advogado Ney César Azevedo, não é possível enxergar onde essas ações podem ser consideradas inconstitucionais, pois um direito individual pode sofrer restrições quando afeta outro direito constitucionalmente garantido. O artigo 5º prevê a igualdade de todos perante a lei, o artigo 6º, entretando, garante a saúde como um direito fundamental para todo cidadão. “Assim, devemos levar em conta que, nesse caso, as cláusulas constitucionais não são conflitantes, mas deve haver um meio termo para garantir que uma não anule a eficácia da outra”. O advogado reforça ainda, que a prevalência do direito coletivo deve ser pensada com cuidado para que não haja excessos e arbitrariedades, sempre tendo em mente que, “se a saúde pública é importante, os fumantes também devem ter seus direitos assegurados”, concluiu. Fumante por mais de 30 anos, o fotógrafo Alberto Escalda, que deixou o vício no último ano, declara-se a favor da nova lei. Em seu ponto de vista, a proibição é necessária, pelo fato de as pessoas não terem bom senso em respeitar o direito dos que não fumam. O fotógrafo lembra que no passado as pessoas fumavam em qualquer

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ambiente. “Era totalmente desagradável você pegar um avião para a Europa, por exemplo, e as pessoas fumarem durante toda a viagem ao seu lado”. Alberto, no entanto, ressalta a importância de um ambiente para os fumantes. “Todos os lugares deveriam ter um fumódromo, não há como proibir as pessoas de fumarem. Todos sabem os malefícios do cigarro e, se desejam continuar fumando, devem ter a liberdade de fazê-lo em um lugar reservado”, completa. Compartilha da mesma opinião o jornalista Rogério Correa. “Infelizmente, não há como tratar da educação apenas com ações preventivas. O Governo poderia acabar com as indústrias de cigarro no país, os preços se elevariam e já seria essa uma medida reducionista. Mas ele não o faz e nem vai fazer porque não o interessa perder milhões em arrecadação”, acredita. Do outro lado, há quem afirme que a nova lei exagera na restrição, controlando de forma abusiva a vida dos fumantes. A administradora de empresas Ana Paula Neto acredita que se a proibição se restringisse apenas a ambientes fechados seria mais justa e menos excludente. “Os fumantes, em sua maioria, tem o bom senso em saber que os outros se incomodam com a fumaça e o cheiro de cigarro à sua volta. Não é preciso excluílos de todos os ambientes e passar a tratá-los como marginais que têm que se retirar dos lugares toda vez que desejar fumar”. A administradora acredita que há lugares em que fumantes e não-fumantes podem conviver em harmonia, como em bares e boates abertos, onde o consumo do cigarro não deveria ser proibido.

Em Minas Gerais, o projeto de lei da vereadora Neusinha Santos se difere do paulista por permitir a criação de fumódromos separados das demais áreas do estabelecimento por barreiras físicas e equipados com exaustores. Mesmo sendo menos radical, a proposta foi criticada e barrada. Quais foram os motivos? O projeto da vereadora Neusinha Santos chegou a ir a plenário para votação em 1° turno, mas durante o processo de discussão, foi conscenso a sua retirada, para uma melhor adequação à realidade atual - nacional e mundial. Eu e mais dois colegas vereadores apresentamos, então, um substitutivo a este projeto nos moldes da recente lei aprovada em São Paulo, colocando assim, Belo Horizonte dentro deste contexto. A fiscalização dos estabelecimentos é o ponto mais vulnerável para que as leis contra o cigarro sejam cumpridas. Como seria feito o gerenciamento dessas novas leis? Pela lei federal ainda em vigência, esta fiscalização cabe à Vigilância Sanitária Municipal. Na nova proposta pode-se acionar até a polícia para a retirada de fumantes de locais ou, se o estabelecimento não estiver cumprindo a lei, para sua interdição. Portanto, a fiscalização acaba sendo um instrumento pessoal do consumidor que se sentir afetado nos seus direitos de viver num ambiente livre de tabaco. Quais seriam os prováveis resultados dessas medidas mais rigorosas? O senhor acredita que haveria redução no número de fumantes? Acredito sim, pois já há um exemplo no próprio Brasil. Antes da apresentação do meu projeto que levou à Lei 9294/96, o uso era muito grande e havia cerca de 300 mil tabagistas a mais do que atualmente. Aconteciam também 200 mil mortes por ano em consequências de moléstias provocadas pelo tabaco. Depois da promulgação da lei, esses números cairam para 200 mil e 100 mil. Houve, então, uma diminuição razoável. Cerca de 30% dos tabagistas, largaram o cigarro. Os resultados não seriam mais eficientes se fossem realizadas campanhas mais incisivas e abrangentes, a médio e longo prazos, principalmente nas escolas, visando a conscientização das crianças e jovens? Já se faz isto em certos locais, acredito que qualquer medida que se tomar em relação ao tabaco vai ser eficiente e dar pelo menos algum resultado.

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Editoras e diagramadoras da página: Cláudia Lapouble e Amanda Lelis

Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009

O Ponto

Lares para a Melhor Idade Com fiscalizações e leis específicas para o idoso, asilos deixam de ser vistos como sinônimo de abandono Foto: Amanda Lelis

De acordo com a lei 10.741, de 1º de outubro de 2003, é considerado idoso todo cidadão com idade igual ou superior a 60 anos. Devido aos avanços no campo da saúde e à redução da taxa de natalidade, a população de idosos no Brasil vem aumentando a cada ano. Estima-se que em 2020 a população com mais de 60 anos chegará a 30 milhões (13% do total), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Esses índices, que se devem , principalmente, aos avanços no campo da saúde e à redução das taxas de natalidade, tornam cada vez mais comum a convivência de pessoas de três gerações na mesma casa. Apesar das estatísticas que mostram que a estrutura familiar brasileira está se modifando, há lares em que o idoso é responsavel pelo sustento da família, o choque de gerações e a rotina do dia a dia torna o convivio difícil. É quando muitas famílias ou os próprios idosos pensam em outro ambiente que melhor atenda às suas necessidades. Os asilos, atualmente chamados de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) se tornam uma solução para essa situação. Lares A “Vida Ativa” é uma instituição privada que, segundo a diretora Márcia Leão, recebe idosos que procuram o local por conta própria. “Eles geralmente optam por não morar sozinhos e nem com os filhos, e acham a convivência de um hotel muito impessoal”, diz a diretora da instituição. A casa possui convênios com planos de saúde que garantem aos moradores antendimento de geriatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionista, dentistas entre outros profissionais, além de medicamentos. Nove funcionários estão à disposição dos idosos, seis técnicos de enfermagem, dois de serviços gerais e uma secretaria. Mas o preço de todo esse conforto é alto, ficar em uma instituição como essa custa cerca de R$ 2 mil a R$ 2.500 por mês. Márcia Leão também é diretora do “Solar das Estações”, instituição destinada a idosos com

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Moradoras do Lar de Idosas Santa Tereza e Santa Terezinha

doenças degenerativas do sistema nervoso central. Segundo ela esses idosos requerem cuidados especiais e ressalta: “comparar um idoso a uma criança é um grande erro, pois além de possuírem necessidades especiais, “os idosos não têm tempo, tudo é pra ontem, mas a perspectiva de mudança é lenta e trabalhosa”. Mas há uma parcela grande da população de terceira idade que não tem condições de se manter em instituições como as mencionadas acima. Esses encontram acolhida em lares filantrópicos como o Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus, fundado há 40 anos. A casa abriga atualmente 62 idosos, além de dar assistência a crianças portadoras de deficiência. O lar dispõe aos idosos a opção de apenas passar o dia na casa ou se mudar definitivamente e passar os finais de semana em casa. Mas segundo Joicemara Santana, secretária da instituição, grande parte dos idosos que moram na casa não têm família, alguns deles são exmoradores de rua e sequer possuem documentos. A casa, que não possui convênio com outras instituições, está buscando parcerias com empresas interessadas em contribuir, e os moradores que têm condição contribuem com 50% do salário. Além da ajuda dos idosos, o asilo se mantém através de doações, solicitadas via telefone. Apesar das dificuldades financeiras, o lar oferece assistência de profissionais nas áreas de geriatria, psicologia, fisioterapeuta, psiquiatra, assistência

social, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga, enfermeiro e voluntários. O Lar de Idosas Santa Tereza e Santa Terezinha, localizada no bairro Santa Tereza, região leste da capital, é um exemplo de instituição que, assim como a Associação Caminhos para Jesus, consegue - mesmo com poucos recursos, oferecer a suas moradoras a assistência que precisam com respeito e, claro, muito carinho. A casa, que hoje possui 12 moradoras, tem capacidade para abrigar até 15, é ligada à Sociedade São Vicente de Paula e tem a particularidade de receber apenas senhoras, que procuram o lar por vontade própria. As idosas que optam por morar na instituição contribuem com dois salários mínimos, mas é graças às doações e ao trabalho de voluntarios que a casa consegue se manter. Leis Em 23 de setembro de 2003, a Comissão Diretora do Senado Federal aprovou o Estatuto do Idoso, que garante à “melhor idade” o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Consta do artigo 10 paragrafo dois: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais”. De acordo com o Estatuto, as ILPI devem oferecer estrutura física adequada, instalações sanitárias, alimentação apropriada, boas condições de limpeza e higiene, profissio-

nais habilitados e jamais devem apresentar opressão ou violência aos idosos. A Promotoria do Idoso, orgão que cuida dos direitos do cidadão da terceira idade, tem função de receber denúncias contra abandono, abusos e maus tratos e agir legalmente para protegelos. A promotoria foi criada em 2001 após a divulgação do relatório da Comissão dos Direitos Humanos, que apontava uma série de denúncias contra os asilos, onde os idosos sofriam todo tipo de violência e eram abandonados e negligenciados. O relatório daquele ano foi enviado aos governos federal e estadual, contendo sugestões de políticas públicas para melhorar o atendimento ao idoso. Segundo a PBH, há na capital mais de 1100 idosos vivendo em asilos. As ILPI somam 76 instituições, 42 filantrópicas e 34 privadas. A maior concentração está nas regiões Noroeste (10 lares filantrópicos) e Pampulha (15 lares privados). Contagem

Fiscalização Para que uma casa de idosos entre em atividade, deve cumprir uma série de requisitos: primeiramente o proprietário deve requerer um alvará junto à Vigilância Sanitária de sua regional, e então seu estabelecimento passa por uma vistoria inicial para concessão do alvará, esta fiscalização se repetirá anualmente, para que a licença seja renovada. Segundo José Carlos Silva, gerente da Vigilância Sanitária da regional do Barreiro, existe um acordo entre a ANVISA e o Ministério Público para realizar no mínimo duas fiscalizações anuais, não agendadas, em cada ILPI, além das duas visitas obrigatórias, a vigilância entra em ação sempre que uma denúncia é feita. Na existência de irregularidades, o asilo será acompanhado periodicamente até que a situação seja regularizada. Caso não sejam tomadas providências, a instituição tem seu alvará suspenso. Se as irregularidades forem consideradas graves, como no caso de maus tratos, além do alvará suspenso a instituição será interditada, e os moradores acompanhados pelo Serviço Social da região, e encaminhados a outros ILPI próximos. *Disque Idoso (31)3277-4646 *Delegacia Especializada de Proteção ao Idoso, 0800-305000 *Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus ligue 0800-0315600

Vespasiano Ribeirão das Neves

VEND NDA NOVA ND

Santa Luzia

NORTE NO NO NORDESTE

Sabará

PAMPULHA

LESTE

NOROESTE

CENTRO-SUL OESTE

Nova Lima BARREIRO

Ibirité ILPI Filantrópica ILPI Privada Brumadinho

Esacala: 1:160.000 Fonte: Prodebel

Infografia: Roberta Andrade

JUSCILENE M. SIQUEIRA NATHÁLIA MAGALHÃES PAULA SAMPAIO 5º PERIODO

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Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009 Foto: Claudia Lapouble

Tardes de vai e vem AMANDA LELIS CLAUDIA LAPOUBLE ROBERTA ANDRADE 6 PERIODO Todo indivíduo é personagem de uma história, observada de maneira bem particular, num mundo que é só seu. Toda narrativa é única, se diferencia de qualquer outra, ainda que seja sobre a mesma história e contada pela mesma pessoa. O momento é imprescindível, o clima, o ambiente, o humor, detalhes que influenciam em todo conto, seja ele verídico ou não. Contrariando a procura insistente por tudo o que é novo, decidimos correr atrás da memória, ouvir quem tem histórias para contar. Depois de aguardar por alguns minutos, vinha dona Zezé, como gosta de ser chamada, o cabelo delicadamente arrumado com um arco colorido, colar de pérolas, maquiagem, perfume e uma piada na ponta da língua. Sua percepção de tempo é diferente da nossa, o que lhe acontece hoje não é tão importante quanto àquela memória do passado, que sabe nos contar com detalhes minuciosos. Dona Zezé tem mesmo mania de misturar o hoje com o ontem, sonhos não realizados com realizações antigas, paixões fortes da mocidade com carências atuais. Parte verdadeira, parte imaginária, sua história tem características peculiares, a cronologia se confunde e sua narrativa segue o caminho traçado pela sua mente, num vai-e-vem lúdico e característico. A irreverência de Maria José é marca registrada, “quando vem visita, todo mundo me cumprimenta, eles acham graça porque eu sou assim, muito pra frente, sabe” brincou dona Zezé. Com 82 anos, há 5 vive no Lar de Idosas onde moram cerca de 15 senhoras. De prosa boa, nos fez rir muitas vezes, rememorou sua juventude, os bailes, sua paixão pela dança de salão, pela costura, bordado e pelo marido, Moacir Siqueira, que faleceu há alguns anos. A imagem do marido se confundia, às vezes, com a imagem do seu pai. Ao falar de um, se lembrava do outro, como se ela visse no marido, muito mais velho que ela, a figura do pai protetor. “Ele me tratava como uma criança, meu marido cuidou de mim como uma boneca, assim como meu pai”, rememorou. Nascida em Araxá, Maria José

morava no Grande Hotel da cidade, onde conheceu seu marido que era contador. Ela contou que Moacir vinha de São Paulo e se hospedava no Grande Hotel: “Ele vinha de São Paulo para o garimpo, em Estrela do Sul, alugava a terra, colocava os homens pra trabalhar e ficava lá, de braçada”, disse entre gargalhadas. Ficou satisfeita em falar do marido, com uma piscada de olho completou: “Ah, mas ele era bonito demais, menina, eu precisava te mostrar um retratinho dele, parecia um artista”. Dona Zezé lembra com saudade do tempo em que era enfermeira, e do carinho que tinha com as pessoas que cuidava. “Sou assim até hoje, você tem que ver com as crianças, olha como sou com as crianças grandes (se referindo a nós) eu abraço, acarinho e me perguntam: com quem você aprendeu a ser tão carinhosa? A vida ensina pra gente muita coisa”, completou, emocionada. Pé-de-valsa, dona Zezé fazia festa por onde passava. “Se não tivesse uma velhinha vigiando a Zezé, eu não podia sair. Gostava tanto de dançar, que quando ia costurar, ficava me lembrando da dança, a máquina ia pra lá e pra cá, meu pé ia no ritmo, costurava o que não devia. Quando a gente ia no baile, era eu chegar que começava a dançar. A primeira a chegar no salão era eu, mas não tinha culpa, porque os homens é que me chamavam pra dançar, uai”, disse, orgulhosa, entre risos. Muito vaidosa, Maria José falou sobre sua coleção de acessórios, contou que não podia ir em um baile com a mesma roupa, o mesmo brinco, o mesmo colar ou um anel, nunca repetia um adorno e ainda hoje é assim “Eu gosto de me arrumar, é a vida que eu levo. Pra receber visita eu coloco uma roupa bonita. Para receber vocês, eu tomo um banho e passo uma maquiagem, né? Assim que eu sou”. Apesar disso, quando falamos em foto, dona Zezé logo disse sorridente: “Vai tirar minha foto? Põe lá na roça de arroz, pra espantar os bichos”. Com tanta irreverência, dona Zezé dá exemplo de personalidade, esbanjando alegria. Ao chegarmos no portão de saída, de braços dados conosco, dona Zezé perguntou: -Que dia vocês vão voltar?

Fotos: Roberta Andrade Foto: Amanda Lelis

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Editoras e diagramadoras da página: Renata Valentim e Roberta Andrade

Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009

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O ensino do jornalismo no divã Enquanto o Ministério da Educação cria comissão para repensar a construção do conhecimento jornalístico no século XXI, os jornais impressos enfrentam o desafio de revisar sua vocação Ilustração: Roberta Andrade - 6º período

cia, como a separação do jornalismo da Comunicação Social, dividem profissionais e acadêmicos. Como uma forma de ampliação do debate para além das audiências – que restringiram a participação de alguns segmentos importantes na discussão, como os estudantes – o professor José Marques de Melo tem procurado expor alguns dos posicionamentos da comissão em palestras e entrevistas pelo país. Durante o programa Observatório da Imprensa do dia 26 de maio, ele explicou que o grupo não pretende apresentar um novo currículo. “Nossa função é examinar as matrizes para nossas escolas e universidades. Eu defendo, particularmente, que o currículo é uma competência da universidade. Nós teremos de buscar diretrizes curriculares que sejam consensuais em relação à formação do novo jornalista, mas deixar à universidade liberdade de ação. Se uma universidade quer oferecer um curso de graduação para repórteres, e um curso de pós-graduação para editores, isso é um direito que a universidade tem e pode fazer”, defende.

Fotomontagem faz referência ao quadro O Grito, do pintor norueguês Edward Munch RENATA VALENTIM 6º PERÍODO

Na dinâmica da era da informação, em que a internet se firma como o mais acessível, mais veloz e mais democrático meio de transmissão de informação, o jornalismo viuse em crise de identidade. Boa parcela dos estudiosos e praticantes da atividade jornalística sentiu-se ameaçada pela descentralização da notícia nesse novo meio: o leitor agora é também produtor de informação. Outra fragilidade reside na escassez das vagas do mercado, que não comporta os milhares de jornalistas recém-formados despejados pelas faculdades. De acordo com dados de 2005 obtidos pelo Observatório Universitário, apenas 12,5% dos graduados em jornalismo conseguem manter-se de pé na carreira. A proliferação das escolas particulares de jornalismo

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choca-se com o enxugamento das redações, onde prevalecem os chamados profissionais multimídia, que precisam ser capazes de produzir informação para um grande número de suportes. Neste cenário, onde também são incluídas a queda da velha Lei de Imprensa e o polêmico fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão no dia 17 de junho, foi criada pelo MEC uma comissão que estabelecerá as novas diretrizes curriculares dos cursos de jornalismo no Brasil. Um dos fundadores da Escola de Comunicação e Artes da USP, professor José Marques de Melo, preside o grupo responsável por elaborar as propostas de mudanças a serem implantadas nas escolas de jornalismo do país. Além dele, seis acadêmicos e uma representante do mercado estão incumbidos de, até o início do segundo semestre, apresentar o

balanço das análises. A necessidade de reforma, segundo o ministro Fernando Haddad, é ratificada pelos dados obtidos pelo Ministério da Educação: cerca de 80% dos cursos de jornalismo são considerados de baixa qualidade. A intenção da comissão é que as propostas sejam elaboradas por meio da participação e opinião de sindicatos, universidades e empresas de comunicação, emitidas nas três audiências públicas, que foram realizadas entre março e maio deste ano – no Rio de Janeiro, Recife e São Paulo, respectivamente. Efeito placebo? Apesar da pertinente preocupação em melhorar o ensino do jornalismo no Brasil, as propostas delineadas pela comissão são ainda desconhecidas, e por isso mesmo carregadas de polêmica. Algumas sugestões anunciadas antes mesmo da realização da primeira audiên-

O resgate do self O presidente da comissão é também categórico ao tratar da separação da personalidade do jornalista contemporâneo. Segundo ele, a sociedade brasileira necessita, tal como precisa de profissionais da notícia especializada, de jornalistas generalistas bem formados de que sejam capazes de se dirigir eficientemente para toda a população e de interpretar a realidade de forma mais ampla: “nós temos um país com 200 milhões de habitantes e 10 milhões de exemplares diários de jornais lidos. Precisamos, na verdade, fazer jornal para quem não lê jornal, para aqueles que estão à margem da cultura jornalística”, diz. Marques de Melo ressaltou também que, do ponto de vista da organização curricular, há uma certa confusão quando se trata de matérias teóricas e práticas: “Eu acho que o que faz falta no jornalismo não são matérias práticas, para elas temos bons laboratórios. O que faz falta são as matérias teóricas. E não chamo de teóricas a sociologia, a história. Isso, digamos, é o conteúdo humanístico.

Eu gostaria de ter mais matérias que dessem conta das questões éticas, das questões morais. O que temos é um excesso de aulas de teoria da comunicação, de sociologia da cultura, cuja aplicação é descolada do jornalismo. Precisa haver uma integração entre a teoria e a prática jornalística”, afirma. Mas, ainda com a iniciativa de avaliar a si mesmo, o mal-estar de algumas questões sobre a identidade do jornalismo ainda permanecem turvas, como é o caso da vocação do jornalismo como negócio e como serviço de utilidade pública: traços contraditórios que se chocam no interior da academia, causando estranheza nas salas de aula. Essa feição esquizofrênica foi detectada durante investigações feitas pelo grupo de pesquisa “A imagem do pensamento e o ensino do jornalismo”, realizada por estudantes de jornalismo da Universidade Fumec e coordenada pelos professores Rodrigo Fonseca e Cláudia Chaves. Em entrevistas feitas com os coordenadores dos principais cursos de jornalismo privados de Belo Horizonte, os alunos registraram unânime constrangimento, ainda que velado, ao questionarem a presença das disciplinas técnicas nas grades curriculares, como se fossem dignas de condenação. O desejo de formação do “agente social crítico” também é maioria absoluta no discurso dos entrevistados, desta vez sem constrangimento. “A gente percebe, tanto na avaliação das entrevistas, quanto no cotidiano das aulas, que é elogioso falar do jornalismo dessa maneira, condenando as disciplinas práticas. Mas, fico confuso em pensar em como será depois da formatura, quando tiver que atuar no mercado”, diz Frederico Porto, um dos alunos envolvidos na pesquisa. A resposta para esse questionamento existencial, cada vez mais freqüente no terreno dos discentes, foi sugerida por Marques de Melo, desta vez no programa Rede Mídia da Rede Minas, realizado em 30 de março. Ele acredita que a formação do jornalista deve estar voltada para o mercado, mas alerta: “a universidade tem que estar além do mercado. Não pode só estar atrelada às exigências do mercado, tem de estar também atrelada às exigências da sociedade”.

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Arquivo Pessoal

O jornalismo na visão do mercado O redator de Primeira Página da Folha de S. Paulo Rogério Ortega, 38, é jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Com quase 18 anos de carreira, ele dá a sua visão da comissão formada pelo MEC, mostra-se favorável à queda da exigência do diploma e vê com bons olhos os desafios trazidos pela internet. O Ponto: Como você vê o ensino do jornalismo hoje no país? Rogério Ortega: Vejo, pelo contato com jornalistas recém-formados, que o panorama não mudou muito em 20 anos – a não ser pela possibilidade de, em alguns cursos, montar uma grade que resulta numa espécie de curso de jornalismo em período integral, com disciplinas de outras faculdades. Também me parece haver uma conversa mais produtiva da academia com as redações – no início dos anos 90, era uma coisa muito “a indústria cultural lá e nós, seres pensantes e críticos, aqui”. Acho que não há necessidade de um curso de jornalismo que dure quatro ou cinco anos, e duvido que a comissão do MEC, da qual sei pouco, ponha isso em questão. É legal, sim, haver um lugar em que se possam abordar história e teoria do jornalismo, linguagem, ética jornalística etc. Mas, pra isso, não são necessários quatro anos. Jornalismo podia ser, por exemplo, só uma pós-graduação. Na minha opinião, sairiam muito mais bem preparados. OP - A partir do seu contato com os “focas” (recém-formados em jornalismo) que chegam à Folha, o que você percebe como a maior deficiência do jovem jornalista? E o que poderia ser feito para corrigir essa deficiência?

Os “focas” da Folha não vêm só de faculdades de jornalismo. Quem sobrevive ao programa de treinamento da Folha e chega à redação tem bom texto e, na maioria dos casos, boa cultura geral. Mas, para quem saiu do curso de jornalismo, faltam certos conhecimentos específicos que são valiosos na hora de cobrir certos assuntos importantes e que a pessoa teria se, por exemplo, tivesse cursado direito ou economia. Muita gente acaba aprendendo essas coisas na raça, na lida – mas sofreria menos se as tivesse estudado antes. OP - A respeito das ferramentas digitais: você acredita na afirmação de que a internet está atrofiando a prática jornalística? O jornalismo online merece a demonização que lhe tem sido atribuída? Acredito que, pelo contrário, a internet abriu novas possibilidades. Qualquer um pode escrever qualquer coisa na web a custo zero ou quase zero, mas quem está interessado em se informar vai procurar notícias que sejam confiáveis, bem apuradas, bem escritas. Ou seja, o feijão-com-arroz de sempre da prática jornalística, só que online, feito em “tempo real” e atualizável. Claro que, em um jornal impresso, há mais tempo para apurar, confrontar versões, descartar coisas que se revelem boatos. No online, pela própria natureza do meio, é muito mais fácil que o rumor, a versão não

confirmada, informações incorretas, textos mal escritos etc. sejam colocados no ar. Claro, depois podem ser feitas atualizações e correções, mas, de todo modo, é difícil aliar rapidez e precisão. OP - Como você vê a utilização da blogosfera para a prática jornalistica? Blog pode servir para tudo, inclusive para jornalismo -e bom jornalismo, acredito. Mas, por enquanto, só as grandes empresas jornalísticas -ou grandes portais- têm estrutura e dinheiro para mandar repórteres fazerem coberturas dispendiosas e que demandem tempo. Não é uma área em que “blogueiros independentes” possam competir. Ainda assim, é uma descentralização da informação que vejo com muito bons olhos. No Brasil, os meios de comunicação são concentrados ou estão na mão de governos. É bom -saudável- poder fugir disso.

O mal-estar do impresso

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viu a circulação de seus jornais cair drásticos 4,6% em apenas seis meses, em 2008. “Como vai ser quando as gerações que lêem tudo na internet desde o começo forem hegemônicas? Quando o mercado perceber isso e começar a achar que anunciar em jornal não compensa mais, a ‘mudança de suporte’ do papel para os meios digitais estará próxima. O que não significará ‘extinção’ dos jornais; eles devem continuar a existir de outro modo”, considera Ortega. O Brasil também foi afetado pela crise financeira dos impressos. A Gazeta Mercantil, jornal dedicado ao segmento econômico, com quase 90 anos em atividade, vive um período crítico. A Editora J.B. S.A. anunciou no último mês a devolução do jornal Gazeta Mercantil para seu antigo proprietário, o

dr Ro

A crise de identidade não está restrita ao conhecimento que possibilita a produção jornalística: a distribuição de conteúdo também vê-se impressa por outros suportes e ritmos, ditados por novas formas de consumo de informação. O jornalismo impresso, que já rivalizou com o rádio e com a televisão no século passado, hoje concorre com a velocidade, com a alta interatividade, com o enorme alcance e, sobretudo, com o baixo custo da produção de notícia para a internet e demais suportes digitais. m que Rogério Ortega acredita que chegará o dia em er jornão compensará mais imprimir papel para fazer sponnal: “Só que ninguém sabe quando vai ser – e a responsável por isso é a publicidade. Não tenho dadoss atuento alizados, mas até onde sei, no Brasil, o faturamento o publicitário dos veículos impressos é muitíssimo maior que o dos online. Nos EUA já não é esse o panorama”, diz. Lá, os sinais de mudança parecem mais concretos. No mês de maio, o criador do site Amazon, Jeff Bezos, e o presidente do jornal The New York Times, Arthur Sulzberger Jr., lançaram o Kindle DX, uma versão com tela expandida do e-reader projetado originalmente para leitura de livros acadêmicos vendidos no site de Bezos. A expansão da tela – que agora tem 24,6 centímetros na dia-gonal – tem o propósito de tornar mais confortável a leitura do jornal. Os empreendedores do lançamento apostam no aparelho como resposta viável à crise da imprensa americana, quee

empresário Luiz Fernando Levy, o que pôs a vida do veículo em risco: a circulação do jornal foi interrompida no dia 29 de maio. No entanto, Levy afirmou, em nota à imprensa, que a suspensão da circulação é momentânea. Palestrantes do Fórum de Debates 1ª Terça, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, os professores Sérgio Amadeu, da Faculdade Cásper Líbero, e Geane Alzamora, da PUC Minas, ponderaram sobre os impactos da internet na prática jornalística, no último dia 2 de junho. Amadeu, durante sua exposição sobre o tema, disse acreditar que a maioria das universidades não está apta a formar o jornalista na era da informação. Explicada por ele como meio onde predomina a liberdade e a quebra da hierarquia na produção e disseminação de informação, a internet desafia os meios tradicionais por p dar menos importância ao capital, porque é capaz de ofe oferecer conteúdo a custo quase zero. “Na internet, não é difíc difícil falar, o difícil é ser ouvido”, diz. Alzamora, que desde meados dos anos de 1990 – não coincidência o início da mead popularização da web – estuda o cruzamento jornalismo x popu internet, afirma que a vocação do jornalismo na rede está intern no formato for colaborativo. Nichos como os sites OhMyNews! e Overmundo Ov são demonstrações claras de que “a versão mais atualizada” do profissional da notícia atuará como um ggerenciador das interações feitas na rede. No balanço do divã, resta a dica: a palavra-chave N parece parec ser a reciclagem. Tal como a própria internet, ne que tem sua forma e conteúdo renovados a todo o tempo, porque está sujeita ao exame dos interagentes, o jornalismo e seus profissionais precisam examinar-se e reconfigurar-se para acompanhar o fluxo da informação. Como diz o filósofo Charles Sanders Peirce, “as palavras aprendem com o tempo”. E o jornalista aprenderá, a na lida com elas, novos caminhos.

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12 • Especial Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009

O Po onto

10 AN

O Ponto está completando uma década de jornalismo laboratorial. Para come e alunos que participaram da criação do jornal para resgatar um pouco da su DA REDAÇÃO

Em uma década foram 73 edições. Aproximadamente 400 mil exemplares distribuídos. Seis mudanças de logomarca. Quatro modificações gráficas. Cinco coordenadores e três premiações recebidas: duas em âmbito nacional e uma internacional. A primeira distinção conferida ao O Ponto foi em 2005 quando recebeu o título de melhor jornal laboratório do Brasil, pela Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom), considerado um dos mais importantes eventos científicos nacionais. Em 2006 outros dois prêmios na área de produção laboratorial vieram, e O Ponto foi eleito o melhor jornal experimental de Minas Gerais e também da América Latina, levando o troféu Pão de Queijo de Notícias (PQN) e uma medalha da ExpocomSUR pela notoriedade do trabalho jornalístico desenvolvido. A medalha desta última conquista, cunhada em ouro e gravada com o nome e a localidade do evento (ExpocomSUR – Santa Cruz de La Sierra/ Bolívia), ainda está à mostra no quadro expositor de antigos e recentes exemplares de O Ponto - escrito e planejado por três gerações de estudantes de jornalismo e, também, por alunos de publicidade, que já desenvolveram interessantes peças publicitárias que marcaram a evolução e a dinâmica do jornal durante todos estes anos de atividades. Os troféus angariados também decoram a mobília da redação do jornal – onde, coordenador, monitores e voluntariados se debruçam, diariamente, sob o trabalho de apuração, produção, supervisão e revisão das pautas e matérias criadas, em um esforço que visa dar continuidade qualitativa a este produto acadêmico de renome, criado e dirigido, outrora, pelos ex-alunos. Hoje, muitos deles, profissionais bem sucedidos que fazem questão de salientar, quando questionados, a influência que a participação em O Ponto como monitores e voluntários exerceu na vida profissional posteriormente. Em entrevista para esta reportagem comemorativa dos ‘dez anos’, todos os entrevistados (ex-alunos e monitores),

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sem exceção, foram nostálgicos quanto à frutíferos para os estudantes que souberam época de estágio e voluntariado, no qual e sabem usufruir ainda das possibilidades muitos fizeram sacrifícios e estripulias que o jornal se predispõe a dar, através da para trazerem à tona um furo jornalístico; prática e do trabalho. De acordo com o Projeto Político Pedaredigirem uma matéria relevante e diagramarem da melhor forma o conteúdo gógico do curso de Comunicação Social, O que produziram “Aprendi a ser jornalista Ponto, lançado em junho de 1999, tinha e em O Ponto. Aprendi a respeitar os cole- ainda tem como premissa se prestar a ser, gas de trabalho e aprendi a cobrar e ser através do trabalho dos alunos e sob coorcobrado. O Ponto me mostrou que com denação criteriosa dos professores, um superação, conhecimento técnico e liber- veículo de “jornalismo de conversação” em dade podemos fazer um bom jornalismo”, contraposição ao jornalismo puramente pontua Frederico Wanderley, ex-aluno da informativo, factível feito pela imprensa convencional. A proposta Fumec e integrante era lançar um impresso – e da primeira turma sua periodicidade (mende jornalismo da sal) permite que isto seja Universidade. possível -, que debatesse Ernesto Braga, excom mais profundidade os monitor do jornal, paradigmas sociais, explotambém ressaltou em rando e adentrando mais entrevista, a impornas complexidades de cada tância da experiência acontecimento na comunivivenciada no jornal dade regional e internaciolaboratório para o ofínal, incitando discussões cio da profissão. “O relevantes para o público Ponto foi fundamenleitor. tal para mim. Embora A proposta era não só a realidade de uma Ernesto Braga, ex-monitor falar, por exemplo, sobre o redação de jornal diário seja completamente diferente – mais páreo entre dois candidatos de uma eleicorrida e tensa – do ponto de vista do dead ção municipal em Belo Horizonte ou onde line. As noções de produção, reportagem, quer que fosse. Mas, sim, criticar, se necesfotografia e edição apreendidas em O Ponto sário, a forma como os embates políticos me permitiram compreender um pouco ou a falta deles se dão em plena época mais sobre o processo de fazer jornal. (...) eleitoral, como mostrou a reportagem Meu portifólio foi exatamente as matérias “Disputa eleitoral sem disputa” – publicada em O Ponto, em setembro de 2006. que fiz para O Ponto”, admite. O objetivo do projeto pedagógico é eviPortanto, independente dos marcos citados e de outras cifras e estatísticas do denciar problemas relegados ao esquecijornal, a relevância de O Ponto no espaço mento, como, por exemplo, a inadimplência acadêmico nestes dez anos de existência se do Governo de Minas Gerais para com os dá por outras razões: o jornal é primordial- problemas ambientais (hídricos) do Estado, mente um instrumento prático; um meio de como fez os ex-alunos Pedro Blank e Ernesto experimentação teórico-prática dos alunos, Braga na reportagem do ano de 2000: “Desque visa munir o estudante de experiências caso Mata o Rio das Velhas”. “Uma matéria relevantes que possam ser um diferencial na que repercutiu muito (...) virando inclusive hora de se introduzir na realidade da profis- editorial do jornal Estado de Minas”, consão – que requer muita perspicácia, ousa- forme relembra o próprio autor da matéria, dia e estilo para se destacar. Além disso, O Ernesto Braga. O jornalista ainda ressaltou: Ponto é um veículo que surgiu de uma pro- “o engraçado desta matéria é que, sem saber posta pedagógica e jornalística consistente que O Ponto tinha uma tiragem de quatro e aguerrida, que propiciou notáveis reper- mil exemplares, e pensando que ele circucussões para o curso, e claro, ensinamentos lava apenas na faculdade, uma das fontes

“O Ponto foi fundamental para mim, (...)embora uma redação de jornal diário seja diferente. Meu portifólio foi exatamente as matérias que fiz para O Ponto.”

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ANOS omemorar esse feito, nossa equipe de reportagem ouviu os primeiros monitores a sua história, prêmios conquistados, matérias de repercussão e mudanças gráficas (da matéria) desceu o cacete no Estado. E vidade laboratorial implica, o desafio tem com a repercussão, ele (a fonte) ligou para o sido cumprido. Dificuldades técnicas; problemas entre coordenador alegando que não tinha falado aquilo que tinha sido publicado, pedindo alunos – editores e repórteres - no cumretratação. Ele esteve, então, na faculdade e primento do prazo na entrega de matérias; ouviu toda a gravação da entrevista, no estú- alguns detalhes estruturais com relação à dio da rádio, e não teve mais o que contes- distribuição do jornal; entraves de última hora: fotografias, infográficos e diagramatar”, recorda Braga. Portanto, a intenção de O Ponto foi, e ções pendentes, incompletas ou inaproainda é, publicar e propor assuntos que pos- priadas, fazem parte da rotina da produção sam render reflexões audaciosas, que per- de O Ponto. Como em qualquer outra redamitam ao leitor extrapolar o senso comum e ção de laboratório. E são, exatamente, esses os pensamentos instrumentais, alcançando desafios que permitem àqueles alunos que o campo das idéias críticas e producentes do se doam à prática colaborativa, como repórponto de vista social, que tenham propósitos teres, voluntários e monitores do jornal, de mobilização e desalienação das pessoas descobrir suas aptidões, capacidades e tamem geral. Seja em forma de denúncia em bém a aprimorarem técnicas e adquirirem uma grande reportagem, em forma de traço, conhecimento ainda desconhecidos. como na charge que prima pelo tom crítico e irônico, ou nas matérias e notas que repor- O início, o fim e o meio Neste intertítulo consta tam acontecimentos e uma informação de cunho eventualidades descohistórico sobre O Ponto. nhecidas, mas, imporEsta frase – O início, o tantes para a dinâmica fim e o meio, que parece da sociedade, seja no estar com a lógica invercampo econômico, tida, foi o primeiro e único político ou cultural. slogan que o jornal teve. São dez anos de ação João Henrique Faria, que estudantil em todas as trabalhou como consuletapas produtivas do tor na criação do curso de jornal: desde a criação Fábio Santos, ex-aluno Comunicação Social na de pautas até a distriFumec, entre 1996 e 1997, e também, como buição do jornal. Dez anos de tentativas. Acertos, erros, coordenador em 1998 – logo quando o curso aprendizagem e repercussões. Polêmicas e foi fundado - relata que o slogan surgiu de um concurso interno, lançado para alunos, alguns deslizes. Há uma década, O Ponto vem prestan- e que visava dar uma identidade ideológica do-se a ser, para os alunos, um instrumento e estética para o jornal, que juntamente à de aprendizagem e lapidação profissional. rádio, foram os primeiros laboratórios do E, apesar dos altos e baixos que toda ati- curso de Comunicação a entrarem em fun-

“Criei (o nome)´O Ponto` pensando no sentido ortográfico e, ao mesmo tempo, no significado da palavra: como ponto de vista”

cionamento. Foi neste período de inauguração do curso que surgiu a marca O Ponto e o distintivo publicitário “o início, o fim e o meio” para o impresso. O slogan faz referência à letra de música “Gita”, do compositor Raul Seixas para enfatizar a proposta editorial do veículo - a ordem de disposição das reportagens, naquela época, no interior jornal. O ´meio`, portanto, eram as páginas resguardadas para as editorias referentes a assuntos institucionais – da universidade, e também para os assuntos que versavam sobre os próprios meios de comunicação – cobertura, atuação das mídias, eventos e paradigmas – tudo no miolo do impresso. O ´fim` era o espaço reservado no jornal para as matérias de políticas públicas, sendo a sociedade a principal interessada e a própria finalidade das reportagens, e O Ponto o próprio ‘fim’. O ´início`, finalmente, eram matérias sobre variedades, que falavam sobre questões gerais - curiosidades, entretenimento, opiniões. Este estilo de índice, e de divisão do jornal, durou dois anos desde o lançamento até que reformulações gráficas resultaram na retirada do slogan de layout de O Ponto. Mudanças compreensíveis, tratando-se de um jornal laboratório que prima pela experimentação e inovação. Um nome de impacto A democracia, que foi sempre uma máxima no funcionamento do laboratório de jornalismo impresso – todos os alunos, sem exceção, do 1º ao 8º período, devem e podem escrever – esteve presente também no concurso que deu nome ao jornal. O nome O Ponto foi criado pelo ex-aluno de

Da esquerda para a direita, os ex-monitores Ernesto Braga, Pedro Blank e Frederico Wanderley : do Ponto para as redações

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jornalismo Fábio Santos, que participou do processo seletivo do nome do jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Fumec. “Criei ´O Ponto` pensando no sentido ortográfico e, ao mesmo tempo, no significado da palavra: como ponto de vista”. “O Ponto é um nome de impacto. Representa o ângulo, o ‘x’ da questão”, explica João Henrique Faria, que na ocasião participou do processo de escolha do nome. O ´x` a que Faria se refere, diz respeito a forma mais precisa de tratar um acontecimento. Na seara jornalística, consiste em diagnosticar o que de mais importante existe no fato, esmiuçar seus antecedentes e desdobramentos. O objetivo, é, enfim, noticiar de forma complexa, contextualizada, sem, contudo, recair no erro de julgar, fazer juízo de valor sobre um determinado acontecimento. Porque mudar é preciso Em maio de 2009, foi lançado o novo projeto gráfico do jornal, com drásticas mudanças de formato, estilo e, também, de logomarca, cujo grafismo contém, agora, um ponto dentro da letra “o”, reforçando a marca do impresso em seu nome. O novo logotipo do jornal O Ponto é mérito do aluno do 2º período do curso de Design Gráfico da Fumec, Giovanni Batista Côrrea, vencedor do concurso de reformulação do logotipo

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do jornal. “Usei uma fonte parecida com a anterior e desenhei a primeira letra ‘o’ da palavra como um ‘ponto’, aproveitando sua forma natural, pois acredito que uma marca deve ser simples e, ao mesmo tempo, marcante”, explica. A nova reformulação gráfica, coordenada pela professora Dúnya Azevedo e que contou com dois voluntários – os alunos Roberta Andrade e Pedro Leone - foi desenvolvido no segundo semestre de 2008 com base em pesquisas bibliográficas. De forma geral a opção por migrar do formato Standart (o antigo jornalão – de 53 cm de altura por 29,7 de largura) para o Berliner (28,9 cm por 43 cm) veio da demanda de adequação as transformações que o meio impresso vem passando no mundo e no Brasil: diminuição do público leitor em detrimento dos veículos digitais, o que culminou na redução dos lucros dos jornais e do pessoal – jornalistas nas redações. O que acentuou a disputa entre os jornais pelo leitor, gerando a necessidade de reinvenção dos layouts para captação deste público que está migrando para os canais de notícia instantânea na internet. Conforme explica a professora Dúnya Azevedo o formato Berliner é economicamente mais vantajoso - sua impressão é mais barata e desperdiça menos papel; é um formato mais prático de ser manuseado

e passível de se aproximar de um layout de revista, tipo de impresso mais bem acabado esteticamente e benquisto. Razões estas – economia, estética e tipo de manuseio - que influenciaram na decisão de reformular O Ponto. “O objetivo do novo formato é aproximar O Ponto do estilo magazine (revista) até mesmo pela sua periodicidade mensal”, explica Roberta Andrade. “Queríamos diminuir o formato, preservando, porém, a valorização do texto”, reforça Pedro Leone. Assim, optou-se por uma tipografia mais espaçada e menor para compor um layout mais arejado, moderno.” É nesta linha de atuação, mantendo as antigas premissas do curso, de liberdade de atuação, democracia e de ensaios profissionais, que O Ponto segue traçando sua trajetória no espaço acadêmico, concomitantemente a história dos estudantes no curso. Sempre tendo em mente, que a credibilidade de um jornal precisa ser renovada, constantemente, seja ele velho ou novo. Tenha ele 10 ou 100 anos de existência. Seja ele profissional ou laboratorial, pois o que deve ser exaltado e cumprido é a seriedade do trabalho, sem isenção de culpa e responsabilidade em caso de erros. Pois, o desafio em qualquer um dos veículos – seja um jornal renomado ou universitário, é reportar com ética e profissionalismo as informações prestadas ao leitor.

Imagens: reproduções de arquivos e documentos do jornal

Alguns marcos em 10 ANOS

1999 O Ponto é lançado. O impresso vem, então, ao mundo em formato Standard, 315 mm x 560 mm, papel jornal.

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2000 Esta matéria,assinada pelos ex-alunos Ernesto Braga e Pedro Henrique Blank denunciou a poluição no Rio das Velhas. A partir da constatação de que 90 % da carga poluidora lançada no rio era proveniente da coleta dos esgotos domésticos. “Na época o então superintendente do jornal Estado de Minas, Édison Zenóbio, publicou uma nota em sua coluna no jornal parabenizando pela matéria”, recorda o professor Rogério Bastos.

2004 Em “Anunciou, virou manchete”, o aluno Pedro Penido criticou a cobertura da imprensa entorno do défict zero e a publicidade do governo do Estado sobre esse fato, estampada nos três jornais da capital. Já “A imprensa errou” é uma crítica ao comportamento da imprensa na cobertura de um assassinato no Edifício JK. O trabalho dos repórteres Sinária Ferreira e Guilhermo Tângari pautou uma discussão no Brasil das Gerais, da Rede Minas. Sinária Ferreira, monitora na época, foi uma das participantes do programa.

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Atividades vão além da produção impressa Para além das atividades ligadas ao param e alegaram conflito de agenda. Os presentes elogiaram a organização produto impresso, O Ponto também se faz presente em várias iniciativas e eventos do evento e destacaram a importância de na Faculdade de Ciências Humanas. Uma se promover esclarecimentos políticos dessas ações foi o debate político entre os aos jovens, já que o tempo de duração candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte dos programas eleitorais na mídia não em 2008. Organizado pelos monitores de era suficiente para informar os eleitores O Ponto e da Redação Modelo, e orien- sobre os problemas da cidade, bem como tados pelos professores coordenadores, das propostas dos candidatos ao pleito. O envolvimento o evento reuniu seis da equipe de O Ponto dos nove candidatos não para por aí. Em ao pleito, no auditório colaboração com Phoenix da Fumec, no o Núcelo de Estumês de setembro. dos Escola da TerDois assuntos marceira Idade (Neeti), o caram a tônica do laboratório assumiu debate dos candidatambém, no último tos: as preocupações semestre, a diagramacom educação e com ção e fechamento do o transporte público Degrau, publina capital mineira. As Sérgio Arreguy, coordenador jornal cação semestral dos inquietações estiveram presentes nas questões do curso de Comunicação alunos do curso, que produzem crônicas, apresentadas pelos Social poesias, e outros texestudantes. O auditório tos de cunho pessoal. recebeu mais de 200 Em momentos de polêmica, a ordem universitários. Compareceram ao evento os candi- é arregaçar as mangas. Após decisão do datos Gustavo Valadares (DEM), Jorge Supremo Tribunal Federal, no final do Periquito (PRTB), Leonardo Quintão primeiro semestre deste ano, de por fim à (PMDB), Pedro Paulo (PCO), Sérgio obrigatoriedade do diploma para o exerMiranda (PDT-PCB) e Vanessa Portu- cício profissional do jornalismo, os monigal (PSTU). Somente três candidatos – tores de O Ponto foram mobilizados para André Alves (PT do B), Jô Moraes (PC do sair em campo e ouvir os profissionais do B) e Márcio Lacerda (PSB) – não partici- mercado sobre o impacto da decisão na

“Resultado de muito trabalho e comprometimento, o jornal é reflexo de um curso sério e reconhecido pelo mercado de BH”.

vida dos atuais e futuros profissinais. Como resultado da iniciativa, foi produzido um vídeo com depoimentos de representantes da imprensa belo-horizontina, tranquilizando os estudantes e avaliando como baixo o impacto da medida do STF na hora da contratação, prevalecendo a importância de se ter um curso de formação jornalística. Ensino de qualidade O laboratório de jornalismo impresso da Fumec prima também pela qualidade do ensino. As atividades de produção de cada edição do jornal laboratório, assim como a delimitação dos papéis dos participantes e colaboradores em cada uma delas, são todas executadas e coordenadas por estudantes. Os alunos, desde o primeiro semestre do curso, são estimulados a participar de O Ponto. As reuniões de pauta são divulgadas para todo o corpo dicente de Jornalismo e coordenadas pela monitoria. As sugestões de assuntos e enfoques para as matérias são responsabilidade dos alunos que estão cursando a disciplina Edição II. Eles assumem a edição do jornal a cada semestre, orientados pelo professor da disciplina e auxiliados pelos monitores. Quanto à apuração das matérias, a reportagem pode ser executada por todos os períodos. A fotografia também é uma atividade preferencialmente dos alunos do curso. Iniciativas de convergência

2005

2006

No final de 2005, o jornal obteve outro relevante resultado: um estudo sobre sua proposta editorial. Os ex-alunos de jornalismo, formados em 2005, Rafael Werkema e Renata Quintão, produziram o livro Jornal laboratório - uma proposta editorial crítica, como parte do projeto de conclusão de curso, e dedicaram esta obra “a todos os que veem O Ponto como espaço para a formação de agentes transformadores da sociedade”. Werkema declarou, também, que este estudo abre reflexão sobre a importância do jornalismo impresso experimental que difere do modelo sisudo e congelado da grande imprensa.

Em janeiro de 2006 o jornal recebeu o prêmio Pão de Queijo de notícias (PQN). Na época, a ex-coordenadora de O Ponto, Ana Paola Valente fez a seguinte declaração sobre o feito: “Esta é uma conquista coletiva, construída principalmente pelos alunos que fazem o jornal e acreditam neste projeto.” Em maio o jornal foi eleito o melhor jornal laboratório da América Latina na III Mostra Internacional da Pesquisa Experimental da Comunicação EXPOCOM-SUR.

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também são praticadas pelos estudantes da Fumec, como, por exemplo, em reportagem publicada na edição número 69. Intitulada: “Estudante vira gari por um dia”, a reportagem foi produzida para o impresso, para a internet (Ponto Eletrônico) e em vídeo simultâneamente. Para isso, uma equipe foi para as ruas executar a reportagem e, no caso do repórter, também da coleta de lixo. A edição do texto e a diagramação são executadas pelos alunos que estão cursando Edição II. A revisão final do texto e do layout da página são tarefas dos monitores e, posteriormente, o material é enviado para a gráfica. O Jornal Laboratório O Ponto é, na avaliação do Coordenador do Curso de Comunicação Social da Universidade Fumec, Sérgio Arreguy, o principal instrumento de experimentação para o jornalismo impresso. “Elaborado, desde o projeto gráfico, pautas, apuração e produção de matérias pelos alunos sob a supervisão e coordenação dos professores, é o resultado de muito trabalho, dedicação e comprometimento de todos os envolvidos, materializado em um Jornal de excelente qualidade. Reflexo de um curso sério, aprovado e reconhecido, sobretudo, pelo mercado de Belo Horizonte”.

Aurélio José Coordenador do Jornal-laboratório e professor do curso de Jornalismo

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Com a palavra, alguns ex-monitores meu “O prático primeiro contato ocorreu no Jorcom o jornalismo s como rante oito mese nal O Ponto. Du vivi cada ro anos de curso, monitor e nos quat nstruir, com pude ajudar a co e o çã da re na a di fotográfico ções ou material ma ra ag di s, en ag strado de report ito, por ter me mo mu to ei sp re e qu esse jornal minha profissão. guns valores da o forma sincera al mos naquela redaçã ressadas que tive te in s es oa sõ ss us pe sc di as As m as bo ra, juntamente co ei rr ca a o, da nt to Po o ficam para e período. Com de conviver ness “olhar” ve de , com as quais pu er s de escrev te an , mo is al rn cil que percebi que o jo e. Por mais difí rt co re u se ar sc para o mundo e bu sava olhar para na, sempre compen gi pá a um ar in rm do mês. Esse fosse te de jornais no fim a lh pi na , sa es ela, impr a cada dia”. u e deve motivar desafio nos motivo

Fotos: arquivo pessoal

-monitor Enzo Menezes, ex

“D um a no e urante tora me do j adqu orna io fui i r i send l O r m uito Pont monipost o um j c o onhe o, pod rna apre o de re e port l mensa cimento ndo nder como agen l e . M sobr esmo s, n p nasc e tas, ão d or iss e um a roti o e o n a de notí comacom j revi ci um panh ornal, s amen desd a redaç as, pud ment ão das to d e a ão e pági o, a os r nas, t reun . Apren sext e i o p é o jor d p ã i ó mont o de rter erío nal e di es e do, pauimpr agem d agra a edit entã esso ma resp ore o t . Co boneca onsá r uma i , m ve ecei pági vel o fe s, cola q u n ch e pela a. A n bor o me apreen o jorna aediç fican ar com d l s ã e m o r te f no o te os d final a e aze ema mpo d tamb ditar tóri r parte is alun o jorn ém e al, o, f o d ra tend oi u a equi s. Foi o qu pe d m gr m e o jo uito g ande rat rna apre Poli ndiz l labo iane raado. Bosc ” o, e x-mo nito ra

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“Fui um dos primei ros monitores do jornal e da 1ª turm a de jornalismo da Fumec. Como na época os repórteres er am voluntário s,passávamos salas chamando nas o pessoal. Na s primeiras ed até falavam ições que existia uma ‘panelinha matérias eram ’ porque as sempre dos mesm os - eu, o Erne Pedro Blank, sto Braga, o por exemplo, porque era qu em escrever. em se interess A matéria que ava me marcou mais a primeira a foi a primeira gente nunca es , qu ece (risos). era ‘De volta Acho que o tí aos porões da tu lo loucura’, que na primeira ed saiu como manc ição e era sobr hete e um manicômio pessoal de ps em Barbacena. icologia ia fa O zer um estudo cemos para co lá e nos ofer brir. Vimos qu ee a situação mesma há 20 an do lugar era os, segundo um a livro dos anos 80 sobre a instituição. ”

“A monitoria foi uma experiência muito bacana, pois foi a primeira vez que tive contato com a produção de um jornal. Tínhamos a função de editar, mas também fazíamos matérias, diagramávamos, tirávamos fotos, orientávamos os repórteres, enfim, era uma trabalheira só. Lembro-me de uma matéria que fiz sobre salário mínimo (maio/2001, 14ª edição) e ganhou a manchete de O Ponto, para minha surpresa. Eu e o Daniel Bianchini, na época fotógrafo e técnico do laboratório de fotografia da Fumec, subimos a favela para saber quantas eram e como viviam as pessoas que recebiam um salário mínimo.” Angélica Diniz, ex-monitora

Murilo Rocha, ex-monitor

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Editor e diagramador da página: Rodrigo Zavaghli e João Procópio 6º período

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O Novo Esporte Brasil Final do Novo Basquete Brasil levanta a discussão das políticas esportivas no Brasil PEDRO LEONE 6º PERÍODO Domingo, um dia em que a população de um país inteiro parou diante das tevês para assistir ao embate de duas equipes esportivas disputando o título nacional. O vencedor vem estabelecendo uma supremacia invejável. É o maior ganhador da década, e já desponta como favorito para a próxima temporada. Enfrenta apenas um desafio: manter o elenco para continuar competitivo em um ramo que movimenta milhões em dinheiro anualmente. Poderia estar falando do Brasil, e o time citado poderia perfeitamente ser o São Paulo. Mas a cena descrita se passa nos Estados Unidos, o campeão se chama Los Angeles Lakers e o esporte não é o futebol, mas sim o basquete. Com uma atuação impecável do cestinha Kobe Bryant, os Lakers derrotaram o Orlando Magic em uma série melhor de sete jogos, levantando o caneco pela quarta vez desde o ano 2000. É o décimo título do técnico Phil Jackson em 15 da equipe de L.A. Somados a esses números, 15 milhões de televisores americanos estavam ligados no jogo durante a exibição, e a movimentação financeira do esporte também não fica atrás das grandes transferências de jogadores brasileiros para o futebol europeu. A estrela do basquete Shaquille O´Neil deve trocar de time por nada menos que 20 milhões de dólares -uma pechincha-. Mostra-se assim que o basquete pode seguir uma fórmula de sucesso da mesma forma que fazemos com o nosso esporte nacional. A liga americana é uma das mais assistidas no país e no mundo, sendo transmitida para 42 países, e possui uma fórmula diferente e atraente, com fase de grupos, os famosos mata-matas e divisões por conferências, tornando toda a temporada uma grande festa, com direito inclusive às tradicionais, e nada desejáveis, brigas de torcida. A NBB A Associação Nacional de Basquete dos Estados Unidos, a NBA, é o exemplo que o Brasil está tentando seguir para reerguer o esporte no país. A preocupação é grande uma vez que, por exemplo, a equipe masculina nacional que já contou com estrelas como Oscar Schmidt, além de jogadores que hoje fazem fama no exterior, como Leandrinho, Nenê e Anderson Varejão, nem se quer conquistou vaga para disputar as duas últimas olimpíadas. Isso, para um esporte em que o Brasil já foi campeão mundial, no cada vez mais longínquo ano de 1959, é sinal de crise. Mas o racha no basquete brasileiro não envolve apenas o desempenho do time em quadra. Nos últimos anos, o que se viu foi um show de falta de organização por parte da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) que, em 2006, não conseguiu promover o campeonato nacional até o fim. Faltou a final, e a história

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enveredou para a política. Os clubes paulistas, insatisfeitos com a conjuntura, romperam com a confederação, e disputaram um torneio paralelo, criado por eles, em 2008. No pré-olímpico do mesmo ano, a seleção brasileira disputou, por vários motivos, muitos deles obscuros, com desfalque de todos os jogadores que disputavam a Liga Americana. Perdeu. Insustentável por si só, a nova aposta da CBB é o Novo Basquete Brasil. A sigla, NBB, não foi por acaso. A semelhança com a NBA é justamente o foco do novo torneio, organizado pelos clubes com a chancela da Confederação. É uma tentativa de reconciliação dos times com a entidade, dos jogadores com a seleção e, por conseqüência, das torcidas com a quadra. O formato traz turno, returno e fase final, com mata-mata para definir semifinalistas e finalistas. A final é decidida em, no máximo, cinco partidas. E que comece a campanha para as Olimpíadas do Rio. Olimpíadas Que o governo brasileiro está em campanha para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 já está claro para todo mundo. O que acontece nas entrelinhas, porém, é um esforço coletivo por parte da mídia, do governo e de todo o setor esportivo em geral em alavancar o esporte no país. Desmistificar a conversa de que aqui só o futebol presta. É bom para os clubes, bom para os cofres públicos e bom para as empresas privadas, fora a melhoria na imagem do país lá fora. Para se ter uma ideia, o Pan do Rio gastou cerca de sete milhões de reais em uma só cidade. Já a reforma do Maracanã, palco da final da copa de 2014, tem orçamento previsto em até 1 bilhão. É muito dinheiro envolvido e, logicamente, muita gente interessada. O NBB se torna, claramente, mais uma peça nesse complexo tabuleiro aonde o objetivo é vender o Brasil como país do esporte. Ronaldo, Adriano, Fred, fora outras movimentações de grandes estrelas do esporte nacional que retornam ao país mostram que, aos poucos, estamos tentando construir uma cultura esportiva, o que nos encaixa como uma luva na candidatura para as olimpíadas. A verdade é que temos um longo caminho a percorrer. O Rio de Janeiro já até possui um esqueleto de estrutura, é verdade, feita nos Jogos Pan Americanos de 2006, e pretende ampliar o investimento com a Copa do Mundo de futebol, mas a incompatibilidade ainda é latente. Falta resolver o problema da segurança pública. A reforma do estádio do Maracanã já tem orçamento mas não tem quem pague. E o que sinaliza o desespero para ser capaz de receber um evento desse porte é a corrida das cidades sede da Copa de 2014. Das 12 cidades sede, todas com planejamentos astronomicamente caros para a competição, apenas uma –Brasília- declarou de onde virá o dinheiro.

Foto: Divulgação

Minas e Flamengo, em jogo realizado na arena da Rua da Bahia Formação de base O lado positivo de toda a politicagem que envolve a corrida pelas olimpíadas é a formação de novos atletas e de escolinhas de base nos vários clubes do país. Afinal, se por um lado esporte é financeiramente um bom negócio, ele não deixa de ser saudável e interessante para a sociedade. A eficiência de escolinhas de esporte nas periferias, em termos de estatísticas de criminalidade, além do trabalho sério de dignidade e autoestima que é feito, na grande maioria dos casos, por professores voluntários, é inegável. O Mackenzie Esporte Clube, tradicional formador de atletas de Belo Horizonte, por exemplo, usa suas escolinhas de esporte para, segundo sua assessoria de imprensa, auxiliar na educação e integração social de crianças e jovens. Além dos clubes, escolas particulares, ou seja, com verbas, como o Colégio Santo Agostinho, realizam projetos sociais para promover a integração e dignidade através do esporte. Exemplo disso era o time de vôlei Sada Betim, hoje Sada Cruzeiro que, enquanto ainda associado à prefeitura da cidade, e usando suas dependências, abria portas para jovens da periferia para integrar suas escolas básicas do esporte. Estrutura para tais iniciativas é o que não falta. O Minas Tênis, clube de maior destaque no cenário esportivo mineiro, é o detentor de uma das mais invejáveis estruturas esportivas do país. É o exem-

plo de que é possível dar suporte para formar equipes competitvas em vários esportes. Finalista da Superliga de vôlei, clube de formação do medalista pan americano Thiago Pereira, da natação, medalista olímpico do judô com Ketleyn Quadros, e semifinalista da NBB com a equipe de basquete. Conquistas que geram perguntas. É possível estender tamanho sucesso para a população em geral? O Brasil será capaz de utilizar o potencial que tem, de mobilizar a sociedade por causas tão interessantes quanto o esporte, para alavancar os setores prejudicados de seu povo, ou vai jogar todos os problemas e todas as desculpas por suas falhas sob o grande guarda-chuva da beleza do esporte? Será as Olimpíadas uma oportunidade para o sucesso ou mais uma grande farra para os políticos e para a mídia? O Novo Basquete Brasil pode ser parte da resposta. O objetivo principal do torneio é revigorar o esporte, atrair o público de volta e recolocar o basquete brasileiro em níveis olímpicos para, em seu objetivo secundário, apoiar a campanha para o Rio 2016. Se der certo, bom para o Brasil. Ganha em notoriedade, em trabalho bem feito e abre um leque de esperanças para os projetos que virão. Se der errado, reforça a capacidade do brasileiro de fazer auê sem saber aonde vai dar. E costuma dar em pizza. Em obras superfaturadas, em estrutura precária e em novas festas, como mensalões, castelos e farras aéreas em geral.

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O Ponto

Os bastidores do riso Em entrevista exclusiva, Rafinha Bastos, repórter do programa televisivo Custe o Que Custar (CQC), abre o jogo e conta como o humor é levado a sério na atração semanal na emissora Bandeirantes AMANDA ARAÚJO FLÁVIO CAMPOS NATASHA MUZZI 8º PERÍODO

Belo Horizonte, abril de 2009. Enquanto esperávamos a reapresentação da peça “Arte do Insulto”, para realizar uma entrevista com o humorista Rafinha Bastos, marcávamos quais seriam as principais perguntas que deveriam ser feitas, considerando o pouco tempo que teríamos dispo-

nível nos bastidores do evento. Casa cheia, nervosismo em alta, muita gente querendo conversar e chamar a atenção do “homem de preto” do programa CQC. Difícil tarefa é conseguir uma entrevista quando se é apenas estudante. Mas conseguimos o acesso e a conversa se estendeu por bem mais tempo do que esperávamos. Nosso objetivo era questionar o apresentador e repórter sobre a junção entre jornalismo e humor, presentes no programa por ele apresentado,

a fim de somar ao nosso trabalho de conclusão de curso que apresentava a mesma discussão. Em maio, de volta à mesma casa de espetáculos, nos encontramos com o também repórter da atração, Danilo Gentili, com certeza bem mais afiados e preparados para a sarcásticas intervenções do humorista. De forma descontraída, fomos recebidos pelas duas grandes figuras do Stand-up Comedy, e agora “astros” do irreverente CQC, que toparam

falar sobre o jornalismo do programa, liberdade de imprensa, política e, claro, humor. Além de compor a bancada do programa, Rafinha Bastos é jornalista e comediante, apresentando espetáculos de improviso por todo o país. Publicitário e humorista, Danilo Gentilli foi um dos fundadores da comédia ao vivo na capital paulista. O resultado deste inusitado e divertido bate-papo com os dois repórteres você confere agora, em entrevistas editadas especialmente para O Ponto.

Foto: Divulgação

O Ponto: O que você acha que o CQC traz de novo para a TV brasileira? Rafinha Bastos: O CQC é um formato novo. Só o fato de existir um formato novo numa televisão tão repetida, porque os formatos se repetem muito na televisão: a novela do SBT é igual a da Band, que é igual a da Globo, que é igual a da Record; os telejornais também são parecidos, os programas de auditório. Então, só o fato de ser um programa diferente, um formato de televisão diferente, já é uma novidade. Eu acho que é isso que o CQC traz. OP:Como você entende a junção de “jornalismo e humor”? RB: Eu acho que o jornalismo é muito convencional. Ele tem um formato muito específico no Brasil há muito tempo. Então, o fato de a gente estar fazendo uma coisa mais bem humorada vem quebrar um pouco com esses paradigmas que são muito estabelecidos do jornalismo. A gente está fazendo de uma maneira diferente de fazer o jornalismo. Eu acho interessante a receptividade que eu tenho tido com as matérias lá do “Proteste Já”. São muito legais, o povo gosta e se sente representado. Então, eu acho que tem sido muito bom. OP:O site oficial do CQC apresenta o humor que vocês praticam como sendo um “humor inteligente”. Você acredita nesta expressão? RB: Não existe isso. Eu sou contra esse negócio de “humor inteligente” porque, não é porque o Tiririca faz um humor para o povão que ele não é inteligente. Ele é um gênio, aliás, entendeu!? Não acho que a questão é “inteligente”. Eu acho que a questão é a seguinte: o humor do CQC precisa de mais referência. O pessoal precisa conhecer um pouco das coisas que a gente está falando; estar um pouco informado sobre política. Talvez a pessoa que assiste ao CQC esteja atrás de um humor com mais informação, um humor mais crítico e o humor não é tão popular, mas não significa que não é mais inteligente do que o humor popular. OP:Você não teme que o CQC caia na “mesmice”? RB: É muito cedo para dizer ainda. Muito cedo. O que acontece é que os programas humorísticos caem na mesmice e isso é estratégico. O “Nerson da Capitinga” faz a mesma piada toda semana

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Uma das cenas protagonizadas por Rafinha Bastos no quadro “Proteste já”

“Os próprios políticos fazem comédia (...). As notícias do ‘Jornal Nacional’ às vezes são mais engraçadas que as notícias do CQC” Rafinha Bastos porque as pessoas precisam entender a piada. O povão, a galera “massa”, precisa saber a hora que ela tem que rir. Por isso que parece que é muito repetitivo. Porque não é um humor feito pra gente, não é um humor feito para a galera faculdade, para a galera que tem um espírito crítico um pouco mais aguçado. É para o povão. É muito bem feito. A tendência do CQC não é ir por esse caminho, mas pode ser que ele se repita. Isso é uma busca eterna. OP:A experiência da stand-up comedy contribui para a abordagem de suas fontes? RB: O fato de eu ser comediante me ajuda. Eu faço um programa de humor hoje, que por mais que tenha uma pegada jornalística é um programa de humor. O objetivo dele é ser engraçado, é ser divertido. Tanto a minha formação de jornalista quanto o meu trabalho de comediante estão juntos ali quando eu estou na frente do vídeo.

OP:Em sua opinião, onde podemos perceber o jornalismo no CQC? RB: O quadro “Proteste já” é o quadro mais jornalístico do programa. Ele aborda os problemas, levanta e vai atrás de soluções, conversa com os governantes. Eu acho que esse é o quadro mais jornalístico, mas não significa que as matérias de “balada” não sejam jornalísticas. Mas eu só acho que o mais parecido com o formato tradicional de jornalismo é o “Proteste Já” OP:Como você percebe a inserção da publicidade no programa? Você acha que o excesso de propaganda pode prejudicar a atração? RB: Eu acho que é feito de uma maneira muito suave. É algo inovador. O que o CQC faz não existe em nenhum outro programa. A gente não interrompe, não mostra nenhum produto ou merchan durante o programa. São propagandas feitas com o próprio elenco. Então eu acho

que é diferente e o programa tem que se bancar. Ele precisa ter publicidade. OP:Mas você não acha que há uma quebra do discurso? Por exemplo, o Marcelo Tas chama uma matéria “redonda” e faz menção a uma determinada marca de cerveja. Quando manda a matéria há um corte com outra propaganda entrando... RB: Você não acha isso muito melhor do que parar e falar assim “gente, vamos falar de seguro saúde!” e a pessoa sair? Você tem que vender, você tem que fazer publicidade. Não tem como. O programa precisa se bancar de alguma forma. Eu acho que a melhor maneira, uma maneira interessante, de fazer os merchans é da maneira como a gente faz. Não interrompe, não tem a ver com a matéria, não está no meio do conteúdo, não tem a ver com o conteúdo do programa, está separado. Eu acho que é uma maneira tranquila. Se é a melhor maneira eu não sei, mas eu acho interessante. OP:Em abril, assessores de comunicação dos parlamentares se reuniram em Brasília para questionar a liberdade com que os repórteres atuam no Congresso Nacional. O diretor de comunicação da Câmara, porém, afirmou que não alteraria as regras atuais e que cabia aos assessores explicar aos deputados como lidar com o tipo de jornalismo praticado pelos programas. O CQC foi pivô desta atitude? RB: O Congresso faz as leis dele. O Congresso olha muito para o próprio umbigo. Não existe nada que influencie diretamente as decisões do Congresso. Eles decidem por eles mesmo. Por isso que eles estão em Brasília, que fica a 500 km de Rio e São Paulo. OP:Você acha que os políticos são alvo fácil para o humor? Por quê? RB: Eu acho que não. Eu acho que os políticos são difíceis porque são uma concorrência para os comediantes. Os próprios políticos fazem comédia, então já é muito difícil você tirar sarro de algo que já é engraçado. As notícias do “Jornal Nacional” às vezes são mais engraçadas que as notícias do CQC. É mais difícil ainda. É uma busca eterna para não ficar se repetindo e não ficar falando coisas que já são ditas por outros telejornais.

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O cara de pau dos homens de preto Danilo Gentilli, o temido repórter pelos políticos no dia-a-dia do senado conta como se prepara para as pautas polêmicas Foto: divulgação

O Ponto: O ano de 2008 rendeu ao CQC nove prêmios. Quatro deles somam como melhor programa de humor e/ou como melhor produção humorística. Porque você acha que a mídia ainda não premiou o programa como melhor telejornal? Danilo Gentili: O CQC trabalha com fatos jornalísticos, mas não é um telejornal. O CQC não está todo dia mostrando os fatos do dia, então não pode ser classificado como um telejornal. O “Globo Repórter” não pode ser classificado “um telejornal”, é um programa jornalístico. Eu acho que a mídia não enxerga o CQC como um programa jornalístico. Na verdade, se for para eu escolher se o CQC é jornalístico ou humorístico eu escolheria que ele é humorístico, porque, quando eu vou fazer, eu me preocupo primeiro em fazer a pessoa rir. Eu vou abrir a boca, eu vou falar com esse cara, mas a única razão de eu falar com esse cara é fazer uma piada. Se eu for falar com ele e a pessoa não rir não tem porque eu estar aqui. OP:A maioria das pautas políticas do programa são destinadas à você. A que você atribui isso? Você seria o mais cara de pau dos “homens de preto”? DG: Pode ser. Talvez seja. Eu gosto de fazer política com um produtor lá em específico. A gente vai com muita vontade de fazer o que a gente faz, de chegar para o cara e perguntar. Na verdade, é o seguinte: eu não sei os outros repórteres, mas eu no CQC não tenho a pretensão de ser amigo de ninguém. Seja de político ou de celebridade, eu não tenho a pretensão. Vocês não vão me ver em festas de celebridades “Oh! fui convidado pra festa e estou aqui”. Eu não tenho essa vontade, não é o meu mundo. Então eu vou pra perguntar o que eu sempre quis e talvez o que todo mundo que está em casa sempre quis saber. OP:Como é a sua preparação antes de cobrir as pautas políticas na Casa Legislativa? Você planeja suas piadas antes ou é realmente no improviso? DG: A reunião de pauta geralmente acontece no caminho. Eu e o produtor, ou no avião ou no carro. Eu e o produtor falando “quem você acha que vai estar lá? Ah! Tal pessoa, tal pessoa, tal pessoa fez isso. A gente pode falar isso!”. A gente tenta mais ou menos ter uma noção do que dizer. OP:Mas inclui uma piada pronta? DG: A gente tenta prever e tenta ir com umas cartas na manga, mas a gente sabe que é impossível. Porque eu posso ir com uma pergunta pronta e o cara me dá uma resposta que ninguém esperava. Aí em cima disso eu tenho que fazer outra piada. OP:O site oficial do CQC apresenta o humor que vocês praticam como sendo um “humor inteligente”. Você acredita nesta expressão? DG: Tá isso no site do CQC? Vocês acreditaram nisso? (risos). Não sei, eu acho que o humor tem que ser engraçado, não tem que ser inteligente. É o

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O humorista Danilo Gentili foi um dos fundadores da comédia “cara limpa” na capital paulista e hoje desafia políticos que eu acho, entendeu? O que seria humor inteligente? Não sei, o humor é muito subjetivo pra classificar “esse humor é inteligente, esse não é”. Eu acho que o humor inteligente é aquele que se comunica de uma forma eficaz com o seu público. O Tiririca é esquisito mais é um humor inteligente para muita gente. Eu gosto do Tiririca!

“A gente, sempre que pode, está no fato, na hora do fato. A intenção é sempre, o máximo que a gente pode, pegar o fato que está acontecendo na semana e ‘brincar’ com ele.” Danilo Gentili OP:Como publicitário, como você avalia esse novo modelo de publicidade inserido no programa? DG: Mas não é tão diferente assim. Na verdade é igual as outras, porque nas outras o cara faz a propaganda e a agência que ganha e no CQC também, a gente faz a propaganda e a produtora que ganha. OP:Você acha que o riso midiatizado, esse humor “pastelão” que a gente vê por aí, deixa perder um pouco da função do riso que está em ser crítico? DG: Depende do humor pastelão, eu gosto muito. Eu gosto do Chaves, gosto dos Três Patetas, gosto do Jerry Lewis, gosto do Mr. Been. É tudo humor pastelão. Eu acho que o termo que você queira achar não é “humor pastelão”, é um humor grosseiro, tipo “Ah!, vou peidar em público” e todo mundo ri disso. É um humor primário. Talvez seja o que você queria dizer. Pastelão eu gosto muito, o humor do Chaves é pas-

telão e é muito inteligente. O do Mr. Been também é muito inteligente, ele bolar tudo aquilo e tal. Agora tem o humor primário, que é esse humor de bordão, humor de escatologia, humor de falar qualquer coisa. Geralmente ninguém ri se não sabe do que está rindo. Eu tento fazer no meu show e no CQC um riso que depende do contexto. Você vai ver isso quando eu for falar com um político no CQC. Por exemplo, eu fiz uma matéria e eu encontrei o João Paulo Cunha, um cara que era do mensalão. Eu sei que 90% do meu público do CQC talvez não se lembre ou não saiba quem é o cara. Então, se eu fizesse a piada ninguém ia rir, ninguém ia achar graça. Então, antes de eu chegar no cara eu falei : aquele ali é tal cara, que fez tal coisa e naquela época ele fez o mensalão. Falou que pagou 50 mil numa conta em TV a cabo e não sei o que. Aí o pessoal já sabe do que eu vou falar. Então eu já deixei a pessoa a par do conceito. Quando eu chego no cara e faço as piadas, a pessoa sabe do que eu estou falando. Então eu informei a pessoa para ela poder rir. No meu show eu faço isso. Eu falo de uma porção de coisas que vão rir porque eles estão dentro do conceito. Eu vou falar de trânsito, eu não preciso explicar o que é o trânsito. Todo mundo sabe o que é o trânsito, então eles acabam rindo disso, por exemplo. OP:Em entrevista ao portal UOL no dia 24/04/2008, você disse que os brasileiros não têm muito senso de humor. Porque você acha então que o programa está dando certo no Brasil? Você acha que o CQC devolveu à sociedade um pouco desse senso? DG: O problema do brasileiro é que ele tem o senso de humor primário. Ele não tem um senso de humor. Pra você ter senso de humor você tem que ver o que está acontecendo, reconhecer a realidade para poder rir dela. O brasileiro tem a auto estima muito baixa. O brasileiro só brinca com os outros, ele não brinca con-

sigo próprio. Você vê piada de brasileiro: é sempre o português, é sempre a loira. Por exemplo, tem o português, o brasileiro e o americano. O brasileiro sempre se sai bem, ele tem autoestima baixa, ele não sabe rir de si. Se o CQC devolveu isso para o brasileiro? Eu acho que não. Pouca coisa a gente devolveu isso para o brasileiro. O brasileiro está rindo ainda do político, ele está rindo ainda da celebridade que a gente ridiculariza. Eu já saí na rua e quando eu fui na “Marcha para Jesus” falar deles ninguém riu. OP:No CQC, você tem vontade de fazer o quadro Proteste Já? DG: Proteste Já? Não sei cara. Tudo que eu tenho vontade eu faço. Eu tenho vontade que muita coisa que eu faço entre, mas acaba não entrando porque os caras falam que eu pego pesado (risos). Se eu fizesse o Proteste Já talvez eu fizesse diferente, eu não sei. Eu não tenho vontade de fazer o Proteste Já não. OP:Tem alguma entrevista sua que você considera a melhor? DG: Não. Tem muita entrevista que eu vejo na TV e falo: nossa, essa não foi a melhor que eu fiz! Porque cortam muita coisa. OP:Que elementos jornalísticos você nota no programa CQC? DG: Jornalismo tem porque a gente, como fala no início do programa, é um “resumo semanal de notícias”. Mas tá, é um resumo semanal de notícias tá bom vai...a gente finge que é. O que tem é: a gente brinca com algumas coisas que aconteceram durante aquela semana, durante aqueles dias próximos. É o mais próximo que tem do jornalismo. A gente, sempre que pode, está no fato, na hora do fato. Mas às vezes não dá, então vai cobrir festinha e não sei o que, mas a intenção é sempre, o máximo que a gente pode, pegar o fato que está acontecendo na semana e “brincar” com ele.

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O Ponto

O rádio na onda do ciberespaço Saiba o que a troca de arquivos de música pela internet fez com o rádio de entretenimento, como as pessoas encarram isso e quais são as apostas das rádios para não perderem seus ouvintes e patrocinadores. RENATA VALENTIM 6ºPERIODO Que o advento das mídias digitais pôs um ponto de interrogação no horizonte dos meios tradicionais, já se sabe. Mas a transformação destinada ao rádio parece ser, de fato, a de maior impacto. Seja no campo das novas tecnologias de transmissão, dos novos suportes ao áudio, no número de funcionários contratados ou na avaliação do poder de influência no gosto da audiência, a revolução vivida pelas rádios é atestada tanto por profissionais da área quanto pelos ouvintes. O CD hoje obsoleto, popularizado no Brasil no final dos anos de 1980, já significou uma transformação importante no dia-a-dia do radialista. Em vez de execuções musicais feitas pelo LP ou “bolachão”, que o operador ou sonoplasta vigiava do início ao fim da faixa transmitida, os tocadores de compact disc permitiam a programação de várias faixas em seqüência, poupando-lhe tempo. O que veio a seguir economizou bem mais que isso: a inovadora transformação de música em kilobytes deu origem a softwares de execução automática. Assim, as rádios, gerando programação por 24h, dispensaram seus locutores e sonoplastas da madrugada e dos finais de semana, adaptando seus conteúdos para que sistemas de automação trabalhassem sozinhos. Além das músicas em formato digital, apresentações de música passaram a ser também gravadas

e reproduzidas como se fossem feitas ao vivo. Não foram poucos locutores desempregados. No caso das afiliadas de grandes redes de FM, a redução no quadro de profissionais da voz foi ainda maior. Em alguns casos, há somente um ou dois locutores à disposição, que dão conta da geração de toda a programação local. Com experiência na área há mais de 20 anos, a locutora e programadora musical Gláucia Lara, 40, lamenta: “em um final de semana, antes das mudanças promovidas pelo advento do mp3, cerca de sete pessoas estariam trabalhando em uma emissora de rádio. Hoje, é comum escalar locutores para comandarem a programação ao vivo só nos programas que contam com a participação do ouvinte. Do resto, quem cuida é o computador”, conta ela, que já passou por diversas emissoras do interior do estado e por afiliadas de grandes redes como a Antena 1, de Belo Horizonte. E o sonoplasta, então? “Na era do CD, essa figura foi extinta dos quadros. O locutor não é só responsável hoje por apresentar músicas e interagir com o ouvinte. Também assumiu a responsabilidade de operar os aparelhos,

e pessoalmente acho que isso facilita a locução, porque não há mais aquela dependência de um sinal do sonoplasta, aquela sintonia de timing necessária para esse trabalho de equipe dê certo. O locutor faz tudo”, pondera. Eu baixo, tu baixas... O mp3 também alterou a forma de distribuir novos trabalhos musicais. A popularização da internet e a troca de arquivos por meio de softwares semelhantes ao pioneiro Napster deram início à decadência dos CDs e ao declínio das grandes gravadoras, que fracassaram ao combater tanto a pirataria quanto o compartilhamento online de mp3. O casamento das gravadoras com o rádio e a TV, que detinham a fórmula exclusiva de atrair a atenção do público para seu artista, entrou em crise. A parceria de divulgação perdeu espaço considerável para uma revolucionária forma de acesso a novos trabalhos musicais feita na internet. Para a tristeza de gravadoras e artistas, a vendagem de CDs caiu drasticamente, fazendo dos shows e turnês sua principal fonte de lucro. Foi-se o

Página da rádio na internet, a Last FM

Imagem do programa de dowloads de arquivos de música e vídeos Limewire.

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tempo em que um artista de sucesso vendia mais de 2 milhões de cópias de seu trabalho: o campeão do mercado fonográfico brasileiro em 2006, Padre Marcelo Rossi, registrou cerca de 860 mil cópias vendidas de seu álbum “Minha Bênção”, editado pela Sony BMG. Um número pequeno, se comparado aos 3,5 milhões de cópias de seu primeiro disco, “Músicas Para Louvar ao Senhor”, de 1998. A estagiária de pesquisa de mercado Karina Zandona, 22, comprova esse fenômeno. Fã de The Killers, ela conta que hoje procura se informar do lançamento de álbuns das suas bandas preferidas por sites especializados, e faz download deles quando já estão disponíveis. “Só ouço música pelo PC e pelo mp3 player. Rádio, só ouço às vezes, quando minha mãe ouve em casa. E sempre são as programações informativas, como a Rádio Itatiaia. Não consigo mais ficar exposta a tanto hit ‘da modinha’ como os de black music no rádio”, diz. No caso da comerciária Ellen Colombini, 24, a influência da internet é ainda mais efetiva: “ouvia muito rádio quando adolescente e assistia muito à MTV. Era fã de coisas do tipo Hanson, por exemplo (risos). Mas quando passei a usar a internet e descobri a maravilha que é fazer download de música, não liguei mais o rádio. Sou viciada em fazer downloads, vou baixando tudo o que encontro e que me parece interessante, pelo release que acompanha o link, ou mesmo pelo nome da banda. Escuto tudo e seleciono o que me agrada. Se aprovado, vou passando adiante. E a partir do que eu recomendo para os amigos, recebo deles arquivos de artistas parecidas com o que eu enviei, e sobre os quais não vejo ninguém falar”, comenta. A engenheira ambiental Eduarda Stancioli, 24, é ouvinte da Last FM, página online na qual o usário cria a pragramação sem a interrupção de publicidade e locutores. “Como passo mais tempo usando o computador da empresa que o resto do pessoal e não posso fazer dowloads, o site foi uma ótima solução para ouvir música enquanto faço meus projetos”. Eduarda diz que a facildade está no fato da programação ser sua criação, onde você seleciona os artistas ou estilo de música da sua preferência podendo mudá-la qualquer hora. E ainda poder contar com sugestões musicais do serviço, geradas a partir do tipo de música que se ouve. Contra a maré Curioso é o exemplo da estudante Cecília Portugal, 21 anos. Apreciadora de axé music, adora ouvir a Extra FM enquanto dirige. Diferente de Ellen e

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Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009 Foto: Roberta Andrade 6ºG

O Ponto

Com a digitalização da música o sonoplasta sai de cena: é o locutor quem faz tudo

Karina, o costume de baixar música pela internet não a afastou do hábito de ouvir rádio: “outro dia ouvi uma música nova do Tomate, ex-vocalista do Rapazolla. Corri pra casa, procurei o arquivo para download e depois gravei num CD para ouvir com as amigas no caminho pra balada”, conta. “A maior graça do rádio, que sempre tive o costume de ouvir, é a companhia que faz. Parece que não estou sozinha no carro, enquanto ouço. E me divirto com as esquetes de humor que têm por aí”, diz. Essa parece mesmo ser a nova vocação do rádio, como destaca o locutor e produtor Gleyson Lage, da 98 FM de Belo Horizonte – primeira emissora a operar em freqüência modulada na América Latina: “Além das promoções e do aumento das formas de interatividade, o humor é uma forma de fidelizar o ouvinte de perfil mais passivo, que tem menos disponibilidade ou motivação para manter contato por telefone ou e-mail”. Apostando nisso, a 98 FM – cuja programação é 100% local – conta com três programas de cunho humorístico para enfrentar a concorrência: Os Manos, Silicone Show e Graffiti, auto-intitulado o pior programa de rádio do Brasil. Para o locutor publicitário Tovar Luiz, 43, o FM nasceu engraçado: “o grande barato das rádios FM, desde a sua popularização no início dos anos de 1980, foi o seu perfil descontraído. A locução nessas emissoras sempre foi bem mais ágil e despojada. O hoje apresentador de TV César Filho, por exemplo, começou a carreira no rádio e

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ficou famoso pelo bordão ‘beijo pra você, feia’. Não era ofensa, era pra fazer o ouvinte rir. O FM foi uma revolução em termos de linguagem”, lembra. E ele parece ter razão. O programa Pânico, um dos maiores fenômenos televisivos dos últimos tempos, é derivado de um programa de rádio da rede Jovem Pan 2, de São Paulo, comandado pelo locutor Emílio Surita. Seguindo o fluxo, as demais redes destinadas ao público jovem também investiram na programação que faz rir. E a partir das redes, as emissoras locais que fazem concorrência às afiliadas também acompanham a tendência, para não perder seu espaço no mercado.

Falando nele... Existem hoje 23 FMs no dial de Belo Horizonte. Pelo menos quatro delas são dedicadas aos jovens: Jovem Pan 2 (99,1), Mix FM (91,7), 98FM (98,3) e Oi FM (93,9). Destas, somente a 98FM não é afiliada de uma grande rede. Há três anos em atividade na emissora, Gleyson Lage confirma a redução no número de vagas aos profissionais da área: “numa rádio local são necessários 20 funcionários para produzir toda uma grade, enquanto numa afiliada, juntando a programação executada pelo satélite com aquela gerada pela automação da transmissão, apenas cinco dão

conta do recado para o tempo destinado à grade local. É complicado”, conta. No entanto, ele vê a participação das redes de rádio como positiva, no que se refere à qualidade: “quando uma rede tem um bom conteúdo – boa plástica, bons locutores, bons textos – ela acaba por estimular as emissoras locais a manterem o mesmo nível. Há um ganho em criatividade que poderia não existir se todo o conteúdo fosse local”, acredita. Enquanto isso, os ouvintes se queixam da repetição nas grades musicais: “chega a ser engraçado. Estava ouvindo uma música numa determinada

rádio. Quando acabou, troquei para a estação seguinte, e estava tocando a mesma música. Acho que, como todos os meios de comunicação, as rádios precisam abrir o leque de opções”, opina Karina Zandona, estagiária de pesquisa de mercado, 22. Karina completa, “até a Rede Globo tem inovado na inserção de músicas de artistas desconhecidos do grande público como trilha das suas produções (como foi o caso do cantor Beirut, presente na trilha sonora da minissérie Capitu, exibida em janeiro de 2009). O rádio podia acompanhar essa tendência”, sugere.

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22 • Cultura

Editor e diagramador da página:Lira Fávilla e Felipe Barbosa 6º período

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O Ponto

O novos sons do velho vinil Com a popularização dos sites de divulagação de música na internet o vinil retorna como alternativa interessante para novos músicos e ouvintes CLAUDIA LAPOUBLE 6ºPERÍODO

Os diferentes formatos do vinil -LP: abreviatura do inglês Long Play, ou “12 polegadas”. Disco com 31 cm de diametro com capacidade normal de cerca de 20 minutos por lado. O formato LP era utilizado, usualmente, para a comercialização de álbuns completos. -EP: abreviatura do inglês Extended Play. Disco com 17 cm de diametro e capacidade de cerca de 8 minutos por lado, continha em torno de quatro faixas. -Single ou compacto simples: abreviatura de Single Play, “7 polegadas” ; ou compacto simples. Disco com 17 cm de diametro e capacidade normal de 4 minutos por lado. O single era geralmente empregado para a difusão das músicas de trabalho de um álbum completo a ser posteriormente lançado . -Máxi: abreviatura do inglês Maxi Single. Disco com 31 cm de diametro, sua capacidade era de cerca de 12 minutos por lado

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De volta ao plástico Apesar de não ser a mídia mais utilizada pelo grande público o disco de vinil tem um público fiel, principalmente entre os DJs, que segundo Pampani, “procuram sempre coisa nova, se ele quer tocar Jorge Bem, por exemplo, ele vai procurar aquela música que ninguém lembra mais que ele gravou. Esse pessoal tem que ficar garimpando sempre”. O DJ e fundador do selo Vinyl Land, Luiz Valente ou DJ Luiz PF, é um desses garimpeiros de sebos. Ele conta que sua paixão pelos LPs nasceu quando ele mesmo selecionava as músicas que iriam compor o som ambiente de seu bar, o “Lugar”. Em 2003, Luiz sentiu que poderia abrir espaço para DJs que pesquisavam e procuravam por músicas que fugiam do lugar comum: “eu fui fazendo festas por um tempo, chamando DJs que discotecavam com vinil, pra ser um contra ponto a essa outra galera”, conta. Radicado em Londres desde 2006, Luiz conta que ao chegar à Europa percebeu que diferente do que acontecia no Brasil, “lá o negócio não tinha acabado nada, se achava tudo pra comprar, coisas novas, a galera atual, todo mundo lançava, era uma coisa de canto de loja, mas funcionando, vendendo”. Na capital inglesa o DJ trabalhou na gravadora Whatmusic.com, que além de CDs lançava também trabalhos em vinil. A paixão pela “cultura de acetato” e o trabalho como DJ foram o incentivo para que Luiz fundasse, em 2008, a Vinyl Land, selo que vem com a proposta de lançar músicos que se interessem em gravar em vinil. Segundo ele, o selo nasceu de sua própria necessidade como DJ, “eu já discotecava com vinil, e fui achando bandas novas que queria tocar mas não tinha como, porque eram de uma época em que não tinha mais vinil, ai eu pensei: já que não tem eu faço, e comecei a procurar contatos e tentar organizar o selo”. Com apenas um ano no mercado a Vinyl Land

Dj lançou Luiz PF,três fundador selo Vinyl Land. Guto (guitarra), Paty (bateria) e já discos,dodentre

Luan Barros

Um Brasil em vinil “Contar a história do Brasil através da música, guardando um exemplar de tudo o que foi gravado em vinil no país”, esse era o objetivo de Edu Pampani, 46, quando, em 2005, fundou a Discoteca Pública, o primeiro espaço dedicado à memória musical brasileira do país. Apaixonado por música, e claro pelos discos de vinil, Pampani conta que a idéia da Discoteca nasceu quando ele ainda morava na Bahia e tinha uma loja de discos. Segundo ele, quando o Compact Disc (CD) começou a se popularizar, na década de 90, as pessoas o procuravam para trocar seus LPs por CDs. O espaço tem hoje um acervo de cerca de 12 mil peças, que contam a historia do Brasil pelos sulcos no plástico PVC. É possível ouvir, por exemplo, gravações de jogos de futebol, ou vinhetas de programas de rádio dos anos 50, além de clássicos da música popular brasileira em gravações originais. Com todas essas raridades, Pampani garante não ter nenhum disco favorito, “sempre me perguntam, Edu, qual é o disco mais raro que você tem,

e eu respondo, raro é ter todos eles juntos”.

Arquivo Pessoal

“O processo pelo qual se armazenam informações no disco de vinil, feito de PVC, material derivado do petróleo, consiste em imprimir nele ranhuras ou “riscos”, cujas formas, tanto em profundidade como abertura, mantêm correspondência com a informação que se deseja armazenar. Essas ranhuras, visíveis no disco a olho nu, são feitas no disco matriz com um estilete no momento da gravação. Esse estilete é movido pela ação da força magnética que age sobre eletroímãs que estão acoplados a ele” (in Leituras de Física, GREFDepartamento de física da USP, SP,2005) É assim que a música se “imprime” no plástico, que depois ao ser arranhado pela agulha, libertará novamente os sons no ar. Para os apaixonados por vinil o ritual de tirar o disco da estante, limpá-lo, colocá-lo no toca discos, posicionar a agulha delicadamente sobre ele, tomando todo o cuidado para não arranhá-lo, e repetir todo esse processo na hora de virar o disco para ouvir o lado b, significa uma relação mais próxima com a música. Era preciso dedicar tempo a escutar o disco. Mais do que uma mídia de armazenamento analógico do som, o disco de vinil é um objeto de arte e uma peça que dá materialidade à música Dados da Associação de Gravadoras da América (Record Industry Association of Aemerica), mostram que as vendas de LPs aumentaram em quase 130% entre os anos de 2007 e 2008. De acordo com o informe anual divulgado pelo órgão “o vinil continua sua ascensão. As vendas nesse formato somaram

US$57 milhões e vem mais do que duplicando ano após ano”. Ainda segundo o documento, “trata-se do produto preferido por audiofilos e colecionadores, e o aumento nas vendas se deve tanto à re-gravação de material de catálogo quanto a novos lançamentos”. Com os números da indústria apontando para uma queda nas vendas de CDs e em tempos em que se fala em livre acesso à música através da internet, o vinil se apresenta como uma saída para quem ainda gosta da música palpável, apreciá-la com todos os sentidos, inclusive o tato.

The Dead lover’s Twisted Heart, Pati,Vels, Guto e Ivan eles um compacto simples do Autoramas. Novas marcas no PVC Foi pela Vinyl Land que a banda The Dead Lovers Twisted Heart, que nunca havia lançado seu trabalho comercialmente lançou seu primeiro EP. O compacto, auto-intitulado, traz cinco músicas, antes disponíveis para download na internet. O disco, prensado na Alemanha, teve tiragem limitada de 200 cópias. Com influências que vão de Odair José e Roberto Carlos até Franz Ferdinand e Jack White, passando pela literatura de Mark Twain (o grupo tem uma música em homenagem a Huckleberry Finn, personagem do autor americano) e os cartunistas Laerte e Angeli, a banda formada por Ivan (guitarra e vocal),

Velvs (baixo) já era conhecida dos freqüentadores de casas de shows de Belo Horizonte antes de lançar seu EP. Segundo Ivan a idéia de ter seu primeiro trabalho gravado em vinil casou muito bem com a banda, “a gente ainda não tinha lançado um disco propriamente dito, e hoje o suporte físico é cada vez menos importante, porque na verdade a música você acha em qualquer lugar, e um, disco, um CD na verdade não faz mais tanto sentido. E nossa ideia era que já que você vai comprar um objeto, o vinil é um objeto muito mais legal, tanto esteticamente quanto no manusear, fora que tem toda essa coisa da retomada e é uma boa proposta, que tem tudo a ver com a banda”, afirma o músico, provando que o velho vinil está mais novo que nunca.

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Cultura• 23

Editor e diagramador da página: Bárbara Rodrigues 8º período

O Ponto

Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009

Foto: divulgação

Festival Internacional de Corais homenageia

O maestro e coordenador do FIC, Lindomar Gomes e os integrantes do Coral da Fumec

BÁRBARA RODRIGUES 8º PERÍODO

A sétima edição do Festival Internacional de Corais – FIC, acontece de 18 a 27 de setembro de 2009 e terá como tema a vida e obra de Villa-Lobos, considerado o maior compositor das Américas. Serão cerca de 300 apresentações de 120 corais de todo o Brasil e do exterior que percorrerão 12 cidades de Minas Gerais. O festival, realizado pela Universidade FUMEC, tem o intuito de popula-

rizar os corais e grupos vocais amadores e profissionais, e evidenciar atividades culturais de empresas, instituições de ensino, comunidades, associações e fundações com apresentações de corais e shows de artistas nacionais, sempre com a bandeira da música brasileira à frente. Regidos pelo Maestro Lindomar Gomes, produtor cultural e coordenador do FIC , os 30 integrantes do coral da FUMEC serão um dos grupos a se apresentar. “Nosso coral sempre participou de festivais, seguindo a máxima de Fernando Brant de que ‘todo artista

tem de ir aonde o povo está’ . A cada ano o FIC escolhe um tema que traduza a identidade musical brasileira. Este ano celebraremos os 50 anos de morte de Villa-Lobos, responsável por implantar o canto coral no país na década de 1930 e o músico que mais cantou as belezas nacionais”, enfatiza. Em cada edição do festival os compositores Leonardo Cunha e Fernando Brant são responsáveis pela músicatema que ao final do evento é cantada por todos os corais. A composição deste ano ganhou o nome de “Mestre Villa”, exultando o que de mais há de caracte-

Mestre Villa dá o tom dentro e fora do país O carioca Heitor Villa-Lobos foi responsável por universalizar a música nacional, acrescentando em grande parte de suas mil obras a sonoridade da fauna brasileira, de tribos indígenas e africanas, além de referências de cantigas, do choro e do samba. Na definição do maestro Lindomar Gomes, a importância de Heitor Villa-Lobos está no fato de ele “decifrar a alma brasileira e colocá-la em música”. Devido às homenagens ao compositor nas principais capitais do Brasil e do

mundo, Gomes não é o único a pensar assim. Peças de Villa-Lobos fazem parte das temporadas da Filarmônica de Belo Horizonte, da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília, da Sinfônica Municipal de Campinas e da Orquestra Sinfônica Brasileira do Rio . Internacional Em janeiro o maestro John Neschling regeu a Filarmônica de Varsóvia, na Polônia, com os “Choros n 6”. A soprano Adriane Queiroz cantou as “Bachianas

Foto: divulgação

Brasileiras nº 5” em Berlim e o regente da OSB do Rio, Roberto Minczuk , esteve no Japão em agosto para apresentar as “Bachianas Brasileiras” . Ainda este ano deve chegar às livrarias o “Folha Explica Villa-Lobos”, da Publifolha, do violonista Fábio Zanon, que em entrevista ao jornal Folha de São Paulo afirmou: “O universo sonoro de Villa-Lobos é uma coisa arrasadora. Nossa ideia de Brasil seria muito mais pobre sem a leitura efetuada por Villa-Lobos de nosso patrimônio musical.”

Programação completa e outras informações sobre FIC 2009 : www.festivaldecorais.com.br

23 - festivaldecorais.indd 1

rístico na vida e obra do mestre. Durante todo o festival alguns locais da cidade como o Palácio das Artes, Sesc Laces JK e a área de convivência da FUMEC receberão exposições de fotos, textos e trilhas sonoras do acervo do Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. A banda mineira 14 Bis e o músico Renato Teixeira fazem shows no interior de Minas e no dia 27, no Parque Municipal, encontro de todos os corais participantes marcará o fechamento do evento, onde mais de mil vozes se unirão para cantar os temas do maestro homenageado.

O compositor e maestro Villa-Lobos, cuja obra é reconhecida e celebrada internacionalmente

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24 • Cultura

Editor e diagramador da página: Amanda Lelis 6º periodo

Belo Horizonte, 27 de agosto de 2009

O Ponto

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COLCHA de retalhos Antes

Música

Claudia Lapouble

Pedro Gontijo e Bernardo Gontijo

Do entendimento tardio de se assistir a uma passagem de som... Crack!...e se quebra o silêncio, a voz dos barulhos instrumentais cala todos os outros sons do silêncio. Antes de ser melodiosos os sons começam desencontrados, como tateando no escuro dos ritmos tentando se encontrar e dar as mãos, para só assim iniciar seu dialogo-dança em brincadeiras harmoniosas que encantam e enfeitiçam. Na sutileza dos tons, na alegria de fazer barulhos musicais, modificam a música mil vezes re-arranjada, ajeitam, afinam, se enfeitam ... e a música finalmente sai. Perfeita...

Dueto Alvaro Castro Preso à falta de sono, procurando ver Através da luz de um trago num bastão de morte Talvez com sorte então eu possa crer Que os dias se passaram, mas o amor ficou Mesmo sonhando acordado algo ainda restou De tardes tão bonitas Em que o brilho dos teus olhos eu pude enxergar Os teus negros cabelos quero então tocar, apesar de estares tão aflita

Gabriel Guedes e violino, em show na Praça da Liberdade

Paula Macintyre Não sei bem o que é Se é invenção Se é na verdade, a mais pura verdade. Se sou eu tentando fugir Se sou eu tentando apagar. Não encarar o que está acontecendo Esquecer a minha confusão De querer sem conhecer De te amar sem te encontrar.

Por mais que em outras camas eu possa deitar que braços e abraços venham me afagar O brilho dos teus olhos ainda me ilumina por várias ruas sujas que eu tentei fugir estenderia um tapete pra você entrar, sentado vago na varanda escura a esperar

Sobre o invisível Amanda Lelis

Memórias claras como quadros de Frida Deixaram Khalo de triste despedida em samba doce feito um sonho bom que embala as noites frias nas areias do Leblon Não, não mudaria isso tudo pra te ver ali parado, eu não sabia, que o amor pra você é feito de “se” Mas eu mudaria tudo isso pra te ter aqui comigo, ao meu lado, todo dia a me fazer sorrir

CURTA retalhos

Para ouvir a música, www.myspace.com/bandatravessia

A canção não pára. O berimbau controla o medo que corre nas ruas, vindo daqueles que não se deixaram dissolver pela água, trazida com a chuva. Na cidade, escorre toda a calmaria e a melodia se arrasta, molhando o chão. Enquanto o céu se desmancha aos poucos sobre a rua deserta, eles cantam. Voz para um canto que veio aveludar meus ouvidos, acalentar clamoroso de uma vida inteira, e fosse essa noite a vida inteira, fez-se a noite lembrança da cantiga, que me converteu inteira. Pandeiro, Médio, Viola, e a chuva que ritmava a cantoria. O breu e nós, no breu. O escuro arrasta o invisível para dentro da cidade que chora, para dentro dos meus olhos, que fitam atentos os olhos deles, que me encantam. Hora um, hora outro, me arrasta em companhia à suas vozes. As gotas respondem ao coro, num canto suave, o pandeiro acompanha o berimbau e o repique respinga umas gotas tontas de musicalidade, goteja um som que sobrevoa a superfície.

Voz Escrevo uma letra... e já não estou no mesmo lugar.

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No canto vívido em tom sincero e leve, expande compaixão as notas graves fidelidade ao escrever a voz da alma sobre arpejos inconstantes

Confortável Desespero

Não, não mudaria isso tudo pra te ver ali parado, eu não sabia, que o amor pra você é feito de “se”

Pedro Cunha

é a Musica

é a Musica

Memórias claras como quadros de Frida Deixaram Khalo de triste despedida em samba doce feito um sonho bom que embala as noites frias nas areias do Leblon

Magia

O som da alma se apresenta em desejo e verso livre na terça indecente, suave. no violino do seus sonhos em coro cresce a quarta corda dissonante

Bárbara Rodrigues

Instrumento de cordas vocais tocado pela alma a palavra na garganta que vira música o som da orquestra do coração dos gagos e desafinados, aos cegos de paixão

Então vou ficar Andar devagar E não me preocupar Com o que não é meu. Queria esquecer E perdoar então Voltar na decisão Para minha vida rotineira Que eu levei a vida inteira O meu sufoco e os seus gritos Meu confortável desespero Minha mania de querer ser mais para mundo Do que o mundo é para mim. Então vou ficar Andar devagar E não me preocupar Com o que não é meu.

Ode ao violão Bárbara Rodrigues Te aperto contra o peito te penduro nas costas no churrasco passa de mão em mão e ainda assim me faz companhia nas noites de solidão

S

Claudia Lapouble

Sssshhiiii... silêncio,sopro, suspiro, sussurro, sublime, submerso, submarino, submundo, some, sobe, segue, sangue, sinistro, .....sem fôlego...sufoco

8/28/09 11:51:24 AM


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