Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 16 | Número 100 | Junho de 2016 | Belo Horizonte / MG
Distribuição gratuita
02• Opinião
Editor e diagramador da página: Samara Reis
Belo Horizonte, junho de 2016
O Ponto
SOMOS TÃO JOVENS João Eduardo 1º período O título da música composta por Renato Russo e sua “Legião Urbana” não saiu de minha mente nestes últimos dias. Ao conversar com uma colega ao final da aula, ela exclamou: “O meu maior desejo é sair deste país e começar vida nova longe daqui”, afirmou com voz forte, e ainda repetiu: “Quero ir embora daqui logo!” Qual foi minha reação ao ouvi-la? Um silêncio impactante e triste, de um estudante de jornalismo apaixonado pelo Brasil que não encontra motivos para dizer a uma jovem que permaneça em seu país de origem. Nossa pátria está desacreditada. A operação “Lava Jato”, deflagrada no início de 2014 pelo juiz federal Sérgio Moro prendeu dezenas de políticos e empresários poderosos de nosso país, e descobriu rombos bilionários em empresas estatais do Governo Federal. Nomes de políticos famosos se tornaram alvo das investigações, que levaram à prisão e também a recente cassação de um senador, algo inédito em nossa república. Delcídio do Amaral, que até então era líder do governo do PT no senado, se tornou um dos delatores do partido, acusando a própria presidenta de tentar interferir nas investigações do juiz Moro. A situação da então presidenta Dilma ficou insustentável. O vazamento de um áudio de Dilma foi a “gota d´água” que faltava para o afastamento. Em conversa com o ex-presidente Lula (que ela tentara nomear como Ministro-Chefe da Casa Civil, mas sem sucesso, devido à intervenção feita pelo STF), a presidente disse que mandaria um funcionário do Planalto levar até Lula um decreto de nomeação, para que ele usasse “se fosse
preciso”. Segundo investigações, o decreto de nomeação protegeria Lula caso o juiz Moro ordenasse sua prisão. Sendo ministro, Lula conseguiria foro privilegiado, ou seja, só poderia ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Após o vazamento, a maioria dos analistas políticos já davam como certa a saída da presidente. Uma comissão na Câmara dos Deputados, presidida pelo Deputado Rogério Rosso (PSD) e relatada pelo Deputado Jovair Arantes (PTB), aprovou a admissibilidade do impedimento. No plenário da Câmara, a votação na noite de um domingo foi um espetáculo à parte, promovido pelo então presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB). Na oportunidade, os brasileiros tiveram a oportunidade de conhecer verdadeiramente seus representantes. Um show de horrores midiático e político. Prometendo uma análise crítica e sensata, o presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB), abriu os trabalhos da comissão do impeachment, que teve como presidente o senador Raimundo Lira (PMDB), um veterano na casa e, como relator, o senador Antônio Anastasia (PSDB), tido como um dos homens mais cultos da casa. Com a oposição mandando na comissão, o resultado pró-impeachment era certo. Aprovado na comissão e no plenário do Senado pelo placar de 55 x 22, Dilma teve de se afastar. No discurso de despedida, afirmou que tudo aquilo não passava de um “golpe político e midiático” e que lutaria até o final por seu mandato. Era a vez de Temer. Advogado, 75 anos e por três vezes presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer assumiu o país pregando “a coalizão em torno da retomada do cresci-
mento”. Partidos da então oposição ao PT assumiram a maioria das pastas e deram início ao novo governo, chamado pelos partidos de esquerda de “governo golpista”. Estabilizar as contas do país e controlar a inflação são os principais desafios de Temer, que semana passada já sofreu o primeiro “terremoto” de seu governo. Em outro áudio vazado pela imprensa, o então ministro e homem de confiança do presidente, senador Romero Jucá (PMDB), disse que era necessário “frear” a Lava Jato. E já foi afastado. Agora, já pedem a cassação de seu mandato e até a sua prisão por obstrução à justiça. Leitores, muitas coisas estão por vir... Outro poeta brasileiro, Cazuza, sintetizou em uma estrofe da música “O tempo não para” a realidade atual de nosso país. “Te chamam de ladrão, bicha, maconheiro. Transformam o país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro. A tua piscina tá cheia de ratos. Tuas ideias não correspondem aos fatos. O tempo não para.” O tempo não para, e a hora de pensar um país melhor é agora. Sem partidarismos nem ideologias, sem brigas ferrenhas nem extremismos. Sem dor e nem sofrimento para o nosso povo. Mesmo sendo tão jovens, a esperança do nosso país está nas nossas mãos. Depois de escrever esse artigo, fui a minha colega que decidiu ir embora do país e afirmei: “Você até pode ir embora, mas um dia você volta. Mesmo com todos os problemas. Amamos o Brasil, e nosso coração nunca sai dessa terra.”
Coordenação Editorial Prof. Hugo Teixeira · Jornalismo Impresso Prof. Aurélio Silva · Redação Modelo
DANÇA DOS TÉCNICOS NO FUTEBOL MINEIRO
Logotipo Giovanni Batista Corrêa · Aluno voluntário
Breno Galante 5º Período
O primeiro semestre já foi de mudanças no comando dos maiores times de Minas. Atlético e Cruzeiro não conseguiram chegar ao meio do ano com o mesmo treinador. E terão que reiniciar todo um planejamento já feito no começo do ano. O primeiro a ser demitido foi Deivid após quase cinco meses no comando do time Cruzeiro, com uma campanha marcada por 18 jogos, com 11 vitórias, cinco empates e duas derrotas. Motivo, o time não apresentou um futebol que agradasse e passasse confiança à torcida, não chegou sequer à final do campeonato mineiro. Mas o problema com Deivid já vinha desde o momento em que ele foi efetivado no cargo, a contragosto de boa parte dos conselheiros do time e da torcida, que viam em Deivid um auxiliar técnico jovem e sem experiência ainda para assumir o comando de um time com a grandeza do Cruzeiro. Porém, o presidente Gilvan bancou a ideia e o efetivou no cargo. E, no meu ponto de vista, cometeu um erro que pode ter comprometido todo o ano do time celeste. Deivid realmente se mostrou inexperiente, e também foi cobrado de forma mais voraz por parte da imprensa justamente por ser um treinador jovem e já começar num time do tamanho do Cruzeiro. Pressão essa que foi levada para dentro das quatro linhas e o time não conseguia fazer duas partidas boas, com jogadores alternando bons e maus momentos. Um time totalmente sem regularidade. Como se diz na famosa gíria do futebol, “ o time não deu liga ”. E para resolver o problema, o presidente Gilvan resolveu fazer uma nova aposta, porém, agora, uma aposta
Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora orientadora Daniel Washington · Técnico Lab. Prod. Gráfica Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária
mais concreta, com um treinador europeu, mais experiente, com passagem inclusive pela seleção de Portugal. Mas, assim como Deivid, terá um grande problema pela frente, o imediatismo da torcida cruzeirense. Já pelo lado alvinegro, Diego Aguirre durou um pouco mais de cinco meses. Na verdade, Aguirre não era o nome esperado pela torcida quando foi contratado. O nome era de Muricy Ramalho que acabou indo para o Flamengo. Isso fez com que Aguirre chegasse sob desconfiança da torcida e dos conselheiros do clube. Ele não tem o perfil que todos esperavam e ainda por tem uma ideologia de fazer um “ rodízio ” com jogadores, o que até então nunca havia sido implantado no time. Na sua estreia, Aguirre foi bem e venceu o torneio Florida Cup logo em janeiro, ganhando assim um pouco de paciência por parte da torcida. Reforços chegaram, porém, os resultados dentro de campo não. E o que se via era um time sem conjunto, devido à metodologia de “rodízio”. Raramente repetia um time que ia a campo, e isso foi minando a paciência da torcida e da diretoria do clube. A perda do título do Campeonato Mineiro para o América e a desclassificação da Libertadores da América para o São Paulo foram a gota d’agua para a saída de Aguirre. Ele acabou pedindo para sair antes que fosse demitido, afinal era claro que não existia mais clima para ele dentro do clube. E com isso o Atlético começa a disputa do Brasileirão e da Copa do Brasil com um novo treinador, Marcelo Oliveira e um novo projeto de trabalho. E com a necessidade de alcançar um título ainda esse ano. Resta saber se a torcida e a diretoria darão tempo e paciência a Marcelo Oliveira. Pois terá também que reiniciar um trabalho e o ano terá que recomeçar agora para o Atlético.
Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: jornaloponto@fumec.br Presidente do Conselho de Curadores Prof. Pedro Arthur Victer Reitor da Universidade Fumec Prof. Dr. Fernando de Melo Nogueira Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Técnico Lab. Jornalismo Impresso Luis Filipe Pena Borges de Andrade Monitores de Jornalismo Impresso Samara Reis e Rafael Passos Monitores da Redação Modelo Camilla Quirino e Gabriel Costa
Tiragem desta edição: 2.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
Comportamento • 03
Editor e diagramador da página: Gabriel Costa, Camilla Quirino e Rafael Diniz
O Ponto
Belo Horizonte, junho de 2016
“SE VIRA!” A crise financeira do país chega aos jovens brasileiros, estimulando-os a serem mais independentes e criarem iniciativas de empreendedorismo.
Não só os alunos da FUMEC, mas os jovens como um todo vêm se cadastrando cada vez mais aos trabalhos temporários informais. Isso se deu com a diminuição do contrato de estagiários gerado exatamente pela crise da qual falamos. Inúmeros motoristas do aplicativo Uber (ainda uma novidade no Brasil, “Uber” é uma plataforma digital que oferece serviço de transporte a preços acessíveis) são jovens em busca de renda extra. Diogo Francisco Teixeira, de 29 anos, é um deles e contou um pouco da sua experiência a o “Ponto””. Diogo procurou o Uber exatamente pela falta de estágios na área de Engenharia Mecânica, que vem ocorrendo desde o início da crise. O PONTO- Como foi o processo seletivo para ser admitido como motorista? DIOGO- Não é um processo complicado. Basta se cadastrar, tendo como exigência a carteira de motorista profissional, que vem com observação de que você exerce atividade remunerada; baixar o certificado de cidadão “não criminoso” no site da Polícia Federal e possuir um carro com seguro e pagar o INSS como autônomo. OP- Como você interpreta a crise financeira do país? Ela foi um dos motivos para a busca do trabalho informal? D: Estamos sentindo a crise já faz algum tempo. Os salários de todos os meus amigos vem sendo reduzidos. Eu tento desde 2013 uma vaga de estágio ou emprego na minha área (Engenharia Mecânica). Por isso trabalho no Uber, por nesse momento não haver vagas no meu ramo, devido à crise. OP- Caso consiga se tornar independente financeiramente, qual seu primeiro objetivo? D- Com a situação do país fica difícil fazer planos a curto prazo, mas basicamente tenho o mesmo sonho de todo brasileiro: sair do aluguel e da casa dos meus pais.
com a renda captada pelo alfajor para pagar a mensalidade universitária, colaborar com as despesas em casa, e ainda sobra para as viagens pessoais, que hoje ele paga com seu próprio dinheiro. Ele já conheceu a Suécia, Dinamarca, e Finlândia. Bruna vende seus sanduíches há um mês aproximadamente, mas já vendeu bombons no ano passado. As vendas da estudante já renderam uma viagem, e hoje a renda é destinada à mãe, que investe o dinheiro em cuidados com a avó. Os estudantes definem como “tranquilo” conciliar a venda e os estudos porque eles não produzem os alimentos. O brigadeiro é feito pela amiga de Sofia, e tanto a mãe de André quanto a de Bruna produzem o que os filhos venderão. A futura arquiteta está satisfeita com o que ganha. Segundo ela, há um mês e meio, essa renda tem motivado sua produção. Já o futuro estudante de direito afirma que “a crise tem impedido de investir em
mais tecnologia, para aumentar a produção.” Foi a crise que fez a Bruna passar dos bombons para o sanduíche. O preço do chocolate aumentou e, segundo ela, “todos da sala estavam achando os preços das cantinas abusivos e concordaram com a ideia dos sanduíches.”. Como incentivo, tanto André como Bruna demonstraram o quão prazerosa pode ser essa venda. Para André “O alfajor possibilita a realização de sonhos. E é através da construção do nosso presente que fazemos nosso futuro.”. Com a Bruna a coisa é mais simples, porém muito valiosa : “É pra minha mãe, faço isso pra ajudar ela. Desde que ela parou de trabalhar, fazer esse tipo de coisa dá um retorno financeiro bacana mas também é uma distração. E, para quem não está recebendo nada, chegar em casa e falar que vendi todos os sanduíches traz uma felicidade muito grande. Então eu faço isso por ela mesmo.” .
Fotos: Letícia Gontijo
investidor, criando maneiras de não se prejudicar com a “onda” da recessão econômica presente no Brasil. Não é necessário ir longe para deparar-se com exemplos com. No Centro de Convivência da Universidade Fumec, os alunos são convidados a experimentar os mais diversos sabores de doces, sanduíches naturais, dentre outros alimentos, vendidos para ajudar no pagamento da mensalidade, ou para a realização de desejos. É o caso da estudante de arquitetura Sofia Somerlate Cândido, de 22 anos, do aluno do sétimo período de direito André Marques Braga, 22 anos, e da futura jornalista do 5º período, Bruna Oliveira, 19 anos. Sofia vende brigadeiros gourmet, André optou pelo alfajor e Bruna comercializa sanduíches naturais. Sofia afirmou ter como objetivo das vendas a conquista de uma maior independência em relação aos pais. Já André conta
Fotos: Letícia Gontijo
Os jovens brasileiros vêm cada vez mais buscando estratégias de fuga da crise econômica. Procurando se virarem da melhor maneira possível, muitos deles têm se descoberto novos empreendedores. A fotógrafa brasiliense Maísa Sá,decidiu apostar na venda de alfajor para levantar dinheiro e realizar o sonho de conhecer a Europa. Casos como o dela só têm aumentado à medida que os desdobramentos das dificuldades financeiras chegam com maior força ao bolso da população jovem. Para realização de objetivos, os jovens, em meio a recessão econômica no país, já não podem contar com seus pais. Ao contrario do que afirmava o ex presidente Lula sobre a crise brasileira ser uma “marolinha”, hoje, o brasileiro convive com a queda no PIB, aumento do desemprego e elevação do
preço do dólar .Fatores gerados em sua maioria pela situação de calamidade em que se encontra o país. Se a crise de 2009 teve menor impacto, a de 2015/2016 pode ser chamada de “grande onda” pelos efeitos inúmeros e de difícil reversibilidade que vem gerando ao Brasil. Em meio a essa “onda”, os jovens vêm sendo muito influenciados e alguns começam a “surfar”, dando um jeito de se manterem “de pé” em meio ao desemprego, ou contenção de gastos dos pais ou responsáveis financeiros. O desejo por independência também cresce à medida que tudo fica cada vez mais caro. A realização de sonhos, como viagens, intercâmbios, o primeiro carro, tem ficado cada vez mais longe da realidade dos pais. A vida universitária se torna também um desafio. Mensalidades subindo, material didático, dentre outras despesas. Com tal cenário, a nova geração de brasileiros vem descobrindo seu potencial
Fotos: Letícia Gontijo
Letícia Gontijo 1º Período
04 • Comportamento
Editor e diagramador da página: Camilla Quirino e Rafael Diniz
Belo Horizonte, junho de 2016
O Ponto
Maletta: boemia lendária de BH Erguido na década de 1950, prédio se tornou referência cultural e gatronômica da capital
Fundado em 1957, construído sobre o antigo Grande Hotel, o edifício Arcângelo Maletta, popularmente conhecido apenas como Maletta por seus frequentadores, se destaca cultural e gastronomicamente na cidade de Belo Horizonte. Batizado com o nome de seu fundador, possui uso tanto comercial quando residencial. Localizado entre a Rua da Bahia e a Avenida Augusto de Lima, o Maletta tornou-se um ponto de referência da cidade de Belo Horizonte. Próximo à Imprensa Oficial de Minas Gerais, ao Mercado Central, ao Museu Inimá de Paula e ao Centro de Referência de Moda, visto por fora, mais parece uma grande caixa de sapatos colocada de pé. Porém, para os que se atrevem a passar por uma de suas duas portarias, existe uma infinidade de lugares, serviços, pessoas e histórias. Agregando 1.108 imóveis no total, divididos entre apartamentos residenciais, salas comerciais, lojas e sobreloja, encontram-se desde papelarias, escritórios de advocacia e contabilidade, aos famosos sebos, bares e restaurantes, como o bar Cantina do Lucas, tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural em 1997.
Definido pelo compositor e letrista Fernando Brant como "um lugar de aconchego, para os mineiros universais" é um famoso ponto de encontro de idealistas e pensadores de esquerda, que tiveram como aliado o garçom "Seu Olympio", falecido em 2003, aos 84 anos. Dizem as histórias que "Seu Olympio" (que, curiosamente, entrou para o Guiness Book como o garçom mais antigo da profissão, com mais de 70 anos de serviço), ficou com os dedos curtos de tanto bater na madeira das mesas dizendo "Fascistas não passarão", em referência ao lema dos opositores comunistas ao ditador espanhol Francisco Franco. Riqueza de imagens, sabores e pessoas Desbravar o edifício é uma tarefa desafiadora e, para muitos, prazerosa. Nunca se sabe o que você irá encontrar em seus corredores. Serviços de alfaiataria, barbearia, papelaria, opções de almoço para os mais diversos gostos e bolsos. Subindo a desativada escada rolante, damos de cara com diversas lojas. Entre elas, encontra-se o 7ªArte Maletta, administrado pela estudante de Jornalismo Fernanda Cavalcante. Segundo ela, a proposta da loja é atender o público exigente e diferenciado que ali frequenta. Em seu acervo, obras que vão
desde o soviético “O Encouraçado Potemkin” a “Os Oito Odiados”, último lançamento do diretor americano Quentin Tarantino. A variedade cultural é refletida em todos os estabelecimentos, que vão além dos tradicionais sebos, chamando a atenção dos visitantes, como o estúdio de tatuagens BH Ink, localizado na sacada da Avenida Augusto de Lima, e a Real Vandal, loja de graffiti de Louise Líbero. “Aqui tem muita diversidade cultural. Nós somos uma loja exclusiva. Às vezes as pessoas que vêm ao Maletta procurando livros e discos acabam conhecendo a loja, o spray e o graffiti. É legal estar em contato com outras pessoas, de outras culturas”, afirma Louise. Entre os personagens que pode-se encontrar, está Sebastão do Nascimento, há aproximadamente 15 anos no local. Sempre trabalhou com discos de vinil e viu no Maletta a oportunidade de unir o ofício com a música e a arte. Mais conhecido como “Tião”, é proprietário de um dos sebos mais tradicionais e completos do edifício. Para ele, trabalhar ali é poder fazer o que gosta após muitos anos de trabalho. Sobre o público, Tião diz que o ambiente “é eclético, quem frequenta vai desde advogados, juízes, deputados, estudantes e professores a vagabundos e
‘maloqueiros’. Aqui é um espaço muito democrático”. Para ele, o espaço mudou ao longo das décadas. Dos anos de 1960 até a metade dos anos 70, a maioria dos estabelecimentos era formada por bares, que depois foram substituídos pelos sebos, e agora está havendo a retomada dos bares no edifício. Com muito bom humor, Nascimento conta uma das inúmeras (e inusitadas) histórias ocorridas no Maletta. Certa vez, devido ao atraso de um voo do Rio de Janeiro para Belo Horizonte, sua loja não abriu e espalhou-se o boato de que ele havia morrido. “Ligaram pra minha irmã, perguntando para ela quando seria o meu enterro e ela veio ‘igual doida’ pra cá, sem saber de nada. Eu cheguei e o dono do bar que frequento aqui disse que iria fechar o bar. Ele nem fez almoço no dia e depois chegou a processar o porteiro que informou com toda veemência que eu havia falecido!”. À noite o prédio ganha ares diferentes. Sebos e lojas dão lugar a bares e cafés, recebendo pessoas das mais diversas religiões, sexualidades, profissões, raças e posicionamentos políticos. Entre as inúmeras opções encontradas, escondido entre os corredores, está o Las Chicas Vegan. Criado pela chef Gabi Andrade e o bodypiercer Marcos Cabelo, surgiu como uma opção saudável, “que não seja elitista, com preço acessí-
vel e comida boa”, como pontua Gabi. O espaço é conhecido pelo empoderamento feminino, comprometimento com a política de inclusão e respeito LGBT e estilo de vida saudável, uma vez que encontramos comida orgânica e bicicletário para os clientes. Outro detalhe que chama a atenção é a boa convivência entre os bares e restaurantes. Segundo Gabi, o Maletta “é uma comunidade”, imperando a cooperação e ajuda entre eles. Cozinheira e sócia-proprietária do Nine Lounge Bar, Silvane Peixoto diz que “estamos aqui já faz anos e a cada dia a gente aprende mais, e além da variedade gastronômica, cada um busca seu espaço respeitando e ajudando uns aos outros. Somos uma família. Tem comida para todos os gostos e bolsos. É um prazer enorme trabalhar aqui”. Subversivo, criativo e pulsante, o Maletta segue firme e forte. Em seus quase sessenta anos viu personalidades como Fernando Sabino, integrantes do Clube da Esquina, artistas, poetas, pensadores, políticos e pessoas comuns entrarem e saírem por suas portas. Foi testemunha de mudanças, manifestações e criações. Após quase cair em esquecimento, se revitalizou e reinventou, cravando de vez um lugar no mapa cultural e gastronômico de Belo Horizonte.
Fotos: Guilherme Aroeira
Bárbara Crepaldi Bruna Alvarenga Guilherme Aroeira 3º Período
Editor e diagramador da página: Camilla Quirino e Rafael Diniz
Comportamento • 05
O Ponto
Belo Horizonte, junho de 2016
Fotos: Guilherme Aroeira
Fotos: Guilherme Aroeira
Fotos: Guilherme Aroeira
A escada que nunca rolou A escada rolante que dá acesso do hall às sobrelojas, curiosamente, foi a primeira instalada na cidade de Belo Horizonte. Funcionários e lojistas mais antigos dizem que pessoas vinham do interior, até em excursões, apenas para conhecer a novidade. Ironicamente, segundo alguns relatos, a escada funcionou apenas em seus primeiros anos, permanecendo desativada até os dias de hoje.
Fotos: Guilherme Aroeira
06 • Comportamento
Editor e diagramador da página: Camilla Quirino
Belo Horizonte, junho de 2016
O Ponto
Com uma estrutura de boate comum, ônibus realiza festas temáticas, fazendo um tour nas noites de BH
Boate Bus em uma das paradas do percurso
Carol Castilho Lidiane Martins Stace Keller 3° Período Esqueça a antiga ideia de que é você quem tem que ir até a balada, agora é a balada que vai até você. A mais recente atração de Belo Horizonte é a Boate Bus, um ônibus em que as festas acontecem lá dentro, mas com um número restrito de participantes, já que a capacidade do ônibus é de 42 pessoas e é preciso garantir segurança para seus clientes. A Boate Bus promove festas particulares em que o cliente escolhe o tema. Dentre as festas já feitas, estão despedidas de solteiro, festas de 15 anos, aniversários infantis e até festas de formatura. O motorista Andreani Marcio Xavier, de 46 anos, diz que
Noite de festa na BoateBus
os próprios clientes escolhem o percurso, mas geralmente o ônibus passa na região dos bares, faz uma parada na Praça do Papa ou na Praça da Liberdade ou na igrejinha da Pampulha, sempre parando em algum ponto turístico, fugindo assim da forma convencional ao proporcionar um divertimento com diversas opções de paisagens. Além de poderem escolher o trajeto, os contratantes também podem escolher o tema das músicas: “Nós temos várias músicas, de vários temas. Quando conversamos com o contratante, perguntamos se tem alguma música que é muito importante pra ela, pra já chegarem com uma música especial” diz o gerente e barman Marcelo Yuri, de 21 anos. De acordo com o empresário Felippe Augusto, de 22 anos, a ideia da Boate Bus teve origem graças à empresa de ônibus que
ele já tinha anteriormente, a FelippeTur Transportes, e, por meio dessa empresa, faziam viagens para shows e eventos. Assim resolveram ligar o transporte com as festas, a partir daí tiveram a ideia de um projeto diferente para BH, que batizaram de Boate Bus. Foram 11 meses até que colocaram a Boate Bus oficialmente nas ruas, e agora já estão preparando o segundo ônibus. A primeira divulgação de impacto foi quando lançaram o ônibus a partir de uma matéria na televisão feita pela Record: “A partir dessa reportagem começamos a fechar alguns eventos, divulgamos pelas redes sociais, e mais gente foi procurando, e depois saiu uma matéria na Rede Globo também, que deu uma impulsionada, e de lá pra cá a maioria dos nossos clientes vem pela qualidade do serviço, e
também pela propaganda “boca a boca”, disse Felippe. A empresa FelippeTur é em Belo Horizonte, mas também está disponível para atender outras cidades. Segundo o gerente Marcelo, já foram atendidos clientes de cidades como Conselheiro Lafaiete, Lagoa Santa, e quase toda região Metropolitana. A opção de levar a Boate Bus para outros estados ainda é uma proposta difícil, já que aqui em Belo Horizonte esta é a única empresa oficial que faz esse tipo de festa e “em outros estados, como, por exemplo, São Paulo e Rio de janeiro já têm outras empresas de ônibus boate, então abrir em outros lugares que já tenha concorrência é arriscado”, acrescenta o gerente. Em Belo Horizonte já existiu outra empresa, mas o ônibus não tinha documentação, era
um ônibus improvisado, com cadeiras de ônibus normal e com uma caixa de som apenas. De acordo com Felippe, a boate bus “é realmente uma boate dentro do ônibus, com uma iluminação mais legal, um sistema de som bacana, ar condicionado, barman, brindes”. Essa pode ser uma boa saída em meio à crise, tanto para a empresa quanto para as pessoas que querem fazer comemorações em grande estilo sem gastar muito. Segundo o proprietário, uma pessoa que ia fazer uma festa em um sítio ou em um salão de festas, só para alugar o lugar é um preço muito alto. “Aqui no ônibus o custobenefício da festa é muito bom, por exemplo, se um contratante iria gastar 15.000 reais em uma festa de 15 anos, aqui ele contrata uma festa de 3.000 e sai satisfeito”, destaca.
Gerente Marcelo preparando os últimos detalhes da festa
Comportamento • 07
Editor e diagramador da página: Gabriel Costa e Samara Reis
O Ponto
Belo Horizonte, junho de 2016
DIVERSIDADE DE L
KS
A liberdade para ser o que quer vem acompanhada de criticas e exclusão por parte de uma sociedade presa a padrões de beleza DÉBORA ZILAH ANDRADE 3º PERÍODO Nos tempos atuais, as pessoas têm mais liberdade para ser o que querem, porém as decisões tomadas em relação ao estilo e ao caminho que escolheram seguir nem sempre são aceitas na sociedade padronizada que vivemos. Somos livres para ser o que quisermos, porém as críticas e o não aceitamento acompanham tal liberdade. Piercings, tatuagens, cabelos
coloridos, side cuts, roupas bastante diferentes das que estão na moda,estilos de vida são formas de se expressar, complementam a personalidade da pessoa e são como uma afirmação da autoestima. Podemos citar as agências de modelo brasileiras como um exemplo do padrão idealizado pela sociedade e pela mídia. Agências com cara europeia – magras, altas, brancas, loiras. Porém, elas não representam o que o Brasil realmente é: uma
mistura cultural. As agências apagam a individualidade do(a) modelo(a) porque têm esse padrão europeu a seguir. Todavia, nasceu a primeira agência de moda do Brasil que reúne um time de modelos fora do padrão, a Squad Agency. Em entrevisa ao VICE, Thais Mendes e Patrícia Veneziano (responsáveis por esse projeto) contam um pouco sobre essa agênica. “As pessoas estão cansadas do mercado apontando o dedo e dizendo o que está errado
com elas. Todos os movimentos culturais, sociais e políticos que arrebataram 2015 não me deixam mentir. As pessoas não só querem ser aceitas como são, elas querem ser valorizadas. A gente quer mostrar um outro lado do Brasil pouco conhecido lá fora, que é extremamente cool e sexy e não tem nada a ver com futebol e samba e top models ‘normais’”. Atualmente, temos um time de 50 modelos que escolhemos a dedo, mas vamos dobrar até o mês que vem.”
A Squad Agency não foi lançada oficialmente ainda, mas já estão abertos para negócios. O lançamento oficial se dará durante o próximo SPFW.
Encontre a Squad nas redes: https://www.instagram.com/squadbrazil/ http://squad.agency/
Eduardo Eu já tenho uma aparência considerada fora do padrão, desde que comecei a construir minha identidade a partir de meus interesses pessoais. Sempre gostei de ter um visual diferente. Convivo em ciclos sociais nos quais as pessoas não costumam ter opiniões muito negativas perante meu cabelo.. Na rua percebo constantes olhares arrogantes e grosseiros, no entanto, também percebo olhares positivos e recebo elogios. Frequentemente passam carros buzinando e mexendo comigo, não fico chateado, acho engraçado até. As mulheres que conseguem se libertar dos padrões de beleza sem dúvida são as que mais me chamam atenção, com cabelos curtos, coloridos, blacks, todas maravilhosas com seus jeitinhos únicos e peculiares de suas aparências. Pra que sermos recatados e do lar se vivemos só uma vez,e a vida ainda passa rápido? Recatados e do lar são aqueles que se deixam no conforto, vendo a vida passar pela janela, seguindo um padrão “normal” para pessoas “normais”. Não nasci pra isso.
Bruna Um estilo não padrão implica, naturalmente, ideais não padrões. Com isso, reafirma-se a ideia que a forma de se vestir e comportar varia de acordo com pensamentos que oscilam entre política, apreciação de artes e filosofias. Talvez seja por isso que o comportamento estético e a forma de se vestir sejam tão julgados entre integrantes de uma mesma sociedade. Dentro do meu convívio, percebo muitas diferenças entre minha aceitação por parte dos outros, sendo que, dentro da família, a princípio tradicional mineira, recebo vários comentários maldosos e preconceituosos, ainda mais dos familiares mais velhos. A rua é maldosa e ruim com os pretos e com aqueles que seguem ideias de esquerda ou anarco, com os adeptos ao hip-hop, com as mulheres que se empoderaram. Seja de short curto ou calças longas e largas, a rua te julga e te cobra uma postura “recatada e do lar”. Um decote fere as ideias tradicionais da rua. Independentemente disso me mantenho fiel aos meus conceitos e minha forma de vestir, ao que me confere minha autenticidade e, posso dizer, minha milícia em razão dos preconceituosos.
Haylander Eu sempre tive apego com o cabelo. Naquela fase da adolescência que você vai se descobrindo eu soube que gostava muito de rock e decidi ter o cabelo grande. No começo eu não podia por causa do trabalho. Comecei a deixar o cabelo crescer depois dos 17 anos e desde então eu nunca mais cortei. Então ele cresceu, tive franja, cortei e fiz um moicano, tinha piercings, alargadores e tatuagens. Hoje estou com mais tatuagens e menos piercings e fiz dreads no cabelo que estão batendo abaixo da cintura. Recebo vários olhares tortos. E atualmente no meu trabalho lido só com pessoas engravatadas e a galera acha que eu não lavo o cabelo, já me perguntaram se eu tiro para dormir, se é aplique, se é cabelo dos outros, já me chamaram de “cabelo de saco” na cabeça, mas eu não estou nem aí porque eu me amo do jeito que eu sou, minha família me ama e me aceita como eu sou e se eles me respeitam é o que importa. Eu sou isso, vou morrer assim, não me importo com o que pensam. O que eu amo é quebrar o paradigma da cabeça das pessoas relativo ao estilo, porque eles que são esquisitos, eles que são diferentes, porque nunca vi pessoa que se julga tão culta e que se vangloria. Uma pessoa assim tem a visão de 90 graus e eu tenho uma amplitude de visão bem maior que a deles, porque eu sinto e vejo tudo, e eles veem rótulos.
Stefanie Eu mudo demais, não consigo me colocar como padronizada hora nenhuma em nada. Desde criança o padrão comum não me atraía, eu sentia necessidade de ser diferente. O meu estilo de vida define o que eu gosto, sobre o que eu quero pra mim. Teve uma época que eu cheguei a ter 9 piercings no rosto. E eu gosto disso, vejo isso como arte, seja piercing, tatuagem ou cabelo. Fazer essas coisas eleva muito a minha autoestima, por me diferenciar do padrão que a sociedade impõe. O fato de não ser parecida com ninguém, ser autêntica, ser eu, isso me eleva. Raspei minha cabeça com 15 anos, e o que as pessoas mais associam ao motivo de uma mulher raspar a cabeça é a opção sexual que, no caso, pensam que ela virou homossexual. As pessoas rotulam bastante pela roupa também. Às vezes me perguntam se eu sou roqueira. Gosto de rock, mas eu me recuso a pertencer só a esse grupo, a me limitar só a ele. O preconceito que enfrentamos é muito grande. Primeiro que todo mundo acha você louco se não se encaixa em padrão nenhum. Foi o tempo em que eu achava que isso era pejorativo, não ligo mais para isso. Não culpo as pessoas por serem assim porque elas são direcionadas a se encaixarem em um padrão o tempo todo, mas uma coisa que me incomoda muito é o assédio por ser um estilo bem diferente de mulher, chega a ser nojento.
08 • Memória
Editor e diagramador da página: Camilla Quirino e Gabriel Costa
Belo Horizonte, junho de 2016
O Ponto
Para parabenizar O Ponto pela sua centésima edição, a equipe do jornal laboratório se reuniu para esta matéria comemorativa
Mito e espetáculo A morte de João Paulo segundo foi um prato cheio para a imprensa. A imagem de sofrimento do pontífice foi superexplorada e, mais uma vez, armou-se o espetáculo da mídia sobre um grande mito
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A dura rotina dos jovens brasileiros que tentam conciliar aula e trabalho, um enclave na conclusão universitária.
o ponto
Violência nas universidades Japão no Brasil
Especialistas discutem o comportamento das instituições de ensino diante do aumento de ocorrências policiais em suas dependências. pa [ ]
O Brasil, com o maior contigente de imigrantes japoneses no mundo, celebra a chegada do navio Kasato Maru em Santos há 100 anos.
2008
Má arbitragem
Droga sintética
A não regulamentação da profissão é apontada como uma das principais causas da questionavél qualidade dos árbitros do futebol brasileiro.
Mostra Felco Brasil, 1808
Apreensões
Metrô: melhoria para o trânsito de Belo Horizonte
63% desses casos estão na região sudeste
2/3 dessas pessoas estão na África
443 mil casos da doença no Brasil “Ilusões Perdidas”: visão pessimista do jornalismo
O ponto da redação O jornal laboratório inicia outra fase, com novo formato gráfico e editorial
38,6 milhões de pessoas infectadas no mundo
30 anos
e ainda sem cura
Mercados sob ameaça
Surge um novo cidadão: o jornalista
NOVO PROJETO GRÁFICO Pelos ares
Era uma vez no jornalismo esportivo Comentaristas falam sobre as mudanças na cobertura, a falta de investigação no esporte e a relação do jornalista com o torcedor
À moda antiga
Belo Horizonte à deriva musical
Em busca da origem do universo
Nos bastidores do Alto Falante
Negritude à flor da pele
desafiador e transformador, já que o considero como espaço fundamental para pensar, enxergar e praticar o jornalismo para além dos moldes engessados, conservadores e retrógrados que a grande mídia nos coloca.”. O jornalista nos contou um pouco sobre seu livro que foi seu TCC baseado no jornal laboratório “A publicação escrita em parceria com a Renata Quintão é uma tentativa de se sistematizar um exercício crítico de jornalismo laboratorial em todas as suas etapas: da pauta à edição. Propõe, inclusive, ações práticas para estudantes de jornalismo na produção do jornal, com exemplos de pautas e reportagens que vão em direções contrárias à abordagem e enfoque convencionais da mídia tradicional. “. Para todos que passaram pelo jornal, fica evidente que o objetivo dele sempre foi e vai continuar sendo enriquecer os alunos de experiências que possam ser um diferencial, oferecendo a oportunidade para que os alunos evoluam com a prática. O Ponto não é apenas um jornal informativo, é um veículo que busca estar sempre com assuntos atuais, instigando a discussão desses temas que são de interesse da sociedade. Faz com que o leitor extrapole o senso comum, auxiliando na formação de uma opinião crítica sobre as questões abordadas.
2014
os gastos com remédios importados são cerca de U$ 960 milhões por ano
Poesia com novos sabores
o ponto
Em busca de qualificação
Aids: trinta anos sem cura Diagnosticada como “câncer gay” no início da década de 1980, a história da síndrome de imunodeficiência é anterior e se confunde com a miséria humana
2009 A DS
2005
Universidades inseguras Ocorrências policias aumentam nas universidades e procuram a sociedade
o ponto
2007
Comércio popular afeta comércio formal
Em meio a tantas conquistas, o jornal O Ponto conseguiu mais uma, a publicação de sua centésima edição. Essa data não poderia passar em branco principalmente para a redação que trabalha com muita força de vontade para que o jornal seja sempre um espelho dos alunos do curso de Jornalismo. Sua história, iniciada no ano de 1999 com a sua criação, está marcada por inúmeras mudanças de logomarca, modificações gráficas, alguns coordenadores e três prêmios. O primeiro destes foi em 2005, quando O Ponto recebeu o título de melhor jornal laboratório do Brasil pela Pesquisa Experimental de Comunicação (Expocom). Em 2006 vieram mais duas vitórias, o jornal foi eleito o melhor jornal experimental de Minas Gerais e também da América Latina, levando o Troféu Pão de Queijo de Notícias (PQN) e uma medalha da ExpocoSUR pela sua notoriedade. Além de tudo isso, também já serviu como fornecimento indireto de pauta para um programa do canal Rede Minas. Em busca de saber um pouco mais sobre essa trajetória, a equipe atual do jornal O Ponto foi em busca de ex-monitores que pudessem expressar um pouco de como foi trabalhar nesse jornal laboratório. Tiago Nagib foi monitor e descreve
de fevereiro de 2009. Ela abordava o cotidiano e a história de vida de alguns personagens que trabalhavam como malabaristas no sinal de trânsito ou em apresentações pela cidade. Foi muito interessante conhecer um pouco mais dessas pessoas que, muitas vezes, passam despercebidas e não têm seu trabalho artístico reconhecido.”. Outro jornalista que também fez parte dessa equipe foi Rafael Werkema. “Fazer parte da equipe de O Ponto foi uma experiência incrível, essencial para minha formação não só profissional, mas pessoal também. Participei das mais diversas esferas de aprendizado que o jornal laboratório oferece, como a pauta, a reportagem, a fotografia, a produção gráfica, a edição, até chegar à monitoria.” Além de demonstrar gratidão por ter feito parte dessa história, o exmonitor destaca também que o objetivo do curso de jornalismo foi sempre formar profissionais de comunicação com conteúdo crítico, capazes de questionar e transformar a realidade, “Pensar e fazer o jornalismo nesse sentido crítico é se contrapor à lógica da notícia como mercadoria.”. Rafael Werkema também demonstra sua felicidade por ter feito parte de O Ponto quanto este recebeu os prêmios de 2005 e 2006. Ele finaliza reforçando a ideia de que o jornal não tem uma função meramente informativa. “Estar em O Ponto foi
que fez parte da redação entre os anos de 2008 e 2009. “Foi um período de grande aprendizado e muitas experiências que ainda trago na lembrança com um “quê” de nostalgia”. Ela também comentou sobre o seu crescimento devido ao contato com o jornal e como isso auxiliou em sua carreira profissional: “Esse estágio em O Ponto foi a primeira oportunidade que tive de trabalhar na área de jornalismo e foi muito importante para o meudesenvolvimento profissional e meu amadurecimento como pessoa. Sinto orgulho de fazer parte da história de O Ponto!”. Em meio ao seu depoimento, Bárbara relatou uma história que viveu como monitora do jornal laboratório “Já na minha primeira semana como monitora, fiz parte da equipe que cobriu o caso de uma menina que foi atingida por uma bala dentro da UNI-BH, disparada por um ex-namorado. Chegamos ao local poucas horas depois do crime ter acontecido e havia muitos outros repórteres, fotógrafos, uma movimentação intensa, o que me deu uma adrenalina e me fez cair a ficha de que aquela experiência como repórter era para valer!”. Ela destaca a matéria que mais marcou sua passagem: “Algumas matérias que escrevi e que ajudei a produzir ficaram na memória. Dentre elas, destaco a reportagem “O palco é o sinal – o sinal é o palco”, da edição nº 72,
um pouco sobre sua experiência: Na minha época foi uma curtição ajudar a fazer o jornal. Devo muito a dois professores excelentes que tive aí na Fumec, Ana Paola Valente e Leovergildo Leal”. Ele também relatou alguns casos que viveu com seus amigos de monitoria e que marcaram sua época: “Muitas vezes eu e meu colega de monitoria Daniel Gallagher ficávamos, à época da edição até quase meia noite na redação fazendo a edição final. Muitas vezes éramos expulsos pelos seguranças da Fumec, éramos as duas últimas almas a sair do jornal. Tínhamos de sair na Kombi e ajudar a entregar os exemplares”. Sobre a diagramação, ele afirma ter se inspirado em alguns jornais como no antigo jornal carioca Jornal doBrasil, o jornal Le Monde, El Paris de Montevideu, JN de Lisboa e Clarin, esses são só alguns nomes citados pelo jornalista que afirma que tais veículos o auxiliaram muito para que criasse suas páginas. E finaliza: “A experiência em O Ponto foi gratificante, foi muito bom conhecer melhor os colegas de distintos períodos do curso de jornalismo e também serviu de alicerce para futuros trabalhos que tive em jornais e revistas”. Outra ex-monitora que também nos contou um pouco de sua experiência no jornal é a jornalista Bárbara Rodrigues
A caminho da Irlanda... Brasileiros buscam melhores condições de vida
Da Redação
Política esportiva é negligenciada
2012
Coliseu do Futebol O ambiente que é feito para apoiar o esporte se torna local de confusão e tragédias
Memória • 09
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O Ponto
Belo Horizonte, junho de 2016
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O Ponto foi o meu primeiro contato com o jornalismo. Tudo que eu via em sala de aula eu podia colocar em prática, sabe? É uma relação tipo de primeiro amor... Foi naquela redação que vivi meus primeiros perrengues, meus primeiros suspiros de orgulho e minha primeira equipe. Foi ali que eu floresci pro jornalismo! Os professores colocavam a sementinha em sala de aula, e na redação Aurélio e Ana Paola regavam, assim eu floresci. Depois eu sai pro mundo, preparada para viver fora da estufa, do laboratório... Mas o ponto é meu primeiro amor, é minha referência! Metáforas à parte, eu sou muito grata ao Ponto, aos professores orientadores, aos técnicos... Eu comecei a exercer o jornalismo naquele lugar, eu amadureci e eu aprendi a ser profissional. O Ponto foi meu pontapé... O pontapé com mais carinho que já recebi!
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Amanda Magalhães
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Ter passado pela monitoria me abriu diversas portas, além dos meus olhos, claro. É lá que você pratica jornalismo ainda que resguardado. O tempo em que estive na presença da professora Ana Paola Amorim e Aurélio José Silva foi quando comecei a de fato aprender sobre jornalismo, a fazer jornalismo. Os detalhes que chamam a atenção para um bom profissional, as tarefas designadas que não dependem unicamente de você, a divisão de tarefas, o comprometimento com o seu trabalho e o trabalho dos outros estudantes. A crítica, a clareza, o cuidado com a informação. Escrever, editar, diagramar, fotografar. Compor uma página; não esquecer da legenda; créditos. De onde você pegou esta foto? O lead está no final da página! As diversas histórias, paixões; os autores e seus livros sobre jornalismo. Os jargões. Me pediram para criar uma identidade visual para a página de crônicas. No final saiu. A Ana adorou. Esse dia jamais vai sair da memória. Me sinto seguro por alguém um dia ter acreditado no meu trabalho. Janderson Silva
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Foi uma experiência muito enriquecedora, principalmente para o meu crescimento profissional. Na monitoria aprendi coisas que muitas vezes não aprendemos na sala de aula. Agradeço sempre aos meus professores Aurélio e Ana Paola que me deram essa oportunidade tão importante para o meu currículo! Jackeline Oliveira
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10 • Cultura
Editor e diagramador da página: Camilla Quirino e Gabriel Costa
Belo Horizonte, junho de 2016
O Ponto
Histórias de mulheres que, de alguma forma, estão envolvidas com a arte e relatam experiências e vivencias dentro de um campo majoritariamente masculino. Ana Júlia Ramos 3º período A história da arte se mistura com a história do próprio homem. Ela está presente desde os primórdios da humanidade e permanece viva até hoje. Uma dessas questões, porém, foi apresentada ao mundo muito tarde: a presença feminina na arte. O debate só começou a ser feito de fato na década de 1970 e deu visibilidade a um assunto que, ao ser cada vez mais investigado e estudado, traz à tona um grande problema: o preconceito existente no mundo das artes. Carla Ramos tem 45 anos e é artista plástica recém-formada pela Escola Guignard da Universidade Estadual de Minas Gerais. Carla conta que sempre foi alvo de preconceito, fato que a fez esperar vinte anos até iniciar os estudos em uma Universidade. “Sofri discriminação não só por ser mulher, mas também por utilizar de técnicas que normalmente são ensinadas às meninas. Utilizei o pouco que aprendi do bordado em minha infância, associei a diversas técnicas artísti-
Foto: Alisson Macedo
cas para compor meu trabalho e para ensinar e escutei de um colega que “aquela coisinha do bordado” era coisa de mulher e ainda contestou o meu trabalho”. Atualmente Carla trabalha com educação artística em uma escola privada de Belo Horizonte, mas não deixou a criação de lado. Além de pintura, Carla produz esculturas, realizou instalações e trabalhos fotográficos. “Sou privilegiada hoje por viver da arte”, enfatiza Carla ao destacar que hoje em dia viver de fato da arte é algo muito difícil e desafiador. Desafio que não impede mulheres de enfrentarem o cenário. Carolina Mazzini também é artista plástica e trabalha na Casagravada Ateliê & Escola de Gravura. Localizado no bairro Floresta, o ateliê tem como objetivo criar um espaço coletivo para a produção e a propagação das artes de gravar e imprimir e é extremamente elogiado pelos frequentadores. Assim como Carla, Carolina passou por outras áreas até seguir de fato seu sonho junto à arte. “Desde pequena eu já gostava de desenhar, colar, pintar, criar, fazer meus brinquedos e
roupinhas para minhas bonecas, usar a imaginação”. O tempo foi passando e Carolina, após iniciar e largar um curso na UFMG por causa de sua timidez, formou-se em Turismo. Porém, um ano depois de largar a carreira e se dedicar à confecção de velas artesanais, ela finalmente decidiu se graduar em Artes Plásticas. E foi na Universidade que ela se descobriu como grande gravadora. “Fui picada pelo bichinho da gravura em metal e tive um mestre maravilhoso, que foi de grande inspiração e incentivo ao desenvolvimento do meu trabalho autoral. Hoje em dia sou uma gravadora apaixonada e dedicada, com alguns trabalhos em aquarela também, que iniciei devido à necessidade de aprender uma técnica de gravura, chamada lavis, que se assemelha à aguada de naquim”. Atualmente em seu campo de trabalho, Carolina também consegue perceber diferença de tratamento e de estereótipos envolvendo mulheres, dessa vez por se tratar de uma área “majoritariamente masculina”. Ela afirma que “no meio da gravura, por exemplo, é comum nós mulheres sermos tidas como
toscas, de temperamento forte, quase homens. É um ambiente bem masculino, mesmo tendo atualmente várias mulheres gravadoras e com trabalhos muito competentes”. Essa discriminação tem início lá atrás, ainda no século XIX. As mulheres não eram permitidas a frequentar academias de arte. Aquelas que desejavam seguir a carreira tinham que trabalhar em ateliês próprios que acabavam tendo que ser financiado pelas famílias, ou em pouquíssimas academias particulares. Foi no meio desse contexto que a escultora Camille Claudel estava inserida. Nascida em 1864 em uma pequena cidade francesa, começou a esculpir obras de arte desde cedo. Convicto do talento da filha, o pai de Camille juntou toda a família e foram em direção a Paris. Lá, ela iniciou seus estudos em outra academia e conheceu o famoso Auguste Rodin – seu mestre e, posteriormente, amante. Camille foi certo tipo de marco na história feminina da arte já que depois dela várias outras mulheres começaram a ser aceitas na Escola de Belas
Artes. Porém, um fator importantíssimo e decisivo era o preconceito e falta de reconhecimento que as mulheres sofriam. Claudel foi um exemplo disso, já que suas obras foram completamente ignoradas e, após a morte de seu pai e perda de seu amante, foi levada para um hospital psiquiátrico onde morreu 30 anos depois. O cenário era de completa depressão, esquecimento e nenhum contato com a arte nessas três décadas. O quadro somente começou a mudar no Brasil apenas 41 anos depois, na Semana de Arte Moderna, com a importantíssima e destacada presença de Tarsila do Amaral e Anita Malfati. A história de Camille pode ser usada como representação da forma que mulheres passam despercebidas na história da arte enquanto homens da mesma época ganham fama, reconhecimento e são eternizados. O mestre e amante de Camille é o famoso Auguste Rodin. A mesmo acontece com Frida Kahlo, que mesmo ganhando reconhecimento universal sempre foi associada à imagem de seu marido Diego Rivera.
Cultura • 11
Editor e diagramador da página: Camilla Quirino e Gabriel Costa
O Ponto
Belo Horizonte, junho de 2016
Outro exemplo de inclusão das mulheres no campo das artes foi a criação do “National Museum Of Women In The Arts” (Museu Nacional das Mulheres nas Artes em tradução livre). É um museu localizado em Washington/EUA e é o primeiro e único espaço dedicado exclusivamente para obras de arte e trabalhos de mulheres. Os fundadores do NMWA, Wilhelmina Cole Holladay e Wallace F. Holladay, começaram a colecionar arte nos anos 1960 justamente quando acadêmicos e historiadores de arte estavam começando a discutir a sub-representação de mulheres e grupos étnicos/raciais em acervos de museus e exibições de arte. Entre os primeiros a aplicar essa abordagem revisionista, os Holladays comprometeram-se por mais de 20 anos juntando artes feitas por mulheres. Em 1980 Whilelmina começou a dedicar sua energia e recursos na criação de um museu que mostraria apenas mulheres artistas, e a coleção dos Holladay tornou-se o núcleo da coleção permanente da instituição. O “Museu Nacional das Mulheres nas Artes” foi incorporado no mês de novembro de 1981, sendo um museu privado e sem fins lucrativos. Durante seus primeiros cinco anos, o NMWA operou se baseando em escritórios temporários com visitas guiadas à residência dos Holladay – assim como exibições especiais também eram realizadas. Em 1983 o museu comprou um espaço em Washington próximo à Casa Branca e reformou todo o espaço que antes era um templo Maçom. Na primavera de 1987 o museu abriu as portas de sua locação permanente com a exibição de inauguração, chamada Artistas Americanas, 1830-1930 (tradução livre) contando com a curadoria de uma das Foto: Carla Ramos
principais historiadoras feministas dos Estados Unidos – Dra. Eleanor Tufts. Em entrevista para o O Ponto, a curadora do museu Virginia Treanor destaca a importância de um espaço prioritário para a arte feminina. “É importante para demonstrar que existem grandes mulheres artistas e que exposições inteiras e museus podem lutar e ir contra o cânon dessa arte predominantemente branca e masculina”.
MARINA ABRAMOVIC: Nascida na Iugoslávia, Marina ficou conhecida por realizar performances fortes sempre envolvendo rituais e experimentos envolvendo o corpo. Ao decidir terminar sua relação com o também artista Ulay, em 1988, mais uma performance foi idealizada. Cada um percorreu 2000km em 9 dias para se encontrarem na muralha da China e se despedirem um do outro, colocando um fim no relacionamento. Eles só se encontraram novamente 20 anos depois, em outra performance realizada no MoMa. EVA HESSE: A Alemã crescida em Nova York é conhecida como uma das artistas mais inovadoras e influentes da década de 1960. O “mito Eva Hesse” foi criado após a divulgação de seus diários, tornados públicos após a morte dela. Histórias trágicas de dentro da família, um casamento falido, seu estado físicomental e a influência de Adolf Hitler em suas obras de arte foram pontos que ajudaram a compreender os mais diversos trabalhos da artista. LYGIA CLARK: Lygia, nascida em Belo Horizonte, foi uma artista consagrada mundialmente. Sempre à frente de seu tempo, a artista usava sua arte como forma de análise crítica das mais diversas situações ocorridas na época. Em 1968, Clark representou o Brasil na Bienal de Veneza com sua instalação denominada A Casa é o corpo. Penetração, ovulação, germiFoto: Ana Julia Ramos
nação, expulsão.
12 • Cultura
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Belo Horizonte, junho de 2016
O Ponto
O Cine Belas Artes e a possível extinção do cinema de rua em Belo Horizonte Lucas Chalub Alexandre Cunha 3°Período Patrimônio do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais, o Cine Belas Artes é o ultimo cinema de rua presente em Belo Horizonte. A capital mineira já teve outras casas cinematográficas, como, por exemplo, o Cine Brasil na Praça Sete de Setembro, Cine Eldorado no Prado, Cine Odeon, localizado na Floresta, dentre outros. Todos fecharam e o Belas é o único restante, desde 2012, com o fechamento definitivo do Cineclube Savassi. O espaço alternativo e cultural opta por passar filmes e documentários independentes, com distribuição limitada. Tém um público que busca uma obra alternativa que só pode ser encontrada lá. Essa é a principal diferença do Belas sobre os outros cinemas. Os cinemas localizados em shoppings passam apenas filmes blockbusters (filmes hollywoodianos de altíssimo orçamento) e não dão espaço aos filmes de arte, que são prioridade no Cine Belas Artes. Esse foi um dos temas levantados em entrevista com o ex-dono do Belas, que era responsável corpo administrativo e finan-
ceiro do lugar, Pedro Olivotto: “A responsabilidade do Belas é a vanguarda, é exibir aquilo que só o Belas exibiria, senão ninguém exibe”. Um exemplo disso é a história contada por ele a respeito de lançar o filme “Shame” no cinema: “Quando eu lancei (o filme) Shame, o Brasil inteiro bateu em mim. Diziam: você tá louco, cara? Vai levar seu cinema à falência! Eu falei: Não interessa, se eu não exibir ninguém exibira em Belo Horizonte. Eu exibi, explodiu e virou um sucesso. Depois São Paulo exibiu, depois foi exibido no Rio de Janeiro e também em Recife. Enfim, é algo que você precisa estar atento constantemente, viver para isso. Eu vou para Cannes, por exemplo, e assisto cerca de 51 filmes em 10 dias.”, diz Pedro. Mas esse cinema está próximo de seguir o caminho dos outros cinemas de rua que existiam em Belo Horizonte e ter que fechar as portas. Isso porque ele está atualmente sem patrocínio, sem o qual é impossível manter um cinema de rua. Olivotto, que define o Belas como mais do que um projeto de cinema, um projeto de vida, aponta como o cinema funciona: “O Cine Belas Artes vive de um tripé: o balcão de negócios, que é a bilheteria, para a qual é preciso ter uma
boa programação dos filmes que estão passando nos grandes festivais internacionais; os conexos, como, por exemplo, uma livraria (afinada, com filmografia, exibição, etc.), um café, uma loja de souvenir, entre outros; e por fim o patrocínio. Não existe cinema de repertório no mundo sem patrocínio”. Pedro Olivotto comentou também sobre a dificuldade de conseguir patrocínios: “Belo Horizonte tem essa coisa, uma classe média ostensiva, que só está voltada pro consumo. É a cidade que mais multiplica o número de shoppings no Brasil. Então nós não temos realmente uma estrutura em Belo Horizonte que nos garanta um convencimento para um eventual patrocinador. Eu acho que o Belas Artes pode ser salvo por uma ação de amigos ou alguma associação. Esse é o último cinema de repertório de rua privado de Belo Horizonte e está em vias de sofrer um colapso por não ter patrocinador. A meu ver, é o cúmulo da perda...”, afirma Olivotto. Por fim, o ex-dono do estabelecimento conta o motivo de deixar o Belas e como está a administração atual: “Como eu não conseguia patrocínio, tive que jogar a toalha. Não conseguia trabalhar, não conseguia
sobreviver, não conseguia ter minha vida própria. Tudo era voltado para o cinema, 24 horas por dia vendo esse cinema. Eu vendi pro Adhemar Oliveira, que é o nosso guia do cine clubismo no Brasil. Se o Adhemar não conseguir patrocínio, ninguém consegue. O Adhemar tem 114 salas no Brasil, quer dizer, se um cara desses que tá em São Paulo e tem 114 salas, que é meu amigo há 25 anos, não conseguir, ninguém conseguirá”, conclui Pedro.
“O Belas é um cinema que tem como responsabilidade a alfabetização do olhar”
Pedro Olivotto
Várias pessoas amam e frequentam o Cine Belas Artes. Uma delas é a jornalista Silvana. Tendo um grande afeto pelo lugar, a jornalista difere o Belas dos demais por ser “um espaço na cidade em que se pode ver filmes não comerciais, produção não hollywoodianas, e sim, filmes brasileiros independentes”. Silvana gosta e acha o espaço charmoso, devido à presença do café e livraria, fazendo
com que ao ir assistir a um filme seja ainda mais agradável. No final da entrevista a jornalista se expressou sobre um possível fechamento do estabelecimento: “Será uma tragédia se o Belas Artes fechar assim como foi o fechamento do Usina. É o último cinema de rua em Belo Horizonte e espaço importantíssimo de resistência. O lugar histórico tem papel relevante na luta contra a ditadura militar nos anos 60 e 70, para depois se transformar num local que privilegia o cinema de arte”, conclui Silvana. Outro personagem que tem afeto com o Cine Belas Artes é o poeta Sergio Fantini. O mais importante para o poeta em relação Belas Artes, é o fato de o cinema ser o único que ainda se preocupa com a programação cultural: “ O Belas é diferente dos demais por causa de sua programação de caráter artístico e não comercial; não estar dentro de um shopping. Opto sempre por assistir filmes que escapem do circuito comercial, de preferência não norte-americanos.” Sergio também se posiciona sobre o possível fim do Cine Belas Artes: “Belo Horizonte irá perder uma ótima opção de lazer cultural, a única ligada ao cinema”, conclui o poeta.
Polícia • 13
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O Ponto
Belo Horizonte, junho de 2016
JUVENTUDE INTERROMPIDA Segundo a Secretaria do Estado de Defesa Social (SEDS), foram registrados 1.601 casos de homicídio consumado em Minas Gerais no ano de 2015 Ana Luíza Lima Juliana Puttini Marcela Duarte 3º Período Quinta-feira. Dia 7 de abril de 2016. Cristiano saiu para se divertir com os amigos sem saber que a volta para casa nunca viria. Na madrugada do dia 8 de abril, o estudante de Direito da Universidade Fumec foi brutalmente assassinado em uma briga na porta da boate Havanna, localizada no bairro Novo Eldorado, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O tumulto teve início por volta das 4h30 da manhã, quando, de acordo com o que disse uma testemunha à Polícia Militar, Cristiano saiu da boate e notou que algumas pessoas queriam agredi-lo. Um amigo de Cristiano, presente no momento em que a confusão começou, disse à polícia que tentou separar a briga, mas também foi agredido. Quando a PM chegou ao local, Cristiano já estava morto. De acordo com o site da Secretaria do Estado de Defesa Social (SEDS), só no ano de 2015 ,em Belo Horizonte e Região Metropolitana, foram registrados 1.606 homicídios consumados. Em 2016, o registro até abril, foi de 578 casos. Entre 18 a 25 anos foram consumados 1.601 homicídios. Só entre janeiro e abril do ano passado já haviam
sido efetuados 578 homicídios. Os dados mostram que a taxa de criminalidade em Belo Horizonte e Região Metropolitana vem crescendo cada dia mais. Crimes como o que pós fim a vida de Cristiano estão cada dia mais comuns por todo o Brasil. No mês de abril, quando o jovem foi assassinado, o número de homicídios foi de 147 casos, mostrando uma média elevada de assassinatos no Estado. Na madrugada do dia 29 de abril, mais um jovem foi assassinado na porta de uma boate, desta vez na Região Oeste de Belo Horizonte. De acordo com o jornal Estado de Minas, a briga teve inicio dentro da casa noturna, onde um grupo de jovens que estava em um camarote mais elevado, jogou bebida na direção de outros jovens que estavam abaixo. Esse fato deixou um dos jovens, identificado pela Policia Militar como Paulo Filipe da Silva Gonçalves, bastante irritado, então iniciou-se uma discussão com a vitima, Guilherme dos Santos Alves. Em seguida, o suspeito saiu da boate e buscou em seu veículo uma arma calibre 38, aguardando a saída do grupo de jovens rival. Guilherme, ao sair, foi atingido por quatro tiros e morreu na hora. Paulo Filipe foi preso em flagrante. Em conversa com o jornalista de editoria policial da rádio Itatiaia, Renato Rios Neto, ele
Renato Rios, jornalista da editoria policial da Rádio Itatiaia.
conta sobre o dia a dia do jornalismo policial. “Uma das nossas principais fontes é a Polícia Militar. Ligamos na sala de imprensa da polícia que é uma sala específica para nos atender. Quando entramos em contato com a polícia, perguntamos se há alguma nova ocorrência, e, ao sermos informados que sim, nos deslocamos para o local. Outra fonte é a Polícia Civil, que sempre faz a apresentação dos casos. Eles chamam toda a imprensa e contam como foi determinada ocorrência”, diz Renato. O apresentador e repórter do programa Itatiaia Patrulha conta que, para ser um repórter policial, não se pode contar muito com a rotina. “Varia muito do dia a dia. Por exemplo, o caso do Cristiano aconteceu de madrugada. A também repórter Amanda foi no local de manhã bem cedo e ainda na primeira matéria não tinha conhecimento que eram policiais que tinham cometido o crime. Na parte da tarde surgiu essa informação, dobramos a equipe e nos dividimos para pegar todas as informações, tanto na polícia quanto no local.” A irmã de Cris, Anna Caroline Palmera, concedeu uma entrevista via whatsapp ao Jornal O Ponto, e desabafou ao dizer que a família está fazendo o que é possível em busca de justiça. “Nós estamos tentando fazer
pressão pública pra ver se conseguimos adiantar as coisas, e não deixar com que as pessoas esqueçam do que aconteceu com meu irmão, não deixar que a história dele tenha apenas os famosos 15 minutos de fama. Estamos indo atrás de tudo o que nos é possível para que seja feita a justiça.” As investigações apontam
“Ele era um menino muito tranquilo; para mim, ele sempre será um menino. Essa calma que eu tenho, que a mãe dele tinha, foi passada para ele. E passamos para todos vocês.” Álvaro Nascimento, pai de Cristiano que o assassinato foi cometido por três homens, sendo dois policiais, que estão presos e aguardando julgamento. O terceiro suspeito está foragido. Em um depoimento emocionante, Anna Caroline deixa uma mensagem em que mostra a sua indignação. “Acho que todos devem procurar justiça por aqueles que amam, e também
pelo próximo. Por exemplo, se a justiça for feita pelo meu irmão, quer dizer que o mundo ficou um pouco melhor e que os três covardes que fizeram tamanha atrocidade com o Cris não poderão fazer com outras pessoas. Infelizmente foi o meu irmão, mas poderia ter sido qualquer um. Dois dos que mataram meu irmão eram policiais, ambos já com um histórico agressivo, se já tivessem tomado de maneira efetiva o que era certo antes, eles já estariam exonerados e presos, talvez o Cris nunca os tivesse “conhecido” e talvez eu não precisaria te dar essa entrevista, talvez ele estivesse vivo, vendo suas bobagens na TV agora. É isso que quero falar para as pessoas, a omissão também é fazer parte daquele erro, não se calem, não deixem com que possa existir outro Cristiano, que outra família sinta a dor que nós sentimos agora”, diz. No dia 10 de maio, como ato de solidariedade, amigos, parentes e professores prestaram uma homenagem na Universidade FUMEC, onde Cris estudava. O intuito central da homenagem for a justiça. Foi feito em nome dele um diploma de conclusão de curso como se ele ainda fizesse parte de sua turma. Emocionados, professores e amigos falaram da saudade e da revolta com a injustiça e brutalidade de sua morte.
Alunos, amigos e familiares prestam homenagem a Cristiano na Universidade Fumec
14 • Saúde
Editor e diagramador da página: Camilla Quirino
Belo Horizonte, junho de 2016
O Ponto
RAIO X DO SUS Com diversas funcionalidades, o Sistema Único de Saúde (SUS) apresenta métodos satisfatórios assim como falhas que, para o bem da sociedade, devem ser reparadas. Rachel Silveira Sara Lacerda 3º Período Segundo a médica e consultora em gestão de sistemas de saúde, Maria Emi, o SUS é um sistema de saúde público instituído a partir de 1988, pela Constituição Federal, que tem como princípios: garantir o acesso a toda a população brasileira aos serviços de saúde, priorizar aqueles que tem maiores dificuldades ou problemas e garantir a atenção integral aos cidadãos em seus três diferentes setores de atenção. “O SUS funciona como uma rede de atenção à saúde e tem como objetivo prestar atenção à saúde da pessoa, no lugar certo, no tempo certo, com o cuidado certo, qualidade e custo certo.” O sistema se dá por meio de pontos de atuações, cada rede
de atenção apresenta componentes específicos. Na rede de atenção básica as urgências, o primeiro atendimento é a Atenção Primária à Saúde, momento em que o paciente tem o primeiro contato com o médico e pode ou não seguir para as UPAs, por meio do SAMU. “Desde sua implantação, na década de 80, muitas mudanças ocorreram nas condições sociais e econômicas e no estilo de vida da população que proporcionou algumas melhorias no sistema ao longo dos anos. No presente, temos uma queda da natalidade, um aumento da expectativa de vida, com consequente aumento do número de idosos. Quanto maior o envelhecimento da população [...], maior demanda para o sistema de saúde,” afirma Maria Emi. Porém, ao mesmo passo em que houve uma queda no número
A Atenção Primária à Saúde, apresenta atendimento resolutivo às urgências de menor gravidade e encaminha com segurança os pacientes de maior gravidade
de morte de idosos, o SUS ainda apresenta inúmeros problemas, como nas epidemiologias, mortes infantis e maternas, doenças infecciosas, aumento de pessoas com condições crônicas como diabetes e hipertensão e o fato de cerca de 70% da demanda das UPAs serem de acidentes com urgências de baixa gravidade, que deveriam ser atendidos na Atenção Primária de Saúde. Maria Emi acredita ainda que a crise econômica terá forte influência no cenário do SUS daqui pra frente “Vivemos uma crise social e econômica, que na saúde tem reflexos significativos. Com a perda do poder econômico, possivelmente, mais pessoas acometidas por transtornos demandarão o sistema de saúde, acrescidos daqueles que perderam acesso aos planos de saúde.” A explicação para isso é de que os mate-
APS
riais médicos, assim como os medicamentos, sofrem com o aumento do dólar e, portanto, tem um reajuste de preço maior e o financiamento dos serviços de saúde não tem os reajustes nos mesmos patamares. As soluções para os problemas que o SUS enfrenta atualmente, de acordo com a médica e consultora, devem ser: mudar o modelo de atenção à saúde, que agora deve ser voltado para as condições crônicas; a organização do sistema de saúde, que deve ser integrado e organizado com redes de atenção a saúde; e, por último, deve ser alterada a gestão do sistema de saúde, que deve ser voltada para as necessidades da população para garantia de melhores resultados. Alguns municípios e estados já iniciaram essas mudanças, porém, por causa da crise vivida no país, o processo de
transformação tem sido muito lento. “Os fatores críticos para estas inovações são: a decisão do gestor, o compartilhamento, a qualificação dos profissionais e equipe de saúde, a comunicação e a educação em saúde para a população,” afirma Emi. “Além disso, é preciso que cada cidadão tenha maior participação em seu próprio cuidado, com consequentes mudanças no seu estilo de vida, sendo algumas destas: alimentação mais saudável, atividades físicas regulares, sono adequado, prática de sexo seguro, uso racional de medicamentos e direção defensiva no trânsito,” acrescenta a consultora. “A grande revolução do sistema de saúde ocorrerá quando o cerne da discussão for a agregação de valor para os cidadãos.” (Maria Emi cita Michel Porter.)
O SAMU deve garantir o atedimento de urgência ao cidadão, e, se necessário, transportá-lo de forma segura para o serviço adequado à resolução do problema
Os pacientes classificados com urgência de menor e de moderada gravidade deverão ser atendidos na Unidade de Pronto Atendimento
A Instituição de Cooperação Intermunicipal do Médio Paraopeba – i.Cismep, é um consórcio de municípios que propicia o atendimento em várias especialidades para toda a população, solucionando problemas como a alta demanda, que, sozinhos os municípios não conseguem resolver. Seu diferencial está na boa gestão. Destina quase que a totalidade dos recursos na prestação de serviços, gerando um alto volume de produção e reduzindo as filas de espera. O consórcio que atende as necessidades da população de 27 municípios é formado por três unidades, sendo estas: A unidade Toninho Resende, em Betim, que é a maior e realiza todas as consultas e exames; a unidade Bloco Cirúrgico, localizada no quinto andar do hospital regional de Betim e que realiza cerca de 700 cirurgias por mês; além da unidade Brumadinho, responsável pelas mamografias. Em entrevista com a assessora de comunicação do i.Cismep, Cláudia Machado, é possível notar grande diferença entre programas do SUS, mostrando comouma boa gestão pode influenciar no funcionamento de todo o consórcio de hospitais, proporcionando mais qualidade de atendimento para os usuários e a satisfação dos profissionais. A qualidade do consórcio i.Cismep é reconhecida pela população que o utiliza. Após uma pesquisa realizada no ano de 2015, foi apontado que 86% dos usuários estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a prestação de serviços e 90% confiam na equipe médica. Além disso, Cláudia ainda afirma que é comum as pessoas fazerem elogios espontâneos aos médicos e demais membros da equipe.
l Hospita l Regiona
UPA
O SUS que funciona
O Hospital Regional deve garantir resolubilidade para os pacientes em situação de maior gravidade
Entretenimento • 15
Editor e diagramador da página: Camilla Quirino e Samara Reis
O Ponto
Belo Horizonte, junho de 2016
Programa de auditório produzido na Universidade FUMEC teve como tema a diversidade cultural ANA CAROLINA ANGOTTI, MARINA FERNANDES PEDRO CASTRO 3º PERÍODO No dia 18 de maio, no auditório Phoenix, ocorreu o FuMIX, um programa de auditório organizado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda que reuniu diversas atrações com o tema diversi-
dade de vida, de gosto, de jeito, de aparência e de opinião. O programa contou com a presença de alguns convidados especiais, como a banda Lagum que vem ganhando os palcos de BH com seu estilo indefinido, como o vocalista da banda Pedro Calais disse em nossa entrevista. “Nossas músicas podem ser interpretadas de várias maneiras, e existe
axé e músicas afro descendentes e estreou em 2016 seu Bloco de Carnaval de rua em BH, a drag queen Safira Dandelion que se apresenta há quase dois anos, Rafael Barros e Gisela Siqueira, dois representantes de movimentos de ocupação do espaço público de Belo Horizonte. Além disso, tivemos a apresentação do karaokê nipo-nordestino, que convi-
bastante diversidade entre elas. Então deixamos a definição de um estilo para quem ouve, já que não adianta dizermos que é algo se a pessoa que ouve pode entender de outra forma. Além de ser divertido ver como as pessoas interpretam nossos sentimentos.” Teve também a participação do grupo Roda de Timbau que encanta o público ao som de
dou alguns alunos da Universidade a participarem de uma competição super divertida. Aconteceu também um concurso de bambolê e contou com a presença da jurada Gisela Siqueira, que dá aulas de bambolê, e dos alunos que tiveram a disposição e atitude de “rebolar’’. O vencedor do concurso levou pra casa um bambolê profissional.
Alunos do 3º período de Jornalismo produzem fotos que ilustram a crença na religião
Foto: Ana Carolina Gotti e Marina Fernandes
Foto: Ana Julia e Ana Luiza
Foto: Juliana Puttini e Marcela Duarte
Foto: Carolina Castilho
Foto: Sara Lacerda e Rachel Silveira
16 • Esportes
Editor e diagramador da página: Gabriel Costa e Rafael Passos
Belo Horizonte, junho de 2016
O Ponto
Em busca de novos conceitos Clubes brasileiros são atraídos por uma onda no mercado futebolístico de contratar técnicos de um outro país, mesmo tendo que lidar com a desconfiança dos cartolas e das torcidas
Quando falamos de técnicos de futebol no Brasil, sempre pensamos naquele rodízio monótono que estamos acostumados: os famosos “medalhões” que os clubes procuram por terem um nome forte no mercado e uma história dentro do futebol brasileiro, tentando assim convencer a torcida que estão fazendo uma boa aposta. Esse pensamento vem mudando e os clubes estão cada dia mais procurando técnicos do exterior, com novas ideias, além de um outro estilo de enxergar o futebol. Recentemente o Cru-
zeiro, após uma tentativa fracassada com o técnico Deivid de Souza e de ouvir vários “nãos” de alguns técnicos brasileiros, a cúpula celeste foi até Lisboa, em Portugal, e acertou com oPaulo Bento, ex treinador da seleção Portuguesa e do Sporting, clube português. Apesar de não ter atingido o sucesso esperado nesses seus dois trabalhos, o português traz para o Brasil algumas filosofias não tão comum no nosso país, além do seu vasto conhecimento e estudos sobre o esporte. Logo na sua primeira semana de trabalho, notou-se algo incomum para o futebol brasileiro: os jogadores treinaram no dia do jogo e
na manhã após a partida, algo comum na europa. O treinador Paulo Bento deu entrevista coletiva na Toca da Raposa e falou sobre a evolução não só do Cruzeiro, mas sim de todo futebol brasileiro, que tem um dos campeonatos mais disputados do mundo. O treinador tem como objetivo principal levar a equipe celeste à próxima Copa Libertadores da América, e para isso o português disse que não vai se basear apenas em esquema tático, mas o essencial é que os jogadores assimilem suas ideias e assim eles possam interpretar o seu esquema da melhor maneira possível. Técnicos estrangeiros sofrem
um tipo de “preconceito” pelos comentaristas e da própria cultura do futebol brasileiro, que é muito imediatista, ou seja, quando o técnico não atinge os resultados esperados em um curto espaço de tempo, mesmo não contando com um elenco de qualidade ou demorando para impor sua ideia tática, a paciência da torcida, diretoria e até mesmo dos jornalistas faz com que ele seja demitido. Um exemplo desse imediatismo ocorreu esse ano no Atlético Mineiro. Após demitir o treinador Levir Culpi, que levou o time ao vice campeonato Brasileiro de 2015, o presidente Daniel Nepomuceno trouxe o uruguaio
Diego Aguirre, com o objetivo principal conquistar a Copa Libertadores da América. Como esse objetivo não foi concluído, já que a equipe alvinegra foi eliminada nas quartas de finais da competição para o São Paulo, além de perder o título estadual para o América, o treinador foi demitido sem ter tempo de impor seu modo de jogo. Apesar de não ser tão comum, a globalização de treinadores está chegando no nosso país e independentemente de ser algo mal visto por alguns especialistas da área, é uma tendência que essa idéia cresça, e que nosso futebol se reconstrua com novos pensamentos e ideologias.
1928 a 1931
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1946 a 1948 ego i D
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Ricardo Dier treinou ambos os times mineiros na decada de 50
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(1955 e 1970)
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RAFAEL DINIZ PASSOS 5º PERÍODO