Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 14
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Número 91
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Novembro de 2013
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Belo Horizonte / MG
Distribuição gratuita
Foto: Divulgação programa Pimp My Ride
Pág. X
Um transtorno do barulho Moradores do bairro Serra, na Zona Sul, reclamam dos abusos de carros que andam com som alto. Especialistas alertam para impacto na saúde.
Pág. 3 Foto: Ricardo Bastos
Foto: Ricardo Bastos
A febre da ritalina
Cresce número de diagnóstico de crianças e adolescentes com TDAH e consumo de medicamento; mas há tratamentos alternativos.
Quanto vale o futebol? Pág. 12
Mudança nos preços do ingresso afetam o bolso dos torcedores.
Pág. 8
02 • Opinião
Editor e diagramador da página: Janderson Silva - 2º Período
Belo Horizonte, novembro de 2013
O Ponto
Meio Ambiente EDMÉA PINHEIRO 4º PERÍODO Foi aprovada recentemente a Lei 20.922 / 2013 advinda do Projeto de Lei 276/2011. Ela é chamada de Lei Florestal e de Biodiversidade e corresponde ao Código Florestal do Estado de Minas Gerais. Infelizmente a discussão do referido Projeto, segundo fontes de pesquisa, não se valeu do conceito que adotou para nominar a nova Lei, a biodiversidade, que é a variedade de vida existente no planeta Terra, uma vez que a discussão não abrangeu todos os segmentos interessados na questão. Segundo matérias pesquisadas, os debates ocorreram entre parlamentares, produtores rurais, ambientalistas e representantes do governo. Por que não convidaram as instituições científicas, que é onde as teorias nascem, onde os assuntos se transformam em teses de mestrado e doutorado, como bem lembrou José Carlos Carvalho, ex-minis-
tro do Meio Ambiente, em Simpósio na Universidade Federal de Lavras? Um ponto muito encontrado foi a conexão do referido Projeto ao conceito de Sustentablidade. Este, por sua vez, prima pelo desenvolvimento econômico, aliado ao social e à preservação do meio ambiente. A preservação do meio ambiente deve ser atendida em primeiro lugar, já que sem este não há que se falar em sociedade e muito menos em economia. Hoje o agronegócio representa 40% do PIB estadual e 20% das exportações do Estado, ou seja, a Lei tende a flexibilizar para o agronegócio e as mineradoras, tendo em vista o volume de investimentos que representam. No entanto, devemos tomar o cuidado para não colocarmos o dinheiro em primeiro lugar; o dinheiro e a sociedade, que, ao se desenvolver acaba gerando mais dinheiro, por meio de mais consumo desenfreado, que também é assunto de pautas atuais. E o meio ambiente? Não quero dizer que a economia e o desenvolvimento social não são importantes, é claro
que são. A questão é que tudo deve ser feito respeitando a vida do planeta em primeiro lugar. Não seria a hora de se pensar em um controle da natalidade em vez de buscar soluções somente no controle do meio ambiente, que, muitas vezes, faz o papel do patinho feio dos filhotes do planeta terra? Em uma das reportagens sobre a referida lei se disse que “ a nova legislação era essencial para a produção rural de Minas, uma vez que possibilitaria ao homem do campo fazer o que dele mais se espera: oferecer alimentos em escalas maiores para um mundo cada vez mais populoso e faminto.” Acretido mais numa política pública que incentive um maior número de produtores em pequena escala, com a qualidade do produto orgânico, para um mundo livre do desperdício e mais solidário. Uma flexibilização maior para os assentados conseguirem a licença ambiental e, como consequência, crédito para efetivamente começarem a produzir também seriam medidas potencializadoras na qualidade alimentar e saúde das pessoas.
Nova guerra ao terror LORENA LIMA 2º PERÍODO Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos dinfundiram pelo mundo sua cultura, economia e ação política. A invasão ao Iraque e, agora, a intervenção no conflito da Síria, mascarada como preocupação quanto aos limites da guerra civil, não passam de desculpas para que o governo americano estabeleça controle sobre países vizinhos de outros de caráter estratégico e detentores da maior parte da força bélica mundial. Os Estados Unidos e sua antiga rival de guerra, a Rússia, ameaçaram fazer uso da força na Síria, caso esta não entregue o controle de armas químicas. O governo sírio acusa 83 países de prática de terrorismo em seu territó-
rio e afirma que Turquia, França, Reino Unido, Arábia Saudita, Catar e USA armaram, financiam e treinam forças rebeldes. O chanceler sírio Walid Moallem questiona a posição desses países quanto ao terrorismo, já que o condenam em todo o mundo, mas o apoiam na Síria. “Terrorismo é terrorismo”, afirmou ele em um plenário da ONU. E as ameaças americanas e russas só contribuem para que o país entregue sua força militar e fique ainda mais vulnerável a uma invasão de uma potência com interesse econômico. O conflito, que se arrasta por dois anos, já matou mais de 100 mil pessoas. Iniciou-se quando o governo tentou sufocar as manifestações pró-democracia. A violação da liberdade de expressão pode custar à Síria sua própria liberdade.
o ponto Coordenação Editorial Profa. Ana Paola Amorim (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: opontofumec@gmail.com Presidente do Conselho Curador Prof. Tiago Fantini Magalhães Reitor da Universidade Fumec Prof. Dr. Eduardo Martins de Lima Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Diretor Administrativo e Financeiro/FCH Prof. Fernando de Melo Nogueira
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Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Monitores de Jornalismo Impresso Nádia Schmidt e Janderson Silva Monitor da Redação Modelo Mariana Chacon Naddeo Monitores de Produção Gráfica Caroline Lagamba e Raquel Couto Tiragem desta edição: 2.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
Cidade • 03
Editor e diagramador da página: Janderson Silva - 2º período
O Ponto
Som que adoece
Belo Horizonte, novembro de 2013
Motoristas com som alto prejudicam a própria audição e incomodam moradores de bairro da zona sul
lustração: Marco Tulio Fernandes ELOÁ MAGALHÃES
KARLA REIS 4º E 6º PERÍODO Cada dia é mais comum encontrarmos veículos equipados com aparelhagem de som de alta potência. Esses carros transitam pelas ruas da cidade com o volume muito alto, incomodando a todos que cruzam seu caminho. O condutor de um desses veículos, Bruno Pereira Sabino, declara sua motivação: “é um hábito, eu sempre gostei de escutar música alta em casa, em festas. É a maneira que eu tenho de me distrair um pouco, é um hobby. Tem gente que gosta de várias coisas. Eu gosto de um carro arrumado, bem equipado, um ‘trem’ que me agrada.” Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que a poluição sonora é uma das agressões mais graves ao ser humano e ao meio ambiente, ocupando o terceiro lugar entre as doenças ocupacionais. Mas às vezes as pessoas são obrigadas a ouvir música alta sem que tenha sido uma escolha, como ocorre com os moradores do bairro Serra, região Centro-
Sul de Belo Horizonte, que sofrem com o som alto dos carros que transitam no bairro a qualquer hora do dia ou da noite, tocando músicas em um volume ensurdecedor. O jornalista Pedro de Alcântara, de 86 anos, que mora no bairro há mais de 20 anos, afirma que antigamente não existia esse problema, mas hoje ele acorda assustado com o barulho dos carros; “as músicas são sempre cheias de palavrões, sem nenhum sentido e o que mais incomoda é o batidão, que faz as portas de casa trepidarem”. A professora aposentada, de 70 anos, Marília Amarante diz que “o volume é tão alto, que as vidraças e os utensílios guardados em armários chegam a tremer. Às vezes, após a passagem de um destes carros, o alarme de veículos estacionados nas ruas ou mesmo garagens dispara. O som alto não prejudica somente os moradores, mas principalmente o condutor que exagera no volume das músicas tocadas em seu veículo.
O que dizem os médicos Provavelmente todos já devem saber que o som muito
alto pode acarretar danos à audição; porém este não é o único problema que ele causa. Segundo a fonoaudióloga Jaqueline Rocha, os elevados volumes sonoros podem trazer outros prejuízos além dos auditivos: “Transtornos neurológicos, zumbidos, alteração na visão, problemas circulatórios, transtorno vestibular (equilíbrio), nervosismo, irritabilidade, estresse, dentre outros. Estes quadros não podem ser revertidos, isso acontece porque o nível de pressão sonora elevada (ruídos) lesa as células auditivas”. O condutor Bruno se surpreende com as informações da fonoaudióloga: “olha, a respeito da audição eu tinha uma leve noção, agora sobre esses outros problemas que ela descreveu, eu não sabia”.
Na cidade Em Belo Horizonte, o combate à poluição sonora fica sob a responsabilidade da Polícia Militar, que recebe reclamações por meio do disque 190. Mas recentemente a Prefeitura fez uma parceria com a Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização e a Polícia Militar de Minas Gerais para intensificar
a fiscalização nas regiões com maior índice de reclamações. O Disque Sossego, que pode ser acionado pelo telefone 156, funciona todos os dias da semana 24 horas por dia. O cidadão deve informar o local e o horário onde ocorre a perturbação e a ocorrência é, então, registrada com base na Lei do Silêncio. Os infratores estão sujeitos à advertência, multa, apreensão e interdição no caso de estabelecimentos comerciais, com multas que variam de R$ 99,69 a R$ 12.460,59, de acordo com a gravidade do ocorrido. Também o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu artigo 228, prevê que “usar no veículo equipamento com som
em volume ou frequência que não sejam autorizados” pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) constitui infração grave, punida com perda de cinco pontos na carteira de habilitação e multa. Visando coibir de maneira mais rigorosa a poluição sonora causada por esses veículos, tramita na Câmara dos Vereadores de BH um projeto de lei que propõe a apreensão de veículos que trafeguem com som alto, provocando a perturbação do sossego. O Projeto de Lei 355 foi proposto pelo vereador Silvinho Rezende (PT) e institui uma nova penalidade: a apreensão da “fonte móvel” de emissão sonora.
O que diz a lei? A Lei municipal nº 9.505, conhecida como a Lei do Silêncio, define os limites de decibéis: No período de 7h01 às 19h, até 70 decibéis No período das 19h01 às 22h, até 60 decibéis No período entre 22h01 e 23h59, até 50 decibéis No período de 0h a 7h, o máximo é de 45 decibéis
04 • Saúde
Editor e diagramador da página: Janderson Silva 2º período
Belo Horizonte, novembro de 2013
O Ponto
udo pela beleza Usar suplementos alimentares como proteínas, pré-treinos e os famosos anabolizantes pode ser um risco à saúde de muitos reféns da ditadura da beleza LAURA BREU LUISA PICCHIONI 4º PERÍODO “Anabolizante é droga ilegal e vender droga é crime”. A frase é do dono de uma loja online de suplementos ao ser perguntado se vendia anabolizantes. Anísio Lopes de Oliveira Neto, 25, há dois anos trabalha na venda de suplementos alimentares. Anísio diz que também faz uso de alguns, como BCAA (para auxiliar na readaptação muscular), glutamina (para ganho de massa magra), caseína e o famoso Whey Protein (proteína de rápida absorção). O comerciante conta que não é raro a abordagem de clientes mal informados buscando adquirir suplementos sem a orientação de um profissional. “Na loja acabo tendo que indicar o “básico” para o iniciante. Mas a orientação profissional é necessária”, defendeu. Hoje em
dia, o que mais se vê é a exaltação à beleza e à forma física, mas existe diferença entre ter um corpo perfeito e ser saudável. Quem entende de saúde segue o melhor caminho para se ter uma dieta controlada, sem exagerados. Já quem quer apenas ter o corpo adequado busca maneiras por vezes perigosas. Na vida de muitos vaidosos, em alguns casos, reféns da beleza, essa rotina passa a ser quase doutrina. O fisioterapeuta e educador físico Felipe Faria Lopez, 32, conhecido no meio como “Bambam”, pratica musculação há 18 anos. Ele não se lembra de quando entrou no jiu jitsu; “eu era muito novo”, contou. Amante do esporte, Felipe admite, sem mostrar preocupação, que usa anabolizantes para aumentar o desempenho esportivo. “Uso e não nego. Faço acompanhamento médico; uso de forma correta.
Negar o uso seria como negar que faço sexo. Existe preconceito quando o assunto é esse. Sou baiano, moro em Belo Horizonte há 10 anos, e acho o povo mineiro muito sedentário. Para eles, sentar em um boteco, encher a cara de álcool e fumar vários maços de cigarro não mata, mas anabolizante mata. É uma grande hipocrisia, pois todo tipo de excesso é prejudicial, até o de antibióticos”. A jovem Rafaela Rabi, 26, participa de competições de fisiculturismo há um ano, mas já treina de maneira intensificada há quatro. Entrou para a academia com o objetivo de perder os quilinhos extras. Com o tempo, foi conhecendo o fisiculturismo e se apaixonou pelo esporte. Rabi diz que não faz uso de esteroides anabolizantes, mas usa suplementos sob orientação profissional. “Não uso anabolizantes porque na categoria que disputo, conhecida como
Bodyfitness, a atleta é avaliada por sua forma como um todo, o que significa que devemos estar com uma forma feminina, sem excesso de músculos e com baixo percentual de gordura”. A fisiculturista ainda disse: “Uso suplementos como Whey Protein, BCAA e glutamina, todos com a orientação do meu preparador físico. Esses suplementos agem na complementação das vitaminas e minerais que restrinjo quando estou em dieta para competições”, conta. Rafaela ainda diz que não é contra o uso de produto algum, desde que seja feito de maneira adequada e mediante orientação profissional. Já para Pedro Novaes, a paixão pela luta veio ainda na infância. Ao lado do pai, ele assistia pela televisão ao antigo “Vale Tudo”, hoje conhecido como MMA, modalidade muito comum nos Estados Unidos e que ganhou um lugar especial
no coração de muitos brasileiros. Com apenas 21 anos, Novaes é lutador profissional de Muay Thai. Este ano foi campeão mundial na Tailândia e já se prepara para o evento mais importante da categoria que acontece aqui no Brasil, no fim do ano. Sobre anabolizantes e suplementos, apesar da pouca idade, a opinião é bem formada. “Não utilizo anabolizantes, somente suplementos como vasodilatadores, Whey Protein, Dextrose, aminoácidos, melatonina, polivitamínicos e ribose. Embora não use bomba, vejo uma grande confusão no conceito que se forma. Algumas mídias, muitas vezes, exibem pessoas morrendo por causa de anabolizantes ou suplementos, mas o que não explicam é que aquela pessoa provavelmente não fez o uso com orientação profissional. Acredito que tudo depende da forma como se faz o uso”.
Os crucificados A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a distribuição, divulgação, comércio e uso do suplemento alimentar OxyElite Pro. O motivo seria porque o produto possui a substância dimetilamilamina (DMAA), que pode causar graves danos à saúde e, em alguns casos, levar à morte. A substância em questão é um estimulante usado, principalmente, no auxílio ao emagrecimento e aumento do rendimento atlético para atletas de alto nível como fisiculturistas e lutadores. A DMAA é encontrada na composição de outros suplementos, como Jack3D e Lipo-6 Black e OxyElite Pro.
Por que prejudica? A DMAA tem efeitos estimulantes sobre o sistema nervoso central e pode causar dependência, além de outros efeitos variados, como insuficiência renal, falência do fígado e alterações cardíacas. A Anvisa incluiu a DMAA na lista de substâncias proibidas no país. Produtos que contêm a substância também já são proibidos na Austrália e na Nova Zelândia.
Por que prejudica? A DMAA tem efeitos estimulantes sobre o sistema nervoso central e pode causar dependência, além de outros efeitos variados, como insuficiência renal, falência do fígado e alterações cardíacas. A Anvisa incluiu a DMAA na lista de substâncias proibidas no país. Produtos que contêm a substância também já são proibidos na Austrália e na Nova Zelândia.
“Não uso anabolizantes porque na categoria que disputo, conhecida como Bodyfitness, a atleta é avaliada por sua forma como um todo, o que significa que devemos estar com uma forma feminina, sem excesso de músculos e com baixo percentual de gordura”.
Rafaela Rabi
As Bombas Os anabolizantes são hormônios sintéticos fabricados a partir do hormônio sexual masculino, a testosterona. Portador de várias finalidades e usado até em tratamentos de câncer e AIDS, os esteroides anabolizantes são constantemente usados por quem almeja o crescimento de massa e força muscular, e também por quem tem como objetivo reduzir a gordura corporal – neste último caso se enquadram as mulheres -. Esse produto não pode ser adquirido sem prescrição médica. É possível comprá-los em farmácias mediante retenção de receita. Por isso, toda vez que for comercializado sem a mesma, será considerado crime.
“Eu acho o povo mineiro muito sedentário. Para eles, sentar em um boteco, encher a cara de álcool e fumar vários maços de cigarro não mata, mas anabolizante mata. É uma grande hipocrisia, pois todo tipo de excesso é prejudicial, até o de antibióticos”.
Felipe Lopez (Bambam)
Saúde • 05
Editor e diagramador da página: Janderson Silva 2º período
O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2013
O que dizem os profissionais? Muitos atletas e alunos de academias têm apoio e orientação de seus preparadores físicos para usar suplementos, ou até mesmo as chamadas “bombas”, mas não é bem assim que funciona. O treinador Tullyo Pires, 27, admite que já usou suplementos em pré-treinos. “Como profissional, senti necessidade de testar se realmente esses produtos proporcionavam ganhos significativos. Senti avanços, porém nada além do normal. Hoje, prefiro me alimentar bem, com alimentos ricos em proteína e carboidratos”, explica. Pires defende que a saúde precisa vir em primeiro plano, embora exista uma preocupação exagerada com a estética e não somente com a saúde. “Essa ditadura da beleza leva
SUBSTRATO
CARBOIDRATOS Antes da atividade física
PROTEÍNAS
Após atividade física.
LIPÍDIOS
as pessoas a buscarem tudo o que puderem para ter um corpo perfeito. Elas nem se lembram que a prática esportiva precisa ser um hábito de vida. Vejo homens e mulheres malhando enlouquecidamente por pura vaidade”. É o que confirma o nutricionista esportivo Tiago da Costa Morais. Há três anos nesse ramo, Morais conta que em seu consultório chegam pessoas que têm quase sempre o mesmo objetivo. As mulheres querem um corpo magro, enxuto e tonificado. Os homens querem músculos definidos. “Infelizmente, a realidade dos nossos dias é a exigência por uma estética surreal, tanto feminina quanto masculina. Essa exigência, ou ditadura, provoca até mesmo nos indivíduos mais
FUNÇÃO
INDICAÇÃO
relapsos algum desconforto, conduzindo tanto homens quanto mulheres a levarem um estilo de vida, muitas vezes, prejudicial à saúde.” O nutricionista se depara ainda com outra realidade que não lhe agrada: muitos de seus clientes usam anabolizantes sem a aprovação dele, pois já o procuram sob efeito do produto. O que ele pensa dos “anabol’s” (como o anabolizante é conhecido no meio esportivo) é taxativo. “Trabalho somente com a prescrição de suplementos alimentares, caso a avaliação que faço na pessoa indique que ela precise.” Para Tiago, se os suplementos forem usados de forma correta, ou seja, com orientação profissional e sem excessos, podem proporcionar resultados saudáveis junto à dieta.
FONTES NATURAIS
SUPLEMENTOS
Fornecimento de energia ao organismo, além de preservarem a massa muscular, facilitarem o metabolismo (quebra) das gorduras e garantirem o bom funcionamento do sistema nervoso central (cérebro) São substratos energéticos para atividades aeróbias de longa duração, porém as reservas corporais de glicogênio (carboidratos) são limitadas, necessitando assim sua ingestão. Se consumidos acima do recomendado pelo nutricionista, pode acarretar em ganho de peso (gordura).
- Repositor energético ideal para quem precisa adquirir energia por mais tempo de forma rápida e prática, - Auxilia o atleta a melhorar sua performance durante os treinos, pois prolonga o tempo que o leva à fadiga, - Aumento de Massa Muscular, - Manutenção Muscular, - Aumento de Energia, - Aumento de Peso.
- Massas; - pães; - cereais; - frutas.
Maltodextrina: carboidrato completo com ligações de fácil quebra, tendo uma absorção rápida, porém mais lenta que a dextrose. Dextrose: carboidrato simples. Rápida absorção.
- Estrutural: participam da estrutura dos tecidos, dando-lhes rigidez, consistência e elasticidade (ex.: colágeno - constituinte das cartilagens; queratina - proteína do cabelo; albumina - encontrada em ovos); - Enzimática: são fundamentais como moléculas reguladoras das reações orgânicas; - Hormonal: muitos hormônios de nosso organismo são de natureza protéica (ex. insulina - que retira a glicose em excesso do sangue); - de defesa: Os anticorpos são proteínas que realizam a defesa do organismo, especializados no reconhecimento e neutralização de vírus, bactérias e outras substâncias estranhas; - dentre outras.
O Uso de Proteínas é indicado quando se deseja: -Aumento de Massa Muscular, - Definição Muscular, - Manutenção Muscular - Melhora de força muscular, - Recuperação do músculo trabalhado
- carne, - ovo, - leite e derivados, - feijão, - milho, - ervilha, - lentilha, - soja, etc.
- Whey protein: proteína do soro do leite - Albumina: proteína presente na clara do ovo e no leite. - Caseína: do latim “caseus”, queijo) é uma proteína encontrada no leite fresco
Fornecem energia, participam da composição de membranas celulares, atuam como isolantes térmicos e facilitam algumas reações químicas que acontecem no organismo. Os lipídios também armazenam e transportam combustível metabólico.
- São essenciais na formação de hormônios, além de colaborarem com o fornecimento de energia para o exercício e recuperação. - Fornecem energia para sustentação do exercícios.
- Óleos de soja; - Óleo de milho, dentre outros - Gordura animal - Manteiga, - Margarina
- Óleo de linhaça, - Óleo de Peixe Ômega 3, - Óleo de Fígado de Bacalhau, - Óleo de Prímula, - Ácidos graxos essenciais, - Óleo de Girassol, - Óleo de Coco
A melhor hora para se utilizar das proteínas é logo após a prática esportiva, pois, além de melhorar o processo de recuperação pós-treino, haverá uma melhora significativa na síntese protéica, ou seja, aumento de músculo.
TERMOGÊNICOS Acelerar o metabolismo / queima de - Acelerar metabolismo OU QUEIMADORES DE gorduras e aumentar a queima de GORDURA
gorduras. - Aumentar a energia para treinos
- Café, - Pimentas - Gengibre, - Canela, - Chá verde
Cafeína, - Chá verde, - Guaraná em pó, Ácido linoléico conjugado
06 • Comportamento
Editor e diagramador d
Belo Horizonte, novembro de 2013
O Po
ProFIssão:Escritor Cada vez mais mineiros desejam fazer da literatura sua principal opção de carreira. Mas os desafios são muitos e o caminho para o reconhecimento é uma luta diária Bruna Marta Ana Clara Gomes 4º Período Em 1921, um grupo de jovens escritores mineiros se dividia entre a rotina das redações e das notícias com as horas de escrita, boa conversa e imaginação. Essa aventura está registrada em “O Desatino da Rapaziada”, obra de Humberto Werneck, que traça a história do restrito mercado editorial mineiro. Desde a época de Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e da “rapaziada”, a mobilização dos escritores é imprescindível para dinamizar e democratizar o mercado, hoje dominado por grandes editoras em busca de best-sellers. “Burocratas, que ódio vos tenho e se fosse apenas ódio é ainda o sentimento da vida que perdi sendo um dos vossos”, disse Carlos Drummond de Andrade, notório poeta mineiro de grande projeção nacional que lançou seu primeiro livro Alguma Poesia aos 28 anos, mas começou a escrever muito antes, ainda no período escolar. A obra foi lançada sob o selo imaginário “Edições Pindorama”, criado por Eduardo Frieiro, para atender a demanda do estado por publicações, já que, desde a década de 20, não havia, em Minas Gerais, um mercado editorial fortalecido. O professor Túlio Magno, 24 anos, formado em Letras pela UFMG, afirma que, ainda na década de 20, a união dos escritores em nome da produção independente foi fundamental para que se destacassem no cenário literário. “Eu acho que BH carrega essa herança, de ser uma cidade pouco voltada para o aspecto cultural. O próprio Eduardo Frieiro afirma em seu diário que faltam editoras em Minas Gerais, falta um projeto editorial, na verdade, um projeto para a cultura em geral. A música e as artes plásticas sofrem com o mesmo problema, quase tudo funciona no mercado independente, quando funciona”, observa.
A escritora e jornalista Sabrina Abreu, de 32 anos, também lançou seu primeiro trabalho Estados Unidos – Viagens” aos 28 anos. Para a autora, a maior dificuldade dos escritores em início de carreira é justamente “encontrar uma editora que acredite e aposte no projeto de um jovem”, afirma. Hoje, com 32 anos e quatro obras publicadas – Meu Israel”, Estados Unidos – Viagens, Lu Alone: até aqui e A Voz do Alemão -, ela analisa seus anos de estrada com orgulho e dedicação. Conciliando o emprego como jornalista na revista Veja BH e a carreira de escritora, a mineira de Belo Horizonte conta que a sua maior dificuldade é dividir o trabalho de escritora com a rotina de uma redação: “É um desdobrar-se que cansa muito, mas vale a pena”. Suas histórias são baseadas principalmente em lugares visitados como Israel, Estados Unidos e o Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro. Suas referências são autores lidos durante a infância e adolescência. Já Tulio Magno conta que o pouco retorno financeiro que a carreira oferece impede que escritores em início de carreira dediquem-se unicamente a esse trabalho. Em consequência, a literatura é colocada em segundo plano, como uma possibilidade para o futuro. Magno afirma que “A literatura é uma renda que se constrói a longo prazo”. Como professor, declara que a literatura é a maneira que os jovens encontram de tentar se inserir no mundo e, de alguma forma, deixar aqui sua marca. Sabrina conta que seu sonho sempre foi ser romancista. “Li vários livros do Sabino, até me deparar com Gente, uma coletânea das melhores entrevistas que ele fez. Havia registros do encontro dele com Pelé e Salvador Dalí, fiquei encantada, querendo uma vida de entrevistadora para mim. Essa influência está nos quatro livros que escrevi até hoje, pois são todos de não-ficção, baseados nos meus próprios encontros com gente que entrevistei. Além disso, sempre me esforço para ficar o mais perto possível dos meus entrevistados.” E acrescenta: “No fim das contas, saber sobre o que se quer escrever e conhecer bem as razões e os detalhes é o que embala uma história tocante”.
da página: Bruna Marta
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Comportamento • 07 Belo Horizonte, novembro de 2013
Escrever é a parte mais difícil, O resto é consequência
A escritora mineira Laura Cohen, de 23 anos, fala da maneira como outros escritores a influenciaram e analisa o exercício da cópia como parte inerente ao seu processo de escrita. “Eu adoro “imitar” os escritores que eu gosto. Por exemplo, no meu romance História da Água, eu imitei em parte a forma como o William Faulkner usa múltiplos narradores nas quatro partes do livro O som e a fúria. Em uma dessas partes, quis muito que a voz ficasse parecendo com a dos livros da Teresa Veiga, então fiz o exercício de copiar. Quando você lê muito um autor, acaba copiando ele às vezes sem perceber. Não acho que isso é um problema, e, se feito de forma consciente, só enriquece o texto. Muita solução pra história minha vem de outros autores”, esclarece. A autora afirma que o tempo dedicado à finalização de uma obra é fator relevante e fundamental para inserção do escritor no mercado. “As leituras, a partilha do texto ainda rascunho com outros autores/editores e o tempo que ele dispõe para finalizar a obra não podem ser demais nem de menos. Coordeno um trabalho relacionado a isso, se chama Ateliê de Estratégias Narrativas, e é um ateliê de escrita criativa destinado a quem tem dificuldades com o texto. Lá, as pessoas vão e leem os próprios textos para os outros, e nós fazemos sugestões de mudanças e edição, além de eu sugerir alguns exercícios de escrita”, conclui. Para Laura, os autores mineiros não têm visibilidade fora do estado e não têm acesso a escritores contemporâneos de outros lugares do Brasil porque as editoras não promovem esse intercâmbio. Apesar disso, ela acredita que Minas está evoluindo e finaliza: “Minas está melhorando. Estou com a impressão de que as pessoas estão lendo mais, e assim acabam comprando mais livros e buscando mais coisas diferentes. Acho mais importante escrever do que publicar. De qualquer forma, escrever é a parte mais difícil. O resto é consequência”.
08 • Saúde
Editor e diagramador da págin
Belo Horizonte, novembro de 2013
O Po
Eles precisam de ajuda Distúrbio com grande incidência em crianças e adolescentes, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem tratamentos alternativos à opção medicamentosa JÚLIA ALMEIDA MARCELA XAVIER 4º PERÍODO
Reprodução do quatro Dancer Tilting, do pintor Edgar Degas (1834-1917)
“Sua filha não é doente, ela é uma dançarina. Leve-a para uma escola de dança”, disse o médico à mãe de Gillian Lynne, de oito anos. Em meio à década de 30, os pais da menina foram parar no consultório à procura de um especialista que pudesse explicar a dificuldade de aprendizado da filha. Eles haviam recebido bilhetes da escola, reclamando que Gillian não prestava atenção nas aulas, era inquieta, desanimada e não se relacionava bem com outros alunos. Após ouvir a mãe relatar os fatos e observar a menina triste ao fundo da sala, o médico se levantou e disse a ela que sairia por alguns minutos para conversar a sós com a Sra. Lynne. Ao sair, ele ligou o rádio e pediu para que a mãe a observasse. Enquanto Gillian se movia ao som da música, a menina desanimada se transformava na renomada solista do Royal Ballet, bailarina que hoje é responsável por alguns dos musicais mais bem sucedidos da história, como O Fantasma da Ópera. Nos dias de hoje, Gillian teria sido diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção. O distúrbio tem maior incidência na infância e adolescência, sendo caracterizado por falta de concentração e, no caso do Déficit de Atenção por Hiperatividade (TDA/H), atividade motora excessiva (inquietação física) e dificuldade de controlar impulsos. Nos últimos dez anos, o TDA/H ganhou maior atenção de médicos, psicólogos e pedagogos, principalmente porque se passou a creditar ao distúrbio boa parte dos casos de mau desempenho escolar. Utilizado por pessoas que sofrem de Déficit de Atenção, o metilfenidato, comercialmente conhecido como Ritalina, melhora a concentração e diminui a ansiedade. Muitas vezes, o medicamento é obtido de forma ilegal - via internet ou mesmo por meio de amigos. Só em 2009, foram consumidos quase 2 milhões de caixas de Ritalina no Brasil, tornando o país seu segundo maior consumidor mundial. Especialistas, entre eles, Psicólogos e Fonoaudiólogos, alegam que o abuso desses estimulantes pode levar a mudanças repentinas de humor (decorrentes da privação de sono), depressão, e, durante a abstinência, pode causar psicose. Nos EUA, os metilfenidatos são classificados pela DEA (Drug Enforcement Administration), órgão responsável pela repressão e controle de drogas como substâncias controladas de “Classe 2” - a mesma da cocaína e morfina, que, apesar da utilização médica, provocam dependência. Hoje, cerca de 5% das crianças e adolescentes brasileiros são diagnosticadas com o transtorno. Contudo, estudos indicam que 75% dos diagnósticos no país foram
Saúde • 09
na: Janderson Silva - 2º Período
onto
Belo Horizonte, novembro de 2013 incorretos. Esses números apontam o fato de que diversas crianças têm feito uso do medicamento sem necessidade. A psicopedagoga Renata Almeida, 47, explica que parte desse aumento se deve ao diagnóstico negligente. “O correto é que a criança passe, primeiramente, por um neurologista e, só depois, por um psiquiatra. Essa ordem, muitas vezes, não é obedecida”, explica. Ela destaca que não houve um aumento no número de crianças portadoras da doença, mas mudanças em torno do diagnóstico que, atualmente, é mais acessível. “Além disso, hoje temos um enorme acesso à informação. Para a mãe aflita, basta digitar algumas palavras no Google e a agitação do filho passa a ter nome: TDA/H”. Renata conta que muitos pais buscam pessoas pouco qualificadas para diagnosticar a criança e prescrever a Ritalina. Para a psicopedagoga, o uso do medicamento só deve ser feito quando esgotadas as outras possibilidades de tratamento. “Existem crianças que respondem a um tratamento à base de esporte, de luta ou de contato com cavalos - a equoterapia. Nesses casos, medicá-las seria expô-las a riscos e efeitos colaterais sem necessidade” , esclarece. Foi o que aconteceu com o publicitário João Gilberto, 23, que, quando criança, foi diagnosticado com TDA/H. “Eu sempre fui absurdamente agitado, e um dia minha psicóloga levantou essa possibilidade para os meus pais. Na época, eles nem conheciam o transtorno, mas me levaram para fazer o teste”, conta. “Eu estudava em escola construtivista, por isso tive como desenvolver meu lado forte, a criatividade. Meus pais sempre foram contra uso de remédios, então minha mãe me colocou na aula de bateria para gastar energias.” Hoje, João agradece a atitude dos pais. “A Ritalina te faz ficar concentrado, e você perde a capacidade de abstração. Sem abstração e criatividade, eu não teria, hoje, montado minha própria agência de publicidade.” Renata destaca que nem sempre a atitude dos pais é parecida com a história da Gillian e do João. “Às vezes, a mãe tem um menino muito ativo e ela quer ficar ‘livre’ daquilo. Aí a saída é arrumar qualquer diagnóstico vindo de qualquer pessoa.” Ela ainda arrisca um palpite: “É como se, atualmente, as pessoas quisessem acabar com a diversidade, sabe? Criança tem personalidade, algumas são mais inquietas, outras podem passar horas colorindo quietinhas.” Nem sempre o Déficit de Atenção vem acompanhado da Hiperatividade. É o caso de Felipe Líbero, 23, que foi diagnosticado com o problema aos 12 anos de idade. Sua mãe, a artista plástica Litza Líbero, 53, procurou ajuda de vários profissionais de diferentes especialidades para garantir que seu filho se integrasse normalmente no sistema de ensino. Felipe passou por três diferentes escolas particulares durante a adolescência. Os colégios, na época, não estavam preparados para receber um aluno que requeria métodos de aprendizado que diferem do atual aplicado na maioria das escolas. Foi em um colégio, situado no bairro de Lourdes que o jovem encontrou o apoio necessário para concluir o Ensino Médio e ser avaliado de acordo com os padrões exigidos pelo MEC. No caso de Felipe, a dificuldade de concentração tem um aspecto visual, e o
aluno era prejudicado pelos métodos de avaliação escritas. Com dificuldade de interpretação de textos, responder a perguntas elaboradas sempre foi um empecilho. “Ele lia, por exemplo, ‘A bota do gato é azul. Qual a cor da bota do gato?’ e respondia, prontamente, branca!”, diz Litza. A escola conseguiu identificar que o aluno tinha uma grande facilidade para entender os assuntos discutidos em aula e nas tardes em que passava na escola recebendo apoio fora do horário de aulas, desde que discutidos verbalmente. Felipe não apresentava dificuldade alguma em aprender quando inserido em discussões que não envolviam a leitura e, inclusive, auxiliava seus colegas nas sessões de estudo que precediam as avaliações escritas. Ainda assim, não conseguia expressar tudo que aprendia no papel.
Ao longo de anos Felipe já tentou diferentes métodos para lidar com a sua condição. Chegou a tomar Trofanil, um antidepressivo tricíclico também utilizado em indíviduos que apresentam TDA/H. Por aproximadamente um ano ele fez o uso do medicamento, mas resolveu parar porque se sentia exlcuído dos outros colegas que não precisavam de nenhuma intervenção externa para auxiliar no aprendizado. Felipe foi diganosticado também com a Síndrome de Irlen-Mears, um transtorno em que um dos olhos absorve mais luz que o outro, fazendo com que a pessoa seja mais suscetível a variações de luz e prejudicando seu processamento visual diante
de determinadas combinações de cores e brilho. Esta alteração na visão pode afetar, como no caso de Felipe, o desempenho acadêmico, comportamento, atenção e a concentração. Felipe fez um tratamento com óculos com lentes verdes que se mostrou eficaz, e, embora tivesse o apoio e compreensão dos professores, sofreu com os colegas de classe. “Eles falavam coisas do tipo ‘ah, duvido que esses óculos coloridos vão te deixar mais inteligente!”, diz Litza. Novamente, ele se sentiu marginalizado e decidiu interromper o tratamento. O investimento na educação de Felipe, a fim de que ele concluísse o Ensino Médio e ingressasse em uma Universidade, foi superior ao da maioria dos alunos em idade escolar. Consultas com psicólogos, neuropsiquiatras e pedagogos custam muito dinheiro e nem sempre há o auxílio dos planos de saúde. A mensalidade da escola também era mais cara porque o menino frequentava a escola em horário integral, onde tinha o apoio dos professores todas as tardes. Hoje, cursando Relações Internacionais na Universidade FUMEC, Felipe faz o uso esporádico da Ritalina quando precisa estudar para provas e absorver conteúdo escrito. Em momento algum foi comprovado que o aluno tem um potencial intelectual abaixo da média esperada, inclusive, ele se excede no aprendizado de línguas diferentes. Passou um ano morando no Canadá durante o Ensino Médio e agora está fazendo seu segundo intercâmbio em uma Universidade em Buenos Aires.
Reprodução do quadro, The Thinker, do pintor Donald Zolan (1937-2009)
10 • Cultura
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Belo Horizonte, novembro de 2013
O Ponto
Kombi 1956/2013 Veículo mais antigo em produção no país sai de linha por questões de segurança e deixa como herança muitas histórias, além de uma legião de apaixonados Amanda Medeiros Ana Beatriz Aleixo Ricardo Bastos 2º e 4º Período A versatilidade da Kombi foi inspiração para mudanças na vida de pessoas que, literalmente, rodaram o mundo. O casal de norte-americanos Jason e Angela Rehm ficou famoso ao largar o american way of life para viajar pelo mundo com o filho de quatro anos a bordo de uma Kombi 1971. A aventura, que inicialmente deveria ser de 12 meses, já dura quatro anos. Jason mantém vivo o sonho de liberdade e desapego trabalhando como consultor on-line para a empresa da qual era funcionário. No Brasil, Inês Calixto e Franco Hoff viajam desde maio de 2013 a bordo de sua Kombi Alice. O veículo utilitário foi completamente adaptado para que o casal de fotógrafos e documentaristas pudesse completar seu projeto que, de acordo com eles, é de cunho antropológico, cultural, social, artístico, ambiental e ecológico. Apelidada de “Vou de Kombi”, a ideia possui o grande desafio de percorrer mais de 200 mil quilômetros no veículo transformado em casa/escritório, passando por países dos quatro continentes em aproximadamente cinco anos. No entanto, esta não é a
Recorte de uma cena do filme “Pequena Miss Sunshine”, usada em um de seus cartazes de divulgação; a Kombi é uma das personagens da história.
primeira peripécia da Kombi Alice – que para o casal é como parte da família. Ela já foi grande companheira de estrada na primeira edição do projeto, que percorreu 60 mil quilômetros pelo Brasil, visitando 400 cidades. Para a viagem internacional, Alice passou a contar com energia limpa, gerada pelo teto solar da Kombi. História semelhante é a de Antonio Lino, que durante um ano e três meses morou e viajou pelo Brasil a bordo de uma Kombi. O paulistano rodou uma centena de municípios em quinze Estados e transformou sua aventura em um livro manuscrito durante a viagem – o Encaramujado. Nele, Antonio conta histórias sobre as pessoas e os lugares que conheceu em seus mais de 30 mil quilômetros viajados pelo país. Em Belo Horizonte, a Kombi também possui colecionadores e fãs. A paixão de Rodrigo Soares pela Kombi foi movida pelo acaso. Desde 2007, o advogado e torcedor do Clube Atlético Mineiro, juntamente com seus amigos, aposta nesse meio de transporte. Apelidado de GaloKombi, o modelo de 1977 se transformou, em 2007, no veículo de locomoção para os torcedores do time alvinegro em dias de jogo. Ampla e prática, ela garante o cenário e o transporte para o aquecimento antes dos jogos.
“Depois que proibiram a venda de cerveja nos estádios, tivemos que pensar em como poderíamos resolver nosso problema, sem ter que recorrer ao porta-malas dos nossos carros. Além disso, era sempre uma briga para saber quem teria que ir de carro aos jogos”, conta Rodrigo. A Kombi, com espaço suficiente para acomodar um grande isopor e a turma de amigos, se mostrou totalmente adequada. Rodrigo ainda revela que a GaloKombi se transformou em ponto de encontro para a turma de amigos e que coleciona histórias. O sucesso traduz a versatilidade do modelo. Marcelo Ribeiro, empresário, comprou sua primeira Kombi em 1989, quando inaugurou sua primeira padaria na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Desde então, os negócios prosperaram e a Kombi continua fazendo parte da frota de sua empresa. “É um carro que nunca me deixa na mão. Não tenho motivos para reclamar. Pelo caminho traçado na última década, acabei me apegando à Kombi e não me desfaço dela por nada”. Questionado sobre o encerramento da produção do modelo, Marcelo afirma que isso não muda a importância da Kombi. “Ela marcou a vida de muitos brasileiros. É inesquecível! Não há como apagar a herança de um carro que tanto contribuiu
para os negócios de muitos pequenos empresários como eu”. Apaixonado por Kombis, e idealizador da página no Facebook “Kombi Lovers” (com quase 35 mil fãs), Eduardo Abreu conta que criou a página sem saber a proporção que aquilo tomaria. Ele revela que são muitos os kombimaníacos que querem compartilhar histórias e imagens de seu xodó, quase sempre apelidado com nomes carinhosos. Eduardo também lembra a importância do modelo para o mercado automotivo brasileiro. “A Kombi construiu o Brasil. Não existe até hoje veículo com o preço da Kombi e a versatilidade que ela oferece. Capacidade de carga, mecânica simples e baixo valor de aquisição são atributos que só ela oferece hoje no Brasil”, assegura. “Todos se lembram da Kombi que levava as crianças à escola e das entregas e produtos adquiridos nela”, completa Eduardo. Um bom negócio Além de ser um marco para a Volkswagen, a Kombi também se mostrou um ótimo negócio e garantiu boas vendas para muitos concessionários. Fernando Camargo, gerente de vendas especiais da Concessionária Copava, de Curitiba (Paraná), afirma que o modelo se destacou por tanto tempo por ser um utilitário
com ótimo custo benefício. “Apesar da idade, ela é líder de vendas na categoria até hoje”, afirma Fernando. “A Kombi é muito versátil. Pode levar pessoas e, se tirarmos os bancos, tem um espaço interno enorme para carregar objetos. É um produto único!”, completa. Movida pela paixão por Kombis, a Copava mantem um blog e uma página nas redes sociais que homenageia o veículo – o Blog da Kombi. Para Fernando, esta é uma maneira de retribuir a valorização do público antigomobilista à marca Volkswagen. No “Blog da Kombi”, já se passaram diversas histórias, através da série “Crônicas Kombicas”. Além disso, a concessionária celebra, anualmente, o Dia da Kombi, no primeiro final de semana de setembro. Sessenta anos atrás... O ano era 1956. No Brasil, a televisão avançava a passos largos. O futuro dava as caras, acompanhado pela fundação da Petrobras. Para a Volkswagen, o ano seria histórico, marcado pelo início das atividades da montadora no país. Antes de o clássico Fusca invadir as ruas brasileiras, a Kombi era a vedete da marca alemã a estrear em solo nacional. Moveria paixões. Chegou ao país com nome simpático, fácil, divertido, remetendo ao termo alemão Kombinationsfahr-
Cultura • 11 O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2013 Foto: Ricardo Bastos
Rodrigo Soares exibe suas duas paixões: a kombi e seu time do coração zeug – que em português significa veículo combinado. Mais do que um nome, uma sina. A fabricação começou em um galpão no bairro Ipiranga, em São Paulo, e poucos anos depois foi transferida para a fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo. Desde então, foram produzidas 1.555.140 unidades do modelo. Agora, após 56 anos ininterruptos de fabricação no Brasil, a Kombi se despede do chão de fábrica carregando o legado de ser o modelo na história com maior longevidade na indústria automobilística mundial. Este ano, o furgão mais vendido do país dá adeus à linha de montagem por não ter estrutura para receber freios ABS e airbags – itens de segurança que passam a ser obrigatórios em todos os veículos brasileiros fabricados a partir de janeiro de 2014. A Kombi nasceu para ser umagrande estrela. Desde cedo se destacou e foi o primeiro veículo feito pela Volkswagen fora da Alemanha. Idealizado pelo holandês Ben Pon, na década de 1940, o modelo ganhou forma a partir da ideia de um automóvel que pudesse ser adotado tanto para transporte urbano de carga quanto para levar passageiros. O sucesso foi imediato, quase que inevitável. Tanto que, com o passar dos anos, a Kombi inspirou livros (Na Kombi, Kombi – um ícone cultural, Encaramujado – uma viagem de Kombi pelo Brasil), grupos de discussão em redes sociais e foi parceira de protagonistas de filmes, como “Pequena Miss Sunshine”, “101 Dálmatas”, “De volta para o
futuro” e “Duas Vidas”. Seus papéis foram diversos. Na década de 60, para os norte-americanos, era considerado carro de surfista; duas décadas depois, ganhou fama de carro de criminosos. Multifacetária, uma atriz hollywoodiana. Suas características, com o tempo, se transformaram, impregnadas pelo mesmo design de sempre (com pequenas atualizações) e a mesma estrutura. A Kombi é fruto de um projeto inusitado e, para seu tempo, muito ousado. Aliou o conjunto mecânico do VW Sedã, o Fusca, ao design de um veículo prático, propício tanto ao transporte de carga quanto ao lazer. Conseguiu cumprir seu papel. Altamente mutável, se mostrou ser adaptável a diversos tipos de uso. Nos últimos 60 anos, foi usado como veículo de lazer, carro funerário, lanchonete, carro de reportagem para a imprensa, ambulância, viatura policial, veículo do Corpo de Bombeiros e até mesmo escritório volante.
Paixão em preto e branco Em Belo Horizonte, a Kombi também possui colecionadores e fãs. A paixão de Rodrigo Soares pela Kombi foi movida pelo acaso. Desde 2007, o advogado e torcedor do Clube Atlético Mineiro, juntamente com seus amigos, aposta nesse meio de transporte. Apelidado de GaloKombi, o modelo de 1977 se transformou, em 2007, no veículo de locomoção para
Desde seu lançamento, após 56 anos ininterruptos de fabricação no Brasil, foram produzidas 1.555.140 unidades do modelo
os torcedores do time alvinegro em dias de jogo. Ampla e prática, ela garante o cenário e o transporte para o aquecimento antes dos jogos. “Depois que proibiram a venda de cerveja nos estádios, tivemos que pensar em como poderíamos resolver nosso problema, sem ter que recorrer ao porta-malas dos nossos carros. Além disso, era sempre uma
briga para saber quem teria que ir de carro aos jogos”, conta Rodrigo. A Kombi, com espaço suficiente para acomodar um grande isopor e a turma de amigos, se mostrou totalmente adequada. Rodrigo ainda revela que a GaloKombi se transformou em ponto de encontro para a turma de amigos e que coleciona histórias.
A despedida A Kombi se despede do mercadonacional com uma versão especial, de colecionador, limitada a 1.200 unidades numeradas. Oferecida a partir de R$ 85 mil, a versão derradeira conta com a tradicional pintura tipo “saia e blusa”, acabamento interno de luxo e elemen-
tos de design que remetem às inúmeras versões do veículo. Por enquanto, ainda são comercializadas unidades antigas do modelo, fruto do estoque feito pela Volkswagen. A média de vendas da Kombi era de 1.800 unidades mensais. Vai deixar saudade.
12 • Esportes
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Belo Horizonte, novembro de 2013
O Ponto
FUTEBOL DE ELITE Reajuste nos preços dos ingressos elitiza o público do futebol e afasta torcedores dos estádios brasileiros.
Fila de ingressos para um jogo no novo estádio do Mineirão. O valor elevado dos ingressos afastou os torcedores da bilheteria. (Foto: Ricardo Bastos)
Filipe Magalhães Gerson Melo Igor Antunes 4º Periodo Os estádios brasileiros estão se tornando cada vez mais reduto de torcedores de elite. A modernização de nossos estádios de futebol, visando a Copa do Mundo de 2014, custou caro para os torcedores, que se viram impedidos de frequentar os estádios devido ao aumento expressivo nos preços dos ingressos. De certa forma, foi a maneira que os administradores dos estádios encontraram para fazer com que o cidadão ajude no custeio das reformas. Ir a um estádio de futebol hoje custa muito caro, os preços sofreram um reajuste entre 100% a 250%. Além do preço “generoso” das entradas, temos que levar em conta o transporte e alimentação, não esquecendo, é claro, da tradicional cerveja, tão indispensável por boa parte dos torcedores em dias de jogo. Caso uma família de quatro pessoas resolva ir a uma partida de futebol no novo Mineirão como programa de domingo, pode se preparar para um rombo em seu orçamento. Com as entradas no bolso e optando pelo carro próprio como meio de transporte, essa família pagará R$30
ao chegar ao estádio para estacionar com segurança o seu veículo. Enquanto acompanha o time dando um show no gramado, um lanche pode ser uma boa pedida. Nem tanto, se formos levar em conta o preço dos alimentos. Um cachorro quente acompanhado de um refrigerante sairá a R$15 nos bares internos do Mineirão. Em um dia de calor, vai custar caro se refrescar com um copo d’agua (R$4) ou um picolé (R$6). E com tanta coisa cara, ao final do dia esse programa não sairá por menos de R$350. Para se ter ideia, esse valor representa 52% do salário mínimo atual e chega a superar o valor da cesta básica, que, em fevereiro de 2013, foi de R$318,83, de acordo com a Fundação IPEAD ( Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais). Alvo de protestos dos torcedores, o tradicional Tropeiro do Mineirão sofreu um reajuste de 30% depois de sua reinauguração, e hoje chega a custar R$12. A insatisfação não está apenas no reajuste, o Tropeiro sofreu uma grande transformação, e perdeu sua qualidade e originalidade. Essa diversão pode sair ainda mais cara se levarmos em conta jogos de maior relevância, como a final da Copa
Libertadores de 2013 entre Atlético Mineiro e Olímpia do Paraguai, que ocorreu no Mineirão em agosto. Para assistir à final de dentro do Estádio, o torcedor teve a sua disposição ingressos com valor mínimo de R$100, e nos melhores setores esse valor chegou a R$500. Essa partida alcançou o recorde de renda da história do futebol
‘‘Os ingressos do Cruzeiro nunca foram baratos, mas depois da reforma do Mineirão ficaram fora dos padrões’’. André Luiz, torcedor. brasileiro, chegando a marca de R$14.000.000. É por esses motivos que o vendedor de autopeças, André Luiz, de 24 anos, não vai mais ao estádio com tanta frequência como antes. Cruzeirense, frequentava o estádio há mais de 10 anos, e hoje lamenta o aumento no preço dos ingressos. Ele critica a postura da diretoria do seu time, que insiste em manter ingressos mais caros, impedindo assim um maior público no Mineirão. André Luiz vai além, e diz que
as melhorias dos estádios são desproporcionais aos valores dos ingressos. Há também torcedores que não foram afetados pelo reajuste nos preços dos ingressos. É o caso do torcedor atleticano Hebert Drummond, que concorda com o aumento no preço dos ingressos, mas mesmo assim o considera exagerado. O estudante de 24 anos frequenta os estádios de futebol há nove anos e garante que o alto preço dos ingressos não o tira dos jogos. Ele confessa que já fez loucuras pelo time, como viajar para fora do país, além de pagar R$450 reais para assistir a um jogo. Hebert planeja ainda acompanhar o Atlético Mineiro no Mundial de Clubes da FIFA que ocorrerá em Marrocos, no mês de dezembro. Desconsiderando a desvalorização da nossa moeda, o preço dos ingressos no Brasil supera até mesmo os preços dos times europeus, que oferecem aos seus torcedores luxuosos estádios para que estes possam assistir de perto os melhores jogadores do mundo. Na Espanha, existem dois dos clubes mais poderosos do mundo; o Barcelona e o Real Madrid. Lá o salário mínimo vigente é €633, algo em torno de R$1900. Em um jogo da equipe do Barcelona, o ingresso mais barato custa €15, cerca de
R$45. Esse valor significa 2,5% do valor do salário mínimo espanhol. Porém, esse ingresso é destinado a torcedores que não adquiriram o pacote de jogos da temporada ou a turistas que estão visitando a cidade e desejam assistir a um jogo no moderno Camp Nou, estádio do Barcelona. Para os fiéis torcedores, o Barcelona disponibiliza pacotes a partir de €125, cerca de R$380, para assistir aos aproximadamente 30 jogos que a equipe faz em seu estádio. É um pacote vantajoso para o torcedor, que gastará €4 para assistir a cada jogo. Valor muito aquém dos padrões brasileiros. A realidade brasileira é outra. Aqui, o torcedor paga até 15 vezes mais que o torcedor europeu para acompanhar uma única partida, e aproximadamente cinco vezes mais no pacote para todos os jogos da temporada. O Atlético Mineiro, por exemplo, cobra dos seus sócios R$2.400 anuais para estes acompanharem aos jogos que o time faz como mandante, ou seja, seis vezes mais caro que o pacote anual do Barcelona. É bom lembrar que, apesar das reformas de nossos estádios, ainda ficamos devendo para os estádios do padrão europeu, e, no final das contas, o torcedor brasileiro paga mais por menos.
Esportes • 13
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Belo Horizonte, novembro de 2013
Sócio Torcedor ganha força no futebol
A imagem das arquibancas vazias são frequentes nas partidas dos novos estádios brasileiros. (Foto: Ricardo Bastos)
MÉDIA DE PREÇOS DOS INGRESSOS ANTES E DEPOIS DAS REFORMAS DOS ESTÁDIOS BRASILEIROS
Ano de 2013 Ano de 2009
150 120 90 60 30 0
Atlético
Bahia Botafogo Cruzeiro Flamengo Fluminense Grêmio Náutico
Fonte: Site oficiais dos Clubes.
Com o intuito de fidelizar seus torcedores e aumentar a receita dos clubes, o programa Sócio Torcedor vem ganhando cada vez mais integrantes. Os dirigentes do futebol estão traçando planos para que o programa seja cada vez mais vantajoso para ambas as partes, além de estreitar a relação entre o torcedor e o seu clube de coração. O programa permite aos clubes traçar projetos de médio a longo prazo, já que garante uma estabilidade de suas receitas a partir do número de sócios. Aos torcedores, o programa visa trazer mais conforto nas idas aos estádios, economia na compra dos ingressos e até mesmo descontos em supermercados e empresas de prestação de serviços conveniadas. Com o aumento expressivo no valor dos ingressos devido às obras feitas para a próxima Copa do Mundo no Brasil, o programa Sócio Torcedor ganhou força entre os torcedores brasileiros, já que é mais vantajoso financeiramente para os frequentadores assíduos dos estádios. O Internacional foi o primeiro clube brasileiro a atingir a incrível marca de 100.000 sócios, e hoje lidera o ranking com cerca de 105.000 torcedores. Diante dos benefícios que o programa Sócio Torcedor traz, a tendência é que os times de futebol ganhem cada vez mais integrantes, garantindo assim um maior desenvolvimento dos clubes e estádios lotados em seus jogos.
* O preços dos ingressos podem variar em algumas partidas.
Foto: Divulgação
O SOFÁ É A NOVA ARQUIBANCADA DO TORCEDOR Os altos valores dos ingressos fizeram com que os torcedores buscassem novas alternativas para acompanhar seu time de coração de outra maneira que não fosse as idas constantes aos estádios. Assistir ao jogo no conforto de nossas casas está cada vez mais interessante pelo ponto de vista financeiro. Tudo bem que para muitos nada se compara à emoção de assistir a um jogo no estádio e sentir de perto a boa atmosfera que uma partida de futebol proporciona. Mas as TVs por assinatura vêm disponibilizando pacotes para torcedores, que desejam assistir em casa aos jogos do seu time a preços acessíveis. Ao comprar este pacote, o torcedor receberá em casa o sinal para acompanhar em sua TV todos os jogos do Brasileirão, inclusive os disputados em sua cidade, além do campeonato regional que seu clube disputa. Para isso, a principal TV por assinatura do nosso estado disponibiliza pacotes a partir de R$55,90 por mês. Esse valor é inferior ao preço de muitos ingressos em algumas partidas. Caso o torcedor não queira se fidelizar a esse pacote, poderá até mesmo juntar os amigos, fazer aquela tradicional “vaquinha” e comprar um jogo avulso que acha mais interessante. Nesse caso, os torcedores poderão comprar o jogo até o inicio da partida via telefone ou internet por R$90. Os times também saem ganhando, pois recebem o repasse de parte dessa verba.
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Rima como matéria-prima Na Praça do Papa, jovens encontram nas rimas uma forma de se expressar. Bernardo Guimarães Paulo Madrid Whyte 2º Periodo A Praça do Papa é palco de uma manifestação cultural liderada pela juventude belo-horizontina. O “Rapa do Papa” consiste em uma roda de rima e é um movimento ligado ao rap freestyle, estilo musical caracterizado pelo improviso na expressão de ideias sobre um assunto, seguindo determinado ritmo. Idealizado por Igor Polatschek, 20, o encontro ocorre todos os domingos com inicio às 18 horas. Costuma atrair cerca de cinquenta pessoas a cada edição. Segundo Polatschek, a ideia do evento surgiu depois que ele voltou de uma viagem ao estado do Rio de Janeiro, onde vivenciou varias rodas de rimas e duelos de Mc’s. Ele afirmou também que seu principal objetivo é a “miscigenação cultural”, que ele entende por “compartilhamento coletivo de ideias, energias e ideais”. A iniciativa criada recentemente vem conquistando cada vez mais espaço e mostrando que os jovens estão, cada vez mais, buscando respeito e demonstrando sua identidade no âmbito cultural. O encontro possui dois momentos, que são diferenciados por dinâmicas distintas. Inicialmente acontece o tributo, que é um espaço que preza pela liberdade de expressão, ou seja, permite aos participantes que se expressem de formas variadas, não necessariamente ligadas ao rap, para homenagear personagens históricos ou movimentos culturais. Depois, acontecem os duelos, que, sem dúvida, são a parte mais visada e popular do evento. “Enquanto rola o tributo, são anotados todos os nomes de MC’s que querem duelar pre-
sentes na praça. Após o sarau, vão sendo sorteados os nomes dos MC’s, 2 por vez, formando os duelos. Cada MC tem direito a 3 rimas por chance; são 4 chances pra cada um por round. Ao fim de dois rounds, a galera e um juiz votam. Caso a plateia discorde do juiz, haverá um terceiro round. Caso a votação novamente empate, é escolhido um juiz emergencial na hora, para decidir qual MC passa de fase. Ao todo, 16 MC’s participam da competição”, esclarece Polatschek. E quinzenalmente o duelo de MC’s é substituído pelo duelo de personagens. Ambos têm o mesmo formato; porém, no segundo os participantes rimam interpretando um personagem, que é escolhido pelo público durante o tributo. Esse personagem pode ser tanto fictício quanto um personagem relevante na história.
Tenho muitas pretensões, pocket shows, apresentações de artistas de rua, exposições, etc. A Rapa está apenas começando. Igor Polatschek.
O organizador espera inspirar novas iniciativas de rua, e que o cenário de rap mineiro possa ficar cada vez mais forte, podendo conquistar um maior apoio cultural. O participante das batalhas, Leon Pedro, sente falta de um incentivo por parte do governo, e exalta o crescimento dessa cultura dentro de diferentes tribos “Além do rap ser muito discriminado, existem algumas atitudes do governo que vêm prejudicando o movimento. Existe até uma parcela de
deputados e vereadores querendo acabar com o duelo de MC’s, que acontece no viaduto Santa Tereza, mas não vão conseguir, pois, por outro lado, o rap, cada dia que passa, está sendo mais aceito por todo tipo de público”. Apesar do grande sucesso e do crescente número de adeptos que o Rapa vem conquistando, Igor enfatiza que o Rapa do Papa está sujeito a constantes modificações: “Tenho muitas pretensões, pocket shows, apresentações de artistas de rua, exposições, etc. O Rapa está apenas começando”.
O Rapa sociocultural A localização da Praça do Papa, em uma região nobre da cidade, faz com que o Rapa tenha também um aspecto social. Pessoas de diferentes partes da cidade e distintas realidades socioeconômicas se encontram no evento, desde moradores do bairro até habitantes dos aglomerados belo-horizontinos. “Fiz na Praça do Papa, pois lá, apesar de ser em uma área nobre da cidade, além de ser um ponto turístico por sua bela vista, é um ponto de encontro de pessoas de todo o município. Já conheci na praça pessoas de Betim (Grande Belo Horizonte), Palmital, Venda Nova, Pampulha etc”, salienta Igor Polatschek. O estudante e frequentador do encontro, Guilherme Augusto, 18, atenta para a importância dessa pluralidade de segmentos sociais reunida pelo Rapa: “Ajuda a acabar com preconceitos sem fundamento, além de que o intercâmbio de valores e cultura é bom para a formação do caráter dos jovens e de uma sociedade mais justa, construída a partir de uma juventude mais consciente”.
Foto: Rayanne Ferreira
MC’s durante o duelo do Rapa do Papa, que acontece todo domingo, às 18 horas, na praça do Papa, no bairro Mangabeiras, em Belo Horizonte
Comportamento • 15
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Meia Entrada estudantil: direito sem garantia Estatuto da Juventude limitará 40% dos ingressos para meia entrada quando entrar em vigor em 2014 CAMILA NIELSEN KAROLINE DE ALENCAR 4º PERÍODO Leis se confrontando no que diz respeito à meia entrada para estudantes tendem a fazer com que eles passem por transtornos ou sejam impedidos de economizar ao se divertirem. No caso de Belo Horizonte, os estabelecimentos em geral ainda seguem a Medida Provisória, com força de lei, n.o 2208 de 2001, da época do governo FHC. Ela diz basicamente que os estudantes devem apresentar carteirinha para desfrutarem dos descontos dados à categoria. Já a lei Municipal n.o 9070 de 2005 diz que menores de 21 anos têm direito à meia entrada, bastando apresentar o RG. E a partir de fevereiro de 2014, o Estatuto da Juventude limitará 40% dos ingressos em eventos culturais e esportivos destinados a estudantes. Esse estatuto irá anular as leis federais, estaduais e municipais já existentes que o contrariem. O Estatuto da Juventude foi sancionado pela presidente Dilma Roussef em agosto deste ano e, além de determinar o limite de 40% dos ingressos para meia entrada de estudantes, também diz que apenas os que tiverem entre 15 e 29 anos terão direito ao benefício. E só serão válidas carteirinhas feitas pela Associação dos Pós-graduandos, UNE e UBES. Acrescenta ainda que os jovens da faixa etária determinada que
apresentarem renda familiar inferior a dois salários mínimos terão 50% de desconto. A Copa do Mundo de 2014 no Brasil e as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro não estarão submetidos ao Estatuto. A declaração do Estatuto gerou insatisfação dos estudantes pelo Brasil. Primeiramente, pelo limite de 40% das entradas a eles designados; isso causará grande competição e exclusão durante a compra nas bilheterias. Outra fonte de insatisfação é o fato de os estudantes com menos de 15 anos e maiores de 29 não terem direito à meia entrada da categoria. Com a exigência de carteirinhas reconhecidas pela UNE e UBES, muitas agremiações estudantis podem não ter condições financeiras para continuarem existindo. Como conta Thales Nascimento Augusto Viote, presidente do agremiação da Universidade Fumec, “Muitos DCEs sobrevivem da verba de emissão de carteirinhas, se somente a UNE e UBES puderem emiti-las, eles correm sério risco de falir e atrapalhar a representação dos interesses dos estudantes da Instituição”. Enquanto o Estatuto ainda não vigora, há que se conviver com as determinações da Lei Municipal n.o 9070/05. Afinal, em vez desta última complementar uma lei federal, ela é
Fotos: Karoline Braga
40 % dos ingressos serão destimados a meia entrada no ano de 2014 anulada pela Medida Provisória 2208/01. Os estabelecimentos em BH, para cobrarem metade do preço, passaram a exigir a carteirinha de estudante para pessoas com mais de 12 anos. Dessa forma, cedem menos ingressos com desconto e faturam mais. Outra estratégia em relação à meia entrada estudantil é que algumas casas comerciais, para ceder o benefício, não aceitam somente a carteirinha de estudante. Exigem também o comprovante de matrícula (para quem estuda
Meia entrada por lei é produto ‘made in Brazil’ O Brasil é o único país no mundo com meia entrada estipulada por lei. Isso acaba sendo um argumento para que os estalecimentos aumentem o preço dos ingressos. A meia entrada existe em diversas modalidades no país desde a década de 30. Ela é regulada por leis estaduais e municipais e pela medida provisória de 2001. Depois da medida provisória, quebrou-se o monopólio que a UNE tinha, e qualquer associação ou agremiação estudantil passou a ter o direito de emitir a carteirinha. Com o Estatuto da Juventude, a partir do ano que vem o
antigo monopólio retornará. De acordo com informações de órgãos que representam os interesses dos cinemas, depois da medida provisória a demanda por meia entrada cresceu de 40% para 70% dos ingressos entre 2001 e 2009. Devido a esse aumento no peso da meia entrada, entidades ligadas a cinemas, casas de espetáculos,circos, dentre outras, pressionam o governo federal para a criação de cotas. Os representantes dos estabelecimentos alegam ainda que cerca de 50% das carteirinhas apresentadas são falsificadas.
em instituição pública) e boleto (para quem estuda em instituição privada). O argumento usado para essa exigência é combater a falsificação das carteirinhas. Thales conta que já vivenciou essa situação. “Quando fui pra um show do Caetano Veloso no Palácio das Artes, não me deixaram entrar sem boleto”. Sendo assim, muitas vezes os estudantes não esperam por essa nova exigência e são impedidos de usufruir do desconto de 50% por não estarem munidos com o
boleto ou comprovante. Nesses casos resta torcer para que preço da inteira seja viável de ser desembolsado. Portanto, é válido acompanhar se os estudantes brasileiros conseguirão ajustes no Estatuto da Juventude de modo a estender o benefício da meia entrada para mais pessoas. É bom lembrar que, depois de julho deste ano, ficou provado que, quando o cidadão se engaja em exigir seus direitos, intactas as estruturas políticas não ficam.