Jornal O Ponto (nº 95) - Dezembro de 2014

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 15  |  Número 95   |  Dezembro de 2014  |  Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita

Caminhos que levam ao sertão Ricardo Ferraz Bastos, estudante de jornalismo da Fumec vence na categoria nacional de fotojornalismo do Prêmio Telefônica Vivo de Jornalismo Universitário

Cartilhas Carol Rossetti compartilha a ideia de que cada um é dono do seu corpo p. 10

Ambiente Fortuna de Minas é exemplo de liberdade para pássaros silvestres p. 8 e 9

Humor Lucas Rangel conta o segredo dos sete segundos p. 12


02  •  Expediente

Editor e diagramador da página: Bruna Oliveira

Belo Horizonte, dezembro de 2014

O Ponto

Confira a revista do curso de Jornalismo da Universidade Fumec!

Foto da Capa

A foto de capa desse mês foi tirada pelo aluno de jornalismo, Ricardo Ferraz Bastos, que concorreu e ficou em primeiro lugar nacional na categoria fotojornalismo da 3º edição do concurso da Telefonica Vivo, que esse ano contemplou as cidades de Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul.

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o ponto Coordenação Editorial Profa. Ana Paola Amorim (Jornalismo Impresso) Prof. Aurelio Silva (Redação Modelo) Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro

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Monitores de Produção Gráfica Ingrid Vieira Monitores Voluntários Amanda Magalhães e Carolina Castilho Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

(31) 3280 5000 pos.fumec.br Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

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Editor e diagramador da página: Bruna Oliveira e Amanda Magalhães

O Ponto

Acontece na Fumec • 03

“Curso vivo”

Belo Horizonte, dezembro de 2014

Curso de jornalismo lança a nova edição da Revista Ponto e Vírgula, e mostra o porquê de ser considerado um curso vivo

Editores da revista Ponto e Vírgula, os professores Ana Paola Amorim e Aurélio Silva, apresentados pelo coordenador Ismar Madeira, duranteo lançamento

AMANDA MAGALHÃES 2º PERÍODO Os professores e alunos da Fumec lançaram, na última segunda feira (10), a nova edição da revista “Ponto e Vírgula”. O evento contou com um bate-papo com a editora da revista Veja BH, Ivana Moreira, que é a entrevistada desta edição da revista. Realizada durante a manhã, a cerimônia ainda contou com a participação de Janaína Barcelos, a Miss Minas Gerais 2013 e capa da nona edição da Ponto e Vírgula. O coordenador do curso de jornalismo, Ismar Madeira, abriu o evento dizendo que “somos um curso vivo, pois acreditamos que o aluno aprende produzindo”. O renomado jornalista destacou as maiores produções do curso, entre elas a revista lançada, o jornal O Ponto e o Conecta, site de notícias do curso. Durante o bate-papo com Ivana Moreira, ela falou um pouco da história da Veja BH, da linha editorial que seguem e da rotina de uma redação reduzida, e quando questionada sobre repercussão positiva e/ou negativa, a jornalista afirmou: “A gente quer provocar discussão sobre os temas, isso é o que chamamos de repercussão”. Os desafios tecnológicos que a internet traz também foi assunto na conversa: “Antes o trabalho do repórter terminava no ponto final com o editor, agora o trabalho se estende às redes sociais”. Para Ivana, o maior desafio do jornalismo tecnológico é como monetizar as produções na internet. Ainda sobre redes sociais e internet, os professo-

res Aurélio Silva e Ana Paola Amorim ressaltaram a importância destes no novo jornalismo. A professora apresentou os novos mecanismos usados pelos alunos da Fumec para monitoramento de conteúdo na internet, uma parceria feita com a empresa Zaphee especializada nesse tipo de serviço. “Precisamos disso (monitoramento de conteúdo) para, até mesmo, orientar o nosso trabalho”, afirmou Ana Paola. O lançamento, propriamente dito, da revista foi realizada ao fim do evento pelo seu editor-chefe, Aurélio Silva. O professor apresentou as matérias da nona edição da Ponto e Vírgula, entre elas: “Preconceito no Futebol”, “O bicho nas redes sociais” e “Livros Eróticos”. Janderson Silva, o estudante responsável pela matéria de capa, falou um pouco das suas inspirações e do processo de confecção da sua matéria sobre a Miss Minas Gerais 2013. Janaína Barcelos, a entrevistada, também contou como foi expor sua doença e os objetivos de sua ONG, o Instituto Holofotes. A estudante de jornalismo da Fumec sofre de Retinose Pigmentar, uma doença degenerativa da retina, e fundou sua própria organização para a divulgação da mesma. Além disso, o coordenador Ismar Madeira mencionou a participação dos alunos no Prêmio Telefônica Vivo de Jornalismo Universitário. Alunos da Fumec foram finalistas em três categorias: jornalismo impresso, com a matéria de Janderson Silva - “Desfilando no Escuro”, fotojornalismo, com “Caminhos do Sertão” de Ricardo Bastos, e videojornalismo, com

“Copa Internacional de Mountain Bike”, de Raquel Rodrigues e Vanessa Schutz. O aluno Ricardo Bastos foi o vencedor da categoria que disputava. A cerimônia de lançamento contou, ainda, com a exposição dos programas de intercâmbio que a Universidade oferece (PROME) e o projeto de iniciação científica sobre Roteiros Televisivos, que está sendo realizado por alunos do curso de jornalismo.

O que é o Prêmio Telefônica Vivo de Jornalismo Universitário? É um concurso Cultural que visa reconhecer talentos e destacar a qualidade de trabalhos jornalísticos feitos por estudantes universitários dos cursos de Jornalismo e Comunicação Social com habilitação em Jornalismo dos Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e da Bahia. O Prêmio, que está em sua 3ª edição no Brasil, acontece desde 2005 nos demais países da América Latina onde a Telefônica atua. As categorias são jornalismo Impresso, jornalismo Multimídia, Radiojornalismo, Videojornalismo e Fotojornalismo. Ao todo, neste ano, foram recebidos quase cem trabalhos de estudantes da Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O primeiro colocado dentre os participantes ganhará uma viagem à Espanha e estágio em veículo de comunicação espanhol.


04  •  Cultura

Editor e diagramador da página: Adriele, Iara e Mariana

Belo Horizonte, dezembro de 2014

O mestre barroco bicentenário

O Ponto

Com uma forma de fazer arte barroca inconfundível, o mestre mineiro Aleijadinho deixou seu legado

http://goo.gl/R3Xo4x

Gerais, Luciomar Sebastião de Jesus tem seu trabalho reconhecido internacionalmente, já recebeu algumas propostas para se mudar de Congonhas e trabalhar em grandes empresas como a rede Globo, mas por motivos que não nos foi dito, o artista ainda continua na pequena cidade onde se dedica a cuidar de toda riqueza deixada por um dos maiores artista da arte barroco, realizando um importante trabalho. Por amor as obras de Aleijadinho atualmente não têm outra pessoa que entenda melhor na cidade, a historia do mestre para conversarmos do que Luciomar. No belo cenário da cidade de Congonhas o artista plastico pode nos responder algumas perguntas.

Obra de Aleijadinho feita de pedra sabão, “12 profetas” cituada em Congonhas Rodrigo Oliveira isabela Abreu  2º Período Um mestre imortalizado pela sua obra. Antônio Francisco Lisboa, Aleijadinho (17371814), uma referência não só no barroco, mas também em forma de linguagem e pensamentos coloniais, tem uma história cercada de incertezas e mistérios. Todos os elogios ao mestre são poucos perto da grandeza que nos foi herdada por ele. De brasileiros a turistas do mundo inteiro, ter o prazer de conhecer uma obra feita por Aleijadinho é algo extraordinário, te leva a uma serotonina de sentimentos e pensamentos. O artista dominou com toda sua fé e paixão suas doenças e limitações, deu asas à seus sentimentos e imaginações ao fazer de pedrasabão uma arte em forma de anjos, profetas e outras obras deslumbrantes. Em Minas Gerais, especificamente na cidade de Congonhas, Região Central do estado, existe um acervo da arte barroca de Aleijadinho, são 64 imagens feitas em

cedro de tamanho real nas capelas que ficam no adro da igreja Senhor do Bom Jesus de Matosinhos, onde os 12 Pro fetas feitos em pedra sabão podem ser vistos. Na igreja de São Francisco de Paula, em Ouro Preto, outra região central do estado, podemos encontrar a fachada e os púlpitos feitos em pedra-sabão também feita pelo artista. Os Quatros Leões de Essa e a imagem de São Francisco de Paula, todos feitos em madeira, estão localizados no museu Aleijadinho. O mistério da doença de Aleijadinho causa discussão entre seus admiradores e especialistas das suas artes. A enfermidade fez com que perdesse os dedos dos pés, obrigando-o a andar de joelhos e os dedos das mãos atrofiaram e sua face ficou deformada, nesse momento o artista vivenciou uma era de preconceito por ser diferente, por isso passou a ir trabalhar de madrugada para não ter contato com as pessoas e no ápice de sua doença, Aleijadinho pedia para que seus escravos amarrassem suas ferramentas nos punhos. A partir desse momento passou

a esculpir com mais emoção. É incerto o nome da doença de Aleijadinho, hanseníase foi uma das suspeitas. De 01 à 31 de novembro, vai acontecer nas cidades de Ouro Preto, São João Del Rei, Congonhas, Belo Horizonte e Tiradentes, celebração dos 200 anos de sua morte. Durante a celebração foi escolhido o dia 18 de novembro como o dia do Barroco e será comemorado o bicentenário da morte do mestre. A casa da Moeda do Brasil comemora em solenidade ao artista barroco, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a entrega da medalha comemorativa ao bicentenário de morte de Aleijadinho. Neste ano, a medalha será cunhada com a obra “Retrato de Aleijadinho”, de Euclásio Penna Ventura. Foi escolhido, em votação popular, em maio deste ano, que o profeta Daniel, escultura que se encontra no adro do Santuário de Bom Jesus do Matozinhos, em Congonhas (MG). O renomado artista plástico e secretario do patrimônio municipal histórico e artístico de Congonhas Minas

a frente do seu tempo. E todo artista tende a contextualizar sua época, que ignorando as criticas faz prevalecer suas idéias. Aleijadinho, sendo mestiço e vivendo em uma sociedade escravagista, ousou recriar uma arte elitista surgida em palácios e templos suntuosos da Europa e traduzi-la numa linguagem da alma do povo brasileiro, tornando se a primeira manifestação artística genuinamente brasileira juntamente com seu parceiro, o pintor Manoel da Costa Ataíde, que pintava anjos mulatos nos tetos das igrejas.

Os profetas de Congonhas ficam expostos ao ar livres qual a forma de controle para a conservação das obras?

A lei determina que 2014 seja o Ano de Comemoração do Bicentenário de Aleijadinho, e que, anualmente, em 18 de novembro, desse estilo, além desta lei existem mais projetos para preservação e promoção da obra?

Após 10 anos de pesquisa foi descoberto e aplicado um hidróxido benzoado de etila solubilizado a 3% em butanol para eliminação de liquens. Este produto possui ação residual de 4 a 5 anos, que após esse período a rocha fica susceptível ao ataque dos liquens exigindo nova aplicação. E monitoramento de vigilância e limpeza executada por técnicos especializados tem sido realizado periodicamente

O Ministério Público de minas gerais tem implementado ações de fiscalização para salva guarda deste patrimônio cultural de minas. As Cidades detentoras das obras do Aleijadinho devem programar ações de preservação desse valioso acervo ascendo recursos federais e estatuais através das leis de incentivos. Como o PAC, programa de aceleração de crescimento e o ICMS Cultural.

Qual público tem maior interesse em conhecer a as obras do mestre? Em quais épocas do ano?

Antônio Francisco Lisboa é considerado um mito não só pela sua obra fascinante, mas também por todo mistério que existe sobre quem ele foi e como viviam, quais características da sua obra revelam aspectos de sua história?

De visitantes estrangeiros, os que mais se identificam são os franceses, de forma nacional, o estado de são Paulo, rio de janeiro e santa Catarina possui destaque. Períodos de férias e final de ano atraem mais visitantes.

Aleijadinho é conhecido por ter introduzido características brasileiras ao barroco, criando uma identidade nacional para o estilo, um exemplo é o cabelo dos santos em forma de espiral, ainda hoje existe préconceito no mundo artístico a respeito de raças, como você vê a visão avançada do artista? Aleijadinho era um artista

O aspecto mais marcante nas obras de Aleijadinho, que revela aspectos de sua vida, é a ma implantação do polegar nas mãos. É possível analisando este aspecto na obra do mestre, identificar que Aleijadinho fosse portador de Hanseníase, visto que, esta doença quando atava o nervo mediano, o polegar fica paralelo aos outros, esta projeção da doença nas obras é chamada de projeção psicomorfa.


Cultura  • 05

Editor e diagramador da página: Filipe Diniz, Gabriel Capanema, Maria Antonia, Taynara Cristian

O Ponto

Belo Horizonte, dezembrode 2014

Terra mineira, paladar italiano Influência da culinária italiana se inicia com a chegada dos imigrantes que passaram a substituir a mão de obra escrava nos cafezais. Rafael Diniz Clarice Chacon Isadora marques 2º Período Influência da culinária italiana se inicia com a chegada dos imigrantes que passaram a substituir a mão de obra escrava nos cafezais. A arquitetura, a culinária, os sobrenomes; este é só o começo da influência italiana na cidade de Belo Horizonte. Vindos no século passado, os italianos encontraram um refúgio no Brasil, trazendo milhares de imigrantes para nossas terras e fugindo da fome que se alastrava na Europa. Com a chegada dos imigrantes, muitos alimentos foram introduzidos no cardápio do local. Até a chegada dos italianos, não era um costume consumir grande variedade de frutas e verduras. Encontrando quintais com terrenos disponíveis, os italianos que optavam viver nos centros urbanos formavam hortas onde cultivavam hortaliças e legumes não só para o consumo familiar, mas também para a venda. O fubá, por exemplo, era encontrado com facilidade, pois os nativos o utilizavam para fazer angu. Desse modo, os italianos puderam manter aqui o hábito desempregar este derivado do milho na fabricação de polenta e broas. Hábito que não passou despercebido pelos brasileiros, que a viam como um indicativo de identidade dos italianos e passaram também a consumir estes alimentos. O queijo mais caro está na Itália, que é do tipo provolone, é uma peça única, que pesa 90 kg, produzido esporadicamente. Para sua fabricação utiliza-se cerca de 18.000 litros de leite, de excelente procedência. É vendido por um preço exorbitante. Somente depois que os italianos se fixaram no meio urbano que começaram a surgiras padarias. Até então, o pão praticamente não entrava na dieta diária do brasileiro. O macarrão

foi outro alimento que passou a ser mais consumido. Na Itália era tão costumeiro, que inventaram mais de 500 variedades de tipos e formatos de massa. Um importante passo na história deste prato foi a incorporação do tomate em forma de molho para a cobertura da massa. Outros alimentos que migraram para o Brasil com os italianos foram os embutidos, como a tão apreciada mortadela, que surgiu na Itália há mais de dois mil anos, ainda durante o Império Romano. Atualmente, a mortadela é um dos embutidos mais consumidos no Brasil, ultrapassando a marca das 100 mil toneladas anuais. A Itália é considerada o berço da cozinha ocidental. A rica e variada culinária italiana, distinta nas várias regiões do país, influenciou a culinária de praticamente todo o mundo. As pizzas e massas são encontradas em qualquer país. A gastronomia italiana é conhecida pela simplicidade dos seus ingredientes e temperos, mas que, unidos a tradição dentro das casas de mammas e nonnas, dão o sabor especial desta comida adorada por milhares de pessoas. Temperos como o manjericão, o açafrão, o tomilho, o alecrim e ingredientes simples como tomate, berinjela, carnes e peixes, se misturam a uma massa fresca em casa, resultam num belo e vistoso prato. A cozinha italiana é talvez uma das mais ricas do mundo, principalmente no que diz respeito aos ingredientes característicos da cozinha típica e regional. Isso é sem duvida conseqüência dos vários povos que passaram pela península itálica através dos séculos e lá deixaram sua marca com a introdução de novos elementos e alguns pratos hoje apreciados em todo o mundo. Com a construção da nova capital mineira, inúmeros carpinteiros, marceneiros, arquitetos, mestres de obra, dentre outros tiveram seus serviços

requisitados. A maioria destes profissionais eram italianos, e à medida que a construção se realizava, as famílias destes se acomodavam na região, tornando-a seu novo lar. Mesmo anos depois do grande fluxo de imigração, ainda hoje também é possível ver italianos chegando ao país em busca de emprego, como é o caso de MaurizioGallo, italiano, apostou no Brasil e montou seu próprio restaurante italiano, que leva seu nome, localizado na região centro-sul de Belo Horizonte. Maurizio conta que a principal dificuldade para montar o cardápio “era arrumar os produtos. Com isso começamos a plantar o grão, permitindo fazer a massa do pão, a polenta e farinha”. Em Minas, “a gastronomia italiana ocupa o segundo lugar entre os pratos mais pedidos, perdendo apenas para o cardápio mineiro” afirma Maurizio. Ainda de acordo com ele, “os pratos mais pedidos são pizzas e macarrões, devido à utilização de massa caseira”. O valor cultural que é agregado não apenas com a gastronomia, mas em termos mais amplos, valores intelectuais, sociais e históricos. As misturas de culturas não anulam ou oprimem nenhuma das partes, quando é realizada de maneira pacifica e controlada. Unir cultura, agrega valores e nos transporta para terras que não conhecemos, sentindo sabores e aromas desconhecidos, porém sempre lembrados e apreciados. A chegada e fixação dos italianos no Brasil desencadearam um processo de interação entre as cozinhas brasileira e italiana. Da mesma forma que os italianos adotaram hábitos alimentares brasileiros de acordo com a disponibilidade dos alimentos, a maior oferta de gêneros alimentícios italianos e o contato brasileiro com esse novo sabor, levou o Brasil a incorporar pratos típicos da Itália em sua alimentação.

Créditos: www.restaurantemauriziogallo.com.br


06 • Cultura

Editor e diagramador da página: Ruy Viana e Daniel Peixoto

Belo Horizonte, dezembro de 2014

O Ponto

Cartoons com doses de acidez Tirinhas de Pedro Leite têm como proposta rir de si próprio e, ao mesmo tempo, criticar a sociedade moderna com uma ironia que registra sua marca de cartunista na capital mineira Isadora Cardoso Clarice Chacon 2º Período Pedro Grehs Leite é ilustrador e publicitário de Porto Alegre, com 31 anos de idade e tem como projeto de vida o domínio do mundo como cartunista. Bem-humorado, irônico e irreverente, características que tanto descrevem o criador e suas “criaturas”, no caso, Pedro Leite e seus quadrinhos. No ar desde 2013, os “quadrinhos ácidos” são tirinhas publicadas em seu site oficial e também no Facebook, que já possuem mais de 200 mil assinaturas e também já foram indicadas a prêmios nacionais, chegando a ganhar o “30º Troféu Angelo Agostini”. Prêmiação que lhe rendeu uma projeção no mercado de cartoons, que trouxe uma visibilidade de maneira execepcional dentro do cenário mineiro e até mesmo nacional. Mas o que tem de tão especial nestes quadrinhos? Estes não são quadrinhos para quem se ofende facilmente, extremistas políticos, fanáticos religiosos ou fãs do Big Brother. Com uma abordagem realista, e sarcástica, o objetivo principal do projeto é rir de si próprio, abraçando as críticas da sociedade moderna e suas peculiaridades. Além dos quadrinhos disponíveis, na loja online é possível adquirir um “fanzine” com várias tirinhas inéditas da série de quadrinhos ácidos, um verdadeiro presente para quem se interessa pelo trabalho. A palavra fanzine vem da contração da expressão em inglês fanatic magazine, que significa em português revista de fãs. E o que isso significa? Significa que os fanzines são publicações feitas por pessoas e para as pessoas que gostam de um determinado tema em comum, sejam elas amadoras ou profissionais. Pedro então respondeu à algumas perguntas que fizemos, e descreveu como esse mundo de quadrinhos se desenvolveu:

Você sempre teve essa paixão pelo humor e pelo desenho? No colégio eu sempre tive preguiça de desenhar e só quando me formei na faculdade (publicidade) que eu realmente percebi que teria que investir mais na minha carreira como cartunista que deslanchou de uma maneira que não esperava. Como surgiu a ideia da primeira tirinha? Ela surgiu para extravasar o meu sentimento na época. Eu a criei como um teste para ver se o público iria aceitar e, ao perceber que deu muito certo no Facebook, resolvi continuar com esse padrão e criar a série. Suas tirinhas são bem críticas em relação a sociedade. Você já recebeu algum comentário negativo? Como o “Quadrinhos Ácidos” vive nas redes sociais, então eu sempre recebo críticas e elogios diretamente dos leitores. É muito bacana isso, pois, mesmo sendo uma crítica, a gente sabe que é uma maneira de crescer com aquela opinião.

“Eu já esperava que a série iria dar certo por causa do teste anterior. Mas não pensei que seria tanto”

Quem te deu o maior incentivo para a série “Quadrinhos Ácidos”? Eu mesmo. Você imaginava que suas tirinhas fossem fazer tanto sucesso? Como você vê tantas pessoas curtindo a página do Facebook e acompanhando o site? Após o teste de aceitação que eu fiz, eu criei o “Quadrinhos Ácidos”. Eu já esperava que a série iria dar certo por causa do teste anterior. Mas não pensei que seria tanto. Hoje em dia, a série tem mais ou menos 250 mil seguidores no Facebook. Você tem alguma tirinha predileta? Ou que te remeta a uma história engraçada? Eu gosto bastante das que são mais críticas a sociedade como um todo, mas adoro também as de fumantes porque são as tirinhas que deixam o pessoal mais furioso. É tudo muito divertido.


Comportamento  •  07

Editor e diagramador da página: Bruna Oliveira

O Ponto

Belo Horizonte, dezembro de 2014

O normal é ser diferente Diversidade de estilos é cada vez mais aceita em nossa sociedade e continua rompendo barreiras Bruna Oliveira Ingrid Vieira 2º Período Em uma sociedade onde ser diferente está se tornando comum, pessoas vêm colocando à mostra suas distintas características, rompendo barreiras e enfrentando preconceitos. Embora essas pessoas tenham hoje uma maior facilidade de adaptação social, as mesmas deparam-se com dificuldades de ingressar no mercado de trabalho, principalmente em empregos que há contato com o público. Com nove piercings, cinco tatuagens e cabelo colorido Pamela Luciana Batista Gomes, 23 anos, de Belo Horizonte, que trabalha com telemarketing, fala sobre a dificuldade de conseguir um emprego “já passei um mês fazendo cerca de três entrevistas por semana e sempre era recusada por causa da aparência, só passo em telemarketing. Sempre acontece de algum colega de trabalho falar pra eu tirar os piercings porque sou esquisita, porque são feios, mas a maioria acaba aceitando numa boa.” Por ser uma aceitação recente ainda se encontram problemas e Pamela conta a respeito desses desafios. “Se

é emprego de vendedora de loja comum, sapatos, secretaria, recepcionista ou qualquer coisa que tenha contato com o público pessoalmente, eu sou dispensada. Tatuagens são mais aceitáveis, de 2011 pra cá estão sendo mais aceitas em alguns lugares”. Ricardo Goretzka Gissoni, 22 anos, do Rio de Janeiro, super-

“Hoje em dia trabalho no negócio da família e com publicidade, onde muita gente dessa área tem um estilo alternativo com tatuagens, piercings e cabelos multicoloridos.” - Alyssa visor do comitê olímpico brasileiro, ao ser perguntado se já perdeu alguma oportunidade de trabalho por causa do seu estilo, afirma: “Uma vez, eu ia trabalhar em uma empresa que prestava serviços pro órgão

Patrícia Mota quando tinha os cabelos pintados de verde

público não me contrataram por que eu tinha piercings e tinha um estilo diferente eles disseram que eu não era muito sério. Fiquei muito chateado porque eu fiz curso pra poder trabalhar nessa empresa e fui discriminado”. Ricardo e Pamela foram rejeitados devido à aparência, mas também existem exemplos como o de Alyssa Sayuri Tanaka, 22 anos, estudante de publicidade e propaganda e empresária, e Patrícia Mota Baltazar, 23 anos, redatora publicitária, ambas de São Paulo. Alyssa afirma que já perdeu alguns trabalhos como modelo, “porque cabelo com cor e tatuagem acaba dificultando, mas hoje em dia trabalho no negócio da família e com publicidade, onde muita gente dessa área tem um estilo alternativo com tatuagens, piercings e cabelos multicoloridos. Então é bem mais tranquilo”. Patrícia afirmou não sofrer, durante uma entrevista de emprego, alguma forma de preconceito explícito, mas relata que não foi contratada enquanto usava cabelo colorido e piercing no septo, “não me deram motivos, para não me contratar, então não tem como saber se realmente o uso de piercings e o cabelo colorido foi um deles. De qualquer forma, durante a entrevista não fizeram nenhum comentário que me deixasse constrangida. Durante a entrevista que fiz para o meu trabalho atual, também não tive nenhum problema. Minha chefe inclusive ama minhas mudanças de cor de cabelo. Acho que tenho sorte, e a profissão ajuda”. Esses estilos alternativos se tornaram presentes na vida dessas pessoas por diferentes formas, mas algo que elas tiveram em comum foi a influência musical dos cantores e bandas, como disse Letícia Ferreira de 19 anos, aprendiz de Auxiliar Administrativo, de São Paulo: “Bom, curto rock e sempre achei legais os cabelos com cores diferente, tatuagens e

Júlia Braga exibindo a tatuagem que fez aos 18 anos piercings. A inspiração sempre vem das bandas, das músicas, mas também de livros e poetas que admiro.” Além da música, várias pessoas também se inspiram na arte, expondo seu corpo como forma de expressão. Além da aceitação da sociedade, outro assunto debatido é a forma como os familiares lidam com a mudança de estilo. Flávio Henrique Pilla Motta Doimo, 20 anos, de São José do Rio Preto - São Paulo, diz não ter tido problema, em relação aos seus pais, ao começar a usar o alargador. Quanto as tatuagens, Flávio afirma que seus familiares também têm, e que não viram problema algum quando ele decidiu fazer. Já o cabelo colorido foi um problema, segundo ele apesar de ter pintado há muito tempo, seus pais ainda não gostam. Diferentemente de Flávio, Pamela afirma ter tido problemas com os familiares depois que começou a usar cabelos coloridos e piercings sem a autorização de seus avós, com quem ela morava, “meus avós não gostaram muito do cabelo, houve tentativas de me obrigar a mudar e eu não cedi. Já o piercing, o primeiro foi autorizado o restante foi por conta própria, não gostaram, mas o que mais odiaram foi o alargador”. Ingrid Gonzaga, estudante de odontologia, de Contagem,

declarou que depois de ter feito sua primeira tatuagem, seus pais gostaram e decidiram fazer também. Ingrid afirma nunca ter tido problemas em suas escolhas e acredita que seu estilo não influenciará no seu futuro. “Como eu só trabalhei na empresa do meu pai e ele não descrimina ninguém pelo o que os funcionários possuem, eu não tive problema, mas atualmente eu trabalho de modelo e isso me ajuda em vários trabalhos que faço. Na faculdade de odontologia não interfere, ainda mais que fico toda coberta e minhas tatuagens não ficam a mostra, apenas o piercing do nariz as vezes quando não estou de máscara.” Júlia Braga, 27 anos, estudante de jornalismo, diz que sempre quis fazer tatuagens desde seus 13 anos mas que esperou completar 18 anos para decidir e fazer sua tauagem. “Minha avó, que detesta tatuagem, adorou quando viu a minha. Tem que ser uma coisa pensada e programada, e para mim, tem que ser em um lugar que eu não consiga ver o tempo inteiro para não enjoar. Se eu tivesse feito quando eu era mais nova já teria me arrependido muito, já pensei em fazer tanta coisa e em tantos lugares diferentes, sem contar que tatuagem é uma coisa que você vai carregar para o resto da vida.”


08  •  Comportamento

Editor e diagramador da página: Ga

Belo Horizonte, dezembro de 2014

O Po

Cidade dos pássaros

A população de Fortuna de Minas quer ver seus pássaros livres e, para isso, montou uma força terefa que garante a liberdade e a segurança dos animais soltos Marcos Fam Jackeline Oliveira 1º Período

soltar pássaros aqui em Fortuna”, comenta Washington. Mas para que os pássaros continuassem em Fortuna de Minas, diversos alimentadores foram colocados em pontos estratégicos da cidade. A iniciativa também rendeu a Washington diversos prêmios e homenagens como o 1° Lugar no Prêmio Betinho Atitude Cidadã, com o Projeto de Libertação dos Pássaros e o 1° Lugar no Prêmio Hugo Werneck, realizado pela revista Ecológico, na Categoria Destaque Municipal, além de Homenagens na Câmara Municipal de Belo Horizonte e na Câmara Municipal de Fortuna de Minas. O morador conta que tem um imenso orgulho em receber estes prêmios e homenagens. “Receber homenagens é sempre muito bom, pois nos incentiva a cada vez mais abraçar projetos sociais, realmente não esperava que esse Créditos: Jackeline Oliveira

Fortuna de Minas município brasileiro do estado de Minas Gerais, com população estimada em 2.850 habitantes, segundo dados do IBGE, se tornou exemplo de liberdade para pássaros silvestres depois da iniciativa de um morador. Washington Moreira Filho, funcionário dos Correios, olhou para o céu e percebeu que estava faltando algo - os pássaros da pequena cidade que antes vivam soltos. Não satisfeito com a situação o morador resolveu reunir alguns amigos interessados na preservação dos animais da cidade e criou a Associação dos Amigos da Fauna de Fortuna de Minas. “Antigamente, o céu da cidade era cheio de pássaros de várias espécies. O que pretendíamos com esta campanha é que os pássaros voltassem a tornar nossa cidade mais bela. Meu sonho era ver a praça central de Fortuna repleta de pássaros”, conta Washington. O primeiro trabalho da associação foi criar uma campanha para soltar os animais, principalmente dos canários-chapinha, espécie comum na região. Depois disso puderam contar com o apoio do IBAMA, da Polícia Ambiental, e de representantes políticos da cidade, e então, partiram para a segunda parte do projeto que era a soltura dos pássaros. Washington diz que não foi tão fácil convencer os criadores, entre os principais argumentos, lembrava ele aos fortunenses, como o número de pássaros havia diminuído em praças e quintais da cidade. Foi marcada então uma data para soltar os pássaros, e a partir daí, além de não prenderem mais em gaiolas, os antigos criadores viraram fiscais da campanha. “Nós conseguimos conscientizar a população inteira da cidade”, esclarece Washington.

Desta forma, a própria população se encarregou de denunciar os moradores que mantiam pássaros presos. Até mesmo o carpinteiro José de Morais, conhecido como Seu Zé, de 85 anos, que chegou a ter 18 passarinhos presos resolveu libertar as aves que ficavam na antiga oficina usada para fabricar alçapões. “Ninguém quer ficar preso. O canto é bonito. Estou orgulhoso de ter uma vida desse jeito, e eles também. Os passarinhos também querem viver tranquilos”, relata. Só não foram soltos os pássaros que já nasceram em cativeiro. A campanha foi destaque em vários programas de televisão como Jornal Nacional, Globo Repórter e Terra de Minas e serviu de exemplo para outras regiões e cidades. “Depois da divulgação da campanha, pessoas de outras cidades vieram

Washington Filho idealizador do projeto Amigos da Fauna de Fortuna de Minas.


Comportamento  •  09

abriel Capanema e Janderson Silva

onto

Belo Horizonte, dezembro de 2014 Créditos: Jackeline Oliveira

Sem gaiolas, artesãos fazem casinhas de barro sos e levar a ideia adiante. “Tenho certeza que fiz minha parte em prol do futuro, e tenho confiança de que se cada um fizer um pouco, deixaremos um futuro bem melhor

para as futuras gerações. O meio ambiente precisa e muito do nosso trabalho voluntário, afinal ele é prioridade não só do Brasil como do mundo todo.”

Fotos: Jackeline Oliveira

projeto tivesse tanta repercussão, hoje em dia meio ambiente é tudo, e todo e qualquer projeto nesse sentido é sempre bem visto e incentivado pelas pessoas,” comenta. Além do canto dos pássaros, a cidade ganhou uma alternativa de renda com o comércio de casas pré-fabricadas para passarinhos. Um grupo de artesãos passou a construir ninhos para vender. Os canarinhos adoram se hospedar neles. A artesã Elizabeth Ribeiro conta como aprendeu a construir a casinha de joão-de-barro. “Eu fico feliz, sei que estou ajudando a natureza. E isso é muito importante para época que nós estamos vivendo”, explica. Washington conta que já se nota a presença maior dos pássaros pela cidade, principalmente dos canários-chapinha, trinca-ferros e papacapins. “Eles triplicaram. No início a gente ainda deixava comida para atrair os que ficavam em gaiolas e estavam desacostumados a buscar seu alimento, hoje nem é necessário, estão reintegrados à natureza e os filhotes são assim naturalmente”, comemora. Mas o morador não pensa em parar por ai, um dos seus maiores sonhos é poder manter vivo o seu projeto e transformá-lo em uma ONG para que possa captar recur-

As ruas de Fortuna de Minas agora ficam cheias de pássaros.


10  •  Comportamento

Editor e diagramador da página: Júlia Braga, Thaís Costa e Thiago Drummond

Belo Horizonte, dezembro de 2014

O Ponto

Cartilha da voz à diversidade O que, em princípio, era um modo de a designer Carolina Rossetti treinar seus desenhos, transformou-se em um trabalho conhecido mundialmente Maria Clara Gonçalves Renata Andrade 2ºPeríodo

Com simplicidade e buscando a proximidade de um amigo para aconselhar, a mineira Carolina Rossetti, 26, consegue transmitir com suas ilustrações a ideia de que cada um é dono de seu corpo e das suas escolhas. Por meio de cartilhas, que trazem como temas a luta contra o racismo, homofobia, bifibia (aversão a bissexualidade), trasnfobia (aversão a transexuais) opressão contra pessoas com deficiências físicas, entre outros temas, milhares de pessoas recebem informações esclarecedoras pelo Facebook. A artista, que escolheu como personagens as mulheres, afirma, em seu site, que essa escolha foi feita por questões pessoais, motivada por conviver com restrições em seu corpo, que depois de um tempo começaram a incomoda-la. As cartilhas, que são compartilhadas e traduzidas em diversos idiomas na comunidade

“O que torna essas cartilhas mais interessantes, ou não, está dentro de cada pessoa que as lê.’’ Psicóloga Cristiane de Cassia

As cartilhas de Carol Rossetti se inspiram em pessoas reais e conseguem transmitir um sentimento de respeito pelas diferenças

do facebook “Carol Rossetti”, têm 189.586 curtidas de pessoas que se identificam com o trabalho e se sentem representados por já terem passado ou estarem passando por situações semelhantes. Esse é o caso de Emilly Mel, 24, estudante de psicologia, que conheceu a página através de um grupo de pesquisa, que trabalha com a temática de gêneros e diversidades sexual. “Cada desenho apresenta muito bem os preconceitos que existem em nossa sociedade e as frases que os combatem são muito precisas. Me apaixonei quando vi as questões de gênero relacionadas às pessoas trans (transexuais), achei muito fofo os desenhos e me senti representada”, comenta. Elyssa Martins, 20, estudante de jornalismo, afirma que as pessoas não se sentem apenas representadas, mas incluídas em um grupo. “Basicamente é aquela história, eu não estou sozinho nessa. Pelos comentários, é notável que muita gente passa pelas mesmas dificuldades e é mais comum do que parece. Fica mais fácil se aceitar e se sentir preparada para opiniões negativas.” Além disso, por trás das cartilhas há reflexões e informações valiosas. “Me ajudaram a compreender muita coisa e mudar de opinião. Já vi bastante coisa nas cartilhas que eu não conhecia ou sabia que havia um termo para se referir àquilo”, comenta a estudante de jornalismo. O trabalho não atinge somente as mulheres. João Victor Tavares, 18, estudante, está sempre presente nos comentários sobre as cartilhas na rede social. Ele conta que admira o trabalho de Carol, ao transmitir a informação e conscientizar de forma sutil, sem forçar a pessoa a seguir uma ideologia.


Comportamento •  11

Editor e diagramador da página: Júlia Braga, Thaís Costa e Thiago Drummond

O Ponto Tavares conta que já foi criticado pelas leitoras por dar a sua opinião. “Quase sempre sou criticado. Muitas vezes, por ser homem e estar comentando num espaço em que a maioria presente é mulher. Já fui alvo de muito sexíssimo por parte das feministas mais extremas”, explica, mas afirma que isso não o impede de expressar sua opinião. A psicóloga Cristiane de Cassia, 24, afirma que as cartilhas só têm a acrescentar aos leitores, ajudar pessoas que passam por situações parecidas e aumentar a sua autoestima. “É um alívio saber que a sua situação talvez não seja tão complicada de lidar, quando se desconsidera a aversão que vem por parte dos outros.” Para a psicóloga, as cartilhas não só representam os leitores, mas as mais diversas situações que são vivenciadas fora dos padrões e cultura impostas pela sociedade. Ela concorda que as cartilhas têm um trabalho mais amplo que apenas a conscientização dos leitores. “Traz também a questão do respeito ao próximo, não obrigando a aceitar que o outro seja assim, mas, simplesmente, respeitando a escolha ou condição. Cada um deve ser como é.” O modo como as cartilhas são interpretadas pelos leitores, segundo a psicóloga, depende relativamente de cada pessoa, pela sua formação mental, física e espiritual. “Afinal de contas, somos seres que nos comportamos relativamente de acordo com o que vivenciamos em nosso ambiente cultural, cada qual com seus princípios e crenças.” Evandro César, 19, estudante, ao ser apresentado às carti-

Belo Horizonte, dezembro de 2014

A foto de Emíly com o namorado que inspirou a cartilha ao lado lhas, elogiou o trabalho e disse acreditar que, com elas, as pessoas podem aprender a lidar e respeitar com as diferenças. “Mas há algumas coisas que me fizeram questionar, pois, atingem meus princípios cristãos.” As cartilhas não ficam apenas nas redes sociais, as pessoas que se identificam ou têm uma experiência que gostariam de transformar em ilustrações, podem encomenda-las, como Mayra Vinhal, 26, tradutora, que encomendou a tirinha por se sentir representada pelos desenhos. “Quis mostrar para as pessoas, principalmente as trans, que não existe essa obrigatoriedade de se enquadrar nas restrições de um gênero.” Esse também foi o caso de Emilly Mel. Ao conhecer Carolina Rossetti, em uma semana de debates, descreveu o cenário em que vivia e a artista aceitou ilustrar a questão. “Sou uma mulher trans e, muitas vezes, tenho minha identidade desrespeitada. Vivem

Mayra também foi retratada em uma das cartilhas

sempre perguntando se meu namorado é assumido (pensam que ele é gay), porque acham que mulheres trans são homens, ou gays que se vestem de mulher e, na verdade, não é nada disso. Eu sou mulher e pronto. E se sou mulher e estou ficando com um homem, o relacionamento é heterossexual e não homossexual”, explica Emilly. Emilly e Mayra, embora expostas nas redes sociais por meio das ilustrações e seus nomes, afirmam que nunca receberam críticas e que as pessoas as procuram por se sentirem representadas e identificarem com a imagem. “Todas as pessoas que me procuraram foram para me elogiar e me dar força. Achei isso o máximo. Pessoas até mesmo de outros países vieram me elogiar e ninguém me disse nada de ruim”, conta Emilly. Em uma experiência, a psicóloga Cristiane mostrou para as pessoas de seu convívio os trabalhos de Carol Rossetti e se surpreendeu com as reações das pessoas. “É lamentável a forma como a cultura apresenta para seus membros a concepção do que está certo e do que está errado. E mais lamentável

ainda é o fato de essas pessoas não evoluírem com o mundo, não serem abertas às mudanças por temerem o desconhecido. Mas, por mais que alguns de nós sejamos fora destes padrões, todos somos dignos de respeito, independente se aceitamos ou não determinadas condições de vida”. A reportagem do jornal O Ponto, apresentou a cartilha para três jovens para saber suas opiniões. Vaneide Pimenta,18, estudante, identificou-se com a página e acredita que deveriam ser criados mais projetos com esse objetivo e que, através dos desenhos, os leitores podem se livrar de seu medos e preconceitos. “Difundir essa ideia traz autoestima a nós, mulheres, que em geral temos “problemas” com isso. Fora que tem o lado antipreconceito que também é maravilhoso. Juntar esses temas incríveis com ilustrações

é uma maneira espetacular de difundir ideais, de enobrecer o ser humano.” Já Evandro César, teve alguns questionamentos causados pelas suas crenças e espiritualidade, mas afirma que, apesar disso, ficou admirado com o trabalho da designer e vê as ilustrações como um jeito de as pessoas aprenderem a lidar com as diferenças. “Posso dizer que estas tirinhas são uma proposta atraente tanto aos olhos, pelas ilustrações, quanto pela linguagem e profundidade. Além de estar vinculada a um meio de comunicação bastante viável para nós, que são as redes sociais.” Gabriella Amorim, 18, estudante, afirma que os desenhos são uma forma de conscientização de um tema que não é muito abordado e passa despercebido pelas pessoas que julgam sem conhecimento dos fatos. Além disso, a estudante diz que as cartilhas podem ajudar as pessoas que passam por situações parecidas. “Mesmo dizendo que a própria opinião já é suficiente, é sempre bom ver que existem apoios externos.” Para a psicóloga Cristiane, não cabe a ninguém definir o que é melhor para auxiliar ou encorajar uma pessoa a assumir seu problema. “O que torna essas cartilhas mais interessantes, ou não, está dentro de cada pessoa que as lê. Está ligado ao que é óbvio e lógico dentro do entendimento que cada um tem sobre.”


12 • Comportamento

Editor e diagramador da página: Carolina Mercadante, Nadia Schmidt

Belo Horizonte, dezembro de 2014

O Ponto

Como mudar seu humor em

SETE

segundos Vídeos de humor com apenas sete segundos fazem sucesso entre os jovens. Conheça o Vine, um aplicativo que transforma “gente como a gente” em webcelebridades CAMILLA COELHO QUIRINO DANIELLE DIAS 2º E 1º PERÍODO

Lucas Rangel, 17 , é considerado o maior viner do Brasil. Foto: Campanha da Coca-Cola.

Foto: Instagram.

O YouTube sempre foi um dos sites mais procurados quando o assunto é humor e entretenimento. Vários canais têm o intuito de transmitir um conteúdo humorístico diferente do apresentado na televisão, com a vantagem que estar disponível ao público a qualquer hora. Entretanto, os vídeos apresentam uma duração muito longa, incompatível com o tempo das pessoas atualmente, que estão cada vez mais ocupadas e estressadas, vivendo na correria. A criação do aplicativo Vine foi a solução para fazer um humor capaz de se ajustar a pressa do cotidiano. Com vídeos de apenas sete segundos, as pessoas conseguem transmitir conteúdos tão engraçados quanto - ou até mais – os disponibilizados no Youtube. Rápido, eficaz e de fácil acesso, o Vine é destinado a smartphones e aborda assuntos variados como música e dança, embora seu foco seja a comédia. Apesar de conseguir agradar a todas as faixas etárias, é possível notar que o público mais atingido pelo aplicativo é o jovem, já que este se identifica com as situações apresentadas nos pequenos filmes. Dificilmente seria possível descobrir quem foi o primeiro Viner, nome dado ao usuário do aplicativo. Porém, um brasileiro se destaca em meio a tantos viners. Lucas Rangel tem aproximadamente 900 mil seguidores e mais de 242.514.578 ciclos. Em entrevista, ele contou que o aplicativo foi como uma febre. Diversos jovens começaram a produzir os vídeos ao mesmo tempo, fazendo com que a rede, antes, desconhecida, começasse a fazer sucesso. Lucas era apenas um adolescente considerado engraçado pelos amigos, mas nunca pensou que isso seria um dom que chamaria atenção de um mundo antes completamente desconhecido. Sendo o primeiro brasileiro a marcar presença no ranking mundial dos viners, ele afirmou que não tinha conhecimento das proporções que o aplicativo poderia tomar na sua vida: “Comecei sem expectativas e isso foi bom. Com o passar do tempo fui vendo as coisas acontecerem e me surpreendi bastante!”. Com convites para campanhas e propagandas de algumas marcas famosas, como a CocaCola e o aplicativo de encontros Badoo, Lucas passou a ser reconhecido em todos os lugares que frequenta, começou a ser considerado VIP nos ambientes e, com isso, conquistou uma legião de fãs. Quando perguntado sobre como lidar com o assédio que passou a sofrer, ele se mostrou paciente: “Tem que abraçar, dar carinho, afinal, somos ídolos deles, vários se inspiram em mim, então, tem que ter paciência com as

lágrimas e tremedeiras”. Apesar da maturidade para lidar com seus seguidores, Lucas não teve muito tempo para se acostumar com a situação: “Eu entrei no Vine bem no início, então, ele explodiu e peguei a onda boa de estar no aplicativo.” Ele ainda afirmou que conseguir ser famoso, hoje em dia, não é tão fácil como antes. Com a fama instantânea, fica a curiosidade de saber como foi o seu primeiro Vine: “Bom, eu fiz o meu primeiro vídeo com meu priminho de 5 anos. Eu jogava umas notas de dinheiro falsas para o alto. Fiz sem compromisso mesmo. Inclusive, já apaguei. Não gostava muito dele”. Com o tempo, Lucas passou a buscar outras inspirações para que seus vines começassem a realmente fazer sucesso e agradar a diversos públicos. Ele afirmou buscar personagens que possam ser identificados por quem assiste suas pequenas histórias e confessou: “Já ouvi depoimento de vários pais afirmando que liberam meus vines para seus filhos justamente pelo fato do meu humor ser um humor limpo, livre de qualquer conteúdo que possa ser censurado ou inadequado para o público infantil”. A equipe do Jornal O Ponto foi a procura de pessoas que desconheciam a existência e a utilidade do aplicativo, para mostrar a elas uma nova maneira de dar risadas. A entrevistada Luzia Gomes Alves, auxiliar de limpeza, 50, afirmou não saber o que é o Vine, mas quando perguntada, respondeu: “Parece ser uma coisa boa!”. Após mostrarmos um dos vídeos a ela, ela prontamente afirmou: “Eu disse que era uma coisa boa!”. Outras pessoas que se interessam pelo tipo de comédia disponibilizada pelo aplicativo também foram procuradas. Elisete Reis, dona de casa, 49, diz não se interessar pelo humor disponível no YouTube. “Gosto muito dos vines que as minhas filhas me mostram. É um tipo de conteúdo que me agrada muito mais que o disponível em alguns canais na internet”. O aplicativo mostra inúmeras vantagens e não só para quem produz os vídeos, mas para todos que têm acesso a eles. Além de ter o conteúdo abordado de uma maneira inovadora, ele apresenta muita praticidade e vem mostrando eficácia em seu objetivo de alegrar a vida de quem os assiste. Quem diria que seria possível das boas risadas em apenas alguns segundos?

Foto: Instagram @lucasranngel.


Editor e diagramador da página: Thiago Drummond e Júlia Braga

O Ponto

Comportamento• 13 Belo Horizonte, dezembro de 2014

Superação pela dança Através da dança, limites são superados e pessoas com deficiência conseguem vencer suas dificuldades com a ajuda do grupo Araxá Dance Company

Quando acontece algo inesperado na vida de alguém, inclusive com seu corpo ou sua mente, o que fazer? João Alves e Cristiane Borges não se deixaram paralisar diante as dificuldades e optaram pela superação. Como fizeram? Se entregaram à dança. João Candido Alves, aposentado, 47 anos, cadeirante há 10 por um erro médico, foi apresentado à dança por uma professora. “A dança só apareceu na minha vida depois que eu já estava na cadeira, e hoje não vivo mais sem ela”. Sobre os benefícios que a dança inclusiva trouxe para sua vida, João disse que quando está dançando se sente livre. “Meu preparo físico mudou. No começo eu tinha várias limitações físicas que hoje, graças à dança, não tenho mais”, declara. Diferente de João, Cristiane de Oliveira Borges, 35 anos, teve a dança introduzida na sua vida antes de não poder mais andar. Cristiane tinha 27 anos quando sofreu um grave acidente de moto que lhe custou uma das pernas. Conta que a dança a fez não desistir de viver. “Quando perdi uma das pernas cheguei a pensar em dar um fim a minha vida. A dança sempre foi minha paixão, e a ideia de não poder mais dançar foi desesperadora. Foi quando fui apresentada a dança inclusiva e me vi capaz do inimaginável.” “Como qualquer atividade física, a dança é uma das artes que agregam pessoas. Pessoas que antes se isolavam são agora participativas e extrovertidas. Para os portadores de deficiências físicas, a dança é de fato uma inclusão social. É de fato um meio de superação”. Wanêssa Borges, professora, educadora física e idealizadora do grupo de dança Araxá Dance

Fotos cedidas pelo entrevistado João Candido Alves

MARCELLA TELES RUAN NATANIEL 2ºPERÍODO

Espetáculo Flâneur 04/09 (Araxá Dancy Company)

Company conta que a ideia de criar um grupo de dança voltado para atender pessoas com necessidades especiais veio através de sua irmã, portadora de hidrocefalia. “Não haviam atividades voltadas para as deficiências dela na área de lazer e entretenimento, isso me incomodava muito. Então decidi criar um grupo de dança onde ela pudesse se encaixar e se encontrar.” A CIA existe desde 2009, e atualmente conta com 23 bailarinos. Sendo 11 deles cadeirantes. Questionada a respeito dos benefícios que a dança inclusiva traz e trouxe para a vida de seus alunos, Wanessa é categórica: “Os meus alunos são todos exemplos de superação. A evolução de cada um deles é absurda. A melhora na qualidade de vida deles é grande. Eles dormem melhor e alimentam-se melhor. Vencem as suas dificuldades físicas a cada treino. Todos treinam na sua mais alta potencialidade e tem alto rendimento.” A dança inclusiva é voltada especialmente para pessoas que possuem algum tipo de deficiência física ou neuromotora e que, aparentemente, a impediria de praticar este estilo. Ela tem como proposta oferecer a essas pessoas meios que permitam praticar a dança, não visando a limitação, mas sim a capacidade pessoal que todos nós possuímos. Segundo Aline Pyrrho, escritora do blog “maonaroda”, a dança inclusiva traz vários benefícios para estas pessoas, como no caso dos cadeirantes. A prática ajuda a estimular a musculatura, a melhoria cardiorrespiratória, agilidade no manuseio da cadeira de rodas entre outros benefícios. Já para cegos e mudos, a dança permite que construam as suas próprias ideias de tempo e espaço e manutenção de equilíbrio através de seus outros sentidos.


14 •  Tecnologia

Editor e diagramador da página: Carolina Mercadante e Júlia Alves

Belo Horizonte, dezembro de 2014

O Ponto

A guerra pela audiência A televisão aberta vem aos poucos sendo substituída pelos serviços de OnDemand

Lucas Pires 2ºPeríodo A sociedade está cada vez mais inserida na era da globalização o que possibilita as pessoas a se comunicarem com mais facilidade. Com isso, a TV também faz parte dessa realidade e o telespectador que antes não podia interagir com a programação, hoje possui maior controle sobre o conteúdo que vê. Assim, surge o OnDemand, que facilitou o acesso a filmes, séries, programas de televisão e vários conteúdos do entretenimento. De acordo com números do IBOPE, o serviço de OnDemand até 2011 era inexpressivo no Brasil. O IBOPE Nielsen Online apurou que 4,3 milhões de pessoas, em 2012 utilizavam o OnDemand, sendo que 8,5% de todos os internautas brasileiros tinham a assinatura. O VideoOnDemand (VOD), possui pouca abrangência por se tratar de um mercado voltado para internautas e a internet não é acessível a todos. Porém o número de pessoas que contratam o serviço de VOD cresceu no Brasil. De 2011 para 2012 o número de assinantes cresceu 53,6%, já que em 2011 eram 2,8 milhões de assinantes e em 2012 esse número cresceu para 4,3 milhões. O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) mediu índices dos serviços de OnDemand do Netflix, NetMovie, Muu, HBO Go, Telecine Play, iTunes e Crackle. A medição é feita por pessoas selecionas em todo país e com um aplicativo instalado no computador do usuário, esses dados são enviados para o instituto e assim feitos as estatísticas. Segundo dados consolidados do censor, o IBOPE das emissoras de TV aberta está caindo significativamente. Os números a seguir representam a audiência durante todo o ano entre as principais emissoras do Brasil, Globo, Record e SBT. Cada 1 ponto equivale a 217 mil domicílios em todo o país:

Esses números mostram uma queda significativa do IBOPE dessas emissoras, mostrando que o grande público da TV aberta está migrando para a TV paga. Em 2008 eram 21% de brasileiros com acesso a esse meio, e no ano de 2012, esse percentual foi para 40%. Do outro lado da migração para os serviços de internet, o vídeo sob demanda, obteve um acréscimo de 53,6% usuários. Em 2011 eram 2,8 milhões de pessoas utilizando o serviço, e esse número saltou para 4,3 milhões em 2012. O aumento acontece devido à praticidade de remanejo. Tanto as emissoras de sinal aberto, quanto de sinal fechado, estão adotando os serviços de On Demand, pois o acesso é mais prático e pode acontecer em qualquer lugar. Como é o caso das usuárias Clara Barbi e Ana Flávia Saturnino assinantes de On Demand. “Eu prefiro assistir sempre no On Demand, a TV paga por mais que ofereça uma grande variedade de filmes, são sempre os mesmos, se acontece alguma coisa no meio do filme você não consegue pausar”, Ana Flávia fala tam-

bém do horário que tem para assistir a filmes e séries que gosta. “Nem sempre estou em casa nos horários que vão passar na TV, e as vezes estou a toa em algum lugar ai posso assistir.” A estudante e assinante do serviço de On Demand, Fabíola Vasconcelos, fala dos benefícios que o serviço em On Demand pode propiciar ao telespectador. “Fico satisfeita pela qualidade dos filmes e porque sempre tem lançamentos e sucessos de bilheteria. Posso escolher o melhor momento do meu dia pra curtir meus filmes e séries preferidas.” O OnDemand é um sistema novo e com isso, tem problemas a serem resolvidos. Como é o caso de Natália Amaral usuária do Netflix que já teve alguns problemas com o serviço. “Às vezes um episódio de alguma série não é atualizado semanalmente, como é o caso da TV.” O serviço do Netflix e os demais demoram a postar atualizações, devido ao fato de que deve haver a compra e depois a tradução, ou dublagem do filme e da série. Kiko Ferreira, radialista e crítico de música da UFMG, fala dos problemas que o OnDemand pode ocasionar em relação a TV, como é o caso da programação de uma TV, o que o vídeo sob demanda não proporciona, “A impossibilidade do inesperado, do inusitado, da surpresa, elementos que uma boa programação da TV pode trazer ao telespectador, e o OnDemand não”. A migração de telespectadores das emissoras televisivas tradicionais para o VOD está acontecendo em grande escala, os números demonstram essa realidade e o principal motivo continua sendo a possibilidade de pausar e voltar o filme a qualquer momento. Essa força da era da internet é intensificada com a diminuição do uso dos DVDs e Blu-Rays. “Na TV as séries às vezes são atrasadas, os filmes demoram a chegar e às vezes perco algo que quero assistir porque não estou em casa na hora”, declara a usuária Ana Flávia Saturnino que prefere o Netflix a assistir filmes na televisão. Kiko Ferreira acha que essa situação tende a mudar, “A TV a cabo já resolve a questão do horário, repetindo os episódios e os filmes em variados momentos da programação. Já a TV aberta não faz isso. Ela pode adotar, aos poucos, um padrão que a aproxime da TV fechada, como faixas de horário em bloco e algum grau de repetição.” Kiko fala ainda que o brasileiro é favorável a novas tecnologias, por isso é serviço sob demanda tem ficado cada vez mais popular no Brasil. “O brasileiro, como diria um amigo, é atrevido em matéria de tecnologia. Se a tecnologia for acessível, ele certamente vai usar. Principalmente o público mais jovem, que fica ligado 24 horas, sete dias por semana”. O serviço do Netflix oferece programas de televisão, filmes e séries com alta qualidade de imagem (HD) para os assinantes. Para ter acesso ao conteúdo é necessário pagar o serviço básico de R$17,90 mensalmente depois do primeiro mês grátis de uso. O Crackle oferece filmes e programas de televisão gratuitos, porém quando exibidos são interrompidos para anúncios. O Craclke pertence ao canal SONY e possui licença para exibir filmes da Columbia Pictures, TriStar Pictures, ScreenGems, Sony Pictures e programas e televisão do canal Sony. O Hulu Plus é o serviço de OnDemand que custa $7,99, cerca de R$20,4*. Oferece filmes da NBC Universal, New Corporation e Disney. O serviço pode ser acessado em videogames, Apple TV e smartsphones. Os preços dos serviços estão em relação a cotação do dólar no dia 11/11, que valia R$2,55.

O OnDemand tem variedade de canais de filmes e séries


Esporte  •  15

Editor e diagramador da página: Filipe Diniz e Guilherme Antunes

O Ponto

Belo Horizonte, dezembro de 2014

Peneira: o vestibular do futebol Boleiros enfrentam dificuldades semelhantes à um vestibular para se consagrarem no futebol

O sonho dos boleiros começa no terrão da periferia traumático devido ao fato de ter uma base familiar muito forte, e por estarem sempre do meu lado me apoiando e incentivando”, concluiu Lucas. Um sonho realizado, um jovem que tem seu nome gritado pela torcida depois de ter feito um gol do título ou por ter defendido um pênalti. Essa é a realidade dos jovens que ouvem o “sim” na peneira e ingressam nas categorias de base de um clube. Como tudo na vida, existem os dois lados da moeda: o ruim e o bom. Para Thiago Valle, 16 anos, goleiro do juvenil do Atlético-MG, prevaleceu o segundo lado. Na base do clube mineiro desde os 12 anos, com ele aconteceu diferente da maioria dos jovens. Ele jogava no sub-11, no Amigos da Bola (ABA), clube formador de jogadores, e depois

Créditos: Arquivo Pessoal Thiago Vale

Depois da goleada sofrida para a Alemanha, fomos questionados pelo mundo inteiro, se o Brasil ainda forma craques, e se o talento ainda existe. E de onde poderia sair esta renovação do futebol brasileiro? A resposta estaria na volta às raízes, nos campos de várzea, de terra batida, que antigamente era terreno fértil na formação de craques. Porém, a dificuldade desses jogadores em ingressar em clubes de alto nível é ilustrada pelo fato de que entrar em um curso de medicina da USP, o mais procurado no Brasil, é mais fácil que entrar na categoria de base de um grande clube do Brasil. De acordo com reportagem exibida pelo Esporte Espetacular, para entrar na USP, a proporção é de 62 candidatos para uma vaga. No Internacional, de janeiro a setembro foram avaliados 3.914 garotos, e somente 22 aprovados. No Fluminense, foram 4.100 testes, somente 28 aprovados e no Atlético MG, foram 4.000 testados e somente 25 foram aprovados. Nos três casos, os clubes analisaram aproximadamente, 160 candidatos por vaga. Para Lucas da Matta, estudante de direito, a história se assemelhou nos dois maiores clubes de Minas, além do América MG e do São Caetano de São Paulo, de forma negativa. Com 12 anos, Lucas começou

suas tentativas de ingressar em algum clube de futebol. Em alguns clubes foi fazer o teste por recomendação e em outros foi levado pelo empresário, como foi no caso de Cruzeiro e Atlético. Quando perguntado se o amor por seu clube do coração o direcionou na hora do teste, ele revela uma pontinha de emoção: “Relativamente, é lógico que no teste do Cruzeiro o coração bateu mais forte, e foi diferente dos outros sim, mas nada que me impedisse de também fazer testes em rivais e da mesma forma respeitar e continuar em busca do meu sonho”. Muitas das vezes, não é somente a técnica que sobressai. Empresários conseguem contato dentro de clube, o que faz com que garotos que não tenham empresário não consiga passar no teste, e Lucas sentiu isso na pele ao falar da maior dificuldade nos testes: “O que eu mais sentia de dificuldade era a impotência, por muitas vezes estar mais bem preparado e em melhor forma técnica e ver atletas com muito menos a oferecer sendo escolhidos e você ficando, isso com certeza mexia com meu psicológico.” E mesmo que esteja psicologicamente preparado ao receber o “não”, é sempre muito complicado ver o seu sonho acabando naquele momento, saber o que quer e não desistir são palavras chaves na busca pelo sonho “Sabia que seria difícil, e que iria manter atrás do meu sonho na época, mas nunca foi muito

Créditos: Wikimedia Commons

Gabriel Augusto Rafael Diniz 2ºPeríodo

Thiago Valle em jogo pelo juvenil do Atlético-MG

de um amistoso com o Galo foi incorporado ao clube, numa categoria acima. E mesmo que já esteja em um grande clube do futebol brasileiro, o sonho de ir pra Europa, onde se tem os maiores salários e os melhores estádios, ainda fala mais alto sobre o futuro de Thiago no momento. Quando perguntado sobre se preferia o profissional do Atlético ou a Europa: “Penso que essa resposta nunca será definitiva, pois dependendo momento, minha escolha hoje seria ir para a Europa, pois hoje no profissional do Atlético tem o Victor, um excelente goleiro, e não haveria espaço para eu jogar no profissional, daqui a quatro ou cinco anos a resposta pode ser bastante diferente”, reitera o goleiro, que mesmo tendo o sonho inicial de ir pra Europa, ainda sonha vestir a camisa alvinegra. Em relação a empresário, que muitas vezes é fator diferencial pra inserção de jovens em clubes, quando foi perguntado se ele tem empresário que cuida da carreira dele, novamente, o seu caminho foi traçado de modo diferente: “Para chegar ao Atlético, não, mas depois que cheguei, muitos empresários já me abordaram, e a abordagem fica mais intensa à medida que fico mais velho; mas ainda não assinei com nenhum empresário”, conclui Thiago. Quando se fala em futebol, jovens e categorias de base, automaticamente, o empresário está interligado. É uma profissão que apesar de muito criticada, por aliciar e pressionar jogadores contra os clubes, é considerada para mui-

tos, importante, pois hoje, eles mantêm a receita dos clubes, os clubes repassam jogadores e eles compram os direitos econômicos. Em entrevista ao Esporte Espetacular, Wagner Ribeiro, empresário envolvido na venda de jogadores como Neymar e Lucas, relata esse problema crônico: “Os empresários, normalmente, são procurados pelos clubes para venderem seus jogadores, então, quando eles (os clubes), jogam na imprensa que nós queremos levar o garoto, é uma forma de justificar pra torcida, porque, no fundo eles querem vender, em relação aos clubes brasileiros, 99% são deficitários, estão no vermelho, estão “com a corda no pescoço”. Muitos são os aspectos que envolvem o mundo da bola: empresários, clubes, jogadores, mas não se deve perder o foco. A Copa do Mundo no Brasil e a derrota vexatória pra seleção alemã foi o alerta que o futebol brasileiro e os dirigentes precisavam para iniciar a mudança. A Copa de 2018 poderá ser a afirmação se realmente houve investimento e um trabalho sério, e responderá a pergunta que não quer se calar: Como será a Copa de 2018? Quem serão nossos novos craques? Será que está por vir um novo Neymar? As respostas para essas perguntas podem estar nos campos do nosso país aliado a CBF dando suporte com um planejamento, e acima de tudo, voltar o “olhar” a essência do futebol brasileiro, em um caminho que começa nos campinhos de terra, na várzea, cheio de obstáculos, frustrações, decepções, mas um caminho que se bem tratado e estruturado, pode dar frutos.


BELEZA ATRÁS DAS GRADES Marcela Xavier 6º Período “Deus nos deixou ensinamentos: Não roubarás, não matarás, não adulterarás, ame ao próximo como a ti mesmo e cada ser humano peca ou erra de alguma maneira, por isso não devemos julgar o próximo. Alguns erros são condenados pela lei humana, mas nem por isso devemos deixar de amar as pessoas, porque todos merecem uma nova chance.” Foi com esse discurso que a Miss Minas Gerais 2013, Janaina Barcellos, entregou a coroa e a faixa de Miss Prisional 2014, evento que ocorreu no Complexo Penitenciário Estevão Pinto em Novembro deste ano. O Miss Prisional foi um evento que nasceu com o intuito de resgatar a auto estima das mulheres em cumprimento de pena. O concurso de beleza deu às presas a oportunidade de trocar o uniforme vermelho por roupas sociais e de gala, e uma chance de refle-

tir sobre como a vida delas será depois do período encarcerado. Em sua segunda edição, o Miss Prisional contou também com um concurso de Miss Trans, aberto a todas as presas que cumprem pena nos presídios com alas destinadas à população LGBT e que não necessariamente se identificam como homens. Essas detentas ganharam a oportunidade de visitar o presídio feminino para participarem do concurso. Nas celas destinadas à visita íntima, as convidadas oriundas dos presídios de São Joaquim de Bicas e Vespasiano, que têm alas destinadas aos gays, travestis e transexuais, tiveram a oportunidade de se embelezar com a ajuda de diversos profissionais da área, maquiadores, cabelereiros e produtores de moda, que se voluntariaram para tornar o dia ainda mais especial. Apesar de contarem com uma espaço pequeno e cercado de grades, o clima era de festa. Lá, as con-

correntes escolheram seus vestidos, opinaram sobre a maquiagem umas das outras, ensaiaram os passos da passarela, e posaram para fotos em seus vestidos de gala. A situação desse grupo é uma das mais delicadas dentro do sistema carcerário - muitas das presas que cumprem pena hoje nas alas gays passaram antes por presídios masculinos, onde foram vítimas não só do preconceito mas de abusos físicos. Quando uma transexual entra numa cadeia destinada a homens, ela invariavelmente vira propriedade sexual dos presos. muitas chegam a sofrer até 20 estupros diários. Com a oportunidade de participar de um concurso de beleza usando seus nomes sociais e roupas que enfatizam as suas naturezas femininas, as travestis e transexuais não só tiveram a oportunidade de reafirmar as suas identidades como mulheres como também ganharam visiblidade frente à mídia, representantes da OAB, e aos colegas de cárcere.


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Belo Horizonte, ## de ##### de ####


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