Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 15 | Número 94 | Novembro de 2014 | Belo Horizonte / MG
Distribuição gratuita
Coragem para reagir à violência Balanço feito pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República mostra que vítimas estão denunciando mais os casos de agressão P. 04
Trabalho Infantil Fotos de crianças em poses sensuais põe em debate a infância p. 12
Cerveja artesanal Minas Gerais é o estado com mais variedade de marcas e sabores p. 13
Ensaio Fotográfico A leveza do ballet em contraste às calçadas de concreto da capital p. 7-10
Crônicas “Solitário”, “A vida como ela é” e “Bianca no país das maravilhas” p. 16
02 • Opinião
Editor e diagramador da página: Bruno Costa
Belo Horizonte, novembro de 2014
O Ponto
A chave para o sucesso Reprodução: Graffy.inc
Gabriel Costa 2º Período Já ouviram falar em Gabriel Medina, Cairo Santos e Tiago Splitter? Se vocês nunca ouviram, agora deviam saber que eles entraram para a história do Brasil em seus esportes. Mas o que esses 3 brasileiros tem em comum? Um deles está prestes a fazer algo único em seu esporte, o segundo fez uma troca muito inesperada que o fez entrar para a história, já o terceiro conquistou o campeonato mais cobiçado de sua modalidade. Quinze anos, marca muitas vezes, a transição da puberdade para a adolescência, marca a escolha do que quer ser quando crescer, mas Gabriel Medina, paulista de São Sebastião, já sabia e exercia com excelência sua profissão, não usando o surf somente como uma profissão, mas como uma paixão. Conquistas e prêmios fazem parte de sua vida, já que em 2011 se tornou o mais jovem brasileiro a ingressar na elite do surf (WCT). O surf não era muito reconhecido, mais depois das conquistas desse paulista, impossível não dar uma aprofundada no esporte. O Brasil já se posiciona como terceiro país com mais representantes no Circuito Mundial, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da Austrália. Isso mostra o quanto esse esporte vem sendo incentivado muito pelo sucesso de Gabriel Medina. Reprodução: CollegeFootball.com
Gabriel Medina em ação nas ondas de Teahupoo, no Taití
Coordenação Editorial Profa. Ana Paola Amorim (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: jornaloponto@fumec.br Presidente do Conselho Curador Prof. Tiago Fantini Magalhães Reitor da Universidade Fumec Prof. Dr. Eduardo Martins de Lima
Reprodução: Wikimedia
Cairo Santos, melhor kicker das universidades Um jogador brasileiro trocando a bola redonda pela oval, soa um pouco estranho, pelo fato do Brasil ser o país do futebol, não é? Porém foi esse caminho que Cairo Santos escolheu, mesmo não tendo diretamente essa intenção. Paulista da Capital, em 2007 foi para os Estados Unidos como intercambista, na intenção de jogar futebol e a convite de colegas, acabou apaixonando-se pelo futebol americano. Cairo percebeu que tinha um chute muito forte, comparado aos de grandes astros do esporte, e foi convidado a participar do time da escola. Mais tarde, ele foi agraciado com uma bolsa de estudos em uma universidade para jogar, e depois disso, foi selecionado pelo Kansas City Chiefs no Draft , evento anual em que os 32 times da elite do futebol americano seleciona jogadores vindos da liga universitária, e foi quando Cairo entrou para história por ser o primeiro brasileiro à entrar para a NFL (elite do futebol americano) e a ganhar o premio Lou Groza, como melhor kicker da temporada universitária.
o ponto
Agora, o terceiro já é mais conhecido, trata-se de Tiago Splitter, que para os brasileiros amantes de basquete, é um espelho e exemplo de atleta que superou as dificuldades e conquistou seus objetivos. Em fevereiro de 2009, confrontou com seu primeiro problema pessoal: perdeu a irmã, Michelle Splitter, vítima de leucemia. Começou muito precoce, com apenas 15 anos se transferiu para o basquetebol espanhol, lugar onde jogou por muitos anos e fez sua carreira deslanchar. Splitter foi o MVP (jogador mais valioso) da temporada regular, das finais, e ganhou o titulo da temporada espanhola no ano de 2010. Depois dessa serie de premiações, foi draftado pelo San Antonio Spurs, onde ele se tornou o primeiro brasileiro a conquistar a NBA (elite do basquete americano). Mesmo o Brasil tendo a NBB (liga brasileira de basquete), é necessário mais apoio, e a conquista de Tiago Splitter pode impulsionar não só crianças e adolescentes mas uma federação a mudar seus conceitos e dar mais assistência ao esporte. Esses são exemplos de atletas, que acima de tudo, amam o que fazem e por isso, impulsionam centenas de brasileiros, a lutar pelos seus sonhos.
Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Monitores de Jornalismo Impresso Maria Clara Gonçalves e Marcos Fam Monitor da Redação Modelo Carolina Mercadante Monitores de Produção Gráfica Clara Barbi e Bruna Oliveira Monitores Voluntários Amanda Magalhães, Carol Castilho e Janderson Silva Tiragem desta edição: 2.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
Tiago Splitter vestindo a camisa 22 do Spurs
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Opinião • 03
Editor e diagramador da página: Carolina Mercadante
O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2014
A urna eletrônica e você DANIEL PEIXOTO 1ºPERÍODO Estamos novamente em período de eleição em nosso país. Eleições para presidente é o que mais faz doer a cabeça. Sempre que chega esse momento, ficamos sem saber o que fazer, em quem votar. O sistema atual de votação eletrônica é falho e não pode garantir o sigilo do voto e a integridade dos resultados das eleições. A conclusão é do Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, com base em relatório apresentado à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB). Sabendo de tal declaração, não tem como o cidadão de bem ficar tranqüilo. Saímos todos os dias cedo de casa para trabalhar, pagamos os impostos mais caros do mundo, somos chacota em assuntos por todo o planeta e ainda temos que aguentar uma política assim. Quando discuto o problema da urna, pessoas ficam desconfiadas do cidadão que vos fala e, não, em procurar
entender a veracidade do objeto em questão. Não estamos acostumados a reclamar como os franceses, a dizer que não queremos e muito menos lutar até a morte para que as coisas funcionem por aqui. Somos passivos há mais de mil anos. Devemos, de um modo geral, questionar mais, perguntar o “por quê” da coisa e não abaixar a cabeça e simplesmente levar para casa o “menos pior”. É assim que vem acontecendo há muitos anos no Brasil, pessoas aceitam tudo sem saber o “porquê”. As falhas nas urnas supostamente aconteceram no final de primeiro turno eleitoral. Boatos sobre a tentativa de efetuar um número na hora da votação está sendo discutida. Pessoas alegam que ao tentar apertar um numeral a resposta obtida não foi a requisitada anteriormente. Isso se dá como uma possível falha, haja visto que ainda não houve averiguação sobre o real acontecimento e provavelmente não irá haver. O problema aqui não esta em se ter algum erro, mas sim da omissão dos responsáveis, que são o Governo Federal e dos cidadãos e cidadãs que vivem neste país.
Quando iniciei esse assunto, vi que, mesmo de modo errado, poderia encerrá-lo rapidamente, sem respeitar o contraditório de terceiros e sem mesmo estudar a fundo este caso. Este modo errado e rápido de pensar se dá justamente por uma causa, o Paraguai veta o uso de urnas eletrônicas brasileiras e o voto é manual. Não consigo mais pensar para argumentar algo sobre o tema, tenho que me recompor e restaurar a demência que me foi aplicada ao saber que nem mesmo esse país tem a coragem de fazer valer tal artifício eleitoral. Para mim, esta notícia acaba com qualquer tentativa de discussão sobre usar ou não a urna eletrônica. Sendo assim, brasileiros e brasileiras que estão cansados de enganação, vamos procurar saber o que está havendo, o que acontece nos plenários e quais são os motivos de todas as escolhas que nos aplicam. Questionar o “por quê” das coisas apresentadas a nós e esperar que o “porque” seja sempre respondido de volta aos que perguntam.
O clientelismo do século XXI MARIANA CHACON 4ºPERÍODO A eleição presidencial de 2014 traz consigo a carga de mudanças e novos tempos. Apesar de as propostas serem as mesmas e ainda pior, as práticas políticas permanecem aquelas do século passado, relembrando velhos hábitos da época em que o Brasil era controlado pelo coronelismo. Por clientelismo entende-se a relação entre políticos que envolve concessão de benefícios fiscais, isenções em troca de apoio político, sobretudo na forma de voto. O coronelismo é o sistema político nacional, baseado em barganhas e troca de favores entre os políticos. A maior prova de que ainda permanecemos estagnados em velhos hábitos, é quando observamos as coligações que os partidos traçam entre si, afim de conseguir
maior tempo em propaganda, maior eleitorado, maior quantidade de votos e até mesmo maior apoio parlamentar. Mesmo que isso signifique se acoplar à partidos que não compartilham os mesmos pensamentos ou ideologias de formação. Vamos exemplificar com o PT (Partido dos Trabalhadores). Durante o impeachment do ex-presidente Collor, Lula estava à frente dos intitulados “caras pintadas”, que iam as ruas pedindo a destituição do então presidente do poder. Hoje, Lula se aliou ao partido de Collor, e está junto na sua tentativa de reeleição ao senado de Alagoas. Assim tem se unido a escória brasileira, ao se acoplar com o PMDB, um dos partidos mais corruptos nos atuais tempos. O mesmo vale para a candidata Marina Silva. Por anos era militante petista e integrou o ministério do Meio Ambiente do governo Lula. Nas eleições de 2010, se uniu
ao partido Verde, sendo derrotada por Dilma e ficando em terceiro lugar, atrás de Serra, do PSDB. No ano de 2014 tentou criar seu próprio partido, mas não obteve sucesso. Por isso, se uniu à Eduardo Campos, do PSB, que morreu tragicamente em um acidente aéreo, deixando para Marina, sua vice, o lugar de titular. Hoje ela defende um partido no qual não acredita na ideologia. Mas mais longe que isso, vai as coligações criadas por Eduardo Campos enquanto vivo. Seu partido em uma mesma eleição foi capaz de apoiar candidatos de partidos opostos, como PT e PSDB, dependendo do estado. Exemplo disso é que em São Paulo apoia o candidato Alckmin, do PSB, à reeleição para governador. As práticas continuam mundanas e do velho submundo da política, de atual tem apenas as hashtags que envolvem o mundo fantasiado dos novos tempos políticos.
04 • Segurança
Editor e diagramador da página: Júlia Braga, Thais Costa e Thiago Drumond
Belo Horizonte, novembro 2014
O Ponto
Mulheres agredidas rompem o silêncio Vítima exibe, na Delegacia de Mulheres de BH, marcas das agressões deixadas pelo marido
Amparadas pela Lei Maria da Penha, vítimas de agressões domésticas se sentem mais seguras e procuram ajuda, afirma a responsável pela Delegacia de Mulheres de Belo Horizonte DANIELLE DIAS MARCELLA TELES RUAN NATANIEL SAMARA REIS 2º PERÍODO
“Dessa vez eu tomei um soco no rosto e uma cabeçada, logo depois ele tentou me atropelar com o carro.” Esse é o drama de C.P, de 46 anos. Uma das milhares de vítimas da covardia de homens que todos os dias acontecem no país. A Central de Atendimento à Mulher (180) coordenada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres de Presidência da República (SPM-PR), foram registrados aproximadamente 265.351 atendimentos no período de Janeiro a Junho de 2014. Em entrevista ao Jornal “O Ponto”, a delegada da Delegacia de Mulheres de Belo Horizonte, Cristiane Ferreira Lopes, reporta que todos os dias, cerca de 50 mulheres procuram a Casa de Direitos Humanos, local onde a vítima é, em um primeiro momento, examinada e são registrados os ataques. A maioria dos casos ainda vem das classes menos favorecidas. De acordo com dados fornecidos pelo disque 180, em 62% dos casos que chegaram, a violência é cometida por companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. Segundo Lopes, “conflitos sociais, dificuldade econô-
mica, envolvimento com drogas… tudo isso gera um conflito familiar, que muitas vezes culmina em agressão.” Contudo, a Lei Maria da Penha, que entrou em vigor em agosto de 2006, aumentou o rigor na punição dos homens que agridem física e psicologicamente uma mulher e também encorajou as mulheres a denunciarem mais. De acordo com a delegada, a mulher se sente mais amparada e segura para denunciar o parceiro que a agride, enfatizando que os crimes passionais contra as mulheres não aumentaram, mas passaram a ser mais delatados. “Conheço mulheres casadas há 30 anos, mas que só agora tiveram coragem de denunciar, por se sentirem mais amparadas.”, declara Lopes. A dependência das mulheres em relação ao parceiro inibe a denúncia. Como é o caso de C.P, que sofre agressões do marido há 7 anos e nunca teve coragem de denunciá-lo. “A gente se gosta muito, mas quando ele perde a cabeça me agride fisicamente. Ele não age assim com ninguém, não sei porque age comigo que sou a esposa dele,” desabafa. É perceptível a confusão nos sentimentos da entrevistada. Questionada se há intenção de se afastar do marido, C.P afirma que quer se afastar, mas não consegue. Diferentemente de M.L, 24 anos, que há mais de 1 ano aguarda judicial-
mente a medida protetiva para manter longe seu ex-marido. M.L disse ter sido agredida 11 vezes e desde a primeira, denunciou. As agressões começaram devido ao envolvimento do ex-marido com drogas. Com a separação, as perseguições começaram. “Ontem passou dos limites. Cheguei em casa com o meu atual namorado, e ele me abordou, me ameaçou de morte. Com medo, corri para o carro e então fui atingida por uma pedrada nas costas.” conta.
O acusado chegou a ser preso em flagrante, mas foi solto horas depois e irá responder ao processo em liberdade. O que aumenta a revolta de M.L, que ficou na delegacia mais tempo do que o seu ex-marido ficou preso. “Vivo com medo, não saio de casa sem a companhia de alguém.” afirma. Os dramas de C.P e M.L retratam a covardia masculina, que agridem e depois fingem arrependimento, fazendo com as mulheres retirem a queixa, colocando-a em um
ciclo vicioso de vergonha e impunidade. “A dependência das mulheres em ter um parceiro faz com que após alguns dias de terem feito a denúncia, elas mesmo voltam e retiram o processo. Sem falar que a maioria dos casos acontecem no âmbito familiar, então quando a queixa é retirada nem a justiça e nem o Estado, têm interesse de postergar o caso já que a própria vitima deixou pra lá, o que não é tão certo, porém a legislação ainda é muito falha,” declarou a advogada Ericka Cassia.
Principais denúncias relatadas no Brasil
Fonte: Central de Atendimento à Mulher
Política • 05
Editor e diagramador da página: Filipe Diniz, Guilherme Antunes e Pedro Maia
O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2014
Nanicos que se consideram gigantes Partidos considerados pequenos entram na briga pela eleição à presidência Ingrid Vieira Camilla Coelho 2º Período Apesar das eleições de 2014 apresentarem Dilma (PT), Aécio (PSDB) e Marina Silva (PSB) como principais candidatos à presidência, existem outros oito partidos, considerados nanicos tanto pelos grandes partidos quanto pela população. Apesar de menos representativos, eles possuem seu papel durante as eleições: “Os pequenos partidos de esquerda tentam trazer para o debate público temas relacionados aos movimentos sociais e aos setores mais excluídos da população. Já os pequenos de direita, em especial os ligados a grupos religiosos, trazem temas relacionados aos valores tradicionais da sociedade. O segundo papel é desempenhado pelos pequenos que não possuem vinculação ideológica. São particularmente importantes na composição das coligações, pois a lei lhes garante uma parcela, ainda que mínima, do horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE)”, afirma Leonardo Silveira, 27 anos, estudante de mestrado em Ciência Política pelo Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (DCP-UFMG). Além disso, Leonardo fala sobre as estratégias desses partidos para se sobressaírem: “Uma forma de tentar driblar o domínio dos grandes partidos é lançar candidatos que tenham grande capital político. Atualmente, os
Panfletagem para trabalhadores de uma fábrica de Contagem fornecida pelo partido do PSTU nanicos que têm obtido maior sucesso na disputa com os grandes são os pequenos partidos de denominação religiosa. Como muitos de seus candidatos são vinculados a alguma instituição religiosa eles têm um espaço a mais onde conseguem se projetar e construir seu capital político. Isso lhes garante um meio onde têm mais visibilidade do que teriam se dependessem somente dos canais midiáticos tradicionais de campanha, como o Rádio ou a TV”. Apresentando propostas diferentes, o partido PSTU faz parte da parcela dos partidos de menor expressão. Este, apesar de pouco
espaço na mídia para divulgação de suas propostas, tem como objetivos o reajuste mensal do salário com a intenção de dobrá-lo; estabilidade no emprego; vai contra a privatização de empresas; defende greves e mobilizações públicas e promete destinar mais verbas a saúde e educação. “Não conseguimos concorrer com o alcance da grande imprensa, que não nos dá muito espaço, mas fazemos panfletos, faixas e placas e conseguimos conversar com muitos trabalhadores.”, afirma o assessor de imprensa Bernardo Lima, representante do PSTU. Perguntamos a ele como o Wikimedia Commons
Luciana Genro foi a candidata de menor expressão com maior número de votos
partido arrecada suas verbas para a realização de suas campanhas: “Nossa verba vem do bolso de nossos militantes e daqueles que nos apoiam. Só nos interessa o apoio de trabalhadores e militantes dos movimentos sociais. Não queremos o dinheiro das grandes empresas, como bancos e empreiteiras, porque o consideramos como sujo. Nenhuma empresa doa dinheiro para políticos por ideologia, mas por interesse. É um investimento. Para fazer uma política diferente, voltada para o povo, é fundamental não ter qualquer ligação com o poder econômico.” O assessor afirma que se consideram um grande partido, afirmando ainda que pequenos são aqueles que se vendem para o capital, para o fisiologismo, para o coronelismo que impera em nossa política. Suas estratégias para se sobressair estão sempre ligadas ao uso da verdade, também através do exemplo de vida de seus militantes e da política em defesa dos trabalhadores e do povo. “Competimos com os partidos financiados pelas empresas de um jeito muito simples: falando a verdade! Eles não podem falar a verdade, porque tem o rabo preso.”, declara. Em uma entrevista sobre as Eleições de 2014, Elisete Cipriano Coelho dos Reis, 49 anos, dona de casa, afirma não saber quantos candidatos estão concorrendo à presidência, desconhece as pro-
postas dos partidos nanicos, prestando atenção apenas nas propostas dos três principais nomes. Quando perguntada sobre sua opinião em relação ao tempo disponibilizado na mídia para esses pequenos partidos ela diz concordar com o posicionamento da mídia: “Eu acredito que os partidos que têm mais políticos precisam de mais tempo de exposição na mídia, eles têm mais o que falar e apresentam um leque maior de propostas”. Já Alex Neves da Mata, 40 anos, segurança do Parque Mangabeiras afirma conhecer, pelo menos, seis candidatos, embora não conheça as propostas além das dos três principais partidos, devido ao pouco tempo de exposição dos nanicos na mídia. Eloi Natividade Reis, 52 anos, engenheiro mecânico, também desconhece o número de candidatos, conhecendo apenas as propostas do PT, PSB e PSDB. Afirma que por possuírem pouca representatividade, o tempo de exposição desses candidatos nanicos não deve ser equivalente ao tempo dos candidatos maiores. Os três entrevistados se mostraram abertos a conhecer novas propostas. Questionados se mudariam o voto caso conhecessem a proposta de um candidato que está menos exposto na mídia, disseram que sim, caso concordassem com elas.
Editor e diagramador da página:
O Ponto
Editoria • ## Belo Horizonte, ## de ##### de ####
Ballet da rua cinza
Coupé sob o bueiro
## • Editoria
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Belo Horizonte, ## de ##### de ####
O Ponto
“ Quatro dançarinas as bailarinas Ana, Fernanda, Sarah e Marina
a rua vai cobrar o ponté
Na dança que muda conserta e embeleza, a vida de quem faz, de quem vê, de quem passa, de quem para a música para, o trânsito, a pressa, os olhares, a cidade, passoas passam e observam, enxergam a beleza além dos olhos, a sutileza é vista onde todos passam, rapidamente, sem olhar pro lado. A alma é livre, a dança é livre o caos existe a dança insiste em mostrar a beleza como um convite “ JOANNA DEL’ PAPA
ponta sobre hidrante
Fondue na praça sete
Editoria • ##
Editor e diagramador da página:
O Ponto
Belo Horizonte, ## de ##### de ####
Nos caminhos do viaduto Santa Tereza
retirè passé na escadaria da Igreja de Lourdes
exapè contra luz
attitude alta tenso
## • Editoria Belo Horizonte, ## de ##### de ####
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O Ponto
Equiíibrio no circuito cultural da praça da liberdade
Ensaio Fotográfico por Joanna Del Papa Editor e diagramador da página: Joanna Del Papa
arte de rua, cada um na sua
Editor e diagramador da página: Janderson Silva
CRÔNICA
O Ponto
C
Solitário Clarice Naddeo 2º Período Era um casal jovem. Ela tinha completado 20 anos recentemente, enquanto ele, em alguns meses, completaria 26. Não fazia muito tempo que estavam juntos. Completavam três meses de namoro naquele dia, aliás. “Eu acho esse negócio de contar os meses que estamos juntos uma bobagem”, ele resmungou, puxando uma cadeira para que ela se sentasse. Ela tinha escolhido o bar predileto dele para não ficar ouvindo reclamações. Revirou os olhos e se sentou. “Pois eu gosto e você também. Poderia ser um pouco mais romântico?” E pegou o cardápio em cima da mesa, apenas para não lhe dar atenção; já sabia que pediriam batata frita com queijo e cerveja. “Garçom, traz uma Original, por favor?” Ele pediu. Pegou a mão dela e olhou em seus olhos “Cada dia com você é especial, ok?”. Ela se contentou em sorrir. O garçom trouxe a cerveja e os dois começaram a conversar sobre os mais diversos assuntos. Ele gostava de moto, ela era apaixonada por leitura. Ele era tímido, já ela era extrovertida até demais. “Como nós podemos ser tão diferentes e dar tão certo?” Ela pensou. Já estava um pouco tonta e com vontade de ir ao banheiro. “Vou fazer xixi, já volto”. Avisou, e se levantou com toda cautela, enquanto ele acendeu um cigarro. Mais uma coisa diferente entre os dois, ela detestava cigarros. Detestava ainda mais o fato de que sempre se sentavam na varanda, mesmo que ela estivesse com frio. Entrou no estabelecimento procurando o banheiro. Andava com muita cautela, para ninguém perceber que ficava alterada rapidamente. Percebeu um homem, sentado sozinho em uma mesa do canto, chamando o garçom. Achou engraçado, ele provavelmente estava à espera de alguém. Foi ao banheiro, percebeu que já via tudo rodando quando se sentou no vaso. Quantas cervejas tinham bebido, talvez duas? Era mesmo muito fraca para álcool. Teve cuidado ao se levantar, se o celular que estava no bolso caísse na água, seria uma tragédia. Deu uma conferida no espelho, pelo menos seu cabelo ainda estava arrumado. Enquanto voltava para a mesa, deu uma olhada no homem sentado sozinho. Ainda estava sem companhia, mas agora tinha uma garrafa de vodca. Deu de ombros, saiu para a varanda e sentou-se. Percebeu que conseguia avistar a mesa do homem solitário pela janela. “Amor, olha aquele cara ali, sentado sozinho com uma garrafa de vodca. Estranho, né?” Ela cochichou, mas ele não pareceu gostar muito. “Você não tem nada com a vida do cara, para que fica prestando atenção nos outros? Se ele quer vir aqui e ficar sozinho, o problema é dele” respondeu grosso, pedindo mais uma cerveja para o garçom. “Você acha então que ele realmente veio sozinho?” Indagou. “Não sei e não me interessa”. Sempre tão curto e grosso! Ela soprou a franja que estava na cara, e mudou de assunto, perguntando sobre sua moto para agradá-lo. Enquanto os minutos se passavam, não conseguia evitar olhar para o homem ali, sozinho, e não chegava ninguém. Dez minutos, quinze, vinte, trinta! Não, ninguém chegou para lhe fazer companhia além do seu copo de vodca na mão. “Será que ele terminou um relacionamento recentemente? Ou será que ela morreu? Talvez sua mãe tenha morrido.” disse. “Oi? De quem você... Ah, não acredito, ainda prestando atenção naquele cara?” Ele já estava impaciente. “É que o ser humano me intriga, só isso” deu de ombros, e deu mais um gole de cerveja. Já estava alegre, como alguns diriam.
“Bom, seu objeto de pesquisa está indo embora”, ele apontou, e os dois ficaram encarando o homem pedir a conta. Ela parecia decepcionada, nunca saberia o que aconteceu. “Duvido que você vá lá perguntar” ele provocou. “Jura? Você não vai ficar chateado?” Seus olhos brilharam. Herdou a curiosidade toda da mãe, e ter passe livre para exercê-la era quase um presente. “Não acredito que você seria capaz” ele riu. Ela não respondeu. Levantou-se e, olhando por onde andava, caminhou até a mesa do homem solitário. Sentou-se na cadeira à sua frente. Era moreno, tinha os cabelos curtos, e tinha pés de galinha debaixo dos olhos. Usava uma blusa polo vermelha e uma jaqueta de couro. Ela ficou meio sem graça, já não sabia mais o que dizer, e muito menos o que fazia ali. “Você me observou desde que cheguei, o que quer? Seu namorado não parece muito feliz”. O homem quebrou o silêncio, rude, impaciente. “Desculpe-me... Não sabia que você havia reparado”. Ela provavelmente estava ficando vermelha, azul, roxa de vergonha. Que ideia foi aquela? Culpa da cerveja. “Reparei o suficiente para pedir a conta. O que quer?” Repetiu. “Bem... Eu só queria saber por que veio aqui sozinho? Não é um pouco... Solitário?” Ela queria sair correndo, mas também estava curiosa com a resposta. Olhou sobre o ombro, para ver o que seu namorado fazia. Ele olhava em sua direção, tinha uma expressão zangada. “Não posso mais vir sozinho a um bar sem ser questionado? Isso está realmente acontecendo?” O homem rabugento também parecia zangado. “É só você responder e eu vou embora”, ela insistiu. “Eu gosto da minha própria companhia. Posso fazer o que quero, beber o que quero, comer o que quero, e se eu quiser me levantar para conversar com alguém, também posso”. Respondeu, seco. Ah... Não era nem um pouco o que ela esperava. Queria uma tragédia, uma catástrofe, um drama. Queria que ele contasse sobre seus traumas de infâncias que os transformariam um dia em um homem sozinho, que sua esposa o deixou para fugir com seu melhor amigo, que sua mãe o impedia de comer pé-de-moleque quando era menor. Com aquela resposta ali, não conseguiria nem mesmo escrever uma crônica! “Jura? É só isso?” Bufou. “Desculpa, garota, não tenho nada interessante para te contar, e muito menos que seja da sua conta” Levantou-se e partiu. Partiu seu coração, também, que esperava ouvir alguma coisa interessante, quem sabe aprender alguma coisa, ouvir algo que gerasse até uma crise existencial. Voltou para a sua mesa, disposta a não deixar dar o braço a torcer. “E aí, por que ele estava sozinho?” O namorado parecia até um pouco curioso, mas tentou disfarçar. “Você acredita que ele perdeu o emprego hoje, e descobriu que a mulher tinha um amante?” Fingiu a maior surpresa do mundo. “Nossa... Eu achei que ele era só um cara esquisito mesmo. As aparências enganam...” Ele ficou reflexivo. “Pois é, enganam mesmo...” completou.
Editor e diagramador da página: Janderson Silva
O Ponto
A vida como ela É Ruy Viana 2º Período A melhor forma de escrever algo sobre o cotidiano é ver o mundo de forma abstrata ou mesmo informal. Penso que o ser humano que muda de humor como se muda de roupa ou se escolhe um novo penteado para o dia de labuta. E isso ocorre nas mais adversas situações como em meio as ações que se experimenta ao entrar num ônibus, ou no enfrentamento do trânsito que nos mata com pequenas facadas dia após dia. Foi dentro de um ônibus que ouvi uma vez uma história de uma senhora, que me deixou perplexo e curioso. Ela entrou no lotação de forma abrupta e rápida. Diante de uma frenagem do motorista, para deixar que uma velhinha entrasse com um saco enorme nas costas, ela observou a senhora se ajeitar no banco duro e áspero. Demonstrou um certo escarnio diante da situação daquela frágil senhora. E começou a falar de si mesma, com comparações estranhas e utópicas do seu próprio cotidiano duro na capital mineira. Mas, voltando à senhora, ela citou vários exemplos do seu cotidiano de forma irônica e um tanto intensa. Começou a descrever sua crença
por Nossa Senhora Aparecida e a relação quase intima que tem com a santa desde pequena. Mencionou o quanto a Santa a ajudou em várias situações da sua vida, até levar um susto maior com o filho mais velho que, do nada, contraiu uma doença inicialmente desconhecida. Foi algo que abalou sua fé de uma forma que a fez deixar de ter um altar na sala de sua própria casa, e uma parede inteira, no quintal, com um desenho da Santa que adorava por seus milagres a deixou no momento em que ela mais necessitada de um milagre. Seu primogênito sucumbiu a uma enfermidade fulminante e isso arrancou lágrimas de desespero de uma mãe que perdera algo precioso. Mais precioso do que a devoção que a acompanhava desde criança e que se fora diante de uma situação que a levou a mudar drasticamente sua fé por Nossa Senhora. Essa situação me levou a pensar. Vivemos em uma condição que se pode tornar extremamente fragilizada quando levamos um golpe que muda completamente nossa fé. A prática religiosa supostamente deveria ajudar a enfrentar em um contexto mundano que pode ser mudado diante de circunstancias que envolvem nossos amados e os levam para um outro plano. Isso mostra que a religiosidade, às
vezes, é entendida de uma forma subjetiva, que assume formas inadequadas de se entender e praticar a religião. Me assusta o fato de o ser humano, às vezes, ter um modo frágil de enxergar situações do dia a dia que envolvem sentimentos, atos, expressões e uma intimidade com Deus. Se algo muda de forma repentina, perdemos a fé diante de situações que se desvendam diante dos nossos olhos. Outro acontecimento que me marcou, também, foi o da minha vizinha que perdeu sua nora num acidente de carro. Esse fato a levou a mudar seus valores simbólicos acreditava em milagres, depois escambou para a Umbanda. Abraçou uma ligação com divindades que nem sabia que existiam, mas que lhe deram um certo conforto à alma. Adotou uma prática em sua vida que até então conhecia apenas dos contos que ouvia de sua avó sobre os ritos africanos, que, agora, passaram a integrar sua vida devido à dura perda que atingiu toda a família. Ou seja, a nossa memória ou mesmo as nossas concepções do que é devido ou equivocado, nos leva a embarcar em mundos que nos transformam. A dor lava todo o credo arraigado dentro dos nossos corações, ainda assim que precisam de um conforto maior para nos sustentar por essa vida Severina em que vivemos.
Bianca no país das maravilhas Maria Clara Gonçalves 2º Périodo Bianca é atleticana, encontrou com o galo (mascote do time) na escola junto com os seus colegas de sala. Dentro do ônibus, toda empolgada, dava para perceber pelo semblante em seu rosto a alegria e satisfação de um sonho realizado. Desinibida, entra no ônibus logo contando como foi a experiência com a mascote. Conta que alguns estudantes quando o viram começaram a vaiar, mas não era uma vaia maldosa. Era porque eram cruzeirenses mas isso não impedia que Bianca fosse amiga de cada um que vaiava o seu ídolo. Explica que todos ali são amigos e que alguns ela até chama de maninho, como a Lívia, porque amigos, diz ela, não se olha pela cor, pelo time ou pelo jeito, e, sim, pelo coração. É importante amar a todos, e é assim que ela aprendeu e segue a vida. Bianca ama principalmente a avó, que a ajuda nos deveres e se diverte nas brincadeiras, mas ela retribui bem esse carinho. Conta que cuida da avó com o maior cuidado possí-
vel, que a ama e faz tudo por ela, afinal: "Ela é a mãe da minha mãe, sem ela eu não existiria." Aproveitou a oportunidade para contar a avó que a mãe ainda não parou de fumar e que ela já cansou de falar, "mãe, mãe, você tem que para com isso antes que morra", mas, mesmo assim, Bianca diz amar a sua mãe. De repente pergunta a uma mulher que a observa -"Você cuida da sua avó?"- a moça sem graça reponde que a avó já morreu. Bianca inocente insiste: " Você ama sua avó?" A moça troca de posição, olha para Bianca e diz "sim eu amava" - E por que não ama mais? - Porque ela morreu! A atleticana, com um sorriso no rosto, avisa para a avó que até mesmo depois que ela morrer vai continuar a amando, e continua a tagarelar. Explica que a professora ensinou que o amor é infinito e começa a contar como cuida de sua vó, de sua mãe e como ama seus amigos. Suas perguntas e histórias começaram a ecoar na minha cabeça e comecei a pensar – acredito que não só eu mas todos que a escutavam – como posso fazer mais por quem amo e até mesmo pelos meus
avôs e família. Começo a perceber como às vezes nos deixamos nos levar e como o amor de times não devia interferir em amizades e muito menos gerar brigas, afinal, como diz Bianca, "Futebol é um jogo, eu amo! Mas amo mais meus amigos." A menina, apesar de viver no mundo das maravilhas, não liga para príncipes encantados, para princesas ou rainhas. Tenta se livrar da solidão, se escondendo em olhos claros de felina, as rainhas se envergonham com ela no salão, e todos querem ficar do lado dela. Bianca é atleticana, encontrou com o galo (mascote do time) na escola, junto com os seus colegas de sala. Dentro do ônibus, está no auge da juventude com seus 19 anos, mas com um retardo mental que talvez a tenha deixado mais humana, mais sabia e mais desinibida. Dá uma lição de vida a todos que a escutam. Bianca é atleticana, quer encontrar o galo novamente amanhã na escola, mas se for a raposa (mascote do Cruzeiro) ela também fica feliz. E eu espero encontra Bianca amanhã no ônibus, com mais histórias, mais lições de vida e com o mesmo sorriso. Será que é ela quem manda todos os raios da manhã?
12 • Comportamento
Editor e diagramador da página: Daniel Peixoto, Janderson Silva e Ruy Viana
Belo Horizonte, novembro de 2014
O Ponto
Infância explorada A polêmica em torno do editorial “Sombra e água fresca” da revista Vogue Kids, trouxe à tona o debate: até onde o trabalho infantil compromete a saúde mental da criança? CAROL CASTILHO GUILHERME DRAGER MARIA CLARA GONÇALVES 2º PERÍODO A pequena californiana Olive Hoover, personagem principal do filme Pequena Miss Sunshine (2006), com seus óculos grandes, corpo fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade tinha o sonho de se tornar miss e, com o apoio de sua família, saiu em busca desse sonho. Como Olive, que se interessou pelo concurso de miss através da televisão, há crianças que enxergam as outras através de propagandas, novelas, catálogos de roupas infantis. Seria este o principal fator que poderia levar os pequenos, em diversas faixas etárias, a se interesessarem pelo trabalho no meio artístico? A criança que trabalha deve ser bem supervisionada e monitorada pelos pais e, de acordo com Tânia Rodrigues, psicóloga, “a criança deve levar uma vida normal. Quando ela passa a brincar e estudar menos do que trabalha, começa a ser prejudicada.” Já para o coordenador do projeto Rondon e professor de psicologia, Tadeu Sampaio, um dos pontos que podem ser prejudiciais nessa categoria de trabalho infantil é a responsabilidade que a criança toma para si: “A responsabilização pela própria existência já na maternidade. O ato de brincar não é nada mais que um treinamento para as atividades adultas, como
um treinamento, mas ao invés disso a criança já está trabalhando. Isso pode trazer um impacto negativo e muito grande na sua própria formação e subjetividade.” O professor complementa o caso exemplificando várias possibilidades que acarretam a responsabilização extrema dentro do processo de construção da personalidade da criança, que é colocado em xeque, trazendo uma deformação do caráter e sistematização emocional da mesma. Este ano tivemos um caso muito criticado nas redes sociais e que ganhou grande repercussão gerando questionamentos. A revista Vogue Kids, da editora Globo, expôs em seu catálogo do mês de agosto no ensaio “Sombra e água fresca”, fotos de crianças em poses consideradas sensuais pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Isso explicitou mais uma vez o processo de erotização da criança.Para o professor Sampaio, esse processo estaria presente na sociedade há alguns anos. “A propaganda da Vogue foi só mais uma manifestação explicita por ter aparecido em vários lugares, mas o processo de erotização da criança começou há muito tempo inclusive com a Xuxa e a dancinha da garrafa. No entanto isso não é um problema só do marketing, envolve um conjunto de fatores sociais e econômicos”, observa. O caso que ferveu nas redes pode também prejudicar as crianças que foram expostas, fazendo com que essas sofram bullying ou algum tipo de constrangimento. “É que se dá
muito autonomia quando ela na verdade não tem. Crianças precisam brincar. Elas já estão amadurecendo mais cedo e com esse tipo de publicidade, a perda da realidade infantil se perde ainda mais rapidamente”, enfatiza Tânia. A priscóloga também nos lembra um comportamento decorrente em criaças atualmente: a busca pelo “corpo perfeito”. “Eu tenho pacientes de 10 anos que reclamam de celulite que nem mesmo existem. Imagino que essas crianças que são mais estimuladas tenham mais chances de serem complexadas com seu corpo. Aos 20 anos, moças já estão colocando botox”, conta Tânia. Ela explica que em casos de concursos, a inocência da criança potencializa a confiança, mas ao mesmo tempo, pode acarretar uma frustação no futuro de seu desenvolvimento.Fato interessante é observar de onde essa interferência vem. Em 2011, a britânica Kerry Campbell perdeu a guarda de sua filha, Britney, de 8 anos, após assumir que aplicava botox no rosto da garota para eliminar supostas rugas. Diferente das outras competidoras, Olive consegue chegar ao concurso sendo e agindo como uma criança comum. A garota não apresentava qualquer tipo de vaidade, postura ou equilíbrio para ficar em cima de um salto. Entrou no palco tímida e ao perceber as diferenças que tinha com as demais concorrentes, confiante, executa uma performance ensinada pelo avô. Apesar de não ter ganhado o concurso, a pequena sai confiante e feliz consigo mesma de ter chegado até ali.
Negócio • 13
Editor e diagramador da página: Bruna Oliveira, Clara Barbi, Júlia Almeida e Nádia Schmidt
O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2014
Por um novo paladar Na busca por novos sabores, o mercado das cervejas artesanais no país cresce anualmente e conquista apreciadores de bebidas diferenciadas
Apaixonado com a bebida e enjoado do paladar cansado das cervejas industrializadas, o engenheiro civil e principiante do ramo de cerveja artesanal, Vitor Lages, de 29 anos, preferiu fabricar sua própria bebida. Ele fez o curso na Taberna do Valle e, há dois meses, está produzindo a bebida em casa como um “hobbie”. “As cervejas da Ambev feitas de milho são ruins mesmo, tem que ser ingeridas ‘estupidamente’ geladas, pois assim inibem as papilas gustativas e você não sente o gosto de nada” analisa o engenheiro. Baseado neste público, as cervejarias artesanais vêm ganhando força, pois grande parte dos adoradores da “loira” prefere apreciar a qualidade a simplesmente ingerir por quantidade. O grande diferencial, de acordo com Vitor, é que “a cerveja caseira você vai ajustando de acordo com o seu paladar, e esse é o prazer”. Ao longo dos anos, com a baixa qualidade das cervejas industrializadas e com o aumento de preço, a demanda por produtos “mais saudáveis” e saborosos aumentou. Assim, cresce cada vez mais o mercado das cervejas artesanais, principalmente no Brasil. Belo Horizonte, por exemplo, é conhecida mundialmente como a capital dos bares e está se mostrando um mercado muito propício para o ramo das cervejas artesanais, com aproximadamente 30 fábricas, das quais, 24 são avaliadas microcervejarias. No mercado há 15 anos, o entusiasta de cerveja Jackson Cruz compara a produção artesanal com uma refeição: “Tem que ter os cuidados de uma higiene, os ingredientes e uma técnica a ser seguida. O resultado é uma ‘loira’ espumante e deliciosa”. Por outro lado, ele destaca que essa opção pode pesar mais no bolso do consumidor: “É um pouco mais caro que a cerveja industrial”. Mas para o entusiasta a escolha vale a pena, já que se tem um produto diferenciado, com a
qualidade de um produto natural e artesanal. Jackson também afirma que é um mercado que tem crescido muito, tendo a região metropolitana de Belo Horizonte como referência na produção e no patrocínio dos cervejeiros. Assim, o estado de Minas Gerais é conhecido como a “Bélgica” brasileira, já que as indústrias mineiras de cervejas artesanais estão inserindo em sua fórmula ingredientes inovadores tipicamente brasileiros, como coentro e gengibre. Responsável por grande parte da produção do país, o estado fabrica milhões de litros por mês e não pode deixar de ser visitado por quem deseja conhecer seus circuitos de cervejarias. Para os amantes da bebida, cidades como Nova Lima, Capim Branco, Ribeirão das Neves e a própria capital, Belo Horizonte, não podem ficar de fora da rota.
Minas no copo Esse ano, um dos concursos de cerveja mais disputados do mundo foi vencido por Minas Gerais. A World Bier Cup (Copa do mundo das cervejas) acontece de dois em dois anos, nos Estados Unidos, e elege a melhor cerveja artesanal do mundo. Dessa vez, quem levou ouro nessa foi a mineiríssima Wäls, que começou como microcervejaria, produzindo 500 litros por mês. Hoje, a marca já produz 120 vezes mais, são 60 mil litros por mês e até exporta para a América do Norte. Atualmente, existem mais de 270 microcervejarias no Brasil, e com a produção de cerveja artesanal em alta, o país produz cerca de 70 milhões de litros por mês. Como não poderia ser diferente, Minas sai na frente e é o estado com mais variedades de marcas e sabores.
Foto: Divulgação
GUILHERME VALE MARCELLA SOUZA 6º PÉRIODO - 2º PÉRIODO
Foto: Guilherme Vale.
A demanda por produtos mais saborosos aumentou o mercado das cervejas artesanais
Curiosidades Em Minas Gerais
√ Atualmente, Minas produz milhões de litros por mês em cervejarias espalhadas por todo o território. Além de oferecer ao mercado cervejas prestigiadas, os mineiros também são responsáveis por trazer novidades legítimas no setor. √ A categoria de cervejas Premium é capaz de movimentar cerca de R$ 1,4 bilhão ao ano. √ Um grande diferencial das cervejas encontradas no estado é quealgumas já estão inserindo ingredientes brasileiros em sua fórmula, como o chocolate, açúcar mascavo, coentro, gengibre, raspas de laranja da terra e capim-limão. Em Belo Horizonte Para os amantes de cerveja, em BH, a Krug Bier é a microcervejaria mais antiga da cidade. Ela fica no bairro de São Pedro e sua fábrica está aberta desde 1997. Lá são encontrados seis tipos de chopp e cinco rótulos da cerveja Áustria. A marca é tão conhecida que atinge mais de 2,2 milhões de litros produzidos por ano. Se está a procura de um sabor mais diferente, outra cervejaria famosa na capital é a Wäls. Ela produz cervejas com aromas diversos, dentre eles o de chocolate belga. Na cidade é também encontrada a Backer. O nome é importante na cidade, pois detém em seu portfólio a considerada primeira cerveja artesanal de todo o território mineiro. A cervejaria foi fundada em 1999. Fonte: Site Oh! Minas
Cervejas artesanais fazem sucesso em terras mineiras
14 • Economia
Editor e diagramador da página: Barbara Crepaldi, Carolina Mercadante e Júlia Alves
Belo Horizonte, novembro de 2014
O Ponto
Ser saudável ou não ser, eis a questão Os alimentos orgânicos estão cada vez mais caros gerando ainda mais dúvidas na hora de seguir uma dieta saudável CAMILA MADEIRA 1ºPERÍODO
de produtos saudáveis quanto industrializados, além disso, a cultura do saudável tem chegado nas academias, clubes, redes sociais e, portanto, dentro da casa Manter uma alimentação saudável não tem sido uma do brasileiro”. opção barata para os consumidores. Quem se preocupa Ázula afirma que o preço dos alimentos orgânicos em ter uma alimentação saudável tem gastado mais na tem tendência a esse aumento levando em conta a sua hora de fazer as compras. produção. “Devido ao fato de o cultivo ser mais depenEsse gasto a mais com os alimentos orgânicos está dente do cuidado do homem e os produtos serem ligado à sua produção, já que não são usados agrotóxitrazidos ao consumidor logo após a colheita, o que cos e fertilizantes, seu cultivo não demanda mais planejamento, agride o meio ambiente e preserva tempo curto e mão de obra espeos recursos naturais, o que aumenta cializada e disponível.” a sua qualidade, mas também o seu Muitas pessoas acabam não preço. Além da produção outros seguindo essa linha de alimenfatores influem no preço, inclusive tação justamente por esses fatoa certificação que eles precisam res. Camilla Quirino,19, estupara serem comercializados. Para dante de jornalismo, acredita ser regularizado o produtor deve na importância de ser saudável, obter a certificação no Organismo mas afirma que o tempo também da Avaliação da Conformidade pode influenciar suas escolhas. Orgânica (OAC), e deve ser creden“Já pensei em manter hábitos ciado junto ao Ministério da Agrialimentares saudáveis, mas por cultura, Pecuária e Abastecimento exigir mais tempo pra se alimen– MAPA. tar e serem pratos preparados A escala de produção do cultivo com mais dedicação, prefiro os orgânico também eleva o preço, industrializados que são alternapois ela é menor do que a do cultivas mais rápidas, já que minhas tivo convencional. O tempo da refeições são em espaços curtos produção dos vegetais é maior no de tempo”. sistema orgânico, já que este não Segundo Eduardo Amat, 49, utiliza substâncias agrotóxicas economista, os consumidores que aceleram o crescimento dos de alimentos orgânicos são uma vegetais, enquanto a demanda por Loja especializada em suplementos e alimentos naturais utilizados em dietas minoria. “Os produtos orgâniesses produtos cresce rapidamente. cos acabam se destinando a um Por mais este motivo o produto orgânico tende a rece- essa realidade, já que frutas, verduras e legumes são nicho. Pelo fato de seu sistema de produção ser espeber uma valorização maior, pois seu cultivo não é pro- mais baratos que as carnes, ela aumenta a quantidade cífico, mais demorado e depender da ação do homem porcional à demanda. acaba tendo um custo mais alto”. de vegetais diminuindo a de carnes. Mesmo com todos esses fatores, há a possibilidade A comparação de uma lista de compras de produVários motivos levam as pessoas a optarem pelos de redução nos preços desses alimentos se houver mais produtos saudáveis mesmo com os altos preços, em tos orgânicos com uma lista de produtos convencioapoio às pesquisas de melhorias na qualidade dos produ- relação a isso a nutricionista Ázula Narayama Gonçalves nais revela que a diferença de preço entre elas é de tos orgânicos e investimentos tecnológicos neste setor. afirma que o marketing tem um papel fundamental. “O até R$100,00. Uma diferença que influi fortemente na A realidade dos preços não impede a estudante de Jor- marketing em cima de produtos alimentícios influencia decisão na hora das compras. Veja o quadro na pronalismo, Vanessa Schutz, 33, de seguir uma alimenta- muito as escolhas do consumidor tanto para a busca óxima página ção saudável. Desde criança foi orientada pela mãe a comer legumes e frutas, estendeu esse hábito por sua adolescência e o mantém até hoje. “Dou preferência aos alimentos naturais e saudáveis por serem mais nutritivos, trazerem benefícios para saúde, prevenirem doenças relacionadas ao excesso do peso e de gordura”, comenta Schutz. O preço permanece sendo um ponto contra esse estilo de vida, mas Vanessa tem algumas saídas para
Como é feita a produção dos alimentos orgânicos? Antes de dar início à produção, a propriedade do agricultor deve passar por um período de adequação conhecido como período de conversão, em que a produção não é feita pelo sistema convencional - que faz uso de agrotóxicos, adubos e fertilizantes - e não pode ser vendida como orgânica. Isso pode levar alguns anos. Isso faz com que a produtividade seja reduzida e que o agricultor não receba o valor adicional do produto orgânico.
Fotos: Maria Clara Couto
Muitas propriedades estão ao redor de áreas de produção convencional, que podem ser um risco ao cultivo orgânico pela possibilidade de que ocorra uma deriva de agrotóxicos e proliferação de pragas, que são comuns nas áreas vizinhas. Para evitar esse transtorno, a propriedade, antes de tudo, deve instalar e manter barreiras de proteção entre uma propriedade e outra, ou seja, o agricultor orgânico separa uma faixa para ser improdutiva no perímetro de sua
propriedade. Outro fator é a mão de obra, a agricultura orgânica utiliza compostos orgânicos que requerem mão de obra para serem compostados e distribuídos nas áreas de produção. Só é possível manter a mão de obra se esta for mais bem remunerada. Outro fator é a mão de obra, a agricultura orgânica utiliza compostos orgânicos que requerem mão de obra para serem compostados e distribuídos nas áreas de produção.
Economia • 15
Editor e diagramador da página: Barbara Crepaldi, Carolina Mercadante e Júlia Alves
O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2014
Representação de uma nota fiscal de uma dieta alimentar, sendo a segunda uma dieta saudável
Café da manhã
Café da manhã
Leite Pão de forma Com requeijão
Suco verde: couve Maçã verde Agua de coo Hortelã Omelete: clara de ovos Pão sem glúten
R$ 15,00 (6cx 1L) R$ 4,50 R$ 4,95
Lanche da manhã Biscoito waffer Suco de caixinha Maçã verde
R$ 1,49 R$ 2,40 R$ 7,99
Almoço Arroz Feijão Bife de porco Salada de alface Tomate
R$ 9,90 R$ 1,99 R$ 18,00 R$ 0,99 R$ 2,99
Lanche da tarde Pão francês Presunto Mussarela Toddy
R$ 9,00 R$ 19,90 R$ 21,00 R$ 5,40
Jantar O mesmo do almoço com exceção da carne Bife de boi
R$ 24,00
R$ 2,90 R$ 7,90 R$ 16,80 R$ 2,50 R$ 6,90 R$ 15,95
Lanche da manhã Iogurt light Com granola ou aveia
R$ 5,20 R$ 6,20 (varia até 20,75) R$ 8,60
Antes do almoço Peito de frango
R$ 25,95 (pct)
Almoço Salada: alface Tomate
Legumes refogados: cenoura
Beterraba Brócolis Couve flor Berinjela Abobrinha Quin Arroz Soja Feijão
Lanche da tarde Salada de frutas: maçã Mamão Pêssego Anmeixa Banan Morango Com granola
R$ 3,95 R$ 7,90 R$ 4,20 R$ 4,20 R$ 5,90 R$ 8,20 R$ 3,95 R$ 4,20 R$ 18,95 R$ 10,30 R$ 7,50 R$ 14,95
R$ 6,90 R$ 5,60 R$ 12,90 R$ 11,30 R$ 4,70 R$ 7,30 R$ 6,20
Jantar O mesmo do almoço Alimentos utilizados em uma alimentação saudável e balanceada
Lanche da tarde Claras de ovos cozidas
R$ 6,90