Jornal O Ponto - julho de 2010

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 11

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Número 79

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julho/agosto de 2009

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Distribuição gratuita

Belo Horizonte / MG

“DE PERTO, NINGUÉM É NORMAL...” O 13º ano da luta anti-manicomial leva diferentes manifestantes ao centro de BH

Tabu da virgindade A sexualidade se torna cada vez mais explícita no universo infantil Página 6 e 7

A bola rola e o dinheiro também Durante a Copa do Mundo, todos os sonhos podem se tornar realidade Página 10 e 11

Caiu na rede, virou tweet! Comentários da Copa viram rotina nas redes sociais e nos blogs especializados Página 3

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02 • Opinião

Editor e diagramador da página: Equipe O Ponto

Belo Horizonte, julho/agosto de 2010

O Ponto

Em ritmo de Copa O jornal O Ponto entra no clima da Copa do Mundo. Nesta edição, um dos destaques é a reportagem vencedora do 3º Prêmio Totem, concurso promovido pela Agência Modelo do Curso de Publicidade da Universidade Fumec, que teve como tema o mundial de futebol. Febre nacional, os jogos mobilizam todos e param o país, quiçá o mundo. A repercussão também é grande na Web e os temas mais variados invadem o Twitter. Em coro, muitos retwittaram a frase “Cala a boca, Galvão!”, “Mão de Deus”, entre outros comentários sobre os jogadores famosos e técnicos dos times durante o campeonato. A manchete do jornal retrata a Luta Antimanicomial e busca outro ângulo para apresentar o tema ao leitor. O centro da capital mineira ficou de cabeça para baixo durante as manifestações. Ainda falando sobre comporta-

mento, a reportagem Sexo - O tabu mais popular do século XXI, expõe a polêmica do uso das pulseirinhas de silicone, que têm invadido as escolas do país e do mundo e, em muitos casos, incentivando práticas sexuais violentas. Outros debates interessantes estampam as páginas desse informativo que busca temas polêmicos e atuais para exercitar, no melhor estilo jornalístico, o aprendizado e a prática da comunicação. Sendo assim, o jornallaboratório e os alunos do curso de jornalismo convocam todos os leitores para sugerir assuntos que devam ser debatidos no nosso periódico. Para isso, façam contato pelo e-mail redação. monitoriafumec@gmailcom ou deixem suas sugestões no Ponto Eletrônico www.pontoeletronico.fumec.br . Contamos com sua participação...

Charge vencedora do 3º Prêmio Totem, do aluno de jornalismo Diego Antônio Geraldo Duarte, do 1º período

Aconteceu...virou tweet!

o ponto Coordenação Editorial Prof. Aurélio José (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Profª. Beatriz de Resende Dantas (Fotografia) Profª. Raquel Salomão Utsch de Carvalho (Redação II) Prof. Reinaldo Maximiano Pereira (Produção e revisão de texto) Monitores de Jornalismo Impresso Franco Serrano e Igor Moreira Monitores da Redação Modelo Ana Clara Maciel e Ana Paula Marum Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3127 · e-mail: oponto@fch.fumec.br

ÁLVARO CASTRO 8º PERÍODO Quais são os limites para o uso do Twitter, microblog já tão popular na internet, que impõe ao usário a publição de mensagens em 140 toques no máximo? Recentemente, a polêmica acerca da ferramenta voltou às manchetes, desta vez no site do G1, portal de notícias da globo.com. Segundo a reportagem de Eduardo Bresciani, direto de Brasília, o deputado Capitão Assumção (PSB-ES) participava de uma reunião secreta com outros colegas da Câmara, entre eles o presidente da casa, Michel Temer. Lá pelas tantas, o deputado, não conformado com as discussões acerca do tema em debate na reunião - a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300 para a criação de um piso nacional para os policiais de todo o país, começou a twittar. O impasse ocorreu porque um grupo ligado à categoria desejava escrever na Constituição, em valores, o rendimento mínimo da categoria.

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A ação do deputado foi descoberta e seus colegas, revoltados, abandonaram a reunião sem chegar a um acordo sobre a questão. Capitão Assumção, que é diretamente ligado à questão, já que representa a classe policialesca no Congresso, tornou-se o pivô da polêmica. Essas reuniões são extremamente sigilosas e nem mesmo os assessores parlamentares são permitidos na sala. O fato traz à tona quais os limites (ou a falta deles) que o twitter implica nas mais variadas situações. Recentemente nos EUA, jogadores de basquete foram punidos por fazer comentários sobre as partidas, durante a realização das mesmas, em seus perfis no microblog. Invariavelmente, o twitter já está sendo cada vez mais incorporado às nossas vidas, no meio jornalístico, por exemplo, os 140 toques já foram utilizados para dar importantes informações. Na imprensa esportiva, importantes figuras no futebol nacional - como o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, e o técnico do Corinthians, Mano Menezes - costumam

utilizar-se da ferramenta para divulgar notícias como a contratação de atletas e novidades sobre o time, como o corte do atacante Ronaldo, anunciado pelo perfil de Mano e não pela assessoria de imprensa do clube, meio tradicional e que vem, aos poucos, perdendo o seu espaço. Portanto, é preciso um posicionamento sobre questões importantes acerca da privacidade e da necessidade da informação instantânea. Sabemos que a questão da instantaneidade é algo já imbricado dentro da rede mundial de computadores, mas fazer “lance-a-lance” de uma reunião oficial do Congresso já é demais. É preciso sempre pensar que, em situações públicas, estamos expondo outras pessoas, muitas vezes, sem o conhecimento das mesmas, violando seu direito à privacidaede. Também não podemos nos colocar à frente da liberdade de expressão, mas sempre atentos a um veeelho ditado... a sua liberdade termina onde começa a liberdade alheia. Portanto, deixo aqui a provocação... Qual é o limite para o uso do twitter?

Presidente do Conselho Curador Prof. Air Rabello Filho Reitor da Universidade Fumec Prof. Antônio Tomé Loures Diretora Geral Profª. Thaïs Estevanato Diretor de Ensino Prof. João Batista de Mendonça Filho Diretor Administrativo e Financeiro Prof. Antônio Marcos Nohmi Coordenador do Curso de Comunicação Social Prof. Sérgio Arreguy Monitores de Produção Gráfica Raoni de Faria Jardim e Danielle Cristine Vaz Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda Lorena Emídio de Mendonça e Marina Magalhães Barbosa Colaboradores voluntários Pedro Gontijo Tiragem desta edição: 3000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

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Atualidades • 03

Editor e diagramador da página: Franco Serrano - 3º Período

O Ponto

Belo Horizonte, julho/agosto de 2010

#bracodedeus #aloka #maradonamaricon #ahva #calabocagalvao #malhandocomcleycianne #foraazurra #danilogentili #brazil2014 #mistureiactivia #anamariabraga #michaeljackson #rtse #calabocatadeu #senhadosfamosos #antimanicomial #marciagoldschimidt #landondonovan #bra #civ #brazil2014 #cqc #calabocagalvao #prontofalei #galvaobirds #dungaxescobar #prontofalei #jornaloponto #diasemplimplim #jabulaaaaani #london2012 #pegadinhadomalandro #felipaonopalmeiras #luisfabuloso #rtse #brazil2014 #london2012

#TrendingTopics da Copa! Jogadores, celebridades e anônimos fazem da internet um instrumento que os aproxima do maior evento futebolístico do planeta. Twitter, Facebook e Blogs são os preferidos dos internautas

FRANCO SERRANO 3ºPERÍODO Após a eliminação de Portugal pela Espanha pode se afirmar que o comercial da Nike, marca de produtos esportivos espalhou uma ‘praga’ nos jogadores que atuaram na propaganda. Nenhum dos craques da peça publicitária jogou bem na Copa. O anúncio é tido por muitos como um dos melhores comerciais de todos os tempos. O primeiro jogador que participou foi Didier Drogba, o marfinense marcou um gol no Brasil, mas não conseguiu ajudar sua equipe a passar da primeira fase. “Che Cannavaro! Che capitano!” Assim é vangloriado o capitão da Itália, Fabio Cannavaro, ao salvar o chute de Didier Drogba em cima da linha... E o final da Itália, todo mundo viu como foi. No lance seguinte, Wayne Rooney perde a bola para os franceses, mas ele a recupera e se consagra... Na Copa, ele

não a roubou de ninguém, marcando uma das atuações mais lamentáveis até aqui, o English Team foi humilhado nas oitavas pela Alemanha. 4 x 1. Quem se envolveu no lance com o Rooney, foi o francês Frank Ribéry. Os ‘Le Bleus’ foram o maior vexame da competição, não ganharam nenhum jogo e marcaram um único gol, Ribéry até se destacou um pouquinho, mas o time azul era tão ruim, que nem se ele fizesse chover em campo mudaria o rumo dos acontecimentos. O quinto sujeito amaldiçoado é nada mais, nada menos que Ronaldinho Gaúcho. Esse, coitado, foi ‘zicado’ antes da Copa, pois Dunga não o chamou entre os seus 23 escolhidos. Precisa de maior explicação? Para o fim, o sexto e último ator deste espetáculo também foi o último a ‘dançar’ na Copa. O gajo da terrinha, Cristiano Ronaldo, foi outro que também ‘era melhor ter ido ver o Pelé’ ou seja, não fez falta alguma na competição, no jogo da eliminação, contra a Espanha, nem relou o pé na bola e também foi eliminado.

www.globoesporte.com

A Maldição do comercial

Cristiano Ronaldo fracassou na Copa mas brilhou no comercial

Braço de Deus O segundo gol de Luís Fabiano na vitória por 3 a 1 contra a Costa do Marfim, na Copa do Mundo, no dia 20 de junho, deu o que falar. No twitter famosos comentaram e fizeram graça sobre o erro da arbitragem, quando o jogador usou o braço para dominar a bola. “Boa guerreiro! 2 gols pra conta! Parabéns seleção!” escreveu Ronaldo Fenômeno, elogiando a jogada de seu sucessor. O apresentador Luciano Huck além de brincar de comentarista esportivo, imaginou a conversa do jogador com o juiz Stephane Lannoy: “A regra é clara: 2 chapéus seguidos da direito a uma ajeitadinha com o braço, né não? Gooool! Vamo que vamo, Luis Fabiano!!! Leitura labial do Juiz: ‘Reveillon em Fernando de Noronha, hein? Me disseram que é lindo!’.” Já Romário ficou curioso para saber qual seria a “bomba” que Maradona iria soltar quando falasse sobre o lance, já que o atual técnico da Argentina é autor de um gol com a mão que ajudou a eliminar a Inglaterra da Copa de 1986, devidamente explicado pelo próprio como obra da “Mão de Deus”. “A expectativa é: O que o Maradona vai

falar amanhã do nosso gol de quase mão!”. Postou. Maradona por sua vez, não quis comparar seu gol com o de Luís Fabiano e criticou a atitude do juiz que logo após o gol conversou e riu com o jogador. “O dele foi com o braço (risos). O tragicômico foi o que aconteceu depois. Contra a Inglaterra, não vi o árbitro rindo. Ele estava cheio de dúvidas, olhava para o bandeirinha, para a torcida (risos). Ontem, o árbitro saiu rindo. Isso que foi estranho. Se viu, por que deu?” perguntou. O jornalista Alex Escobar justificou a atitude do juiz em seu blog: “Luis Fabiano arrasou com um gol de personalidade e outro de muita categoria. Ele ajeitou a bola com a mão, mas entendo o juiz. Ele não anulou o gol em nome da arte.” Explicou. Já a atriz Carol Castro deixou a ética falar mais alto: “Não gostei da história do braço do Fabuloso...é chato fingir q não viu...”. Serginho Groissman também arriscou uma leitura labial e postou: “Imagem do Jogo: Juiz perguntando pro Luis Fabiano se o gol foi com a mão. Luis:“Não” Juiz: “Ah, então tá”. Os humoristas, obviamente, não puderam deixar de comentar o lance. Ronald Rios twittou: “Luis Fabiano

no melhor estilo ARMADOR e CORTADOR com esse gol. Parei de contar os toques de mão ali por volta do quinto.” E o argentino Nik Gaturro, cartunista do jornal “Diário La Nación” não perdeu a piada: “Luis Fabiano, el mejor gol del Mundial. Del Mundial de Basquet!”. www.globoesporte.com

BRUNA NATAL 6º PERÍODO

Luís Fabiano domina no braço e marca belo gol

Todos contra Galvão: Cala a boca! ROBERTA TERRA 6º PERÍODO

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ter tem conseguido soltar mais o verbo que Galvão, Huck e qualquer celebridade global juntos. Estes que insistem em fazer do twitter seu diário virtual devem tomar cuidado, falar demais pode ser prejudicial à saúde. @galvaoinstitute

Não é novidade que Galvão Bueno cansa os ouvidos de nós brasileiros há anos, mas é novidade que agora ele literalmente sabe disso e, pelo visto, gostou ou foi obrigado a gostar. A frase “Cala boca, Galvão” foi a mais “twittada” na semana de abertura da Copa do Mundo 2010 e gerou repercussões em jornais como o americano The New York Times, no espanhol El País e em divesos outros meios de comunicação. Desde 1982, Galvão cede sua peculiar voz a milhões de brasileiros que sintonizam a emissora Globo. Suas entonações vão do mais alto grunhido aos mais relapsos comentários e há quase três décadas o carioca é o narrador mais famoso e falado do país. Pobres de nós, que além do futebol, somos obrigados a ouvir “Gaaaaaaalvão” também na Fórmula 1 e em outros

esportes que, convenhamos, não precisam de sua voz para existir. A frase “Cala boca, Galvão” foi tão comentada pelos internautas que virou até marketing viral. O vídeo “Save Galvao birds”, criado pelo paulistano Fernando Motolese, foi visto mais de 700 mil vezes no Youtube e falava algo como salvar as aves em extinção no país. Já no Google, os resultados para a frase que, dessa vez, ‘educadamente’ pede o silêncio do locutor, tem mais de 500 mil resultados. Irritações à parte, há quem goste de ouvir o este senhor. Personalidades que bombam no Twitter, como o também falador Luciano Huck começaram nova campanha com os dizeres “Fala Galvão”, em favor dele. Toda a Globo aderiu ao movimento. Seria algo combinado para livrar a boca do comentarista da mordaça? Deixando o falatório de lado e entendo a repercussão desse caso na mídia, não nos resta dúvidas de que o Twit-

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04 • Saúde

Editor: Igor Moreira 3º Período e diagramador da página: Raoni Jardim 7º Período

Belo Horizonte, julho/agosto de 2010

O Ponto

Procura-se doador Você já precisou de uma transfusão de sangue? Se sua resposta é “nunca”, torça para não precisar agora, pois o risco de não encontrar sangue disponível nas prateleiras é grande. Isto se deve à crise enfrentada pelos bancos de sangue no estado, que se encontram mais vazios do que nunca. Há vários fatores que contribuem para essa escassez de sangue nas prateleiras. Enquanto algumas pessoas não se encaixam no perfil exigido para ser um doador, outros acreditam em alguns mitos como o de que doar sangue é prejudicial a saúde. Segundo a gerente de coleta externa do Hemominas (Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Minas), Deborah Carvalho, o primeiro passo é desmitificar essas lendas acerca da doação de sangue. Ela conta que algumas pessoas acreditam que doar pode engordar, causar anemia, engrossar ou afinar o sangue do doador e enfatiza que estas afirmações não têm fundamento e que foram criadas antigamente como forma de publicidade para influenciar a população a doar regularmente, caso contrário, os doadores eram levados a achar que engordariam, ficariam anêmicos, dentre outras “ameaças”. A propaganda de hoje tem um apelo filantrópico, contrário ao de antigamente. Deborah afirma dizendo que “a doação é um ato de cidadania” e conta que em alguns países como a França doar sangue é uma questão cultural, e compara: “da mesma maneira que os jovens brasileiros completam 18 anos e tiram carteira de motorista, os jovens franceses doam sangue”. O Hemominas é o orgão responsável por 92% das transfusões de sangue em todo o estado de Minas Gerais. A fundação cria e divulga campanhas para que cada vez mais pessoas se mobilizem por esta causa. O número de doadores anuais no Brasil também não é alto, totaliza cerca de 1,8%, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A taxa considerada ideal para manter os estoques regularizados é ter entre 3% e 5% da população doando anualmente. Não são todas as pessoas que têm poder de salvar uma vida. Esta oportunidade

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esta reservada a todos aqueles que têm entre 18 e 65 anos, peso mínimo de 50 quilos e boa condição de saúde. Se todos que possuíssem estas características doassem sangue, os estoques não estariam em crise. As taxas de doadores brasileiros normalmente já são baixas mas ainda existem fatores como mudança climática, época de vacinação e férias que contribuem para uma queda maior desses números. São nesses períodos que os estoques sanguíneos ficam mais debilitados, já que, devido ao clima seco, aumenta a incidência de gripes e viroses. O trabalho de conscientização é arduo, mas imprescindível. A doação requer muita confiabilidade no possível doador pois ele deverá responder um questionário sobre sua vida e rotina. As perguntas vão desde os motivos que o levaram a doar sangue até se o cidadão tem tatuagem. Portanto, benefícios como por exemplo ingressos para shows, lanches, dispensa de trabalho devem ser avaliados com cautela, pois podem influênciar nesta primeira fase da doação: a entrevista. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante que o trabalhador “poderá deixar de comparecer ao serviço, sem prejuízo do salário, por um dia, em cada doze meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue devidamente

comprovada” (art. 473 da CLT). Porém, Deborah explica que, na maioria dos casos, não há necessidade de ausentar-se do trabalho, a não ser quando o ofício exija muito fisícamente. Nestas ocasiões, o médico do Hemominas receitaria um atestado afastando o doador das atividades físicas do dia. Muitas pessoas consideram os hemocentros muito rigorosos devido ao número de exigências para se tornar um doador (vide quadro), porém, cada requisito é essencial para a seleção dos doadores, já que escolher um sangue de boa qualidade é muito importante. Além disto, a rigidez dos exames tem como preocupação a saúde tanto de quem recebe a doação, quanto de quem doa, explica Deborah. Segundo a gerente ser impedido de ser doador pode ser frustrante. Ela conta que já foi impedida de doar uma vez porque tem pressão alta, mas foi persistente, e certo dia, com a pressão sanguínea normalizada, conseguiu doar. São muitos fatores que podem influênciar a doação, por isso, quanto maior o comparecimento de candidatos, maior a probabilidade de doadores. Foi o que aconteceu com os primos Isabella e Rodrigo Ribas, que foram à Hemominas juntos. A estudante Isabella foi impedida de doar porque tinha tomado uma aspirina, a gerente Deborah

Condições básicas para doar sangue: - Sentir-se bem, com saúde; - Apresentar documento com foto; - Ter entre 18 e 65 anos de idade; - Ter peso acima de 50 Kg. Recomendações para o dia da doação: - Nunca vá doar sangue em jejum; - Faça um repouso mínimo de 6 horas na noite anterior a doação; - Não tome bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores; - Evite fumar por pelo menos 2 horas antes da doação; - Evite alimentos gordurosos 3 horas antes da doação; -Profissionais que liberam muita adrenalina no seu trabalho (pilotos, paraquedistas, pessoas que trabalam em grandes altitudes etc.), devem interromper estas atividades por 12 horas antes da doação. Quem não pode doar? - Quem teve diagnóstico de hepatite após os 10 anos de idade; - Mulheres grávidas ou que estejam amamentando; - Pessoas que estão expostas a doenças transmissíveis pelo sangue como AIDS, hepatite, sífilis e doença de chagas; - Usuários de drogas; - Aqueles que tiveram relacionamento sexual com parceiro desconhecido ou eventual, sem uso de preservativos.

explicou que o efeito da aspirina é diferente quando consumida por uma pessoa saudável e quando absorvido pelo organismo de um receptor com a imunidade baixa. Já o advogado, primo da moça foi aprovado a doador e conta que doaria mais vezes “não doí, não custa nada, por isso, não tem porquê as pessoas não doarem”. A Hemominas está atualmente com uma queda de 70% no estoque de sangue, portanto, quanto mais possíveis doadores, maior a probabilidade de sangue no estoque, já que, de todos os candidatos 80% conseguem doar e 20% não. Um dos fatores que mais entusiasma os doadores é a vontade de ajudar. Além disto, ter um familiar precisando da tran-

fusão sanguÍnea também atrai muitos doadores à Hemominas. O estudante Igor Drumond, que já doou sangue duas vezes, conta que doou pela primeira vez quando seu pai precisou devido a um problema cardíaco. Depois disso, já doou pela segunda vez e afirma que doará futuramente. De acordo com dados da Hemominas, se cada pessoa apta a doar sangue doasse duas vezes por ano, os bancos de sangue nunca teriam falta no estoque. A gerente Deborah concorda que só é possível atingir esta meta com a ajuda da população, e conclui: “Hoje, você está do lado do doador, amanhã você pode estar do outro lado”.

Tubos de ensaio vazios: não há doadores.

Fotos: Ana Clara Maciel

ANA CLARA MACIEL 4º PERÍODO

Na sala de doação do Hemominas as cadeiras estão vazias

Antes de doar sangue, confira os documentos nescessários pelos contatos: 08000-310101 Correio Eletrônico: coordhbh@hemominas.mg.gov.br Site: www.hemominas.mg.gov.br

Fonte: Ministerio da saúde

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Cultura • 05

Editor e diagramador da página: Raoni Jardim 7ºG

O Ponto

Belo Horizonte, julho/agosto de 2010

Direitos Autorais Internet amplia a divulgação das produções culturais e traz discussão sobre as autorias das obras TAYNARA TANURE 2º PERIODO O compartilhamento online de músicas e textos é considerado um dos meios de divulgação mais rápidos e eficazes. Por ser um espaço aberto e democrático, várias bandas investem em sites como myspace, twitter e outras mídias para fazer com que suas músicas cheguem mais facilmente as pessoas, além de ser um meio em que os artistas conseguem difundir o trabalho sem ter que passar pelos vários filtros que o mercado impõe à música. O mesmo acontece com os escritores que viram nos blogs uma ótima maneira para publicar seus textos. O lado ruim de tanta disponibilidade é que não existem maneiras de creditar a autoria aos artistas, e gerar o retorno que eles devem receber. O plágio, por exemplo, é um dos maiores problemas dessa

liberdade e rapidez na hora de trocar informações. Os escritores são os mais prejudicados e têm seus textos publicados por outras pessoas sem os devidos créditos. Também são comuns as alterações de partes dos textos para tentar disfarçar a violação. Com os conteúdos dos blogs sendo copiados o tempo inteiro, os blogueiros estão começando a usar ferramentas que protegem o conteúdo, como o Creative Commons ou o Copyright que representa os direitos patrimoniais do autor. Outros registram previamente suas obras na Biblioteca Nacional, no Escritório de Direitos Autorais, o que torna crime a cópia total ou parcial sem autorização. De acordo com o advogado Cláudio Reis, as medidas legais que os autores podem tomar quando suas obras forem plagiadas estão descritas no Capítulo II da Lei 9.610/98, in verbis: do artigo 102 ao 110, que

diz que quando na utilização da obra intelectual deixar de indicar o nome do autor, estará obrigado a responder por danos morais. “Como inovações para época, a lei trouxe uma série de definições. Nesses novos conceitos, buscou-se proteger em nosso país as mais variadas categorias de criadores intelectuais que têm suas criações utilizadas diariamente via internet ou mesmo distribuídas pelas chamadas TVs por assinatura. A autoridade competente seria o Ministério Público”, afirma Reis. Já para a compositora e blogueira Fernanda Mello, que recentemente lançou um livro com os textos postados na rede, “A internet é uma ótima ferramenta de divulgação. Claro que lidamos com os textos que rolam por aí sem créditos, mas acho que o saldo, no final das contas, ainda é positivo’’. ‘‘Mas acho chato ver um texto meu rodando por aí sem

“Contrato é a celebração da confiança” RAONI JARDIM 7º PERÍODO O curta-metragem de Armando Mendes, intitulado Revertere ad Locum Tuum recebeu no mês, de maio, o prêmio de melhor trilha sonora no Festival de Pernambuco Cine PE - 2010. Segundo o músico Luís Patrício, ele participou da composição, da trilha e não recebeu os devidos créditos pelo trabalho, não constando seu nome na ficha técnica do filme. O Ponto - Qual foi o seu papel na criação da trilha sonora do filme Revertere ad Locum tuum, e por que seu nome não aparece na ficha técnica? Luis Patrício - Basicamente, as idéias principais foram minhas. Houve um retoque aqui e outro ali, mas os temas, programações de teclados, contrabaixo, gravação, edição, mixagem e masterização fui eu quem fez. Até porque fui chamado exatamente pela falta de conhecimento da outra parte nestas áreas específicas da produção.

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O que um músico e um trilheiro precisam fazer para proteger seus trabalhos com os direitos autorais? Jamais ir na base do “depois vai acontecer um outro lance lá na frente e ...” e já era ! Tem que ter um contrato. Eu já fiz trilhas com parcerias e não tive problemas. Fiz a trilha de uma animação para o cineasta Ramon Navarro e tudo que foi combinado saiu na ficha técnica. Mas não é sempre que isso acontece. Na produção de um filme para o cinema, geralmente os trabalhos são todos feitos em conjunto. Como dar o devido crédito a todos que participaram da produção? Quando lemos os créditos de um filme, e aqui gosto de citar os filmes americanos, vemos a equipe por trás de tudo. No “Making Of” aparecem os diretores de cada área da produção. Eletricistas, motoristas, camareiras etc., estão na ficha técnica. Fazem isto por amizade?

crédito, é uma falta de respeito com o escritor”, completa. Apesar do desrespeito aos direitos autorais, a internet ainda é a melhor maneira para difundir um trabalho tanto para os blogueiros, bandas independentes, iniciantes e até para os artistas de grande destaque na mídia, que buscam este caminho como uma forma de se aproximar do público, como é o caso do músico mineiro Wilson Sideral. Segundo a assistente de produção Andréia Savassi, Sideral escolheu divulgar suas músicas no twitter por ser um canal de comunicação onde ele tem um contato mais próximo com os fãs, assim como Fernanda Mello, que ficou conhecida pelo seu blog “Coração na boca” e ,recentemente, lançou um livro com os textos postados na rede. “A internet é uma ótima ferramenta de divulgação”, confirma. Já a publicitária e também blogueira Brena

Braz, autora do blog “Até onde vai”, diz que publicar textos de própria autoria na internet tem seu lado bom e ruim. “O lado bom é que pessoas que você nem conhece têm acesso às coisas que você escreve. Seus textos podem ser lidos por pessoas de qualquer canto do país e até de fora dele. Se não fosse a internet, isso não seria possível para aqueles que não têm livros publicados. Já o lado ruim é que a internet é terra de ninguém. Qualquer um pode publicar seu texto, sem sua autorização e - pior - dizer que o texto é dele ou inventar um outro autor para suas escritas. Geralmente, as pessoas que “roubam” textos na internet colocam seu próprio nome como sendo o autor. Mas há ainda aqueles que enviam o texto por e-mail e, afim de entusiasmar quem o recebe, acabam colocando alguém famoso como autor da obra.”

Arquivo Pessoal

Não. Porque o sistema penal americano é severo e tudo é regido por contrato. O que vejo no Brasil é que contrato se faz com estranhos porque “afinal, ele é meu amigo e não vai fazer isto”. Gosto de citar as palavras de um professor de filosofia política que tive na Faculdade: “O contrato é a celebração da desconfiança entre ambas as partes”. Se nós encararmos isto não como desconfiança e sim como profissionalismo, estes episódios (o meu não é exceção pois sabemos que acontece muito disso por aí) serão evitados. E agora? O que pode ser feito para receber os devidos créditos? Bem. Agora é tentar recuperar este equívoco, procurar alguma forma de sanar este problema, pois sou profissional da música e, sendo eu a minha empresa, um prêmio num renomado festival de curtas é algo que acrescenta no curriculum.

O músico Luís Patrício, que já fez várias trilhas para curtas, contesta exclusão de seu nome em créditos em produção premiada no Festival de Pernambuco Cine-PE - 2010

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06 • Comportamento Belo Horizonte, julho/agosto de 2010

Editor e diagramador da página: Franco Serrano - 3º Período

O Ponto

SEXO

O tabu mais popular do século XXI Há hoje uma inversão de valores com relação aos temas ligados à sexualidade; as crianças sabem demais, os pais não sabem o que fazer e a mídia está cada vez mais apelativa

MARINA BHERING 3º PERÍODO Sua imaginação percorreu caminhos maliciosos ao ler o texto acima? Esse diálogo também já foi apresentado em reuniões ou debates escolares, no qual o texto é lido enquanto os pais estão de olhos fechados. Quando abrem os olhos, eles se deparam com a imagem de duas crianças nuas em cima de uma árvore. Se muitos podem ter imaginado uma cena mais erotizada é porque, segundo especialistas, estão presentes a malícia e a maldade fruto da experiência dos adultos. As crianças e jovens nunca foram tão bombardeados com informações explícitas sobre sexo como a geração de hoje. A televisão, o cinema, as propagandas e a imprensa estão inundando o cotidiano deles com apelos sexuais jamais vistos por outras gerações. Com isso, não é de se estranhar que as crianças de hoje pareçam estar mais curiosas e mais questionadoras acerca de questões sobre o sexo. Com perguntas explícitas, elas querem respostas objetivas e claras, e os pais estão completamente perdidos sobre como responder a tantas dúvidas. Falar de sexo tornou-se um assunto banal. Enquanto para as outras gerações esse tema era estritamente restrito e vergonhoso, hoje pode-se encontrar qualquer tipo de informação em qualquer lugar. Ligamos a televisão no horário nobre e somos bombardeados com notícias de estupros e casos extraconjugais, como o do presidente Bill Clinton e sua estagiária Monica Lewinsky, propagandas de Viagra, camisinhas, campanhas contra a Aids antes do Carnaval ou gravidez precoce. Nas novelas as cenas

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Fotos: Pedro Gontijo

“-Ah, que bom te encontrar. Vamos brincar? -Eu tiro a minha roupa primeiro. Pode tirar a sua agora. -Deixa eu subir em você? -Ah, eu sabia que ia dar certo”. de sexo ou carícias ficam cada dia mais escandalosas e fazem parte até de certos desenhos animados em canais fechados. A era do capitalismo trouxe consigo o lema “aproveitar a vida”, no qual tudo torna-se melhor e desperta desejos escondidos. Tudo isso instiga a curiosidade das crianças e jovens e, porque não dizer também dos adultos. Essa nova geração com novos pensamentos trouxe, além da vulgarização do sexo, a perda de valores antes inquestionáveis. Os jovens instigam novos lemas como “tudo o que é proibido é mais gostoso”, no qual o errado se torna muito mais interessante e divertido. Dentro dessa “onda”, hoje é possível encontrar vários sites de vendas com meninas leiloando suas virgindades. Um valor antes tão reservado e tão importante na vida de uma mulher, hoje é vendido na internet, por lances que nem dá para acreditar. São meninas que querem dinheiro para pagar a faculdade e, sabe-se lá por quais motivos, acharam que o leilão seria a solução ideal, chegando a ganhar muito mais que imaginavam. Agora eu me pergunto, onde estão os pais dessas meninas que tem que vender a própria virgindade para pagar seus estudos? Thábata Oliveira, uma adolescente de 15 anos, acredita que a sociedade perdeu um pouco de seus valores em relação à virgindade e, indo contra essa maré, acredita que a pessoa e o momento certos ainda não chegaram. “A virgindade não deve ser vista como um tipo de troféu e muito menos um objeto a ser vendido, seja na internet ou em qualquer outro lugar”, opina a estudante belorizontina. Os pais dessa geração são aqueles que se casaram no final da década de 80, época

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Comportamento • 07

Editor e diagramador da página: Franco Serrano - 3º Período

O Ponto

Belo Horizonte, julho/agosto de 2010 que estava em alta o relacionamento liberal, o sexo livre e a contestação à ordem social. Eles deram liberdade a seus filhos, mas esqueceram de incluir um padrão de comportamento sexual. Tempos atrás, a iniciação sexual do menino acontecia com prostitutas e da menina apenas na noite de núpcias com seu marido. Hoje, a primeira relação sexual geralmente ocorre após seis meses de um relacionamento e quase sempre no quarto do garoto, quando os pais não estão em casa, representando uma mudança profunda. Por meio de uma nova etapa inventada entre a paquera e o namoro, o ‘ficar’ permite aos jovens novas liberdades que a geração de seus pais só conheceu após o casamento. Eles descobrem as sensações de prazer e isso os impulsiona com mais facilidade para a relação sexual. Porém, essa grande liberdade amorosa dos jovens de hoje trás consigo um grande vilão: o sexo desprotegido. Nunca se falou tanto de sexo, métodos anticoncepcionais e doenças sexualmente transmissíveis. Parece que essas informações apenas passam pelos ouvidos dos jovens que, mesmo em contato com tanto conhecimento, não se preocupam com isso, na doce ilusão de que “isso só acontece com os outros”.

O fim do conto de fadas A pergunta que desnorteia os pais é como o adolescente vai proteger-se do parceiro errado e das conseqüências de uma primeira vez mal planejada. Além de possíveis traumas de perder a virgindade de forma desastrosa e com o parceiro errado, há o grande risco da gravidez indesejada por falta de cuidados. O adolescente perde sua autonomia e todos os seus planos da juventude, além dessa gravidez quase sempre tornar-se um fardo para os avós. Para as gerações anteriores, transar dentro de casa era praticamente impossível, sendo preciso montar uma verdadeira operação de guerra para isso. Já para os pais dessa geração, permitir que os filhos levem os (as) namorados (as) para dentro do limite doméstico é a melhor solução. As gêmeas Camila Marinho de Castro e Caroline Marinho de Castro, 16 anos, levam seus namorados para dormir em casa há mais de um ano e meio. A iniciativa partiu da mãe, pois os meninos moravam um pouco longe. “No começo eles dormiam no quarto do meu irmão, com o tempo passaram a dormir no nosso quarto”, contam. A psicóloga Mônica Moura Neves aconselha que “antes que isso aconteça, pais e filhos devem sentar e conversar, deixar claro as ‘regras’ para que haja um entendimento e sintam tranqüilidade e não constrangimentos pela situação”

A influência da mídia Além das informações obtidas na mídia ou na internet, por exemplo, a conversa em casa ainda tem sido uma das melhores soluções. Os pais devem falar abertamente com seus filhos sobe sexo, mas nada de apelidinhos infantis. Devem-se usar os termos técnicos ou os mais populares adotados pelos adultos e lembrar que, mais do que esclarecimentos, os pais devem passar valores morais e seus conceitos de certo ou errado nesta área sexual. Há um novo padrão de conversas familiares atualmente. Cada dia mais cedo as crianças aparecem com perguntas cada vez mais capiciosas sobre sexo, usando palavras e expressões que os pais nem faziam idéia de que elas pudessem conhecer. A curiosidade das crianças parece infinita, mas não é. “A própria criança dá a medida, é só não se precipitar”, afirma a psicóloga que ainda aconselha: “a melhor resposta é a mais simples, a mais direta, a mais próxima da realidade e das possibilidades de entendimento da criança”. Mônica acrescenta e conclui: “Sexo é algo natural, inerente ao ser humano. Desde cedo a criança tem sua curiosidade sexual, e cabe aos pais informar com responsabilidade abordando de forma natural, sem mentiras e rodeios”

A polêmica das pulseiras do sexo Nessa corrente de liberdades sexuais, surge o caso das “pulseiras do sexo”. Para as gerações anteriores, são apenas pulseirinhas de silicone ou plástico coloridas que viram moda nos braços da garotada de uma hora para outra, mas para essa geração, são sinônimos de um código para suas experiências sexuais. A “brincadeira” começa quando uma menina coloca várias dessas pulseiras coloridas no braço e um garoto tenta arrebentar alguma delas. Cada cor tem seu “valor”, que vai desde um beijo até o ato sexual. De acordo com a cor da pulseira que o menino arrebentar, a menina deve cumprir determinada “prenda”. Em Londrina, no Paraná, uma adolescente de 13 anos foi estuprada por causa da tal pulseira em março deste ano. A vítima foi abordada por um grupo de quatro rapazes depois de sair da escola. Um deles arrancou um de seus adereços e eles a levaram para a casa do único maior do grupo para pagar a tal prenda. Ainda em março, o prefeito de Navegantes (SC), Roberto

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Carlos de Souza, sancionou a lei que proíbe o uso das pulseiras na rede municipal de ensino. O mesmo ocorreu em Maringá e Londrina (PR), Dourados (MS) e Manaus (AM). Em abril, um projeto de lei que proíbe a comercialização e uso das pulseiras do sexo nas redes públicas e particulares de ensino da cidade de São Paulo foi protocolado pelo vereador Ricardo Teixeira. A história das pulseiras do sexo, que podem ser encontradas facilmente em qualquer camelô e são vendidas, em média, por R$2,50 o conjunto com 20, tem causado indignação e preocupação em vários cantos do país. Porém, sancionar leis que proíbam o uso e a venda do adereço não evitará que nem a moda, nem a ação dos estupradores acabem. É preciso mais do que leis, é preciso conscientização sobre o perigo que essas pulseiras se tornaram. “Eu usava esses adereços antes de se tornarem tão polêmicos, mas não os usava com a intenção de estabelecer códigos”, conta Thá-

bata. A adolescente demonstra consciência e indignação com o caso das pulseiras “acho ‘bizarro’ esse tipo de comportamento dos adolescentes usando pulseirinhas para estimularem o sexo e a proibição teve que ser feita porque marginalizaram essa brincadeira de mau gosto feita por eles.” “Hoje são essas pulseirinhas de silicone, amanhã será outro objeto qualquer, sei lá, uma caneta, um caderno, que terão seus códigos significantes modificados, e assim vai... O que interessa é a relação significado e significante, e a partir daí elucidar isso com o adolescente, e quais suas conseqüências , o porque de usar ou não essas pulseiras”, opina a psicóloga Mônica Moura Neves. Deve ser encontrado um meio termo entre o cinto de castidade e a depravação atual. Definitivamente, este meio termo pode ser alcançado pela educação e cultura sexual por meio de debates nas escolas e conversas familiares, sem preconceitos ou vergonhas.

Foto: Franco Serrano

Pulserinhas: cada cor possui um significado de ação a ser realizada pelo seu dono.

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A LOUCURA vista p reforma ainda não terminou. Além de uma política que propõe a mudança do sistema, existem outros caminhos para a solução dos problemas, sendo que a Conferência de Saúde Mental é um deles. “A Conferência é um espaço democrático e participativo que objetiva discutir as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental, com as contribuições dos setores do atual cenário da Reforma Psiquiátrica”, explica Akerman. Este ano, em sua quarta edição, o evento aconteceu entre os dias 13 e 15 de maio, quando foram abordadas questões prioritárias na garantia da cidadania e da melhoria da qualidade de vida dos portadores de sofrimento mental. Loucura não é doença! Tanto na IV Conferência Estadual de Saúde Mental quanto na mesa redonda organizada pelo DA de psicologia, foi discutida a tentativa, por parte dos profissionais da área, de deslocar a loucura do campo da doença. Esta questão foi esclarecida pelo estagiário de psicologia do Cersam, Flavio Viana, durante o evento na Fumec. De acordo com ele, tudo começou no século XV, com o surgimento dos primeiros estabelecimentos que abrigavam os loucos. Estas instituições eram, muitas vezes, de origem religiosa e se limitavam à punição do pecado da ociosidade. “O louco era percebido como um entre vários personagens que haviam abandonado o caminho da razão e do bem”. O estagiário lembra que, no final do século XVIII, nasceram os primeiros hospitais com finalidade terapêutica. Não mais se dizia que os pacientes eram pecadores, e sim, doentes. “Momentos como o de manifestação da luta antimanicomial são importantes porque sensibilizam as pessoas, fazendo com que estas percebam que todos têm defeitos e que, antes de doentes, os loucos são cidadãos”, ressalta Viana. Para o psiquiatra-humanista, Rodrigo D’angelis, os serviços de saúde mental oferecidos para a comunidade ainda tratam a loucura como uma doença. “Somente porque uma pessoa não possui nenhum tipo de sintoma não quer dizer que ela seja normal”. É a partir dessa perspectiva que os funcionários dos manicômios vêm tra-

balhando já há algum tempo. “Para eles, o alívio dos sintomas significa melhoras. Mas, na verdade, é preciso que os médicos entrem em contato com a vivência do paciente, buscando saber o que este está sentindo, para depois elaborar um diagnóstico preciso e aplicar o remédio adequado. Desse modo, o tratamento funcionará”, garante o psiquiatra. Na mesma lógica do tratamento responsável é que se baseiam os serviços substitutivos de saúde mental, que se inserem no movimento antimanicomial. A idéia é dedicar maiores cuidados aos pacientes, buscando a liberdade, a participação social e a cidadania para os portadores de sofrimento mental. Existem serviços voltados para o tratamento intensivo ou semi-intensivo para os pacientes, que nas portarias do Ministério da Saúde, recebem o nome de Caps, ou Centro de Atenção Psicossocial. Contudo, em diferentes locais do país, os Caps recebem nomes diferentes. Em vários municípios mineiros, por exemplo, são chamados de Cersam. Rafaela Senra, estagiária de psicologia da Casa Verde, Serviço de Saúde Mental do Instituto da Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), também presente à mesa redonda da Fumec, salientou: Objetivos como estes, juntamente com o acolhimento para com a pessoa, resultam em um bom trabalho. Usuária dos serviços de saúde mental da Casa Verde, Ana Maria Guimarães participou do evento e concordou com as palavras de Rafaela. Por sofrer de transtorno bipolar, ela faz psicoterapia há 32. Sua segunda crise levou ao término do casamento, mas, apesar disso, criou seus filhos e chegou a fazer quatro pós-graduações. “Todos precisam ser cidadãos. Os pacientes que estão nos hospitais são usuários que querem ser sujeitos da própria reabilitação. Apesar da minha diferença, busquei sempre levar uma vida normal”.

“Tec Tec Tec Tectônica Parece uma bomba atômica Todo abalo à sociedade Que vive sem a solidariedade” “Nossa arte tá na rua De mãos dadas à Loucura Ela é minha e também sua Aterremota a Ditadura Então venha nessa entrar no nosso balão Traga com você a criança do seu coração” Tec Tec Tec: Música vencedora do concurso samba enredo do evento Foto: Joana Del Papa

Foto:s Pedro Gontijo

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por um outro ângulo Foto: Pedro Gontijo

Comemorado pelo décimo terceiro ano consecutivo, o Dia Nacional da Luta Antimanicomial teve mais de 3 mil manifestantes no centro de Belo Horizonte JOANA DEL PAPA JULIANA PIO 1ºE 3º PERÍODOS Com o objetivo de transformar os serviços psiquiátricos no Brasil e reivindicar direitos, igualdade e aceitação das pessoas portadoras de sofrimento mental. É que foi criado, em 18 de maio de 1987, o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial. Mais uma vez Belo Horizonte celebrou a data em ritmo de carnaval, reunindo cerca de quatro mil manifestantes, que desfilaram pelas ruas do centro da cidade, embalados pelo batuque da Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam. Organizado pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental e pela Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (ASSUSSAM-MG), o evento abordou o tema “Solidariedade: Há em ti, Há em mim”, uma adaptação feita a partir do terremoto ocorrido no início do ano, no Haiti. A idéia surgiu da perspectiva de que foi preciso acontecer uma tragédia para que as pessoas se sensibilizassem diante do drama vivido pela população haitiana. De acordo com a assistente social Cláudia Barbosa, que trabalha no Centro de Referência em Saúde Mental Infanto-Juvenil (Cersami de Betim), assim como o Haiti, o Movimento Antimanicomial, que se baseia na solidariedade, também enfrenta muitas dificuldades. “A luta entendida e praticada como um movimento social é o grande motor da reforma psiquiátrica brasileira, que pretende não apenas tratar tecnicamente de maneira mais adequada o portador do sofrimento mental, mas, sobretudo, construir um espaço social no qual a loucura encontre algum cabimento”. Durante a passeata, usuários dos servi-

Ao som da Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam, usuários dos serviços de saúde mental, profissionais da área, amigos e familiares desfilaram pelas ruas e avenidas do centro de BH reivindicando uma sociedade livre de preconceitos

ços de saúde mental, profissionais da área, amigos e familiares saíram da Praça Sete, seguindo pelas avenidas Afonso Pena, Álvares Cabral, Augusto de Lima e Rua Espírito Santo, retornando depois ao ponto de partida. Os manifestantes desfilaram ao som da musica Tec Tec Tec, canção composta coletivamente pelo Centro de Convivência São Paulo e vencedora do concurso de samba enredo, promovido pelos organizadores do evento. A letra aborda a luta contra a existência de manicômios no país e tratamentos antes usados nos pacientes e que hoje são considerados obsoletos. O índio Divino Soares de Souza Caratinga, escritor, eletricista, poeta e usuário dos serviços de saúde mental ressalta que a loucura não é doença e, sim, um período de desequilíbrio emocional. Izabela Perez Macedo, que trabalha na saúde mental há mais de cinco anos, observa que a passeata realizada no ano passado conseguiu reunir cerca de dois mil seguidores. E que, este ano o número praticamente dobrou, superando as expectativas. “As mudanças na área da saúde mental já vem ocorrendo de forma efetiva e Minas é um dos estados pioneiros na luta, estando sempre em evidência no movimento”. Além de Minas Gerais, outros estados também participam efetivamente da luta, que tem como objetivo não apenas tirar os pacientes dos manicômios e fazê-los retornar para suas respectivas casas, mas substituir os antigos hospitais psiquiátricos por outra forma de tratamento mais digna. “Desde os primeiros anos de luta contra os manicômios, estamos conseguindo grandes vitórias por meio do aumento de serviços substitutivos para as pessoas portadoras de sofrimento mental” salienta Sandra Dantas, funcionária do Centro de Referência em Saúde Mental da Região Oeste (Cersam-Oeste).

Debate “Diferentes Olhares sobre a Loucura” foi o tema da mesa redonda organizada pelo Diretório Acadêmico (DA) de Psicologia da Fumec, em 26 de maio, na Faculdade de Ciência Humanas (FCH) da universidade. Estudantes, professores, psicólogos e usuários dos serviços de saúde mental se reuniram para discutir questões pertinentes ao movimento de luta pelo fim dos manicômios. Na ocasião, foi apresentado o filme Em Nome da Razão, dirigido pelo cineasta Helvécio Ratton. Trata-se de um documentário filmado em Minas Gerais, em 1979, no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), que denuncia a situação precária e tratamentos inadequados a que eram submetidos os internos e o preconceito da sociedade para com estas pessoas. O professor e psicanalista Jacques Akerman, após a exibição do filme, abordou a Reforma Psiquiátrica, assunto indispensável para a compreensão da luta antimanicomial. De acordo com ele, tal reforma é a face oficial do movimento que propõe o fim dos manicômios “o objetivo é a reinserção social e a assistência integral ao paciente”. Desde o surgimento da psiquiatria como disciplina específica é que se pensa na reforma. Mas, após a Segunda Guerra Mundial, devido à situação precária dos hospitais é que se iniciaram os primeiros movimentos, sendo a Itália um dos países que serviu de referência. Isto porque as transformações introduzidas pelas intervenções psiquiátricas naquele país, como a proibição de novas internações em manicômios, em 1978, foram de grande relevância. Akerman ressalta que as primeiras denúncias e propostas relativas à Reforma Psiquiátrica no Brasil nasceram da organização dos trabalhadores de Saúde Mental, no final dos anos 70. Para o psicanalista, a O Po onto

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Editor da Página: Igor Moreira - Diagramador: Franco Serrano 3º Período

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Quanto vale um sonho? De figurinhas a viagens, independente do lado financeiro, vale tudo para se aproximar das emoções da Copa do Mundo Fotos: Acervo pessoal

CÉZAR VOUGUINHA IGOR MOREIRA 3º PERIODO Entre os dias 11 de junho e 11 de julho de 2010, foi realizada a 19ª Copa do Mundo, na África do Sul. Além dos habituais jogos de futebol, o torneio se transformou em um mercado altamente lucrativo. Enquanto alguns não medem esforços para guardar alguma lembrança do evento, outros aproveitaram para fazerem o seu pé de meia. Como se trata de um evento que mobiliza o mundo inteiro é normal que envolva cifras exorbitantes. Tudo no “mercado” da Copa é pago e mais valorizado, e pra se guardar uma lembrança, muitas vezes o preço é o que menos importa. O entusiasmo dos brasileiros pela Copa do Mundo é tão grande que qualquer recordação do torneio se transforma em relíquia. Alguns se contentam com revistas e álbuns de figurinhas, enquanto outros preferem presenciar o espetáculo de perto. Se assistir a uma Copa, mesmo que pela TV, já é um imenso prazer, imagine viver de perto todas as emoções do maior espetáculo do futebol. Este é o caso de Gilson Borges, empresário, 53 anos, que mora em Campo Belo - MG, mas em anos de Copa pode ser encontrado nos países sede durante a competição. A primeira vez que embarcou rumo a uma Copa do Mundo foi em 1982, na Espanha. Desde então só não esteve presente na edição de 2002, que ocorreu na Ásia, no Japão e Coréia do Sul. A idéia de viajar para acompanhar as partidas surgiu quando Gilson ainda tinha 20 anos. E a estreia em uma Copa do Mundo foi inesquecível. A mágica seleção comandada por Telê Santana fez da edição de 1982 o torneio que o mineiro jamais esquecerá. “De todas as Copas que fui, sem dúvida a de 82 foi a melhor. O time era fantástico. Infelizmente não saímos campeões naquela oportunidade.” Com uma boa impressão do torneio, Gilson decidiu que seria presença confirmada quatro anos depois. Porém, ele que viajou sozinho até a Espanha em 1986, foi acompanhado dos amigos brasileiros que fez no Mundial anterior e este grupo de torcedores não perdeu o costume de embarcar para as Copas até hoje. Após ver de perto três campeonatos onde o Brasil foi eliminado, Gilson teve a maior de suas emoções nessa trajetória. Em 1994, ele estava nos Estados Unidos e pôde assistir, no estádio Rose Bowl, à conquista do tetracampeonato. O duelo contra a Itália, decidido nos pênaltis, transformou-se no jogo inesquecível em sua caminhada pelos países da Copa. O pentacampeo-

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Gilson: abaixo a alegria de 94 e acima a decepção de 2006

nato conquistado no Japão, o empresário acompanhou pela TV. A escolha de não viajar para o outro lado do mundo foi o medo. Não pelo trauma causado em 1998, após a derrota para a França na final, mas ,sim, os atentados terro-

ristas nos EUA, um ano antes da edição na Ásia. “Naquela época estava preocupado com os atentados e optei por não viajar. Foi uma decisão bem pensada, não me sinto frustrado por não ter visto a campanha do penta tão de perto”. O

retorno a Copa foi em 2006, na Alemanha. O país europeu mereceu o destaque do torcedor no quesito organização e foi lá que Gilson pagou a maior quantia para ver o Brasil em campo: “A Copa do México teve os preços mais baratos que paguei. E na Alemanha desembolsei US$1000,00 para assistir a Brasil x França. Foi o ingresso mais caro!”. No país das “vuvuzelas” (corneta tradicional da África do Sul) o mineiro não esteve presente.Mas admite que mesmo com o fracasso do Brasil, gostaria de ter acompanhado nossa seleçåo de perto mais uma vez. “Nem sempre o planejamento para ir a Copa começa após o término de outra. Quando vai chegando a época nós decidimos. Não estava muito animado para ir à África, mas quando foi chegando a hora, pensei em ir, infelizmente não foi possível. O estudante Lucas Ribeiro, 20 anos, guarda em seu armário uma relíquia. Ele não esteve na decisão entre Brasil x Alemanha, mas sua mãe, após a classificação brasileira nas semifinais, embarcou para Yokohama e de lá trouxe um presente inesquecível. Além de comemorar o título mundial no dia 30 de junho de 2002, Lucas vibrou ao saber que ganharia uma camisa da seleção, usada pelo pentacampeão Kaká durante a campanha vitoriosa. “Minha mãe desembarcou no Japão na véspera do jogo. Após o título foi ao hotel em que a seleção estava hospedada e recebeu das mãos do Kaká uma camisa. Ela se encontrou também com o Ronaldo e pediu que ele autografasse. O Fenômeno não só assinou como levou para outros jogadores fazerem o mesmo. Praticamente todos os atletas deixaram os seus nomes em minha camisa”. A camisa usada pelo craque do Real Madrid seria uma peça muito valiosa

Como tudo começou No dia 13 de julho de 1930 foi realizada no Uruguai, a pri- espírito de um Mundial. meira partida de uma Copa do Mundo, torneio que foi idealiO primeiro título veio oito anos depois, na Copa da Suécia. zado pelo francês Jules Rimet e se tornaria a competição mais Além de vibrar com a conquista da taça, o Brasil apresentou importante do calendário futebolístico. ao mundo o atleta que veio a ser o maior de todos os tempos, Passados 80 anos o Brasil já vivenciou imensas alegrias, Édson Arantes do Nascimento, o Pelé, que na época se consacomo também as mais desagradáveis frustrações. O brasi- grou com apenas 17 anos. Desde então, Copa do Mundo virou leiro começou a ter um contato mais www.blog.soccerlogos.com.br sinônimo de festa para o país. próximo com a Copa do Mundo em Hoje os brasileiros são quem tem mais 1950 quando foi sede da 4ª edição do motivos para comemorar. Além de ser o torneio. A felicidade por ser a capital único país a participar das 18 edições da mundial do futebol naquele ano se Copa do Mundo, desde 1930, a Seleção contrastou com a tristeza de perder Brasileira é a recordista de títulos da como título em pleno Maracanã, sob os petição, com cinco conquistas (1958, 1962, olhares do maior público da história 1970, 1994, 2002). Com isso, o brasileiro do futebol, cerca de 200 mil presentes, se tornou cada vez mais aficcionado pela que acompanharam o famoso e eterno competição, fazendo com que o calendá“Maracanazzo”. A derrota de 2x1 para rio nacional ganhe novos feriados de quao Uruguai deixou o país de luto, mas tro em quatro anos, já que os dias de jogos Maracanazzo: Brasil 1 x 2 Uruguai serviu para aflorar no povo brasileiro o param o país.

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Editor da Página: Igor Moreira - Diagramador: Franco Serrano 3º Período

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Foto: Cézar Vouguinha - 3ºG

O Ponto

Álbum da Copa é diversão garantida

Santa Lúcia, região centro-sul da capital mineira. A proprietária Jacqueline Alves comemora o grande movimento que a edição de 2010 proporcionou ao seu estabelecimento. “Estou neste ponto há 15 anos e pude perceber como a Copa do Mundo mobiliza os colecionadores. Em 1998 tivemos a primeira oportunidade de comercializar um álbum de mundial. Ficamos espantados com a procura. Mas nunca houve uma busca tão grande quanto a deste ano”. O lugar acabou se transformando em parada obrigatória para os colecionadores e o grande motivo é o diferencial apresentado pela banca, o “Clubinho de Troca”. A iniciativa proporciona aos fregueses uma troca direta com os próprios donos do estabelecimento. A República do Líbano funciona todos os dias, mas aos fins de semana alcança um número exorbitante de clientes, chegando a 100 pessoas ao seu redor. No local é possível ver famílias inteiras comprando pacotes (R$ 0,75) e trocando figurinhas. Se o álbum da Copa é capaz de reunir um grande número de aficcionados, os bares também têm sua clientela fiel para assistir as partidas. De botequins a lugares temáticos, basta ter uma televisão para que a torcida se encontre e torça junto pelo Brasil. Um dos bares mais famosos da capital mineira é o La Cancha Sport Bar, que foi inaugurado justamente na primeira partida da Copa

de 2006 e, ao final do torneio, foi eleito o melhor point daquela Copa pela Revista Época. Com decoração específica para eventos esportivos e televisões espalhadas por todos os cantos, o La Cancha investiu para as transmissões dos jogos de 2010 cerca de R$ 350 mil em aparelhos audiovisuais e reformas na infraestrutura, além de um aumento de 30% no quadro de funcionários (contratação de garçons e seguranças temporários). Segundo o assessor de imprensa do estabelecimento, Rodrigo Valente, todo o investimento valeu a pena, já que o público aumentou cerca de 30% e o faturamento subiu em média 50% durante a Copa. No país do futebol é impossível esquecer todas as conquistas mundiais. Cada torcedor tem a sua maneira de guardar as recordações dos momentos inesquecíveis em Copas do Mundo. Sejam com a camisa do penta, com as fotos dos estádios em dias de jogos, ou um simples álbum de figurinha, todos estes tem um enorme valor sentimental para seus donos, independente de quanto custaram. Porém poucos tiveram o privilégio de defender as cores brasileiras em um mundial. E quem teve esta honraria, como o craque Tostão, revela onde guarda suas lembranças: “Nunca fui de guardar materiais. Prefiro guardas estes bons momentos em minha memória”. Divulgação: La Cancha

Fotos: Acervo pessoal

para qualquer colecionador, mas para Lucas, ela só deixará seu armário caso receba uma proposta muito interessante financeiramente: “Quando a situação financeira dá uma apertada, passa pela minha cabeça negociá-la. Porém, acho que o valor dela é muito pessoal, até porque vários autógrafos têm a dedicatória para mim.” Oito anos após o Mundial do Japão, a “amarelinha” divide o armário com outras camisas de futebol, princi-

palmente as do Atlético, seu clube do coração. Diferentemente das camisas alvinegras que ele tem costume de vestir, a do Brasil foi usada apenas uma vez, e ele levou um grande susto. “Na única vez que resolvi usá-la, deixei cair catchup. Ainda bem que passou longe dos autógrafos e foi possível limpar sem ter que lavar, pois poderia perder todas as assinaturas. Em breve pretendo emoldurá-la, para deixar exposta em meu quarto e evitar qualquer estrago”, contou o torcedor. Para os torcedores que não tiveram condições de ir a África e ver de perto os jogadores que brilharam na Copa de 2010, a solução será guardálos nas 72 páginas do álbum da Copa. Antes de a bola rolar no continente africano, as figurinhas se transformaram em uma verdadeira febre nacional. De crianças a idosos todos correm atrás dos 640 cromos necessários para se completar o álbum. Para se ver livre das repetidas, a solução é trocar com outros colecionadores, e em Belo Horizonte o principal ponto de encontro dos amantes de figurinhas é a banca República do Líbano, na Barragem

Lucas exibe seu troféu particular: A camisa do penta

Bares de BH foram ponto de encontro da torcida na Copa de 2010

Tostão:“A mobilização no Brasil é um exagero!” Eduardo Gonçalves de Andrade, conhecido mundialmente como Tostão (foto), defendeu as cores do Brasil em duas Copas do Mundo, 1966 e 1970. Ex-jogador e maior ídolo da história do Cruzeiro e com passagem também pelo Vasco, o atacante foi uma das estrelas que brilhou na maior seleção de todos os tempos, a equipe tricampeã em 1970, no México. Tostão enaltece que a paixão dos brasileiros pelo esporte serve como combustível na disputa pelos títulos mundiais, mas é cauteloso diante da mudança de rotina da nação no período de competição: “Acho que há um exagero no Brasil. O país para muito mais que em qualquer outro país da Europa. Parece até que vamos para uma guerra, em vez de ir para uma disputa esportiva. As pessoas não aceitam que outras seleções podem jogar melhor e ganhar da seleção”. A união das melhores seleções do mundo em busca

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de o mesmo objetivo faz da Copa um momento de tensão. Para o ex-atacante, mesmo com os maiores jogadores do planeta em campo, nem sempre o nível dos jogos é excepcional, e a causa disto é o excesso de cuidado nos momentos decisivos. Após se aposentar precocemente com uma contusão no olho, Tostão se formou em medicina e hoje atua como colunista para jornais de todo o país. Após brilhar nos gramados da Copa, hoje, Eduardo Andrade faz a tabelinha com seus leitores. Como jogador foram dois Mundiais disputados, e como jornalista, Tostão entrará em campo pela quinta vez. “Existem vários momentos marcantes em minha trajetória nas Copas do Mundo. Ser eliminado em 1966, na primeira fase, foi um fato muito triste e marcante. E como colunista trabalhei em 1994, 1998, 2002 e 2006. Tive ótimas experiências e conheci um outro lado de um evento como este”.

www.nominuto.com

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12 • Cidade

Editora da página: Izabela Linke - 5º Período - Diagramadores: Ana Flávia Belloni, Izabela Linke e Larissa Borges - 5º Período

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O Ponto

Solução para o terreno baldio está próxima Moradores do bairro São Caetano enfrentam problemas devido ao terreno abandonado onde existia o clube Prolazer. Após dez anos de espera, a solução parece estar a caminho LARISSA BORGES 5º PERÍODO Quem chega ao cruzamento da rua Itaguassu com a rua Itamaraty no bairro São Caetano, Betim, se assusta com o que vê. O antigo clube Prolazer que, por mais de dez anos, foi fonte de diversão para a comunidade, agora é um grande terreno abandonado. Os próprios moradores que residem próximo ao local são os responsáveis por depositar os rejeitos no local e são, também, eles os primeiros a serem afetados pelos problemas causados pelo lixo. No início de março, os moradores receberam a notícia da construção de uma escola técnica no local do antigo clube. A data para o início das obras ainda não foi anunciada, mas a vinda do colégio pode ser uma solução para os problemas encontrados na região. Na entrada do que foi o clube vemos restos de materiais de construção, lixo, sacolas, garrafas e até roupas velhas. O terreno é todo murado, mas existe uma abertura, onde ficava o portão do clube, permitindo o acesso das pessoas. Ao entrar no terreno o que encontramos é mais lixo e muito mato. Também é possível visualizar o lugar onde ficavam as piscinas, enterradas há um ano pela Prefeitura de Betim, e os escombros do que um dia foi a

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quadra de esportes. Carlos Alberto, morador da rua Itamaraty por 30 anos, sofre as consequências que um espaço baldio pode causar. Toda a sua família contraiu dengue, em períodos diferentes, devido aos focos de mosquitos que se alojaram no terreno. Mesmo o morador não sabendo de ninguém afetado pela dengue neste ano, de acordo com os dados da Regional Imbiruçu, no início de 2010, já foram registrados 27 casos da doença em pessoas que moram no entorno do local. A dengue não é a única consequência gerada pela situação do local. Apesar de não ter sido registrado outro tipo de endemia, o lixo atrai animais, como ratos que podem transmitir doenças. Além da saúde, os moradores têm que se preocupar também com a segurança. O lugar, devido às condições em que se encontra, acaba servindo de esconderijo para assaltantes e usuários de drogas. À esquerda a entrada do clube e à direita o que restou de uma quadra de esportes. Carlos também já foi vítima da insegurança que o local proporciona. Depois de um ano recebendo a aposentadoria, decidiu complementar sua renda e montou uma padaria embaixo de sua casa, aproveitando o espaço que estava disponível. Porém, o comércio não durou muito. Em quatro meses de funcionamento foi assal-

“A coleta seletiva ainda é tímida nos bairros, mas em abril a cidade de Betim irá começar o mutirão de limpeza que envolve capina, retirada de entulhos e limpeza das ruas” Joaquim Rodrigues tado quatro vezes. “Quase todos os dias, tinha alguém rondando a loja. Fui assaltado à mão armada quatro vezes, chamava a polícia, mas os assaltantes corriam e se escondiam no terreno”, conta Carlos. Ele acabou fechando o comércio e, apesar de não ter perdido a vida, chegou a levar um tiro durante um dos assaltos, o que traumatizou a sua filha mais velha, que o ajuda no estabelecimento. A insegurança não afetou apenas Carlos. Maria Silvanda, conhecida no bairro como Vanda, “para ficar mais fácil para as pessoas falarem”, é moradora há 25 da rua Itaguassu e já foi assaltada três vezes. Dona de uma casa de ração há cinco anos, Vanda contou que na época mais crítica do terreno, há dois anos, tinha até medo de passar perto do clube. “À noite eu nem passava lá perto. Ficava numa preocupação com os meus filhos, porque a minha filha chegava muito tarde. Fui assaltada mas, graças a Deus, não feriram ninguém. Fiquei assustada.”, ela relembra.

O administrador da Regional do Imbiruçu, Joaquim Rodrigues da Silva, declarou que a prefeitura fez uma parceria com a Polícia Militar e a Organização de Segurança Pública para minimizar os assaltos na região. “Uma viatura foi disponibilizada para rodar na região todos os dias durante a noite para mostrar aos suspeitos que a polícia está presente e fiscalizando o local”, garantiu Silva. Vanda não chegou a fechar o seu comércio, como fez Carlos, mas falou que a segurança melhorou na sua rua. “Já tem um bom tempo que não escuto reclamações de assaltos na região”, afirmou Vanda. A respeito da dengue, foi criado um Comitê de Combate a Dengue, que intensifica as suas ações nos meses mais críticos da doença. O comitê é formado pela Regional do Imbiruçu, entidades locais, como as associações de moradores, unidades de saúde e voluntários. A primeira estratégia é uma união entre a panfletagem e a visita nas casas dos moradores. “Os panfletos são distribuídos todos os dias pelos agentes de endemias e eles também entram nas casas do pessoal para retirar todos os materiais inservíveis, como garrafas, copos, lixo, entre outros.”, explicou Silva. A regional também realiza a Limpeza Urbana, que é a coleta seletiva do lixo, mas ainda não apresentou muito resultado, como fica visível pela quantidade de entulhos encontrados na região do clube. “A coleta seletiva ainda é tímida nos bairros, mas em abril a cidade de Betim irá

começar o mutirão de limpeza que envolve capina, retirada de entulhos e limpeza das ruas”, afirmou o administrador. Enquanto isso, os moradores terão que continuar a conviver com o lixo. Os vizinhos do terreno têm a sua parcela de culpa, já que o lixo depositado no clube vem das suas casas, mas talvez falte uma campanha de conscientização mais intensa e efetiva para educar os cidadãos. Mas esse espaço vazio - e que causou tantos dilemas e conflitos na comunidade - está prestes a ter fim. É o que se espera. Da construção à falência O Prolazer foi construído pelos moradores do Conjunto São Caetano nos anos 80 a fim de levar lazer para a região, que sempre foi carente de espaços destinados para diversão e eventos sociais. A princípio o projeto era uma maravilha: quadras, piscinas, áreas para churrascos e o melhor, todos podiam frequentar, bastava ter uma cota para acessar as mediações do clube. Porém, como o clube não atraia recursos financeiros e devido à administração ruim dos moradores, ele se tornou um problema. Em 1990 uma empresa chamada Verde Lazer se interessou pelo clube. Através de um acordo entre o presidente da empresa e o presidente da Associação de Moradores do Conjunto São Caetano (Assca), a Verde Lazer arrendou o terreno visando explorar as dependências do clube, custear as despesas e, inclusive, pagar aluguel para a ASSCA.

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Editora da página: Izabela Linke - 5º Período - Diagramadores: Ana Flávia Belloni, Izabela Linke e Larissa Borges - 5º Período

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na época era Carlaile Pedrosa e o cargo de vice-governador era de Newton Cardoso. A proposta feita entre os dois era a seguinte: a Prefeitura de Betim seria a dona do terreno e Newton entraria com os recursos financeiros para construir duas escolas, uma fundamental - doada ao município - e uma particular, através da Fundação Filantrópica Santa Rita, dirigida pelo vice-governador. Durante as negociações a prefeitura demoliu todas as benfeitorias do clube. Acontece que, nesse ano, Newton Cardoso perdeu as eleições e, coincidentemente ou não, a prefeitura perdeu o interesse pelo terreno. Da conversa só sobrou o muro cercando o terreno. Logo após o ocorrido, uma empresa de Belo Horizonte quis comprar o terreno para construir um conjunto de prédios. O projeto não foi aprovado pela prefeitura e causou mais prejuízo para a população, pois os impostos e as dívidas continuaram aumentando. Só em fevereiro de 2009 é que a nova prefeita de Betim, Maria do Carmo Lara, apresentou uma nova proposta de desapropriação para construir a Escola Técnica Federal, uma parceria do Município com o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerias (CEFET - MG). Dessa forma, a prefeitura abaterá o valor do débito da cooperativa, relativo aos impostos, com o município. As dívidas já atingiram os valores de R$ 700 mil em impostos, R$ 61 mil para a Receita Federal e aproximadamente R$ 300 mil para terceiros. Com esse arrendamento pela prefeitura parte do problema será resolvido. A construção da escola dará um destino proveitoso para o terreno, que já afeta a saúde e a segurança da comunidade.

No entanto, a empresa começou a atrasar os aluguéis, alegando dificuldades administrativas e, em 1994, mudou a sua razão social para Prolazer. No mesmo ano os habitantes do Conjunto São Caetano elegeram José Carlos, advogado e morador do bairro, como liquidante para responder pelas questões jurídicas que envolviam as dívidas dos lotes. Na época, as dívidas estavam em torno de R$ 15.000 mil reais. Nesse período, a cooperativa tentou fazer um acordo com os gestores do clube para a quitação dos aluguéis atrasados, mas não obteve sucesso. “E o problema foi se transformando em uma bola de neve. Os responsáveis pelo clube além de atrasarem os aluguéis, não pagavam a Cemig e a Copasa e sofreram processos dos funcionários por não pagarem seus salários. Os donos alegavam sempre problemas financeiros e administrativos, mas fica evidente a má gestão do estabelecimento e o desvio de verba pelos responsáveis.”, declarou José Carlos. Parece que o clube foi um projeto feito para não dar certo. Em quase dez anos de funcionamento foi marcado por dívidas, mudanças ríspidas e constantes de donos e, sua função primordial, que era atender a população, ficou esquecida. Com a sua falência, quem possuía a cota ficou prejudicado, já que perdeu seu espaço de lazer e não chegou a ser ressarcido. Em 1999 o conjunto entrou com um processo de desapropriação e essa ação tramitou por dois anos e meio na justiça, mas sem sucesso. Nesse mesmo ano, o clube fechou permanentemente. Os moradores frequentavam muito o clube. Vanda conta que seus parentes vinham do bairro Eldorado, para aproveitar o ambiente. “Eles chegavam domingo cedo e aproveitavam bastante. Levava os meus filhos, que na época eram pequenos”, afirmou a moradora. O clube também tinha projetos para a sociedade, como o Projeto Curumim que atendia as crianças fora do horário de aula e oferecia atividades recreativas. Já no ano de 2002 houve outro processo de desapropriação d do prefeit terreno pela prefeitura. O prefeito

Escola Técnica Os moradores da região estão ansiosos pelas mudanças que irão ocorrer no bairro. Graça, moradora há 30 anos do bairro São Caetano, participou da reunião realizada no dia 6 de março pela ASSCA. O tema central era a vinda da Escola Técnica para a região e Graça não escondia a satisfação em seu rosto. “Lutei

muito para os meus filhos terem uma educação de qualidade. Enfrentei fila de madrugada para matricular meus filhos. Eles já formaram, mas é bom saber que outras mães não precisarão passar pelo que eu passei”, disse Graça. O bairro tem apenas uma escola estadual, o que não atende a demanda de estudantes. Para terem um ensino público melhor, as crianças estudam em bairros vizinhos. Os pais que possuem uma boa condição financeira matriculam seus filhos na única escola particular do bairro. Vanda também ficou feliz com a escola. ”Eu só estudei até o quarto ano de grupo e meus filhos já formaram. Mas é bom saber que a prefeitura vai atender a periferia da cidade e as crianças para quem eu dou aula no catecismo terão a oportunidade de estudar em uma escola profissionalizante, próxima de casa, coisa que meus filhos não tiveram.”, contou Vanda. Os benefícios da construção da escola serão consideráveis: ensino de qualidade, aquecimento do comércio na região, valorização da comunidade e a conversão de um espaço largado em uma instituição útil à população. A desvantagem mais iminente é em relação ao trânsito do bairro. Será necessária uma obra para alargar as vias de acesso ao bairro e a escola, além de melhorias no transporte público da região. O projeto para a construção do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) foi aprovado pela Câmera Municipal com urgência. A obra está orçada em R$ 4,2 milhões e os recursos serão assegurados pelo Ministério da Educação e Cultura. A escola oferecerá cursos de ensino médio integrado ao técnico e cursos técnicos isolados nas áreas de metalurgia, mecânica, petróleo e gás. O prazo para iniciar as obras ainda não foi divulgado, mas os moradores estão em parte aliviados, pois o terreno abandonado ganhou um destino que atende as suas necessidades. Parece que, dessa vez, a escola tão esperada vai sair do papel. Muito lixo e mato comprovam o atual descaso do antigo clube Prolazer

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Editor:Pedro Cunha e Diagramadores:Pedro Gontijo e Raoni Jardim

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A música de sempre para novos ouvintes

DIEGO SURIADAKIS 5º PERÍODO Sentado confortavelmente, discografias completas ao polegar, listas e listas no iPod, levantar para virar o disco exige disciplina. Aproveitando o calor que te cola no assento, vá à geladeira, sirva-se de líquido para argumentar melhor. Ao lado B. Toca a primeira música. Avenida Augusto de Lima abaixo. Pela milésima décima terceira vez rumo Mercado Central: mil vezes para reportar, dez vezes comprar canastra de São Roque, fumo de Sete Lagoas e banana do sul de Minas e esparsas três vezes para, de pé, degustar uma cerveja. Cedo para o álcool, já é tarde para entrar no Velho Comércio. Hoje ele fecha 13h e um apresado relógio no corredor marca 12h. Uma hora inteira para, mais uma vez, ver o mineiro em ação, exercendo sua desconfiada mineiridade. “Nada disso!”, uma voz baixa, serena faz a correção necessária: “O mineiro não é desconfiado, contrariando o ledo engano, o mineiro apenas não acredita piamente na confiança”. Confiante no sucesso da música de Cascatinha e Inhana, sucesso da década de 50, uma intérprete, quase anônima, reapresenta os negros cabelos da índia. Talvez até existam outras lojas de disco no Mercado, mas a de seu Juarez tem algo de sincero no ar. Pelas milhões de caixinhas de plástico o olho dança Trio Los Panchos, se embriaga de Nelson Gonçalves e Românticos de Cuba(Libre), desconfia de Cauby e malandra com Ataulfo. Seu Juarez, 60 de idade e 50 de discos, não fala sobre o seu tempo de Mercado Central: O dinheiro acabou, o comercio de discos quebrou, só sobrou eu. Quase sem tempo para um sorriso, já emendou outra: - Agora só vendo conhecimento. E longe de se contradizer, ia apresentando os sucessos de Creedence Clearwater a um cliente quando pediu a uma de suas funcionárias que buscasse uma cerveja e dois copos. Diante de trabalho sério, qualquer repórter perde espaço, agradece a prosa e sai com a certeza de voltar e comprar uma de suas famosas coletâneas, agora produzidas por uma funcionaria mais nova e digitalizada que ele. Muitas lojas estão de portas fechadas, paixão por feriado que todo brasileiro tem. Descanso mais que merecido para um senhor de idade que trabalha 365 dias por ano. As 132 câmeras do circuito interno de segurança não chegam nem perto de conseguir espiar as mais de 20 mil pessoas que, de maneira direta ou indireta, trabalham com o Sr. Mercado Central. Existe um tom de colaboração no lugar. O mercado, como muitos pensam, não é publico. A cada quatro anos são escolhidos 31 conselheiros e entre estes, um diretor presidente, um diretor financeiro e um diretor secretário. Ao final das reuniões, seguem então, na informalidade, com suas investidas de caráter democrático. Deslizam a mão para dentro do bolso faca

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garboso de suas calças de alfaiataria e retiram algumas moedinhas, troco do cafezinho, para uma roda de porrinha. Nos bares, de costumeiro ponto facultativo e tantas horas extras, a paixão não tem razão de feriar. O monólogo das mil conversas, a chapa assoviando enquanto prepara o fígado com jiló, o azedo da cevada, e sobe escada. Parte dos ‘artesanatos’, corredor longo, balaio pendurado, palhinha e berimbau. Tem mesmo uma parte do Mercado que pasteurizou, como o queijo. Assim como um negócio de boiada sem ‘relagem’, sem a negociata de alpendre, em café e fumo de corda. Atrapalhando o flerte do artesanato com a indústria, o corredor por onde se passa chega ao antigo galinheiro do Mercado. Ainda existem algumas galinhas por lá, hoje tão ornamentais quanto os porcos-da-Índia, as cacatuas, os periquitos e os canários. Ali a compreensão é dificultada. O cheiro é difícil de ser assimilado, o caminho complicado de ser trilhado, o proprietário difícil de ser entrevistado, ninguém gosta ou pode ser fotografado. Principalmente os que estão nas gaiolas. O pavão se intimida, o cão finge que dorme, a galinha mal cisca. A placa de proibição é grande, um convite a se retirar. São mais 25 corredores, vale à pena aceitar o convite. O mineiro, fechado como parece aos olhos mais cerrados, está a espera de um convite. Um convite de prosa, de riso, um convite. Uns três ou quatros sorrisos sinceros começam a interessar o mineiro. E o cliente. Degustar um queijo de primeira, um fumo de primeira, depende de mais proximidade somente, nada de filosofia. Chegar na Tabacaria Arapiraca e perguntar para o Toninho, o que é bom, tem, no máximo, uma mordida de bigode como resposta. Um velho tem seus velhos conhecidos. E lapida suas manias. O dinheiro no bolso, condição determinante para um trânsito desimpedido no grau capitalístico em que vivemos, entra em cheque neste quarteirão. Sim, os produtos do mercado são caros, significativamente mais caros do que em seu entorno, mas a satisfação aqui é ainda um tiquinho mais cara. Toninho entende seus costumeiros clientes como um médico de família. Um rosnado, um grunhido e pronto: o rapé certo, a palha na medida, o tabaco no peso, certeiro. Peço permissão para expor-lhes uma descoberta: envelhecer junto. Tabacaria Guarani. Quem atende é um moço novo, 22, camisa da Reggae Nation, bermuda florida, bonezinho virado, Adriano. O dono da loja é seu pai, Batista, emancipado às pressas, 37 anos atrás, para assumir o minúsculo Box, na saída da Avenida Amazonas. “Quando Seu Batista chegou aqui, o cabelo dele era mais preto que eu, agora, anda mais branco que leite”, interrompendo o assunto, um senhor de nome Milton Gutemberg Brun NNsgf NNhdg. Adriano conta que este senhor é patrimônio do mercado e que ninguém sabe ao certo seu nome. Conta ainda que seu concorrente, o Toninho, é muito “criterioso”. Recado dado, fumo comprado.

Ilustração: Diego Suriadakis Arte: Pedro Gontijo e Raoni Jardim

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Editor:Pedro Cunha e Diagramadores:Pedro Gontijo e Raoni jardim

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Belo Horizonte, julho/agosto de 2010 Fotos: Pedro Cunha

MUSICA 3. 12h30. CAFÉ PARA TOMAR FÔLEGO. Em 1964, o então prefeito de Belo Horizonte, Jorge Carone, alegando impossibilidades administrativas, resolveu vender o terreno de 14 mil metros quadrados próximo à Praça Raul Soares onde funcionava a antiga feira municipal. Os comerciantes, liderados por Dico, senhor Raimundo Pereira Lima, compraram da prefeitura o terreno atual do Mercado. Ainda no contrato, um prazo. Cinco anos para finalizar a empreitada. Quatro construtoras, cada uma ficou responsável por um lado do novo prédio. Caminhar pela grande caixa de tijolinhos exige mais do que pernas. Em fins de semana, a paciência é acionada. O estacionamento, de entrada única, conta com pouco mais de 450 vagas. Filas de carro nas ruas que delimitam o mercado, certeza. Completado o trajeto na rampa, o automóvel estacionado, o próximo passo é conseguir um carrinho de compras – mais um pequeno detalhe relembra que a idéia shopping aqui tem de ser traduzida para o mineirês. E segue-se caminhando. No caixote, de fotogênica luz interna, todos os sentidos são exigidos sobremaneira. O olfato, nesse caldeirão de formas e cores, acaba se tornando o mais confiável, um guia. Que também falha. O paladar então entra em ação. Magno Frutas, Francisco no atendimento vai descascando o verbo. Massoterapeuta por vocação, viajou o mundo com o futsal do Galo mineiro: Ásia, Europa, interior de Minas. No Central, há cinco anos, não é dono da frutaria, tampouco empregado. Protagonista, em atendimento ao publico não hesita: “Se eu tiver atendendo, o cliente compra de ponta a ponta”. Pelo olhar sincero, o corte de cabelo a La 70’s e o firme aperto de mão, conquistou nesse curto espaço de tempo clientes fidelíssimos. Fala em reciclar atendimento com desenvoltura de empreendedor graduado, e fala de amizade com a franqueza do silencio praticado nas Minas. Recorda ainda de quando era “só cliente”; das lojas que vendiam apenas um produto, “limão de A a Zedo”; da invasão das lojas de utensílio domésticos, “as lojas de alumínio”, que antes estavam apenas fora do mercado. Ao longo de sua existência, o Central foi se adaptando, mesmo com a toda sua personalidade, ao mercado que corre fora, no tempo. Tempos hipermodernos, sociedade da imagem, o narcisismo não ficou de fora. Febre de suplementação alimentar, produtos naturais, o número de ‘lojas de atleta’ ganhou corpo e o espaço de quase um corredor inteiro. Outro caso de mudança corpulento, Ricardo Eletro. A franquia da loja de eletrodomésticos, quando ocupou o espaço do pioneiríssimo Armazém Aymoré, deu o que falar. Até uma associação de donas de casa advogou pela aura do Mercado. Eline, uma das vendedoras do Ricardo, teve de ser acordada para dar entrevista. Cochilava em pé no meio da tecnologia. Conta que a maioria das vendas que faz é para os trabalhadores do Velho Senhor e logo depois se cala, com a astúcia mineira que só espia o interlocutor batendo a língua nos dentes. Quase em frente, penduradas e ordenadas por origem, peças de conta-filé salgado ou defumado, lingüiças e leitões. Uma tentação, pecado na sexta-feira que é hoje. Mas dá força para a caminhada do sujeito criado na lida. Sustância, como o jenipapo comerciado no Empório Indaiá. Na banca de frutas exóticas, Seu Valadares hoje em dia é ajudante. Passou, como tantos outros proprietários no Mercado, a loja para seu filho. Cleifer Valadares, é vendedor tipo exportação, atende gringo como poucos. É um entertainer das pitombas, jatobás e lichias. “Já atendi aqui gente do mundo todo”, quantifica. Atende também o cidadão local. E esse pode levar a iguaria que deseja gastando bem menos saliva. O rolar descendente das portas de ferro é a última música. Agora baixam as últimas portas. Vendedores varrendo o resto do dia, alguns proprietários de cabeça baixa, atrás de seus balcões, se inteirando do faturado. Uma atmosfera de mais um dia cumprido. De que amanhã o Velho acorda cedo (d)e novo, Aleluia, um sábado. A música cessou. Nas últimas rotações da agulha, no chiado final, entristecido junto à porta, um rosto de jovem fotografa. Luisa Horta, de tripé e câmera em quase riste, pensa nas fotos que não pode mais fazer. “Volto amanhã”, despedindo-se..... Cleck! Fim do lado B. Avenida Augusto de Lima arriba. Nem sinal de sombra. O sol reto, em cima, esquenta a mistura dentro das cabeças que transitam pelo centro. Subida de morro, o passo é lento, custoso. E assim, nesse ritmo, a proximidade com o mineiro começa a acreditar nela mesma. O fato de saber que volta, amanha cedo, ou tarde. Mas volta, trazendo outro acorde si, recém tirado, para oferecer na negociação, emprestando assim um pouco de quentura a uma simples trocas de favor, imprimindo na relação um novo tom de mistério, mistério que desconfia da iluminação intensa do modelo shopping center. Anda por aí o tal silêncio praticado nas Gerais. Sobe e desce morro, e vira o disco. Do lado A para o lado B e depois para o lado A novamente. Procura o desconhecido no que já conhece, como se não desconfiasse de nada além de sua própria ciência.

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Figura carimbada no mercado, o cantor Raul ajeita o bigode para a foto

Por de trás de um robusto bigode e um balcão com diversos fumos, a tabacaria Arapiraca

Loja de discos de seu Juarez ainda sobrevive com a ajuda de sua companheira digitalizada

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Editor e diagramador da página: Pedro Gontijo

Belo Horizonte, julho/agosto de 2010

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COLCHA de retalhos

Sombreiro

Pedro Cunha “Televisão me dá um sono.” Falou pro quarto vazio, enquanto andava devagar pelo corredor da casa escura. Ela já havia se acostumado com a escuridão dos porões de outrora. Era março, e isso a impedia de se aventurar pelas ruas de Botafogo. O único momento em que saia de casa a passeio era no mês de fevereiro, quando os bairros do Rio de Janeiro estavam cheios de pessoas sorridentes curtindo as festividades da época do ano. Tinha pavor a ruas solitárias, e de poeiras de vento leve. Chegou ao quarto e deitou a cabeça no travesseiro. Lembrou-se das histórias que sua avó lhe contara quando moça. Vovó Josefina dizia coisas sobre a sen-

zala e costas calejadas de tanto carregar chicotada. Mas quando vinha a sua mente a penumbra dos cômodos subterrâneos, as chibatadas de sua avó pareciam mais carinho em neném recém nascido. Tudo que ela via em suas lembranças era a sombra do quarto semi iluminado e uma toalha que o sabujo enxugava o suor depois de... ..., e a porta se fechava em um barulho ensurdecedor que a acalmava. Aquela visão que fora plantada no seu cérebro ainda permanecia, entre o som do silêncio. As noites tinham um ritmo semelhante. Ela ficava de olhos abertos, encolhida, coberta por uma manta de lã, sob a auréola de uma lamparina barata. De lá, não se ouvia muito,

somente ruídos, sussurros. Sons que ficavam na divisa entre o real e o imaginário. A madrugada se estendia, e ela permanecia acordada com medo de sonhos agitados. Angustiada pelos murmúrios, dizia palavras: “Olá escuridão, minha velha amiga.” Tentava dispersar-se em coisas poucas. Conversava com as paredes, enquanto sua visão percorria os cantos do quarto. Um processo contínuo que se conservava até o sol aparecer. Na manhã seguinte, primeiro dia de abril, ela se levantou e, certa de que não agüentaria se guardar até o próximo carnaval, foi até o banheiro e se enforcou com a toalha de suor de sabujo.

Alimento da alma

Nesse momento

quis dizer algo, faltou-me voz quis escrever algo, faltou-me palavras me pus a cortejar as estrelas e estas esconderam-se de mim

Eduardo Zanetti

Amanda Lelis

O desejo que anseia em maltratar com velhos sonhos que não sonhava mais ternura que em meu peito esquecida rangia lamentos, dores e falsos-amores

Liberdade

Pedro Gontijo

Sons e luzes, fontes de pensamentos, ações e reações, chamam minha mente ao fundo e meus pensamentos à tona. Cores, flores, cheiros e medos, caminhos que não tenho como seguir, e minha cidade jamais me mostrará novamente.

foi então que me chamas-te com teu canto de poetisa deitei em teu colo e fechei os olhos e fiz de tua voz alimento da alma

Mulher Enfadonha

CURTA

retalhos

Do escuro surgiram luzes luzes que iluminavam palavras palavras que tinham canto canto que tinha vida.

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Pedro Cunha Disse a ela: _ Hortência! Assistência! Sorria pra galeria do maltrapilho do suíno masculino do teu marido. E Hortência foi lambuzar os pés do malandro.

Prados Devaneio Pedro Gontijo Devaneios flutuam entre palavras e eu sou só um pranto timido

Lucas Rodrigues

Naquele reduto de paz O tempo passa sem tristezas A felicidade, embora também passageira Sobrevive sem mistérios.

Noite Amanda lelis A chuva leve, ao cair, refletia tão claro e simples o mistério calado, sossego da vida que segue quieta

Microconto

Rodrigo Guimarães Pena

Conferiu um a um os números da mega sena. Levou um susto. Acertou todos. 30 milhões. Devia ter jogado

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