Jornal O Ponto (nº 93) - Setembro de 2014

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 15

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Número 93

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Setembro de 2014 |

Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita

Quatrocentos movimentos sociais se uniram para manifestar e questionar a população: “Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana no sistema político?” Pág. 6 e 7

Comportamento 24 horas são suficientes?

Três garotas em entrevista mostram como conseguem conciliar várias atividades no dia Pág. 4

Comportamento Desafio do Gelo serve de alerta para a doença ELA

Celebridades contribuem para a campanha que arrecadou fundos para a pesquisa da cura Pág. 9

Foto: Bruna Oliveira

Movimentos sociais pedem reforma política


02  •  Opinião

Editor e diagramador da página: Carolina Mercadante 4º Período

Belo Horizonte, setembro de 2014

O Ponto

Um planeta em conflito

O mundo é um barril de pólvora, sempre o foi e sempre o será, desde os primórdios das civilizações o ser humano não precisa de quase nada para começar uma guerra. Isso não mudou muito com o passar do tempo. Há anos vemos nos noticiários que uma guerra civil estourou aqui, um grupo terrorista quer dominar o mundo ali, Palestina e Israel nunca se entendendo acolá e, os Estados Unidos sempre intervindo em tudo, como o “bom samaritano” que são. Porém, nos últimos meses os noticiários têm nos causado um pouco mais do que aquele breve interesse sobre países longínquos que não têm nada a ver conosco. As tensões entre diversos países têm despertado medos antes adormecidos, a exemplo do que está ocorrendo entre Ucrânia e Rússia há cerca de cinco meses. Mesmo com um nada convincente cessar-fogo, o mundo permanece em alerta. O fantasma da Guerra Fria ainda assombra nossas memórias, o medo é muito recente e as potências envolvidas as mesmas de anos atrás. O cenário político que se desenha nesse novo conflito entre Ocidente e Oriente deixa-nos pisando em ovos, esperando que a qualquer momento alguns botões vermelhos sejam apertados e o tão temido holocausto nuclear, encenado tantas vezes por Hollywood e suas ficções científicas, se torne realidade. Outro conflito que tem deixado o mundo em alerta está ocorrendo no Oriente Médio. Talvez muitos revirem os olhos e digam que não é surpresa alguma um conflito no Oriente Médio, afinal eles estão se matando desde sempre. Porém, esse é o grande problema da humanidade, genocídios e guerras não deviam ser comuns, pessoas se matando, mesmo que não sejam de seu país, mesmo que não sejam conhecidas, não devia ser banal e pouco importante. Ainda mais se tratando do novo grupo terrorista Estado Islâmico, um grupo jihadista do Oriente Médio. Em seu Estado, autoproclamado como um califado, afirma autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo e aspira tomar o controle de muitas outras regiões de maioria islâmica, onde os infiéis devem se converter ou serão mortos. O grupo já tomou diversos territórios da Síria e do

Iraque em conflitos extremamente violentos que contabilizam centenas de mortos. Os jihadistas são extremamente radicais, bem armados e organizados, com um grande contingente e suprimentos bélicos constantemente reabastecidos, o Estado Islâmico é uma força a ser temida. A OTAN e outros aliados sabem disso, por isso uma força internacional foi formada para lhe dar com essa ameaça iminente. O presidente Barack Obama já afirmou que não quer repetir as guerras do Iraque e Afeganistão, iniciadas ainda no mandato de seu antecessor, George W. Bush. Porém, ele conseguirá isso? Uma guerra parece inevitável, anos atrás a Guerra ao Terror de Bush não enfrentava um inimigo tão bem armado e organizado. O perigo dessa guerra pode ser muito maior do que muitos preveem. Até mesmo a Alemanha, em sua política de não intervenção em conflitos estrangeiros, pretende enviar soldados e armamentos. Isso demonstra claramente que a situação não está tão sob controle assim, como muitos insistem em afirmar. Não podemos nos esquecer da Palestina e de Israel, ou dos países que ainda estão lutando a sua Primavera Árabe, lembra dessa? Ou ainda a disputa entre Índia e Paquistão pela Caxemira. Aquela que ninguém menciona muito, mas que representa um grande perigo, deixando as principais potências em frenesi quando há algum atrito, já que ambos possuem as tão apocalípticas armas nucleares. O mundo é um barril de pólvora prestes a explodir e em meio a tantos conflitos eclodindo a todo instante ao redor do globo, essa realidade nunca foi tão literal. Afinal, todos têm uma bomba nuclear, todos têm uma rixa com algum país. O ser humano é como o Sargento William James, personagem do ator Jeremy Renner, no ganhador do Oscar Guerra ao Terror. Somos viciados em guerra, somos viciados em violência, uma vez longe dela clamamos por ela novamente. Albert Einstein disse uma vez, “Não sei como será a Terceira Guerra Mundial, mas posso dizer como será a Quarta: com paus e pedras”. É uma frase que devia nos fazer refletir seriamente sobre os rumos que a humanidade está tomando, afinal o alemão não costumava errar quanto as suas teorias. E talvez seja isso, o fim da civilização como conhecemos venha de nós mesmos.

Dilemas Eleitorais Carol Castilho 2º Período Desde quando o candidato à Presidência da República Eduardo Campos morreu em um acidente aéreo, em agosto deste ano, o seu partido, o PSB, se vê às voltas com um dilema: convencer a população de que a candidata a vice, Marina Silva, que o substituiu na disputa eleitoral, é a herdeira de seu legado. O problema, para o partidos, são as muitas divergências em relação às orientações do plano de governo que vieram à tona tão logo o nome de Marina foi definido para substituir Campos. Uma rápida pesquisa mostra que os dois divergiam sobre temas relevantes sobre macroeconomia, política, meio ambiente e questões sociais. No caso do Banco Central, por exemplo, embora ambos defendessem a autonomia, Campos defendia que isso fosse feito por meio de uma lei que cimentasse tal condição. Já a exministra diz que isso não é necessário. Eles também não tinham um acordo sobre mudança no fator presidiário, código florestal, agronegócio, imposto sobre grandes fortunas, dentre outros. O fator previdenciário era uma das divergências que os dois procuraram minimizar em público. Campos

sustentava que o fator previdenciário, criado na gestão FHC para desestimular aposentadorias precoce, devia ser extinto ou revisto. Marina, por sua vez, já havia dito em 2010 que, se fosse eleita presidente e uma lei dessas chegasse em suas mãos, vetaria. Quando um partido lança a candidatura no mínimo candidato e vice devem estar no mesmo “barco” pra defender as mesmas ideias com a morte de Eduardo Marina Silva deve seguir com o legado deixado pelo candidato, se ganhar vai ser cobrado isso! até quando Marina terá a sombra de Campos? E como vai conciliar suas propostas com as que Eduardo tinha em mente? Nós, brasileiros e brasileiras, a cada quatro anos temos o poder de fazer o nosso protesto na urna e queremos que nossos candidatos sejam coerentes, tenham propostas firmes. Buscamos votar naqueles que nos representam e que tenham propostas objetivas para problemas básicos, como saúde, educação, segurança etc. Assim como todos os cidadãos e todas as cidadãs, eu quero ter a confiança daqueles em que vou votar. Felizmente, há o debate público. Espero que todas essas questões sejam muito bem debatidas e esclarecidas. Cada eleitor, cada eleitora, precisa de uma informação consistente para escolher com consciência.

Foto: Ruy Vianna

Júlia Alves 4º Período

o ponto Coordenação Editorial

Profa. Ana Paola Amorim (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Diagramação da capa Clara Barbi Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: jornaloponto@fumec.br Presidente do Conselho Curador Prof. Tiago Fantini Magalhães Reitor da Universidade Fumec Prof. Dr. Eduardo Martins de Lima Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Monitores de Jornalismo Impresso Rachel Duarte Azevedo e Maria Clara Gonçalves Monitores da Redação Modelo Clara Barbi e Bruna Oliveira Monitores Voluntários Carol Castilho, Amanda Magalhães, Janderson Silva e Marcos Fam Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento


Cidades  •  03

Editor e diagramador da página: Gabriel Capanema e Taynara Cristian 4º Período

O Ponto

Belo Horizonte, setembro de 2014

Usina Mineirão Estádio mineiro conta com uma estrutura moderna e com sistema de energia próprio Foto: Minas Arena/ divulgação

Mineirão é um dos primeiros estádios auto sustentável no Brasil com capacidade de produção de 1.42 MWp em eletricidade solar produzida no próprio estádio.

Gabriel Capanema Taynara Cristian 3º Período

Apenas no seu primeiro ano de funcionamento, o Mineirão passou a fazer coleta seletiva, inaugurou uma usina solar fotovoltaica, em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), e começou a fazer a reutilização da água da chuva. Uma das principais mudanças que podem ser percebidas na arena futebolística depois da reforma foi o foco na questão ambiental. Presente no projeto, nas obras e na operação depois da reabertura, as ações de sustentabilidade acompanham todas as decisões tomadas no estádio, o que mostra o caráter moderno e antenado da atual gestão do Gigante da Pampulha. O Gerente de Tecnologia, Otávio Góes, diz que o novo Mineirão teve como foco a consciência ambiental, que ele foi totalmente pensado para ser sustentável. “Nossa preocupação é o compromisso com o meio ambiente, então

fazemos tudo voltado para a eficiência energética e não poluidora. Todo o sistema de ar condicionado, por exemplo não ataca a camada de ozônio”, afirmou Góes. Durante toda a obra do Mineirão, mais de 90% dos resíduos gerados foram reutilizados e reciclados, sendo eles: 75.000 m³ de concreto, que foi reutilizado para pavimentar as ruas de municípios vizinhos, 2500.000 m³ da terra retirada foi para a recuperação de algumas áreas degradadas em cavas de mineradoras na Região Metropolitana de Belo Horizonte e algumas obras do Estado, 50 mil cadeiras foram doadas para ginásios e estádios do interior de Minas, e as sucatas metálicas foram destinadas para as usinas recicladoras. Ao todo, mais de 643 mil m³ de entulhos foram gerados na construção do estádio. A coordenadora de Meio Ambiente da Minas Arena, Marcela Viana, explica que após a reforma, foi implantado o sistema de coleta seletiva. Segundo ela, é importante o estádio utilizar este processo

devido à grande quantidade de lixo produzido. “Ajuda a preservar o meio ambiente, diminuindo o lixo nos aterros sanitários” explicou Marcela. Dezoito mil metros quadrados de grama foram replantados no Plug Minas, um projeto de inclusão social do Governo de Minas, localizado no bairro Horto, com economia de R$ 130 mil para o Estado. Além disso, foram implantados lava rodas para limpeza dos caminhões na saída da obra para evitar sujeira no entorno do estádio, mas com um sistema ecoeficiente, com reaproveitamento da água por meio de caixas de decantação e bombas, com economia média de 18 mil litros de água por dia. Outro passo importante que o Minas Arena deu foi a construção de reservatórios que têm uma capacidade de armazenamento de 5 milhões de litros de água das chuvas. Segundo Marcela, a água captada é reutilizada para encher bacias, mictórios e irrigar o campo por aproximadamente 3 meses. Com esse processo, é gerada uma economia de 70%

no consumo de água do próprio estádio, os mictórios, torneiras e chuveiros, que geram uma economia de 10% no volume de água utilizada nos banheiros. Todos os lixos que forem gerados nos dias em que houver jogos, vai ser disponibilizado pelo estádio 100 kits, com quatros lixeiras de 60 litros (plástico, papel, metal e orgânico), duas em cada camarote, para a separação dos resíduos em reciclável e não reciclável. O Mineirão solar reafirma um compromisso da Empresa com os seus três principais pilares: sustentabilidade econômica, ambiental e social. Com uma potência instalada que chega a 1,42 MWp e cerca de 6.000 módulos fotovoltaicos, a USF Mineirão é a maior usina em cobertura do país e uma das maiores instaladas em arenas esportivas no mundo. Ela conta ainda com uma subestação própria instalada no próprio estádio e redes de alimentação exclusivas, conectadas ao sistema da Cemig. Segundo Otávio Góes, com as medidas, o Mineirão ganha pontos na busca pela certifi-

cação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), de economia energética, preservação do meio ambiente. “Estamos em processo de captação de documentos para a obtenção do certificado, e a expectativa é de consegui-lo em 2014”. No Mineirão, a usina começou a ser montada em dezembro de 2012, com os trabalhos de preparação e impermeabilização da cobertura para a montagem das estruturas metálicas de suporte das placas fotovoltaicas. A usina contribuirá para que o Mineirão seja reconhecido como uma edificação sustentável e obtenha a certificação de Green Building e também contribuído para a consolidação da imagem da Cemig como empresa sustentável e ambientalmente correta. Além de garantir a qualidade do fornecimento de energia para Belo Horizonte, que será uma das sedes mais importantes para a Copa do Mundo, esses investimentos vão deixar um legado importante para a população da capital mineira para os próximos anos.


04  •  Comportamento

Editor e diagramador da página: Bruna Oliveira 2º Período

Belo Horizonte, setembro de 2014

O Ponto

“Temos todo tempo do mundo”? Crianças e jovens falam a O Ponto como organizam as rotinas de suas agendas apertadas Fotos: Arquivo Pessoal

Amanda (13), à esquerda, em seu trabalho de voluntariado. Amanda (18), à direita, mostrando a complexidade de fazer todas as atividades ao mesmo tempo Bruna Oliveira 2º Período Assim como o coelho branco de relógio chamou a atenção de Alice por estar correndo contra o tempo, três garotas nos cha maram a atenção de como conseguem organizar o seu tempo para fazer muitas atividades durante a semana. Ir para a escola, trabalhar, ir para academia, curso de inglês e ainda sobrar tempo para relaxar e sair com os amigos e com a família. É possível conciliar isso em 24 horas ou é necessário distribuir isso tudo em uma semana? Quem sabe em um mês? A reportagem de O Ponto encontrou Amanda Rates, Amanda Magalhães e Fernanda Araújo, que conseguem fazer tudo isso e muito mais em apenas uma semana.

Sobre a futura médica: Amanda Rates, 13 anos, organiza sua semana por turnos: às segundas, quartas e sextas pela manhã tem atividades de monitoria na escola; terças e quintas tem natação, e de 15 em 15 dias participa do projeto de voluntariados. Na parte da tarde, ela estuda todos os dias e depois ainda sobra tempo nas quartas e sextas à noite para o treino de danças folclóricas. Além disso, ela ainda encontra tempo para fazer suas obrigações de escola

e de representante de turma e ainda ajudar seus dois irmãos com os trabalhos. E aos sábados ainda faz curso de inglês e compromete seu domingo com os trabalhos da igreja na qual frequenta. Toda essa rotina pesada deixa Amanda muito cansada às vezes, mas sem elas seria uma pessoa entediada: Diz que sempre sente falta quando está de férias, quando não tem quase nada para fazer. Ela também mostra o lado bom de cada atividade e o que isso acarretará em seu futuro. “Com a dança consigo entender que nem sempre eu vou poder ir em todas as apresentações, ou seja, quando eu receber um não na minha vida eu vou saber conviver com ele. Como representante de turma e com a monitoria eu aprendo a exercer a liderança e eu acho que isso vai me ajudar no futuro se eu precisar de ser uma chefe, saber como mandar e quando mandar e não abusar da autoridade. No voluntariado eu vejo que existem coisas ruins no mundo, isso vai me ajudar bastante a perceber que você não tem que se importar apenas consigo mesmo que tem gente que precisa e que está sofrendo até mais do que você.” Em questão de responsabilidade, Amanda diz que tudo isso a sufoca as vezes mas que,

com o tempo, se acostumou. “Sempre há momentos em que eu sinto que vou explodir porque é muita coisa pra uma pessoa só e na minha idade, pelo menos, eu acho que é muita coisa. Tem vezes que eu tenho muitas coisas para fazer, mas eu estou muito cansada; aí eu penso: ‘não, não posso fazer isso agora, eu preciso dormir’. Então eu sei negar algumas coisas para eu poder relaxar e não ser uma pessoa superestressada com apenas 13 anos”, conta ela, rindo de si mesma. Anísio Rates, pai da Amanda, fala sobre a rotina da filha: “Eu vejo que alguns dias ela está mais cansada. Tem dia que ela sai 7 horas da manhã e chega às 20 horas; de manhã, quando não está dando monitoria, está no voluntariado, depois tem aula, depois dança, mas é uma coisa que não é todo dia, porque se fosse todo dia teríamos que dosar, porque pela idade dela seria muita responsabilidade para todos os dias.”

Sobre a futura jornalista: Amanda Magalhães, 18 anos, estudante de jornalismo, tem sua rotina preenchida com aulas na parte da manhã, duas horas de monitoria na parte da tarde, tirando as quartas feiras, quando se dedica a um projeto de pesquisa. Suas tardes se completam com aulas de boxe nas segundas e quar-

tas, aulas de canto nas terças e curso de inglês nas quintas feiras. Amanda finaliza o dia com uma corrida de uma hora todos os dias. Ela ainda encontra tempo para exercer sua função de chefe de turma, fazer suas obrigações e trabalhos da faculdade, tocar violão, compor canções e melodias e ainda sair com os amigos. Amanda diz que todas essas atividades fazem com que ela se sinta útil, não fica muito tempo sem fazer nada e que gosta de sentir que pode cumprir todas as funções. Ela entende que isso trará boas coisas para seu futuro: “acho que isso me dá um ‘jogo de cintura’ maior. Aprendi a controlar meu tempo, a dividir atenções e a me organizar. Acho que a cada dia vou aprender mais coisas com todas essas atividades. Além de me ajudar a me relacionar melhor com as pessoas ao meu redor, elas me fazem crescer e amadurecer.” Amanda não pensa diferentemente a respeito da sobrecarga que as responsabilidades trazem. “Já perdi boas noites de sono preocupada com tudo o que eu tinha que fazer no dia seguinte, às vezes é difícil conciliar as atividades com os trabalhos da faculdade, da monitoria, da pesquisa e das obrigações de dentro de casa. Tem dia que eu não tenho nenhum momento para rela-

xar, eu vou dormir tensa, mas ao mesmo tempo tranquila por ter conseguido cumprir tudo o que eu pretendia.” Patrícia, mãe de Amanda, fala um pouco sobre a personalidade da filha “ela sempre foi uma menina ativa e até mesmo agitada, mas sempre fez tudo com responsabilidade e sob a nossa supervisão. Tem maturidade para tomar decisões como esta de aceitar a monitoria e agora a pesquisa, mas sempre procuramos orientá-la.”

Sobre a futura administradora: Fernanda Araújo, 22 anos, pratica menos atividades do que as outras duas mas isso não impede que sua rotina também não seja lotada e nem cansativa. Fernanda acorda cedo para ir à academia, onde tem aulas de crossfit. No intervalo entre a academia e o trabalho, ela dedica esse tempo para realizar as tarefas da faculdade ou desenvolver seu objeto de pesquisa. Trabalha todos os dias no setor de superintendência do Banco Mercantil, tem aulas à noite e aos sábados de manhã. Acredite, depois disso tudo ainda sobra tempo para cuida de si mesma, sair com o namorado e com as amigas. É ela mesma quem afirma isso. Fernanda ressalta que há


Comportamento  •  05

Editor e diagramador da página: Bruna Oliveira 2º Período

O Ponto

Não somos mais analógicos! A psicóloga Fernanda Girão mostra seu ponto de vista sobre a responsabilidade que as garotas possuem: “O jovem de hoje nasce em uma era onde a informação e a atenção difusa são características dos tempos tecnológicos. A capacidade de realizar muitas atividades ao mesmo tempo faz parte da cultura destes indivíduos, visto que nasceram no meio que já possui esta dinamicidade. O acúmulo, excesso, de atividades podem, em minha opinião, promover stress. O indivíduo tem necessidade de realizar ações, contudo tem que haver tempo para descansar de forma descomprometida para, inclusive, recompor sua mente e corpo. Tudo em excesso é prejudicial à saúde da mente e do corpo. A cabeça passa a ser ocupada por coisas que são interessantes e coisas que não agregam nada, fazendo com que o cérebro tenha que acelerar suas atividades visando guardar o que deve e descartar o insensível. Este movimento intenso pode levar o cérebro a apresentar algumas reações como queda da capacidade de memorizar. Já o corpo, com altas doses de exercícios e movimentos intensos, também pode apresentar sintomas como dores musculares ou outros comprometimentos.”

“É tarde, é tarde, muito tarde!” Como é a rotina de uma “super atarefada”? Como elas se identificam? Qual a imagem que fazem de si mesmas? O Ponto transcreve trechos da entrevista de Amanda Rates, Amanda Magalhães e Fernanda Araújo, para que elas mostrem seus pontos de vista sobre suas rotinas. Amanda Magalhães

Amanda Rates

Fernanda Araújo

Fotos: Arquivo Pessoal

semanas que fica muito cansada, a ponto de não conseguir fazer nada direito, e diz também que, no seu ponto de vista, ninguém tem muita constância quando se está mexendo com muitas coisas, mas que ela tenta fazer tudo da melhor forma possível. Afirma que sua rotina está apertada agora mas que falta pouco para acabar e que isso tudo vai deixá-la mais tranquila em um futuro próximo . Ela pretende ter tempo suficiente para estudar e poder passar em um concurso público bom e conseguir um emprego que não a faça ficar em um ritmo pesado igual ao que se encontra no momento. Ela também tem um outro ponto de vista sobre suas responsabilidades: “penso várias vezes em largar mão de uma delas, mas aí lembro que tem gente que dá conta de muito mais do que eu ou que isso tudo vai ser muito importante para meu futuro.” Lúcia Araújo, mãe da Fernanda, se diz preocupada com a rotina da filha: “Com tantos compromissos, o tempo que ela tinha para a família, lazer e outros compromissos ficaram sem dúvida menor, além de afetar também na saúde. Isso sim é a parte ruim e que me preocupa, pois ela é por natureza uma pessoa ansiosa.”

Belo Horizonte, setembro de 2014

Como descreveriam a rotina de vocês em uma palavra? Atarefada! Isso, Atarefada!

Corrida, ou talvez louca, ou talvez divertida, não sei (risos).

Nossa que difícil, corrida, eu acho.

A nova atividade atrapalhou o que já faziam anteriormente? Eu sempre tento conciliar as coisas, mas as vezes acaba atrapalhando, como, por exemplo, quando eu tenho voluntariado sexta de manhã e prova à tarde, tenho que estudar um dia antes e fazer os deveres, então eu acho que sobrecarrega, ou até mesmo a natação que tomou a parte de estudar de manhã, mas eu acho que eu consegui correr atrás e não me atrapalha mais.

O maior medo quando inicio uma atividade é esse, de não dar tempo de fazer tudo, de atrapalhar. E no início realmente atrapalha um pouco, mas com o tempo eu pego o ritmo e acabo dando conta de fazer tudo no tempo certo. E quando é necessário eu deixo de fazer coisa do meu proprio entreterimento para dar conta de todas as atividades.

O que era para ser uma coisa boa e dependendo do momento que elas acontecem você pode não estar em um momento tão bom, eu buscava quando eu estava tranquila e do nada todas aconteceram na mesma hora. Tem horas que me atrapalha, mas eu tenho uma consciência maior que elas são uma coisa boa e isso que me motiva a não pensar nelas como um empecilho e sim como uma oportunidade.

Se pudessem desistir de alguma atividade, qual seria? Não sei, acho que da natação, porque é um pouco chato acordar às sete da manhã, no frio pra poder nadar na água gelada, e tenho que caminhar da minha casa até a academia, o que é um pouco chato.

Acho que hoje eu ficaria muito triste de abrir mão de qualquer atividade que eu faço, não desistiria de nada. Eu prefiro tentar acelelar o ritmo de tudo, do que abrir mão de algo.

A pesquisa, porque eu tenho muito tempo para desenvolver ela e acaba que você fica enrolando e e fica no consciente que o trabalho está parado e que uma hora você tem que mexer nele.

Vocês pretendem ou gostariam de acrescentar uma nova atividade na rotina? Não agora, claro, mas eu tenho vontade de fazer academia, aulas de ballet, teatro, aulas de piano e eu quero muito também fazer intercâmbio.

Eu queria ter tempo de voltar a tocar teclado e futuramente encontrar um trabalho. Se eu tiver a necessidade de acrescentar algo, eu não tenho medo de encarar.

Eu queria voltar para as minhas aulas de francês, eu fazia aos sábados mas agora eu tenho aula e não consigo horário, nem aos sábados e nem dias de semana.

Qual o segredo para fazer todas essas atividades e ainda se sairem bem? Eu acho que primeiro a pessoa tem que se organizar e saber o que você consegue fazer e depois que você se organiza as atividades na sua rotina você tenta, se não der certo, tem que continuar tentando, se não der certo mesmo, tenta outra coisa, talvez não seja o momento certo. Não acho que seja um segredo, isso vem da pessoa, se ela se compromete a fazer as coisas do jeito que ela quer, do jeito que ela deseja, ela vai conseguir um mérito maior.

Acredito que é a dedicação, faço o melhor que eu posso em tudo, e até peço ajuda quando vejo que aquilo é demais pra mim. Nunca deixo pra depois alguma atividade, cumpro tudo no momento que eu propus, posso perder a noite fazendo aquilo, mas se eu assumi um compromisso eu tenho que cumprir. Eu não tenho medo de me responsabilizar por muitas coisas, porque sei que no final, se eu me dedicar ao máximo, eu vou dar conta.

Meu segredo é pensar assim: “calma, está acabando”, eu vejo um futuro e penso que eu tenho que ter calma, que eu já estou quase lá, porque se eu fizesse tudo isso sem um objetivo, porque eu tenho que fazer muita coisa, eu já teria desistido há– muito tempo, mas eu vejo que é necessário para chegar aonde eu quero e que é temporário, o que eu mais quero é ficar tranquila.


06  •  Política

Editor e diagramador da página: M

Belo Horizonte, setembro de 2014

O Po

Em busca pelo SIM à reforma política Fotos: Bruna Oliveira

Movimentos se organizaram para defender a realização de uma Constituinte exclusiva para reivindicar o sistema polititico

Urna localizada na praça Sete de Setembro, recebia em média mil votos por dia, de pessoas de varias faixas etárias

Maria Clara Gonçalves 2º período Entre 1 e 7 de Setembro, pouco mais de 400 entidades dos movimentos sociais foram divididas em mais de 1800 comitês espalhados por todos os estados brasileiros em torno de um plebiscito popular organizado com o propósito de mandar uma única mensagem: o país quer reforma política. Os movimentos se organizaram para defender a realização de uma Constituinte exclusiva da reforma política. Além das 40.000 urnas espalhadas por todo país, as pessoas podiam também votar pela Internet. Na votação online, foram 1,7 milhão de votos, sendo que 96,9% (1.691.006) dos votantes responderam “SIM”, que querem uma constituinte exclusiva da reforma política e 3,1% (53.866), “NÃO”. A contagem dos votos prossegue até o final de setembro, quando o movimento saberá se conseguiu alcançar a meta de 10 milhões de votos. Junto com a consulta popular, o movimento pela reforma política também colheu assinaturas de apoio ao Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia. O projeto, elaborado pelo Fórum Nacional pela Democratização dos Meios de Comunicação (FNDC), prevê a elaboração de um novo marco regulatório para a comunicação social eletrônica, a partir da regulamentação dos artigos 5º, 21º, 220º, 221º, 222º e 223° da Constituição Federal de 1988.

“Eu gostaria de dizer para esses jovens que nós já enfrentamos policiais, já fomos presos, para que hoje pelo menos eles pudessem ter o direito de votar, mas queremos mais mudanças! Temos que mexer nesse país, eu ainda tenho força para lutar, quero lutar e quero estar junto com essa juventude para conquistarmos os verdadeiros interesses da sociedade Brasileira“.

- Luís Antônio

Dentre as entidades que participaram da iniciativa estão o Movimento dos Sem Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Levante Popular da Juventude e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Mateus Alves, 33 anos, engenheiro agrônomo, militante do MAB e um dos organizadores da manifestação na Praça

Sete, conta que na região metropolitana de Belo Horizonte foram distribuídas cerca de 160 urnas fixas e quase 1000 pessoas com urnas volantes, que coletavam os votos em diversos lugares, desde filas de restaurantes até nas associações de bairros. Segundo Samuel Costa, 29 anos, militante do MST e um dos integrantes da banca de recepção de votos na Praça Sete, foram recebidos diariamente por volta de 1000 votos. Nos três dias em que a equipe do jornal O Ponto esteve presente na praça, das pessoas abordadas pela reportagem, apenas uma não se disponibilizou a ser entrevistada. Todos que deram entrevista se mostraram a favor da reforma. Com pontos de vistas diferentes e com várias expectativas de mudanças, Sandra Maria, 50 anos, e Maria de Lourdes Camargos, 68 anos, disseram que têm a expectativa de que, depois do plebiscito, a voz popular seja ouvida e levada a sério, que o voto passe a ser facultativo e que as pessoas tomem consciência de quem são os seus eleitos. Taísa Gabriela da Silva, estudante de direito, 24 anos, afirma que ficaria satisfeita se fosse trabalhado um projeto da maioridade penal. Já a estudante Vitoria Carolina, 19 anos, afirma que precisamos de mudanças drásticas: “os políticos não têm mais respeito com a população, o povo tem que acordar! Precisamos de mudanças. Com esse plebiscito o povo vai começar a ter voz”.Cintia Santos, 21 anos, auxiliar administrativa,


Política•  07

Maria Clara Gonçalves 2º Período

onto

Belo Horizonte, setembro de 2014 completa: “propomos uma reforma bem significativa, esperamos que consigamos mudar esse sistema que não nos representa, que não nos dá uma democracia de fato”. Já o estudante Pedro Augusto, 17 anos, se declara descrente de mudanças. “Não voto por falta de interesse, participei de algumas manifestações, mas foi só por ir. É uma forma de luta, mas não é suficiente! Podemos até fazer manifestações, mas e o representante político? Onde achamos um que seja honesto? Não tem”, desabafa. Redes Socias A mobilização foi amplamente divulgada pelas redes sociais. Para ter ideia da movimentação, a reportagem utilizou uma ferramenta de análise de rede desenvolvida pela startup Zahpee, para medir o índice de adesão pela rede. Em uma amostragem pequena, de um dia de mobilização – 4 de setembro – ,foram monitoradas manifestações de usuários do Facebook e do Twiter. Neste dia, só no período da tarde e da noite, foram publicadas 1584 postagens sobre o assunto, sendo 81% a favor do movimento, 14,8% contra e 4,1% neutras. Os principais argumentos negativos nas redes sociais e blogs eram de que a manifestação era um golpe do Partido dos Trabalhadores (PT) e um golpe comunista. Dentre os estados do Brasil, os que tiveram mais postagens relacionadas ao assunto foram: São Paulo com 23,4%, Rio Grande do Sul com 19,2% e Minas Gerais com 9%. Já entre os defensores do plebiscito – mais ativos na rede – a mensagem era basicamente a mesma: o plebiscito é maneira de a população expressar o descontentamento com o sistema político e exigir mudança. Papel da Juventude As manifestações que aconteceram em junho do ano passado em busca de mais direitos e democracia foi marcada pela força da juventude. Para Luís Antônio Gonçalves, 47 anos, do MST, a manifestação teve a mesma intensidade dos jovens de 1984, quando a luta era para as “diretas já”. “A força dos jovens de hoje é a mesma dos de 84 e eu gostaria de dizer para esses jovens que nós já enfrentamos policiais, já fomos presos, para que hoje pelo menos eles pudessem ter o direito de votar, mas queremos mais mudanças! Temos que mexer nesse país, eu ainda tenho força para lutar, quero lutar e quero estar junto com essa juventude para conquistarmos os verdadeiros interesses da sociedade Brasileira.” O jornalista e diretor do Sindicato dos Jornalistas profissionais de MG, Rogério Raimundo, 55 anos, acompanhou toda a construção e organização do movimento e afirma que a participação dos jovens está sendo ativa, “eles estão se mobilizando fora de partidos, fora de organizações e instituições. O jovem vem criando os seus próprios meios e esse é o seu papel, não esperar que seja entregado tudo em suas mãos, mas que construam e façam acontecer. A entrada do jovem na política e em outros sindicatos é uma das lutas do plebiscito e é fundamental.” O Militante do movimento social Levante Popular da Juventude, Victor Hugo, 26 anos, afirma que os movimentos de juventude são os que mais crescem hoje no país, e que as manifestações -ele participou de todas- , ele comenta “com certeza, despertaram

não só os jovens, mas todos, e começou a se falar mais sobre política de lá pra cá. Os movimentos sociais cresceram, entraram muita gente, muitas pessoas se aproximaram. Foi um processo muito bom.” Essa força da juventude foi um dos incentivos ao militante Mateus Alves e Luís Antônio irem para as ruas terem um diálogo com a população e trabalharem voluntariamente para a votação, “o que me motivou foi a juventude do Brasil inteiro, que foi para as ruas, para dizer que não aguenta mais, que não se vê representada por esse sistema político, foram para as ruas exigindo saúde, educação, transporte de qualidade coisas que os políticos não estão garantindo para a população”, diz Alves. Para Luís Antônio a indignação da população vem das falhas politíticas:“Entram e saem políticos que nos roubam, e que não sofrem nenhuma consequência. Eu queria ver uma maior participação de negros, dos movimentos sociais, das mulheres e da juventude para mudarmos as regras desse jogo”, completa Luís Antônio.

81% a favor do movimento, 14,8% contra e 4,1% neutras. A votação já foi encerrada, mas, de acordo com os organizadores, as atividades e fóruns sobre os plebiscitos não chegaram ao fim, “O plebiscito foi só uma ferramenta para dialogar com a população e colocar a campanha nas ruas. Agora vamos pressionar os órgãos cabíveis, para realmente fazermos uma constituinte neste país. Até que consigamos, vai ser uma mobilização intensa em todo o país com marchas, conversas e diversos atos que vão ser organizados daqui para frente até atingirmos nosso objetivo” , diz Mateus Alves. Além disso, os movimentos que estiveram trabalhando ativamente para a realização do plebiscito afirmam que a maior missão foi cumprida, “tivemos um processo muito grande de debater essa temática, de realizar formações em relação ao plebiscito e eu acho que essas informações já alimentam uma discursão, um debate e um pensamento crítico sobre o nosso sistema que é muito importante para a sociedade”, diz Cintia Santos.

Plebiscito Popular, o que é? Plebiscito é uma consulta na qual os cidadãos votam para aprovar ou não uma questão. De acordo com as leis brasileiras, somente o Congresso Nacional pode convocar um Plebiscito. Apesar disso, desde o ano 2000, os Movimentos Sociais brasileiros começaram a organizar Plebiscitos Populares sobre temas diversos. O Plebiscito Popular permite que milhões de brasileiros expressem a sua vontade política e pressionem os poderes públicos a seguir a vontade da maioria do povo. As informações abaixo foram tiradas do site oficial do plebiscito popular da constituinte, http://www.plebiscitoconstituinte.org.br.

O que é uma Constituinte? É a realização de uma assembleia de deputados eleitos pelo povo para modificar e definir as regras, instituições e o funcionamento de um Estado, como o governo. Suas decisões resultam em uma Constituição.

Por que uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político? A cada dois anos são veiculadas pelas mídias as campanhas eleitorais, e é possível perceber, por exemplo, que os candidatos eleitos têm um gasto de campanha muito maior que os não eleitos, sendo que na maioria das vezes, as empresas privadas é quem financiam os candidatos. Além disso, ao analisar a composição do Congresso Nacional, vemos que é um Congresso é composto por: •Mais de 70% de fazendeiros e empresários •Apenas 9% de Mulheres. •8,5% de Negros. •Menos de 3% de Jovens. E para solucionar todos esses problemas fundamentais da nossa sociedade (educação, saúde, moradia, transporte, terra, trabalho, etc.), é Preciso mudar “as regras do jogo”, mudar o Sistema Político Brasileiro. E isso só será possível se a voz dos milhões que foram as ruas em 2013 for ouvida. Assim começou a ação, organizar um Plebiscito Popular que luta por uma Assembleia Constituinte, que será exclusivamente eleita e terá poder soberano para mudar o Sistema Político Brasileiro.

No “grito dos excluidos”, no dia 7 de setembro, os participantes do plebiscito se reuniram para divulgar o movimento


08  •  Política

Editor e diagramador da página: Amanda Magalhães 2º Período

Belo Horizonte, setembro de 2014

O Ponto

Jovens esperam mudanças nas eleições 2014

Mais de um ano após as grandes manifestações, jovens respondem o que esperam das Eleições de 2014.

A reforma na educação, na saúde, no sistema público de transportes continuam em pauta após toda a movimentação que levou mais de um milhão de pessoas às ruas desde abril até agosto de 2013. Em apoio aos manifestantes, os principais candidatos à presidência, segundo pesquisas, Aécio Neves (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), utilizam de slogans de incentivo à mudanças em suas campanhas. A atual Presidenta utiliza “Muda mais” como chamada, já a candidata do PSB diz “Juntos pelo Brasil que queremos”, e Aécio chegou a utilizar “Para mudar de verdade o Brasil” em seu marketing. Após cerca de um ano e quatro meses do início das manifestações ocorridas em 2013, jovens respondem à equipe do Jornal O Ponto que esperam mudanças na política brasileira com as eleições à serem realizadas. “Eu espero que o povo atente para esse assunto, e que, depois de todo o fervor das manifestações, veja que escolher bem um candidato é extremamente essencial para ocorrer mudanças” diz Letícia Ferraz (18), quando questionada sobre o que espera das eleições. Rafael Dupim (25), na mesma linha de pensamento, diz “Espero uma mudança de postura do povo brasileiro, que os eleitores busquem estudar o candidato escolhido e não votem apenas por conhecer o sujeito superficialmente.” O Jovem Rodrigo Fernandes, de 18

Foto: Clara Lamcertucci

Amanda Magalhães 2º período

Geração que foi às ruas em 2013, escolhe seus representantes nas eleições anos, apóia a reeleição de Dilma Rousseff: “Eu espero continuidade e mudanças ao mesmo tempo. Acredito que seja o melhor para o nosso país a reeleição da nossa Presidenta. Claro que há, sim, o que criticar no atual governo, mas é, de

longe, a melhor opção. Tivemos quatro anos de grande crescimento e grandes avanços.” O estudante afirma acreditar em um país melhor e que não há caminho melhor para tal se não é o do o voto consciente.

Em oposição à Rodrigo, Gustavo Junqueira (23) demostra apoio à oposição da Presidenta: “Queria muito que o Aécio ou, de preferência, a Marina ganhasse. E o motivo de eu querer toda essa confusão é justamente a falta de esperança no governo atual, e na Dilma em si.” A catarinense Danka Gernhard, de 18 anos, pensa como Gustavo e afirma: “Em 12 anos o PT não fez nada que pregou em toda a sua existência... Saúde, educação, segurança pública, etc, está tudo um caos (...). O Brasil precisa de uma renovação política.” Apesar da maioria dos jovens alegarem a esperança quanto à mudanças, Carolina Ferreira (19) e Luiza Papini (18) não se mostram otimistas com as eleições. “Eu sou muito cética quanto à elas (eleições), não acredito que mude nada não.”, diz Carolina. Já Papini afirma “A gente chegou em um ponto que não tem uma boa opção de voto para a presidência do país, são sempre tantas propostas não realizadas, tanta ‘maracutaia’, tanta corrupção, tanta má fé, que fica difícil confiar em alguém no ramo político.” Mudanças gerais na política do Brasil ocupam a grande esperança, da maioria, dos jovens nas eleições que acontecerão daqui a menos de um mês em todo o país. Ana Carolina Braga reforça a importância de um voto consciente, retomando o tema das manifestações: “Eu espero que as pessoas não se arrependam de quem eleger e saiam para as ruas de forma hipócrita, é em outubro que temos a chance de mostrar na urna o que a gente quer.”

“Siga o dinheiro” Financiamentos privados e os problemas que os envolve estão sendo discutidos neste ano de eleição No Brasil, as campanhas políticas são financiadas com recursos públicos e privados. Os partidos e coligações contam com dinheiro arrecadado pelo fundo partidário e do fundo público. Mas, principalmente, são financiadas com dinheiro arrecadado junto a empresas privadas. Na campanha da candidata a reeleição Dilma Rousseff, por exemplo, cerca de R$ 202,943 milhões foram doados por empresas. Os três principais candidatos registraram junto ao TSE gastos que variam entre R$289 a R$150 milhões nas campanhas. Os partidos políticos contam com um fundo partidário de cerca de R$300 milhões por ano, mais um excedente de meio bilhão a cada dois anos com propaganda eleitoral, segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral, para a campanha de todos os seus candidatos.

Um plug-in de extensão desenvolvido para o Google Chrome, chamado “Quem Denuncia”, informa os fundos privados doados à campanhas políticas. Segundo o mesmo, a candidata a reeleição Dilma Rousseff tem como seus maiores beneficiários públicos a Construtora Andrade Gutierrez ($ 43 Milhões) e o Grupo de Construções e Comércio Camargo Correa ($23.9 Milhões), além de seu Partido (PT) e outros de sua coligação, porém seu maior fundo, que gira em torno de $122.4 Milhões, vem do Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República.Marina Silva (PV) além do fundo do Comitê Financeiro Estadual/Distrital para Presidente da República($23.1 Milhões), conta com recursos do seu partido ($4.3 Milhões), e de empresários como Guilherme Peirão Leal ($12 Milhões) e do Banco Itaú ($1 Milhão),

entre outros. Já o candidato Aécio Neves (PSDB) tem como maior recurso o dinheiro vindo de seu próprio partido, e arrecada fundos de empresas como a Torc - Terraplenagem Obras Rodoviárias Construções ($ 500 Mil) e a Companhia Metalúrgica Prada ($ 500 Mil). Críticos desse tipo de financiamento privado alegam que ao receber doações

de empresas, os partidos estariam corrompendo o sistema, tendo em vista que, de alguma forma, essas empresas seriam beneficiadas durante o governo daquele candidato. Já os defensores dizem que se o financiamento for exclusivamente público, os partidos se fortaleceriam, e impossibilitariam os pequenos partidos à crescerem. (AM)

Print do site de divulgação do aplicativo Quem Financia


Editor e diagramador da página: Carolina Mercadante 4º período

Comportamento  •  09

O Ponto

Belo Horizonte, setembro de 2014

BANHO DA SOLIDARIEDADE Campanha do desafio do gelo vence fronteiras e atinge vários países.; desde que a campanha começou já foram arrecadados mais de 110 milhões de dólares

CAROLINA MERCADANTE 4ºPeríodo

Kin Kardashian adere o desafio do gelo no programa “Ellen Degeneres” e faz uma selfie do momento

Algumas instituições de apoio aos pacientes e à pesquisas no Brasil, estão abismadas com a procura a respeito da doença e também estão recebendo doeções. Além de usarem o fundo arrecadado para estudos, o dinheiro também é utilizado para manter a ajuda médica que tenta diminuir a velocidade da evolução da doença. A instituição que tem recebido as doações (ALS) declarou recorde de arrecadação desde que a campanha começou, no dia 29 de julho. Até o dia 7 de setembro foram doados mais de 110 milhões de dólares. A Campanha do Desafio do Gelo tem o objetivo de divulgar e arrecadar fundos para uma pesquisa sobre a ELA ( Esclerose Lateral Aiotrófica ). O desafio foi criado nos Estados Unidos, e desafia a pessoa a doar cem dólares para instituições que apoiam o tratamento de pacientes diagnosticados, e pesquisas sobre a doença. Caso contrário a pessoa deveria tomar um banho de

água com gelo. Alguns famosos internacionais iniciaram a campanha, como: Demi Lovato, Lady Gaga, Bill Gates e Justin Bieber,. Eles aderiram a campanha de forma diferente, todos tomaram banho e fizeram a doação também. Assim, a campanha foi se espalhando, e famosos como Neymar, David Luiz, Fátima Bernardes. AA ELA é uma doença degenerativa do sistema nervoso e está associada a um quadro de fraqueza muscular, que geralmente arremete-se em pessoas em torno dos 50 anos, mas também apresenta-se em pessoas mais jovens, em torno dos 20 anos. O paciente costuma viver cerca de três anos, a partir do momento em que sente os sintomas até o óbito. A doença é incurável, e aos poucos atrofia os músculos e deixa a pessoa incapaz de se locomover, se alimentar e até mesmo de respirar. O tratamento apenas prolonga o tempo de vida de pacientes ELA, reduzindo a velocidade de progessão.

Em entrevista para o jornal O Ponto, Flávia Papini, filha de uma portadora de ELA, e Silvia Tortorella, diretora executiva do IPG, falam sobre a doença e a campanha.

Qual o nome e idade da sua mãe? Helena Maria Ramos Papini, 56 anos .

Quando ela desenvolveu ELA, e quais foram os sintomas? Desenvolveu há 5 anos atrás, os sintomas foram perda de mobilidade dos pés o que ocasionou muitas quedas “sem sentido”. Passamos por vários profissionais, desde ortopedistas até fisiatras até chegar a um neurologista que diagnosticou ELA.

Ela faz algum tratamento?

Com a ajuda de Marcos Veras e Lair Rennó, Featima Bernardes aderiu o desafio do gelo em seu programa “ Encontro com Fátima Bernardes” ao vivo. e desafiou Regina Casé, Dunga e o cantor Daniel

“Meu tio Milton e a mãe da minha querida amiga Charlene perderam a luta contra a ELA (esclerose lateral amiotrófica http:// www.abrela.org.br/default.php?p=texto. php&c=ela). Em homenagem a eles e a todas as famílias que passam por essa doença, estou doando dinheiro e também aceitando o desafio do “balde de gelo”. Desafio Anna Wintour, @MarioTestinoe @Shakira a participarem. #desafiodogeloela”, diz Gisele Büdchen

Hoje o tratamento é com o Riluzol, medicamento que retarda o avanço da doença e outros medicamentos que aliviam outros efeitos colaterais. Além disso ela faz sessões diárias de fisioterapia, acupuntura e fonoaudióloga.

O que você sentiu ao ver a iniciativa da campanha? De alguma forma isso lhe trouxe alguma esperança para surgirem pesquisas e estudos para a cura?

Senti que não estava só. Pelo fato de a doença ser muito rara, é difícil conhecer outras pessoas com o mesmo problema, e ver o país todo se conscientizando e doando nos fez sentir mais “acolhidos”, de certa forma..Temos consciência de que a cura para a doença ainda é uma realidade distante, e sabemos também que a campanha foi um momento de ápice das doações. Portanto as doações feitas contribuem muito para o avanço das pesquisas, mas temos o “pé no chão” de entender que esse é um processo longo e que necessita de doações constantes para que a cura se torne um dia realidade. Porta-voz: Silvia Tortorella, diretora executiva IPG

Antes da Campanha do Desafio do Gelo, qual a média de doação que o Instituto Paulo Gontijo recebia? O IPG é uma organização da sociedade civil de interesse público denominada OSCIP, filantrópica, mantida por aporte anual da família Gontijo. Antes da campanha do Balde de Gelo não havia um número de doações de expressão. A média de doação voluntária, até pelo desconhecimento da causa, era de R$ 20 mil reais anuais, mas contava já com o apoio de parceiros importantes que ajudam a manter os projetos. Até 2012, todo o aporte era exclusivamente da família e, desde então, ampliaram-se os projetos e a ajuda voluntária se tornou de suma importância.


Editor e diagramador da página: Janderson Silva - 4º Período

Idade de Mãe Quando engravidei, senti logo dois baques. O primeiro seria me tornar mãe. Com 20 anos pensava, “como vou educar uma criança? Ainda estou me educando!”. O segundo foi o preconceito – pasmem –, é isso mesmo. Certeza vez em plena sala de aula um professor me perguntou se eu tinha engolido uma melancia ou estava grávida. Já quando andava nos corredores, a reação das pessoas, jovens, era tão inacreditável que pensava ter algo de errado comigo, três braços, sujeiras nos dentes, cheiro ruim quem sabe. Do lanche na cantina, passei a comer na sala. E da cara sorridente de quem amava estar grávida que eu desfilava para meus amigos e familiares, me sentia cada vez mais reclusa dentro de mim mesma. Os nove meses passaram e eu me tornei mãe. E respirei aliviada. Agora os olhares vão acabar e não preciso me preocupar. Como me enganei. A primeira saída com a minha recém nascida, foram olhares de curiosidade. A primeira parada em uma livraria, embalava ela no colo para que dormisse, quando um homem me parou. “Você é mãe dela?”, me perguntou incrédulo quando cantarolei que a mamãe estava lá. Mais incrédula ainda eu olhei para ele e respondi “sim, porque?”. “Mas quantos anos você tem? Achei que era a tia!”. Essa foi somente a primeira de muitas. A coletânea de “quantos anos você tem”, “uma criança cuidando

de outra criança” e “você não tem idade para ser mãe” foi só aumentando. De uma hora para outra, minha maternidade ficou marcada pela minha data de nascimento. Não me perguntavam seu nome ou me diziam como minha filha era linda – porque ela é linda, o importante era o que eu aparentava ser. Não queriam saber sobre minha doação como mãe, sobre todo o amor que eu dispunha para dar e sobre as várias noites mal dormidas por ela. Nem mesmo sobre dar conta da faculdade enquanto criava minha filha. O mais espantoso disso tudo é que a grande maioria de pessoas que olham torto ou fazem comentários do tipo, são mais velhas. Os mais velhos não deveriam ser os que ensinam? Pelo menos é isso que nos dizem, quando somos orientados a “respeitar sempre os mais velhos, eles tem mais conhecimento”. Uma ova! Quantas crianças conheci que são mimadas e sem limites, fruto de um casal lá pros seus 30 anos. Ou quantas crianças são “terceirizadas” para babás porque a mãe não tem tempo. “Deixe que digam, que pensem, que falem”. Fui criada por uma mãe de 20 anos, fui mãe aos 20 anos e minha maior preocupação são as pessoas que de fato me conhecem. Quer maior prova de bons cuidados que uma criança feliz? Meu sorriso é contagiante quando respondo alegremente à essas perguntas com um sonoro “sou sim, tenho 22 anos. Imagina quando estiver com 40?”

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Mariana Chacon 4º Período

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Editor e diagramador da página: Paulo Madrid - 3º Período

Belo Horizonte, setembro de 2014

O Ponto

A máfia, por Talese O livro “Honra Teu Pai”, de Gay Talese, é considerado uma das maiores obras do New Jornalism. Lançado pela primeira vez em 1971, o livro de Talese apresenta a Família Bonanno, membros da Máfia italiana, a Cosa Nostra, nos Estados Unidos, retomando sua história desde suas origens, sua evolução, até a sua queda. Talese escreve sua história, não-fictícia, mas com ares de tal, com grande elegância. Sua escrita seduz, hipnotiza e imerge o leitor, as descrições de ambientes e dos pensamentos e angústias dos personagens são de tamanha perfeição e sutileza que o faz ponderar constantemente se aquilo que lê é Jornalismo ou Literatura. Gay Talese faz os dois. O início da Família Bonanno foi lucrativo, como a de outras tantas, e ocorreu durante a Lei Seca americana e a migração de italianos para os Estados Unidos. Estes trouxeram consigo uma grande bagagem histórica e eternas brigas de facções. A Cosa Nostra se expandiu e ultrapassou as fronteiras da Itália e Sicília, controlando inúmeros negócios escusos em várias cidades dos EUA, mas principalmente na costa Leste. Entretanto a trajetória da Máfia teve seus percalços e disputas de poder, a Guerra Castellammarese que ocorreu durante a década de 1930, é tratada no livro. Uma disputa entre famílias rivais que almejavam assumir o poder, seus respectivos chefes queriam se tornar o

novo capo di tutti i capi, o “chefe dos chefes”. A guerra deixou um rastro sangrento, mas após algumas traições a paz voltou a reinar entre as famílias e possibilitou a ascensão de Joseph Bonanno e de sua organização. Há outros breves relatos sobre a trajetória da família que Talese intercala em sua obra, mas o que rege a narrativa é o sequestro do patriarca e chefe da Família Bonanno, o siciliano Joseph Bonanno e como isso afeta todo o cenário do crime em Nova York, mas principalmente Bill Bonanno, filho e sucessor de Joseph no comando da organização. Porém, como é apresentado no livro, a época da Máfia estava se esvaindo, os anos 1930 e 40 foram seu auge, os 1960 e 70 seu crepúsculo. Essa decadência e a desconfiança são os principais inimigos de Bill Bonanno, além dos captores de seu pai, é claro. Talese relata, principalmente, os anos 1960, quando se deu o sequestro de Joseph Bonanno que o deixou fora de circulação por 19 meses, período em que Bill cresceu em importância na Máfia. Dividido em quatro partes, “Honra Teu Pai” separa a narrativa conforme os períodos pelos quais Talese conviveu com os Bonanno, do sequestro à volta de Joseph, a Guerra dos Bananas, até à condenação de Bill Bonanno por fraude no uso de um cartão de crédito. O livro é um espécie de biografia de Bill, tendo como principais relatos os que mostravam como sua mulher e seus filhos lidavam com as atividades dele e da orga-

nização. Além de explicitar o desgosto de outros membros que não aceitavam Bill como novo administrador da família. “Honra Teu Pai” é um relato profundo e honesto de uma história real sobre a Máfia, mas que vai muito além do sangue, assassinatos e disputas de poder, mostra a humanidade dentro da fachada imponente e viril dos Bonanno. Talese imerge tão fundo nesse meio, o esmiúça de tal forma, nunca percebemos o autor nas cenas que narra, o que nos deixa mais estupefatos ao saber, ao fim do livro, que ele realmente esteve presente em algumas ocasiões. Seu relato é tão cru e pessoal, que nos pegamos simpatizando com o sofrimento e as relações conturbadas dessa família e como a Máfia pode afetar até mesmo os mais inocentes.

Crime dos ‘dois meninos’ Mariana Chacon Naddeo 4º Período O livro “A sangue frio” conta a história da família Clutter, assassinada em sua própria casa, e dos seus assassinos, Perry Smith e Dick Hickock, condenados à forca e executados seis anos depois. O crime ocorreu em uma pequena cidade de Holcomb, no Oeste do Kansas, nos Estados Unidos. A família Clutter, pacata e integrada a sociedade, era querida na cidade e morava em uma fazenda um pouco afastada do centro. Hubert e Bonnie, os pais, e Nancy e Kenyan, os filhos, foram encontrados por seus vizinhos amarrados, nos pés e mãos, e amordaçados com um tiro na cabeça cada. Sem nenhuma razão aparente para o assassinato, o crime quase foi perfeito, se não fosse uma ponta solta: um presidiário e ex-funcionário da fazenda dos Cuttler, que contou para Dick sobre um suposto cofre na fazenda com uma grande quantia de dinheiro. Ele relatou as autoridades que Dick se interessou e disse que daria um golpe para conseguir o dinheiro. O presidiário foi a peça-chave para a elucidação do caso. O livro retrata desde o dia anterior ao crime, contando sobre os últimos momentos dos quatro membros da família e sobre os criminosos. Perry e Dick planejaram o crime

acreditando que se apropriariam de uma fortuna, que não encontraram. Depois de pegos, foram condenados a forca. Truman Capote foi para Holcomb, um mês após o crime e passou a acompanhar de perto as investigações. Ele desenvolveu uma intensa relação com suas fontes, o que foi um fator determinante para o desenrolar da história. Não só isso, mas Capote inaugurou também um novo tipo de escrita, o gênero “romance não-fictício”. Seu livro pode ser lido como ficção e se não fosse o fato de ser baseado em uma história real, passaria desapercebido por qualquer leitor. Seu livro retrata o cenário, como é a cidade. Descreve os personagens e reconstrói passo a passo os últimos momentos da família e a trajetória dos assassinos. Ele faz com que o leitor se interesse profundamente pela história, assim como introduz detalhes que dão a trama um lado romântico de ficção. Pode-se de dizer que se trata de uma combinação dos fatos com a criação artística de um leitor. Capote criou também intimidade e conquistou a confiança dos criminosos. Ele traça um perfil humano para seus “dois meninos”, como costuma chamar no livro. A maneira como criou vínculos com os moradores da cidade e investigou a fundo a história e a vida dos personagens, transforma o livro em

um romance, e inaugura a união entre a literatura e o jornalismo. Foi uma forma nova e curiosa de envolver o leitor com o enredo da história. O fato de se tratar de personagens e histórias reais, ao mesmo tempo que se torna um modo interessante de se contar a história se revela também triste, pois temos o conhecimento que aquilo é real e de fato aconteceu. Creio que o livro é interessante e de fato merece ter tido o sucesso e prestígio, além de ter sido conhecido por inaugurar o “Novo Jornalismo”.

RESENHA

Júlia Alves Costa 4º Período

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PRESENCIAL E EAD


Cultura • 13

Editor e diagramador da página: Amanda Magalhães, Clara Barbi 2º Perîodo

O Ponto

Belo Horizonte, setembro de 2014

Cinema com cerveja Bar Bocaiúva no bairro Santa Tereza dá inicio ao projeto que traz projetos autorais aos bares de BH. CLARA BARBI 2º PERÎODO A cidade conhecida como a capital dos bares teve a estreia na primeira semana de setembro do novo projeto cultural, o Cineclube de Buteco, que acontecerá uma vez por mês no bar boêmio de Santa Tereza o bar Bocaiuva. A iniciativa que resulta da parceria entre o Bocaiuva e a ONG Instituto Palco & Tela, por meio de projeção na parede do estabelecimento reuniu pessoas de diversas classes e gêneros. O projeto que visa exibir filmes autorais de curta metragem, os quais não possuem a chance de estrear em grandes salas, trouxe como lançamento três curtas o documentário O maior espetáculo da Terra, com duração de 15 minutos, de Marcos Pimentel, que conta a história de um circo que estava na corda bamba, mostrando a realidade desde a chegada à cidade até a partida. A animação 2004, de 6 minutos, de

Foto: Clara Barbi

Edgard Paiva, que narra à história de um jovem que registra imagens de pessoas que passam na rua e, ao se deparar com uma moça, não consegue tira-la de sua mente; e a ficção Não há cadeiras, de 25 minutos, de Pedro Di Lorenzo, um exemplo raro de ficção cientifica nacional. “Achei muito legal terem feito isso aqui, o bairro é conhecido pelos bares e trazendo esse evento à variação fica ainda melhor, além dos documentários que são todos produzidos por mineiros, o que é super bacana!”, diz Cristina Machado, moradora do bairro Santa Tereza há anos.

Cineclube de Boteco Onde: Bar Bocaiúva, Rua Paraisópolis, 550, Santa Tereza Quando: Na segunda quarta-feira de cada mês, às 20h Entrada franca.

O documentário O maior espetáculo da Terra sendo exibido

Dicas Culturais

Lista de DVD`s, CD`s e livros mais vendidos nas últimas semanas, segundo ranking da Livraria Cultura*

DVD`s 1) Peppa Pig - Poças de lama e outras historias (2014)

CD`s 1) Supernova - Banda Malta (2014)

2) A Culpa é das Estrelas (2014)

2) Banda do Mar - Banda do Mar (2014)

3) Studio Ghibli - Coleção V.2 Blu-Ray (1992)

3) O que é que eu sou sem Jesus Padre Alessandro Campos (2014)

4) Filme Noir - Seis clássicos do gênero (Clássico)

4) Disney Junior - Parquinho (2014)

5) Frozen - Uma Aventura Congenlante (2014) 6) Studio Ghibli - Coleção V.2 DVD (1992)

5) Guardians of the Galaxy - Awesome Mix V.1 (2014) 6) Gira Mi Cancion - Violetta (2014)

Livros 1) Eternidade por um fio - Ken Folletti (2014) 2) Se Eu Ficar - Viva para amar - Gayle Forman (2014) 3) Ansiedade, como enfentar o mal do século - Augusto Cury (2013) 4) Guga, Um brasileiro - Gustavo Kuerten (2014) 5) A droga da amizade - Pedro Bandeira (2014) 6) Mudar - Flávio Gikovate (2014)

7) Philomena (2013)

7) Bossa Negra - Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda (2014)

8) Uma história do Comunismo (2005)

8) Centenário - Dorival e Danilo Caymmi e Chico Buarte (2014)

8) Uma página de cada vez - Adam J. Kurtz (2014)

9) Galinha Pintadinha 4 (2014)

9) V - Nacional - Maroon 5 - (2014)

9) Pó de Lua - Clarice Freire (2014)

10) Edu 70 Anos (2014)

10) Lullaby and The Ceaseless roar (Nacional) - Robert Plant (2014)

10) Alimente bem as suas emoções Gisela Savioli (2014)

* Informações coletadas no período de 15/09/2014 a 21/09/2014

7) O Pintassilgo - Donna Tartt (2014)


14 • Esportes

Editor e diagramador da página: Bruno Costa 4º período

Fotos: Arquivo Pessoal Felipe Miyamoto

Belo Horizonte, setembro de 2014

O Ponto

Wakeboard: um Nova Lima sedia campeonato jornal O PONTO entrevista o BRUNO COSTA PEDRO MAIA 3º PERÍODO

O clube Serra da Moeda, em Nova Lima, vira palco para atletas do mundo inteiro uma vez no ano no Campeonato Mundial de Wakeboard. Mais de 6 mil pessoas acompanharam ao vivo o campeonato durante os dois dias de competição, de acordo com a organização do torneio. O jornal O Ponto foi atrás do campeão brasileiro da modalidade Felipe Miyamoto, de 30 anos, que apresentou a modalidade e abriu o jogo sobre a correria e dificuldades dos atletas de Wake. O Brasiliense está há mais de um mês na capital mineira treinando, abriu as portas da casa em que está hospedado e falou sobre a busca de um título inédito mundial, a solidão no circuito brasileiro, sua inspiração em Senna e seu ingresso no esporte.

Como funciona o esporte:

O “Japonês Voador” brasiliense e campeão brasileiro, Felipe Miyamoto (30)

O Wakeboard é um esporte aquático praticado sobre uma prancha em que a pessoa é rebocada por um barco, através de um cabo e uma manete. Aproveitando as duas ondas deixadas pela lancha, o atleta executa manobras enquanto é puxado, saltando de um lado para o outro. O esporte é praticado em rios, lagos ou mares que possuam águas calmas e com menos vento possível para não atrapalhar nas manobras.

Como são disputados os torneios: Existem três juízes dentro do barco que puxa um atleta de cada vez, e estes juízes observam as manobras do atleta numa “ida” de um ponto a outro demarcado, e uma “volta” até o ponto base. O esportista consegue fazer de 10 a 12 manobras no percurso completo. De acordo com o grau de dificuldade dessas manobras, os juízes dão uma nota que define a disputa contra o adversário da bateria, nota contra nota.

Principais manobras: GRABS: Segurar a prancha enquanto estiver no ar

ROTAÇÕES: Giro horizontal no ar (180º, 360º e 540º)

MORTAIS: Cambalhotas verticais no ar


Esportes • 15

Editor e diagramador da página: Bruno Costa 4º período

O Ponto

Belo Horizonte, setembro de 2014

esporte em alta mundial e atrai o interesse de milhares de pessoas; reportagem do campeão brasileiro da modalidade

Entrevista com o campeão “Sempre via na televisão e achava irado. Fui a Angra dos Reis (RJ) uma vez e aprendi o básico, quando voltei para Brasília procurei a galera do Wake e iniciei uma etapa um pouco mais séria.” Com pouco tempo de esporte, Felipe já mostrava um diferencial. Seus enormes aereos e manobras ousadas, ganharam o cenário candango e o jovem foi apelidado de Japonês Voador pelos seus companheiros. “Eu já praticava outros esportes, então tinha uma facilidade maior em aprender alguns movimentos. O apelido foi uma brincadeira da galera, mas aí pegou.”

O circuito de Wakeboard pode se comparar com o de F-1 quando se fala em solidão. Torneios longos em diversas partes do Brasil e do Mundo fazem com que os atletas fiquem dias sem ter contato com suas famílias, algo que pode influenciar no desempenho de vários esportistas. Desde o dia 3 de maio em BH, Felipe deve completar um mês sem pisar em casa. Mas isso nunca foi um problema para ele por ter o acompanhamento frequente de familiares e amigos em campeonatos. “Dizendo em solidão nas etapas do circuito, é uma coisa que atinge vários atletas, mas, graças a deus, eu tenho minha família perto sempre. Treino com meu irmão, meus amigos vão comigo para as competições e muitos deles também são atletas. É um esporte que dá pra conciliar o tempo.”

Agenda 2014 O Wake é um esporte em ascenção no Brasil que já traz resultados internacionais. “O Brasil é sempre um grande concorrente nas disputas Mundiais e possui exímios atletas. Os fatores climáticos e os vários espaços para a prática que possuímos em todo o país ajuda muito o avanço do esporte” disse Tess Abreu, Diretor de Marketing da Associação Brasileira de Wakeboard. O circuito brasileiro continua e a ABW já divulgou as próximas etapas: 13 setembro Circuito ABW 2 Torres: Colosso Wake Park, Fortaleza, CE 20 setembro Rei da Piscina: São Paulo, SP 27 e 28 setembro (data a confirmar) Mundial e Brasileiro de Cable: Naga Cable Park, Jaguariúna, SP

Nome: Felipe Miyamoto Idade: 30 anos Cidade: Brasília - DF Apelido: Japonês Voador

9 anos como professional, Campeão do circuito Brasileiro em 2013, 6o colocado no mundial 2014, 3o Olimpiadas da Praia 2014

Carreira:

Ídolo: Ayrton Senna

O Brasil é uma pedra no sapato dos gringos em torneios. Além de Miyamoto, existem outros grandes atletas nos representando, Marcelo “Marreco” Giardi é um destaque em grandes torneios pelo mundo, alimenta o sucesso e a ascenção do Wakeboard no Brasil. Felipe vê Marreco como um ídolo no esporte, mas seu maior ídolo é o piloto de F-1 Ayrton Senna. “-Me identifico muito com o Senna. Cresci assistindo seus títulos, sua concentração e foco. Já li seu livro e vi seu filme e tento me espelhar em sua garra e vontade que ele tinha de vencer. Não sei se alguém um dia será ídolo como o Ayrton Senna no Brasil, ele é eterno.”

Perfil do Campeão

“Não sei se alguém um dia será ídolo como o Ayrton Senna no Brasil, ele é eterno.” Fenômeno mundial da F-1 é espelho para Felipe Miyamoto (Foto: Agência Getty Images)

Felipe Miyamoto


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