Futuros jornalistas Alunos contam experiência de cobrir maior conferência sobre meio ambiente realizada no Rio de Janeiro. Págs 14 e 15 Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 13
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Número 88
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novembro de 2012
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Belo Horizonte / MG
Distribuição gratuita
Quais são seus últimos desejos? Reprodução: “Science and Charity”, Pablo Picasso, 1897
Foto: Divulgação/BHTrans
Foto: Divulgação
Médicos brasileiros reconhecem legitimidade do Testamento Vital, documento no qual os pacientes registram o tratamento que desejam receber quando a morte se aproximar - Pág. 12
BRT Obras vão beneficiar apenas uma parte da cidade Pág. 03
Foto: Tatiana Campello
Doutores da alegria Palhaços apostam em seus talentos para levar felicidade às crianças hospitalizadas Pág. 07
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Profissão ou abuso? Opiniões se dividem sobre a atuação dos flanelinhas, os donos das ruas em BH Pág. 05
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02 • Opinião
Editor e diagramador da página: Guilherme Vale e Bruno Miranda
Belo Horizonte, novembro de 2012
O Ponto
Como tirar pip ca da boca de criança MARIA ALDECI MADEIRA FLÁVIA PARREIRAS 2º PERÍODO Domingo. Uma professora sai com a filha para um passeio na Praça da Liberdade. Estaciona o seu carro na Av. João Pinheiro e a caminho da praça a menina pede insistentemente uma pipoca.Ufa! Depois de algum tempo as duas avistam um ambulante com uma caixa cheia de pipocas. Que felicidade para a menina! Antes mesmo de a mãe realizar o desejo da filha, um fiscal truculento chegou e foi batendo na caixa; pipocas voaram para todos os lados. Bravejava com o pipoqueiro para que saísse dali e recriminava a mãe por estar comprando algo que ele dizia ter sido feito em um bueiro. A mãe tentava entender tudo aquilo e o fiscal respondia que era proibido por lei ambulantes naquele local. Chegou reforço! Só que, para o fiscal, tal “ajuda” só aumentou a confusão. A mãe indignada, a filha assustada. Enquanto a criança se escondia atrás da mãe, o fiscal apontava para os prédios em torno da praça e dizia: “eles não querem essas pessoas aqui”. Agora o espaço público estava sendo gerenciado pelos interesses privados. A mãe, por desconhecer a lei, não teve argumentos para contestar. Apenas contou que, desde criança,
comprava lanches na praça. Pipoca, algodão doce, milho verde, tudo isso fazia parte da tradição. Além disso, reclamou da forma constrangedora como os fiscais fizeram a abordagem. Restou à mãe ir embora com a filha. Na cabeça da criança ecoava a dúvida: “o que há de tão errado em comer uma pipoquinha na praça?”Estão pensando que isso é uma história fictícia? O pior é que não. Esse fato realmente aconteceu em BH e a atitude dos fiscais foi baseada na Lei 8.616/03 do Código de Posturas da cidade. Essa lei diz que ambulantes não podem vender seus produtos nas calçadas e recuos de edifícios para não dificultar a passagem de pedestres. Entretanto, já existia uma regulamentação anterior à lei que autorizava ambulantes com veículos de tração humana a venderem nesses locais. Isso causou grande confusão entre os fiscais, que aplicavam a lei da mesma forma para todos, restringindo o trabalho de quem já era licenciado. Em Junho de 2012, a Lei 10.512/12 entrou em vigor derrubando a proibição de ambulantes. Essa veio corrigir erros do Código de Posturas que estabelece regras e restrições a ocupação de logradouros públicos na cidade. Ela aperfeiçoou o que já estava regulamentado e preservou o que, para a maioria, já era considerada uma tradição.
Profissão: ... Horas vagas: árbitro de futebol TÚLIO KAIZER 6º PERÎODO Em qualquer roda de bar, conversa de amigos na escola, universidade ou no trabalho, o assunto de todos os dias é o futebol. As zoações fazem parte do contexto do brasileiro de discutir o esporte. Mas chega uma hora que os intermináveis debates chegam a uma “conclusão”: “O árbitro foi comprado”? É uma tremenda sacanagem com os donos do apito. Mas, e quando o lance é claro? O Brasileirão 2012 é a prova viva de que a arbitragem é a culpada de tudo. Todo jogo tem um lance da tal interpretação. É bola na mão ou mão na bola? Poxa, como o árbitro vai saber se a intenção do cara foi colocar a mão na bola ou não? Reclamações de pênaltis e impedimentos são frequentes, e, muitas vezes, conseguimos chegar ao maior bem que deve ser feito para a melhoria das arbitragens: a profissionalização. Regulamentar a profissão de árbitro daria aos donos do apito mais qualidade de trabalho, de se dedicar única e exclusivamente a isso. Desta forma, poderíamos cobrar mais e dimimuir seus erros, pois perderiam o emprego. Acredito que o futebol tem que lutar por melhorias. Um dos esportes mais caros do planeta, onde as cotas de TV alcançam valores estratosféricos e os planejamentos são feitos para um ano inteiro, não se pode dar ao luxo de colocar tudo a perder por causa de um erro do árbitro que, depois de errar, voltará para sua verdadeira profissão. A esperança da profissionalização existe e esperamos que, em 2013, o Brasileirão seja decidido e discutido apenas dentro das quatro linhas.
o ponto Coordenação Editorial Prof. Aurélio José (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico) Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: opontofumec@gmail.com Presidente do Conselho Curador Prof. Tiago Fantini Magalhães Reitor da Universidade Fumec Prof. Eduardo Martins de Lima Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Diretor Administrativo e Financeiro/FCH Prof. Fernando de Melo Nogueira Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Monitores de Jornalismo Impresso Diego Duarte e Túlio Kaizer Monitores da Redação Modelo Júlia Falconi e Laís Seixas Monitores de Produção Gráfica Lorene Assis Tiragem desta edição: 2.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
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Cidades • 03
Editor e diagramador da página: Laîs Seixas - 4˚ Período
O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2012
BRT não resolve problema de trânsito em Belo Horizonte
Fotos: Maria Aldeci Madeira
Engenheiros afirmam que sistema de transporte vai beneficiar região Norte da capital, mas não irá atender às demais regiões da cidade.
Avenida Antônio Carlos passa por obras para implantação do BRT na capital BRUNA RODRIGUES, ELOÁ MAGALHÃES, KARLA REIS 2º E 4º PERIODO O BRT (Bus Rapid Transit) ou Corredor Rápido por Ônibus é um sistema de ônibus articulado com capacidade elevada e tem a proposta de ser um transporte eficaz, veloz - os ônibus transitam em corredores exclusivos - e confortável. O BRT vem sendo apontado pela Prefeitura de Belo Horizonte como a salvação para o caos que se instalou no trânsito da cidade. Mas, para especialistas, a solução seria apenas paliativa. De acordo com os dados disponibilizados pelo DETRAN/ MG, neste ano de 2012, o número da frota de carros em Belo Horizonte já é de 1.017.303, o que perfaz uma média de 2,3 carros por habitante. Quanto ao transporte público, a BHTRANS informa que o número de ônibus do sistema convencional é de 2.994, os micro-ônibus que fazem ligação entre vilas e favelas são 28 e os ônibus do sistema suplementar são 285, o que totaliza 1,5 milhão de usuários transportados por dia no sistema municipal. Além destes, temos ainda 230 mil pessoas/dia utilizando o metrô, segundo dados da CBTU. O BRT, que está sendo implantado na região norte da
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cidade de Belo Horizonte nos dois principais corredores (avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado), já é utilizado em cidades como Los Angeles, Pequim, Johannesburg, Cidade do México, entre outras e no Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro e Curitiba. O sistema consiste em ônibus movidos a óleo diesel que apresentam capacidade de transporte de até 165 passageiros por viagem e em plataformas de embarque em nível e estações de transferência ao longo do itinerário. Com essa implantação, a BHTRANS promete reduzir a circulação de cerca de 800 ônibus do centro da cidade. BRT: pontos positivos e negativos O engenheiro de Transportes e Trânsito e professor da Universidade Fumec, Marcio Aguiar, não descarta a importância do BRT, entretanto afirma que o mesmo beneficiará apenas uma parte da cidade, a região Norte. “O BRT vai melhorar, mas vai haver uma limitação, não vai atender toda a cidade. É uma boa saída momentânea para desafogar o trânsito da capital, mas não a melhor”, diz o engenheiro. Ele aponta que, para longo prazo, o ideal seria um investimento em um transporte de alta capacidade, como o
metrô. Afirma que o BRT é um transporte eficiente, porém de média eficácia. “O BRT é bem mais barato que o metrô e no momento é a alternativa propícia”, afirma o engenheiro de Planejamento de Mobilidade da BHTRANS, Sr. Nelson Dantas. Ele considera o metrô uma alternativa positiva para a melhoria do trânsito na capital, entretanto ressalta que existem muitas dificuldades técnicas para a sua ampliação, principalmente pelas características geográficas da nossa cidade. Essa também é a opinião do gerente coordenador de Mobilidade Urbana da BHTRANS, Sr. Rogério Carvalho. Para ele, o BRT pode melhorar sim o trânsito da capital, pois possui capacidade alta, reduz o tempo de viagem e tem um custo baixo em relação ao metrô, mas
ressalta que os congestionamentos são um problema que enfrentaremos sempre, pois a frota de veículos particulares cresce de maneira desordenada. Segundo o mesmo, “se 70% da população utilizasse o transporte coletivo, teríamos uma ocupação de apenas 10% do espaço viário, enquanto os automóveis, que normalmente carregam apenas uma pessoa, ocupam cerca de 90% deste mesmo espaço”. Com dados tão preocupantes, a Organização Não Governamental Transporte e Ecologia em Movimento (ONGTREM), criada em 2002 como um fórum de debate entre profissionais de transporte e a sociedade, abordando os meios de transporte e, sobretudo a utilização de combustíveis não poluentes, também aponta falhas no atual projeto: “o BRT vai melhorar o transporte coletivo na cidade, embora ele tenha um ponto fraco, que são as estações de transbordo. Estas têm limitações de capacidade de pessoas e irão limitar a capacidade de transporte do BRT. Os usuários terão que fazer transbordo de linhas alimentadoras para linhas troncais em estações de bairro, como a estação Pampulha, e estações situadas nas pistas centrais dos corredores. Então terá que haver uma boa sincronização entre os desembarques e embarques de passageiros. Atrasos ou interrupções de viagens irão acarretar acúmulo de passageiros nas estações, inclusive na área central”; relata o diretor da ONG, Francisco Oliveira. E ressalta: “Para uma cidade de 2,4 milhões de pessoas, só o metrô resolve o
problema do transporte coletivo. Cabe ao governo do estado e às prefeituras de Belo Horizonte e Contagem investirem no metrô, com apoio do governo federal, evidentemente.” Segundo ele, uma empresa foi criada, a METROMINAS, há mais de 10 anos, mas não saiu do papel. “Nos últimos oito anos foi gasta muita energia em projetos, seminários e discussões sobre o metrô, mas não se gastou um centavo em trilhos. O que deve ser feito é colocar os planos em ação, um acordo de investimento entre a PBH e o estado, para implantar no mínimo 10 km por ano de trilhos, todos os anos, até que tenhamos uma rede adequada de linhas metroviárias, que atenda com qualidade e tarifa módica aos cidadãos. Estes acordos já aconteceram em várias capitais onde a rede de linhas de metrô vem sendo expandida.” Para a população resta ter paciência para conviver com os transtornos causados pelas obras em andamento e aguardar que estas tragam melhorias concretas para a cidade. Edson Gomes, morador da capital, que utiliza as avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado constantemente, é crítico em sua opinião, considera que o BRT, apesar de ser uma boa alternativa, é uma proposta muito restrita, pois favorecerá apenas uma parte da cidade. “Para mim é apenas uma jogada política. Os grandes problemas da cidade não estão sendo atacados; não acredito que esse projeto irá realmente desafogar o centro da cidade e ,assim como o atual metrô, não servirá para uma grande parte da população”.
Ônibus do BRT terá capacidade de transporte de até 165 passageiros por viagem
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04 • Cidades
Editor e diagramador da página: Eduardo Zica e Joanna Del`Papa - 4º Período
Belo Horizonte, novembro de 2012
O Ponto
Pequenos cursos para um futuro melhor Alunos do SEBRAE dão aulas gratuitas de administração no Norte de Minas LETÍCIA ARANTES 2º PERÍODO O começo de tudo foi em 2007, quando entrei para a Escola Técnica de Formação Gerencial – ETFG, vulgo Escola do SEBRAE. Nos primeiros meses de estudo, fiquei sabendo de um tal Programa de Empreendedorismo Social. A ideia do programa era reunir um grupo de cerca de 90 alunos do segundo e do terceiro ano para ir para alguma cidade do interior de Minas Gerais, pouco desenvolvida economicamente, e dar aulas à população sobre aquilo que lhes foi ensinado durante todo o ensino médio técnico em administração. Minha primeira oportunidade de participar do PES foi em 2009, quando fomos para Araçuaí, uma pequena cidade do Vale do Jequitinhonha. Já era de se esperar que a experiência fosse extraordinária. E foi. Meu grupo deu um curso de empreendedorismo voltado para artesanato, já que a região era famosa por ter um grande número de artesãos e a Cooperativa Dedo de Gente – Fabriquetas de Artesanato – era de lá. Este ano, duas semanas antes da partida para o PES, recebi o convite do idealizador do projeto, o professor Romário Vieira de Melo. Assim que recebi a proposta, lembrei o quanto havia sido boa a experiência anterior e não pensei duas vezes, aceitei. Tinha poucas informações sobre a cidade. Na verdade, a única que recebi antes da partida era que estava fazendo cerca de 47 graus na cidade, com a qual preferi não me preocupar antes de chegar. Agropecuária no Jaíba Jaíba é uma cidade pequena e nova, sua emancipação foi em 1992, mas com um potencial enorme graças à atividade agropecuária, que movimenta os negócios da região. Além do mais existe uma previsão de que em cinco anos a população cresça de 30 mil para 100 mil habitantes. Depois de 12 horas dentro de um ônibus, chegamos bem. Tivemos uma palestra de apresentação quando recebemos as boas-vindas de algumas pessoas significativas para a cidade. O primeiro a falar foi o representante do SEBRAE na região, que fez um discurso de apresentação da cidade e de alguns de seus projetos e de agradecimento pela nossa presença. Finalizando, a Irmã Sueli, da Paróquia Nossa Senhora da Glória, cedeu espaço para que montássemos nossas barracas durante nossa estada, fez um dis-
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Jonata: vida triste no lixão curso bastante emocionado e feliz por nossa ida e nos apresentou o Projeto Vida, que atende cerca de 240 crianças carentes e lhes oferece reforço escolar, aulas de dança, capoeira, cultura e várias outras coisas. Na parte da tarde, tínhamos uma longa caminhada. Visitaríamos o lixão da cidade e as famílias que moravam lá. Mas, para chegar lá, não teríamos moleza alguma. Andamos 6 KM de ida e volta debaixo de um sol forte, das 14h às 16h30, que nos dava uma sensação térmica de 60 graus. Alegria no lixão Lá a situação era bastante chocante. O cheiro não era nada bom, como era de se esperar e, quando nos juntamos às famílias, parece que todos ficaram paralisados. Eles viviam em barracos de lona sem o menor conforto e proteção do lixo à sua volta. Os mosquitos que pousavam em seus corpos já não incomodavam mais, assim como a sujeira que parecia grudada em suas peles. Fiquei paralisada com aquela situação e resolvi me afastar um pouco do grupo para tentar analisar aquele cenário de outra forma. Mas o que me chamou atenção foi uma criança que estava parada com o dedo sujo na boca, observando toda aquela gente estranha ali parada. Fiquei olhando para ele até que seus olhos me encontraram e me senti intimidada. Tentei disfarçar e peguei a câmera para tirar algumas fotos. Perguntei seu nome e, bem baixi-
Foto: Gabriella Lemos
nho, ele me disse que se chamava Jonata. Perguntei sua idade e foi como uma pedrada sua resposta: um simples “não sei”. Mantive a cara de pau e perguntei mais coisas, mas o garoto parecia impenetrável, triste, desajeitado. Concluí sua tristeza quando pedi para que desse um sorriso para a foto e praticamente tive que ensiná-lo a sorrir. Mas, quando chegou sua vez, a expressão mal mal parecia um projeto de sorriso, mesmo que ele quisesse. Voltamos para o alojamento e, em meio à exaustão, montamos nossas barracas, fomos jantar e a grande maioria foi dormir, afinal o dia seguinte seria cheio. Agricultores Beneficiados Em pleno feriado nacional de dia da Independência, levantamos às 4:30 da manhã. Depois do café, sem longas caminhadas dessa vez, fomos de ônibus conhecer o Projeto Jaíba. Esse projeto, feito pelo SEBRAE, tem o foco de estimular a agricultura familiar e hoje já beneficia 1457 agricultores. Os agricultores recebem um desconto pelas terras e um acompanhamento na hora de vender sua produção. Um deles era Jair de Souza, que vive do projeto desde pequeno, quando seu pai comprou uma terra e ali ficou. Jair perdeu a esposa há cinco meses em um acidente de moto e o que lhe dá força para seguir é sua filhinha de nove anos, Mariana Souza. Em meio às dificuldades e a renda de um salário mínimo e meio, Jair atribui
sua alegria e superação à filha, à comunidade e à religião. Católico convicto, ele doou parte de suas terras para a construção de uma igreja no bairro. Além das famílias beneficiadas pelo programa, 17 fazendas recebem suporte para que sua mercadoria seja exportada. Entre os destinos da exportação, os principais compradores são da Alemanha e Holanda. O dia que parecia pesado passou rapidamente e tivemos a tarde livre. Alguns dos homens foram jogar contra a população local. O resultado foi vergonhoso para os garotos da capital que se julgam os últimos boleiros do Brasil. Perderam de 8x0. E, enquanto isso, resolvi ficar no alojamento, descansar e tentar conhecer um pouco dos outros 89 participantes. No dia seguinte, iríamos dar o tão esperado curso para a população. Objetivos alcançados Os cursos eram para administração, voltado para as áreas de gestão de micro empresas, artesanato, culinária, teatro, atendimento ao cliente, gestão de pessoas, liderança e gestão agrícola. Só que ninguém avisou à população que o curso era para aprender a fazer bolsas, quitutes enfeitados, porcelanas, esculturas e tudo o que pode ser designado como artesanato, por exemplo. Digo isso pois essa foi a resposta dos alunos quando lhes perguntamos o que eles esperavam do curso. Os preparativos para as aulas
incluíam uma apostila feita pelos alunos de cada grupo e certo nervosismo e tensão dos que participavam pela primeira vez. Fomos para a escola onde meu grupo, o de artesanato, daria aula e ficamos aguardando os alunos. Esperávamos 40 alunos, mas a lista de inscritos só foi revelada quando chegamos à escola e nela continham 18 inscritos. Desses 18 apenas cinco apareceram. Isso não nos desanimou e fizemos uma roda para falarmos de plano de negócio. Aquilo não era nada familiar para eles. Estávamos falando outra língua, um português requintado demais, talvez. Percebemos isso quando mandamos cada um ler uma parte de um texto e o primeiro era analfabeto; apenas algumas palavras que lia saíam de forma correta, se saíam. Demos um intervalo às 9h30 e fomos conversar com os outros “professores” quando a brilhante ideia de juntar nossa turma com a de culinária, com 15 alunos, surgiu como uma salvação. Uma revisão no plano de aula teve de ser feita e, como toda aquela história de plano de negócios não ia colar com todos os alunos, focamos em dinâmicas e atividades em que eles diriam o seu maior sonho e nosso papel seria estimulá-los à realização dele. Para minha surpresa, grande parte deles queriam ter uma graduação, que variava entre Medicina, Direito, Veterinária, Psicologia e até mesmo Administração, inclusive o garoto de 18 anos analfabeto, seu maior sonho era ser veterinário e cuidar de vacas em gestação e seus bezerros. Na junção das turmas, os alunos se entrosaram e já conseguiam se expressar. Não eram todos que pareciam se sentir à vontade para isso, mas em todas as conversas com o Romário ele dizia que, se saíssemos de lá com um aluno em potencial que captasse a mensagem de plano de negócios, era para explodirmos de felicidade. E, para nossa alegria, saímos com cerca de três alunos em potencial captando a mensagem de empreendedorismo. Um deles um garotinho de oito anos chamado Victor que resolveu acompanhar a tia no curso. Emoção na conclusão O curso foi finalizado com bastante sucesso e comoção de ambas as partes. E a gratidão conosco não chega perto em relação à que sentimos. Um aprendizado único. Todas essas pessoas que conheci e convivi de Jaíba deixaram uma grande lição pra mim e para todos os outros alunos da ETFG, tenho certeza disso.
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Cidades • 05
Editor e diagramador da página: Ana Luisa Altieri, Izabella Figueiredo e Tatiana Campello - 4º Período
O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2012
SE ESSA RUA FOSSE DELES Profissionais formais e informais, os flanelinhas ocupam lacuna da segurança pública e fazem os motoristas seus reféns
ANA LUIZA ARAÚJO E JÚLIA ALMEIDA 2 º PERIODO São oito da manhã, horário de pico. Em uma rua no bairro Cruzeiro, abarrotada de carros, Ronivon dos Santos, 29, se desdobra para angariar clientes novos e agradar aos antigos enquanto cantarola uma música cristã. “Deus é o caminho”, clama o recém-convertido a cristão, mas flanelinha desde os dez anos. Com uma clientela de universitários fixa, o rapaz parece ter encontrado a profissão ideal. “É bom porque todo mundo aqui me conhece, respeita e ajuda”, afirma, orgulhoso de sua ocupação. Apesar de marginalizada, a profissão flanelinha configura-se como uma das alternativas aos condutores que procuram meios mais seguros e econômicos para estacionar seus veículos, dando à relação flanelinha-cliente um caráter quase amistoso. “É uma profissão de retorno econômico, já que a insegurança urbana leva as pessoas a temerem deixar o carro sozinho na rua.” endossa a cientista social Luiza Lobato. Para ela, tal trabalho é de suma importância e a ocupação “não é vista com seriedade pela sociedade, além de não ser considerada por muitos uma profissão”. Para Lobato, na maioria das vezes, a escolha de se tornar
flanelinha justifica-se como predileção familiar, ao enviar seus filhos às ruas, ao invés de os matricularem em alguma escola. “Geralmente, os flanelinhas são crianças de famílias de baixa renda e pouco estudo. Ou seja, aquele pouco dinheiro que ela (a criança) leva para casa faz diferença”, esclarece a profissional. Além disso, muitas vezes, a criança ou adolescente larga a escola por falta de incentivo da família, que não dá valor aos estudos. “Assim, ela começa a trabalhar porque, em curto prazo, traz mais benefícios”, completa. Foi assim com Ronivon, que tinha apenas sete anos e catava papel na região para ajudar a família. Quem também começou a vida profissional lavando os carros que estacionavam na região da Praça da Estação em 1970 foi o advogado Martim Santos. Desde 1993, Santos também se ocupa em defender os companheiros da antiga profissão, presidindo o Sintramac (Sindicato dos Trabalhadores, Lavadores, Guardadores, Manobristas e operadores de automóveis em estacionamen-
tos particulares e lava-jatos do estado de Minas Gerais). O órgão surgiu visando defender os profissionais de perseguições da imprensa na época em que se cogitava retirá-los das ruas. Hoje, o mesmo oferece diversos benefícios aos associados que incluem convênio médico e odontológico, seguro de vida, assessoria jurídica, entre outros. Regulamentada em 1975, a profissão vem aumentando sensivelmente desde então. Segundo a cientista social, isso se deve pelo incentivo do governo à compra e uso de carros que acaba gerando o crescimento dos trabalhos informais vinculados ao setor, como o exemplo em questão.
”É uma profissão de retorno econômico, já que a insegurança urbana leva as pessoas a temerem deixar o carro sozinho na rua” Luiza Lobato
Do outro lado da moeda Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, são em média 3,5 mil flanelinhas atuando na capital; destes, apenas 1,5 mil cadastrados na Prefeitura, sendo identificados pelo colete distribuído pela mesma. Um exemplo é Raguinaldo Silva, 43, que começou na profissão onze anos após a regulamentação e hoje trabalha juntamente com seu filho na região
da Savassi. O lavador, registrado, diz que paga a taxa mensal para ter a tranquilidade de trabalhar dentro da lei. “Vale a pena porque sem o registro o fiscal vem e leva meu balde, panos e tudo que eu preciso para trabalhar e me sustentar”, defende.
Fotos: Tatiana Campello
A opinião do motorista Na relação cliente-flanelinha, entretanto, há os que se revoltam a pagar pelo serviço, considerando um abuso alguém cobrar para estacionar em vias públicas. “Dependendo da quantia que damos, eles se sentem insatisfeitos. Deveriam estar achando bom por receberem por um serviço que deveria ser gratuito”, relata a estudante Anna Tereza Clementino, 20. “Muita gente se incomoda, mas precisamos entender que há uma situação de vulnerabilidade social nisso tudo. Aquela pessoa possivelmente sustenta uma família com tal trabalho precário e com o dinheiro que tira da rua. Se ela adoece, a família fica desamparada e, sendo assim, a tendência é que seus filhos sigam o mesmo caminho de trabalho precoce e abandono da escola”, conclui Lobato. Se há tantos lavadores e guardadores que levam seu trabalho a sério, é possível se lembrar disso antes de usar o termo pejorativamente. Flanelinha também é profissão.
Belo Horizonte possui em
3,5
média mil flanelinhas atuando na capital
1,5
Apenas mil são cadastrados na Prefeitura Profissão flanelinha: regulamentada desde 1975 palhaboa.blogspot.com.br
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06 • Comportamento
Editores e diagramadores da página: Júlia Falconi e Thaynara Tanure - 4º Período
Belo Horizonte, novembro de 2012
O Ponto
Shopping
AN MAL Belo Horizonte entra no circuito das cidades com estabelecimento dedicado exclusivamente aos pets, incluindo motel e academia
Fotos: Júlia Falconi
Entrada do shopping no bairro Gutierrez
CAMILA NIELSON GABRIEL PICINI 1º PERÍODO Cães, gatos, peixes, aves e roedores com atendimento vip, todos eles agora contam com uma variedade enorme de rações, petiscos que remetem a comida humana, artigos para banho, farmácias completas e entretenimento variado. Não é “A Revolução dos Bichos”, caro leitor. E, sim, um novo filão que ganhou um megaempreendimento em Belo Horizonte, no bairro Gutierrez. O shopping para animais “Animalle Mundo Pet” tem oito andares, um para cada espécie, com atendimento veterinário exclusivo e outras peculiaridades do mundo animal visando, principalmente, às novidades do setor e ao entretenimento do pet. A ideia surgiu dos irmãos Fabiano Loures e Daniela Loures que investiram alto no estabelecimento, o primeiro do segmento na capital mineira.
Tratamento Vip Inaugurado no começo de julho deste ano, o empreendimento reúne diversas lojas com artigos para os animais para a comodidade dos donos que, muitas vezes, não têm tempo livre para se dedicar aos bichos e apegam-se a esses serviços como forma de evitar estresse ou abalos
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psicológicos ao pet. Um exemplo disso é o Day Care, espaço onde os cachorros são deixados pela manhã, participam de atividades de socialização e recreativas (sempre monitoradas por profissionais qualificados e treinados) e ao final da tarde reencontram seus donos. Os animais que necessitam de maior período de permanência podem ficar em uma das 17 acomodações do hotel, planejadas para os bichinhos de estimação e a tranquilidade de seus donos. Para o seu cachorro ou gato que necessita de um tratamento fisioterápico ou está acima do peso, você pode encontrar veterinários que avaliam suas condições físicas e direcionam os animais a atividades realizadas na chamada “acãodemia”, onde é praticado o pilates e esteira. Se você procura um mimo a mais, eles oferecem o banho de ofurô que tem como objetivo relaxar ou energizar seu bichinho, dependendo do perfil apresentado. A diversão para seu bichinho é realmente completa. O espaço conta com uma estrutura de um salão de festas onde são realizados encontros, aniversários, feiras de filhotes e até um motel para cachorros. Coisas que antigamente eram impensáveis para seu animal, hoje já são totalmente possíveis, como inseminação arti-
Acãodemia monitorada com esteiras e pilates
Mercado em alta
ficial e reprodução assistida. O motel para cachorros conta com uma estrutura de um quarto, incluindo cama, comida, água e decoração que propcia o “clima’’ para o bichinho. Localizado no hall de entrada das salas que estruturam a ‘‘acãodemia’’ e atendimento veterinário, o motel atrai a curiosidade do público, é como a ‘‘comissão de frente’’da diversão dos animais. O shopping também oferece o serviço de transporte do seu bichinho, entregando-o em domicílio. O pet shop possui ainda equipamento avançado para embelezar seu animal, com as máquinas especiais que secam os pelos do pet e uma equipe treinada que faz o monitoramento de todo o processo de tosa, lavagem e secagem do seu animal.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de produtos animais de Estimação (Abinpet), o setor faturou no ano passado por volta de 11 bilhões e a expectativa para o ano de 2012 é que haja um crescimento de 17%. O Brasil possui 98 milhões de animais de estimação e o gasto médio mensal com eles é de R$350. Só a capital mineira detém 1,4 do PIB nacional e 2,3 milhões de habitantes. Quanto mais cresce a renda da população, maior o interesse em adquirir um animal de estimação, ou seja, é um setor aquecido. O administrador de empresas Maurizio, 52, nascido em São Paulo, residente em Belo Horizonte e cliente do shopping, avalia que o empreendimento mineiro atende a todas suas necessidades. Devido à grande variedade de produtos diponíveis na loja, ele ressalta que a empresa não deixa nada a desejar, se comparada às grandes lojas do mesmo segmento que já existem na capital paulista e em outras regiões do país. Hoje, com tantas opções e lugares especializados, as despesas com animais já fazem parte dos orçamentos familiares. O shopping foi planejado e embasado outros empreendimentos do setor para atender as necessidades dos clientes,
integrando Belo Horizonte ao circuito das cidades que oferecem esse tipo de serviço. Afinal, como viajar e deixar mais um “membro da família” de fora? O shopping conta com uma agência que disponibiliza serviços completos de viagens para seu animal de estimação. Uma equipe especializada em turismo oferece todo suporte e pacotes elaborados especialmente para destinos nacionais onde são aceitos cães e gatos, tornando muito mais fácil e viável a aventura ao lado de seu fiel companheiro. O empreendimento é o mais novo e diferenciado da capital mineira. Os recursos estão sendo inovados a cada dia e, hoje em dia, as possibilidades para o mundo animal são menos escassas do que antigamente. Afinal, a estética do bichinho já se tornou mais do que um investimento lucrativo com os atuais concursos de exposições de beleza. Além disso, o investimento de casas de rações, joalherias, centros de customização de adereços para os pets e as parcerias diversificadas com estabelecimentos desse mesmo segmento têm aumentado significativamente, resultando em um novo mundo paralelo ao dos humanos, um novo universo, o universo para lá de ANIMAL!
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Educação • 07
Editores: Bruno Minranda e Eduardo Zica - 4º Período e diagramadores da página: Adélia Pinheiro, Bruno Miranda e Eduardo Zica
O Ponto
Belo Horizonte, novembro de 2012
Sonho
financiado
Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) amplia prazo ao aluno, facilitando a milhares de estudantes brasileiros a obtenção do tão sonhado diploma universitário Foto: Guilherme Vale
Iniciativa do governo federal, o Fies representa um importante passo para a democratização do acesso ao ensino superior ADÉLIA PINHEIRO 6º PERÍODO “Entre todas as políticas sociais que um governante deve implementar, as que dizem respeito à educação são as que melhor representam o compromisso com o futuro”. A afirmação do senador e ex-governador de Minas, Aécio Neves, publicada recentemente em um jornal impresso da capital mineira, retrata o peso da educação para o desenvolvimento socioeconômico do país e o quanto as políticas públicas sociais representam, ainda hoje, um grande desafio para os governos. Chegar à formação superior na área de Recursos Humanos não foi nada fácil para a estudante Elaine da Silva, de 37 anos. Embora ela já tivesse terminado o segundo grau há dez anos, faltavam-lhe condições financeiras para investir em uma faculdade. “Tinha tanta vontade de conquistar o diploma universitário nessa área, que mesmo antes de o programa abranger os cursos superiores de tecnologia, e ainda sem saber direito como iria pagar os estudos, resolvi tentar o processo seletivo. Poucos meses depois de ter sido aprovada, tive a boa notícia de que o Fies passaria a financiar também essa modalidade de curso”, vibra, ao lembrar-se da mudança ocorrida nas regras do programa de financiamento que, no ano de 2010, mudaria os rumos da sua trajetória profissional.
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Com a ajuda do Fies, a estudante não só já pode prever a sua formatura ainda para este ano, como mostra-se bastante segura em relação à formação adquirida: “O Fies acaba estimulando também o aluno a assumir de verdade os estudos, já que ele precisa manter a média mínima de aproveitamento exigida, que é de 75%”, observa. A realidade atual no Brasil mostra que o acesso ao ensino superior ainda é restrito, embora o investimento em educação no país tenha aumentado, nos últimos dez anos, de 10,5% para 16,8%, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“O Fies estimula o aluno a assumir de verdade os estudos, ao exigir um aproveitamento mínimo de 75%”. Elaine da Silva
acordo com balanço do governo, divulgado no primeiro semestre do ano, mais de 140 mil estudantes já aderiram ao financiamento estudantil em 2012. E o número total de estudantes no país chega a 500 mil. Regras O programa do Ministério da Educação que financia a graduação de milhares de estudantes de instituições privadas que não teriam como arcar com os custos totais das mensalidades também tem suas regras bem definidas. Foram feitas mudanças que diminuíram a taxa de juros do financiamento e ampliaram o prazo de carência ao estudante. Atualmente o estudante só paga, ao longo do curso e a cada três meses, o valor máximo de R$50, referente aos juros do financiamento. Após a conclusão da graduação, o aluno ainda terá um período de 18 meses de carência para recompor seu orçamento. Ao término desse período em que o estudante não paga nada,
ele terá um prazo equivalente a três vezes o período financiado do curso, acrescido de 12 meses, para pagar o financiamento, quando possivelmente já estará empregado. Novidades A coordenadora do setor de Bolsas e Financiamentos da FACE/FUMEC, Luciana Girão, faz uma avaliação bastante positiva acerca da eficácia do programa ao qual seu trabalho na instituição está diretamente relacionado. No entanto, ela revela que um dos requisitos que a maioria dos alunos ainda têm dificuldade em cumprir é a exigência do fiador. “Muitos candidatos chegam a ser eliminados por não conseguirem atender a essa exigência”, lamenta. A boa notícia, de acordo com a coordenadora, é que o aluno de baixa renda já pode contar agora com o Fundo Garantidor. “Para instituições que tenham aderido a ele, os alunos não precisarão mais ter fiador na hora de pedir o crédito”, informa.
Outra novidade recente do financiamento estudantil, publicada no Diário Oficial da União em 05 de setembro de 2012, é a possibilidade de ampliação da utilização do Fies por até dois semestres consecutivos após o prazo previsto para o término do curso. Dessa forma, se o aluno obtiver reprovação em uma matéria, ou precisar se afastar das aulas por motivo de doença ou outro justificável, ele poderá pedir a extensão do financiamento por até dois semestres consecutivos. De acordo com a portaria, o pedido de dilatação do prazo poderá ser feito pelo estudante entre o semestre previsto para encerramento do curso e o primeiro trimestre do período referente à ampliação. A solicitação, no entanto, precisará ser validada pela Comissão Permanente de Supervisão e Avaliação (CPSA), em até cinco dias, mediante apresentação de documentação comprobatória.
Saiba como solicitar o Fies Desde a sua criação em 1999, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) representa uma das maiores ações do governo para tentar mudar o cenário da educação e avançar um pouco mais em direção à democratização do acesso ao ensino superior no país. De
1º passo O estudante deve se cadastrar no site: www.sisfiesaluno. mec.gov.br. Em seguida, ele precisará acessar o SisFies para fazer a sua inscrição, informando seus dados pessoais e do curso escolhido.
2º passo Após a inscrição, que pode ser feita pela internet em qualquer época do ano, os dados do estudante são analisados e validados em até dez dias pela instituição de ensino, a qual deve ser credenciada no programa.
3º passo Após a validação, o estudante terá até 20 dias, contados a partir da efetivação da inscrição, para comparecer a uma instituição bancária vinculada ao Fies e formalizar a contratação do financiamento.
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Belo Horizonte, novembro de 2012
O Po onto
Mais que superação,
difere Partidários famosos falam sobre propostas que tinham para a capital mineira
Os “pops” são pessoas que ficaram bem conhecidas na região em função das suas atividades profissionais. Por conhecerem e se relacionarem com um número significativo de pessoas, sua popularidade tem se mostrado um fator decisivo na decisão do eleitor. Vários famosos regionais já usaram a popularidade para arrecadar votos durante as campanhas eleitorais, como Marques, exjogador do Atlético Mineiro, eleito deputado estadual com o intuito de fazer mais pelo esporte do estado. Muitos desses “pops” podem arrancar boas risadas do público nos horários eleitorais, tais como Mulher Melancia e Mara Maravilha que usou de sua imagem para ganhar votos para o marido pastor nas eleições de 2010. A população belo-horizontina tem conhecido, cada dia mais, a peculiaridade desses candidatos populares, dentre eles, promotores de eventos de boates renomadas das noites da capital mineira, o típico e peculiar caroneiro no sucesso do Tiririca, o “Tiririca de BH”, mais conhecido como o “Raul Maluco de Belo Horizonte”, remetendo ao também famoso e lendário Raul Seixas ou, até mesmo, o Vovô do Rock.
“Eu sempre priorizo a cultura e o lazer das pessoas” Vovô do Rock
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Raul Maluco, de Belo Horizonte, se apresenta no Palácio das Artes eleitores em 2010, superando a parcela de 1,84% dos votos válidos no Rio de Janeiro. O candidato a deputado federal de São Paulo, Francisco Everardo Oliveira Silva, popularmente conhecido como o Palhaço Tiririca, elegeu-se com mais de um milhão de votos, sendo o mais bem votado nas eleições de 2010, levando com ele, para as cadeiras legislativas, mais três deputados desconhecidos. Nesse pleito, a postura dos eleitores que votaram no candidato se dividiam entre aqueles que ridicularizavam a política do país e os que, de fato, tinham esperança no candidato. As circustâncias mudaram e se tornaram favoráveis ao palhaço. Atualmente, o deputado Tiririca foi eleito um dos melhores parlamentares do ano pelo Congresso em Foco, levantamento anual realizado por meio de votação dos jornalistas que fazem a cobertura do diaa-dia da Câmara e do Senado. Apesar das acusações, relacionadas à sua incapacidade para exercer o cargo de deputado, devido à suposta condição de analfabeto, o palhaço deu a volta por cima e se tornou em um dos deputados mais ativos na proposição de projetos de lei do país. A volta por cima do palhaço Tiririca Francisto Everardo teve que passar por uma prova de leitura e ditado para comprovar que não era analfabeto e assumir o posto de deputado; além disso, passou por um processo criminal que tem relação com a possibilidade de o candidato ter falsificado a declaração, de próprio punho, entregue ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). O humorista teve um prazo de dez dias para se defender das acusações de ser analfabeto e passar pela prova. Quanto aos indícios criminais, o próprio Juiz o inocentou, alegando que não havia provas o bastante para acusar
o réu. Francisco é hoje um deputado reconhecido graças a diversas leis e propostas na Câmera, algumas delas aprovadas, tais como projetos para a conclusão do ensino médio para adultos e adolescentes, visando como incentivo a uma Bolsa no valor de R$ 545. Outros dois projetos do palhaço deputado, que seguem a mesma linha de assistência, são a criação do vale-livro para alunos de escola pública e a oferta de serviços de assistência social para profissionais do circo. Sem perucas, fantasias ou piadas machistas, todos os dias, o deputado caminha para a Câmara e representa milhares de eleitores paulistas em uma luta contra seu próprio histórico, a baixa educação. Assim, mostra para o país que um homem simples e humilde pode ser funcional na politica. O parlamentar ficou contente com o resultado da pesquisa que o elegeu como um dos melhores parlamentares do ano. “Estou super feliz com isso, mostrando para os Ilustração: Waldez Duarte
Entusiasmado, o ex-candidato a vereador do PTN, Vovô do Rock, de 35 anos, fala sobre a ligação dele com os jovens. A prioridade do candidato foi a integração dos mesmos na cultura. A figura do Vovô do Rock passa essa imagem acolhedora do candidato que, mesmo não sendo avô, aposta na força da figura paterna e afetuosa que alia experiência e carisma, aderindo uma massa jovem que se identifica com o sentido figurativo do candidato. O Vovô do Rock também é um site de divulgação de shows de rock e programação de casas noturnas, destinado ao público jovem, que tem a propaganda do candidato vinculada a ele. Como todo político, os “pops” também têm os seus projetos de governo para a melhoria da cidade, como promover mais entretenimento para a população jovem e colocar em prática os planos de incentivo à cultura. Outro exemplo bem recorrente e popular do uso da fama como recurso para se eleger foi Romário, ex-jogador do Vasco da Gama e da Seleção brasileira. O atual Deputado Federal do Rio de Janeiro, filiado ao partido PSB, que, em sua campanha, atraiu seus fãs e conquistou a confiança de mais de 146 mil
Fotos: Ana Kellen
JÚLIA FALCONI THAYNARA TANURE 4º PERÍODO
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úlia Falconi e Thaynara Tanure - 4º Período
O Po onto
Belo Horizonte, novembro de 2012
o, eles buscam fazer a
rença ra
meus eleitores que eles não deram votos perdidos. Não estou fazendo feio. Não quero decepcionar o povo nem me decepcionar”, disse à imprensa na repercussão da premiação pelo Congresso em Foco. Vida Noturna O ex-candidato ao cargo de vereador das eleições deste ano, produtor de festas Luiz Cláudio Balda, 36, mais conhecido como “Balda”, se tornou popular na capital mineira por promover festas e eventos culturais. Segundo ele, o objetivo principal de sua campanha era, e vai continuar sendo, lutar a favor dos proprietários de bares e casas de show, visando a projetos de leis que sejam favoráveis aos que trabalham na vida noturna. “Concordo que a cidade precisa de atenção em áreas como educação e saúde; por isso, a maioria dos candidatos propõe-se a trabalhar nelas. Sinceramente, prefiro focar nas áreas em que possuo experiência para ajudar, senão a todos, pelo menos uma parcela da população que também merece ser atendida. Muitos estão cansados de
“Já que Minas não tem mar o povo vai pro bar” Balda escutar promessas genéricas e serem ludibriados. Meu objetivo era: planos e projetos baseados onde eu tenho larga experiência”, diz o candidato. Balda possui propostas de governo que vão além de áreas como saúde e educação, que são os principais focos dos demais políticos; por isso seu objetivo maior é motivar e incentivar as pessoas a participar mais de eventos culturais. Quando Balda usa a expressão acima, refere-se à tendência que os mineiros têm a frequentar bares e festas. Já que no estado de Minas Gerais não temos praias, a população recorre a outras formas de lazer, que são as atrações que trazem fama ao turismo de Belo Horizonte. “Além disso, em 2014, teremos a Copa do Mundo; você acha que
Luiz Cláudio Balda, ex-candidato a vereador o turista vai chegar aqui e perguntar onde ficam os hospitais ou o que tem para fazer em lazer e diversões na sua cidade? Cultura, entretenimento e lazer também contribuem para o bem- estar das pessoas. Meu assunto principal era esse: eventos para divertir e gerar empregos”, finaliza. No ritmo da música Quem também ofereceu grandes projetos para melhorar o cenário cultural de Belo Horizonte foi o candidato a vereador e baixista da banda mineira Manitu, Fábio Augusto da Cunha Leão. Segundo Fabão, o principal motivo de sua candidatura foi tentar fazer pela classe dos artistas o que nenhum político fez até agora. Um de seus objetivos era criar um centro de apoio aos artistas independentes. Para ele, é necessário criar também centros culturais de pequeno e médio porte para suprir a carência na área da cultura. Quando questionado se a participação de candidatos populares poderia contribuir
para a banalização da política, Fabão mostrou claramente a que veio. “Acredito que a verdadeira banalização da política vem daqueles que se tornam conhecidos nas eleições apenas por investirem caminhões de dinheiro na campanha. A representação politica de alguém popular pode ser infinitamente mais legítima que a representação através dos investimentos financeiros, carregados de interesses. É claro que o representante popular deve ter todo o conhecimento de como funciona o cargo, de suas funções e obrigações para poder administrar o mesmo”, defende-se Fabão. Nem todos os candidatos “pops” são leigos quando o assunto é política. Alguns desses políticos têm propostas que talvez foram influentes na hora da escolha do voto, com planos de governos tão elaborados quanto os daqueles que estão há anos na política. Cabia ao eleitor apurar o quanto desses planos são verídicos e poderiam ser executados, atentos ao orçamento que as cidades possuem, pois a verba destinada aos municípios pode não atender a todas as propostas, inviabilizando sua execução. Atualmente, há sites de divulgação de transparência orçamentária, que podem dar suporte ao eleitor e deixá-los informados da situação do candidato. O principal dentre eles é o do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo o CNJ, o objetivo do site é a divulgação dos gastos de figuras públicas e os bens que possuem, liberando informações ao público sobre execução orçamentária e financeira, além das despesas pessoais, licitações, contratos e carros oficiais. Os candidatos eleitos mencionados aqui possuem sonhos e esperanças para BH e afirmam que não vão desistir dos seus planos. Balda, Fabão, Raul Maluco, Vovô do rock, todos compartilham de um mesmo interesse: o melhor para a capital mineira. Inspirados pelas superações de outros candidatos, eles também querem surpreender os seus eleitores e ganhar a credibilidade de milhares de pessoas, descaracterizando a banalização política.
Ficha Limpa O suporte eleitoral mais recorrente este ano foi a Lei Complementar nº 135/2010. A campanha da Ficha Limpa já estava em aberto desde abril de 2008.Foi elaborada pela sociedade civil brasileira, visando melhorar o perfil dos candidatos/candidatas a cargos públicos e representativos do país. Para isso acontecer, elaboraram um Projeto de Lei de Iniciativa Popular abrangendo a vida dos candidatos, com o objetivo de tornarem mais rígidos os critérios de quem não pode se candidatar - critério da inelegibilidade. O projeto Ficha Limpa, antes de entrar em vigor em 2010, correu por todo o país. Mais de 1,3 milhão de assinaturas foram coletadas a seu favor – o que corresponde a 1% dos eleitores brasileiros. Em 29 de setembro de 2009, o Projeto de Lei foi entregue ao Congresso Nacional junto com as assinaturas coletadas. A votação ocorreu na Câmara dos Deputados e no Senado, sendo aprovada por unanimidade. A lei foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 4 de junho de 2010, prevendo um
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dos mais históricos recursos aos eleitores, a Ficha Limpa. Quase dois anos depois de entrar em vigor, a Lei da Ficha Limpa foi declarada constitucional pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Por sete votos a quatro, o plenário determinou que o texto integral da norma passou a valer este ano, durante o período eleitoral. A Lei Ficha Limpa foi aprovada graças à mobilização de milhões de brasileiros. A Lei se tornou um marco fundamental para a história da democracia e a luta contra a corrupção e a impunidade no país. Trata-se de uma conquista de todos os brasileiros. Para garantir que essa vontade do Brasil de combate às falcatruas políticas se reflita nestas e nas próximas eleições, a Articulação Brasileira contra a Corrupção e a Impunidade (ABRACCI) mantém o site Ficha Limpa – um instrumento de controle social da Lei. (Informações oficiais da ABRACCI, site eleitoral)
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LUCAS RAGE 8˚PERÍODO Os fãs de rock que compareceram ao Pavilhão 3 do Expominas na noite do dia 20 de outubro tinham em mente um só objetivo: ver Robert Plant – exLed Zeppelin e uma das lendas vivas do rock’n roll - subir aos palcos. Apesar de tema das discussões entre os bolinhos que se espremiam contra a grade, o repertório da noite cairia para segundo plano. Com muito ou pouco Led, a estrela da noite seria aquele senhor de 64 anos e cabelos encaracolados – e assim o foi. Com 15 minutos de atraso, eis que surge - acompanhado de seu Sensational Space Shifters - o ícone em toda a sua simplicidade. À vontade em uma camisa listrada e jeans escuros, Plant contrastava com a versão psicodélica (e bem mais nova) de si mesmo que adornava o espetáculo. Seguido de um arranhado “tudo bom” em português, confirmaram-se as suspeitas que pairavam sobre a arena (quase) lotada – o tom da noite não fugiria muito da apresentação ocorrida no Rio de Janeiro. Paciente, o roqueiro seguiu seu roteiro à risca e aqueceu a noite com as desconhecidas do público Tin Pan Valley e a clássica Forty Four Blues, de Howlin’ Wolf. Iniciados os trabalhos, era hora de aplicar um pouco de Led em uma plateia que se esforçava a acompanhar o ídolo com aplausos e gritos. Já nos pri-
meiros acordes de Friends (Led Zeppelin III, 1970), um público até então meio perdido começa a mostrar sinais de energia. É na terceira música da noite que Plant impressionou e mostrou que o rapaz em cores vibrantes estampado ao fundo do palco ainda existe – pelo menos em parte. Apesar de contido, o vocal ainda é enérgico e cristalino. O ex-Led Zeppelin mostrava que ainda tem fôlego – mensagem que reverberaria, pelo resto da noite, em outros clássicos do grupo. A noite que se seguiu foi uma mescla de clássicos do Led e homenagens ao blues, folk e world music. “Hoje teremos grandes diferenças e grande surpresas para nós”, diz o astro, a certa altura do show. Se uma hora o público explodia diante de sucessos do Led, no momento seguinte estava frio novamente, atento aos versos de um repertório que, apesar de belo, não lhe soava familiar. A sensação era a de que se estava em dois shows distintos que ocorrem intercaladamente, com momentos de euforia entremeados por repousos, enquanto se aguardava ansiosamente o próximo petardo do rock. Não faltaram momentos em que Plant “cutuca” seu público com as clássicas Black Dog transformada em um blues -, Bron-Y-Aur Sur Stomp e Gallows Pole, esta com direito a acompanhamentos do africano Juldeh Camara e seu ritti, uma espécie de violino de uma corda só. Mas
O Ponto
é em Ramble On que o público extravasou todo o grito que até então se entalava na garganta. Com interpretação praticamente inalterada de Plant, a música foi acompanhada em uníssono pela plateia, em um coro para roqueiro nenhum botar defeito. “Ê galera”, se impressionou o astro, bem humorado com o tardio, porém merecido, feedback. No já esperado bis, o roqueiro retornou ao palco e fechou o espetáculo com chave de ouro. Going to California (em interpretação suavizada e intimista de Plant) e Rock’n Roll mais uma vez levaram o público à euforia. No final das contas, o público ainda saiu no lucro. Repetindo o feito realizado no Rio, os fãs são agraciados com oito clássicos do Led em 1h45m de show.
“Uma coisa é fugir da linha, outra é dar meia volta e retornar às origens” Samir Saadeddine
Em uma só frase, o roqueiro resumiu o resultado da noite. “Às vezes coisas loucas acontecem quando você faz algo pela primeira vez”. Não se sabe se esta será a última passagem do astro por BH, mas uma coisa fica clara – quem esteve no Expominas viu que, apesar de repaginado, Robert Plant ainda tem muito rock’n roll correndo em suas veias.
Rock que atravessa gerações O retorno de Robert Plant ao Brasil interrompe um intervalo de 16 anos sem shows do roqueiro no país. Para se ter uma ideia, muitos dos fãs que hoje idolatram o Led Zeppelin não existiam ou eram muito novos para se lembrarem da apresentação do grupo durante o Hollywood Rock, no Rio de Janeiro, em 1996. É o caso dos estudantes Pedro Leon (22), Sérgio Ricardo (17), João Marcos (15) e João Victor (16), uns dos primeiros a marcarem presença no Expominas para a apresentação do ícone do rock. Apesar de novos, eles se consideram especialistas quando o assunto é Robert Plant e seu lendário grupo. João Victor explica a fascinação pelo conjunto. “O Led representa os anos 70, uma década muito boa para o rock”. Influenciados pelos pais, os jovens mostram propriedade quando o assunto é o próprio Plant. “Eu acho legal estar aqui para, acima de tudo, observar a atitude no palco do ‘senhor’ Robert Plant”, brinca Pedro. Já João Marcos acha interessante notar que o vocalista passa hoje por um “lado mais maduro”. Victor, que também é músico, se mostra ainda mais confiante. “Independentemente do repertório, sei que ele manterá o mesmo nível”, diz. Em outro grupo de apaixonados por Led Zeppelin está o casal de advogados Wander Bernardes (27) e Thais Schmidt (29). Fãs de Robert Plant desde a adolescência, a dupla decidiu viajar de
Cuiabá, Mato Grosso do Sul, especialmente para a apresentação do músico em Belo Horizonte. Para Wander, que aprendeu a gostar do grupo com amigos mais velhos, ver o astro subir ao palco já basta o ingresso. “Conheço o trabalho antigo dele. Este não é o rock clássico, mas só vê-lo em ação já vale a pena”. Influenciada pela mãe, Thaís é ainda mais objetiva na justificativa para a viagem. “Vim ver o maior vocalista de todos os tempos”. Outro especialista em Robert Plant e companhia é o cardiologista Samir Saadeddine (40). A apresentação marca o segundo show do médico, que compareceu à apresentação de 96. Desta vez, resolveu vir acompanhado da mulher, Adriany (34). “Da última vez que vi ele nos palcos eu estava no último período de medicina”, lembra. Para o “doutor” em Led Zeppelin, o sucesso do grupo só tem uma explicação. “O Led sempre absorveu todos os estilos. Daqui a duzentos anos, estudarão o grupo como quem estuda Bach e Beethoven nos dias de hoje. É atemporal”, afirma. Samir faz parte do grupo que acompanha o progresso da carreira de Robert Plant de perto. Para ele, o variado repertório do vocalista não é nenhuma surpresa. “Uma coisa é fugir da linha, outra é dar meia volta e retornar às origens. Plant tem essa abordagem erudita para suas músicas desde os primórdios da banda”, explica. “O Led influenciou todas as bandas que se seguiram à década de 70”, completa.
Foto: Lucas Rage
Arte: divulgação
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O Ponto
A busca pelo direito de s a b ber Lei garante que qualquer cidadão conheça as decisões tomadas pela União WILLIAN BORGES LAÍS SEIXAS 4º E 6º PERÍODO Os cidadãos querem, cada vez mais, saber quais são os passos dados pelo Brasil. A Lei de Acesso à informação veio para suprir essas necessidades. Em maio deste ano, ela entrou em vigor e o país se tornou um dos mais transparentes quando a questão é informação política. Os três poderes liberaram para qualquer cidadão seus documentos “não sigilosos”. A Procuradora do estado de Minas Gerais, Raquel Melo Urbano de Carvalho, veio à Universidade Fumec para participar da “Semana Jurídica” e falou sobre essa lei, que já está em vigor há algum tempo, mas que aos poucos está se tornando de conhecimento público. A LAI (Lei de Acesso à Informação) foi sancionada pela Presidenta da República, Dilma Roussef, em 18 de novembro de 2011, mas só entrou em vigor em 16 de maio deste ano. Ela segue o exemplo de leis já existentes em países desenvolvidos e, apesar de ainda ter muito a aprimorar, fez com que o legislativo, o executivo e o Judiciário abrissem seus documentos ao público em geral, diminuindo
a possibilidade de fraudes e corrupção. Agora a população, que tanto cobrava transparência, tem o poder de acompanhar as contas públicas de perto. A Lei Nº12.527 determina a criação de SICs (Serviços de Informação ao Cidadão) em cada órgão público. Com ela, qualquer pessoa poderá ter acesso a informações de interesse coletivo, como a tramitação de documentos, processos de licitações e gastos públicos. Além dos SIC’s, as informações podem ser acessadas pelo site da Controladoria Geral da União (http://www. portaldatransparencia.gov.br/). A semana jurídica Entre os dias 17 e 20 de setembro, foi realizada a Semana Jurídica, criada para debater temas atuais como Lei da informação, Lei “Maria da Penha”, A Virtualização do processo eleitoral e o controle judicial da propaganda pela internet. Segundo o Professor Daniel Firmato, havia muita expectativa para o circuito de palestras. A abertura do ciclo de palestras foi feita de forma irreverente e criativa pelo Professor Mario Werneck, que falou da sua área, direito Ambiental. Durante a sua fala, mostrou os problemas do desenvolvimento desen-
“O que esperávamos das palestras era proporcionar ao corpo discente discussões de temas atuais sobre a perspectiva de outros profissionais” Daniel Firmato freado que estamos vivendo, citando como exemplo principal o crescimento do Belvedere, que ocorreu sem planejamento para o futuro. Werneck deixou aos que estavam lhe assistindo uma reflexão sobre as barreiras enfrentadas quando a questão é sustentabilidade. “Para fazer ecologia, tem que ter dinheiro e para ter dinheiro, devemos ter razoabilidade”, comentou o professor. À noite quem falou foi à professora da Universidade de Itaúna, Doutora Edilane Lobo, sobre a relação das pessoas com a internet, focando principalmente nas questões referentes a elementos eleitorais. A professora mostrou que o brasileiro trata a propaganda de um modo inadequado. Trata como privado um elemento público. Falou também um pouco de
como as ferramentas podem ser utilizadas de forma mais segura para que o público tenha uma visão correta de fatos e não se perca em informações falsas, que são recorrentes nas redes sociais. O segundo dia de palestras revelou questões importantes para o público, que não se restrigiu às turmas do Direito. A manhã foi preenchida por uma aula de história ministrada pelo professor Emilio Peluso Neder Meyer, que abordou a Guerrilha do Araguaia e a ditadura militar, trazendo para o presente questões e problemas deixados por esses fatos. A palestra do período da noite foi referente à lei de acesso à informação. A Procuradora do estado de MG e professora Raquel Melo Urbano de Carvalh envolveu o público ao falar sobre esse assunto que está em pauta na sociedade atual, mostrando que a lei de acesso à informação do Brasil ainda está longe das leis de países mais desenvolvidos, mas já é um primeiro passo. Quarta feira teve, na programação da semana, primeiramente a fala do procurador da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e professor de direito administrativo da UFMG sobre a discricionariedade administrativa e controle judicial, expli-
cando amplamente a questão histórica e também atual desses aspectos do Direito nacional. Quando a palestra da noite foi aberta e a assessora da área criminal do TJMG foi anunciada para falar sobre a lei “Maria da Penha”, todos ficaram ansiosos por respostas. Um assunto delicado como esse não poderia ser apenas apresentado. Ao final da palestra, surgiram inúmeras perguntas para a palestrante. As últimas apresentações, que abordaram assuntos de interesse público, foram feitas na quinta-feira pela manhã. A Universidade recebeu a Coordenadora do grupo de pesquisa Observatório para qualidade da lei - da Faculdade de Direito da UFMG -, Fabiana Menezes Soares, que apresentou propostas para melhorar a legislação brasileira. O evento foi concluído à noite com a fala da Mestra em Direito Constitucional pela UFMG e em Direito Público pela RuprechtKarls-Universität Heidelberg, Renata Camilo de Oliveira. A palestrante abordou sua trajetória e mostrou ao público como lidar com os direitos fundamentais. De acordo com o professor Daniel Firmato, a semana foi bem sucedida, atingindo as expectativas da coordenação.
Repercussão Fotos: Batata Borges
Você é a favor da normatização da divulgação da remuneração para funcionários públicos?
“Eu acredito que a “Esse é o momento “Hoje já penso transparência é uma boa ideal para nós batermos que, em face da forma de os servidores nessa tecla, porque nós transparência exigida públicos não abusarem. pela administração não vamos conseguir Afinal nós também pública, sou a favor da amanhã trazer esse contribuímos com os divulgação” salários deles.” benefício para a população.” Igor Pinheiro, 8º Período de Direito.
Sarah Oliveira, 6º Período de
Antonello, 10º Período de Direito
“Entendo que, no ano de 2012, no Estado Brasileiro, justifica-se essa constrição em relação ao universo dos servidores para que a gente tenha a transparência concretizada. Eu costumo dizer que, se a gente perder essa briga, a gente vai perder a Lei inteira.” Raquel Melo, Procuradora do estado de MG
Direito
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Editor e diagramador da página: Bruno Miranda e Guilherme Vale e Júlia Falconi - 4º Período e Túlio Kaizer 6º Período
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O Ponto
Testamento Vital
agora para a hora de nossa morte A luta pelo direito à escolha de viver ou morrer
Fonte foto do título: interne.com.br/
Foto: Guilherme Vale
Paciente tem a opção de desligar os aparelhos
IGOR ANTUNES GERSON MELO FILIPE MAGALHÃES 2º PERÍODO Pacientes em estado terminal terão a chance de escolher se querem fazer algum tipo de tratamento ou ”desfrutar” da vida até o último minuto que lhes restam. A nova regra do Conselho Federal de Medicina (CFM), chamada de Diretiva Antecipada de Vontade, dá ao paciente a escolha de recusar tratamentos ou procedimentos quando estiverem em estado terminal. Sem essa regra, os pacientes ficavam submetidos ao tratamento prescrito pelos médicos. A ortotanásia (Testamento Vital) seria, então, o meiotermo entre dois procedimentos – Eutanásia e Distanásia. É dela a ideia da promoção da morte no momento certo (orto = certo, thanatos = morte) – nem antes, como ocorre no caso da eutanásia; nem depois, como na distanásia. O paciente pode, no curso de seu tratamento, não querer mais adiar o inevitável e fazer a opção pela suspensão dos cuidados que o mantém vivo e, por fim, vir a falecer longe das dependências dos hospitais. Assim, ele restringe ou descarta tratamentos agressivos e ineficientes que não reverterão o quadro em questão. A Resolução 1.995/2012, publicada no Diário Oficial da União no final de agosto, não tem poder de lei, e antes dela a opção ficava nas mãos dos médicos e dos familiares do paciente. Segundo o Doutor Desiré Carlos Callegari, secretário do Conselho Federal de Medicina, em entrevista ao site da Rede Vida, a resolução não pode ser considerada uma novidade e tem que ser vista como um “resguardo do ponto de vista ético do médico”.
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Fabiana Lopes Melo perdeu a mãe, Heloísa Melo, no dia 16 de agosto de 2012, vítima de um câncer. ‘’A minha opinião é de que as pessoas têm que ter o direito de escolha quando o estado é terminal. Eu acho que chega a ser egoísmo da nossa parte querer que a pessoa “seja eterna”, que fique conosco mesmo sofrendo”, declara Fabiana. O Testamento Vital poderá ser registrado em cartório caso a família do paciente não concorde com sua escolha. Esse documento - feito em qualquer momento da vida - poderá ser cance O paciente pode, no curso de seu
“As pessoas têm que ter o direito de escolha quando o estado é terminal. Eu acho que chega a ser egoísmo da nossa parte querer que a pessoa ‘seja eterna’ ” Fabiana Melo tratamento, não querer mais adiar o inevitável e fazer a opção pela suspensão dos cuidados que o mantém vivo e, por fim, vir a falecer longe das dependências dos hospitais. lado ou alterado. Somente pessoas acima de 18 anos, emancipadas perante a justiça e em perfeito estado mental, poderão fazer seu testamento. Marcelle Morais, estudante de biomedicina, em depoimento para o jornal “O Ponto”, opina sobre o assunto: “Sou a favor da ortotanásia, é um método bastante interessante, mas pouco conhecido e divulgado. Muita gente o confunde com a eutanásia”.
Fabiana Melo chega a comentar também sobre a nova resolução que não havia entrado em vigor na época em que sua mãe se encontrava doente: “Se o médico chegasse até mim e falasse que o caso da minha mãe era terminal, e que mesmo assim ela ia ter que fazer a quimioterapia, que poderia ter 1% de chance, eu não deixaria. Primeiro porque ela não aguentaria, pois o tratamento é muito forte. Segundo, porque ela não queria fazer a quimioterapia, e terceiro, ela ia acabar ficando na cama dependente de todo mundo. E pra quem conheceu minha mãe, isso seria um sofrimento. Ela trabalhou até três meses antes de falecer; ia ser sofrimento demais pra ela. Ou seja, de uma forma ou de outra ela ia falecer, mas eu ia preferir que não fosse sofrendo pelos efeitos da quimioterapia. Concordo sim que essa escolha tenha que ser feita pelo paciente. Ele deve ter o direito de escolha de vida.” Por ser a escolha mais difícil na vida de uma pessoa, a decisão do paciente tem que se dar de forma clara entre ele, o médico, e a família, não deixando margem para erros, para que a dignidade da pessoa, um dos princípios da Constituição Federal, seja preservada até o último momento. Logo após, o médico terá que registrar no prontuário a decisão tomada pela pessoa, não precisando de testemunhas. Ele também pode não concordar com o paciente se o pedido não estiver de acordo com o Código de Ética Médica. O cancelamento desse documento poderá ser feito pela pessoa, desde que o mesmo esteja lúcido. Importante frisar que essa resolução não se confunde com a Eutanásia, que consiste no desligamento dos aparelhos que mantém o paciente vivo. Essa prática continua vedada por lei aqui no Brasil.
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O lado sério da
palhaçada A ONG Doutores da Alegria mistura a graça do palhaço com a dificuldade de sustentação de um trabalho sério: ajudar crianças hospitalizadas
“É fantástico! Somos artistas e fingimos que somos médicos para as crianças que fingem que acreditam”, conta Dr. Custódio, integrante da ONG Doutores da Alegria. Eliseu Custódio, de batismo, e Dr. Custódio, por escolha, o arte-educador, ator e mobilizador social sonhava em ser um super-herói ou em encontrar uma lâmpada mágica. Apesar de a capa ter sido substituída por um chapéu e um grande e envernizado nariz vermelho, o palhaço é, ainda assim, considerado um herói para muitas crianças desde 2007. Formada por um time desses personagens, Doutores da Alegria transcende a realidade dos picadeiros e os coloca numa missão bem mais séria que a de apenas fazer rir: a tarefa de levar um pouco de conforto e diversão a crianças que vivem um momento difícil de tratamento em hospitais. Vestidos com jalecos brancos e maquiados como artistas de circo, a trupe das gargalhadas segue para diversos hospitais do Brasil, fingindo ser médicos que ajudam a curar com uma boa e velha risada. Belo Horizonte conta com o trabalho de cinco doutores assim como Dr. Custódio, conhecidos como Dra. Xuleta, Dr. Matias Benevonuto, Dr. Cloro e Dr. Risoto. Os nomes remetem à chamada “besteirologia”, a filosofia do palhaço, que começa pelo próprio nome dos Doutores – quanto mais engra-
Imagens: divulgação
CLARA DAMASCENO, JOYCE NUNES E SARAH BORÉM 1º E 2º PERÍODOS
Integrantes do Doutores da Alegria em apresentação infanto-juvenil çado o nome do doutor, mais a criança vai querer brincar com ele. Com seus nomes divertidos e atuando sempre em duplas, os atores frequentam três hospitais da capital mineira: Santa Casa de Misericórdia, Hospital da Baleia e Hospital das Clínicas da UFMG. As duplas são fixas nos hospitais durante um ano, para assim criarem vínculos com as crianças. “Depois da visita, fica uma história em cada leito. As crianças contam para a família, enfermeiras, e isso facilita o trabalho do médico. Há alguns médicos que entram nas brincadeiras, e isso ameniza o olhar das crianças sobre eles”, acrescenta Dr. Custódio. De acordo com o Balanço de 2011 dos Doutores, é possível perceber que o efeito que os palhaços causam permanece ainda após a visita e ajuda no tratamento médico. Na opinião dos profissionais de saúde, 96% das crianças ficam mais à vontade com o ambiente do hospital, 90% ficam mais colaborativas com esses profissionais, 85% apresentam evidências clínicas de melhora e 78% se alimentam
melhor. Essa pesquisa mostra uma grande conquista para crianças que estão totalmente debilitadas ou desmotivadas com os tratamentos e para os Doutores que fazem o trabalho. A ONG é reconhecida nacional e internacionalmente, com um acervo de diversos prêmios de grande valor no âmbito da saúde e da cultura. Esse reconhecimento não vem somente pelo fato de ser um trabalho bem feito e, sim, por ser um trabalho que envolve uma situação tão delicada de forma tão profissional e, ao mesmo tempo, divertida. Esses palhaços que atuam como médicos inspiraram diversos grupos a fazer um trabalho semelhante e, hoje, são mais de 1000 outros “doutores” que levam alegria a crianças hospitalizadas em todo o país, o que revela que, de bobos, os palhaços não têm nada. Conhecida e respeitada em todo Brasil, a instituição Doutores da Alegria promove a experiência da diversão como fator incentivador de relações saudáveis por meio da atuação
profissional de palhaços junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde. Essa instituição é baseada em uma organização similar, a Clown Care Unit, localizada em Nova Iorque, Estados Unidos e idealizada pelo americano Michael Christensen, em 1986, que instaurou, em um local dominado por imagens de enfermidades, ícones de alegria e festividade. A proposta foi tão bem aceita pela sociedade que, em 1991, a ideia chegou ao Brasil por meio de Wellington Nogueira, que conseguiu dar início a esse trabalho no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo, atualmente conhecido como Hospital da Criança.
Baseado em palhaços reais O filme conta a história real de Hunter Adams que, após uma crise de depressão, interna-se voluntariamente em uma clínica psiquiátrica. Ao ajudar outros internos, Hunter descobre o desejo de se tornar médico, para assim continuar ajudando outras pessoas. Após ingressar na Faculdade de Medicina da Virgínia, Adams percebe que o distanciamento na relação médico-paciente durante o
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tratamento poderia provocar reações negativas na recuperação dos pacientes. Utilizando métodos pouco convencionais, Patch Adams resolve tratar as pessoas e não apenas suas doenças. O personagem segue firme em seu propósito e distribui a seus pacientes não apenas diagnósticos e medicamentos, mas também sorrisos, amor, calor humano e muita alegria.
Ser palhaço não é brincadeira Por trás de um trabalho tão motivador e de objetivo tão nobre, existe a grande dificuldade de manter a ONG. Os palhaços do grupo são atores profissionais com as mais diversas formações artísticas que necessitam de uma fonte de renda como qualquer outro trabalhador. Porém, suas apresentações são gratuitas ao público. Para conseguir se manter, a principal fonte de renda dos Doutores da Alegria vem da Lei Federal de Incentivo à Cultura (lei nº 8313 de 23 de dezembro de 1991), em que eles podem captar recursos para o desenvolvimento de projetos culturais. Também obtêm verba a partir da venda de produtos da marca Doutores da Alegria e serviços diversos, como palestras e oficinas. Atualmente, existe o programa Sócios da Alegria, uma campanha de mobilização para que os colaboradores ajudem por meio de um sistema de cotas de patrocínio. Esse sistema funciona da seguinte maneira: o Patrocinador da Alegria, por exemplo, colabora com duas cotas de R$ 900 mil cada, o Patrocinador da Gargalhada, com duas cotas de R$ 650 mil cada e o Patrocinador da Risada, com duas cotas de R$ 450 mil cada. Com esses recursos, espalhar a gargalhada se torna um trabalho de mais fácil acesso. Os colaboradores dessa ONG utilizam a campanha de marketing relacionada à causa, como a venda de produtos ou realizações de serviços com parte da renda obtida revertida aos Doutores da Alegria, de forma permanente ou por tempo limitado. A organização conta hoje com parceiros como o Banco Santander, Santander Cap, as lojas Atacadão e Braz, a drogaria Raia, entre outros.
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Dois “focas” soltos na Rio+20
Fotos: Marina Bhering e Franco Serrano
As dificuldades, contratempos, soluções e prazeres vividos por dois futuros jornalistas durante a cobertura do mega evento Rio+20, realizado em junho, na Cidade Maravilhosa o
Os universitários Franco Serrano e Marina Bhering em registros de alguns dos principais momentos vivenciados durante a cobertura da Rio +20
MARINA BHERING 8º PERÍODO Se a cobertura jornalística de um evento de grande porte já é um desafio para profissionais veteranos, imagine para uma dupla de focas. A experiência foi vivida por dois estudantes do jornalismo da Fumec, que foram a campo para colocar em prática tudo o que aprenderam durante o curso na cobertura da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), o maior evento mundial sobre meio ambiente realizado na Cidade Maravilhosa. A viagem, que contou com o apoio da universidade, durou quatro dias, e as dificuldades enfrentadas e soluções
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apresentadas exigiram coragem e jogo de cintura. A preparação para a viagem também foi fundamental. A iniciativa, aprovada pela coordenação do curso como projeto de extensão, teve auxílio financeiro para as passagens de avião. Equipamentos de filmagem e câmera fotográfica em mãos, roteiro feito a partir da programação do evento, malas prontas e um frio na barriga. Era hora de partir. Com tantos lugares para ir em tão pouco tempo, foi preciso escolher as prioridades. Foram selecionados quatro lugares para a cobertura do evento: Riocentro, Cúpula dos Povos, Parque dos Atletas e Projeto Humanidade. “Não fazia a menor ideia do que nos espe-
rava no Rio de Janeiro. Mas a vontade de participar da cobertura de um grande evento sobre meio ambiente foi maior que o medo”, afirma Marina Bhering. O projeto, além da proposta de atividade de extensão, também é o trabalho de conclusão de curso da universitária, que contou com a colaboração do colega Franco Serrano. “Sabíamos que estaríamos sozinhos, sem mestres para nos auxiliar e nos dizer o melhor modo de fazer ou qual o melhor lugar para ir. Éramos focas corajosos, enfrentando os problemas reais de um jornalista, sem equipe e sem respaldos. Se não fizéssemos direito, não teríamos outra chance de voltar e tentar consertar os erros”, ressalta Marina.
Antes de embarcar, mais um detalhe importante: enviar uma carta para credenciamento junto à Organização das Nações Unidas (ONU), responsável pelo evento. Com isto em mãos, o acesso seria garantido a locais onde apenas os chefes de estado e jornalistas credenciados entrariam. “Cumprimos a etapa burocrática de credenciamento, checamos documentos e equipamentos. Até então, achávamos que estava tudo bem. ” Primeira pedra no caminho Malas deixadas em apartamento na Barra da Tijuca, onde ficaram hospedados, os futuros jornalistas partiram para o Riocentro em busca das credenciais. De cara, enfrentaram o
primeiro contratempo: os responsáveis pelo credenciamento informaram que o passaporte de acesso aos eventos oficiais havia sido vetado. Representante da ONU alegou que a Universidade Fumec não se configura como um veículo de comunicação propriamente dito e, por isso, a entrada nas reuniões oficiais não poderia ser liberada. Apesar da frustração inicial, a dupla não se deixou abater; afinal, havia cerca de 300 eventos paralelos acontecendo e a grande maioria abertos à sociedade civil. Planos de cobertura refeitos, os focas partiram para o Parque dos Atletas, próximo ao Riocentro, para descobrir que projetos os países estavam apresentando para solucionar as
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Decoração feita com material reciclável, no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, em frente ao pavilhão do Brasil questões ambientais no futuro. Nesse momento, outra questão a ser rapidamente solucionada: o grande número de pavilhões com mostras paralelas. O que cobrir? A diversidade cultural dominou o Parque dos Atletas. Dentre os pavilhões, os brasileiros chamaram atenção pela grandiosidade e design. A estrutura externa do estande do estado do Rio de Janeiro foi construída com madeira e caixas do mesmo material; foram utilizadas como jardineiras no entorno. Lá os visitantes puderam conferir ações de defesa do meio ambiente como proteção dos sistemas lagunares no Norte do estado, replantio da floresta da Tijuca e criação de leis brasileiras de proteção às áreas do bioma Mata Atlântica. O segundo pavilhão do Rio foi destinado a seminários e palestras abertas ao público. “Encantei-me no primeiro instante com o pavilhão da Amazônia brasileira. Nele, pequenos estandes mostravam diversos projetos sustentáveis desenvolvidos na região, como a fábrica de preservativos masculinos Xapuri, no Acre, que desenvolve o material com borracha 100%
natural”, ressalta Marina. O estande de Curitiba apresentou o Hibribus, um protótipo elétrico que também é movido com biocombustível. Com a mesma capacidade dos ônibus comuns, o Hibribus reduz em até 35% emissão de gases poluentes na atmosfera. Entre os estrangeiros, o pavilhão da Itália esbanjou elegância. Tanto na decoração interna quanto externa. O país utilizou bambus, caixas de madeira, papelão e cordas, com direito a música ambiente utilizando sons da floresta e pisos com desenhos de diversos tipos de solo, como grama e calcário. Dentro do pavilhão, separado dos outros ambientes por cordas, um miniauditório possuía cadeiras de papelão - um verdadeiro exemplo de sustentabilidade. Embora não tenha saído como o planejado, o primeiro dia de cobertura foi produtivo e rendeu matérias de boa qualidade. Chuva e filas No segundo dia, a cobertura seria direcionada ao projeto Humanidade, realizado no Forte de Copacabana. Mesmo debaixo
de chuva, a população também compareceu em massa para conferir os trabalhos. Quando os focas chegaram, pela manhã, a fila para entrar no Humanidade ultrapassava dois quarteirões. A falta de credenciais que poderiam agilizar a entrada e o tempo de espera na fila – sob chuva – que, segundo pessoas que aguardavam, chegava a até quatro horas, fizeram com que a dupla mudasse novamente os planos. Os jornalistas tentaram contato com os responsáveis e com a assessoria do evento, mas, mesmo após esperar quase uma hora, ninguém apareceu para dar qualquer declaração. “Eu e Franco voltamos para a Barra com um sentimento de impotência e decepção, mas aquilo não poderia nos abalar. O terceiro dia tinha tudo para dar certo: Cúpula dos Povos nos aguardava.” Loucura divertida A Barra da Tijuca é longe do Aterro do Flamengo. Para quem conhece o Rio de Janeiro, isso pode parecer bobagem, mas para nossos futuros jornalistas, que não conheciam a cidade...
Mural com mapa identificando os pontos na capital fluminense onde ocorreu o evento
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Após sacolejar duas horas no ônibus, chegaram à Cúpula dos Povos com o objetivo de ficar o maior tempo possível e percorrer a maior extensão em busca de informações. “Só não sabíamos que havia tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo”, lembra Marina. Logo na entrada, um mapa gigante dava uma pequena ideia do tamanho daquele evento. Era quase impossível focar os olhares em um só lugar. De um lado, mulheres cantavam e dançavam, do outro uma senhora clamava por justiça para o povo cigano, enquanto, pelo caminho, hippies e artesãos vendiam seus badulaques. De repente, uma figura surge no meio da multidão em cima de um camelo de plástico, com uma música da cultura islâmica ao fundo e com as vestimentas típicas. Por onde ele passou, arrancou risos e flashes. Em uma das tendas estava começando o Fórum Continental “Niñez, Diversidad Cultural y Biodiversidad”. Após apresentação do Teatro Trono, seguiu-se palestra do teólogo brasileiro Leonardo Boff, que abordou temas como diversidade e ecologia. No lado esquerdo do Aterro do Flamengo, ocorreram as plenárias da Cúpula, onde foi elaborado o documento entregue aos chefes de estado com reivindicações de todos os movimentos e povos, presentes ao evento, por um mundo mais justo e verde. “Ali, tivemos a oportunidade de conversar com dois jornalistas profissionais e conhecer um pouco mais da difícil tarefa de cobrir um evento gigante como aquele”, explica Marina. Davi Padilha Bonela, que foi para a Cúpula como repórter voluntário e acabou sendo contratado como imprensa oficial do evento, acompanhou desde a montagem das estruturas até as discussões propriamente ditas. Tendo como bagagem os movimentos sociais dos quais sua família participou durante anos, Bonela ressaltou a prin-
cipal missão do jornalista: “dar a voz”. Ele ponderou também acerca da importância do profissional obter conhecimento prévio sobre o assunto que tratará e sobre o respeito com o qual deve ter com todas as pessoas e movimentos sociais. Letícia de Oliveira, repórter da Globo News, foi chamada para o Rio de Janeiro especialmente para cobrir as discussões na Cúpula. Oliveira recordou que, na época da Eco 92, enquanto selecionava notícias de jornais para trabalhos da escola, os representantes dos países já discutiam sobre atitudes que deveriam ser tomadas antes que a situação do planeta se agravasse. “As coisas já estão acontecendo. É preciso agir”, salientou. Ela falou ainda sobre a dificuldade de sua equipe cobrir tudo o que acontecia no Aterro, em função da grande quantidade de movimentos e visitantes. No última dia, com o voo marcado para 16h, a dupla escolheu voltar ao Parque dos Atletas, já que era o local mais próximo da Barra e abrigava uma diversidade de pavilhões ainda não visitados no primeiro dia. A volta ao lar foi emocionante. Durante o voo, o filme da memória reprisava as cenas e lembranças desde o inicio do sonho até as experiências mais incríveis vividas no Rio de Janeiro. “Sem dúvida, para nós, futuros jornalistas, essa viagem significou mais que um aprendizado profissional, mas um crescimento pessoal sobre como lidar com todo tipo de credo, cultura e raça, além de nos permitir enfrentar nossos próprios medos e limites. Demos a voz a quem nos escolheu, compartilhamos experiências, alegrias e frustrações. Crescemos pessoal e profissionalmente e mostramos para todos que nos acompanharam, e, principalmente para nós mesmos, que somos capazes de fazer coisas grandes, projetos grandes. Basta querer. Basta acreditar”, conclui Marina.
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Cariúnas: Cantinho da Cultura Projeto aposta na arte como instrumento para formação de melhores cidadãos e aponta um novo rumo na vida de centenas de crianças e adolescentes
Com o intuito de criar uma sociedade mais sensível e mais humana, o projeto sociocultural Parque Escola Cariúnas trabalha com a arte no desenvolvimento de crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. Criado em 1997 como um trabalho de extensão da Escola de Música de UFMG, apoiado pela Fundação CDL, o projeto hoje oferece, aos 200 alunos matriculados, aulas de musicalização, teatro e dança. A escola procura desenvolver, em cada criança, a melhoria social, cultural, além de criar oportunidades semiprofissionalizantes para a esperança de um futuro melhor. A arte entra como ferramenta para tal formação, estimulando a sensibilidade e uma visão diferente do mundo em que os alunos estão inseridos. O Cariúnas recebe alunos a partir dos 6 anos, quando iniciam as aulas de canto e de algum instrumento de sopro. À medida em que vão crescendo, outras atividades são aprendidas. Em horário extraclasse, o projeto oferece aulas de musicalização, dança, teclado, flauta doce, violão, canto coral, artes integradas, criação, além de terem reforço alimentar e atendimento psicológico. Inicialmente desenvolvido para atender crianças com uma classe social menos favorecida, o projeto atuava em creches de Belo Horizonte. Em 2007, foi construída, em um terreno doado pela Prefeitura, a sede do Cariúnas, localizado no bairro Planalto, Zona Norte da
Tânia Cançado, idealizadora e diretora do Projeto Cariúnas
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Capital. Para a idealizadora e diretora do projeto, Tânia Cançado, o programa se adaptou ao longo dos anos e atualmente conta com a integração entre as crianças de diferentes classes sociais. De acordo com Tânia, 70% dos alunos não pagam mensalidade devido à condição
De acordo com Tânia, 70% dos alunos não pagam mensalidade, devido à condição financeira, mas, na medida do possível, ajudam com doações de alimentos. financeira, mas, na medida do possível, ajudam com doações de alimentos. Para os alunos que apresentam uma melhor condição, o projeto conta com uma ajuda mensal. O transporte para locomoção dos alunos até a sede do programa é gratuito e oferecido pelo projeto. Segundo Tânia, ao longo dos 15 anos de existência do projeto, é possível acompanhar a melhora da estrutura familiar de pessoas que passaram por lá. “São filhos de ex-alunos que se matriculam aqui e conseguimos ver uma melhora na condição financeira e na estrutura familiar. Muitos estão trabalhando com a música”, conta. Impacto Social A boa participação escolar é exigência para as crianças permanecerem matriculadas e ativas nas atividades desenvol-
Aluno durante aula de dança
vidas pelo projeto. Como fruto dos treinamentos, professores e alunos organizam apresentações, sejam elas musicais, de dança ou teatro. Para o aposentado Cir Perpétuo, morador da região, o Cariúnas trouxe alegria ao bairro e acompanhar as apresentações e a evolução dos alunos se tornou uma atividade muito gratificante. Com os dois filhos matriculados no projeto, Eliane Soares afirma que agora consegue trabalhar mais tranquila sabendo que seus filhos estão inseridos em atividades sérias que podem, no futuro, render frutos positivos. Ex-aluna A ex-aluna Bruna Rodrigues Marchezini de Araújo comenta que o Cariúnas foi essencial no seu desenvolvimento e inserção no meio artístico. “Estudei no Cariúnas dos 9 aos 16 anos e hoje completei o curso profissionalizante de teatro. Se não fosse pelo projeto, teria me formado em Administração”, ressaltou. Atualmente, Bruna trabalha na parte pedagógica do projeto, auxiliando na elaboração de apresentações dos alunos e na parte administrativa. Durante muitos anos, o projeto Cariúnas se mantinha por meio de Leis de Incentivo. Hoje, conta com parcerias entre o SESI e Fiemg, que custeiam os gastos do programa. A Prefeitura de Belo Horizonte também ajuda na manutenção do espaço. Projetos como esse provam que existem pessoas que se preocupam com o próximo e que, por meio do trabalho, possibilitam melhores condições e qualidade de vida para as crianças.
Ex-aluna do Projeto, Bruna Rodrigues
Fotos: Raquel Couto
PAULA MATIAS 8º PERÍODO
Aulas de musicalização atraem muitos alunos
As aulas de dança e ballet para crianças a partir de 6 anos
Oficinas deTeatro desenvolvem o lado artístico dos alunos
Alunos se divertem com o professor de violão
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