Jornal O Ponto (nº 101) - Outubro de 2016

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 16

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Número 101

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Outubro de 2016

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Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita


02  •  Opinião

Editor e diagramador da página: Sara Lacerda

Belo Horizonte, Outubro de 2016

O Ponto

PREFEITURA DE BH: DESAFIO PARA GIGANTES NO 2º TURNO João Eduardo 2º Período A Universidade FUMEC mais uma vez mostrou ser protagonista no que diz respeito às discussões sobre o futuro político de Belo Horizonte. O debate entre os candidatos a prefeito da capital realizado no último dia 14 de setembro nas dependências do Teatro Phoenix ressaltou a diversidade de ideias entre os candidatos, mas acima de tudo, o mais bonito aspecto da democracia: a participação popular. Com a presença de dez dos onze candidatos à prefeitura, o debate foi promovido pelo Diretório Acadêmico de Direito da FUMEC, com a cobertura dos veículos de comunicação do curso de Jornalismo. Os candidatos a vice-prefeito Paulo Lamac (REDE) e Ronaldo Gontijo (PPS), representaram seus respectivos companheiros de chapa na sabatina, pois João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS) estavam em outros eventos. A candidata Vanessa Portugal (PSTU) foi a única que não mandou representantes. Justificou que havia marcado compromissos de campanha. Belo Horizonte é a quarta capital do Brasil e é uma cidade planejada. Milhões de pessoas em centenas de bairros fazem de nossa capital um celeiro de diversidades. Saúde, educação, segurança. Necessidades bási-

cas da capital que se unem a outras como mobilidade urbana, cultura, lazer, incentivo ao turismo. Cuidar de BH é um “desafio para gigantes”. Mas, é possível gerir uma capital como BH em momentos de profunda crise econômica e política? É notável a insatisfação popular em relação aos políticos. Em BH, a segunda linha do metrô que é prometida a mais de vinte anos pelas administrações, nunca chegou a sair do papel. O hospital do Barreiro, que seria a garantia da descentralização das especialidades médicas na capital, tem apenas um de seus andares funcionando. A violência assusta e assola. Faltam vagas nas UMEIS, escolas de tempo integral da cidade. Faltam incentivos à indústria e ao comércio. No debate, nós alunos pudemos perceber a vontade e o empenho dos candidatos em provar que suas respectivas plataformas eram as melhores para a capital. Alguns destacaram a saúde como prioridade, a segurança. O bilhete único para os estudantes e o cuidado com os bairros mais longínquos do Centro, também foram colocados como prioridades dos aspirantes a cadeira de prefeito. Decidir o voto também será para os belo-horizontinos um “desafio para gigantes”. A maioria dos segmentos sociais estão representados nas coligações majoritárias a capital. Empresários, segmentos sociais. Fazer BH funcionar de modo a atender

O RIO APÓS OS JOGOS João Eduardo 2º Período

Os meses de agosto e setembro fizeram com que voltássemos os nossos olhos para o Rio de Janeiro. As Olimpíadas e as Paraolimpíadas fizeram da “cidade maravilhosa” um ponto de encontro entre várias culturas, dos mais diversos e longínquos lugares da Terra. Desafios foram superados, recordes foram quebrados, heróis foram imortalizados por suas conquistas. Lágrimas foram derramadas. Mas por fim, o resultado dos Jogos Olímpicos foi positivo. A pergunta que fica no ar é: Qual o destino do Rio de Janeiro agora, após o fim dos inúmeros eventos esportivos? “Aqui era um lugar muito perigoso. Com as Olimpíadas tudo melhorou. A polícia e o exército passavam aqui na porta de casa toda hora. Agora que acabou a festa, a gente não sabe o que vai acontecer. Estou com medo”. O relato acima é de uma comerciante, moradora do bairro de Deodoro, local onde foi construído um dos locais de provas na capital carioca. É sabido que o Rio é uma das cidades mais perigosas do Brasil e seus moradores andam passando “maus bocados” por conta da segurança. A morte de um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro na manhã do último dia 27 de setembro reflete bem a situação caótica do estado. Nicolas Pereira de Jesus, o popular Fat Family, ficou conhecido após ter sido resgatado por traficantes enquanto estava internado no Hospital Souza Aguiar. Na ocasião, uma pessoa foi morta. Os comerciantes dos bairros do Glória e Catete, tradicionais pontos de comércio do Rio, foram obrigados a fechar as portas por causa da morte de Fat Family com medo de represálias. O Rio vive momentos de profunda insegurança. Saúde também um problema sério na vida dos cariocas. Unidades de funcionamento irregular, salários dos servidores atrasados, inúmeras reclamações e filas quilométricas nos hospitais fazem parte do dia a dia da

cidade, que tem um déficit de 1,4 bilhão de reais nesta área. Faltam materiais básicos para curativos e a água é racionada em alguns hospitais. Sem ventiladores, o calor quase que infernal do verão carioca acaba por agravar o estado dos enfermos, que veem seus estados piorarem. Podemos convir que os quase 40 bilhões de reais gastos com os Jogos Olímpicos serviriam muito bem para sanar os déficits que o Rio possui. Todos sabiam que sediar um evento deste porte traria ônus e bônus diversos Àcidade, mas, agora que todos os eventos acabaram e a cidade tem de caminhar sozinha, faz-se necessário um esforço conjunto para colocar a cidade “nos eixos”. Como legado positivo, a cidade ganhou de presente um centro multiuso de atividades esportivas na Barra da Tijuca, local que serviu como Parque Olímpico. Construído com uma Parceria Público-Privada (PPP), o local servirá como parque público da cidade, onde atletas de desempenho olímpico poderão treinar, além de ser útil também a jovens em busca de carreira no esporte. Os edifícios da “Vila dos Atletas” serão vendidos pelas imobiliárias cariocas. Empreendimentos comerciais também se estabelecerão ali segundo o projeto. Em um período conturbado, onde o governador do Rio de Janeiro teve de se afastar para tratar de um câncer e o Prefeito do Rio é alvo de duras críticas por declarações nada respeitosas em relação a alguns lugares da cidade, votar bem é uma obrigação para o carioca. Administrar a cidade é desafio grande, vai requerer do eleito “estômago forte”, “paciência de Jó” e noites incontáveis de trabalho. Cuidar de uma cidade a beira do caos na saúde e segurança, faz-se até utopia para alguns. Mas algo deve ser feito. O turista por fim, talvez seja um dos grandes prejudicados desta era pós-jogos. Com o crime assolando a cidade, muitos estão preferindo trocar os destinos de viagens ou até mesmo adiá-las. Perde o turista, perde a cidade. Para continuarmos a cantar “O Rio de Janeiro continua lindo”, na música de Gilberto Gil, vai ser necessária uma grande mudança, que todos nós brasileiros amantes do Rio esperamos que aconteça em breve.

com decência todos os seus moradores deverá ser um esforço conjunto de Prefeitura, Estado e União (ou ao menos deveria ser). Colocar BH nos trilhos do desenvolvimento e na rota dos investimentos internacionais é algo que deve ser feito rapidamente pelos mandatários, tendo em vista a grande necessidade de se atrair fundos, que gerarão emprego e renda para BH e consequentemente, para os mineiros. Certa vez alguém disse: “Voto não tem preço, tem consequências”. As consequências de um voto já foram sentidas por nós brasileiros em inúmeros ocasiões nesta jovem democracia a qual estamos inseridos. Lembremo-nos disso ao apertar as teclas da urna e ao escolher nos candidatos. “O Horizonte de BH” tem de continuar a ser belo. Agora com o segundo turno a ser decidido entre João Leite e Alexandre Kalil, a população terá a oportunidade de analisar melhor o que representa cada um. Assim, fica otimizada a análise das propostas deles para a cidade , seu arco de alianças políticas e o posicionamento deles em relação aos grandes desafios que o país enfrenta. Nesta segunda rodada de eleições municipais em BH, os dois candidatos se apresentam com o mesmo tempo de TV e, portanto, não haverá desculpa de ausência de espaço para que as propostas sejam debatidas.

o ponto Coordenação Editorial Prof. Hugo Teixeira · Jornalismo Impresso Prof. Aurélio Silva · Redação Modelo Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora orientadora Daniel Washington · Técnico Lab. Prod. Gráfica Logotipo Giovanni Batista Corrêa · Aluno voluntário Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: jornaloponto@fumec.br Presidente do Conselho de Curadores Prof. Pedro Arthur Victer Reitor da Universidade Fumec Prof. Dr. Fernando de Melo Nogueira Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Técnico Lab. Jornalismo Impresso Luis Filipe Pena Borges de Andrade Monitores de Jornalismo Impresso Sara Lacerda Carvalho Pietra Pessoa Monitores da Redação Modelo Janderson Silva Fotos de capa: Esq.: Winnie Harlow instagram Dir.: Guilherme Aroeira Tiragem desta edição: 1.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento


Editor e diagramador da página: Pietra Pessoa e Sara Lacerda

Economia  •  03

O Ponto

Belo Horizonte, Outubro de 2016

Empreender: Qual a motivação?

Com o aumento do número de empreendedores no Brasil, profissionais revelam por quê começar a empreender

Pietra Pessoa Ayllana Ferreira 2º Período A especialista em empreendedorismo e responsável pelo site Academia do Empreendedor, Paola Tucunduva, afirma que para empreender a necessidade e a oportunidade são os dois aspectos motivadores principais. Para Tucunduva, por causa do desemprego, muitas pessoas verem no empreendedorismo a única saída pra sustentar a família, ter trabalho e remuneração, principalmente os por necessidade. “Por outro lado, o empreendedor por oportunidade, aproveita o momento de crise pra construir algo inovador, melhor, diferente e por ai vai”, afirma a especialista.

“Você tem que olhar pra dentro de você, entender e se conhecer para saber qual é a melhor alternativa”

Paola Tucunduva

Uma pesquisa feita em 2015 pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) diz que, embora as taxas de empreendedorismo no Brasil tenham aumentado entre 2014 e 2015, se comparadas aos anos anteriores da enquete, os números foram mais impactados pelo empreendedorismo por necessidade. Cláudio Castro Correia, de 35 anos, mesmo com o conselho da mãe para ter uma profissão tradicional, e de ter passado a maior parte da vida seguindo este modelo, para ele, no ano de 2014, tudo mudou. Ao participar do Startup Weekend, competição onde os participantes têm 54 horas para apresentar sua ideia, que pode ser aprovada ou não, formar equipes, desenvolver a ideia, entre outras iniciativas, Cláudio Correia conta que decidiu empreender. “Eu

trabalhei em várias empresas tradicionais, por muito tempo, e, depois que eu voltei dos EUA, eu decidi empreender, mesmo não tendo sido selecionado.” Correia lembra que naquele momento poderia ter desistido, mas decidiu seguir em frente. “Como na regra diz que se você convencer duas ou três pessoas você pode trabalhar na sua ideia, eu escrevi em uma folhinha ‘estou contratando’, então apareceram outras pessoas e acabamos ficando em primeiro lugar.” Para completar esta história, o empreendedor revela que desse dia em diante, “nós já entramos com os papéis para se tornar o One Cloud, larguei tudo que eu tinha, entrei de cabeça no projeto e desenvolvi uma empresa muito rápido; em um ano já estava com a plataforma tecnológica funcionando e nesse meio tempo, uma das maiores empresas tecnológicas do Brasil viu nosso trabalho, se interessou e acabou adquirindo 100% dela.” Um aspecto importante a se observar, na opinião da especialista Paola Tucunduva, é que “com o excesso de glamourização do empreendedorismo, estão criando um mito de que o empreendedor fica milionário, que é um trabalho ideal, maravilhoso, perfeito e isso, na verdade, é uma idealização. Eu acho que isso depende muito do perfil da pessoa, não tem certo e nem errado, tem muitos executivos com carreiras de sucesso e que chegam a resultados incríveis. Então você tem que olhar pra dentro de você, entender e se conhecer para saber qual é a melhor alternativa.” Há 26 anos atrás, Ivana Fátima Silva Drumond, 58 anos, escolheu empreender pela necessidade que via em crescer na vida e proporcionar para seus filhos, melhores oportunidades. “Eu entrei na vida empreendedora, porque eu não tinha nada e não queria mais saber de ficar vendendo doces e fazendo anúncio das páginas amarelas na rua. Eu queria uma coisa melhor para

minha vida, para dar mais conforto para os meus filhos.” Apesar de a maneira como os empreendedores se inserem nesse ramo ser diferente, todos os entrevistados, quando perguntados sobre o que escolheriam, caso tivessem a opção, entre ser empreendedor e trabalhar em uma empresa com carteira assinada, responderam que prefeririam a primeira opção e justificaram com a mesma palavra: independência. “Acredito que meu perfil não serve para ser funcionário. Primeiro, porque não gosto de receber ordens e, segundo, porque não quero me matar de trabalhar para os outros, e sim, para mim. Eu quero ser independente”, afirma Cleiton da Silva Souza, 35 anos, dono da Cleiton Bus, uma empresa de turismo em Belo Horizonte.

de pequenas e grandes empresas, estimulando o empreendedorismo no Brasil. Em 2015, a instituição publicou a pesquisa realizada pelo GEM a fim de determinar também os fatores favoráveis e limitantes para o empreendedorismo no Brasil. Entre os favoráveis, está a mente criativa e complexa dos brasileiros (54%), juntamente ao amplo acesso à informação (31%). Segundo a pesquisa, o brasileiro tem capacidade de ter boas ideias, além de vários sites com conteúdo qualificado e gratuito disponibilizados na internet (incluindo organizações que apoiam e incentivam o empreendedorismo). Ainda segundo o estudo, o país possui políticas governamentais (19%) criadas nas últimas déca-

das favoráveis a isto, como o Microempreendedor Individual (MEI), responsável pela abertura e fechamento de empresas, juntamente à simplificação da arrecadação de impostos. Mesmo com a criação do MEI, conforme especialistas, a pouca quantidade de políticas públicas ainda é um fator limitante (contendo a maior taxa, 54%, entre os fatores). As altas taxas de tributações, fora a complexidade da legislação brasileira e a grande quantidade de burocracia, dificultam a abertura e fechamento de negócios. Também é citada a falta de educação nos níveis básicos, fundamental e técnico como o segundo maior fator limitante (49%) que historicamente têm como foco a formação de mão de obra e não a do empreendedor.

“Não quero me matar de trabalhar para os outros, e sim, para mim. Eu quero ser independente.”

Cleiton da Silva

Foi o que aconteceu com Souza, que trabalhava com compra e venda de ônibus e por amar este ramo (empreendedorismo) e gostar muito de ônibus, abriu sua própria empresa. No entanto, afirma que hoje é muito mais difícil de conquistar o objetivo. Para ele, o empreendedorismo tem aumentado, mas isso não quer dizer que irá dar certo. “O prego a ser martelado é o prego que se destaca. Ou seja, se você não for diferente, no mercado atual, você não sobrevive”, diz Silva. Empreendedorismo no Brasil O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) é um serviço autônomo, responsável por incentivar e auxiliar no crescimento

Cleiton da Silva Souza, 35 anos é propietário de uma empresa de turismo em Belo Horizonte


04  •  Comportamento Belo Horizonte, Outubro de 2016

Editor e diagramador da página: Sara Lacerda

GARIMPO FASHION

O Ponto

Enfrentando preconceitos, estudantes de moda mostram que é possível se vestir bem e gastando pouco ao reutilizar aquilo que já foi de outra pessoa SARA LACERDA 4º PERÍODO Caracterizadas por um estilo visual diferente (baseado na tendência vintage) e que chama a atenção, Carolina Oliveira, 20 anos e Maria Fróis Coelho, de 21, são estudantes de moda da UFMG desde de 2014. Com a consolidação da amizade, o desejo de fazer algo bacana juntas cresceu. Foi quando, depois de se descobrirem apaixonadas por bazares e por garimpagem de peças de vestuário, nasceu o Selo Brechó. Elas garimpam um pouco em outros bazares, reutilizam roupas já suas e com todo o cuidado fazem de suas peças modelos especiais e exclusivos, inspiradas no estilo retrô, próprio das duas. O brechó é online. Segundo elas, é preferível investir no que as pessoas mais têm investido tempo, a internet: “Desde o início a gente pretendia montar algo que fosse online, porque é prático, fácil, não exige um grande investimento e é principalmente, mais acessível para quem deseja comprar”, diz Oliveira. Segundo o economista Eduardo Amat, ao analisar as tendências de mercado relacionadas com o comércio eletrônico, a internet veio para inovar o mercado e abrir novas oportunidades para quem deseja empreender: “O comércio eletrônico veio para ficar e agora é muito difícil que dê pra trás”. O diferencial do Selo Brechó é o cuidado visual que tem feito com o que o bazar se consolide. Cada peça é escolhida com bastante cuidado e previamente lavada. Um detalhe importante é

que, além de estudantes de moda, as duas têm em comum o gosto pela fotografia. Com essa habilidade, é realizado um ensaio com cada uma das roupas e posteriormente, para divulgar, três fotos diferentes de cada roupa são postadas. A primeira, é a foto da peça no cabide, a segunda com uma modelo mostrando como esta fica no corpo, e a ultima é bem de pertinho, mostrando detalhes que chamam atenção. Quando

“Nosso objetivo também é mostrar que dá pra se vestir bem, gastando pouco e de maneira consciente.” Maria Fróis, empresária compradas, as peças são embaladas de forma muito cuidadosa e entregues por meio de encontros ou por correio. Segundo Maria Fróis, o retorno tem sido excelente: “A gente está fazendo tudo com muito carinho, sabe? É uma grande realização. Nós temos recebido um retorno tão bom! E eu não digo isso apenas no âmbito financeiro, mas principalmente os elogios que temos sempre recebido de clientes e pessoas no geral. É muito gratificante.” Ela afirma ainda que o objetivo é muito maior que apenas vender: “Nosso objetivo também é conscientizar as pessoas. Mostrar que dá pra se vestir bem, gastando pouco e de maneira consciente.” Carolina Oliveira e Maria Fróis, proprietárias do Selo Brechó.

Imagens do instagram da marca. A primeira com detalhes da peça, a segunda mostrando a roupa no corpo e a última em uma visão geral


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O Ponto

Comportamento •  05 Belo Horizonte, Outubro de 2016

Há quem ainda tenha preconceito com peças de bazares, e quebrar esse tabu é uma delicada missão. A visão de quem tem esse tipo de pensamento, é antiga: “Acredito que muita gente tem vergonha porque não era algo bem visto antigamente. As pessoas que geralmente utilizavam roupas já usadas eram pessoas de classe mais baixa e sofriam preconceito por aquelas que eram de classes superiores. A visão do preconceito é bem particular e acredito que devemos respeitar. Entretanto, é necessário ressaltar a beleza do bazar no que diz respeito àquilo que é sustentável.” Para a estudante de moda, “as marcas, em sua maioria, lançam

coleções novas, diversas vezes no ano. Então trazemos essas peças que já existem, e reutilizamos o que ainda é bacana”, diz Carol. Ela ressalta ainda a importância de um bazar ser bem organizado e do cuidado com as roupas: “Aquilo que a gente passa pros clientes é que faz com que eles queiram ou não comprar” explica. Não há como negar o crescimento repentino dos bazares online, principalmente em redes sociais como instagram e facebook. O aumento desse tipo de comércio é uma esperança de uma sociedade mais consciente, que investe no que é sustentável, que valoriza história e que não se limita em preconceitos.

“É necessário ressaltar a beleza do bazar no que diz respeito àquilo que é sustentável” Carolina Oliveira, empresária

A imagem acima é referente à forma com que as peças são entregues. Embalagem do Selo Brechó

PARA ENTENDER MELHOR: Brechó/ Bazar: Loja de roupas, utensílios e acessórios usados. Garimpagem: Catação de pedras preciosas. No caso, a busca de roupas consideradas uma preciosidade. Sustentabilidade: tipo de desenvolvimento preocupado em preservar o meio ambiente. Tendência Vintage/ retrô: Diz-se daquilo que remete ao passado

Etiqueta padrão utilizada para as roupas do Selo Brechó


06  •  Comportamento

Editor e diagramador da página: Sara Lacerda

Belo Horizonte, Outubro de 2016

O Ponto

ATÉ ONDE VAI A IGUALDADE

Boates, pubs e casas de show na capital adotam a prática de diferenciar valores na entrada de acordo com o sexo Ana Júlia Ramos Ana Luiza Lima Juliana Puttini 4º Período

e desconstrução de alguns preconceitos, porém atos como a diferenciação de valores eram vistos na “inocência” e não eram contestados da maneira que são agora. Ele completa e diz que “pode-se dizer que a Major nasceu em uma cabeça machista. Os empreendimentos devem se reinventar de acordo com a sociedade e isso não é mais aceito”. Caillaux acrescenta que agora a casa tem função de esclarecer os jovens que lá frequentam. “A geração vinda anos 60/70 ainda nasceu inserida em uma cultura machista, mas o quadro muda agora. Os jovens do final dos anos 90 estão aí para educar seus filhos com a cabeça mais evoluída, e a Major tem a intenção de ajudar a educar os jovens mostrando que não existe distinção e todo mundo deve ser tratado da mesma forma independente de sexo, cor, religião, gosto musical, o que for”. Outros eventos A diferença nos valores não se limita somente a casas noturnas: eventos com shows diurnos como festivais de música sertaneja ou eletrônica, por exemplo, também diferenciam o preço do ingresso pelo sexo, principalmente se a festa for open bar. Em entrevista para o Jornal O Ponto, Leonardo Brasil, da produtora de eventos Original do Brasil Produção e Entretenimento, que realiza eventos em casas noturnas de toda a capital, esclarece a prática ado-

tada. “Quando algum evento está sendo promovido, a produtora depende de um número mínimo de pessoas que compareçam, e atraindo as mulheres nós conseguimos consequentemente atrair o público masculino”. Além disso ele afirma que os homens têm um consumo e um gasto maior para a casa, o que leva a aumentar o valor dos ingressos masculinos. Ele diz que “já existe essa cultura nas baladas” e completa afirmando que “quando tem muita mulher, o evento fica melhor”. O hábito de cobrar valores distintos, de acordo com o produtor, nunca provocou nenhum questionamento real sobre o assunto e os únicos casos são de homens que reclamaram que o ingresso está muito caro para eles. Segundo ele “a mulher não reclama pois beneficia muito a ela”. Ao ser perguntado se já aconteceram eventos onde houve um valor igualitário ele diz que não - porém já houve eventos no qual o valor feminino subiu e isso fez com que houvesse pouquíssima aceitação da parte do público nos shows. Leonardo não acredita que as práticas sejam machistas e/ou injustas pelo fato de nunca ter recebido reclamações em relação à pauta. Outras boates como Clube Chalezinho, Woods e Garota Carioca, que adotam a prática e na capital foram procuradas e optaram por não responder. Ocorrências abusivas Outro fato que colabora para

a onda de machismo que vem sendo reproduzida em casas noturnas é o assédio seguido por descaso da parte dos responsáveis. Em Belo Horizonte somente nos últimos meses foram relatados vários casos de meninas que ao frequentar bares e/ou boates da capital sofreram assédio sexual e tiveram dificuldades ao reportar o ocorrido para as autoridades responsáveis. O mais recente caso foi o de Sofia Rezende que ao se reunir na unidade Contorno do Beb’s Bar, região centro-sul de Belo Horizonte, foi assediada indo ao banheiro. Seu relato no facebook alcançou o marco de quase 5 mil curtidas e 2.500 compartilhamentos. A situação acabou chamando a atenção da casa que, inicialmente, não fez nada a respeito. Sofia conta que um homem a violou colocando a mão por baixo de sua roupa e, ao reagir ao crime, acabou sendo expulsa da casa pela justificativa de ter “atacado pessoas”. Em âmbito nacional uma grande polêmica em torno de um bar na Vila Madalena em São Paulo tomou a mídia no início deste ano. A vítima também se pronunciou por meio de redes sociais e após ter o relato divulgado na web, movimentou uma quantidade de 25 mil avaliações negativas na página do bar. A postagem da jovem criou tamanha visibilidade ao ponto de gerar mais de 130.000 likes e 40.000 compartilhamentos. Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Para quem gosta de baladas e shows, Belo Horizonte é sempre uma ótima opção. Com diversidade de tipos de músicas e estilos, a capital mineira não fica para trás em relação aos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, quando se fala sobre a venda de ingressos dos mais variados eventos belorizontinos, surge um tema que tem sido bastante discutido atualmente: a discrepância nos valores de entrada entre homens e mulheres. Nas grandes boates e mais famosos pubs de BH, homens pagam mais que as mulheres. A prática já se tornou tão comum, que os próprios frequentadores não questionam mais. “Costumo frequentar festas e boates onde os preços são sempre diferenciados pelo sexo. Isso já é tão comum para mim, que nem estranho mais quando a mulher entra de graça e o homem paga caro”, conta a universitária Shálaga Ciatti. A jovem de 21 anos relata também que já foi em apenas um lugar onde os preços já são cobrados igualitariamente, pois isso ainda é raro. “Fui em um pub e o valor de entrada era igual para homens e mulheres. Me assustei, mas mesmo pagando um pouco mais caro que o de costume, achei uma ótima iniciativa, já que diferenciar pre-

ços por sexo sempre soou como machismo para mim”, lembra. A boate Major Lock, localizada no bairro São Pedro em Belo Horizonte não adere mais as distinções de sexo na hora de cobrar valores da entrada. O sócio da casa, Felipe Caillaux, afirma que a medida foi necessária em vista das mudanças e transformações do mundo atual. “Algumas coisas acabaram se tornando obsoletas e a distinção de sexo precisa deixar de existir. No próprio casamento é visto isso – a cerimônia não é mais entre homens e mulheres, porém sim entre pessoas”. Ao ser perguntado sobre o feedback dos clientes e atração de potenciais novos frequentadores é enfático e diz que não existem números exatos quanto a um possível aumento de público, porém não foi pensando no “lucro” e no “business” que a Major adotou a medida e que também não existe prejuízo já que o caixa não apresentou diferença significativa. “O processo é o seguinte: em algumas noites o antigo valor cobrado para mulher é teoricamente aumentado e em outras o antigo valor cobrado para homens é reduzido”, explica Caillaux. A questão gira em torno de conceitos patriarcais e machistas que estão em pauta cada vez mais, e explicam o porquê da casa ter adotado as mudanças apenas agora. De acordo com o sócio da casa, a boate nasceu inserida em uma cultura no qual as pessoas estavam iniciando este processo de “politização”

Felipe Caillaux é sócio do Pub e afirma que a ação é um avanço para a sociedade

Na contramão, a maioria das casas noturnas de BH ainda adotam a prática. Exemplo disso é o Clube Chalezinho, localizado no Buritis


Cidades  •  07

Editor e diagramador da página: Sara Lacerda

O Ponto

Belo Horizonte, Outubro de 2016

MERCEARIAS ALIAM & MODERNIDADE Tradição e modernidade convivem lado a lado na capital mineira mostrando que é possível, mesmo em uma grande cidade, manter uma identidade cultural Bruna Alvarenga Guilherme Aroeira 4º Período A cidade de Belo Horizonte possui diversas opções de compras. Hipermercados e supermercados, nacionais e multinacionais, são as principais escolhas. Entretanto, mesmo diante de tanta comodidade e facilidade, uma tradição ainda perdura. Armazéns em que se encontra desde comida à material de costura sobrevivem admiravelmente na capital mineira. Mercados e vendas com o tradicionalismo do interior mineiro preservam hábitos, costumes e serviços como antigamente. Mesmo diante da globalização e do avanço da tecnologia, um dos melhores exemplos da convivência entre o moderno e o tradicional é o Mercado Central de Belo Horizonte, que comemorou 87 anos no dia sete de setembro de 2016. Fundado em 1929 pelo então prefeito Cristiano Machado, o Mercado possui 25 mil m² e 400 lojas de diversos seguimentos. Entre produtos e serviços, podem ser encontrados estabelecimentos, com uma gama de opções, desde floriculturas à lojas de artesanato , temperos,

serviços de telefonia, turismo, entre outros. Santa Tereza No mais tradicional bairro de boemia em Belo Horizonte, localizado na Região Leste, Santa Tereza é conhecido por sua efervescência cultural e gastronômica. Lá encontra-se a Mercearia Colombo, no início da rua Mármore. Administrada por Lúcia Moreira e seu marido, Salvador Fonseca, conhecido como Colombo, foi fundada há 8 anos pelo casal. Para ela, os clientes apreciam o ambiente por ser aconchegante e intimista. Perguntada sobre como é a convivência da mercearia com os frequentadores do bairro, Lúcia diz que “as pessoas gostam de um lugar assim, onde você toma uma cerveja e come um tira-gosto em pé, batendo papo. É uma coisa bem mais simples, e o povo gosta disso”. Por fim, salienta que o diferencial da Mercearia Colombo é o atendimento, onde a convivência com clientes e frequentadores se tornou quase uma relação familiar. Em outro ponto do bairro, em uma esquina da rua Salinas, encontramos a Bitaca da Leste. Criada em dezembro de 2014 pelo chef e proprietário Luiz Paulo Mairink, é a mistura

perfeita entre simplicidade, comodidade e sofisticação, num espaço misto de bar e empório. Ideia antiga, a Bitaca da Leste é um sonho de Mairink: “É um bar, um lugar onde eu sirvo uma comida formal, comida mineira, e tenho uma mercearia, que trabalhoa com produtos locais de pequenos produtores”. Questionado sobre como vê a convivência entre moderno e tradicional, ele responde: “Acho que uma coisa acaba atraindo a outra. Nesse ambiente moderno, cheio de tecnologias e confortos, as pessoas vão criando relações cada vez mais distantes, e um espaço com essa proposta de aproximar as pessoas novamente, em um ambiente de consumo. É um espaço que acaba congregando as pessoas”. Vendinha do Zé Totó José Alves dos Santos, popularmente conhecido por Zé Totó, veio para Belo Horizonte com os pais e os irmãos em 1943. Seu pai, comerciante do interior mineiro, vendeu tudo o que possuía para investir na capital. “Ele chegou em BH e investiu tudo em imóveis, em lotes, casas, etc. Deu mais de 20 imóveis, entre a rua Madureira e Cantagalo, no bairro Apare-

cida, região Noroeste de BH. Eram todos dele. Plantou horta de couve no quarteirão inteiro, comprou uma carroça, e as filhas cuidavam da horta. Toda manhã ele levava as couves na carroça até o mercado, e vendia tudo”. Zé Totó conta um pouco sobre o começo da mercearia. A princípio, o imóvel onde seu pai veio a fundar a venda, na época, estava alugado para um casal de turcos. Entretanto, seu pai foi até o proprietário, comprou e indenizou o casal. “Meu pai comprou a mercearia e tirou os turcos. Fez indenização para eles e tudo mais” relembra. Uma vez inaugurada, possuía “de tudo”, como enfatiza: “Era cheio de sacos, porque a mercadoria era tirada em conchas e colocada em sacos de papel. Sacos de milho, farinha, muitos cereais. Meu pai vendia lenha em feixes, eu plantava, colhia. O bairro era pouco habitado, o movimento era pequeno. Para mim, o herói disso aqui é o meu pai”. Com o passar dos anos, a concorrência aumentou com a chegada dos supermercados, e a mercearia teve de se adaptar. “Cancelei praticamente todos os cereais, porque não tem como competir com a venda em sacos dos supermercados”, diz.

Mas a mercearia também tem seus diferenciais como: Funcionar todos os dias “com chuva, sol, incluindo os feriados. Natal é o dia que a gente mais vende, não pode perder venda. Vou pra casa, pra quê? Sou viúvo. O único dia que não abrimos é na Sexta-feira da Paixão” ressalta. Zé Totó diz que ainda mantém o hábito de anotar as vendas de certos clientes em cadernetas, muito comum em cidades pequenas do interior mineiro. “Mas só para as mesmas pessoas”, afirma. Por fim, o comerciante conta um “causo” envolvendo um de seus fregueses, o Pereira, cuja filha ficou noiva e disse: “Seu José, agora é o seguinte, a minha filha ficou noiva e a prioridade é o casamento dela, isso aqui que ‘tô’ devendo pra você só vou pagar quando puder”. E até hoje, segundo Zé Totó, o freguês não pagou. O Mercado Central, as mercearias de Santa Tereza, como a Colombo, a do Luiz e a do Zé Totó, são personagens de uma parte de Minas que ensinam que é possível conviver o moderno e o tradicional no mesmo espaço. Belo Horizonte, em pleno século XXI, consegue preservar seus hábitos e sua identidade cultural.

Foto: Guilherme Aroeira

Foto: Bruna Alvarenga

Corredor do Mercado Central

Mercearia do Zé Totó


08 •  Saúde

Editor e diagramador da página: Luc

Belo Horizonte, Outubro de 2016

“Sempre fui feliz, Portadores da doença relatam João Eduardo 2º Período

Mais de 2,9 milhões de brasileiros convivem com o vitiligo, doença que causa lesões na pele humana, resultando em manchas pelo corpo. Podendo surgir em qualquer idade ou fase da vida, seu pico de incidência ,segundo estudos, se dá entre os vinte e trinta anos. No início as manchas são mais claras, escurecendo com o passar dos anos. A modelo Winnie Harlow, 19, é portadora de vitiligo desde seus quatro anos, sendo vítima de bullying e incentivada a desistir de seu sonho (ser modelo). Indo contra toda essa “maré”, Harlow se inscreveu no programa America’s Next Top Model e hoje o que a torna única e diferente é exatamente, sua pele. “Eu me considero a modelo porta-voz do vitiligo”, define ela. A comunidade científica ainda não tem um consenso sobre as causas da doença, que pode atingir todas as partes do corpo, principalmente áreas como mãos, cotovelos, joelhos, punhos, dedos, axilas, partes genitais e pés. O certo é que os fatores emocionais estão intimamente ligados à doença. Médicos afirmam que aproximadamente 20% dos pacientes diagnosticados com o vitiligo contam com a doença em seu histórico familiar. Mesmo sendo de causas desconhecidas, a medicina oferece tratamentos alternativos para ajudar a restaurar a cor da pele. No entanto, os resultados são variáveis e imprevisíveis. Bronzeadores e maquiagens são as indicações principais dos médicos, mas em alguns casos o tratamento se dá de forma mais rigorosa. É muito difícil interromper ou paralisar o processo do vitiligo, mas alguns organismos respondem bem ao tratamento e conseguem fazê-la regredir, fazendo até que ela desapareça. Apesar de não ter cura, o vitiligo não é contagioso. O fator emocional é uma das principais causas da doença segundo os médicos. Quem não se lembra de Michael Jackson, que apesar das inúmeras cirurgias plásticas, era negro? As primeiras manchas apareceram no rosto. A partir daí, uma série de manchas foram surgindo por todo o corpo até que sua vaidade o levou ao tratamento com roupas de borracha, para que a área que não havia perdido a cor se despigmentasse. Outro cantor do mundo artístico portador da doença é o rapper Rappin’ Hood, com suas famosas manchas nos olhos. Um caso semelhante é da modelo e atriz Luiza Brunet. Ela trabalhou durante anos com as marcas da doença e as manteve sob controle.

Famosos com vitiligo No mundo das celebridades, temos vários casos de famosos que possuem vitiligo. No Brasil, temos o caso do cantor Gian da dupla Gian e Giovanni. O cantor anunciou em 2006 que era portador da doença. Recentemente, o músico postou uma foto em sua rede social em que fica muito visível as manchas em sua mão. Outros famosos que possuem vitiligo são: John Hamm (ator de Mad Men), Scott Jorgensen (lutador do UFC), Amitabh Bacchan (ator de filmes, ícone de Bollywood), Thomas Lennon (ator dos EUA, humorista, roteirista, diretor e comediante), Big Krizz Kaliko (rapper e cantor americano), Hedvig Lindahl (jogador famoso de futebol sueco), Rappin’ Hood (apresentador de televisao e rapper) e Chico Lang (jornalista).

Perda de pigmentação do cabelo, cílios, barba ou sobrancelhas.

Perda da cor nos tecidos que revestem o interior da boca e nariz.

Manchas em torno das axilas, umbigo, órgãos genitais e reto.

O Ponto


Editoria  •  09

ágina: Lucas Chalub e Pietra Peessoa

O Ponto

Belo Horizonte, Outubro de 2016

mesmo com Vitiligo” como foi a superação dos preconceitos

Perda ou alteração da cor da camada interna do globo ocular.

As manchas podem surgir em somente um lado ou uma parte do corpo, o que configura um caso de vitiligo segmentar. Nesses casos, a doença costuma aparecer mais cedo e progride por um ou dois anos e depois para.

A doença também pode afetar somente uma parte ou área do corpo, característica do vitiligo focal.

As manchas podem aparecer em todo o corpo, no caso do vitiligo generalizado

O maior problema que as vítimas enfrentam é o preconceito da sociedade em relação a eles, já que a maioria da população desconhece a doença. O aposentado Lourival Inácio da Conceição, 54, descobriu que tinha a doença aos cinco anos de idade. Sofreu preconceitos, mas conseguiu superá-los. “Eu era doador de sangue, quando ainda as manchas da doença eram pequenas. Quando as manchas cresceram, os médicos não me permitiram mais fazer as doações. Fiquei chateado, mas superei”, afirmou Lourival. O aposentado ainda foi vítima de preconceitos por sua própria família. “Muitas vezes minha família caçoava de mim pelo fato de ter Vitiligo, não gostava”, concluiu. A enfermeira obstétrica Maria Fátima Braga Lúcia, 66, descobriu a doença quando tinha 14 anos, e já tinha uma irmã que apresentava a doença. “Minha irmã Therezinha já havia apresentado a doença. Um dia descobri uma pequena mancha na coxa, usei o remédio que ela tomava e a mancha desapareceu. Meu cabelo era comprido e um dia a minha mãe descobriu manchas na minha nuca”, disse. Maria Fátima tentou vários tratamentos para o Vitiligo. O último foi incompatível com uma anemia congênita. “Não quis mais me tratar”, afirmou. A mãe a e irmã de Maria Fátima já tinham a doença. Mas Maria nem se importa mais com as manchas. “Às vezes me esqueço delas. Tenho de usar bloqueador solar, porque além de ter Vitiligo, sou muito branca. A doença não me trouxe problemas estéticos. Só tenho de perceber outras alterações porque ela é uma doença autoimune e piora pelo fator emocional”, concluiu. O fator emocional é, segundo os especialistas, a principal causa da doença. Por isso, muitos portadores de Vitiligo tomam calmantes regularmente, além de outros remédios para a pele e o uso contínuo do protetor solar. Uma planta do cerrado manipulada em laboratórios é usada frequentemente pelos pacientes. A Brosimum gaudichauli, mais conhecida como “mama-cadela”, auxilia no combate à despigmentação da pele dos pacientes, sendo muito usada pelo pacientes da vitiligo. Uma das terapias mais indicadas pelos dermatologistas para reverter os estágios da doença é a fototerapia, emissão de ondas dentro da faixa de ultra violeta A e dentro da faixa de ultra violeta B. Após confirmação do diagnóstico da doença do paciente, da extensão da doença no corpo, da localização da doença no corpo, o médico avalia se a terapia trará resultados para o paciente. Outro tratamento é à base da planta “MamaCadela”. Ela é utilizada por médicos para promover a repigmentação da pele. Os especialistas recomendam aos pacientes portadires do Vitiligo viver a vida normalmente, superando seus desafios e sendo apoiados pelas suas famílias. Com uma vida tranquila e saudável eles afirmam que é possível viver bem e com saúde.

“Sempre fui feliz, mesmo com o Vitiligo. O importante é prosseguir!” Maria Fátima “Agora vivo bem com o Vitiligo.Sou feliz!”, Lourival


10  •  Saúde

Editor e diagramador da página: Sara Lacerda

Belo Horizonte, Outubro de 2016

O Ponto

#DesafioAceito Campanha online para doação de sangue causa polêmica sobre sua eficácia

Carol Castilho Alexandre Cunha Sara Lacerda 4º Periodo

“Doar sangue é um ato voluntário, altruísta e não remunerado. Mas é essencial e muito importante”

Heloísa Gontijo

Você talvez tenha percebido várias fotos em preto e branco usando a hashtag #desafioaceito circulando nas redes sociais como Instagram, Facebook e Twitter. O movimento, que se tornou viral na internet, é uma campanha de conscientização ao câncer e incentiva a doação de sangue e medula óssea. A mensagem é enviada em inbox e o usuário que teve a foto curtida repassa a corrente a quem curtiu e assim por diante. A campanha atingiu um grande número de usuários da rede social e ficou entre as maiores pesquisas no Google quando o assunto é Facebook. Entretanto, a campanha também recebeu repúdios de pessoas que dizem não aceitar o desafio, visto que, segundo elas, trata-se de uma campanha inútil. Alegam que uma foto em preto e branco em redes sociais não fará nenhuma diferença na luta con-

tra o câncer. Afirmam,ainda, que nesse caso é preferível visitar um hospital de oncologia, doar sangue, medula ou até mesmo dinheiro pra ONG’S como, por exemplo, a “cabelegria” que confecciona perucas para crianças com câncer. Heloísa Gontijo, chefe do setor de captação e cadastro da Fundação Hemominas, tende a concordar com a visão de quem afirma que a “corrente” não altera a situação: “A gente não consegue perceber uma mudança por uma campanha de mídia social. Mas acredito no fato de que a doação de sangue, o cadastramento de candidatos e a doação de medula são coisas que precisam ser faladas bastante para que as pessoas possam aderir. Quanto mais se fala no assunto, maior adesão. Porém, como eu disse anteriormente, as campanhas em redes sociais não conseguem ter um reflexo imediato nos nossos estoques”, enfatiza. Segundo Heloísa Gontijo, o período de maior necessidade de doação de sangue é no mês de dezembro, quando o número de doações diminui e o número de

acidentes aumenta por causa das viagens de férias e festas de fim de ano. Segundo ela, “doar sangue é um ato voluntário, altruísta e não remunerado. Mas é essencial e extremamente importante. É necessário lembrar, porém, que deve ser feito com responsabilidade e consciência”. Um fato importante levantado por Gontijo é que, se cada pessoa fizesse pelo menos duas doações de sangue por ano, os bancos de sangue teriam quantidade suficiente para atender “todo mundo” no momento que precisassem e não haveria situações desagradáveis e “apertos”. A Fundação Hemominas faz campanhas de conscientização para que as pessoas saibam da importância de doar sangue não somente quando alguém próximo necessita de doação, ou quando acontece uma tragédia que comove a população. O esclarecimento é para lembrar que assim como há doenças, cirurgias e acidentes à todo momento, a doação de sangue também é necessária constantemente.


Saúde  •  11

Editor e diagramador da página: Ana Luíza Lima e Juliana Puttini

O Ponto

Belo Horizonte, Outubro de 2016

Microcefalia: um macro problema para o Brasil Diante de um cenário tenebroso, a sociedade se mobiliza de várias formas para compensar a ineficiência do governo no enfrentamento da grave situação que assombra as gerações futuras Laura França Nogueira 2º período A média anual de casos de microcefalia até 2014 era de 150 ocorrências. No ano de 2015, foram registrados cerca de 1,7 mil casos em todo o território nacional. Esse aumento tem relação com a infecção das gestantes pelo zika vírus, transmitido pelo aedes aegypti. O cenário é preocupante e o Ministério da Saúde declarou, em novembro do ano passado, estado de emergência sanitária nacional, uma vez que a doença causa sérias deficiências de desenvolvimento do feto, em decorrência do tamanho reduzido da caixa craniana. A situação não fica mais tranquila quando se pensa no futuro: o país não possui a infraestrutura necessária para lidar com tantas crianças com limitada capacidade produtiva. Indivíduos afetados pela microcefalia podem apresentar desde pequenos déficits cognitivos até deficiências mentais profundas associadas ou não a outras patologias com comprometimento motor e sensorial. Segundo o médico-psiquiatra Evaristo Barbi, quanto mais cedo a infecção alcançar a gestante, maior o nível de acometimento da criança. O zika vírus ataca o sistema nervoso, atrapalhando o desenvolvimento cerebral fazendo com que sua massa encefálica seja menor. Devido a essa condição, a criança, cuja mãe foi infectada pelo

PERNAMBUCO

vírus, nasce com as fontanelas já fechadas, o que impede que o cérebro continue a se expandir depois de seu nascimento, como geralmente ocorre. Em alguns casos há a possibilidade de se contornar o problema das fontanelas fechadas através de uma cirurgia, mas, para que isso aconteça, é necessária a expansão da massa encefálica. Como essa expansão não ocorre em casos de zika, os resultados alcançados com essa cirurgia não são satisfatórios. Mirian Costa, mãe de dois portadores de microcefalia, conta que, em sua segunda gravidez, não havia constatação de sintomas na gestação. “Marco Aurélio parecia normal, até que, com onze meses, entrou em convulsões que não paravam. Ele foi operado três dias depois e nos disseram que a fontanela havia fechado precocemente”, relata a mãe. Foi feita, então, uma cirurgia em que foi colocada uma tira de poliuretano para que o cérebro pudesse expandir normalmente, porém o dano já havia sido feito. Com a operação, Kito (como é carinhosamente chamado) começou a andar aos 3 anos depois de muita fisioterapia. Com a idade, infelizmente, perdeu essa habilidade e hoje é cadeirante. Ele reconhece músicas, lugares e pessoas e é muito afetuoso. Kito necessita de cuidados especiais para executar atividades básicas como alimentação e higiene. Sua irmã, Débora, nasceu em um parto complicado, mas não

BRASIL

em menos de 20 dias

em 1 ano

entre outubro novembro

média nacional até 2014

demonstrava problemas de desenvolvimento até os nove meses, quando os pais perceberam que ela ainda não falava e não engatinhava. Foi então diagnosticada a microcefalia como causa de sua deficiência. Ela, como o irmão, depende de cuidados o tempo todo, e mora na Cruz Verde, em São Paulo. Marco Aurélio reside na Associação de Proteção ao Excepcional (APEX), em Betim, Minas Gerais. A preocupação com o futuro dos filhos causa uma grande angústia para seus pais. Na medida em que,com os recursos da medicina, eles podem atingir uma sobrevida igual à da média da população, há a

“Aqui eles disfrutam de uma ótima qualidade de vida, praticam a convivência social, desenvolvem e mantém suas habilidades e recebem assistência à saúde.”

Maria Lúcia

possibilidade de um desamparo futuro do portador de microcefalia. De acordo com a psicóloga Maria Lúcia Cavalieri que coordena a instituição onde reside o Kito, uma solução é a associação de famílias que, num sistema coopera-

tivo, criam comunidades nas quais essas pessoas podem ser cuidadas de forma coletiva, reproduzindo contexto social e econômico das famílias. Há mais de quarenta anos essa solução tem sido um sucesso na APEX, onde residem cinquenta pessoas com deficiências intelectuais de várias etiologias, inclusive microcefalia. “Além disso, perpetuam os laços familiares uma vez que as famílias são presentes, responsáveis pela administração da casa e ali se confraternizam várias vezes durante o ano”, conta Maria Lúcia. A iniciativa de Viviane Lima, mãe de três meninas, sendo duas portadoras de microcefalia, confirma a visão da psicóloga já que usa as redes sociais para a criação de grupos de troca de experiência com outras mães de filhos microcéfalos. Sentindo-se perdida ao sair da maternidade com uma criança com um triste diagnóstico dado pelos médicos, trilhou uma via sacra entre hospitais e terapeutas descobrindo a cada dia como lidar com as peculiaridades de uma criança deficiente. Ao saber da proliferação dos casos de microcefalia em 2015, Viviane decidiu compartilhar suas experiências com outras mães através das redes sociais. “Eu me sentia distante, sabia que precisava usar as redes sociais. Fiz uma postagem no Facebook e, depois da enorme proporção que a postagem tomou, resolvi fazer um grupo no WhatsApp. No começo eram cerca de dez

mulheres, mas hoje já tenho um grupo com cem e outro com mais de ciquenta mães. ”, diz Viviane. Para as famílias de baixa renda, o nascimento de uma criança com microcefalia traz enormes dificuldades, uma vez que exige a presença constante de um cuidador, impossibilitando a mãe de ingressar ou retornar ao trabalho após o período convencional de licença maternidade. Após o surto do ano passado, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) passou a disponibilizar um salário mínimo para famílias dos bebês com a deficiência e renda de até R$220,00 per capita através da inscrição no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Segundo o MDS, o benefício só pode ser fornecido a crianças atestadas pelo INSS com algum tipo de deficiência cujas famílias tenham comprovado dificuldades financeiras. Todo o processo de perícia é prejudicado por uma questão burocrática: não existe, no sistema da Previdência Social, um código específico para microcefalia, de forma que a especificação só é possível se o assistente social pergunta isso ao responsável para que a informação seja colocada no relatório. No estado de Pernambuco, um dos mais afetados pelo zika vírus, o Hospital Oswaldo Cruz, da UPE, universidade do estado, realizou palestras para que os funcionários do INSS tenham mais conhecimento acerca da doença.


12  •  Esporte

Editor e diagramador da página: Rachel Silveira

Belo Horizonte, Outubro de 2016

O Ponto

A “cultura” brasileira de demitir treinadores vem assustando cada vez mais; rotatividade desses profissionais no país é 55% maior que nos clubes ingleses Pedro Sá 3º Período O Brasil não é, nem de longe, o paraíso para treinadores de futebol trabalharem. De acordo com uma pesquisa feita recentemente pela revista britânica “The Economist”, a média de tempo de um treinador, em um clube, no campeonato inglês é de 11 meses. No Brasil, esse tempo médio de trabalho cai “um pouquinho”, cerca de 55%, ou seja, em média, um treinador fica no clube por 5 meses. Essa diferença de tempo de trabalho pode ser um dos aspectos que atrasam o nosso futebol em relação ao futebol europeu. No Campeonato Brasileiro de 2015, foram feitas 33 trocas de treinadores. O curioso é que o campeonato é disputado por 20 equipes e apenas uma delas não trocou de treinador durante o Brasileirão, e esse foi o time que se sagrou campeão daquele ano. Para Diego Bertozzi, repórter da Fox Sports, esse problema das demissões de treinadores de futebol é cultural. “A emoção sempre esteve acima da razão entre os latinos, especialmente, entre os brasileiros. Achamos lindo saber que a Alemanha ganhou a Copa do Mundo com um planejamento de longo prazo, com um time que vem jogando junto há 8 anos. No entanto, nós não estamos dispostos a esperar por 6 meses. Nesta hora, um homem forte do clube é quem segura o treinador. Esse índice apresentado pela revista inglesa é influenciado pelo fato de que o treinador do Arsenal, Arsène Wenger, está no comando do time há quase 20 anos. Mas, mesmo assim, a diferença é muito grande. Tite, que era o treinador no Brasil há mais

tempo no cargo antes de assumir a Seleção Brasileira, retornou ao clube paulista no fim de 2014, um pouco mais de um ano e meio de trabalho. Jaeci Carvalho, colunista do Jornal Estado de Minas, acredita que não basta ter paciência com o treinador, mas sim uma mudança na metodologia de trabalho nos clubes. “A palavra certa não é paciência. É preciso traçar uma diretriz, um plano de trabalho, com objetivos a serem conseguidos. O Tite se reciclou, estudou na Europa, e mudou seu perfil e postura. Hoje é, sem dúvida, o nosso melhor treinador. Eu sou a favor da contratação de técnicos estrangeiros, que tenham feito curso da Uefa, que apresentem novidades táticas. No Brasil, nenhum deles tem isso, exceto Tite. Não é paciência, tem que ter é postura de técnico inovador e vencedor”, afirma. No Brasil existem alguns casos em que o clube aposta em um treinador e, mesmo com início ruim de trabalho, o treinador é mantido e consequentemente os resultados (títulos) chegam. Exemplos recentes disso são os casos do Tite em 2012 pelo Corinthians, do Cuca em 2012 e 2013 pelo Atlético/MG e do Marcelo Oliveira pelo Cruzeiro nos anos de 2013 e 2014. Para Igor Assunção, comentarista da Rádio 98, os torcedores acompanham os resultados dos jogos, “mas existe toda uma análise semanal do trabalho de campo durante os treinos. Essa análise é feita pela diretoria e até mesmo pelos jogadores, ou seja, se o trabalho de campo é muito bom, alguns clubes conseguem manter uma confiança maior no trabalho (mesmo com início de trabalho ruim) ”, explica o radialista.

O Brasil tem um histórico de grandes jogadores e grandes equipes. Equipes que encantavam o mundo da bola com sua maneira bonita de jogar futebol. Para Bertozzi, o torcedor brasileiro se acostumou com isso e a cobrança vai além de vencer os campeonatos, o time tem que jogar bonito. “Porque não basta vencer. Tem que jogar bem. Vitórias magras por um gol não são suficientes para satisfazer o torcedor. Há casos de desavenças entre treinador e a estrela do time. Em 2010, o Santos encantava o país, mas Dorival Jr. foi demitido após um atrito com Neymar..”

“O treinador tem o resultado de acordo com o nível do time à sua disposição”

Igor Assunção

Recentemente os clubes brasileiros têm apostado bastante em treinadores estrangeiros. Esses treinadores, na maioria das vezes, chegam ao Brasil com outro tipo de filosofia de trabalho. O Brasileiro tem certo “preconceito” e resistência quanto a essas mudanças de pensamentos no que acarreta em mais demissões, independentemente se o trabalho do treinador é bom ou não. Um exemplo desse caso foi de Diego Aguirre no Internacional e no Atlético/MG. O treinador uruguaio levou o time gaúcho ao título estadual e à semifinal da Copa Libertadores e no ano seguinte levou o Atlético a uma final de estadual e a uma Quartas de Final da Libertadores, mas mesmo assim, foi demitido.

Bertozzi tenta explicar o caso. “Diego Aguirre fazia um rodízio de jogadores no Inter e o torcedor não está acostumado a isso. Temos a filosofia de que a escalação deve ser repetida para que os jogadores ganhem entrosamento, tenham continuidade. ” Para Assunção, a falta de resultados não é culpa exclusiva dos treinadores, mas é mais fácil cobrar apenas deles. “É muito mais fácil trocar uma única peça do que trocar onze. Deve se ter uma análise do desempenho e do trabalho no dia a dia. Não adianta cobrar do treinador sem ele ter bons jogadores para trabalhar. O treinador tem o resultado de acordo com o nível do time à sua disposição.” Nós não vemos nenhum sinal de que essa nossa cultura vai mudar. Tampouco vemos uma ação dos treinadores quanto a isso. “Primeiro, ele deve se aprimorar, fazer cursos com os melhores da Europa, aprender novos esquemas e métodos de trabalho. Os técnicos brasileiros não se reciclam, não falam inglês, não conhecem os treinamentos feitos na Europa. São preguiçosos. Tanto assim, que não temos nenhum trabalhando no velho Mundo, em time de ponta. E não teremos tão cedo”, afirma Jaeci Carvalho. Para Bertozzi essa situação incomoda aos treinadores, mas de maneira individual eles tentam melhorar a situação. “Os treinadores se incomodam com a falta de estabilidade, claro. Por outro lado, eles não são unidos para mudar isso. O que se vê são ações individuais de um técnico ou outro que vai ao exterior para observar grandes potências do futebol, fazer cursos e se aperfeiçoar. Foi o caso do Mano Menezes e do Muricy Ramalho”, afirmou o comentarista.


Editor e diagramador da página: Rachel Silveira

O Ponto

Esporte  •  13 Belo Horizonte, Outubro de 2016

Estabilidade x Insegurança Na Inglaterra, a média dos treinadores empregados nos clubes são de 11 meses. Esses números, para o Brasil, seriam maravilhosos, tendo em vista que a média no país do futebol são de 5 meses. Porém, na Inglaterra, o treinador permanecer no cargo 11 meses é alarmante. Essa pesquisa da revista inglesa motivou o programa “Redação SporTV“ a fazer uma gráfico que mostra a média de tempo de treinadores empregados em 4 países (Brasil, Inglaterra, Espanha e Alemanha). A pesquisa mostra em qual país um treinador tem mais estabilidade e segurança no cargo. O Brasil tem os piores números dessa pesquisa enquanto a Alemanha é o “paraíso“ dos treinadores. Não por acaso foi para os alemães nossa maior humilhação no futebol.

Um exemplo da rotatividade é o treinador Marcelo Oliveira, em destaque, que está comandando o Altético Mineiro, seu segundo clube na temporada

Foto: Bruno Cantini


14  •  Comportamento Belo Horizonte, Outubro de 2016

Editor e diagramador da página: Letícia Gontijo e Sara Lacerda

O Ponto

LIBERDADE CAPILAR Emergindo das redes sociais, a liberdade capilar chega cada vez mais a cabeça das mulheres, libertando-as de padrões

Letícia Gontijo 2º Período

diz que aprendeu quatro lições com sua escolha. A de número um, diz, é respeito. “Se você vê algo que não te agrada, e não tem haver com sua vida, não precisa demonstrar isso em voz alta, ou fazer questão que o outro saiba”, reflete. A lição número dois segundo a youtuber, é questionar a sociedade.Já a de número três é não definir as atitudes de uma pessoa pela sua aparência. “Pensamos que não, mas isso ainda nos atinge muito. Estipulamos uma forma de agir para a forma que a pessoa se veste, ou pinta os cabelos, mas no final das contas ela não pode ser o que pensamos ou ela pode ser mais do que pensamos.”, pondera Perternelli. Sentir-se bem consigo mesma, independente da opinião alheia” é a quarta lição. Sobre liberdade e estilo a blogueira enfatizou que “Estilo

é uma consequência da liberdade interior”. A ex-aluna do curso de jornalismo da Fumec, Nádia Schmidt, é dona do vlog Nadica de Nadia, hoje com mais de 30

“Estilo é uma consequência da liberdade interior”

Isa Perternelli

mil acessos. Nádia tem o cabelo bem curto e pintado num ruivo quase laranja, e no “Nadica” já compartilhou com suas seguidoras como foi a experiência de abandonar o longo, dicas de penteados com o clássico curtinho e também já reclamou sobre o tabu que as pessoas criam que “mulher bonita tem cabelo grande”. Quando a jor-

nalista resolveu juntar meninas para fazer um vídeo com suas transformações capilares, ela se impressionou com a quantidade de pessoas que fizeram contato, afirmando que as transformações as libertaram. Para a própria Nádia, usar o cabelo de acordo com o que você gosta e não com a opinião alheia é sim uma expressão de liberdade. Completar a frase “Mulher bonita tem...” para Nádia a resposta “confiança” é suficiente. Além disso a youtuber ressalta que o que sempre vai importar é a autoestima, a inteligência e a competência. Uma mulher não deixa de ser feminina por ter os cabelos curtos, muito pelo contrário.”, diz. Para quem está querendo mudar mas ainda não começou Nádia sugere não se importar com o que dizem e ser corajosa diante de si mesma. Rayane Carolina, de 16 anos,

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

A internet, as redes sociais e todas as formas de compartilhamento de experiências estão fazendo com que os jovens adquiram cada vez mais liberdade de expressão em relação à sua imagem. Isso porque há algum tempo atrás, para se encontrar posturas e estilos diferentes, era necessário deparar-se fisicamente com o indivíduo “alternativo”, “fora da caixa”. Hoje, através do Youtube, Facebook , Twitter, dentre outros, os jovens compartilham seus estilos e contam sobre os preconceitos que sofreram quando decidiram fugir do padrão. Com a fluidez desses espaços na web, a liberdade capilar vem tocando cada vez mais cabeças. As mulheres vêm se mostrando sem receio dos seus cachos, de

suas mechas coloridas, e até de suas cabeças raspadas, nuas de qualquer tipo de padrão. A dona do blog culturabrs. com e youtuber Isabelle Perternelli, 22 anos, sempre teve paixão por cores e fez faculdade de moda. Em agosto de 2016 ela decidiu adotar o rainbow hair (cabelo arco-íris) e compartilhou em seu canal “Fala Isa” , com 1.685 inscritos, como conquistou esse colorido, para que mais meninas se encorajassem a aderir esse estilo. Antes do rainbow, com 18 anos, Isa tingiu pela primeira vez somente as pontas de azul, depois tingiu completamente de verde. O canal veio depois do cabelo colorido. Da primeira vez , ela confessou que levou um susto e queria tirar o azul pelo que as pessoas falavam. Hoje com mais de quatro cores na cabeça Isa

Isa Perternelli, do blog cukturabrs.com e do canal do youtube “Fala Isa”

Rayane Carolina, 16 anos


Comportamento  •  15

Editor e diagramador da página: Letícia Gontijo e Sara Lacerda

O Ponto

Belo Horizonte, Outubro de 2016

pessoas. Com o tempo a maioria foi se acostumando e percebendo o quanto a felicidade refletia na auto-estima dela, mas até hoje, a jovem ainda recebe olhares de reprovação. Rayane criou uma página de empoderamento feminino chamada “Mulher Você Pode!” e lá dá abertura para que várias meninas contem sobre como se amam da forma como querem ser e não como estabelecem os padrões. Quando perguntada sobre como a internet ajuda na libertação dos cabelos ela disse que por mais que ainda haja muito cyberbulling, esta é uma ferramenta linda para se empoderar. e conclui que “liberdade capilar é amor por você do jeito que for, do jeito que você quiser e não do jeito que obedece qualquer padrão.” Débora Zilah, 20 anos, estudante de jornalismo, sofreu

muito antes de decidir raspar a cabeça. Desde pequena, Débora usava química para alisar os cabelos porque via todas as meninas da escola com eles lisos. Até que depois de alguns anos o uso dos produtos fez com que seu cabelo começasse a cair e ela fosse obrigada a assumir seus cachos. Mas ela não se sentia bonita com o cabelo natural, e, com o efeito colateral da química que utilizava, adquiriu falhas no couro cabeludo que destacavam muito. Depois de três anos se sentindo “escrava do seu cabelo”, Débora que já admirava a coragem de mulheres com a cabeça raspada, começou a cogitar essa ideia, mas tinha muito medo de como ficaria e da reação das pessoas. Foi aí então que ela contou aos familiares e amigos que rasparia. A família que de início apoiou, agora não gosta muito,

e os amigos que tentavam evitar hoje adoram a nova Débora. Tudo isso ocorreu numa madrugada em que ela resolveu se libertar e junto de uma tesoura e um gilete foi se aventurando. Durante o processo ela ia se vendo e se sentindo cada vez melhor. Ela conta que quando viu sua cabeça brilhando no reflexo do espelho

“...a vida é muito curta para evitar uma mudança por medo”

Déborah Zilah

ficou muito feliz e satisfeita por ter realizado essa vontade, sentindo o alívio e a libertação do cabelo. Débora ainda afirma que ficar feio ou bonito não

era preocupação. “Não avaliei minha beleza, só me sentia feliz, pois todos os dias até aquele momento, eu havia sofrido com o meu cabelo”, lembra. Hoje feliz com sua aparência, ela conta que quando ficou careca, a autoestima deu uma alavancada. Eu me senti forte para enfrentar os olhares na rua, pois pela primeira vez eu me sentia linda e segura de quem eu sou. Foi uma libertação de fora para dentro”, constata. O conselho que ela deixa para meninas que desejam mudar é de que a vida é muito curta para evitar uma mudança por medo e é pior ficar sonhando com o que poderia ter acontecido do que enfrentar as consequências. Por isso, as pessoas devem arriscar sem medo, agir em prol do bem estar, independentemente se isso vai agradar ou não aos outros.

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

passou há um ano pela transição de abandonar a química, que deixa os cabelos lisos, para voltar a sua forma cacheada natural. Mesmo satisfeita com o resultado, ela troca a cor várias vezes, trança e brinca com o cabelo de muitas formas que não sejam necessariamente naturais. Antes disso, com o cabelo alisado, ela não se sentia bonita, nem que ele lhe pertencia, e também afirma que o alisamento impedia a diversão da época de criança pois quando ia brincar o cabelo dava trabalho para se manter. Até que um dia Rayane pegou a tesoura e cortou tudo que sentia não ser seu. O cabelo ficou na nuca, com uma raiz muito alta, e foi aí que ela se sentiu bonita pela primeira vez na vida. Desde então abandonou a chapinha e começou a lidar com o estranhamento e o preconceito das

Nádia Schmidt, do canal do youtube”Nadica de Nádia”

Déborah Zilah, 20 anos, estudante de jornalismo na FUMEC


16  •  Comportamento

Editor e diagramador da página: Sara Lacerda

Belo Horizonte, Outubro de 2016

O Ponto

Lutando contra o preconceito e a desvalorização da profissão, profissionais e estudantes de estética tentam consolidar o novo curso que não se caracteriza apenas em “passar creminho ou escolher a cor do batom”

Rafaela Gomes trabalha como maquiadora desde os 16 anos.

Sara Lacerda Rachel Silveira 4º Período Beleza, perfeição, bem-estar e uma boa autoestima têm se tornado, cada vez, mais uma busca constante na sociedade contemporânea. Consequentemente, toda e qualquer área que esteja ligada ao visual tem crescido significativamente. Profissionais de estética têm ganhado mais espaço e influenciado de maneira positiva o cenário atual. Rafaela Gomes e Sabrina Rosa, ambas de 20 anos, estudantes do último ano do curso de Estética oferecido pela Faculdade de Ciências Empresariais (FACE) da Universidade FUMEC, estão otimistas quanto à profissão escolhida: “Mexer com a autoestima das pessoas é algo muito gratificante, além de ser de grande responsabilidade alcançar a satisfação do cliente ao final de cada tratamento”, diz Sabrina.

A coordenadora de curso de estética, Ludmilla Bonelli, trabalha há 19 anos na área de estética, é fisioterapeuta demartofuncional (atua na prevenção, promoção e recuperação da pele), tem uma clínica em Belo Horizonte onde faz atendimento, um centro de treinamento de cursos, e uma linha de cosméticos que leva seu nome. Percorre o país ministrando cursos e palestras relacionados à área. A profissão apresenta diversos ramos de atuação como maquiagem, desenho das sobrancelhas, atendimento em clínicas, resolução de manchas, envelhecimento da pele, estrias, celulites, massagens redutoras, e também trabalhos com cirurgiões plásticos. Ludmilla Bonelli afirma que hoje em dia até um pequeno consultório que se abra, “acaba dando certo”. Jenifer Ferreira Mesquita é tecnóloga em Estética formada em 2010, mas trabalha na área

desde 2005. Sua fascinação por beleza e emagrecimento foi o que fez com que optasse pela profissão. Já para a estudante Sabrina, escolher o curso foi um risco porque teve medo e não sabia como seria e o que iria encontrar. Ela diz, porém, que se sente realizada e que fez a escolha certa. Entretanto, para Rafaela Gomes, a escolha da graduação foi o maior problema. Ela diz que em relação à profissão não sente receio, já que é uma área que vem crescendo a cada dia. “Tive medo por estar entrando em um curso novo que está sendo divulgado há pouco tempo”, pondera a estudante. Apesar de ter começado o curso há apenas três anos, Rafaela já exerce a profissão de maquiadora desde os 16 anos. Com o tempo, percebeu que uma graduação seria importante, e o curso com que mais se identificou foi o de Estética. Hoje, além

de maquiadora aprofundou-se ainda mais na área, trabalhando com microblading de sobrancelhas (técnica de preenchimento de sombrancelhas) e ainda ministrando cursos profissionalizantes. “O curso de estética acrescentou muito na minha vida e me fez ter uma visão mais ampla e aprofundada sobre a área” afirma Rafaela. Quando os profissionais são questionados sobre preconceito em relação a área, as respostas foram sucintas. Sabrina e Rafaela afirmam que apesar de apoiadas por suas famílias, sofreram com as críticas: “Todo mundo acha que estética é passar creminho ou escolher a cor do batom, mas é muito mais que isso e exige de nós bastante estudo”, conta Sabrina. Jenifer relata que quando o curso era menos conhecido foi considerada uma massagista, sendo discriminada pelo fato de muitas pessoas considerarem como

algo supérfluo. Ludmila afirma que, pelo fato de se tratar de um curso novo, as pessoas sempre ficam com um pé atrás, e desconfiam se os profissionais são preparados o suficiente, e se o curso é realmente bom. Atualmente, com a ascensão do curso de Estética e da área em geral, a procura por uma graduação também aumentou. De acordo com a coordenadora Ludmila Bonneli, as desistências estão diminuindo, enquanto a quantidade de pessoas que ingressa no curso cresceu. Mais segura, a estudante e profissional Sabrina afirma que não arrepende de ter escolhido este ramo, e que seu sonho é montar um espaço e trabalhar com estética facial e corporal. Para a coordenadora, os benefícios do diploma são percebidos há longo prazo. “O setor tem crescido e está sempre passando por mudanças, exigindo dos profissionais estudo sobre as atualizações e especializações”, afirma.


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