Senado aprova em primeiro turno exigência de diploma para jornalistas Pag. 6 Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 12 | Número 85 | Dezembro de 2011 | Belo Horizonte / MG
Distribuição gratuita
Irmãos belorizontinos são destaque nacional em HQs
Recentemente convidados para transformar a Turma da Mônica em Graphic Novel, Luciana e Vitor Cafaggi contam como funciona o dia-a-dia de quem faz da arte de desenhar um estilo de vida Ilustração:Vitor e Lu Cafaggi
Pág. 13
Sábado Solidário
Crimes Virtuais
Futebol
Ilustração: Diego Duarte
Págs. 08 e 09
S
S
Equipes mineiras da série A gastam muito, contratam mal, e vêem retorno negativo dentro de campo
Os perigos das redes sociais, e como se prevenir deles
Oriente Médio
S
Arte: Lucas Rage
Em sua sexta edição, Dia Nacional da Coleta de Alimentos reúne jovens em frente a supermercados da região metropolitana com o objetivo de arrecadar doações para entidades carentes
Pág. 14
Págs. 10 e 11
Jornalista premiado, Frederico Duboc discute o atual cenário do Oriente Médio Pág. 04
Foto: Túlio Kaizer
Entrevista Humorista Geraldo Magela fala dos desafios enfrentados por deficientes visuais Pág. 05
Ilustração: Divulgação - Adaptação: Lucas Rage
Divulgação
02 • Opinião
Editor e diagramador da página: Lucas Rage - 6º período
Belo Horizonte, dezembro de 2011
O Ponto
Questões documentais Apesar da aprovação do público, atual produção nacional de documentários cai na inerente armadilha dos clichês Imagens: Divulgação
Maria Eduarda Ramos 4º período É bem verdade que, nas últimas décadas, o gênero documental sofreu diversas mutações. A própria origem do estilo se separou em duas escolas. Uma, a americana, era liderada pelo diretor Robert Drew que, entre outros feitos, documentou a jornada de J. F. Kennedy quando o ex-presidente americano lidou com assuntos de guerra. Sua técnica era engessada e incluía, entre outros elementos, os de reportagem como a narrativa em off e o roteiro pré concebido. Na França, Jean Rouch inaugurou a antropologia visual, além de permitir um diálogo entre a ficção
Di Ego
e o documental. A relação entre os dois gêneros evidencia o hibridismo inerente à identidade do que chamamos de documentário. Avenida Brasília Formosa, do jovem cineasta Gabriel Mascaro, tais como outras realizações brasileiras, como O Céu sobre os Ombros, de Sérgio Borges - mineiro que levou o 43º prêmio do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro - trazem consigo essa característica da ambiguidade, em que Rouch foi o pioneiro. Tirando o aperto que os festivais passam para decidir em qual categoria inscrever tais realizações “soltinhas” em seus cátalogos de lógica positivista, tudo vai muito bem, obrigado. A grande maioria agrada ao júri, que nos últimos festivais andou premiando documentários como Estamira, de Marcus Prado e A Pessoa é Para o Que Nasce, de Roberto Berliner. Nesse ponto, a problemática de ser ficção ou documentário perde totalmente o seu valor e parece ser picuinha de acadêmicos entediados. O fato que intriga consiste nos objetos que todos esses diretores escolhem para nortear suas narrativas. A maioria é pobre, ou tem uma deficiência física, ou é portador de doença mental, ou tudo ao mesmo tempo. Em Estamira, por exemplo, Prado dá voz a uma catadora do lixão esquizofrênica que ele conheceu quando cobria as filmagens do documentário O Lixo Extraordinário, do artista plástico Vik Muniz. Há quem tenha assistido e se emocionado com a forma poética com que as imagens tratam a loucura, revelando de maneira sutil seu lado mais são. Realmente, obras como Estamira tem uma função social: Comprovam a potência que o documentário tem de revelar as faces ocultas da sociedade. O que se observa, porém, nos festivas nacionais, é uma onda de produções nas quais o sujeito frágil é sempre ovacionado e manipulado pelos diretores de maneira utilitária. No fim das contas, seus realizadores ganham prêmios e prestígio, enquanto a realidade documentada em nada é modificada. Por fim, é um cinema poético, mas inerte. Dessa forma, o circuito não comercial se distancia cada vez mais do discurso militante, e peca pelo outro extremo: abstração em
demasia e falta de engajamento político. A arte sofre mutações com o passar do tempo e, por ser obra dos homens, a crítica sempre a acompanhará. Por este motivo, muitos cursos de comunicação ensinam, durante a formação, como se formula um artigo de crítica. Jornalistas acima de qualquer coisa possuem o olhar inquieto de buscar a verdade e a essência no mundo e é por essa razão que não deveríamos nos conformar somente em analisar as produções alheias, mas investir no potencial de criação que a classe possui. Talvez nasça daí muito mais do que um novo gênero para entrar nos catálogos dos festivais: uma nova forma de se pensar e produzir documentários.
o ponto Coordenação Editorial Prof. Aurélio José (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Monitor de Jornalismo Impresso Túlio Kaizer Monitores da Redação Modelo Lucas Rage e Maria Eduarda Ramos Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: oponto@fch.fumec.br Presidente do Conselho Curador Prof. Tiago Fantini Magalhães Reitor da Universidade Fumec Prof. Antônio Tomé Loures Diretora Geral Profª. Thaïs Estevanato Diretor de Ensino Prof. João Batista de Mendonça Filho Diretor Administrativo e Financeiro Prof. Antônio Marcos Nohmi Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira
Tiragem desta edição: 3000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
Cotidiano • 03
Editor e diagramador da página: Lucas Rage - 6º período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2011
Um dos meios de transporte mais utilizados pelos universitários, a van hoje também é um lugar de boa conversa, várias estórias e grandes experiências
Vida de
O dia começa cedo. Nem clareou e o relógio já está despertando. São 5h da manha e os alunos que precisam pegar van já estão acordados, arrumando-se para mais um dia de aula na faculdade. A rotina para quem mora fora de Belo Horizonte e precisa deste transporte todos os dias para estudar não é das mais fáceis. Além dos perigos da estrada, o sono e o cansaço são os maiores vilões de quem, mesmo morando em outra cidade, opta por estudar ou trabalhar em Belo Horizonte. Na sua grande maioria composta por jovens que ainda moram com os familiares, que buscam a proximidade dos amigos e o conforto de casa, os estudantes que utilizam as vans acabam sendo sempre questionados do motivo de não se mudarem para Belo Horizonte. Mas por que morar longe? Os benefícios de se estudar perto de casa são óbvios, indo desde poder acordar mais tarde até evitar o estresse de pegar estrada todos os dias no trajeto casa-faculdade. Alguns estudantes são enfáticos ao afirmar que o conforto de casa e a proximidade de amigos e familiares influenciam bastante na escolha. Um desses casos é o de Arthur Neto, estudante de Engenharia Mecânica da Universidade Newton Paiva, que utiliza a van há quase um ano. Para ele a proximidade de Sete Lagoas e Belo Horizonte (75 km), foi um dos principais fatores na hora da escolha: “Logo que saio da aula a van me busca, e uma hora depois já estou em casa. Isso me traz muitas vantagens, pois tenho o resto da tarde para estudar e
realizar minhas tarefas diárias”, diz o estudante. Neto conta que no inicio do ano até pensou em se mudar para Belo Horizonte mas, como já tem uma irmã que estuda em Ouro Preto preferiu ficar em Sete Lagoas para fazer companhia à sua mãe: “não queria ficar em BH sabendo que a minha mãe ficaria sozinha em casa, além disso, ir e voltar de van fica mais em conta do que alugar um apartamento” afirma. Com o pensamento semelhante, a estudante de Direto da Universidade Milton Campos Luna Vilefort , também ressalta que escolheu a van para poder dormir em casa todos os dias. Para ela, morar em outra cidade não atrapalha em nada na hora de estudar: “Morar fora de BH nunca me atrapalhou a fazer nenhum trabalho ou estudar para as provas. Sempre que preciso recorro à internet e aos meus cadernos”, Luna ainda afirma que, por estar em casa, é mais cobrada pelos familiares do que se morasse em Belo Horizonte: “aqui em casa quando alguém vê que não estou estudando já começa a falar. Por esse motivo acabo estudando mais”, diz. Porém, muitos alunos escolhem essa vida não só pelo conforto de casa, mas também pelo trabalho. Victor Ribeiro, estudante de Educação Física da UNI-BH, é também instrutor de academia. Segundo ele, a grande vantagem de ir e voltar todos os dias de van da faculdade para sua cidade é poder ser reconhecido em Sete Lagoas pelo seu trabalho: “Claro que é cansativo, mas isso não me impede de trabalhar todos os dias e repassar aos meus alunos na academia todo o aprendizado que tenho na faculdade”. Outro fator primordial destacado pelo estudante é o convívio diário com os outros alunos que utilizam o
transporte. Para ele a amizade entre todos dentro da van é muito importante: “O clima dentro da van é muito bom. Lá a gente ri muito, conversa e quando não tem jeito aproveita para dormir um pouco. Isso sempre faz com que a viagem fique mais divertida e menos cansativa”. Mas não são só os alunos que têm que acordar cedo e passar boa parte do dia na estrada. Roberto Vaz de Melo, conhecido como “Betão”, trabalha com trasporte universitário há 15 anos. Ele conta que ingressou nessa profissão sabendo dos riscos e da responsabilidade de transportar várias pessoas de uma cidade a outra: “Quando comecei, existiam apenas três vans que faziam o caminho Sete Lagoas/Belo Horizonte e, como o mercado era pouco disputado, resolvi arriscar. Hoje a van é minha fonte de renda”, afirma o motorista. Betão conta também que várias situações engraçadas já ocorreram nestes anos de profissão, como uma vez que estava fazendo o transporte de alguns jovens a um evento de axé em Belo Horizonte: “na volta, um deles deitou no corredor da van e dormiu. Como não percebi que ele estava lá levei as outras pessoas embora e fui para casa. Chegando na garagem me deparei com um menino gritando desesperado pedindo para eu levar ele embora”. A vida dentro de uma van é assim. Mesmo com os transtornos, os atrasos na hora de acordar e os engarrafamentos na estrada, quem utiliza este transporte diariamente acaba se acostumando com a rotina. Por esse motivo, ir e voltar todo dia de uma cidade para a outra acaba sendo recompensador, principalmente para quem busca um futuro que não pode ser encontrado nos municípios que vivem.
Fotos: Hugo Lacerda
Hugo Lacerda 6º Período
Bom humor: Estudantes voltam para a sua cidade após uma manhã de estudos
Próximo a Fumec, vans se aglomeram à espera dos alunos
Soneca: A estudante Luísa Macedo dorme durante a viagem
O motorista “Betão”, responsável por levar os alunos de volta para Sete Lagoas
04 • Entrevista
Editor: Lucas Rage - 6º período - Diagramadora da página: Joana Moretzsohn - 5º período
Belo Horizonte, dezembro de 2011
O Ponto
Democracia, Fé e Luta
Os atuais conflitos no Oriente Médio, o futuro da população muçulmana e o reflexo dessas mudanças no mundo ocidental são temas de entrevista com o jornalista Frederico Duboc - editor internacional do jornal O Tempo nos períodos de 2001 a 2004 e finalista dos prêmios Esso e Embratel de Jornalismo
Libia
Joana Moretzsohn 5º PERIODO O Ponto - O que deixou Muammar Kadhafi por tanto tempo resistindo aos ataques e declarando que não renunciaria? Frederico Duboc - Quando os rebeldes líbios se insurgiram contra o governo, na esteira dos movimentos de contestação no Norte da África e Oriente Médio, eles conseguiram levantar sérios questionamentos sobre a legitimidade da dominação exercida por Muammar Kadhafi sem, contudo, ameaçar consistentemente sua capacidade de se manter no poder. Ou seja, as bases da obediência e da confiança da população no governo foram postas em dúvida, mas restaram ao governante, ainda, condições para manter o controle das organizações políticas, econômicas e legais do país. Em 19 de março - momento que a campanha de bombardeios da Otan começou - a Liga Árabe e países europeus já haviam reconhecido o Conselho Nacional como um interlocutor legítimo, mas a situação interna não refletia as conquistas no plano internacional. As tropas governistas estavam em vantagem, a poucas centenas de quilômetros de Benghazi (a sede do movimento rebelde) e com o controle temporário de portos e centros de distribuição de combustível essenciais para os insurgentes. E, apesar de relativizarem a vantagem militar das forças de Kadhafi, bombardeios aéreos não têm a capacidade de promover ações políticas e a renegociação das bases de sustentação do regime Qual o efeito imediato da morte de Khadafi nos protestos pró-democracia nos países árabes? O processo da rebelião líbia, que culminou com a morte de Khadafi, informa algumas coisas para os movimentos contestatórios do Norte da África e Oriente Médio: manifestações de rua, como na Tunísia, não bastaram para a derrubada do governo; só após a intervenção dos países europeus e dos EUA os rebeldes conseguiram um equilíbrio mínimo que os impediu de serem sufocados. Khadafi contou até o fim com forças militares surpreendentemente leais, dado seu regime autoritário e a diminuição do seu poder. É raro haver uma transição institucional em que o
mandatário questionado cede e se submete às decisões do novo Executivo e às regras do Judiciário, como ocorre no Egito. Ou seja, o movimento na região tende a se afastar do modelo da Primavera de Praga e dos protestos de Paris (se é que em algum momento possuiu semelhança suficiente para justificar a inspiração do nome) e a caminhar para levantes e repressões ainda mais sangrentos, que lembram as revoltas tradicionais e com custos políticos, sociais e econômicos muitíssimo elevados. Qual a natureza dos conflitos? Os levantes que resultaram na derrubada de governos na Tunísia e no Egito, além de promoverem questionamentos sérios aos governos da Síria, Iêmen– entre outros – são movimentos originados internamente e que visam à conquista de direitos de participação política e de melhor distribuição das receitas nacionais. O fato de ocorrerem em um intervalo de tempo tão exíguo e praticamente simultâneo ainda aguarda uma explicação segura, mas é possível identificar alguns fatores relacionados a eles. Um dos fatores, que teve sua função exagerada, é a capacidade de mobilização dos segmentos nacionais por meio das redes sociais. Sociedades longamente submetidas a um déficit de participação política encontraram na Internet uma forma segura de expressar suas insatisfações e demandas. Mas, isso, apenas, não é suficiente para promover um levante de tal magnitude. Somando a isso, a política internacional de apoio aos regimes fracamente democráticos e, em grande medida, amparados nos altos comandos militares nacionais começou a oscilar. Em parte pela mudança do eixo geopolítico cada vez mais para o oceano Índico e para a Ásia Central; em parte, pela pressão de Europa e Estados Unidos por algum grau mínimo de liberalismo econômico e político. Esses elementos contribuíram para ativar forças sociais internas nesses países na reivindicação de maior participação política – sejam grupos políticos, econômicos, de orientação religiosa – bem como para ativar conflitos internos que estavam dormentes sob a pressão de regimes de força. O que a população esperava para se rebelar? Ainda que incipientes ou desorganizados, os movimentos de oposição sempre existiram nesses países. O que me parece é que o atual contexto conjugou pressões internas elevadas com alinhamentos internacionais que favoreceram tanto sua visibilidade quanto seus sucessos iniciais. O que muda para os cidadãos do Ocidente? Quais as principais mudanças devemos esperar para o Oriente Médio após estes conflitos? O impacto não está claro. É preciso aguardar qual será a definição dos grupos vencedores (mesmo nos países em que houve mudança de governo, não está definida a orientação para regimes democráticos pluralistas, autocráticos religiosos ou algum ponto entre esses dois extremos).
Você concorda com a intervenção dos EUA? A política externa dos Estados Unidos em relação aos movimentos no Norte da África e Oriente Médio foi reativa, tardia e ineficaz. Barack Obama, eleito sob a plataforma pacifista, já lutava dois conflitos externos (Iraque e Afeganistão) e foi chamado a se posicionar sobre uma terceira iniciativa militar. Ele decidiu não se decidir: participando de uma campanha de bombardeios aéreos, ele ensaiou uma resposta a quem o acusava de ter “estômago fraco” e não foi capaz de resolver o problema original: o déficit democrático líbio. E, pior, prolongou um conflito militar civil e suas consequências para a população, contrariando a justificativa humanitária para a ação. Tenho dúvidas de que uma ação militar por parte dos Estados Unidos e Otan seja a resposta mais efetiva para o problema e tenho certeza de que bombardeio aéreo nunca promoveu democracia ou bem-estar. Qual a sua opinião sobre interesses econômicos diversos que impulsionaram a intervenção de alguns países nos conflitos? Eu não diria que somente interesses econômicos impulsionaram a intervenção. Um recente artigo do “Council of Foreign Relations” discute outras justificativas geralmente aceitas para a intervenção como: mudança do regime, alertar outros ditadores, apoiar os rebeldes, entre outras. Não podemos esquecer, também, que a Resolução da ONU 1973, que autorizou os bombardeios, fala claramente em defender os civis. Obviamente, fatores econômicos foram levados em conta. Eu mesmo levantei alguns deles ao citar o contexto em que ocorrem os movimentos do Norte da África e do Oriente Médio. Qual a relação do Brasil com estes países?Algo muda com a democracia instalada? O Brasil, até o fim do governo Lula, havia se empenhado na busca de um papel de interlocutor privilegiado com o Oriente Médio e, principalmente, com o Irã na questão do desenvolvimento de tecnologia nuclear. Em sua gestão, a presidente Dilma Roussef não demonstra o mesmo empenho, mas tem reafirmado o compromisso nacional com os princípios de liberdade política, de soberania e não-intervenção e de proteção à vida. Pode-se fazer duas leituras à luz do ambiente internacional: a atual gestão se convenceu de que não possui as capacidades para exercer esse papel (o que não me parece a mais correta) ou está concentrando seus esforços em outras arenas nas quais tem obtido avanços (como a Unasul, o G20, os Brics). O fato é que o atual posicionamento brasileiro em relação aos levantes na região é apenas de observação e, até que se defina o direcionamento desses movimentos, é difícil que o governo nacional mude sua tática. Você acredita que a religião destes países será afetada pelo sistema de governo? A mudança de governo e a mudança da religião de um povo são processos distintos. Foge da minha capacidade fazer projeções sobre isso. www.newstatesman.com
Lados opostos: protestos comemoram a revolução Libia em Londres (e) enquanto manifestantes mostram apoio a Kadhafi em Trípoli (d)
Editor e diagramador da página: Lucas Rage e Túlio Kaizer - 6º e 4º períodos
Entrevista • 05
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2011
Piadas contra o preconceito O humorista mineiro Geraldo Magela, conhecido como “Ceguinho” aposta no talento e no bom humor para vencer dificuldades da deficiência visual e conquista o sucesso e reconhecimento como comediante Marciano Arcanjo 5º Período Geraldo Sebastião Magela, 53 anos, é um deficiente visual que não para diante das dificuldades e usa o humor para se declarar um vencedor. Como humorista, Magela adota o nome artístico de “Ceguinho” e justifica a escolha do apelido como forma de quebrar do preconceito em relação à cegueira. O comediante, conhecido por suas piadas e “causos” sobre cegos, começou a vida artística trabalhando em lojas fazendo
Divulgaçã Ilustração:
ão: Luca o - Adaptaç
s Rage
locução, anunciando os produtos. Mas ele fazia os anúncios de um jeito diferente, imitando vozes de personagens famosos, dando a entender que os mesmos estavam presente no local. Sua primeira experiência na televisão foi na Rede Minas, apresentando um programa de rádio, dentro da TV, chamado “Rancho Fundo”. No teatro começou com a peça “Radioatividade”, onde era apresentada, no palco, a programação diária de uma rádio. Logo depois, apre-
sentou o show “Cegos, mancos e loucos” com Kaquinho Big Dog. Em 1996, Geraldo Magela lança o show que o consagrou: “Ceguinho é a Mãe”, no programa “Jô Soares Onze Meia”, ainda no SBT. A partir daí, sua carreira e sua vida virou completamente. Magela trabalhou por dois anos e meio na Escolinha do Barulho, na Rede Record, além de ter participado nos humorísticos “A Praça é Nossa”, do SBT, e “Zorra Total”, da Rede Globo. Hoje, o humorista faz parte da equipe que apresenta o programa Graffite, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 17h às 19h, na rádio 98FM. Além do programa Graffite, Magela também faz shows nos finais de semanas, o “Comédia di Buteco”, e participa da escolinha do Gugu. Para o humorista, foi difícil entrar no mercado de trabalho e quebrar essa barreira preconceituosa. Mas ele afirma que os avanços tecnológicos contribuíram muito para o crescimento da pessoa com deficiência. Em entrevista ao jornal O Ponto, o Ceguinho conversou com o Repórter Marciano Arcanjo, também deficiente visual, e falou sobre sua carreira e os desafios de ser cego. O que você acha do preconceito em relação à pessoa com deficiência? Geraldo Magela: O preconceito começa desde a família que tem deficiente em casa, que se preocupa apenas em proteger o deficiente e não dá oportunidade para ele
demonstrar o seus talentos. Muitos cegos, por exemplo, produzem programas de rádio sozinhos pelo computador, outros compõem música, entre várias outras atividades. Em relação às mídias, elas deveriam, nas campanhas, deixar de colocar as piadinhas que jogam o deficiente para baixo e demonstrar o lado positivo dessas pessoas. Dessa forma, seríamos vistos com outros olhos. A sua deficiência visual é de nascença ou você perdeu a visão depois de mais velho? GM: Quando eu era mais novo eu enxergava um pouco, depois de mais velho, perdi totalmente. Diante das barreiras de um deficiente visual, quais foram os maiores problemas que você já enfrentou? GM: O maior de todos os problemas foi a dificuldade de demonstrar o potencial para trabalhar em rádio. Antigamente, o cego era visto na porta das rádios como pedinte de esmola e não como quem queria um trabalho. Até que um dia, por intermédio do locutor Adair Pinto, me foi concedida a grande oportunidade da minha vida, que era de apresentar o programa Graffite, no qual continuo até hoje. Além de fazer o programa grafite da 98FM e os shows nos finais de semana, quais são suas outras atividades? GM: A comédia di buteco, todas as quintas na Pampulha e a escolinha do Gugu na Rede
Record. Quando você estudou já usava os recursos tecnológicos que existem hoje, como os programas de computador que auxiliam os cegos na leitura de tela? GM: Não. Quando eu comecei aprender o Braille no Instituto São Rafael eu enxergava um pouco e eles diziam que isso poderia fazer eu perder a visão total, por isso, não continuei. Quanto aos programas de leitura de tela de computador, deve ter de três a quatro anos que eu aprendi a usá-los. Diante dos avanços tecnológicos, o que você acha que pode melhorar a vida de um cego? GM: Falta aperfeiçoar mais. Tornar os programas mais acessíveis quanto à leitura de sites assim como já faz o Jaus 13, com leitura de figuras e imagens contidas no site. Na sua família há mais deficientes visuais ou pessoas que possuem outro tipo de deficiência? GM: Sim, somos uma família de oito filhos e além de mim há mais quatro cegos. Você considera seu senso de humor como forma de superação? GM: Sim, porque o que eu conto não são piadinhas, mas contos verídicos do cotidiano de um deficiente visual. A idéia é gerar um questionamento nas pessoas, que acabam aprendendo a lidar com o cego de forma descontraída.
A jornada do Ceguinho Nasce Geraldo Sebastião Magela, que viria a ser o maior comediante cego do país.
Início da carreira artística no programa Rancho Fundo, da TV Rede Minas.
1958
Começa no programa Graffite, na rádio 98FM BH, onde trabalha até hoje.
2009
1987
1978 Aos 20 anos, Magela perde totalmente a visão devido à Retinose Pigmentar.
1996
Com o espetáculo “Ceguinho é a mãe”, consagra-se nacionalmente
06 • Política
Editor e diagramador da página: Adriana Gabriel
Belo Horizonte, dezembro de 2011
O Ponto
Diploma para jornalista vence no Senado Proposta recebeu 65 votos a favor e sete contra e precisa, agora, ser aprovada em segundo turno O Ponto Da Redação O primeiro round da luta pela exigência do diploma para o exercício do jornalismo foi vencido, no último dia do mês de novembro, em sessão no Senado. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33/2009 foi aprovada pelos senadores, em primeiro turno, com 65 votos a favor e sete contra. Ainda será preciso aprovar o projeto em segundo turno. A matéria segue na ordem do dia do Plenário até que um novo acordo entre lideranças partidárias permita sua votação. As informações são da Agência Senado. A PEC 33/2009, de iniciativa do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE),
inclui no texto constitucional o artigo 220-A para estabelecer que o exercício da profissão de jornalista seja “privativo do portador de diploma de curso superior de comunicação social, com habilitação em jornalismo, expedido por curso reconhecido pelo Ministério da Educação”. A proposta prevê, no entanto, a possibilidade de atuação do colaborador, sem vínculo empregatício com as empresas, para os não graduados, e também daqueles que conseguiram o registro profissional sem possuir diploma, antes da edição da lei. A medida tenta neutralizar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de junho de 2009, que revogou a exigência do diploma para jornalistas. Os ministros consideraram que o decreto-lei 972
de 1969, que exige que o documento, é incompatível com a Constituição, que garante a liberdade de expressão e de comunicação. A exigência do diploma seria um resquício da ditadura militar, criada somente para afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime. Relator da matéria no Senado, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) argumentou que o projeto resgata a dignidade profissional, ao fixar na própria Constituição que a atividade será privativa de portadores de diploma de curso superior. Além disso, por se tratar de uma profissão que desempenha função social, o jornalismo precisa de formação teórica, cultural e técnica adequada, além de amplo
conhecimento da realidade. Um dos críticos à proposta foi o senador Fernando Collor (PTB-AL). Segundo ele, a PEC impede a “total liberdade da expressão” da sociedade. O senador também criticou os cursos de jornalismo, que estariam formando “analfabetos funcionais” profissionais que não conhecem a Língua Portuguesa nem cumprem as regras básicas do jornalismo, como apurar bem uma notícia. “Eles não aprendem na universidade aquilo que, nós, outros jornalistas, que não tivemos de passar por esses bancos universitários para exercermos livremente a nossa profissão, aprendemos no dia a dia e na labuta das redações”, afirmou o senador.
Entidades se mobilizam para aprovação da PEC
Senador Clésio Andrade (PR/MG)
Ana Clara Maciel
“O jornalista é um profissional dotado de conhecimento e técnica para apuração e análise dos fatos, sobre como expô-los e com capacidade para avaliar as consequências do que escreve e como escreve.”
Deputada Federal Jö Morais (PCdoB/MG)
“Sem o diploma, o profissional vai ser dependente das relações pessoais com o dono do meio de comunicação. O diploma é um instrumento da democracia.”
Divulgação
A aprovação da PEC 33/2009 vem sendo reivindicada por entidades representativas dos jornalistas, que chegaram a entregar aos parlamentares, abaixo-assinados favoráveis à proposta. No dia 7 de novembro, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais abriu suas portas para um Café Parlamentar com o objetivo de discutir com profissionais da imprensa, políticos e estudantes de Jornalismo, a importância do diploma. O jornalista Luiz Carlos Bernardes, Peninha, diretor de relações institucionais do sindicato mineiro, afirmou que acabar com o diploma é um resquício do neoliberalismo. E questiona: “a quem interessa o fim do diploma?” Peninha ainda ponderou que, se acabar com o diploma no curso de jornalismo, é perigoso que sobrem poucos cursos com essa exigência. O vereador Arnaldo Godoy (PT/MG), presente ao evento, disse que o diploma representa uma medalha olímpica. Godoy se diz totalmente a favor do diploma porque ele é a carta de alforria para que o estudante passe a trabalhar e caminhar com suas próprias pernas. Segundo a deputada estadual, Luzia Ferreira (PPS/ MG), o diploma é reconhecido pela Câmara e Prefeitura de Belo Horizonte devido à sua grande importância. Já a deputada federal Jô Morais (PCdoB/MG) defende o diploma e a criação do Conselho Estadual, porque, segundo ela, ambos são instrumentos da democracia. De acordo com o deputado federal Fábio Ramalho (PV/ MG), em Minas Gerais, todos os parlamentares são favoráveis e esta é uma luta justa. Em artigo publicado no site do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (http://www.jornalistasdeminas. org.br/artigos/jornalista-precisa-de-diploma), o senador Clésio Andrade (PR/MG), afirma que o jornalista precisa de diploma. “(...) o jornalista não é um mero escritor de opiniões. Ele é, preponderantemente, um profissional dotado de conhecimento e técnica para apuração e análise dos fatos, sobre como expô-los e com capacidade para avaliar as consequências do que escreve e como escreve. Para isso mesmo é que obrigatoriamente as escolas de jornalismo ministram a matéria Ética e Legislação dos Meios de Comunicação”, afirma em trecho do artigo. Em abaixo-assinado, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) diz que aposta na “independência e na vocação democrática do parlamento para reverter uma decisão nitidamente obscurantista do STF, que tem como único objetivo atingir a profissão de jornalista e a sua capacidade de expressar a liberdade de expressão prevista na Constituição”.
Senador Fernando Collor de Melo (PTB/AL)
“Eles não aprendem na universidade aquilo que, nós, outros jornalistas, que não tivemos de passar por esses bancos para exercermos livremente a nossa profissão, aprendemos no dia a dia e na labuta das redações.”
Ana Clara Maciel
Divulgação
Kelly Marinho 7º Período
Deputado Federal Fábio Carvalho (PV/MG)
“Deveria implantar o Conselho Estadual de Comunicação e reimplantar o Conselho Federal de Comunicação (...) As boas empresas ainda exigem o diploma.”
Comportamento • 07
Editor e diagramador da página: Lucas Rage - 6º período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2011
O empreendedorismo jovem tem se tornado uma vertente cada vez mais comum em Belo Horizonte. Sem se deixar intimidar pela idade, esses empresários tocam seus negócios com atitude de “gente grande”
Fotos: arquivo pessoal
“Muitas vezes perguntam se estou trabalhando para o meu pai ou algo do tipo.” A fala é do jovem empresário Felipe Lobo, 26 anos. Dono do Take, um restaurante japonês na capital mineira, Lobo já se acostumou a causar surpresa nos clientes ao descobrirem que o proprietário do estabelecimento é alguém com “cara de menino”. O jovem, que sempre foi apaixonado pelo ramo gourmet, chegou a cursar a faculdade de gastronomia, a qual pretende retomar no próximo ano. O gosto pelo comércio Felipe herdou dos familiares e, apesar da pouca idade, já aprendeu que mesmo sendo chefe do próprio negócio, é preciso estar sempre presente para garantir o sucesso do restaurante: “Sempre que posso acompanho de perto. Ficar ausente do estabelecimento reflete na qualidade e rendimento dos serviços”. A realidade de Lobo não é exclusividade. Segundo dados do Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae, cerca de 40 mil pessoas com menos de 20 anos no Brasil são empreendedores individuais. Esse número representa um terço da categoria no país. Edelweiss Petruceli Carayon de Barros, 66 anos coordenadora do sistema de formação gerencial - está no Sebrae há 17 anos, e afirma que esses números crescem cada vez mais. “O Brasil está em terceiro lugar no ranking de empreendedores jovens com 11,9%, ficando atrás somente do Irã (29%) e da Jamaica (28%)” disse a coordenadora. Edelweiss conta ainda que, de acordo com pesquisa do, Global Entrepreneurship Monitor, (GEM) é possível identificar que 68% dos jovens empreendem por oportunidade e 32% por necessidade. Para ela, isso significa uma qualificação maior dos mais novos ao entrar no mercado para abrir uma empresa. A história de Luisa Campos Martins Pires, 28 anos, faz jus aos dados mencionados pelo SEBRAE. Formada em
“Muitas vezes me perguntam se estou trabalhando para o meu pai ou algo do tipo.” Felipe Lobo
Fachada do restaurante Take
jornalismo, Luisa trabalhava em São Paulo como produtora de filmes e propagandas com animais. Sem tempo para cuidar dos cachorros que tinha em casa, descobriu uma espécie de “creche” para cães. Foi como cliente que a jovem descobriu sua vocação: “Apaixonei com o serviço. Larguei o emprego de produtora e fui estagiar no local. Hoje tenho a Aufabeto Instituto de Educação Canina, em Belo Horizonte há dois anos”. Ciente das dificuldades de se começar o próprio negócio com pouca idade, principalmente no caso dela, que escolheu um segmento diferenciado, a educadora de cães garante que vale a pena se arriscar e superar os obstáculos. “A vantagem de ser jovem empreendedor é justamente nossa coragem e garra para fazer dar certo. Foi umas das coisas que me impulsionou. Prefiro ralar agora, talvez ganhando menos do que se estivesse empregada, mas quero no futuro poder olhar para trás e ver que sempre trabalhei com o que eu gosto e acredito”, afirma. A aparência de menina para ser dona de uma empresa deixou de ser um problema para Luisa. Ela aprendeu no dia a dia que, para transmitir confiança e profissionalismo, precisava acreditar em si mesma: “Isso na verdade vai de dentro para fora. Eu que ficava receosa das pessoas não confiarem no meu conhecimento por causa da idade. Mas, uma vez que venci isso internamente, as pessoas pararam de me achar tão nova”. Apesar de tantas vantagens, a empreendedora sabe que a responsabilidade como proprietária chega a ser estressante: “O dono precisa dar exemplo, se não a equipe esmorece. A preocupação financeira é enorme. Antes,
Fotos: arquivo pessoal
Gabriela Fernandes 8º período
Você é o dono daqui?
Creche diferente: cães são recebem cuidados em espaço amplo no bairro Santa Lúcia.
“A vantagem de ser jovem empreendedor é justamente nossa coragem e garra para fazer dar certo.” Luisa Campos
como empregado, você só se preocupava com o próprio bolso, seus problemas. Hoje meu bolso fica em último lugar. Tenho que me preocupar não só comigo, mas com meus funcionários, suas famílias, fornecedores e por aí vai” explicou. “Brincava de vendinhas quando era pequena. Sempre adorei roupas”. Fabiana Mourão Rocha, 26 anos, não poderia ser outra coisa quando crescesse a não ser empresária do ramo de confecções. Formada em Administração de Empresas, a ideia de montar uma marca junto com uma amiga tomou forma nos últimos passos na faculdade. Fabi, como é chamada pelos amigos, tinha apenas 24 anos quando transformou as brincadeiras da infância em profissão. A empresa, batizada de Fluê, deu certo e correspondeu às expectativas da jovem: “Estou muito satisfeita. Começar cedo
me fez amadurecer muito rápido e as chances de dar certo são maiores. Acredito que os jovens têm arriscado bastante no mercado do empreendedorismo. No meu ramo, por exemplo, a concorrência é enorme”. Assim como para Lobo e Luisa, a pouca idade não é sinônimo de incompetência para Fabiana. Para quem tem vontade de se aventurar e abrir seu próprio negócio, a coordenadora do Sebrae, Edelweiss, dá as dicas. “É preciso ter espírito empreendedor, que engloba: motivação, ousadia, criatividade, inovação, capacidade de correr risco calculado e persistência. Após identificar uma oportunidade no mercado, torna-se imprescindível elaborar um plano de negócio, realizando pesquisa de mercado e análise de investimento para se concluir sobre a viabilidade do negócio”.
08 • Sociedade
Editor: Diego Duarte - 4º período Diagramadores da
Belo Horizonte, dezembro de 2011
O Po
Coleta de alimen
Dia Nacional da Coleta de Alimentos movimenta juventude em Belo
A cena é inusitada: diante de um grande supermercado, situado no coração de Belo Horizonte, jovens se aglomeram ao lado de caixas e mais caixas de papelão. Paramentados de aventais amarelos ou uniformes de escoteiros, garotos e garotas abordam quem sai do estabelecimento com um sorriso educado no rosto e um panfleto de agradecimento em punho. Um rápido movimento de mãos e o alimento é passado: seja com sacos de arroz, pacotes de macarrão ou mesmo latas de milho, pouco a pouco, as caixas ora vazias vão se enchendo até a tampa. A cena se repete em outros supermercados, não só da região metropolitana, mas ao redor do país. É o Dia Nacional da Coleta de Alimentos, evento que celebrou, no dia 5 de Novembro, a sua quinta edição em Belo Horizonte. Surgido na Itália e praticado ao redor do mundo, o Dia Nacional da Coleta de Alimentos busca ajudar comunidades carentes a suprir suas necessidades alimentares mais básicas. À frente do projeto no país está a Companhia das Obras do Brasil, uma ONG que trabalha com obras sociais em todo o país. Os voluntários do projeto trabalham juntamente com bancos de alimentos que arrecadam todas as doações e as redirecionam para as instituições associadas. O trabalho é todo realizado com auxílio de voluntários, recrutados pelos próprios bancos de alimentos, como o Prodal – do Ceasa – e o Mesa Brasil, ou através de parcerias
Foto: Lucas Rage
Lucas Rage Túlio Kaizer 6º e 4º períodos
De bom humor: equipe responsável pela arrecadação no supermercado EPA Plus da
formadas pela ONG e outros grupos, como é o caso dos escoteiros. Renato Braga Fernandes, de 28 anos, é coordenador da iniciativa no estado e explica: “A ideia é abastecer os bancos alimentares que tem dificuldades de conseguir alimentos Por Renato Fernandes perecíveis. isso a gente trabalha esse dia arrecadando esses alimentos e encaminhando para eles. E os bancos têm as entidades cadastradas:
“Precisamos fazer uma conscientização, porque a gente vê no gesto (de doar) uma oportunidade educativa.”
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Movendo o homem Além de preencher as despensas de entidades carentes, o Dia Nacional do
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Como funcionou o trabalho dos voluntários durante a campanha. 1. Já na entrada, voluntários convidam quem vai às compras a doar; 2. Sob a supervisão do coordenador de supermercado, alimento é coletado por voluntário; 3. Doação é então separada de acordo com o tipo de alimento, em caixas de 20 quilos; 4. Por fim, as doações são verificadas uma última vez antes de selar as caixas. Devidamente identificada, a doação está pronta para seguir para os bancos de alimento.
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Fotos: Túlio Kaizer
Doando em 4 tempos
creches, asilos e centros de recuperação, e encaminham os alimentos arrecadados para as entidades”. A escoteira Fernanda Soares, responsável pela verificação e encaixotamento dos alimentos doados, explica como funciona a dinâmica: “As caixas tem capacidade de vinte quilos, separamos os produtos para cada caixa e embalamos para serem enviadas aos bancos. Identificamos o conteúdo por fora para facilitar a redistribuição para as entidades carentes”.
a página: Lucas Rage e Túlio Kaizer - 6º e 4º períodos
Sociedade • 09
onto
Belo Horizonte, dezembro de 2011
ntos move jovens
o Horizonte em campanha que dá lição de voluntariado e cidadania mundo, mas é uma sensibilização muito importante para incentivar as pessoas a doar”, salienta. Franco declara ainda que as doações às vezes vêm dos lugares mais inesperados. “É impressionante, porque você muitas vezes vê uma pessoa que parece não poder doar nada, mas é a primeira a doar um pacote de feijão, por exemplo. Deixa um ensinamento muito importante para as pessoas que trabalham nessa coleta”.
a Avenida Afonso Pena. Alimento busca incutir nos cidadãos um senso de altruísmo e ajuda ao próximo: “É um gesto que envolve 100% voluntários, nós não temos nenhum fim político nem religioso. A gente precisa de voluntários, mas não posso sair pedindo para as pessoas participarem com a gente. Precisamos fazer uma conscientização, porque a gente vê no gesto uma oportunidade educativa,” declara o coordenador. O tema “A caridade comove e move o homem” pauta o evento este ano, buscando motivar os participantes a se tornarem mais ativos e atuantes em seu dia-a-dia. “Acredito que essa ação primeiro me comove, e se isso me comove eu me movo a fazer. E se eu me movo a fazer, eu busco passar o dia todo aqui para beneficiar alguém.” Para a voluntária Helen Cristina de Faria Silva, de 17 anos, mover jovens como ela pode ser o verdadeiro diferencial da campanha: “O legal é ver o público jovem que acorda cedo no sábado para fazer o bem, diferentemente dos jovens da Foto: Lucas Rage
Helen Cristina, aluna da E.E. Maestro Villa Lobos
Super parceria Paulo César Coelho, 35 anos, gerente do EPA Plus da Avenida Afonso Pena, explica o papel do supermercado na campanha: “O que o supermercado faz é abrir as portas para receber essas pessoas. Nós oferecemos o espaço para eles trabalharem e todo equipamento necessário para o uso dos voluntários”. Para ele, o evento abre portas para que mais iniciativas deste tipo ganhe forma: “Todo evento deste porte é muito válido, pois serve de incentivo às outras campanhas, além de levar o alimento a quem precisa de verdade”. Fernandes admite que um dos grandes desafios é a consolidação de parcerias com supermercados. “A campanha começou com cinco estabelecimentos, e hoje em dia sociedade de hoje em dia. O diferencial é estamos com mais de 20 supermercados a atitude dos jovens com essa ação, para em cinco cidades de Minas Gerais. A gente colocar a mão na massa”. Helen afirma avançou nesses quatro anos e conseguimos também que o desafio de conscientizar os o grupo DMA, que outros está sempre é detentor das presente. “O mais marcas ViaBrasil, difícil a se fazer é Mart Plus, Epa, tentar tocar a pessoa. que são nossos O importante não é maiores parceiros o que a gente fala e hoje”. sim o que a pessoa Para o ouve. Persistir é coordenador, os importante, pois Helen Cristina de Faria Silva supermercados o ‘não’ vai ser ajudam não só com sempre essencial e o espaço físico, motivador para a gente continuar”. mas também auxiliando os voluntários Diretor da Associação de Voluntários em diversas frentes: “Hoje em dia eles para o Serviço Internacional (AVSI) no (supermercados) nos concedem espaço Brasil, o italiano João Franco, de 41 anos e estrutura para que a gente trabalhe, também participou da iniciativa e atesta oferece um lanche para os voluntários os seus benefícios. Para ele, a campanha e uma divulgação interna. Nosso desejo é o passo inicial para a conscientização é chegar num ponto que a gente possa do cidadão. “A iniciativa é muito bonita. trabalhar com promoção específica para Não vai resolver o problema de fome no os alimentos dos quais necessitamos”.
“O mais difícil é tentar tocar a pessoa. Persistir é importante, pois o não vai ser sempre essencial e motivador para a gente continuar.”
Doação inusitada Alunos da Escola Estadual Maestro Villa Lobos tiveram uma ação no mínimo curiosa. Participantes de um projeto de mini empresa na escola, doaram todo o lucro dessa empresa fictícia para o dia da Coleta de Alimentos. A aluna Helen Cristina conta como foi: “Nós participamos do projeto por oito meses e desenvolvemos um produto. Decidimos sair para a rua e vender nosso produto, que era um detergente biodegradável. Como o nosso orientador no projeto era o Renato Fernandes, decidimos doar todo o lucro
da empresa para a coleta de alimentos, pois sabíamos da importância desse evento para as pessoas carentes.” O orientador da turma, Renato, agradeceu a atitude de seus alunos. “A maior arrecadação que nós tivemos foi de uma turma de jovens de uma escola de 2° grau que participou de um projeto de empreendedorismo. Eles doaram o lucro que foi de quase R$ 2.500,00 para a coleta de alimentos. Com isso, aumentamos a arrecadação e compramos o material necessário. Foi um gesto dos alunos em doar o lucro, em vez de gastar com eles próprios.”
10 • Esportes
Editor e diagramador da página: Túlio Kaizer - 4º período
Belo Horizonte, dezembro de 2011
Contratar muito dá resultado?
O Ponto
Com péssimas campanhas na série A, equipes mineiras sentem na pele que não é necessário contratar muito para fazer um bom campeonato
Foto: Tarcisio Badaró
Renato Mesquita 4º período
Foto: Site Oficial Atlético
Zagueiro Everton Luiz: Última contatação do coelho na temporada, 22/09
Atacante Guilherme é apresentado no dia do aniversário do clube, 25/03
Não é de surpreender ninguém que os times mineiros estão mostrando este futebol, ou a falta dele, na atual temporada. Com muito pouco planejamento, estudo e atenção as diretorias de América, Atlético e Cruzeiro, sentem o peso de contratações que não deram e que não estão dando certo. Foram 18 jogadores contratados pelo América, 23 pelo Atlético e 16 pelo Cruzeiro, com alguns deles já sendo liberados por suas diretorias. O comentarista da rádio Itatiaia, Junior Brasil, nos mostra a opinião de quem trabalha com o futebol fora de campo. “É até complexo. Quando se contrata um jogador, o querer dele é fundamental. Vamos trabalhar com o Diego Souza de cara, um baita jogador que vinha badalado como craque do último campeonato brasileiro, vivendo um momento excepcional. O Brasil inteiro querendo contratá-lo e quando ele chegou parecia que não queria ficar em BH. Isso ficou mais do que evidente. tive informações de que a família dele não se enturmou e algumas condutas do atleta o credenciaram para a saída.” Mas as diretorias dos clubes mineiros também têm culpa.
A falta de planejamento adequado e critério são os principais motivos para tantas contratações e poucas soluções. “O planejamento deve ser elaborado a longo prazo, as contratações precisam ser feitas para somar qualidade ao grupo. No entanto, o que presenciamos é o contrário, os bons jogadores são vendidos e os reforços são jogadores do exterior, esquecidos, fora de ritmo ou com um grave histórico de contusão”, afirma o narrador do Coelho na rádio Itatiaia, Ênio Lima, sobre a situação das equipes mineiras. Um fator que prejudica bastante as equipes são as “apostas”. Estes são os jogadores que por algum motivo não estão sendo utilizados em suas equipes e que acabam sendo contratados por outros clubes brasileiros. Todo time deve ter uma margem para apostas, porque além de tudo é importante ter um banco. No caso, o Cruzeiro contratou seis atacantes para esta temporada. E depois de tantos erros, os últimos dois reforços foram Keirrison, que estava emprestado ao Santos, e Bobô que veio do futebol turco. “O Keirrison não desaprendeu a jogar bola, ele já foi artilheiro do campeonato brasileiro”, relembra Junior Brasil, ao falar do atacante. E também
afirma que o problema vivido pelo atacante Bobô é muito comum nos jogadores que vem de campeonatos fora do Brasil.“Um jogador que vem do futebol russo, mundo árabe, pode demorar até um ano para se adaptar, essa é a realidade. Hoje o Brasil tem uma preparação que, talvez, seja a melhor do mundo. E nesses lugares eles jogam pouco, treinam pouco, e quando voltam para um ritmo intenso eles acabam se machucando” enfatiza o comentarista. Para a jornalista da Rede Bandeirantes Dimara Oliveira, o maior erro do Cruzeiro foi vender seus principais jogadores. “A equipe perdeu jogadores importantes, não substituiu com a mesma efetividade e desmanchou um time que já estava formado. Esse foi o maior erro. Mais uma vez avaliações erradas custaram uma péssima campanha no Brasileirão.” O jornalista Fábio Pinel, também da Rede Bandeirantes, afirmou que algumas contratações do Atlético foram pontuais e outras inexplicáveis. “Achei interessante o investimento feito em Richarlyson, Leonardo Silva, Dudu Cearense, André, Guilherme e Giovanni (goleiro). O que eu não esperava era que a maioria desses jogadores fosse dar
Foto:Vipcomm
Os jogadores que viraram solução
Cruzeiro apresenta zagueiro Naldo, 03/01.
Equipes mineiras apresentam “reforços”. Cena se repetiu com 47 jogadores nas equipes da capital este ano.
Até o momento, alguns poucos jogadores conseguiram se destacar nas três equipes, mostrando que a sua vinda foi uma solução. Um exemplo é o goleiro Neneca do América, que foi contratado pelo clube em 2011 e foi sem dúvida o melhor reforço para a equipe. O torcedor do América Matheus Eduardo, 20 anos, afirma que o goleiro tem jogado praticamente sozinho na defesa do Coelho. E ele não é o único a concordar com isso. Ênio Lima e Junior Brasil também tem a mesma opinião sobre o goleiro. Outros destaques desta temporada no Coelho são o volante Amaral, o lateral esquerdo Gilson e o atacante Kempes. Os três chegaram às vésperas do brasileirão a equipe americana.
Além deles, Ênio Lima afirma que Marcos Rocha, emprestado pelo Atlético, vem sendo um dos melhores laterais da atual edição do brasileirão. Para o estudante Victor Menossi, 22 anos, a melhor contratação foi o zagueiro Mauricio Victorino, que veio do Universidad del Chile. E mesmo assim o seu futebol vem caindo de rendimento após lesão sofrida na Copa América. Para Dimara Oliveira, todos os jogadores contratados pelo Cruzeiro na temporada não renderam nem metade do esperado, e ela não tem uma resposta sobre quem foi o melhor. No Atlético, Fábio Pinel elege
duas contratações como as “menos piores” na temporada. “Antes de a temporada começar, eu acreditava que Richarlyson e Leonardo Silva seriam as grandes contratações da equipe. Hoje, entre os 23 jogadores que chegaram à Cidade do Galo este ano, diria que quem se salvou foi o Leonardo Silva e o Pierre” . Rafael Lima, 26, do blog Cam1sa Do2e (Camisa Doze, em homenagem a torcida do Atlético), concorda com Pinel na escolha de Pierre para o jogador que poderia ser considerado o grande reforço em 2011 no Atlético. “Acho que o Pierre consertou o meio-campo e mudou a direção do time, ficando como contratação mais pontual.”
Esportes • 11
Editor e diagramador da página: Túlio Kaizer - 4º período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2011
tanta dor de cabeça aos torcedores atleticanos. Por outro lado, minha impressão sobre Toró, Patric, Magno Alves, Luiz Eduardo, Mancini, Jóbson, Guilherme Santos, Gilberto, Marquinhos Camabalhota, Caio, Lee e Wesley sempre foi a de uma aposta arriscada ou desnecessária. Pierre e Triguinho são investimentos que estão dando resultado. Carlos César e Didira? Muito cedo ainda para avaliá-los, mas também se encaixam no quadro de apostas arriscadas.”
tece, o jogador preferiu o Rio de Janeiro pelo fato da visibilidade para clubes de fora do país e até mesmo a Seleção Brasileira, afirma Junior.” Elkeson foi apenas um dos vários jogadores que poderiam ter vindo para Minas Gerais e acabaram em outros centros. Valorização dos atletas Atlético e Cruzeiro venderam alguns de seus principais jogadores nessa temporada, e essa atitude foi condenada por Junior Brasil. “Os clubes per-
“A mídia é maior, o cara consegue um contrato por fora, um contrato de publicidade, uma série de vantagens, e ele é mais visto. São Paulo e Rio são os grandes centros.” Junior Brasil, comentarista esportivo da Rádio Itatiaia Entre Rio e São Paulo Pode-se dizer que um dos grandes motivos do futebol mineiro não conseguir fazer contratações de peso como trazer craques de volta ao país, e mesmo os jogadores destaque que atuam nacionalmente, é o fato de que a maioria dos jogadores é seduzido para jogar no Rio de Janeiro ou São Paulo. Por serem os times que sempre estão nas mídias, terem mais visibilidade e nome. “A mídia é maior, o cara consegue um contrato por fora, um contrato de publicidade, uma série de vantagens, e ele é mais visto. São Paulo e Rio são os grandes centros. Não tem como fugir disso. O cara prefere estar nesses clubes a vir para Minas” afirma Junior Brasil. Um exemplo de jogador que foi destaque na série A no ano passado, foi o meia Elkeson, que teve tudo para jogar no Atlético este ano, mas preferiu o Botafogo. “Isso sempre acon-
deram poucos jogadores, mas saíram aqueles que faziam a diferença. A espinha dorsal foi desmontada e o reflexo é a falta de referência e comprometimento do conjunto. Lembro que, quando o jogador quer ir embora, é difícil segurar, mas em alguns casos foi erro de planejamento. O resultado é também responsável pelo péssimo momento de nosso futebol.” Para o comentarista, a valorização da base e dos principais jogadores do elenco fazem a diferença para as equipes do eixo Rio-São Paulo. “A base do São Paulo e Santos se tornaram referência. Temos que aprender com eles. Aqui os poucos que surgem acabam indo embora. São muitos erros, pouco investimento e pouco resultado. O que ocorre em muitos casos, é que os clubes buscam em outras associações garotos quase formados. Precisamos de mais investimento, atenção e principalmente os meninos
serem lançados em boas condições para apresentarem um futebol com tranquilidade, sem pressão e sem entrar numa fogueira. O acompanhamento dos garotos tem sido insuficiente, mais recursos são necessários para os clubes obterem melhores resutados. Investir na base é investir no futuro. Os clubes do Rio e de São Paulo, podem se dar ao luxo de escolher o melhor momento para se desfazerem de seus principais atletas. Só por um valor astronômico o jogador sai desses centros, enquanto para os clubes mineiros, é só aparecer uma boa proposta para o jogador ir para fora do país.” Para segurar os jovens jogadores, os clubes brasileiros passaram a utilizar algumas ações de marketing. Entre as mais destacadas no país estão os bonecos de Paulo Henrique Ganso e Neymar pelo Santos em 2010 e a camisa feita pelo Internacional esse ano após o jogo da seleção brasileira contra a Argentina, onde o jogador colorado aplicou uma lambreta no adversário. O Cruzeiro também aproveitou o bom momento do goleiro Fábio, maior ídolo da equipe, para lançar um boneco do jogador. Mas essas ações no futebol mineiro são raras de acontecer, e os jogadores acabam se sentindo desvalorizados em relação aos jogadores de outras equipes. Fábio Pinel afirma que os empresários tem “estragado” o futebol brasileiro. “Infelizmente, a ação de empresários tem prejudicado o Futebol. Sempre rola aquela história: ‘fulano é amigo de ciclano, tem um jogador disponível. Dá para quebrar o galho e contratá-lo?’ E a partir daí, rolam outros interesses. A má fé existe, o problema é provar sua existência...”, completou o jornalista.
As apostas que não deram certo Nesse ponto, a lista de todos os três times é vasta. No Atlético, até o momento cinco, das contratações deste ano já não estão no clube. Toró e Guilherme Santos foram afastados, Jóbson foi dispensado e Caio e Patric foram emprestados. Para Rafael, as contratações do Galo em 2011 foram caras, sem critério, sem planejamento e inexplicáveis. “Vimos um atacante aposentando no Japão chegando com status de fenômeno. Atacantes caros e reservas no Dínamo de Kiev, artilheiro do América de Teófilo Otoni, jogadores que nunca vestirão a camisa de um clube grande e outros que chegaram e estiveram em campo pou-
cos minutos. Não tivemos um nome que viesse com o aval da torcida e, com a certeza, que seria capaz de decidir jogos.” No Cruzeiro, a situação relembra um pouco a do rival alvinegro. Dos jogadores que entraram no clube este ano quatro já não fazem mais parte. André Dias, Fabrício Carioca e Brandão foram dispensados e Reis foi devolvido. Brandão, que foi muito criticado pelo futebol que não conseguiu mostrar, em poucos meses já seria repassado ao Grêmio. Junior Brasil diz que um dos motivos do jogador Brandão não conseguir atuar na equipe celeste foi a noite de Belo Horizonte. “A noite de BH
seduz qualquer jogador e não foi diferente com o Brandão.” Já no América, o Zagueiro Anderson foi apontado como um dos principais motivos para a defesa do clube ser uma das mais vazadas da competição. As apostas erradas em jogadores como Daniel Lovinho e Eliandro também não podem passar em branco. Mas um jogador foi motivo de decepção para a torcida americana, e surpresa para a imprensa em geral. O jogador Netinho, meia canhoto, que jogou por diversas vezes na Série A, veio como a solução para a camisa 10 do coelho, mas o seu histórico de contusões não deixou o atleta atuar com regularidade.
Quantos jogadores cada equipe da série A contratou no ano 18 Jogadores 19 Jogadores
23 Jogadores 29 Jogadores
34 Jogadores 32 Jogadores
16 Jogadores 24 Jogadores
14 Jogadores 8 Jogadores
16 Jogadores 15 Jogadores
11 Jogadores 12 Jogadores
13 Jogadores 12 Jogadores
14 Jogadores 14 Jogadores
11 Jogadores 17 Jogadores Dos times da série A que mais contrataram este ano, 8 estão entre os 10 últimos do campeonato, até a 36º rodada.
12 • Cultura
Editora: Maria Eduarda Ramos e diagramadoras da página: Luciana Cafaggi e Maria Eduarda Ramos
Belo Horizonte, dezembro de 2011
O Ponto
Criadores de HQs criadas a partir de letras de músicas conversam sobre a carreira como quadrinistas no Brasil em palestra ministrada ao curso de publicidade da Fumec Luciana Cafaggi 5º Período
Através do website e do “bocaa-boca” alimentado pelas redes sociais, Eduardo e Luís Felipe conquistaram um público fiel que apoiou o projeto mais recente da dupla: “Achados e Perdidos” é um álbum em quadrinhos de 212 páginas com trilha sonora feita sob medida para a história. O projeto atingiu a meta proposta de 25 mil reais e o livro será impresso tendo sido inteiramente financiado através da plataforma online de financiamento colaborativo Catarse (catarse.me). O primeiro capítulo de “Achados e Perdidos” já está disponível para leitura no Quadrinhos Rasos. “Achados e Perdidos” foi lançado no Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), que aconteceu dos dias 9 a 13 de novembro, aqui em Belo Horizonte, na Serraria Souza Pinto. Além do lançamento do álbum, os autores participaram de uma mesa-redonda e exposição.
www.quadrinhosrasos.com
Convidados pela turma de publicidade do oitavo período, os quadrinistas Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho ministraram a palestra “Quadrinhos & Música” no auditório da Faculdade de Ciências Humanas (FCH), no início deste mês. Os criadores dos Quadrinhos Rasos conversaram com os alunos sobre a linguagem das HQs, seu processo de criação e possibilidades para publicação de quadrinhos autorais. Eduardo Damasceno (28) é formado em Produção Editorial e trabalha há dez anos com ilustração publicitária, enquanto o amigo Luís Felipe Garrocho (24) é licenciado em História pela UFMG. Mas, no fim das contas, os dois gostam mesmo é de contar histórias em quadrinhos. Quando começaram a produzir, não sabiam como iniciarse nesse meio, então passaram a
inscrever as histórias que criavam em concursos e enviá-las para editoras de todo o mundo, até perceberem que o caminho mais direto para atingir seus objetivos era manter uma produção consistente e tornar seu trabalho acessível às pessoas. Assim nasceram os Quadrinhos Rasos, páginas publicadas periodicamente no quadrinhosrasos. com. Eduardo conta: “Sabíamos o quanto nos divertíamos criando e o quanto trabalhávamos bem juntos. Então começamos. É dessa absoluta falta de profundidade que surgiu o Rasos”. Com o objetivo de manter uma produção contínua e experimentar novas possibilidades narrativas, um passou a escolher músicas para o outro produzir páginas em quadrinhos a partir da letra dessas músicas. “A gente não controla como a mensagem chega às pessoas, mas a meta é divertir todo mundo enquanto a gente faz o que nos diverte”, diz Luís Felipe.
www.quadrinhosrasos.com
Quadrinhos Rasos mergulham no universo musical
Foto: Luciana Cafaggi
Os alunos presentes puderam bater um papo com os autores e assistir a vídeos que mostravam todo o processo de produção das páginas de quadrinhos
Talento em
Perfil • 13
Editor: Diego Duarte - 4º período - Diagramador da página: Lucas Rage - 6º período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2011
Família
Com convite para produção de graphic novel da Turma da Mõnica, os irmãos quadrinistas Lu e Vitor Caffagi têm seu talento reconhecido Lucas Rage 6º período Ela tem 23 anos, é estudante de jornalismo (assina, diga-se de passagem, a matéria da página ao lado) e desenhista freelancer. Ele é 10 anos mais velho, trabalha como quadrinista, é professor e designer gráfico. A dupla dinâmica formada pelos irmãos Luciana e Vitor Cafaggi abalou o cenário nacional dos quadrinhos com anúncio de que irão produzir - a convite da Maurício de Sousa Produções - uma Graphic Novel com os personagens da Turma da Mônica. Em uma conversa com o jornal O Ponto, os irmãos Cafaggi contam um pouco sobre a rotina de quem, entre traços e cores, é responsável por dar vida aos quadrinhos. O que levou vocês a desenhar? Lu Cafaggi- Como toda criança, meu irmão e eu gostávamos muito de desenhar e colecio-
návamos gibis da Turma da Mônica, da turma da Luluzinha, do Urtigão... O que acontece é que o tempo passou, mas essa paixão por tudo isso não foi embora. Pelo contrário. O tempo passou e nós fomos atrás de mais e mais HQs, dos mais variados estilos. Como surgiu o convite para fazer a Graphic Novel com o Maurício de Sousa? LC- O responsável pelo Planejamento Editorial da Mauricio de Sousa Produções, Sidney Gusman, já conhecia o nosso trabalho e confiou a nós a graphic novel dos quatro principais personagens da Turma da Mônica: Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. Meu irmão já havia participado de um projeto anterior idealizado pelo próprio Sidney, o primeiro dos três álbuns MSP 50 (‘Maurício de Sousa por 50 artistas’), no qual roteirizou e e desenhou uma história do Chico Bento. O Sidney se apaixonou pela história e enxergou nela (e
em todo o conjunto do trabalho do meu irmão) uma carga emocional que casaria muito bem com o tipo de história que espera encontrar na graphic da Turma da Mônica. O convite foi uma surpresa que até hoje a gente não conseguiu absorver inteiramente. Eu ainda não produzi o mesmo volume de histórias em quadrinhos que meu irmão e nunca participei de nenhum projeto da Maurício de Sousa Produções, mas o pouco que o Sidney conheceu do meu traço e do meu jeito de contar histórias deu para despertar essa confiança. Quais são os seus ídolos e inspirações? LC- Meu principal ídolo é meu irmão. Mas tem também o Bill Watterson, autor das tiras “Calvin e Haroldo”. Três desenhistas que considero as minhas atuais maiores influências são a francesa Maly Siry, a americana Jen Wang e a porto-riquenha Ericka Lugo.
De Chico Bento ao Pequeno Parker: desenhos do artista Vitor Cafaggi
Lu Cafaggi em prévia da Turma da Mônica e poemas ilustrados Vitor Cafaggi- Os trabalhos dos Bill Watterson e do Charles Schulz são, com certeza, minhas grandes influências. Considero as histórias do Calvin como a melhor coisa já feita em quadrinhos. E Peanuts é a base de tudo. Mais recentemente, me inspira bastante os trabalhos de Jeff Smith, Bruce Timm, Skottie Young e do Sonny Liew. Qual é a perspectiva para o mercado de quadrinhos nacional, nos dias de hoje? LC- As melhores possíveis. Temos mais autores acreditando no que fazem, ousando em estilos diversos e produzindo com mais consistência do que nunca. VC- É ótima! Não só no Brasil, mas em todo lugar. Atualmente, se você quer ser um quadrinista, você só precisa sentar e produzir uma boa historia. Você pode publicar isso na internet, como eu fiz, pode entrar em contato com editoras por e-mail, pode produzir sua própria revista de forma independente e levá-la pra festivais em BH, Rio e Curitiba, pode participar de concursos... são vários caminhos. Que características alguém que deseja ingressar nessa área deve possuir? VC- Persistência, coragem, humildade, inteligência e bom
caráter. E é importante acreditar no seu potencial para reunir todas estas qualidades. Ficou mais fácil fazer quadrinhos no século XXI? LC- Não acho que tenha ficado mais fácil fazer. Ficou mais fácil publicar, divulgar seus quadrinhos na internet. E ficou mais fácil ousar, experimentar ideias diferentes. Você não precisa correr atrás de uma editora, nem juntar muito dinheiro para que as pessoas tenham acesso ao seu trabalho. Basta ter boas ideias e publicá-las em um blog, por exemplo. Consequentemente, ficou mais fácil termos acesso a trabalhos de artistas que talvez nunca viéssemos a conhecer se a internet não os trouxesse até nós. VC- Com certeza. Eu não me preocupo muito com as inovações tecnológicas na parte de ferramentas de trabalho. Ainda gosto de fazer o máximo possível de uma história em quadrinhos à mão. Mas as inovações na parte de comunicação facilitam e agilizam muito o nosso trabalho. Eu faço trabalhos para o jornal O Globo no Rio de Janeiro e para o Mauricio de Sousa em São Paulo sem precisar sair de casa. Tudo é resolvido por e-mail. Vários artistas brasileiros trabalham para o mercado internacional dessa maneira.
14 • Informática
Editor e diagramador da página: Diego Duarte - 4º período
Belo Horizonte, dezembro de 2011
O Ponto
Perigo n@ rede
Com a exposição cada vez mais excessiva da vida privada online, navegar pela internet tem se tornado cada vez mais perigoso. Em tempos de banda larga e redes sociais, todo cuidado é pouco e segurança nunca é demais Maria Clara Evangelista 4ºPeríodo Nas redes sociais os usuários se conectam a amigos, familiares, colegas de trabalho, contatos profissionais formando uma teia de transferência de informação. Tudo se torna público, tudo é compartilhado. “Com os avanços das redes sociais, a internet tornou a vida das pessoas um livro aberto. A exposição excessiva de informações pode ser arriscado”, alerta a psicóloga Lourdes Machado, especialista em saúde mental. Os usuários da internet filtram cada vez menos o que deve e o que não deve se tornar público. É por isso que a quantidade de pessoas que tem sua intimidade superexposta na internet vem crescendo a cada dia e muitas delas tornamse vítimas de crimes virtuais. Segundo o delegado Pedro Paulo Marques, da Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Cibernéticos em Belo Horizonte, as denúncias contra esse tipo de crime tem crescido 90% ao ano.
Os crimes cibernéticos são divididos em duas categorias: próprios e impróprios. Os crimes cibernéticos impróprios são os que podem ser praticados tanto no computador quanto na vida real, entre eles está o estelionato, crimes contra a honra (injúria, calúnia e difamação), pornografia, violação de direitos autorais, e etc. Eles são enquadrados na legislação criminal vigente. Já os crimes cibernéticos próprios são os que podem ser praticados somente pelo computador como, por exemplo o envio de vírus e a invasão de sistemas. O Brasil não possui legislação exclusiva para esse tipo de crime, o que dificulta o julgamento de possíveis criminosos virtuais. Segundo o site do Ministério Público de Minas Gerais, na seção da Promotoria de Crimes Cibernéticos, casos como calúnia, injúria, difamação são considerados crimes de ação penal privada. Por isso, a própria pessoa ofendida (ou seu representante legal) pode mover a ação penal diretamente através de um advogado. Caso a pessoa
ofendida não tenha informações e provas suficientes para a propositura da ação, pode procurar a delegacia distrital mais próxima para requerer inquérito policial. Em Belo Horizonte, a equipe responsável por esse tipo de denúncia é a Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos (DICC). Intimidade exposta Revelar informações como lugar onde estuda, trabalha ou que gosta de freqüentar pode se tornar uma dor de cabeça se cair nas mãos de pessoas erradas. Por isso, antes de colocar alguma informação na rede, deve-se avaliar bem se ela pode lhe prejudicar de alguma forma. Outro problema são arquivos íntimos que vão parar na rede. Uma situação desse tipo pode ser experiêcia traumática para seu protagonista. “Os danos causados só o tempo dirá. Entretanto, dá para vislumbrar comprometimentos e prejuízos que não existiam anteriormente no se refere a dinâmica psicológica. Podem ocorrer alterações comportamentais e interferências
Manual de etiqueta online
Ilustrações da página: Diego Duarte
O que fazer (ou evitar) para que sua convivência em rede esteja livre de surpresas
Segurança
na vida da pessoa que sofreu o fato traumatizante”, explica a psicóloga Lourdes Machado. Há ainda dois fatores que podem agravar a situação das vítimas: se essa exposição aconteceu num ambiente de trabalho ou se a pessoa que sofreu o dano é uma criança ou adolescente. Dentro de uma empresa, por exemplo, a pessoa tende a se sentir desprezada, ofendida, constrangida pelos colegas de trabalho. “A humilhação causa dor, tristeza e sofrimento. Vai depender dos recursos internos de cada pessoa para lidar com a situação, para algumas este fato pode desencadear sintomas depressivos, para outras, ansiedade” expõe Lourdes. E os danos podem ir além, podendo em muitos casos levar à demissão. Em relação às crianças e adolescentes, diferentes elementos influenciam em sua organização mental. Pais, educadores e responsáveis têm um papel fundamental neste processo. Segundo a psicóloga, é importante orientar crianças e adolescentes, pois talvez elas não saibam a amplitude do mundo virtual e tam-
Seja discreto Utilize ferramentas fornecidas pelas redes sociais para gerenciar sua privacidade. Você pode selecionar pessoas ou grupos que podem ter acesso a suas fotos, as suas postagens e informações.
Conversas pessoais por posts no Facebook ou tuítes no Twitter que ficam expostas para todos que estão conectados aos sites, podem ser perigosas. Prefira utilizar as ferramentas que permitem conversas reservadas ou outros recursos para mensagens instantâneas como MSN ou e-mail. Mas, não se esqueça de que e-mails ficam gravados e MSN possui histórico.
Atenção Estar em comunidades do tipo “Eu odeio meu chefe”, “Eu odeio meu trabalho”, “Trabalhando de ressaca” ou fazer comentários nesse sentido pode te prejudicar e muito no ambiente profissional. Lembre-se: todos podem ter acesso às redes sociais, inclusive seu chefe.
Fiscalize os amigos Fique de olho também nos seus amigos que estão em redes sociais. Um deles pode descarregar a máquina com as fotos comprometedoras daquele churrasco do fim de semana, antes de uma seleção adequada.
Denuncie A maioria das redes sociais disponibiliza a seus usuários maneiras de denunciar abusos e perfis falsos. Se o conteúdo impróprio estiver em um blog você pode denunciar a página para o servidor do site. Evite mostrar detalhes de sua vida como: escola ou da faculdade, onde você trabalha e principalmente onde mora. Uma simples foto da fachada da sua casa pode ser usada indevidamente por pessoas mal-intencionadas.
pouco se preocupem com as consequências, como por exemplo a publicação de endereços e fotos. É muito importante a existência de diálogo entre pais e filhos para evitar que a internet seja usada indevidamente. Eu na Web Geralmente, quando alguém vai procurar informações sobre você publicadas na web, recorre primeiramente à pesquisa Google. Com base nisso, em junho desde ano, a Google criou a ferramenta “Eu na web” que permite ao usuário monitorar o que as pessoas veem sobre você quando usam o site de pesquisa. Além de conseguir gerenciar as informações que já estão na rede o usuário pode definir receber alertas quando seu nome, e-mail ou qualquer outra informação que quiser adicionar for publicada na internet. Através desta ferramenta a Google também orienta como agir caso você encontre conteúdo on-line, como seu número de telefone ou uma foto comprometedora, que você não deseja que apareça publicamente.
Cultura • 15
Editores: Bhianca Fidelis e Túlio Kaizer - 4º período - Diagramador da página: Lucas Rage - 6º período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2011
BH, cidade espetáculo da poesia Em Sarau itinerante, jovens poetas ocupam espaços públicos da capital
André Martins, Mário Hotapocalypse, Pedro Paulo e Rodrigo Vignoli são os autores dos trechos cedidos(disponíveis abaixo), e fazem parte de um grupo de poetas chamado Sarau Vira Lata. O grupo é grande e não para de crescer. São jovens belorizontinos que se reúnem quinzenalmente com o propósito de recitarem seus poemas (ou de outrem) no que se transformou em uma grande reunião onde impera a liberdade de expressão. Guilherme Abu Jamra, um dos idealizadores do evento, diz em entrevista como tudo chegou ao ponto de se tornar um Sarau urbano: “A idéia inicial era fazer um sarau com o pessoal envolvido
Pedro Paulo
Os vira lata Rodrigo Vignoli e André Martins recitam seus poemas. Com o passar do tempo, foise constatando que as palavras não podiam ser enclausuradas em um espaço único. Vignoli analisa o Sarau Vira Lata como um “desdobramento do insconsciente coletivo” entre os frequentadores do duelo de mc’s que viram o evento se prostituir, não só pelo crescimento do público que inviabilizou o
‘‘Eu vou limpar o chão Que fica imund o Depois do carna val Que é pra ver se algo muda Eu vou levar um grito Para um mudo no sinal Quem sabe algu ém me escuta.’’
Após o sarau, descontração do grupo.
‘‘Hoje ela s voam, t em a função de vespa Cabelos alis escondem ados o quanto mente é a crespa...’ ’ Mário H otapocaly pse
Ilustração: Lucas Rage
‘‘Se eu aprendo que o universo é imenso, ou como eu sou pequeno..’’
com o rap daqui de BH no Centro Cultural UFMG, onde eu trabalhava.” Abu Jamra conta do desejo de “mostrar para público que lá frequenta esse lado mais lírico da poesia envolvida nesse tipo de música, criando um estímulo para se produzir poesia além do que o rap oferece.” Com essa iniciativa, a coisa expandiu transcendendo a barreira do rap para se tornar um exercício de expressão poética mais livre e democrática. As pessoas que participam do sarau têm de alguma forma uma relação com a poesia e a palavra. Rodrigo Vignoli, 20, estudante de Publicidade da Universidade Fumec, participa do Sarau desde a sua quarta edição e diz já escrever autoralmente há quatro anos, tendo ganho dois prêmios literários nos concursos que participou.
Fotos: Maria Eduarda Ramos
MARIA EDUARDA RAMOS 4º PERÍODO
o ‘‘Grãos não dã trégua uma E toda frase é aposta as, Palavras, precis como léguas Silêncio, mo interminável, co resposta.’’ Rodrigo Vignoli
André Martins
Praça da Liberdade é um dos diversos lugares “ocupados” pelos poetas
uso do espaço -viaduto Santa Tereza- como o desgaste natural do tempo. Dessa forma, Guilherme, Rodrigo e tantos outros jovens participam hoje do que pode ser chamado de um Sarau itinerante, já que toda vez os encontros são marcados para locais diferentes da cidade. A capital mineira como cenário para a poesia é o que diferencia os “Vira Lata” de quaisquer outros grupos de poetas. Para Abu Jamra, a ocupação dos espaços públicos em iniciativas como um sarau possui caráter político, resumido por ele de maneira ilustrativa: “A cidade de BH vem sendo, cada vez mais, tratada como o que chamamos de “cidade espetáculo”. O organizador vai mais longe, emprestando as palavras do movimento Situacionista: “um anexo de museu para turistas que passeiam em ônibus envidraçados”.
Através da ocupação de áreas urbanas, o evento alia a expressão artística ao engajamento político. “A cidade não é vivida, apenas assistimos ela passar. Se hoje você faz uma música em uma praça, é advertido por guardas municipais. Nós, assim como muita gente, discordamos totalmente dessa visão de cidade. O sarau vem com a proposta, então, de ocupar a cidade, questionando essa visão.” diz Abu Jamra. O grupo conta com as facilidades que a rede social Facebook cria quando se trata de reunir pessoas ao redor de um tema, bem como de divulgar as datas e os locais onde serão realizados os saraus. “O grupo no facebook possibilita a postagem dos nossos poemas, transformando o sarau em algo atemporal e independente do espaço físico.”, afirma Vignoli. Além disso, o Sarau Vira Lata possui um blog, onde o público
externo pode acessar os textos produzidos pelos poetas. Lá também é possível ter acesso à vídeos dos saraus, além de outras postagens com referências artísticas, possibilitando um panorama da identidade do grupo. Em princípio, o movimento se chamaria RapPoético, mas um integrante deu a sugestão de nome “Vira Lata”, imediatamente aderida. Vira Lata é o cão sem lugar e raça definida que vaga pelas ruas de uma cidade e aprende desde cedo a lidar com as dificuldades da vida sem dono e mordomias, indo de uma esquina a outra sempre reinventando sua forma de sobreviver. Nada mais sugestivo para esse grupo que está em todos os lugares, menos no comum. Quer saber mais sobre o Sarau? Acesse: poesiaviralata.wordpress.com
16 • Cultura
Editor e diagramador da página: Renato Mesquita - 4 º Período
Belo Horizonte, dezembro de 2011
O Ponto
A vez do sertanejo universitário
César Menotti e Fabiano: dupla emplacou o sertanejo universitário
TÚLIO KAIZER 4º PERÍODO No último levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição(ECAD), em abril de 2011, das dez músicas mais ouvidas na região Sudeste quatro são sertanejas. Isso se repete pelo Brasil, onde a média das cinco regiões chega a 5,4. Pouco valorizado no seu início, o ritmo foi ganhando adeptos, revelando grandes nomes e cresceu, levando a música a outros países através do “Brazilian Day” com Zezé di Camargo e Luciano, Fernando e Sorocaba e Victor e Léo em 2010, e Luan Santana em 2011. Segundo Cristiano, da dupla Cristiano e Fabiano, a essência do sertanejo vem do interior. “O sertanejo sempre foi muita moda de viola, sanfona e violão. Isso é uma essência que não pode acabar. Colocaram teclado, percussão e guitarra, mas o sertanejo sem a viola e o violão não é um sertanejo.” Seu irmão Cristiano partilha da mesma idéia. “O sertanejo continua desde sempre o mesmo das raízes, com o violão e a sanfona.” Cristiano ainda disse que tinha vergonha de mostrar aos amigos na infância que gostava de sertanejo. “A vida toda a
Foto: Túlio Kaizer
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Letras mais românticas, mudanças no instrumental e adoção do público universitário ao ritmo marcam nova era da música sertaneja, com o surgimento de diversas duplas em todo o país
Luan Santana: sucesso em todo país
gente escutou sertanejo, nosso pai tinha uma dupla, e sempre escutamos Chitãozinho e Xororó, Tonico e Tinoco, Teodoro e Sampaio, entre outros, e, às vezes, tínhamos vergonha de falar na escola que gostávamos desse ritmo, pois, na época, o pop rock dominava o mercado. E até para entrar em calourada, um sertanejo era muito difícil. E hoje em dia isso mudou muito.” Após anos na mesma batida, a música sertaneja ganhou contornos diferentes do normal. E a mudança veio com a dupla César Menotti e Fabiano. Essa é a opinião de Cristiano, que cita a dupla como o divisor de águas da música sertaneja no Brasil. “A dupla César Menotti e Fabiano veio com uma proposta do sertanejo mais pop, pegando algumas musicas lentas do Zezé di Camargo e Luciano e colocando elas bem animadas. Eles foram os primeiros a entrar nas universidades quando fizeram um CD de 52 músicas e tocaram. Toda universidade que você ia tinha um carro com o porta malas aberto tocando o CD deles.” Ricardo Pinheiro, diretor da Rádio Liberdade, a mais ouvida do país, que toca exclusivamente o sertanejo em sua programação, concorda
Cristiano e Fabiano: mineiros em busca da fama
com Cristiano. “César Menotti e Fabiano estão entre os que iniciaram esse novo sertanejo. Hoje tem Jorge e Matheus, Fernando e Sorocaba e muitas duplas, que estão levando isso para frente e trazendo um público impressionante aos shows.” Mas quais as mudanças entre os modões de viola e o sertanejo? Para Pinheiro, a diferença é que a música atual aborda temas mais urbanos e ritmos mais próximos do pop, enquanto os modões falavam muito da “vida na roça”. Já Fabiano concorda em partes com Pinheiro. “Hoje se fala sertanejo universitário porque o pessoal das universidades abraçou o ritmo, coisa que não tinha antigamente. Muda só a pegada, mais para o pop e o axé, virou uma mistura de tudo. Mas o sertanejo continua o mesmo das raízes, com o violão e a sanfona.” Cristiano falou também de como é composto os “hits” da dupla. “A gente tenta fazer de tudo. O sertanejo hoje te dá a liberdade de tocar uma moda de viola ou um sertanejo mais elétrico, mais para o lado do axé. O nosso repertório é bem animado, não temos muita música lenta, mas temos as modas de
viola que a gente não abre mão, porque é onde tudo começou.” A dupla mineira vem aproveitando desse sucesso para se lançar no cenário nacional. “Aqui em Minas Gerais, tem uma música (‘O varal’) que tocamos durante três anos na Casa Floricultura, na Raja Gabaglia, onde a gente colocava 2 mil pessoas lá dentro toda sexta-feira. Mas a música que abriu as portas para Cristiano e Fabiano no Brasil inteiro foi o “Gordinho Largadão”. É uma música que a gente fala de gordinho, porque a gente cria uma música nossa, com nosso perfil”, completou Fabiano. No Brasil inteiro A música sertaneja começou em Goiás, mas com a fama adquirida nos últimos tempos, o Brasil inteiro está ligado no ritmo. “O sertanejo vem de Goiânia, mas hoje até o Rio de Janeiro toca sertanejo, coisa que há pouco tempo não acontecia. O sertanejo chegou aqui, modernizaram a música a partir de Leandro e Leonardo, e foi evoluindo com uso constante guitarra. De tanto inovar, chegou ao sertanejo universitário”, diz Cristiano.
O que os estudantes acham do sertanejo universitário? Nome: Marcela Motta Idade: 19 anos
Acho muito mais moderno que os modões, as músicas são românticas enquanto as mais antigas falavam mais da “roça”.
Nome:Rafaela Chaves Idade: 21 anos
A batida animada desse novo sertanejo faz com ele esteja presente na maioria das festas atuais.
Nome: Guilherme Prates Idade: 20 anos
O estilo musical entretem o público jovem. Mistura letra de amor, traição e festança, com um ritmo bastante alegre.
Nome: Caio César Idade: 14 anos
Eu acho que o sertanejo universitário influencia os jovens a curtir esse tipo de música porque, além de boa, ela é agitada, coisa que os jovens gostam.