Jornal O Ponto - dezembro de 2010

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 11

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Número 81

| Dezembro de 2010 | Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita

Privacidade volta a debate com o Google Street View Ferramenta do site de buscas chega ao país e é alvo de processos por expor flagrantes fotográficos Páginas 8 e 9

Economia 140 toques que valem ouro Empresários divulgam suas marcas no Twitter e multiplicam suas cifras

Página 7

Comportamento Poker: esporte ou jogo de azar? Atividade vem ganhando adeptos profissionais e se torna alternativa de vida rentável Páginas 4 e 5

Cultura Osso duro de roer Capitão Nascimento e Cia. invadem o cinema novamente e batem recorde de público Página 3

Entrevista Emanuel Carneiro abre o jogo Presidente da Rádio Itatiaia fala sobre seu novo posto na presidência da Associação Brasileira de Rádio e Televisão Página 16

Turismo Viagens internacionais baratas Queda do dólar aquece cada vez mais mercado do turismo, a oportunidade de conhecer outros países animam brasileiros de todas as classes

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02 • Opinião

Editor e diagramador da página: Elisa Heringer

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O Ponto

A dor que nós devíamos chorar PEDRO CUNHA 6º PERÍODO “Glauber chorava a dor que nós devíamos chorar, a dor de todos os brasileiros. Ele chorava as crianças com fome, chorava este país que não deu certo, chorava a brutalidade, chorava a estupidez, a mediocridade, a tortura, e não suportava e, chorava. Os filmes de Glauber são isso. É um lamento, é um grito, um berro. O que fica de Glauber para nós é a indignação, ele foi o mais indignado de nós, indignado com o mundo tal qual é, assim. E indignado, porque mais do que nós, Glauber podia ver o mundo que podia ser. Que vai ser, Glauber. Que há de ser.” Essa é a fala de Darcy Ribeiro discorrida no enterro de Glauber Rocha, em 22 de agosto de 1981,

sob um Brasil que vivia seus últimos anos de ditadura. Hoje vivemos em um Brasil do século XXI, da democracia, da primeira presidente mulher. Vivemos em um país melhor, é evidente. Mas que ainda caminha com as tristezas como aquelas, que Glauber chorava. Estamos nos últimos dias de um ano muito importante politicamente, um ano de mudanças; e como se não bastasse a importância política, eu, jornalista, digo o quanto esse ano foi crucial na nossa imprensa, e na imprensa mundial também. Um dos jornais mais antigos do país, que teve uma grande participação na construção e registro de parte da história do Brasil, acabou com a sua versão impressa, junto dele um dos maiores jornais, em

escala mundial, foi pelo mesmo caminho; a internet é o único meio pelo qual ainda podemos continuar passando as páginas do Jornal do Brasil e do The New York Times. E é essa mesma internet que vem se mostrando cada vez mais decisiva nos rumos do jornalismo e da comunicação. Eu acredito que se Glauber ainda estivesse aqui, vendo toda a disputa, guerra – para ser mais exato – entre os candidatos à presidência do país, certamente choraria. É uma democracia que se esconde entre poderes e a barbárie daqueles que acreditam que liberdade de expressão é simplesmente expor a sua opinião e, egoisticamente, execrar a opinião do próximo. O jornalismo que fez a cobertura das eleições se portou dessa

maneira. A importância pública dos fatos foi deixada de lado. Nunca se viu – Glauber, com certeza, choraria – um jornalismo tão egoísta, interesseiro, egocêntrico, como o desse ano de 2010. Para me livrar das desinformações que eram publicadas nas principais revistas semanais e jornais diários de grande circulação, tive que me elucidar na ficção. Foi em uma sala de cinema que pude ver toda a verdade, sobre a política, que não foi dita em nenhuma dessas tais revistas. Foi em uma sala de cinema que pude sentir, na pele, o descontentamento com o que acontece no sistema brasileiro, no qual uns, de caráter repugnante, se beneficiam diante de muitos que sofrem com a miséria. E foi em uma sala de cinema

que fiquei extremamente entristecido com o jornalismo do nosso país, que deixou de lado a responsabilidade do seu oficio. Entre os que merecem destaque, nesse ano que vem chegando ao fim, está o cineasta José Padilha. Foi o único capaz, através da ficção, de mediar a situação política do país. Termino com uma citação e busco com isso uma inspiração para os jornalistas, que possam, assim, respeitar a grandiosidade daquilo que tens em mãos. “A arte revolucionária deve ser uma mágica capaz de enfeitiçar o homem a tal ponto que ele não mais suporte viver nesta realidade absurda.” Manifesto de Glauber Rocha. Façamos do jornalismo essa arte.

o ponto Coordenação Editorial Prof. Aurélio José (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Profª. Beatriz de Resende Dantas (Fotografia) Profª. Raquel Salomão Utsch de Carvalho (Redação II) Prof. Reinaldo Maximiano Pereira (Produção e revisão de texto) Monitores de Jornalismo Impresso Franco Serrano e Igor Moreira Monitores da Redação Modelo Ana Clara Maciel e Ana Paula Marum Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3127 · e-mail: oponto@fch.fumec.br Presidente do Conselho Curador Prof. Air Rabello Filho

Crítica de Tropa de Elite 2 GABRIELA FERNANDES 7º PERÍODO O filme Tropa de Elite 2 chegou aos cinemas de todo Brasil no dia oito de outubro e tem como slogan “O inimigo agora é outro”. O longa causou verdadeiro furor nos espectadores que enfrentam filas gigantes para conferir o que aconteceu na vida do Capitão Nascimento. O personagem de Wagner Moura agora é pai de um adolescente de 16 anos, e continua lidando com os conflitos que a profissão trás para seu cotidiano. O intervalo entre os dois filmes foi de exatamente três anos. O Tropa de Elite foi lançado em outubro de 2007. Com a continuação do longa metragem não podia ser diferente. Marcado por um roteiro mais maduro, inteligente e com oportunidade de contextualização (devido ao primeiro filme), a continuação do combate ao crime

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organizado carioca veio para escancarar a realidade social brasileira, dizendo com todas as letras que a Polícia Militar do Rio não cuida da segurança pública como deveria. E que polícia e bandido, muitas vezes, têm o mesmo objetivo: o dinheiro fácil. De fato, é preciso coragem, acima de qualquer outro adjetivo, para realizar um trabalho como Tropa de Elite. Despir a verdade de maneira tão determinada, sem chance de ocultar um ou outro detalhe, contagiou o ator Wagner Moura de tal forma que acabou levando o protagonista a co-produzir o segundo filme. O resultado de tamanha dedicação, três anos de pesquisa e observações só podia render ao grupo o título de maior bilheteria de estréia do cinema nacional. Estima-se que cerca de 30 milhões de reais já foram embolsados pela equipe responsável pela história que os brasileiros mais têm gostado de ouvir nos últimos três anos: A Tropa de Elite do Rio de Janeiro. O sucesso em grandes proporções era o único resultado que esse trabalho poderia ter. Porque para Nascimento e sua equipe “Missão dada, é missão cumprida, parceiro!” (Capitão Nascimento).

Reitor da Universidade Fumec Prof. Antônio Tomé Loures Diretora Geral Profª. Thaïs Estevanato Diretor de Ensino Prof. João Batista de Mendonça Filho Diretor Administrativo e Financeiro Prof. Antônio Marcos Nohmi Coordenador do Curso de Comunicação Social Prof. Sérgio Arreguy Monitores de Produção Gráfica Raoni de Faria Jardim e Danielle Cristine Vaz Tiragem desta edição: 3.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

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Cultura • 03

Editor e diagramador da página: Kelly Marinho - 5º período

O Ponto

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

De capitão a coronel: nasce um novo “herói” brasileiro Depois do sucesso da primeira versão, o filme Tropa de Elite 2 fez os expectadores “pedirem para entrar” em salas de cinema de todo o Brasil

Tropa de Elite 2 foi visto por cerca de 6,2 milhões de expectadores em todo o país de todas as faixas etárias, de jovens a idosos. Foram reservadas 686 salas para o longa no Brasil, ou seja, uma em cada três salas do país mostrou a saga do Coronel Nascimento. “Para conseguir assitir ao filme tive que ir ao BH Shopping comprar os ingressos três dias antes. Foi uma loucura. Não tinham ingressos e as filas estavam quilométricas. Eu fiquei mais ou menos três horas na fila e olha que fui na quarta para comprar os ticktes para a sessão de domingo. Imagina quem chegou no dia achando que ia ver o filme? Tenho certeza que se as pessoas pudessem elas teriam dormido na fila”, comenta o médico cardiologista Paulo Rodrigues, 45. “Como da primeira vez, ver Tropa de Elite 2 foi um grande desafio. Eu cheguei cedo ao Shopping e, mesmo assim, não consegui comprar os ingressos para o horarário que eu queria. Acabei comprando para bem mais tarde, voltando para casa e retornando depois. Mas tive a sorte de ver no mesmo dia”, afirma o estudante, Felipe Drummon, 17. O primeiro filme obteve o Urso de Prata no festival de Berlim em 2008, o prêmio máximo atribuído em um dos mais importantes festivais de cinema do mundo. O longa mostra a história do Capitão Nascimento, um importante policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que entra em conflito com os traficantes das favelas cariocas. Não deixando de mostrar ao telespectador a seleção não qualificada de policias para compor o Bope, os baixos salários e as falcatruas vividas dentro do Caveirão. “Eu me impressionei muito com o primeiro filme. As cenas eram muito reais. As cenas de tortura me torturaram. Cheguei a fechar os olhos várias vezes com medo e com dó dos caras. Um amigo meu, que é da Aeronáutica e estava assis-

tindo comigo, disse ter passado por tudo aquilo e afirmou que só não tomou tapa na cara. Definitivamente não concordo com esse tipo de coisa e jamais me submeteria a isso”, afirma a professora Maria Cristina, 54. “Sou professora de história. Sei de torturas e mais torturas espalhadas pelo mundo. Mas, com o que vi em Tropa de Elite, não concordo e não admito. Eles estão lidando com seres humanos acima de qualquer coisa.” O segundo filme conta uma história um pouco diferente: o protagonista está dividido entre as ideologias de esquerda e de direita. Apesar disso, ele conhece muito bem seus inimigos e os combate com segurança e firmeza. “Assisti Tropa de Elite as duas vezes e nunca acreditei que algo assim fosse possível e verdadeiro no Brasil. Esse fim de semana tive certeza absoluta que o BOPE não brinca em serviço quando assisti pela televisão o que aconteceu na Vila do Cruzeiro e no Complexo do Alemão na cidade do Rio de Janeiro. Eu não sabia se rezava para que o complexo fosse invadido ou se torcia para que os bandidos se rendessem para minha segurança porque eu estava no local cobrindo o que aconteceu por lá. E juro que nunca imaginei que isso fosse possível e que as forças armadas juntamente com a polícia tivessem tanta força. Por várias vezes eu me senti no meio do fogo cruzado como aconteceu em Tropa de Elite. Sugestão: façam o terceiro filme contando o que aconteceu no Rio”, afirma uma repórter que cobriu o combate no Complexo do Alemão e não quis ser identificada. Wagner Moura volta às telonas, em Tropa de Elite 2, na pele do personagem principal, 15 ano mais velho, com um filho adolescente que questiona a fama de policial agressivo do pai e seu novo cargo de sub-secretário de Inteligência. Dessa vez, ele faz o Bope crescer e acaba com o tráfico de drogras, sem saber que dessa forma está fortalecendo seus mais poderosos inimigos.

“Assistindo pela TV o que aconteceu nesse fim de semana no Rio de Janeiro, eu me pergunto se a operacão não estaria fortalecendo ainda mais as facções do tráfico no Rio e em todo Brasil. Espero que o tiro deles não saia pela culatra”, afirma a professora Rosemeire Maria, 64. A violência e a corrupção na polícia continuam da mesma forma só, que dessa vez, o foco está relacionado a temas mais ambiciosos e assustadores. Sem deixar de trazer novos bordões, os que fizeram sucesso no primeiro filme como: “Pede pra sair” e “O senhor é um fanfarrão” foram trocados por “Tá de pomba-girice comigo?” e “Quer me foder? Me beija”. Com o mesmo estilo ousado e polêmico, Padilha usa a mesma fórmula de Tropa de Elite 1 com um relato realista, frio e cruel da nossa realidade. No programa “Altas Horas”, apresentado por Seginho Groisman na Rede Globo, José Padilha disse que não tinha a dimensão exata do sucesso do filme, mas achava que a volta do público seria positiva porque sempre que utilizava os recursos de internet (facebook, youtube, twiter etc) as respostas eram positivas. O longa faz uma grande crítica ao governo e ao Congresso, até um deputado chega a ser espancado em cena, durante uma entrevista coletiva do filme, que ocorreu no dia 6 de outubro em Paulínia, Padilha disse que tentou filmar algumas cenas no Congresso, mas não teve o pedido aceito. Então, acabou executando a filmagem em estúdio e disse ainda “o filme é, sim, baseado em fatos reais, embora tenhamos modificado boa parte”. Tropa de Elite 2 tem roteiro de Bráulio Mantovani e é um misto de ficção e realidade adorado por milhares de brasileiros e que ainda forma filas quilométricas de espectadores na espera de assisti-lo. A história emociona e gera debates sobre fatos reais que acontecem nas delegacias do Brasil. O longa metragem foi nomeado o “melhor filme nacional de 2010”.

Fotos: Divulgação

JOANNA DEL’ PAPA 2º PERÍODO

Fotos: Alexandre Lima/divulgação

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04 • Comportamento

Editor: Diego Suriadakis e diagramadores da página: Diego Suriadakis e Raoni de Faria Jardim 6º e 8º períodos

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O Ponto

Arte: R a

oni de Faria Ja rdim

Faces do

Como um baralho e fichas se tornaram para muitos uma profissão. O jogo, antes considerado de azar, vem ganhando cada vez mais adeptos em todo o mundo CONRADO BRAZ 2º PERÍODO

(call) ou aumentá-la (raise). Foi com a internet que o poker teve sua explosão no mundo inteiro. A indústria de jogos on-line movimenta algo em torno de 130 bilhões de dólares por ano, e nos sites especializados joga-se contra pessoas de vários países. Espanhóis, ingleses, americanos, indianos e brasileiros estão por lá e, mesmo nos tempos de crise financeira, como em 2009, os sites registraram aumento no número de jogadores. O Full Tilt Poker (fulltiltpoker.com), gigante do ramo, teve um aumento de 94%, e o PokerStars (pokerstars.net), o mais famoso no Brasil, teve aumento de 37% no número de adeptos. Estima-se que 2,5 milhões de brasileiros frequentem as mesas eletrônicas. Em 2006 foi criado o Brazilian Series of Poker (BSOP), torneio que acontece todos os meses em várias cidades do Brasil. O BSOP se consolidou como o principal evento nacional e, além de divulgar o poker, vem reconstruindo sua imagem. A Federaçao Mineira de Poker foi fundada em 2006 e associações locais vêm ganhando força no estado, como Conselheiro Lafaite, João Monlevade, Contagem e Betim. “A gente faz pela diversão e pelas amizades, um jogo que só vem crescendo

em conceito e no número de adeptos. A discriminação existe apenas por falta de conhecimento”, diz Felipe Marques, um dos organizadores do “Betim Hold’em”. O último torneio organizado por ele contou com 60 inscritos. E eles já estão se preparando para o próximo, previsto para o meio de dezembro. O Esporte No final de abril de 2010, a Associação Internacional de Esportes da Mente (IMSA) aceitou a Federação Internacional de Poker (IFP) como associada, juntando-se ao xadrez, ao gamão, entre outros esportes. “Trata-se de um marco histórico no sentido de ver o poker ser reconhecido em todo o mundo como um jogo de capacidades estratégicas. No futuro, esta decisão deverá libertá-lo de muitas interferências governamentais e outras restrições desnecessárias em todo o mundo”, comemorou o presidente da IFP, Anthony Holdem. Com essa decisão, estará presente nas Olimpíadas de Esporte da Mente, que serão realizadas em Londres no ano de 2012. Os primeiros passos foram dados para que o poker seja aceito em todo o mundo. Cada dia crescendo mais, mostrando uma faceta não muito conhe-

cida à sociedade. O preconceito vai se dissipando aos poucos. Com as conquistas recentes, sua completa aceitação é uma questão de tempo. Quer apostar? A Legalidade Na Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941) são considerados jogos de azar aqueles nos quais o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte. Fora a polêmica definição dos termos ‘exclusiva’ e ‘principalmente’, peritos do Instituto de Criminalística da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo emitiram, em março de 2007, um laudo que tranquiliza os jogadores brasileiros: eles analisaram fichas, baralhos, a lógica do Texas Hold’em e concluíram que “trata-se de um jogo de habilidade, pois ficou constatado que a habilidade do jogador que participa desta modalidade de jogo depende da memorização, das características das figuras apresentadas no decorrer do jogo, e do conhecimento das regras e estratégias em função desses fatores, sendo, porém, o resultado final desta modalidade de jogo aleatório.”

Foto: Divulgação

No filme “Cartas na Mesa”, de 1998, o personagem Mike McDermott, vivido por Matt Damon, é um jogador amador de poker. No início da trama, ele perde as economias que pagariam seus estudos. Como a maioria dos filmes tem um final feliz,ele consegue recuperar seu dinheiro, mas a imagem inicial que o filme mostra é a mesma que muitas pessoas têm do poker: “jogo de azar que leva quem joga ao vício e à falência.” O jogo, que hoje é um dos mais praticados no mundo, possui algumas peculiaridades. Nele a sorte é apenas um detalhe. Muitas pessoas estudam suas técnicas e fazem dele uma profissão, tendo a oportunidade de viajar o mundo inteiro e obter lucros extraordinários, fazendo algo que gosta. Porém, o sucesso no poker não é fácil de ser obtido, logo, horas de estudo, leitura e prática são necessárias e nem mesmo os profissionais consagrados podem se acomodar e deixar de aprender, porque sabem que outros jogadores com habilidade estão surgindo. Há dúvidas sobre a origem do jogo. Sua lógica de apostas é baseada em acreditar ou desacreditar na própria mão

(combinação de cartas) ou na dos adversários como a possível vencedora, remete a um jogo alemão do séc. XV e também se assemelha a um carteado persa chamado Âs Nas. O que se sabe mesmo é que o jogo teve, nos Estados Unidos, seus primeiros entusiastas e, depois da criação do World Series of Poker (WSOP), e em 1970, começou a ser mais divulgado. Hoje suas premiações costumam ultrapassar os 60 milhões de dólares e os primeiros lugares levam bagatelas de 8 milhões de dólares. Dentre os vários tipos de poker existentes, o mais praticado hoje é o Texas Hold’em. Nessa modalidade, o jogador recebe duas cartas e cinco cartas comunitárias são abertas na mesa. O objetivo é formar a combinação de maior valor (ver ordem no infográfico) com cinco cartas, valendo-se das que estão em sua mão e das que estão na mesa. As cartas comunitárias vão sendo abertas uma a uma, antecedidas por uma rodada de apostas. Cada jogador aposta em suas possibilidades de vitória, no entanto, pode ainda valer-se do blêfe, uma aposta ‘supostamente’ lastreada. Vence a rodada quem tiver a maior mão ou quem fizer uma aposta superior, sem que ninguém tenha interesse em igualá-la

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Comportamento • 05

Editor: Diego Suriadakis e diagramadores da página: Diego Suriadakis e Raoni de Faria Jardim 6º e 8º períodos

O Ponto

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

PALAVRA DE UM PROFISSIONAL Em entrevista ao jornal O Ponto, o jogador profissional que prefere se identificar apenas como Marcelo, conta um pouco da sua vida no poker.

Quando você começou a jogar profissionalmente? Fotos: Conrado Braz

Comecei a jogar profissionalmente este ano. Como tomou essa decisão? Eu decidi virar um jogador de poker quando eu percebi que, quem tem um conhecimento avançado do jogo e consegue usar a técnica a seu favor, em longo prazo, se sobressai entre os demais jogadores e, assim, lucra no jogo. Depois de um ano jogando pôquer on-line, percebi que o dinheiro que eu ganhava poderia me dar uma estabilidade financeira dentro de alguns anos, então, em 2010, eu resolvi focar nesta renda.

Participantes na última edição do torneio Betim Hold’em

Você joga mais pela internet ou em clubes, torneios regionais etc.? Eu jogo diariamente pela internet. O jogo acontece 24 horas por dia e eu posso escolher quando vou jogar, assim eu tenho um horário bem flexível para fazer as coisas que eu quero. Eu também jogo ao vivo, mas por diversão e com meus amigos, são valores mais baixos, pois o objetivo é nos divertirmos. Já foi a outros países para jogar? Não. Nunca viajei para fora do Brasil para jogar. Mas em 2011 vem eu vou viajar para Las Vegas e jogar o torneio principal do World Series of Poker. Quando decidiu ser um jogador de poker, qual foi a reação da sua família? Te apoiaram?

As combinações Royal Straight Flush Straight Flush Four Full Hand Flush Straight (sequência simples)

Quando eu resolvi levar a vida de um jogador de pôquer meus pais ficaram preocupados, pois, no Brasil, existem algumas lendas que comparam o jogo de hoje com o jogado antigamente. Mas, aos poucos, eu consegui demonstrar que, com disciplina e técnica, o poker pode ser um jogo sem grandes riscos e com um retorno bem favorável. Já sofreu algum tipo de preconceito por ser um jogador? O preconceito existe quando as pessoas pensam que o jogo é um ciclo onde um dia você ganha e no outro você perde tudo e que comigo aconteceria a mesma coisa, mas eu tento demonstrar que eu tenho um controle muito grande do jogo e que minhas perdas, quando ocorrem, são bem controladas de acordo com o valor que eu estou jogando e que não existe a possibilidade de eu perder tudo que tenho. Quanto você ganha em média por mês?

Trinca Dois Pares Par

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O jogo é em dólares e eu venho ganhando uma media de 10 mil dólares por mês. Estou na minha meta pessoal que são 120 mil dólares por ano. Tenho um lucro de mais de 300 mil reais/ ano jogando pôquer na internet desde 2009.

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06 • Economia

Editor e diagramador da página: Larissa Borges 6º Período

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O Ponto

Caiu na rede...

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É Peixe Urbano, ClickOn e Vale Junto; esses sites promocionais são procurados pelas empresas que visam fisgar clientes através das compras coletivas na internet

Fotos: divulgação

URSULLA MAGRO ALINE BAUMGRATZ 2º PERÍODO Os sites de compras coletivas são uma das novas atrações da internet. Sites como Peixe Urbano e Click On oferecem descontos de até 90% em diversos estabelecimentos que apresentam serviços distintos aos usuários da web, ofertas para qualquer tipo de público e faixa etária cativam clientes para os lojistas e facilitam a vida econômica dos usuários. Este segmento de compras online surgiu nos Estados Unidos em 2008, como o groupon.com, e fez um enorme sucesso. No Brasil, o segmento tem pouco mais de um ano, mas a popularidade já é grande, sites como o Peixe Urbano, ClickOn e Vale Junto viraram uma verdadeira febre, principalmente nas redes sociais. Segundo uma pesquisa feita pelo Ibope, publicada no início de novembro, no período de julho a setembro, os sites de compras coletivas foram acessados por 5,6 milhões de pessoas, o equivalente a 14% dos usuários totais da internet. Em

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A vantagem dos sites de compras, além dos descontos oferecidos, está na comodidade de poder comprar a qualquer momento e de qualquer lugar. junho, a audiência era de 1,7 milhão de usuários, ou seja, em apenas três meses houve um aumento de cerca de 231% nos acessos aos sites. O funcionamento dessa nova mania na web é simples: a oferta é postada no site por tempo limitado e só é efetivada caso um número mínimo, já estipulado previamente, de compradores seja alcançado. Quem quer efetuar a compra depende do interesse de outros e, muitas vezes, para adquirir o objeto de desejo indica o site para amigos na pretensão de formar um grupo de compradores. Essa forma de divulgação, por e-mail e redes sociais, acaba funcionando como a antiga propaganda boca a boca, de forma barata e inteligente para o site. Para os empresários, o anúncio no site é um bom meio para divulgar os seus serviços e montar uma cartela de clientes. Após ofertar pacotes de tratamentos estéticos em sua clínica, localizada em Belo Horizonte, no Vale Junto e no Click On, a médica Bárbara Horta Duarte teve que dobrar o horário de funcionamento do local e contratar mais uma secretária e uma telefonista. Além das linhas de telefone que não ficam desocupadas, o volume de pacientes é muito grande e para atendê-los sem perder a qualidade, os custos são elevados. “Meu objetivo maior é conquistar novas clientes e divulgar a clínica. Por isso, preocupo-me tanto com a qualidade dos aparelhos e materiais que uso. Não faço distinção entre as pacientes dos sites e as demais, o atendimento é igual para todas”, afirmou a médica. Do valor cobrado pelo serviço, 50% é retirado como comissão para o site, que só repassa o restante para o anunciante 30 dias após a entrega dos vouchers (cupons de desconto apresentado pelos compradores). A médica, que cobra R$ 170 por um pacote de depilação a laser, que sairia por R$

850, fica com apenas 10% do que receberia caso a depilação a laser fosse cobrada pelo valor da tabela não promocional. O gerente geral do restaurante Surubim na Brasa, Robson Furtado, também apostou na popularidade do site de compras e aumentou os freqüentadores do local. Porém, foram impostas algumas regras para quem apresentasse o cupom. “Nas primeiras duas semanas vinha muita gente que comprou o voucher, mas só aceitamos um cupom por pessoa. Estabelecemos alguns cuidados: o cupom tem validade de 60 dias, a promoção não abrange vinhos e bebidas quentes, como whisky, e quem comprou o cupom só pode usá-lo de terça-feira a sábado a partir das 19h”, explicou o gerente. A vantagem dos sites de compras, além dos descontos oferecidos, está na comodidade de poder comprar a qualquer momento e de qualquer lugar. A possibilidade de fazer cotações de preço em vários sites, de avaliar se é melhor comprar um produto usado ou novo também são fatores que animam até os mais econômicos. A novidade e a curiosidade que os sites despertam, completam o boom das compras coletivas. Apesar dos benefícios, tanto para empresários quanto para os usuários, lidar com compras coletivas requer cuidado. A estudante de veterinária Alinne Gonçalves, 27 anos, conta que já foi vítima de promoção capciosa oferecida por uma clínica de estética. “Anunciaram um grande desconto em sessões de depilação a laser da axila, diziam ter os melhores aparelhos e realmente tinham, mas não foram os usados em quem comprava a promoção. Além disso, a pessoa que manejava o aparelho era a recepcionista porque o local estava lotado e eles não tiveram

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tempo de contratar outra pessoa. Fiquei indignada”, desabafou a estudante. Do outro lado, Robson Furtado sofre com pessoas que tentam falsificar os cupons da promoção anunciada. Alterar o código do voucher, quando este é pedido pelo estabelecimento através do e-mail, facilita a sua falsificação. “Já aconteceu de termos que barrar alguns clientes por mudarem os códigos, mas o Surubim tem uma lista com todos os códigos cadastrados no Peixe Urbano para evitar esse tipo de ação”, esclareceu o gerente. Os sites não dão garantias dos produtos e serviços oferecidos. As empresas anunciantes não passam por nenhum tipo de fiscalização, o que pode reservar surpresas, gratas ou não aos clientes. No país das compras parceladas, o desejo pelo consumo é proporcional à tentação do imenso desconto. Por isso, para se aventurar nesse mar de descontos, recomenda-se cautela.

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Economia • 07

Editor e diagramador da página: Izabela Linke - 6º Período

O Ponto

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O uso do na publicidade A cada dia, o microblog mais acessado do mundo vem ganhando espaço no marketing corporativo

O Twitter ganhou, de vez, o coração e o navegador dos brasileiros. A vida em 140 caracteres se mostrou possível e hoje não há quem não se pegue, eventualmente, formatando seu pensamento para adaptá-lo ao modelo do microblog. Nasceu como ferramenta de comunicação interna em uma empresa norte-americana, a Odeo Inc., em que só funcionários e familiares podiam fazer parte. Mas ele cresceu. E como! Hoje o Twitter registra mais de 145 milhões de usuários e, em quatro anos de existência, atingiu a marca de dez bilhões de mensagens. Se alguém estiver contando, são 1,4 trilhão de caracteres convertidos em informações pessoais, notícias, pensamentos soltos, comentários e até discussões. Empresas do mundo inteiro descobriram no Twitter uma forte ferramenta para anunciar seus produtos e interagir com os consumidores. De acordo com o site especializado em mídia, Brand Republic, dois bilhões de postagens (20%), fazem referência a uma marca ou produto. Isso reforça a ideia de que, além de meio de comunicação e entretenimento, a rede social vem sendo usada comercialmente. Companhias de diversos segmentos estão utilizando a rede para estabelecer uma relação mais próxima e mais dinâmica com seu público, além de criar promoções exclusivas para seus seguidores. A Tanara Brasil (@tanarabrasil) é uma marca de calçados e acessórios da empresa ligada a marca Dakota que utiliza o Twitter. Sempre presente no microblog, atualiza a página frequentemente, interage com os outros usuários, fala sobre moda, dá dicas sobre as novas tendências e, claro, divulga a própria marca anunciando

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lançamentos e fazendo referências às suas coleções. (Leia a entrevista com a gerente da Tanara Brasil, Denise Lehnen Braun nesta página) Outras redes Assim como a Tanara Brasil, várias companhias marcam presença em outras redes sociais, como o Orkut e o Facebook. A maioria das pessoas que utiliza esses dois sites de relacionamentos está lá para encontrar e interagir com outras pessoas, entram uma ou mais vezes por dia para checar se receberam alguma nova mensagem ou se alguém adicionou alguma nova foto. No Twitter é diferente. As pessoas que fazem uso dele geralmente estão lá em busca de informações, atualização de notícias, acompanhamento de coberturas de eventos etc. Atingir o usuário que está atrás de novidades com mais rapidez é uma das vantagens da ferramenta. Empresas e pessoas comuns ocupam o mesmo nível no Twitter, todas têm disponíveis as mesmas ferramentas e a mesma facilidade para escrever o que desejam. Por essa possibilidade de contato direto, as empresas conseguem também um retorno mais rápido de seus consumidores. Uma das maiores fabricantes de computadores no Brasil, a Dell (@dellnobrasil), também faz uso do microblog. Segundo o site de notícias, AdNews, a Dell movimentou, no ano de 2009, cerca de US$800 mil em vendas pelo Twitter no Brasil. Outra empresa que obteve sucesso em vendas desse tipo foi a imobiliária Tecnisa (@ tecnisa), ela foi a primeira a vender um apartamento via Twitter. O perfil no site é usado desde julho de 2008 e se dedicava apenas à divulgação de seus empreendimentos. Em abril de 2009, a Tecnisa fez uma promoção exclusiva para usu-

ários da rede em que, a partir de um link postado, tinha-se acesso a uma página especial no site da empresa. Ao acessar a página uma pessoa se interessou por um apartamento e fechou negócio. Na época a empresa tinha 357 seguidores. Hoje a Tecnisa é seguida por mais de 8.000 frequentadores do Twitter. Ha mais de um ano existe a especulação de que o Twitter começaria a cobrar pelo uso comercial dos perfis. Biz Stone, co-fundador do microblog, disse a Marketing Magazine que eles estão notando que mais empresas usam o Twitter, e que as pessoas estão seguindo-as. “Podemos identificar maneiras de tornar essa experiência ainda mais valiosa e cobrar por contas comerciais”. Mas Stone garantiu, em um evento que esteve em São Paulo, que para pessoas e empresas com perfis comuns o Twitter continuará de graça. Ótima notícia para os “tuiteiros“ de plantão, que já se apaixonaram pelo passarinho azul que parece sempre querer saber “O que está acontecendo?“.

Foto: Maria Clara Evangelista

MARIA CLARA EVANGELISTA 2º PERÍODO

Alguns dos mais poderosos e bem-sucedidos empresários brasileiros também estão no Twitter. Eles utilizam o espaço para dar dicas sobre sucesso na carreira, empreendedorismo, comportamento empresarial e ética, além de compartilhar suas próprias experiências. Eike Batista (@eikebatista) Bilionário, dono e fundador da EBX. Segue 17 pessoas e é seguido por 210.145. “Espero estar sendo util para vocês! Tive bons exemplos para seguir, acho que é uma das coisas mais importante em nossas vidas”. Roberto de Lima (@robertoodelima) Dono da Vivo. Segue 23 pessoas e possui 6.120 seguidores. “As oportunidades não estão em buscar capturar valor no mercado. Estão em criar valor para a sociedade. Esse é o nosso papel.”

Denise Lehnen Braun é gerente de vendas e marketing da Tanara Brasil há oito anos. Ela é responsável pelo Twitter da empresa, suas ações, promoções e divulgação. Em uma curta entrevista a O Ponto, Denise conta como é o uso do microblog pela empresa. O Ponto - Como surgiu a ideia de desenvolver um Twitter para a empresa? Denise Braun - Precisávamos de uma ferramenta que nos aproximasse mais das nossas consumidoras queríamos ouvir mais elas, trocar idéias, o Twitter caiu como uma luva pra essa nossa necessidade. Qual o maior objetivo da empresa com a ultilização do Twitter? Relacionamento. Acreditamos muito que esse contato mais íntimo e direto com as nossas meninas podem se tornar grandes idéias! Com relação a esse objetivo, o uso do Twitter permite um retorno visível? Sim. O retorno do Twitter é muito rápido. Fazemos muitas pesquisas dentro dele e as respostas são imediatas. Isso significa que as nossas meninas gostam de participar, gostam de se sentirem ouvidas e a gente valoriza muito isso. O que a realização de promoções repre-

senta nesse retorno? As promoções que realizamos via twitter são uma espécie de “confraternização” com as nossas seguidoras, gostamos de realizar esses tipos de ações. Assim, cada vez mais e mais pessoas conhecem e comentam sobre a nossa marca e nossas ações. O Twitter é uma rede de relacionamentos online para pessoas físicas, mas a cada dia, o número de empresas e marcas que fazem uso do microblog cresce. O que você acha sobre essa nova utilização do Twitter como um segmento comercial? Na nossa opinião precisamos usar essa ferramenta de maneira mais pessoal que empresarial. Tratamos com pessoas que se interessam por assuntos importantes pra elas, por isso gostamos de tratar o nosso Twitter como o de qualquer outra pessoa, gostamos de contar as novidades que vimos por aí.

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Editor e diagramador da página

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O Po onto

Sorria: você pode ter sido fotografado Em tempos de sensacionalismo, reality shows e exposição nas redes sociais, Google Street View reacende a polêmica sobre a privacidade do cidadão e gera indignação de flagrados em situações constrangedoras

Funcionarios da Google em frente à sede da empresa em Belo Horizonte

IZABELA LINKE 6º PERÍODO Em uma época onde a autoexposição é palavra de ordem, o que determina o limite da privacidade? A partir de que ponto esse mesmo limite pode se considerar invadido? O engenheiro Hevaldo Duarte instaurou processo contra o Google, na 35ª Vara Cível no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, após ser flagrado vomitando na Savassi em plena luz do dia, pelas câmeras da mais nova ferramenta da multinacional, o Google Street View. Ele vestia o uniforme com o logotipo da empresa em que trabalha, e seus superiores teriam lhe repreendido, além de ter causado constrangimento perante colegas e amigos, pois a imagem daria a entender que a situação teria ocorrido por estar embriagado. O engenheiro explicou que o real motivo de ter passado mal teria sido por ter acabado de almoçar e pelo dia estar muito quente. A juíza Luzia Divina de Paulo deferiu a liminar de Duarte no

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dia 11 de novembro, e deu um prazo de 48 horas para que o Google retirasse a foto do site, sob pena de uma multa de 5 mil reais diários. Com o trâmite de intimação, esse prazo se expirou no dia 19. O Google aguardou até o último dia para executar a remoção da imagem e, portanto, não pagará nenhuma multa. Genoveva Martins, advogada de Hevaldo, defende que a simples remoção da foto do site não reparará os danos sofridos pelo seu cliente. Uma indenização de meio milhão de reais será pedida no processo, mas as possibilidades de um valor tão alto ser deferido pela Justiça são pequenas, já que se poderia considerar ‘enriquecimento ilícito’ em tal situação. No dia 30 de setembro deste ano, a nova ferramenta do império Google, o Google Street View entrou no ar. O mecanismo funciona integrado aos já muito utilizados Google Maps e Google Earth, com a diferença de fornecer detalhes incríveis sobre a localização desejada, já que a visão é uma perspectiva

“A juíza Luzia Divina de Paulo deferiu a liminar de Duarte no dia 11 de novembro, e deu um prazo de 48 horas para que o Google retirasse a foto do site, sob pena de uma multa de 5 mil reais diários.” do nível da rua, como se você estivesse parado ali, em frente ao endereço. Desde janeiro, um carro da Google circulou pelas principais cidades e capitais do país com uma câmera especial acoplada ao teto, que permitiu a captura das imagens em 360º. A primeira fase do projeto foi feita em parceria com a FIAT, que forneceu os veículos que foram adaptados com as câmeras. De acordo com a Google, foram percorridos mais de 150 mil quilômetros em 51 municípios, segundo informação do portal Terra. Quando iniciou a

captura de imagens no país, a Google anunciou que o plano era registrar todas as cidades brasileiras escolhidas como sede para a Copa do Mundo de 2014. Belo Horizonte é uma das capitais que foram mapeadas, bem como a região histórica de Minas Gerais - Congonhas, Mariana, Tiradentes, Diamantina, São João Del Rei e Ouro Preto. Não estaria mentindo se dissesse que, no dia de seu lançamento, o Brasil parou. Agências de comunicação, escritórios e empresas em geral suspenderam suas atividades e em todos os computadores o que se via na tela eram casas, avenidas, prédios, cenas curiosas e o que mais o Google Street View permitisse. O Brasil se encantou. As redes sociais pareciam não ter outro assunto. Cada um dos meus amigos, seguidores e seguidos estavam comentando o novo “brinquedo” e, em questão de minutos, já circulavam na Web cenas engraçadas e flagras estranhos da famosa câmera.

Privacidade Apesar do caráter curioso e divertido que a ferramenta provoca a priori, muitas discussões surgiram em torno da mesma. Questões foram levantadas e dividiram muitas opiniões pelo país. Uma delas, e talvez a mais popular, seja a questão da privacidade. A alta resolução das câmeras e a riqueza de detalhes das imagens capturadas colocaram a privacidade em pauta. As câmeras da Google registraram inúmeras outras cenas constrangedoras, como uma mulher com os seios de fora em plena rua, no Rio de Janeiro, garotas de programa sendo abordadas por possíveis clientes, um senhor olhando cartazes pornográficos na vitrine de um cinema pornô e carros estacionados em uma sauna gay, em São Paulo, dentre outras imagens que surgem a cada dia em blogs e sites especializados no assunto. Afinal, como definir, em pleno século XXI, a linha que separa o público do privado? Matéria da Folha.com informa

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a página: Vitor Mello 6º Período

O Po onto

Belo Horizonte, Dezembro de 2010 tas vezes, criada por nós mesmos)? Eu acredito que a razão não seja apenas a questão da privacidade, mas que tipo de privacidade está sendo divulgada. Isso porque, no Google Street View, não temos o poder de selecionar o que vai para a rede. Estamos acostumados a editar a ‘realidade’ de acordo com aquilo que queremos mostrar, com a história que pretendemos contar. E quando não temos esse poder de edição, quando não podemos escolher a melhor imagem, o melhor ângulo, a melhor versão, nos sentimos invadidos. Sentimos que nossa privacidade está sendo desrespeitada. Por isso a linha entre público e privado é turva. Afinal, é público e privado para quem?”, conclui Luciana. Kelson Martins, 27, publicitário, designer e heavy user da rede, acredita que a privacidade nem cabe ser discutida ao falarmos do Street View. Para ele, quem reclama sobre a questão são as mesmas pessoas que possuem perfis nas redes sociais, como o Orkut, Twitter e Facebook. “Isso é uma contradição já que usam as redes exatamente para dizerem onde vão, com quem vão e a que horas”, afirma Kelson. Já Ariane Muniz, 26, vai para o lado oposto e é uma das que condena a ferramenta por sua invasão à intimidade. Apesar de achar muito interessante a nova funcionalidade, e inclusive chamar a riqueza de deta-

lhes de vantajosa, ela acredita que o mesmo detalhamento pode ser prejudicial por expor demais as pessoas e, inclusive, aumentar a falta de espaço que já existe na vida, consequência de outras ferramentas tecnológicas existentes. Segurança Outra questão que surgiu com grande força, quase exclusivamente no Brasil, foi a segurança. A preocupação mais demonstrada foi com a possibilidade do Street View facilitar roubos e assaltos, que poderiam passar a ser planejados a partir das imagens das fachadas, fundos e telhados das casas e prédios, mostrando as brechas na segurança física tanto da rua quanto da construção em si. A falta de cerca elétrica, grades, tipo de cadeados usados, se o prédio tem ou não um porteiro, são coisas que poderiam ser melhor estudadas pelo uso da ferramenta e, dessa forma, criar um enorme problema na segurança do país. “Teve um caso na Inglaterra de um assaltante que roubava telhados de alumínio e ele olhava as casas que ia assaltar pelo Google Earth. Mas falar que ladrão vai fazer isso ou aquilo por conta de internet é ignorar os séculos de assaltos e roubos que nunca precisaram disso pra acontecer”, é o que diz Kelson. Leonardo Cabral, 26, também acredita que toda a questão é descabida. “Se eu quiser fazer estudo de lugar com intenção de prática de

crime, na pior das hipóteses eu mesmo vou lá e fico rodeando o local”, ironizou Cabral. A verdade é que invasões domiciliares e assaltos nunca dependeram da tecnologia para existir. Quantos casos já nos foram mostrados de mulheres estupradas e assassinadas por homens que conheceram nas redes sociais, quantas pessoas liberam, diariamente, informações sobre sua rotina, sua casa e seus hábitos, além de dados pessoais como senhas de banco? Retornamos à questão inicial. Como delimitar, hoje, o privado, sendo que a minha menor decisão, sentimento ou gesto é anunciado publicamente durante o dia na rede? Talvez seja o momento de refletir mais sobre a hipocrisia da sociedade na sua recusa a reconhecer que novos valores e novos horizontes estão surgindo e se expandido a cada dia. Os hábitos, dentro e fora de casa, a noção de propriedade, intimidade e coletividade, os relacionamentos e mesmo a nossa própria construção da personalidade e da individualidade estão se alterando. As novas tecnologias foram transformando a forma como nos relacionamos com tudo o que nos rodeia. O Street View, por exemplo, muda totalmente nossa forma de nos localizarmos e orientarmos ao procurar um endereço. Com essa ferramenta, não nos apoiamos mais em referências aproximadas, o que vemos é exatamente o lugar que procuramos.

Com isso, a facilidade de se localizar e até mesmo de “estudar” o ponto procurado é absurda. Talvez se você visse a aparência de uma empresa antes de se candidatar ao cargo, nunca teria feito a entrevista. Ou mesmo na hora de comprar imóveis ou visitar um amigo, se a possibilidade de ver o bairro - as ruas, a circulação, terrenos, etc. - existisse, tudo seria diferente. Talvez você nem ligasse para a imobiliária ou talvez evitasse se perder em um lugar confuso, de madrugada, na volta de uma festa ou coisa do tipo. Fato é que o Google Street View facilita o acesso à informação. O que é extremamente coerente com a velocidade em que vivemos. Precisamos de informação rápida e eficaz. Essas ferramentas são fruto do ritmo de vida que nós mesmos ditamos. Por outro lado, acho que precisamos discutir que tipo de informação é essa e quais são os limites que precisamos delimitar para essas tecnologias. Essa ferramenta é mesmo essencial ou, simplesmente, é mais um artifício do espetáculo da vida privada? Deixo a reflexão para o leitor, e concluo com a fala de um amigo - e colaborador nessa construção, como os demais -, Edgar Filho, 26, que disse que “pessoas, em sua maioria, levam muito ao pé da letra quando se trata de responder perguntas como ‘No que você está pensando agora?’ (frase de fundo do Facebook). O limite começa com a gente”.

Imagens do Google Street View

que especialistas dizem que a privacidade é um conceito do século XIX e que perdeu o valor nessa nova geração, que vive e transita entre redes sociais, webcams e outros dispositivos. Uma geração educada e habituada à exposição e à exibição deliberada de seus dados pessoais, seus valores, gostos, desgostos e até mesmo pensamentos. Em uma sociedade do espetáculo, num Brasil de reality shows e circos da mídia, caberia discutir o limite entre o público e o privado? Luciana Gomes, 27, formada em Comunicação Social, acha que, há tempos, estamos vivenciando uma mudança nas formas de sociabilidade. E, diante desse cenário, a noção de público e privado está cada vez mais diluída. Hoje tudo acontece de forma rápida e instantânea. Por meio das novas tecnologias, acessamos um mundo de informações praticamente em “tempo real”. Além disso, estamos inseridos em uma cultura extremamente visual, ou seja, as imagens são essenciais. E esse fluxo de informações, principalmente no ambiente virtual, instiga a curiosidade pelo outro. “Deixamos de experimentar o presente para transformar a experiência em imagens e compartilhá-las através das redes sociais. Enfim, sabemos que somos vigiados e alimentamos esse processo o tempo todo! Então, por que o Google Street View incomoda tanto se já estamos habituados a uma exposição exacerbada, (mui-

Homem é flagrado olhando cartazes em frente a um cinema pornô

Carros estacionados em sauna gay, pegos pela Google.

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Jovem faz “bunda-lelê” para o carro do Google em São Paulo

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Editor e diagramador da página: Franco Serrano - 4º Período

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O Ponto

Hospitais particulares e públicos agonizam O aumento da demanda e o pequeno número de profissionais qualificados desagradam usuários de hospitais públicos e os clientes da rede particular MARIA EDUARDA RAMOS RHIZA CASTRO 2º PERÍODO

Hospital Lifecenter, em Belo Horizonte, enfrenta problemas semelhantes aos hospitais da rede pública.

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O paciente, além de sofrer com a própria doença, ainda tem que suportar a “doença” do sistema de saúde. Ao procurar por um hospital para buscar assistência médica, confia-se, no primeiro momento, que o problema será solucionado pelos melhores e confiáveis profissionais. Acredita-se que eles estão ali à nossa espera. Porém, o que muitas vezes vem acontecendo nos hospitais de Belo Horizonte, tanto os públicos quanto os privados, não é bem isso. Vera Lúcia, 70, tinha uma cirurgia para retirada de cálculo renal agendada por meio de convênio com a Unimed, no mês de outubro de 2010. Vânia Castro, 47, era acompanhante de sua mãe em um hospital particular da capital. Ela afirma que sua necessidade não foi atendida. “Acredito que o hospital esteja passando por algum problema de direção e organização. Na recepção, quando

fui fazer a internação, foram pedidos todos os documentos e foi preenchido um contrato. Na hora de assinar o contrato, o li para confirmar os dados e se eu não o tivesse lido com todo o cuidado, a minha mãe iria ser internada com um outro nome. Foi necessária a reformulação do contrato.” Perguntada sobre o que ocorreu após a internação, Vânia deixou claro a sua indignação. “Não. Fomos chamadas para ir direto ao bloco cirúrgico. Por ela ter esclerose múltipla, ser totalmente dependente de cadeira de rodas e precisar de alimentação por sonda, eu tive que acompanhá-la com toda a documentação, exames etc. Fiquei com ela no bloco, ajudei os enfermeiros a prepará-la para a cirurgia e entreguei nas mãos do médico cirurgião os exames pedidos. Saí do bloco e fiquei esperando no quarto. Depois de quase uma hora de espera, chegou uma enfermeira pedindo aqueles exames que eu já havia deixado com o médico. Ela teimou que os exames não estavam com os profissionais e que só poderia efetuar a cirurgia com os exames em mãos. Após o término da cirurgia, fui chamada para ficar com ela na sala de recuperação. Ao chegarmos, ela estava com o pé machucado e foi confirmado que a machucaram dentro da sala de cirurgia. Quando ela recebeu alta, entregaram a alta dela junto com a alta de uma terceira mulher. Além de todos esses erros ocorridos, o atendimento não foi o esperado. Os profissionais chegavam no quarto com má vontade, como se estivessem fazendo favor. Estes acontecimentos

deixam claro que, até mesmo os hospitais particulares estão deixando a desejar quanto ao profissionalismo.” Uma profissional e usuária do plano do Instituto de Prêvidência Social do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), que é um plano exclusivamente para o funcionário público estadual, que prefere não ter seu nome citado, revela que a assistência da saúde precisa melhorar sim, os profissionais da saúde precisam se conscientizar da importância do seu papel diante da equipe interdisciplinar. Afinal, de que adianta um exercer bem o seu papel enquanto o outro não o faz. Porém, o paciente também tem que cumprir o seu papel, ter respeito aos profissionais. “Alguns chegam e faltam ao respeito, falando que estão pagando e que querem ser tratados muito bem. Tem que existir respeito de ambas as partes, profissional com paciente e vice-versa. A realidade, hoje, é que o IPSEMG é um bom plano e está passando por uma reforma, mas não adianta só melhorar a parte física” A obstetra e ginecologista, que atua há 19 anos na rede hospitalar pública e particular, Mônica Lisboa conta que existem certas dificuldades no atendimento ao paciente tanto na rede pública quanto privada. “O sistema de ambas as redes está muito sobrecarregado, o que gera essa insatisfação é a existência de grande população para ser atendida pela pouca quantidade de profissionais da saúde. O que interfere diretamente na relação médico/ paciente, o profissional não tem tempo de estender uma conversa sobre como o paciente está se sentindo, tendo que ser uma consulta objetiva. A insatisfação fica generalizada. A medicina avança e as pessoas trabalham muito, o médico se tornou um operário da saúde, isso interfere na qualidade do atendimento. O profissional não consegue trabalhar da melhor maneira possível e como gostaria por causa da pressão de muitos atendimentos, da correria.” Conclui.

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Editor e diagramador da página: Andréa Basdão - 6º Período

O Ponto

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

Sem o d no deficiente Por meio de políticas governamentais, mas também a partir da iniciativa própria, portadores de necessidades especiais têm conquistado cada vez mais seu espaço na sociedade

ALLAN KLEITON E GIOVANNI RODRIGUES 2º PERÍODO Não está longe o tempo em que muitas pessoas julgavam os deficientes como excluídos do convívio social. Esse preconceito ainda persiste, embora não faltem informações e campanhas para combater essa discriminação. Talvez o sentimento de impotência não seja somente de quem possui alguma deficiência. Tanto a sociedade quanto o próprio deficiente podem sucumbir à esse falso argumento de que não há espaço para os portadores de necessidades especiais. Em pleno século XXI, a garantia do exercício dos direitos de cidadania nasce, além do auxílio das leis, da força de vontade do ser humano. Se muitos acabam acreditando numa perspectiva, outros, tornam-se exemplo de superação, “matam” a bola no peito e fazem um golaço. É o caso de Rubens Jamaica, 46 anos, que começou a praticar esportes na adolescência e, por alguns anos, teve seu sonho interrompido.

Quando tinha 17 anos foi atropelado e teve, como sequela, uma atrofia muscular na perna direita, ficando dependente de muletas. O que fazer? Desistir de tudo? Não foi o que aconteceu neste caso. Jamaica procurou superar todas as dificuldades sendo altruísta. Hoje, é voluntário do projeto Criança Esperança, e ajuda os jovens das periferias a praticar esportes depois da escola. Não deixou seu projeto de vida no banco de reservas, olhou para frente e buscou os caminhos em que pudesse contribuir para sua felicidade e a esperança daqueles com quem se identifica. “Sei dos perigos que há na rua e faço de tudo para tirar os jovens dela”, desabafa. “Já fui usuário de drogas e, nem por isso, desanimei. Perdi vários amigos e, por isso, há anos, não uso. Talvez, naquela época, tenha sido uma fuga para a minha nova realidade (atrofia muscular da perna direita) e posso garantir que não valeu a pena”, afirma Jamaica.

apenas ser aceitos, Empresas com mais de 100 mas recolocados num empregados, 2% das vagas são para mundo que também deficientes; de 201 a 500 funcionários, os pertence. 3%; de 501 a 1000, 4%; de 1001 em Outro exemplo Ana Carolina, 36, diante, 5%

também não se intimidou e, ao passar em um concurso público, tornou-se funcionária do Ministério do Trabalho no setor de encaminhamento. Com orgulho em ajudar os necessitados, Ana Carolina está satisfeita em ver que os rumos do preconceito hoje são outros. “Sinto-me feliz e procuro ajudar outras pessoas a ingressarem no mercado de trabalho. Até mesmo ex- presidiários que chegam aqui em busca de um recomeço”, afirma. Esses são exemplos de que, aos poucos, a superação passa por cima de qualquer tipo do preconceito. No setor em que Carolina trabalha, no Ministério do Trabalho, há um balcão de oportunidades de emprego, especializado em encaminhar portadores de necessidades especiais ao mercado de trabalho, através da lei de cotas, que completa dezenove anos em dezembro . O balcão de empregos

Por estar sempre disposto a ajudar, ele se empenha para que seus alunos tenham um futuro melhor que o seu. Não que considere sua vida um fracasso, até porque, além de se dedicar ao próximo, não esquece de seus ideais. Para Jamaica, viver com qualidade é fundamental. Além de jogar futebol com outros deficientes, possui um time que disputa campeonatos e conquista muitos títulos. Para ele, o pior sentimento que um deficiente pode ter é a auto-rejeição. Chegou a cobrir com faixas e panos sua perna atrofiada para que aparentasse uma “certa normalidade”. “O preconceito sempre existiu. Mas pode diminuir”, comenta. Rubens acredita na conscientização das pessoas sobre os valores em geral e que os deficientes não devem

de BH, só em 2010, encaminhou mais de 600 pessoas ao mercado de trabalho por meio do núcleo de oportunidades, que possui um cadastro de empresas dispostas a contratar. O encaminhamento é feito seguindo o perfil de cada empresa, como explica Reginélia Catharina Glicério, coordenadora do núcleo de Minas Gerais. “Esse trabalho de garantias também segue o protocolo de fiscalização. O Ministério do Trabalho pode multar as empresas que não cumprem a lei de cotas. Nas empresas que tiverem mais de 100 empregados, ao menos 2% de seus funcionários tem que ser deficientes; de 201 a 500 funcionários, 3%; de 501 a 1000 funcionários, 4%; de 1001 em diante, 5%. Enfim, o mundo está sendo modificado e as idéias renovadas. Independente da maneira com que os portadores de necessidades especiais ocupam seus espaços, sendo pelo cumprimento da Lei ou por vontade própria é visível que as dificuldades não podem ser substituídas pela incapacidade. Ser diferente não significa ser alheio aos sonhos e s realizações.

Fotos: Giovani Rodrigues

Fotos: Andréa Basdão

Rubens acredita na conscientização das pessoas sobre os valores em geral e que os deficientes não devam ser aceitos, mas recompostos num mundo que também os pertence

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Editor e diagramador da página: Ana Clara Maciel

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O Ponto

Feira Hippie demanda novo layout Falta de espaço para locomoção entre as barracas e insegurança são alguns dos motivos para proposta de mudança na organização espacial da tradicional feira, causando discussão entre artesãos e prefeitura Fotos: Ana Claudia Ferreira Castro e Roberta Colen Moreno

ANA CLAUDIA FERREIRA CASTRO ROBERTA COLEN MORENO 2º PERÍODO

“Domingo de manhã, por volta das 10h, abro minha bolsa para pegar o dinheiro e, surpresa. Fiquei chocada. Tinha um furo dentro da minha bolsa e minha carteira tinha desaparecido. Estava na feira hippie, ponto turístico da capital mineira, no “empurra-empurra” da multidão quando avistei um grupo de policiais e segui em direção a eles. Contei o fato e, então descobri que não só eu, mas todas as mulheres que estavam no posto da Polícia Militar foram vítimas da mais nova técnica de assalto na feira: bolsas furadas. Percebi então as deficiências da feira, tanto na parte de segurança quanto na falta de espaço.” A autora do depoimento acima é também uma das redadoras desta reportagem: Roberta Colen. A “Feira Hippie” é um espaço, em Belo Horizonte, onde os artesãos expõem seus produtos. Nasceu em 1969 e teve sua expansão em 1991, crescimento esse que levou à sua mudança para a Avenida Afonso Pena, uma das maiores avenidas da cidade. Hoje, conta com mais de 2.500 expositores divididos em setores de alimentos, artesanatos, roupas, sapatos, acessórios dentre outros. Esse número é maior, muitas vezes, que o número de habitantes de pequenos municípios mineiros. A feira conta ainda com um público semanal de 70 mil pessoas e, por isso, é considerada o quinto evento do gênero mais movimentado da América Latina.

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Um dos problemas atuais da feira é seu layout, que favorecem assaltos, devido à má distribuição do espaço. De acordo com a assessoria de comunicação da Regional Centro-Sul, o novo layout sugerido por eles foi aprovado pelo Ministério Público e o Corpo de Bombeiros. O projeto de redistriuição do espaço propõe que as barracas sejam montadas em grupos de quatro, divididos em 97 filas para o artesanato e 15, para alimentos e bebidas, permitindo o alargamento dos corredores e maior visibilidade dos produtos. Haverá também extintores de incêndio estrategicamente distribuídos em cada setor e uma ambulância disponível para emergências. Tenente Ângela, um dos membros da Polícia Militar responsável pela segurança do local aos domingos, acredita que

o novo layout possibilitará uma visibilidade maior, facilitando o trabalho dos agentes. A reorganização estava prevista para ser implantada no 1° domingo de dezembro, estrategicamente para inibir a ação dos assaltantes que é maior no período que precede o Natal. Para a policial, a técnica de assalto é quase sempre a mesma: as bolsas são cortadas sem que as vítimas percebam. O sexo feminino é o agente mais presente nos assaltos, por terem maior facilidade de aproximação com outras mulheres sem causar desconfiança. A artesã e vendedora de cintos na feira, Marlene de 47 anos expõe na feira há 20 anos, acredita que o novo layout proposto será benéfico para os vendedores, pois seus produtos estarão mais visíveis e haverá mais espaço, tanto para os feirantes quanto para

os consumidores, além do reforço na segurança. Porém, a artesã ressalta que, durante 20 anos expondo na feira, nunca foi vítima de nenhum tipo de abordagem ou furto. Para ela o novo layout serve para inovar e reforçar a segurança. Ao contrário da vendedora de cintos, James, de 43 anos, artesão de acessórios de prata desde o início da feira, já sofreu vários furtos em sua barraca. Ao ser questionado sobre o layout, o artesão se mostrou positivo quanto à mudança, porém, assim como outros vendedores, nota-se falta de divulgação sobre como realmente será esta reorganização. James acredita que ainda há muito que melhorar na segurança da Feira Hippie, mas que essa iniciativa do novo layout já é um começo. Apesar das melhorias da reorganização, ainda existe uma forte

resistência por parte de alguns artesãos, pois muitos acreditam que a mudança de local de suas barracas, feita através de sorteio, prejudica os expositores, já que seus clientes perderão o ponto de referência de onde encontrá-los. O sorteio de remanejamento dos expositores que aconteceria do dia 8 a 12 de novembro no auditório do Instituto de Educação foi cancelado após a Associação dos Expositores da Feira (ASSEAP) entrar na Justiça contra o sorteio. A ASSEAP requer que a localização das barracas seja definida por eles, em vez de pelo sorteio imposto pela Prefeitura de Belo Horizonte. Enquanto não se resolve este impasse, em que a Procuradoria Geral do Município espera a documentação da Justiça para entrar com um recurso de anulação da liminar, fica suspenso a implementação do novo layout.

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Editores e diagramadores da página: Lucas Rodrigues e Pedro Cunha - 6º Período

O Ponto

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

Pra ver a banda passar... BH quer outro Carnaval Agremiações se unem para melhorias na organização do evento DIEGO DUARTE TÚLIO KAIZER 2º PERÍODO

Foto: Tulio Kaizer 13 - Cidades.indd 1

Fantasias, carros alegóricos, baterias, mestre sala e porta bandeira... Para os foliões o Carnaval só começa em março de 2011. Mas, para quem organiza, o trabalho é árduo e já começa em 2010 . A festa tão esperada tem sua origem nas tradições africanas. Com o passar do tempo, foram se formando associações que aperfeiçoaram os desfiles. Nesse contexto histórico, temos também a tradição exportada da Europa pela elite brasileira, os famosos bailes de máscaras. Assim, o Carnaval foi crescendo e se tornando cada vez mais popular. Apesar de ser visto como um grande espetáculo, marca do país, símbolo de alegria e comemoração, o Carnaval na capital mineira está perdendo espaço. A luta das agremiações e organizadores do evento é justamente para que isto não ocorra. Entre os principais aspectos a serem trabalhados para a melhoria do Carnaval está em discussão a questão da indefinição do local do desfile, a disponibilização dos recursos financeiros, sonorização e iluminação, a falta de interação do público com o Carnaval da cidade e a necessidade de um projeto de desenvolvimento na parte estrutural do evento. A festa que voltou a ser realizadaem 2004, na Via-240, no bairro Novo Aarão Reis, é prejudicial aos espectadores devido à falta de transporte público até o local, como explica o carnavalesco e presidente do Gres Acadêmicos de Venda Nova, Marco Aurélio Gonçalves: “Muita gente gosta e já prestigiou o evento em outras épocas, porém, não vai aos desfiles porque não existe metrô disponível ou linhas especiais de ônibus que facilitariam a chegada e saída do público após o término das apresentações, ocorrido muitas vezes depois das 2 horas da manhã.” O desejo das escolas e do público é que o Carnaval volte a acontecer no centro de Belo Horizonte, já que a visibilidade e a possibilidade de patrocínio são maiores. “Em primeiro lugar, gostaríamos que a prefeitura mudasse o local do evento para a Praça da Estação, na Avenida dos Andradas, pois entendemos que essa mudança daria maior visibilidade para o nosso Carnaval, atraindo um maior número de espectadores e, quem sabe, até patrocinadores para o evento, assim como

ocorre com o Arraiá de Belô”, diz Eduardo Raimundo Bavose, carnavalesco do Gres Estrela do Vale. De acordo com Arthur Vianna, diretor de eventos da Belotur, que organiza o Carnaval de Belo Horizonte juntamente com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), existe a possibilidade da volta do evento para o centro, porém, necessita da aprovação do prefeito da cidade. Outro fator que preocupa é a disponibilização e entrega dos recursos financeiros. A maioria das agremiações depende exclusivamente da verba liberada pela Belotur e Cemig. “Hoje, a principal fonte de renda de nossa agremiação é o repasse feito pela Belotur e Cemig, recursos esses que não sabemos se teremos para o próximo Carnaval. Estamos trabalhando juntamente com nossa diretoria para viabilizar alguns eventos, para assim fazem face a algumas despesas da entidade”, completa Bavose. Luiz Carlos Novais, Presidente da Gres Bemte-vi e da Associação Cultural Samba Dez, acrescenta que a escola conta também com apresentações de ala

“Este ano, recebemos uma ajuda da Belotur de R$ 10 mil que nos foi repassado uma semana depois de terminado o Carnaval.” Eduardo R. Bavose, carnavalesco do Gres Estrela do Vale show, bingos, feijoadas e festas na própria escola. A PBH e a Belotur disponibilizaram no último Carnaval em infraestrutura e apoio logístico/operacional aproximadamente R$ 800 mil e repassou R$ 364 mil para as escolas de samba e blocos caricatos em subvenções e premiação. Um ponto divergente entre escolas e organizadores está relacionado a questão da sonorização e iluminação na passarela do samba. “São necessários alguns ajustes na iluminação e sonorização, pois do jeito que está hoje deixa muito a desejar”, complementa o presidente do Gres Estrela do Vale. Em contrapartida, Vianna diz que a melhoria da iluminação e sonorização aconteceu no Carnaval de 2010, e que foi aprovada por carnavalescos e pelo público em pesquisa realizada pela Belotur. Aparentemente, apenas Vianna sentiu essas melhorias, já que, após cada desfile, muitos foliões, principalmente as

alas de bateria, reclamaram muito da aparelhagem de som e da dificuldade para acompanhar o samba na avenida. “A gente não escuta o samba direito, às vezes você acabava ouvindo a mesma parte duas vezes, e acaba prejudicando todo o ensaio que ocorreu durante meses. Acho que, para um evento que pretende crescer como o Carnaval de BH, as melhorias devem começar por esses pequenos detalhes, que podem definir o título entre as escolas”, diz Túlio Kaizer, componente da bateria do G.C.R. Escola de Samba Galoucura. “O custo do evento com origem no poder público é sempre um fator a ser considerado. Para garantir um Carnaval de qualidade seria preciso investimento privado, como acontece em outras cidades e o que esperamos que aconteça em Belo Horizonte”, complementa Vianna. Para ele, o I Seminário do Carnaval de Belo Horizonte serviu para aumentar ainda mais o contato entre Belotur e escolas de samba. É de consenso a necessidade de que cada escola tenha seu espaço, pois a inexistência desse compromete os grupos financeiramente e estruturalmente. Os representantes das escolas de samba de BH (Samba Dez), discutiram e apresentaram propostas para a melhoria do carnaval da capital. A reunião serviu também para que as escolas assumissem o compromisso de ter uma nova postura para a realização do evento. Visou, sobretudo, antecipar o início dos ensaios e manter locais onde exista a realização de encontros de sambistas em vários pontos da cidade, além de buscar uma proximidade das Regionais com as Escolas e a Comunidade. Outra forma de diminuir os gastos com fantasias e adereços está em andamento. “Encontra-se em fase de conclusão uma parceria entre a Associação Cultural Samba Dez e a Fundação Clóvis Salgado para cursos que serão monitorados em seu centro técnico ICSM. É uma instituição que trabalha junto ao Governo de Minas, com dois termos de parceria, sendo um deles com a Secretaria de Estado da Cultura e Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes (FCS). Por conta dessa parceria, o ICSM faz a gestão administrativa do Centro Técnico de Produção (CTP) da FCS, responsável pela confecção de figurinos, adereços e cenários de espetáculos do próprio Palácio das Artes e de produções externas; “com isso, apresentamos o CTP como um pólo que poderá ajudar as escolas na fabricação de adereços, figurinos e cenários”, diz Luiz Carlos Novais.

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14 • Turismo

Editor da página: Igor Moreira e diagramadores da página: Franco Serrano e Igor Moreira - 4º Período

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O Ponto

Queda do dólar faz decolar oferta de vôos internacionais Com moeda barata, os destinos internacionais estão entre os mais procurados pelos turista brasileiros

Fotos: Divulgação

RAIANE DA MATA BHIANCA FIDELIS

2º PERÍODO Há algum tempo uma viagem para o exterior era inimaginável para alguém das classses C e D. Mas, com a brusca queda do dólar e as facilidades oferecidas pelas agéncias de viagem, nos dias de hoje o que era impossível tornou-se perfeitamente alcançável. A desvalorização da moeda norte-americana serviu para impulsionar o turismo antecipado. Com a valorização do real, ir para Londres ou pas-

sar o Rev’eillon em Nova Iorque ficou acessível para todos. Muitos compram passagens seis meses ou até um ano antes da viagem para conseguir preços mais em conta e não comprometer seus orçamentos. A empresária e proprietária da Total Viagens, Andréa Cristina Dieguez Alves, que atua no ramo do turismo desde 1997, afirma que com o dólar em baixa, a procura por viagens internacionais aumentou. Antes Cancún era o destino mais procurado, posto que hoje é ocupado pelas cidades de Buenos Aires, Aruba e pela famosa Dis-

ney (opção de muitas meninas que trocam suas festas de 15 anos por uma viagem dos sonhos). “Com o dólar em baixa, as pessoas aproveitam exatamente esta época para decidir para onde viajar, o que antes era muito mais difícil. As condições de pagamento oferecidas também favorecem bastante” afirma. Sobre propagandas e promoções, Andréa lembra que as agências de turismo funcionam sob regras de algumas empresas como, por exemplo, a CVC. Empresas desse tipo elaboram as promoções e os pacotes espe-

ciais, já o preço das passagens é estabelecido pelas companhias aéreas, cada uma com suas devidas regras e tarifas. Geralmente, quando não ocorre nenhum imprevisto e os passageiros economizam uma quantia considerável, porém, quando ele surge, as linhas do rodapé entram em cena e na maioria das vezes o consumidor é obrigado à desistir da viagem. As multas para quem desiste da viagem são altas e não são relatadas na compra da passagem. O mais correto neste caso, é não se antecipar e sair correndo até uma agência de

turismo, depisitando todas as economias para a sua próxima viagem, que ocorrerá no final ano. O certo é pesquisar sobre preços e tarifas, consultando várias empresas antes de fechar o pacote, atentos às condições que cada uma oferece e principalmente, não confiar em ofertas absurdas, pois, na grande maioria das vezes o consumidor acaba sendo iludido por algum oportunista. Uma boa alternativa é conversar com conhecidos que já viajaram e possuem algum tipo de experiência no assunto e boa viagem.

FRANCO SERRANO 4º PERÍODO O ex-aluno de Publicidade e Propaganda da Fumec, José Ricardo Miranda da Costa Jr., obteve indicação dos professores de sua banca de mestrado, na UFMG, para publicação de sua dissertação intitulada: “O Cinema da Guerra Fria: da paranóia ao consumismo”. O trabalho foi defendido em em setembro deste ano. Segundo Miranda, sua proposta de estudo foi analisar o cinema durante a guerra fria, em particular os símbolos que nasceram durante o período. A partir de um panorama geral dos

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filmes produzidos por EUA e Inglaterra, buscou entender como essa realidade era reproduzida no cinema e sua relação com o surgimento de heróis como James Bond. O projeto teve início ainda na Universidade Fumec, quando Miranda elaborou o seu Trabalho de Conclusão de Curso. Miranda também afirmou que o projeto, que foi muito bem aceito pelos examinadores, já está em fase de revisão e adaptação para ser encaminhado à publicação. A orientação do trabalho foi feita pelo professor doutor Luiz Roberto Pinto Nazário.

O projeto que, desde o início, buscou identificar o papel do herói para o cinema da época, acabou por concluir que James Bond não fazia parte deste universo e que, na verdade, ele foi precursor do modelo de herói no cinema que é muito popular atualmente, que tem como expoentes Tarantino e David Fincher, definido por críticos como ‘pop fascista’. Outra constatação foi que a propaganda utilizada nos filmes da Alemanha Oriental na época eram de apelo semelhante aos contidos nos filmes do ocidente.

www.cinemapop.com.br

James Bond fora da guerra fria

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Comportamento • 15

Editor e diagramador da página: Amanda Gama e Ana Flávia Belloni - 6º Período

O Ponto

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

É melhor prevenir do que remediar Em 2010 o anticoncepcional completou 50 anos e muitas pessoas ainda não sabem como usar. Esclareça suas dúvidas em relação à pílula e seu funcionamento e porque preferir a cinquentinha a outros metodos anticoncepcionais

Um dos métodos contraceptivos mais utilizados em todo o mundo é a pílula anticoncepcional, porém, você já parou pra pensar como as mulheres se previniam há 50 anos, quando este metódo contraceptivo ainda não existia? Acho que não. Hoje esse comprimido já faz parte da vida de tantas moças que fica até difícil pensar como seria sem ele. Antigamente, as mulheres só tinham acesso a preservativos e diafragmas feitos de material grosseiro, que apresentavam dificuldades na hora de usar. Lançada em 1960 no mercado e após varias evoluções farma-

cêuticas, atualmente, a pílula proporciona vários benefícios e dá de dez a zero em outros métodos. Antigamente, por não terem acesso a um método que fosse capaz de prevenir a gravidez de forma simples e eficaz, muitas famílias eram compostas por mais de dez filhos. Imagina só se isso ainda fosse comum hoje em dia. A chegada da pílula na década de 60 marcou a revolução feminina e as mulheres conquistaram muitos benefícios com o uso do comprimido. O primeiro deles é a possibilidade de se programar, o que é essencial para quem tem uma vida sexual ativa. Algumas pílulas também proporcionam a diminuição do fluxo menstrual, redução das cólicas e o inchaço provo-

cado pela retenção de líquido, além da redução de sintomas da TPM, melhora no aspecto da acne e da seborréia e diminuição do excesso de pêlos. Diante de tantos benefícios, optar pelo uso das pílulas aticoncepcionais acarreta responsabilidades. A primeira exigência à usuária da pílula é freqüência e atenção com o horário, já que a eficácia do método só é 100% garantida se esses critérios forem cumpridos diariamente. Apesar da eficiência da pílula anticoncepcional, muitas mulheres recorrem a outros métodos, como a pílula do dia seguinte também conhecida como pílula de emergência. Como o próprio nome já diz, ela é indicada apenas em situ-

Explique como funciona a pílula anticoncepcional e a pílula do dia seguinte. A pilula anticoncepcional é composta por dois hormônios, o estrogênio e a progesterona, exatamente os hormônios produzidos pela mulher durante o período de ovulação. Durante o uso do remédio, o corpo entende que não precisa produzir tais hormônios e, por isso, a ovulação não acontece. Já a pílula do dia seguinte é composta apenas por um hormônio, que impede a nidação do óvulo, ou seja, ela impede que o óvulo encontre condições favoráveis para a fixação na parede do útero.

ações de urgência, já que é considerada uma bomba de hormônios, concentrados em apenas dois ou até mesmo um comprimido, diferentemente da pílula anticoncepcional, em que os hormônios são distribuídos em doses diárias. Vale lembrar que se tomada várias vezes consecutivas, a pílula não perde o efeito. No entanto, não é recomendada, pois agride o organismo da mulher. Apesar da sua associação ao “dia seguinte” ela só tem eficácia garantida se tomada até 12 horas após a relação sexual, o que muitas mulheres esquecem ou desconhecem, podendo acarretar em uma gravidez não planejada, exatamente o que aconteceu

com Jessica Rodrigues. “Eu fiz o uso da pílula 48 horas depois e engravidei. No princípio me puni muito, pois eu tinha apenas 18 anos, no entanto, optei por conversar com a minha mãe, que me ajudou muito. Hoje em dia, minha filha tem três anos e é uma menina linda e saudável”, afirma a estudante, emocionada ao falar da filha. Apesar dos 50 anos da pílula anticoncepcional e da grande intimidade das mulheres com a pílula do dia seguinte, algumas dúvidas ainda são muito frequentes. Para esclarecer um pouco mais, convidamos o ginecologista e obstetra Belmiro José Tavares para falar abertamente sobre o assunto (veja no quadro).

Foto: Amanda Gama

AMANDA GAMA ANA FLÁVIA BELLONI 6º PÉRIODO

Se a pílula anticoncepcional for usada por muitos anos, fica difícil engravidar? Quando não há nenhuma contra-indicação, a pílula pode ser usada por anos a sem nenhuma preocupação. A partir de dez anos ou mais de uso, pode demorar mais tempo até que a mulher consiga engravidar. Isso porque o ciclo de ovulação começará a voltar ao normal gradativamente. Seis meses é o tempo que se costuma demorar até que a mulher consiga engravidar.

A pílula do dia seguinte é abortiva? Não. Se a mulher já utilizou esse método e se pune até hoje por achar que tirou a vida de um filho, pode ficar com a consciência tranquila, afinal, no meio científico, só é considerado que há gestação a partir do momento em que existe a nidação, quand quando o embrião adere ao útero. Essas pílulas ag agem antes da nidaçã ção e jamais provocam a p perda do embrião se el ele já estiver aderido. F Fique atenta, isso não ssignifica que a mulher p possa sair por aí sem re responsabilidade nen nenhuma tomando a pílula do dia seguinte como se fosse um antigripal.

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O ginecologista e obstetra Belmiro José Tavares

A pílula anticoncepcional traz efeitos colaterais e riscos para a saúde? Na ausência de condições, como hipertensão e diabetes, os riscos são pequenos, mas existem. Algumas reações colaterais podem ser retenção de líquido, dor de cabeça e nos seios, náusea, sangramento irregular e alteração de humor. Está acontecendo com você? Fique tranquila, esses problemas tendem a melhorar após o terceiro mês de uso.

Como posso saber se meu organismo aceitou o anticoncepcional? Existem contra indicações absolutas para o uso de anticoncepcional hormonal, como a hepatite recente e antecedente de trombose, mas ainda existem sinais que desaconselham o uso em algumas mulheres, como o tabagismo, mioma, endometriose, cefaleia, enjoo, vômito, gastrite etc.

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16 • Entrevista

Editor da página: Equipe O Ponto e diagramador da página: Franco Serrano - 4º período

Belo Horizonte, Dezembro de 2010

O Ponto

E com a palavra, o presidente! Foto: Willian Borges - 5º período

Após assumir a direção da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), Emanuel Carneiro, presidente da Rádio Itatiaia, abre o jogo e conta ao Jornal O PONTO seus anseios e desafios em sua nova empreitada

FRANCO SERRANO RENATO MENDES 4º PERÍODO Em quase 50 anos, ele é o primeiro mineiro a presidir a (Abert). Após assumir a presidência, Emanuel Carneiro, presidente da Itatiaia, abre o jogo e conta ao jornal O Ponto seus anseios e desafios em sua nova empreitada. Conta também curiosidades sobre a profissão e como está se adaptando às novas tecnologias de informação. O PONTO: O senhor pretende continuar o atual projeto na Abert ou iniciar outro? Emanuel Carneiro: Nos processos eleitorais, cada presidente só pode ter uma reeleição e, por isso, há uma alternância. Eu acompanhei vários presidentes e agora estou assumindo. Existem processos na comunicação brasileira que são contínuos, são brigas que nós estamos comprando já há alguns anos, ganhamos umas e perdemos outras, mas, quando perdemos, não desistimos, ficamos em cima. Um exemplo é a nossa luta pela flexibilização da Hora do Brasil, que tem horário fixo. O que queremos é ter a opção de escolher o horário entre 19h e 23h porque, na hora do programa, tem gente no trânsito que precisa de informações do tráfego etc. Esse projeto tem etapas, do Senado vai para Câmara, da Câmara

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volta para o Senado. Outra luta é o rádio digital, que está para chegar. A televisão já é digital e temos diversos outros assuntos. A Abert tem uma agenda. Existem hoje, na Câmara e no Senado, mais de 200 projetos que acompanhamos. Então, esse é o nosso papel. Eu estou muito animado. Qual a situação da Abert no cenário nacional? Tem hoje uma boa estrutura, uma boa equipe, congrega várias associações estaduais que se juntam para realizar congressos e promover debates. Está sempre presente para explicar a parlamentares a nossa atividade. Nesse momento, por exemplo, o ministro Franklin Martins está querendo impor algumas restrições à renovação de concessões. Ele quer reinventar a roda da mídia brasileira e a Abert está atenta. Já tivemos reuniões com ele e, em alguns pontos, ele cedeu e em outros não. Nós vamos continuar insistindo, esse é nosso papel. Tomara que dê certo. Qual a política da Abert em relação à reciclagem de profissionais? “A Abert praticamente não coloca a parte trabalhista na sua pauta, ela não entra porque existem hoje os sindicatos. Cuidamos mais do lado institucional das empresas e do meio rádio e televisão, mas eu vejo a profissão, o mercado do jorna-

lista como um mercado muito seletivo porque sempre chega gente nova e mais preparada no mercado. Se o profissional não fica atento, ele pode cair em ostracismo.” Com o grande impacto das mídias sociais, muita gente pensa que pode ser jornalista, escrever em blogs e em redes sociais o que bem entende e o que vem à cabeça. O que o senhor pensa disso? “Não considero o Twitter um veículo de informação, propriamente dito, é mais uma ferramenta de internet pra se comunicar com as pessoas. Eu contestei muito o Kalil, do Atlético-MG, quando ele passou a postar notícias do seu time para um público limitado de seguidores. Na minha opinião, ele deveria ter convocado a imprensa, dado uma entrevista coletiva, pra dizer que tinha contratado o Diego Souza e não como ele havia feito, anunciando na rede social. Obviamente, não é o meio mais eficaz para o presidente se comunicar com a torcida, pois o numero de seguidores dele é uma fração mínima de atleticanos.” Qual a sua posição com relação às redes sociais dentro da rádio Itatiaia? “Eu não tenho restrição com o Twitter. Vários repórteres e funcionários daqui têm, mas, desde que use com responsabilidade. Inclusive não vou citar o

funcionário, mas alguém ligou para ele e disse que era da Toca da Raposa, dizendo que o Cruzeiro estava com dois meses de salários atrasados, ele postou isso e deu problema. Por isso a nossa postura de atenção com relação a isso, eu também não posso ficar vigiando eles 24 horas por dia.” É verdade que o senhor se reuniu com os jornalistas e deu uma ‘chamada’ neles por causa do Twitter? Sim, eu dei uma chamada. Porque, às vezes, um repórter dando uma notícia no Twitter e ela sendo falsa, o leitor pode achar que é uma notícia da rádio Itatiaia. O que também não pode é o cara dar a notícia que ele apurou aqui para a rádio e colocar na internet antes. Se ele é pago para trabalhar aqui e pega o nosso carro para sair e apurar uma notícia... Ele não pode tirar o nosso furo. O senhor é a favor do diploma para o jornalista? “É uma questão muito difícil. Eu vejo isso de formas diferentes. Eu vejo o diploma como necessário, ser um bom jornalista, passar por uma faculdade de jornalismo, mas não obrigatório, porque impede que outras pessoas de outras áreas possam escrever matérias em jornal e televisão. A exceção também deve ser aceita pela classe jornalística. O diploma acrescenta muito, a Itatiaia tem um grande

contingente que trabalha na área de conteúdo, da informação, vem das faculdades, mas isso não nos incomoda. Como enxerga a liberdade de imprensa hoje no Brasil? O principal é a responsabilidade. Quem já passou pelo período de ‘chumbo’, pode testemunhar como era difícil colocar matérias de interesse no ar. Você era censurado a todo o momento, não podia dar notícia disso e daquilo. Mas existe hoje uma liberdade de imprensa invejável, você pode dar a sua opinião, podemos criticar desde o Presidente da República até o operário. Existe também a responsabilidade que devemos preservar e eu tenho notado exageros da imprensa. Notícias que são colocadas com uma pressa muito grande. Por exemplo, mataram o Romeu Tuma quatro ou cinco vezes antes de ele realmente morrer. O bom jornalismo não permite isso. Ligamos 20 ou 30 vezes para confirmar uma notícia. Sempre ouvimos os dois lados. Isso é fundamental. Antes de fazer qualquer denúncia, procuramos o acusado, pois ele tem direito de dar sua versão do caso, funciona bem assim. Os erros são inevitáveis, mas acontecem com as melhores intenções. Todo repórter, todo jornalista tem certa ânsia em dar o furo noticioso, chegar na frente, faz parte do nosso DNA. Mas tem que ter um pouco de cuidado para não perder a credibilidade.

12/17/10 1:11:25 PM


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