Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 16
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Número 99
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Fevereiro de 2016
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Belo Horizonte / MG
Distribuição gratuita
Na contramão: Uma PEC propõe o fim da autonomia feminina em casos de violência sexual Pág. 03
Na mão: Uma campanha propõe um basta à violência contra as mulheres
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Na polêmica: Escola revive mito do comportamento de princesa à espera do príncipe encantado Pág. 08
Food trucks: a gastronomia chique que anda
O limite entre ser fã ou fanático
Bate-bola com Cassio Arreguy
Trailers com design sofisticado substituem os antigos “podrões”
Psicóloga Ana Gomes explica essa tênue fronteira
Assessor de imprensa do Galo revela bastidores do Clube
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02 • Opinião Belo Horizonte, fevereiro de 2016
O Ponto
Vamos gritar, se possível! Ingrid Vieira 4º Período Violência doméstica na definição do dicionário Aurélio é a violência, explícita ou velada, literalmente praticada dentro de casa ou no âmbito familiar, entre indivíduos unidos por parentesco civil (marido e mulher, sogra, padrasto) ou parentesco natural como, pai, mãe, filhos, irmãos etc. Inclui diversas práticas, como a violência e o abuso sexual contra as crianças, maus-tratos contra idosos, violência contra a mulher e contra o homem geralmente nos processos de separação litigiosa além da violência sexual contra o parceiro. Com esta definição é possível entender o que é a crueldade cometida em
alguns lares. Agora, o que você pensa quando falemos em violência? Eu costumo pensar em vários casos de abusos silenciosos, daqueles que só percebemos quando, por fim, alguém denuncia, mas, o que de fato não acontece na maioria dos casos. Vinculo também os maustratos relacionados à mulher, seja eles como, agressões verbais e físicas, abuso sexual, violência em espaço publico, dentre outras atrocidades. Imagine comigo a seguinte frase. “Se contar, ninguém vai acreditar. Se contar te machuco mais. Se contar, eu te mato!” Isto é uma parte do medo que as vitimas sofrem no decorrer de suas vidas. Com tanta medidas preventivas, com tanta informação é possível que as vitimas denunciem seus agressores, sem ao
menos correrem mais riscos? Creio que não! Pensando nisto foi criado recentemente a Black Dot Campaign (“campanha do ponto preto”). O objetivo da campanha era de ajudar mulheres que sofriam de maus tratos e não tinham coragem de denunciar seus agressores. A origem da campanha se deu por uma inglesa anônima, que criou uma página no facebook para denunciar os abusos que havia sofrido, como uma forma de chamar a atenção das autoridades. Mas como tudo se torna viral na internet, a campanha foi retirada do ar, pois muitos que não haviam sido violentados começaram a postar fotos, com o símbolo da campanha, o ponto preto na palma da mão. Além disso , ONGs de proteção a
mulher alegaram que esta atitude servia apenas para expor cada vez mais as vitimas, tornando a atitude em vão. O silencio é o resultado do medo e do desespero, que grande parte das vitimas de abuso domestico sofrem. Sendo um tema de grande impacto ele não possui tanta voz no meio social. As campanhas criadas raramente vigoram por muito tempo, pois todos os meios de “proteção” alegam a exposição. Até quando o Silencio vai permanecer? Medidas devem ser tomadas para que as vitimas deixem de sofrer nas mãos de seus agressores. Até quando isso irá permanecer? Devemos sim, falar, gritar se possível, temos leis que nos protegem, não podemos nunca nos calar diante de atitudes questionáveis.
#SomosTodosCulpados Eduardo Pires 1º Período Ainda nem foram encontrados todos os desaparecidos em decorrência do rompimento da barragem da Samarco-Vale-BHPBillington (até o presente momento estão confirmadas 13 mortes e encontram-se desaparecidas 11 pessoas) e já foi aprovado na quarta-feira (25) o Projeto de Lei 2.946/2015, que modificou diretrizes do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) de Minas Gerais. Altamente criticadas por ambientalistas,as mudança, segundo algumas entidades de proteção ao meio ambiente, é considerada um dos maiores retrocessos históricos na legislação ambiental de Minas Gerais e do Brasil. A proposta partiu do próprio governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. O polêmico projeto foi aprovado a toque de caixa e do seu encaminhamento à Assembléia, no dia 08/10/15, não se passaram dois meses desde a aprovação do projeto e nem do rompimento da barragem. Segundo a assessora jurídica da AMDA (Associação Mineira de Defesa do Ambiente), Patrícia Carvalho, “A insistência de parlamentares que representam o governo e até mesmo de alguns da oposição em dizer que o PL foi discutido democraticamente com a sociedade é ofensiva.”. Ainda, para a Amda, “O PL aprovado modifica a legislação, de forma pior por sinal. Mas não resolverá a verdadeira causa do atraso na concessão de licenças, que são as deficiências técnicas e estruturais dos órgãos ambientais responsáveis. O ano de 2015 ficará marcado na história de Minas por duas tragédias ambientais: a ruptura da barragem
da Samarco em Mariana e aprovação do PL 2946”. É, no mínimo, curioso que nem mesmo a comoção com a tragédia mineira tenha sido capaz de deter a tramitação do projeto, ainda que apenas para uma discussão mais ampla e diversificada sobre um tema que traz consequências diretas para milhares de pessoas que são afetadas pela atividade mineradora em diversos municípios mineiros. Mais uma vez a sociedade, que é quem no fim de tudo paga a conta dos estragos causados pela mineração e quem sofre as consequências de um desastre como o de Mariana, não terá a sua voz ouvida. Não haverá debates para discutir a crise no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), causada pelo baixo orçamento e falta de pessoal. Em Minas Gerais, que concentra 40% da mineração brasileira, são apenas 4 fiscais para atuar em mais de 300 barragens, ente outros pontos. Mas os interesses econômicos desses agentes não podem se sobrepujar aos interesses da sociedade. O que, infelizmente, parece estar acontecendo no presente caso. Vários dos que votaram a favor do projeto receberam, nas duas últimas eleições, contribuições do setor de mineração. Só o governador Fernando Pimentel teve a campanha irrigada com quase R$ 2 milhões doados pela Vale, proprietária da Samarco. O secretário de Meio Ambiente, Sávio Souza Cruz, também recebeu R$ 200 mil de mineradoras durante sua campanha. Desde então, a atuação de ambos tem privilegiado o mercado e ignorado avaliações feitas por especialistas e ambientalistas. O espaço e interesse publicado é, mais uma
vez, tomado pelos interesses privados, em conluio com os interesses, nem sempre totalmente explicados, de políticos que deveriam buscar o interesse geral da sociedade e não somente de grupos específicos. De alguma forma, todos somos culpados, porque enquanto ficamos discutindo em redes sociais se é mais importante nos solidarizarmos com a tragédia em Mariana ou em Paris, enquanto achamos que o mundo ficará melhor com curtidas no Facebook, nossos políticos e as empresas mineradores, fora do ambiente virtual, mostram que se a sociedade não se organizar e entender que é na luta política que poderá obter soluções que sejam satisfatórias aos seus interesses, estará sempre perdendo para setores que sabem se organizar e fazer valer seus interesses e objetivos. No fim das contas, de toda essa situação, me parece que só mesmo os relações públicas da Samarco se mostraram competentes. Enquanto a Samarco afirma (você acreditaria?) que a lama da barragem rompida não oferece risco à saúde, do prefeito de Mariana ao senador tucano Aécio Neves, passando pelo governador petista Fernando Pimentel, todos deram piruetas para salvaguardar a Samarco. Os relações públicas foram tão competentes que até campanha em rede social criaram, e você, caso se solidarize com a pobre mineradora cuja atuação acabou levando à morte de dezenas de pessoas e impactos ambientais e socais incalculáveis, poderá usar a simpática hashtag #somostodossamarco. Depois disso, a única certeza que eu fico é que, sim, #somostodosculpados e, também, #somostodospassadosparatrás...
o ponto Coordenação Editorial Prof. Hugo Teixeira (Jornalismo Impresso) Prof. Aurelio Silva (Redação Modelo) Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Daniel Washington ( Técnico Lab. Prod. Gráfica) Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: jornaloponto@fumec.br Presidente do Conselho Curador Prof. Pedro Arthur Victer Reitor da Universidade Fumec Prof. Dr. Fernando de melo Nogueira Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Técnico Lab. Jornalismo Impresso Luis Filipe Pena Borges de Andrade Monitores de Jornalismo Impresso Samara Reis Monitores da Redação Modelo Camilla Quirino Monitores Voluntários Marcella Souza Tiragem desta edição: 2.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
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Saúde • 03
Editor e diagramador da página: Marcella Teles e Renata Andrade
O Ponto
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Projeto de lei criminaliza uso de métodos abortivos PEC retira direitos à assistência de vítimas de abuso sexual e obriga mulheres a gravidez indesejada Maite Alverne 1º período Está em tramitação na Câmara do Deputados um projeto de Emenda Constitucional (PEC) que propõe mudanças na forma de assistência às mulheres vítimas de violência de natureza sexual. As brasileiras agora correm o risco de perder o direito a ‘profilaxia da gravidez’ (procedimento que atende a vítimas de violência sexual). O autor da Emenda, Deputado Federal Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro e presidente da Câmara Federal, tipifica como crime contra a vida o uso de medicamentos conhecidos como abortivos. A aprovação desse projeto priva a mulher do direito à assistência de saúde e basicamente a obriga a uma gravidez indesejada, retirando das mulheres a autonomia de decisão em situações de estupro e crimes semelhantes. O texto do projeto de lei prevê ainda que os profissionais de saúde pública, tais como, médicos, farmacêuticos ou enfermeiros que façam a mediação entre mulheres e esses métodos, caberá a pena de reclusão de um a três anos. A possibilidade de aprovação da Emenda agrava o fato do crescimento do número de mulheres violentadas a cada ano. Com as políticas de conscientização contra a violência às mulheres, o número de denuncias cresceu e, por isso, é cada vez mais comum encontrar notícias de abuso à mulher, seja físico, emocional ou sexual. A deputada Eryka Kokay criticou a PEC afirmando que as mulheres vítimas de estupros poderão ser penalizadas porque na interpretação dela, entre outras dificuldades, não terão acesso a pílula do dia seguinte. A deputada também afirmou que mulheres pobres serão ainda mais prejudicadas, já que “a medida não vai impedir que os abortos continuem acontecendo’’’. Para a ginecologista Barcita Barros a proibição da pílula do dia seguinte é um erro, já que “coloca em risco a vida de mulheres que poderiam controlar a maternidade com métodos
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corretos e seguros’’. Segundo a médica, com a proibição da distribuição do medicamento, as mulheres terão que optar por meios clandestinos que são um grande risco para a saúde feminina. Ainda de acordo com Barcita Barros o projeto é um absurdo. ‘‘O que está sendo proposto é um retrocesso. O governo está desprotegendo as mulheres de seu país. Considero desumano.” Questionada no que seria uma alternativa à pílula do dia seguinte, a ginecologista afirma que imediatamente não existe uma solução. “Caso o projeto se torne lei, as mulheres não terão uma alternativa imediata. O método DIU poderia ser uma solução se o mesmo não se encaixar na ementa e o governo facilitar o acesso das mulheres à ele. O que dificilmente aconteceria, claro. Sendo assim, acredito que as mulheres estarão desprotegidas pela lei.” A decisão gerou debate em todo país. Para a jornalista Raphaela Nogared, de 22 anos disse essas restrições e leis sobre aborto só fazem o país retroceder. ‘‘Não vai ser uma lei proposta por um homem que vai decidir se eu tenho que ter um filho ou não. Se um dia decidir ter um, será por vontade própria e não porque uma lei me obriga a carregar um filho índesejado em meu proprio corpo.” Eduardo Wanderley Pires, de 38 anos, advogado, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi entrevistado pela equipe do Jornal O Ponto e falou um pouco mais sobre a problemática do ponto de vista burocrático: De acordo com a lei existe alguma emenda que proteja a mulher da proibição de métodos abortivos? De acordo com a lei, não. Com o atual projeto, nenhum profissional de saúde ou instituição, em nenhum caso, poderá ser obrigado a aconselhar, receitar ou administrar procedimento ou medicamento que considere abortivo. Isso quer dizer que, até mesmo
Pílulas do dia seguinte o farmacêutico pode deixar de fornecer a pílula do dia seguinte ou anticoncepcional
‘‘Não vai ser uma lei proposta por um homem que vai decidir se eu tenho que ter um filho ou não.”
Raphaela Nogared
caso considere que aquilo viola sua consciência. Ou seja, o projeto de lei tem o sentido contrário ao de proteger a mulher dessa proibição. Na verdade, o projeto tenta proibir a mulher de se proteger. Considerando que no Brasil há cerca de 50.000 estupros por ano qual seria a iniciativa tomada para proteger mulheres, caso o projeto vire lei? O projeto também prevê que uma vítima de abuso sexual ou estupro terá que realizar um boletim de ocorrência e fazer um exame de corpo de delito para, só então ser atendida em uma unidade de saúde. Pesquisas mundiais apontam porém, que a maioria das mulheres que sofreram abuso não dão
queixa na delegacia. Por dentre outras razões, medo do agressor. Assim, não vejo alternativas para a proteção das mulheres, dentro do paradigma em que está posto o projeto de lei. Visto que mais mulheres poderão se sentir intimidadas em procuar atendimento médico, já que precisarão expor ainda mais sua intimidade. O que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara alega para justificar o projeto de proibição a pílula do dia seguinte? Acredite ou não, o parecer do relator da CCJ (Câmara de Constituição e Justiça) é de que o projeto de lei busca propiciar maior efetividade aos dispositivos já vigentes em nossa legislação pelo afastamento da prática do aborto, em consonância com a opinião da ampla maioria do nosso povo.
É possível encontrar nos direitos humanos uma emenda que proteja a mulher de projetos tais quais se tornem lei? A Constituição Federal de 1988 protege os direitos funda-
mentais de personalidade e sua condição de dignidade, senão vejamos, artigo 5 (…) Inciso X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Qual a sua opinião professional sobre o projeto? A proposta torna mais difícil o acesso das mulheres em situação de violência sexual a uma informação completa e de qualidade sobre os meios disponíveis para os cuidados de sua saúde reprodutiva, especialmente nos casos em que existe a possibilidade de uma gravidez indesejada. A proposta afeta, especialmente, as mulheres pobres, em sua maioria negras, usuárias do serviço de saúde pública. A restrição das mulheres em situação de violência sexual no acesso a uma informação completa e de qualidade sobre os meios disponíveis para os cuidados de sua saúde reprodutiva, especialmente quando existe o risco de uma gravidez indesejada, viola direito das mulheres.
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04 • Comportamento
Editora e diagramadora da página: Clara Barbi
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O Ponto
#ChegaDePrimeiroAssédio Ana Júlia Ramos Ana Luiza Lima 2º Período
2015. Século XXI. Era da internet, da informação fácil e acessível a quem queira. Em meio a essa conjuntura, é preciso lidar com um assunto um tanto quanto primitivo: a cultura do estupro. Quando uma criança de 12 anos é alvo desta cultura e é tratada como objeto sexual, é preciso debater sobre isso. Dados oficiais e recentes do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que, das 500 mil mulheres que são vítimas de estupro por ano no Brasil, 70% são crianças e adolescentes – sendo 51% menores de 13 anos. Valentina, uma das participantes do Masterchef Júnior, programa da TV Band, foi alvo de assédio quando internautas sexualizaram a criança com comentários pedófilos e
abusivos. Quando se fala sobre um mundo em que as pessoas podem ter acesso a praticamente qualquer coisa através da internet, é preciso lembrar que a publicidade está diretamente ligada a isso. Crianças são expostas como adultas todo o tempo em campanhas publicitárias e são incitadas a agirem como tal. A vulnerabilidade feminina nos dias atuais é incontestável. A prova está no número assustador de crimes contra mulheres por ano no Brasil, e ainda agora, a vulnerabilidade
aumenta quando se fala de crianças. Analisando os comentários abusivos postados no microblog Twitter, a cultura do estupro fica fácil de ser notada. A erotização da criança ocorre mesmo quando a situação pode ser descrita como “se for consentido, não é estupro”. Acontece que de acordo com artigo 241-D do Estatuto da Criança e do Ado-
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lescente (ECA) trata-se de um ato criminoso qualquer se o comportamento de um adulto tivercomo finalidade “aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso.”. E isso inclui, é claro, a pedofilia. Os criadores do ECA afirmam que crianças não possuem capacidade de decidir se querem ou não ter relações sexuais, por serem, simplesmente, crianças. Porém, os homens que fizeram os posts na rede social sobre Valentina não acreditam estar cometendo crimes. Eles apenas enxergam Valentina como mulher, não como criança. De acordo com Paula Melgaço, mestre em psicologia e especialista em psicanálise com crianças e adolescentes, “a erotização das crianças pode afetar a saúde física, psicológica, o processo de aprendizagem e de desenvolvimento, visto que antecipa uma série de questões relativas à sexualidade com as quais a criança ainda não está preparada para lidar, levando a quadros de depressão, transtornos alimentares e mau desempenho escolar.” Após os comentários sobre Valentina, a emissora Band tem mostrado poucas cenas do programa onde a menina aparece. Segundo a psicanalista, não há uma regra para prever o que seria melhor para a criança neste tipo de situação. “É importante escutar Valentina para saber como está se sentindo em relação ao ocorrido para avaliar se ela deveria ou não continuar no programa, além da avaliação dos riscos de sua permanência no reality show. Em adição, é preciso ter muita cautela ao tomar uma decisão, pois a criança pode entender que ela está sendo punida, ao ser retirada do programa, e que foi culpada pelo que ocorreu, o que é muito comum de acontecer., afirma” Paula Melgaço acredita que o ato criminoso contra Valentina está ligado à cultura do estupro, presente na sociedade atual. “Acredito que a nossa cultura estimula e facilita esse tipo de comportamento por parte dos adultos que justificam seus atos a partir da roupa e do comportamento da menina, se desresponsabilizando totalmente por suas ações.”. Pensando no caso Valentina, o coletivo Think Olga criou a hashtag #primeiroassedio no Twitter. As fundadoras convidaram suas leitoras a contarem qual e como foi seu primeiro assédio. O impacto da campanha foi absurdo. De acordo com o Think Olga, foram recebidos mais de 82 mil tweets com a hashtag. A intenção das criadoras da campanha, Juliana de Faria, Luíse Bello e a Dra. Gisele Truzzi era trazer ao público histórias reais de garotas que, assim como Valentina sofreram assédio ainda crianças. O problema em questão não é a sexu-
alidade infantil. Daiana Rauber é psicóloga e responsável pela área de treinamento e desenvolvimento do Selo Social. Tem experiência de 4 anos com projetos sociais na área de educomunicação, protagonismo, promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes e afirma que a sexualidade é uma dimensão da vida humana e que crianças possuem sexualidade. “A questão é qual sexualidade é essa. Com certeza, é numa dimensão de descoberta e identidade, e não, da compreensão de atos sexuais como os quais são submetidas em casos de vio-
“Acredito que a nossa cultura estimula e facilita esse tipo de comportamento”, diz Paula. lências e abusos. Com relação a erotização precoce, essa é sim uma questão a ser discutida”. A internet hoje faz parte integral de nossa rotina e ela pode ser usada tanto para o bem (como foi o caso da hashtag #primeiroassédio) ou para o mal – como as contribuições de assédio, pedofilia, assédio e sexualização precoce de crianças. Ao ser perguntada sobre a questão da internet e sua possível culpa ou ajuda como agravante desses casos, Daiana contextualiza. Ela diz que, historicamente, “um dos primeiros registros sobre a infância, foram feitos no Código de Hamurábi, no oriente antigo, esses registros eram sobre os filhos serem servos da autoridade paterna, sujeitos à punições, agressões e sacrifícios.” O tempo passou e foi só a partir do século XIX que a criança começou a ter maior tipo de protagonismo, sendo alvo de pesquisas da parte do direito, da medicina e da pedagogia, contribuindo para que a concepção de criança fosse mudando. Sendo assim, diz Rauber, “a infância e as formas de compreendê-la e vivenciá-la são construídas histórica e culturalmente”. Ou seja, agora com o grande acesso a tecnologia, “cabe aos adultos considerar os avanços que alcançamos com essa explosão, mas também perceber nossa responsabilidade que não é pequena. E não quer dizer que a era da internet ou qualquer outro aspecto vindo das crianças justifica a ação daqueles que abusam e violentam. “Para a psicóloga, é importante fazer essa reflexão, pois, uma criança pode manifestar uma erotização precoce por diversos motivos, inclusive o contato com as mídias. “E ainda assim, Machistas não passarão isso não justifica que por isso ela será ou foi vítima de algum tipo de abuso, são diversas e complexas variáveis envolvi-
das”, completa Daiana. Uma contextualização mais profunda também tem que ser feita ao tratar do machismo, ponto que é crucial ao analisar os casos de hiper-sexualização e erotização infantil precoce. Tamara Amoroso é doutoranda do programa de direito da Universidade de Victoria (Canadá), mestre em direitos humanos pela USP, Integrante do CLADEM/Brasil, pesquisadora pela Universidade de Concordia (Canadá) e autora de “Direitos Humanos das Mulheres e a Comissão de Direitos Humanos” pela editora Saraiva e analisa o caso. De acordo com Tamara, o machismo é algo que está enraizado em nossa sociedade e ele contribui para que uma grande desigualdade entre o homem e a mulher seja criada. É uma relação assimétrica que acaba deixando as mesmas muitas vezes submissas e, nas palavras de Tamara “É constituída cotidianamente por discursos, imagens midiáticas (também formas de discurso) e na própria maneira como as relações sociais acontecem e se repetem”. A mulher na sociedade brasileira sofre com isso, tendo que entrar nos padrões muitas vezes para atender aos prazeres masculinos e essa busca pelo padrão perfeito e aceitável começa na infância. “Esse processo de “conformação” das mulheres a um determinado padrão começa muito cedo: se olhamos as publicidades de produtos infantis, já há uma tendência a conformação da sexualidade e erotização, bem como dos papéis sociais que as meninas, futuras mulheres, deverão assumir na sociedade. Somos, portanto, uma socie-
dade que erotiza intensamente as nossas meninas, mas não damos condições para que essas meninas lidem com os resultados dessa erotização”, completa Tamara. Ela concorda com Daiana ao afirmar que a criança tem uma sexualidade normal embora esforços sejam feitos para
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Editor e diagramador da página: Clara Barbi
O Ponto que estava acontecendo”. Sua reação foi continuar andando, porém muito assustada, sentindo uma mistura de vários sentimentos como a vergonha e o medo de que isso acontecesse de novo. E aconteceu. Várias vezes após o ocorrido ela vivenciou outros casos traumáticos de assédio, dos menores até os que tiraram seu sono. E é por isso que ela julga a importância da hashtag para as meninas. “É preciso mostrar que esse é um problema que sempre afetou as mulheres desde pequenas, e que isso tem que mudar”.
Foto: Ana Júlia Ramos
negar esse fato, e que o problema está nas pessoas que aceleram o processo natural de construção da sexualidade – como foi feito com Valentina em sua participação no programa Masterchef. “Não se trata aqui do desenvolvimento de uma sexualidade nos termos e no ritmo escolhido por Valentina, no âmbito da sua vida privada. Mas uma sexualização imposta, a partir de comentários vindos do grande público”. Tal caso também abriu dúvidas a respeito do que aconteceu, gerando comentários em relação a se ocorreu realmente pedofilia/assédio. Tamara afirma que sim, o que ocorreu pode se enquadrar nessa categoria de assédio sexual (que se enquadra em pedofilia) e inclusive muda a concepção de pedofilia imaginada pelo grande público ao dizer que as mensagens são realmente preocupantes e indicam que “O perfil de um pedófilo não é aquela pessoa esquisita e disfuncional que construímos no imaginário popular, mas realmente algo bastante comum”. C.R tem dezesseis anos e preferiu não ter seu nome divulgado. A primeira vez que C. foi assediada foi aos dez anos, idade extremamente jovem para se sofrer um trauma do tipo. “Eu tinha dez anos e estava passeando na rua com a minha avó. Estávamos passando em frente a uma banca de revistas quando um homem de aproximadamente trinta anos se aproximou de mim. Não acreditei que ele faria nada, até que ele encostou em mim e passou a mão em meu corpo.” Ao ser perguntada de sua reação, C. é direta: “Fiquei apenas muito assustada e não fazia ideia do
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O LADO POSITIVIO Existem ainda aquelas que depois de tudo tiram o melhor de situações trágicas como a de um assédio e resolvem fazer a diferença. Esse foi o caso de Catarina Dória, estudante de 17 anos que após ser assediada resolveu criar um aplicativo. O nome é Sai Pra Lá e desde seu lançamento já recebeu inúmeras denúncias de assédio em vários lugares do país. No aplicativo, o usuário não precisa se identificar e relata o local onde ocorreu o fato, o tipo de assédio e o período do dia. Em entrevista ao programa Estúdio I do canal Globo News, Catarina afirma que “Foi muito cedo, eu estava na rua, um cara chegou, ficou me chamando de ‘bonitinha’, disse que ia me levar para casa. Eu fiquei quieta porque fiquei com muito medo.” Depois do ocorrido ela decidiu buscar ajuda com amigos designers, que deram apoio na criação do aplicativo – que inclusive atualmente enfrenta problemas para se manter no ar devido a grande demanda de usuários. Em sua página do Facebook que
Aplicativo “Sai pra lá”ganhou visibilidade e engajamento nacional em pouquissímo tempo conta com um total de mais de 19 mil curtidas, os desenvolvedores pedem ajuda e patrocínio de qualquer valor. “Ele (o aplicativo) roda normalmente quando poucas pessoas estão conectadas, porém tivemos um pico de 250 usuários ao mesmo tempo - e foi aí que o problema se instalou. Agora é torcer para conseguirmos um patrocínio grande ou vários pequenos”, foi afirmado na página. Leitores e usuários torcem para que o aplicativo não quebre definitivamente e fazem o possível para ajudar. Mesmo com o sucesso do aplicativo, o investimento da idealizadora (que deixou de viajar com sua turma para sua formatura) não foi 100% suficiente. O aplicativo precisa
de dinheiro para continuar rodando nas plataformas digitais que atua, sendo assim foi dada a ideia de realizar um crowdfunding – o ato de “arrecadar dinheiro online”, por meio de sites que realizam o processo. O pedido inicial foi de 5 mil reais e em questão de apenas 4 dias a meta foi cumprida. Assim, em entrevista ao site da Revista TPM, a menina afirma que “Tudo o que sobrar do financiamento coletivo vai ser revertido para melhorias. Queria ampliar algumas coisas na denúncia, como o horário que ela aconteceu, por exemplo”. O assunto é extenso, complexo e dúvidas do que poderia ser feito para mudar o quadro crítico e situação deplorável
são colocadas em questão a todo o momento. Existe uma dificuldade ao identificar o problema, que na opinião de Daiana Rauber é a invisibilidade e o silêncio. De acordo com a psicóloga, não se fala sobre isso. Existe uma invisibilidade muito grande e o silêncio é uma das maiores dificuldades para compreender, mapear, proteger os casos de abuso e violência. Daiana finaliza dizendo: “Precisamos instrumentalizar as famílias para que consigam mediar esse debate em casa, precisamos apoiar as escolas para que promovam o acesso à esse conhecimento com qualidade, para que os serviços de saúde lidem com isso de forma humana e capacitada.” Foto: Reprodução/Twitter
Comentários de cunho pedófilo e assédio via internet tomaram conta das redes sociais, motivo para que a hashtag fosse criada.
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Editor e diagramador da página: Bárbara Campomizzi, Cristiana Corrieri e Camilla Quirino
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O Ponto
Redução não é a solução Debate sobre redução da maioridade penal convoca Promotor Márcio de Oliveira
Cristiana Corrieri 4º Período A discórdia sobre a proposta de se reduzir a idade para que uma pessoa possa ser responsabilizada pela prática de um ato infracional, que atualmente, segundo o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, é de dezoito anos, tem sido debatida há algum tempo. Um dos argumentos utilizados para ser justificada a alteração dessa idade é a necessidade de se combater a exploração do benefício da imputabilidade dos menores de dezoito anos no momento da prática dos crimes, visto que, muitas vezes, o crime é praticado por crianças e por adolescentes justamente por estes possuírem como garantia o fato de não poderem ser condenados. O evento Sextas de Primeira coordenado pelo professor Aurélio Silva e realizado pelos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Fumec, trouxe à tona esse tópico. Um dos convidados para a mesa de debate foi o Dr. Márcio Rogério de Oliveira, Promotor de Justiça especializado em crianças e adolescentes. Além de ser uma cláusula entrincheirada na Constituição - o que significa que não pode ser alterada - qualquer reforma na idade de responsabilidade criminal iria contra uma recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU). A ONU afirma que tal movimento seria
uma ameaça aos direitos das crianças e adolescentes e também entraria em conflito com as tendências mundiais da justiça juvenil. A entrevista com o Dr. Márcio Rogério de Oliveira esclareceu alguns mitos: A mídia realmente manipula a sociedade para a redução da maioridade penal? “Alguns setores da sociedade têm força para mobilizar a opinião pública em determinados assuntos. Isso me assusta pela maneira manipulada e distorcida que este tema é debatido. Percebemos com muita clareza que os contrapontos que são apresentados por quem é contrário à redução da maioridade penal não conseguem ter o mesmo alcance de divulgação comparando com aqueles que são a favor. Existe uma condução tendenciosa do tema nos meios de comunicação.” A detenção não é uma solução. Ao contrário do que muitas pessoas afirmam, o Brasil condena demais e aprisiona de maneira extremamente desorganizada. Penitenciáras que têm condições de abrigar uma quantidade x de detentos, acabam por superlotar o espaço com o dobro ou mais de sua capacidade. Dados do Ministério da Justiça revelam que o Sistema prisional brasileiro tem a quarta maior população carcerária do mundo - com 574.000 detidos, de acordo com informações a partir de junho de 2013 - atrás apenas dos Estados Unidos, Rússia e China.
Os adolescentes que cometem crimes ficam totalmente impunes? “Em Minas Gerais, embora o Estatuto tenha a previsão de privação de liberdade para adolescentes, que muitas vezes é mais rigorosa do que o Código Penal para adultos, não foi implantada até hoje espaços para o adolescente ser privado de sua liberdade. Temos uma demanda constatada de pelo menos 3.000 vagas e o limite é 955 vagas para todo o estado. É por isso que a sociedade acha que existe impunidade: porque a justiça não tem como cumprir suas decisões em decorrência da deficiência do Estado em prover os meios. De quem é a culpa disso? Do adolescente ou do Estado que não dá as condições devidas para sua correção?” Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, assim como o Código Penal, preveem outros tipos de punição, como a prisão preventiva, em que jovens infratores permanecem sob a constante supervisão de um Oficial de Liberdade Condicional, profissional responsável por relatar ao juiz periodicamente os atos realizados pelo infrator. É verdade que os crimes de homicídio praticados por menores de 18 anos interferem em peso na criminalidade do país? “Em Belo Horizonte as estatísticas são estáveis desde 2008: entre 9000 e 10000 casos por ano. Elas são medidas pela vara de atos infracionais de Belo
Horizonte e é emitido um relatório anual. A incidência de homicídios praticados por adolescentes é de 0,6%, um percentual muito pequeno.” Entre os mais de 20 mil jovens que cumprem medidas socioeducativas no Brasil, quase 90% não são acusados de ter cometido um crime contra a vida, de acordo com o Anuário Brasileiro 8 de Segurança Pública. De acordo com os dados, 4% dos homicídios no Brasil - país com uma das taxas mais altas do mundo - foram cometidos por menores de 18 anos admitidos no sistema de acolhimento de crianças em 2012. O índice cai para menos de 1% quando considerados também outros crimes graves (homicídio, roubo, furto e estupro). A idade de responsabilidade criminal pode ser relacionada ao índice de desenvolvimento de cada país? Dos 54 países estudados pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), 78% definem a idade de responsabilidade criminal em 18 anos ou mais. Estes incluem França, Espanha, Suíça, Noruega e Uruguai. “A responsabilidade penal, na maioria dos países, é a partir dos dezoito anos de idade, pois eles têm legislação adequada e responsabilidade por fatos penais praticados por adolescentes. No Brasil existe uma lei considerada avançada, que é o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma lei totalmente fundada nos direitos humanos aprovados pelas Nações Unidas. Ainda não
existe estrutura para a aplicação deste Estatuto.” Crianças e adolescentes infratores podem ser considerados os “mandantes” dos crimes? “Estudos apontam que adolescentes até dezoito anos conseguem discernir o que é certo do que é errado, mas nem sempre terão a maturidade de se comportar de acordo. Por uma série de razões: maturidade, questão de reconhecimento dentro do grupo porque isso é inerente à adolescência. O adolescente é muito mais influenciado por uma pessoa adulta do que um adulto por si próprio que já tem opinião formada. A imensa maioria dos casos penais praticados por adolescentes é coordenado por um adulto.” Diante de tudo que se foi exposto, nota-se que a mídia, que é uma grande winfluenciadora no cotidiano das pessoas, direciona o senso comum a ser a favor da redução da maioridade penal, sendo que os fatos reais, daqueles que acompanham diariamente infrações de menores, como o próprio Promotor Márcio Oliveira, demonstram o contrário: a redução da maioridade penal não seria benéfica para a sociedade, uma vez que o problema está no sistema educacional do Estado que deve amparar essas crianças e adolescentes desfavorecidos socialmente para que não passem pelas dificuldades financeiras e sociais que os impulsionam para a vida do crime.
O Promotor de Justiça Dr. Márcio Rogério de Oliveira e convidados debatem no Evento Sextas de Primeira sobre a redução da maioridade penal
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Editor e diagramador da página: Lucas Pires
O Ponto
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“Lá da Favelinha” resgata autoestima em aglomerado Refência cultural em aglomerado em Belo Horizonte , Kdu dos Anjos, ajuda jovens e crianças em projetos sociais; Conheça o projeto “Lá da Favelinha” e as atividades realizadas durante toda semana MARCELLA TELES RENATA ANDRADE 4º PERÍODO
o centro cultural conta com outras diversas atividades abertas e gratuitas. Hoje o espaço atende cerca de 300 pessoas por semana. A faixa etária atendida pelo projeto varia dos 2 aos 25 anos. Mateus Ribeiro (19) conta como o projeto foi importante em sua vida, “Conheço o Kdu desde criança e acompanho o projeto desde o início. Fiz aulas de inglês, capo-
financiamento para os projetos. Por esse motivo, ele e seus voluntários fazem como podem para pagar as contas. O pagamento do aluguel é feito com a verba arrecadada em eventos, com a venda de comidas e bebidas. Outra forma encontrada para a complementação da renda foi a arrecadação coletiva no site www.beta.benfeitoria. com\favelinha. Para arrecadar, Foto: Estúdio Selta
Localizado no Aglomerado da Serra, zona sul de Belo Horizonte, o centro cultural Lá da Favelinha, oferece trabalhos educacionais para crianças e jovens. Criado em meados de 2014 por Carlos Eduardo Costa dos Anjos (25), ou simplesmente Kdu dos Anjos, o núcleo é hoje a principal referencia cultural dos moradores da comunidade onde reside. “Hora estou na gestão de algum projeto, hora estou no palco. Me considero um produtor e um agente cultural”, Kdu se considera um disseminador cultural.
balhamos com pintura e argila, aulas de inglês e iniciamos recentemente uma oficina de cinema”. O Centro Cultural é independente e autogerido pelos moradores do Aglomerado. O espaço, por enquanto alugado, agrega uma biblioteca comunitária. Biblioteca esta que conta com um acervo de mais de 4 mil livros: “A maioria deles con-
“Se não fosse o Lá da Favelinha eu não teria oportunidades de aprender”
Mateus Ribeiro
Segundo Kdu, as atividades oferecidas são gratuitas e realizadas sempre de forma colaborativa, com profissionais voluntários e pessoas que doam seu tempo, conhecimento e arte. “Oferecemos oficinas de MC’s, oficinas de dança, capoeira, comunicação, artes, onde tra-
Sarau realizado no Projeto“Lá da Favelinha” no Aglomerado da Serra em Belo Horizonte seguimos através de doações. Muita gente vem doar e participar, é muito bacana ver o envolvimento de todos.”. Além da biblioteca, que é aberta ao público e funciona diariamente,
eira e oficinas de hip hop e rap. Se não fosse o Lá da Favelinha eu não teria oportunidades de aprender essas coisas”. O “Lá da favelinha” conta com o desafio de encontrar
cada pessoa deve contribuir com determinados valores e assim ganham produtos de acordo com o valor doado, como adesivos, CDs, livros, aulas, entre outros.
Kdu pensa em aumentar o espaço do projeto para que possa atender mais pessoas, “Queremos expandir o nosso espaço. A proposta é dobrar o numero de oficinas e fazer com que elas dialoguem entre si e aconteçam simultaneamente. Queremos gerar cada vez mais oportunidades para as crianças e adolescentes da comunidade. Fazer com elas conheçam diferentes universos. Universos que eles provavelmente não conheceriam sem um incentivo.”. Apesar de ocupar fisicamente um espaço pequeno, o “Lá da Favelinha” é de uma importância social gigante e hoje a sua existência é fundamental. Uma prova disso foi a criação do “Zine Lá da Favelinha”, feito pelos próprios participantes do projeto, com a finalidade de discutir temas atuais e polêmicos, tais como: redução da maioridade penal, aborto, drogas e etc. Estes assuntos não só mobilizam como também informam e ensinam os moradores do aglomerado da Serra. Para obter mais informações acesse a página no Facebook, Lá da Favelinha, e fique por dentro. O Projeto “Lá da Favelinha” fica localizado na Rua Dr. Argemiro Rezende Costa, nº 91 no Aglomerado da Serra em Belo Horizonte.
Foto: Gustavo Miranda
Confira a programação na semana: Biblioteca - diariamente Oficina de Mc - segunda às 19h Oficina de dança - terça às 19h Foto: Gustavo Miranda
Oficina de capoeira - terça às 14: 30 Oficina de comunicação - terça às 16h Oficina de artes - quinta às18h Oficina de cinema - sábado às 14h
Rap realizado no espaço “Lá da Favelinha”
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Oficina de inglês - quinta às19h
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O Ponto
Uma escola para garotas de “bom comportamento” Instituição oferece curso “Vida de Princesa” em pleno século XXI
A mesa de jantar é um dos locais em que as meninas aprendem boas maneiras Camila Madeira Marcella Souza 4º Periodo
Em tempos de empoderamento da mulher na sociedade e da luta pela igualdade entre os gêneros, uma Instituição vem causando polêmica. Há três anos a Escola de Princesas foi fundada pela psicopedagoga Nathália de Mesquita juntamente com Clebet Belato, que possui larga experiência em administração de empresas. A escola oferece cursos de “boas maneiras” e comportamento para meninas de quatro a quinze anos, nas cidades de Atibaia, no estado de São Paulo, Uberlândia e Uberaba
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no triângulo mineiro e uma recentemente inaugurada em Belo Horizonte. O site da Instituição afirma que o acontecimento mais importante na vida de uma mulher é o matrimônio. Os valores e princípios sociais pregados pela escola geraram discussões em torno do conteúdo ensinado. A psicóloga e feminista Letícia Barreto acredita que a intuição prega valores machistas e que isso é um retrocesso na autonomia das mulheres. “A Escola de Princesas é uma manifestação desta tentativa de conter avanços que as mulheres conquistaram ao estabelecer, por exemplo, que o matrimônio seria o principal objetivo de qualquer
“princesa” ou que somos reconhecidas por nossa aparência física e posses materiais”, afirma Letícia. Em resposta às críticas, Nathália Mesquita diz que essas pessoas não conhecem o real propósito da escola e para argumentar contra essas divergências, ela as convida a conhecerem a proposta pedagógica. Ela conta que muitas vezes depois de conhecerem a escola, algumas pessoas entendem que a proposta não é machista. ‘‘A gente também não tem aquela preocupação de agradar a todos. São tão poucas as pessoas que acham que a escola é machista, que não vale a pena a gente parar e se preocupar”, alega a
Fotos: Reprodução Site
fundadora A idealizadora do projeto conta que a ideia surgiu literalmente de um sonho. Durante uma noite de sono, ela imaginou a escola exatamente como ela é hoje: uma casa que ensina as garotas a lidar com as situações do dia a dia, desde preparar seu alimento, organizar seu ambiente, cuidar da sua roupa até cuidar da sua aparência pessoal. O principal curso da Instituição é o “Vida de Princesa”, que tem duração de 3 meses e é dividido em módulos, classificados como básico, intermediário e avançado e que possuem conteúdos que foram adaptados as necessidades de cada faixa etária. Essa
divisão ocorreu com a ajuda de pedagogas e de psicólogas, que adaptou o que seria aprendido em cada etapa do curso, respeitando os limites de cada idade. Por exemplo, uma menina de 4 anos já pode organizar seus brinquedos, pentear seu cabelo, escovar os dentes, e se arrumar para ir para a escola. Para as garotas mais velhas, a educação e a linguagem visam prepara-las para o vestibular, para uma entrevista de emprego, ou seja, para situações diversas do cotidiano. Uma menina pode entrar na escola com 4 anos e sair com 15, a cada etapa ela verá um nível diferente, mais aprofundado. Além do curso “Vida de
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Fotos: Reprodução Site
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princesa” a escola possuí também cursos como “Férias de Princesas”, com duração de 3 meses e que foi pensado para ocupar o tempo das meninas nas férias, ajudando os pais que não tem com quem deixar suas filhas. O “Aniversário de Princesas” é um evento educativo, onde além de participarem de uma festa, aprendem conteúdos relacionados à moda. O “Encontro de Princesas” tem a duração de um dia, é um workshop no qual elas aprendem princípios básicos de caráter e comportamento. O “Chá de Princesas” ensina as garotas a como se portarem à mesa. A escola é particular e busca inserir meninas de baixa renda, convidando em cada evento um número específico das que não tem condições de pagar, além de promover eventos isolados para instituições que trabalham com garotas carentes. A unidade em Belo Horizonte foi inaugurada no dia 22 de outubro, no bairro Santa Lúcia, região centro-sul da capital. Segundo a idealisadora o retorno do negócio tem sido positivo. O primeiro evento “Tarde de Princesas” atingiu a capacidade máxima que era de 50 meninas. A empresária afirma estar muito feliz “O retorno que nós estamos tendo das mães identifica o sucesso que alcançamos em BH”. Além das quatro unidades da escola, existentes em Minas e São Paulo, eles já receberam mais de 200 pedidos de franquias no Brasil, e também no exterior e garantem que terão novidades em breve. A administradora resolveu fazer tudo exatamente como no seu sonho, inclusive a escolha do público feminino. Segundo a assessoria de imprensa da escola “Como empresa privada e particular, assim como existem centenas no mercado que escolhem o seu público alvo entre mulheres, homens, crianças, meninos ou meninas, nós escolhemos manter a fidelidade do sonho e abranger somente meninas neste momento”. Perguntado sobre a possibilidade de criar um projeto voltado para meninos, ele diz que este é um plano futuro.
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Foto: Leon Elias
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O significado de ser fã Psicóloga Ana Gomes dá sua opinião sobre fanatismo para entender um pouco mais deste sentimento que divide opiniões Camilla Quirino Samara Reis 4º Período
Foto: César Ovalle
carinho. Ser fã é uma sentimento muito gostoso!”. Amanda nos contou algumas de suas aventuras, “Quando eu tinha cerca de 13 anos fui para a fila de um show do Nx ás 3h da manhã. O show só começou as 22h, e durante todo o tempo fiquei na fila pra garantir o primeiro lugar na grade. Depois do show ainda fui pra porta do hotel que os meninos estavam hospedados, na tentativa de ter o mínimo de contato com eles”. A jovem conta que certavez viajou para o Rio de Janeiro com a família, e quis ir ao Projac ver a Mariana: “Mais uma vez cheguei de manhã cedo e passei o dia inteiro esperando ela chegar. Pra o meu azar, ela só gravou a noite aquele dia. Mas valeu a penaa espera”. Amanda nos contou uma curiosidade sobre suas aventuras em busca dos sonhos. “Eu viajei para um show do Nx Zero no interior de Minas e me hospedei no mesmo hotel que os integrantes da banda, e tive a oportunidade de tomar café, jantar e trocar idéia com os meninos. Foi uma experiência única poder sentar e simplesmente conversar com meus ídolos sobre assuntos diversos!”, conta a estudante. Todo o fanatismo e as loucas histórias trazem lições positivas, apesar das dificuldades. Amanda afirma que seu fanatismo por seus ídolos já a fizeram passar por situações complicadas, mas trouxeram
Amanda com e suas amigas com os integrantes da banda Nx Zero
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Fotos: Arquivo Pessoal
Ser fã é realmente muito bom. O sentimento de conhecer um ídolo com certeza é melhor ainda. Dividir esse amor com outras pessoas, faz com que o fã se sinta parte de um grupo, portanto isso é um sentimento muito comum entre os jovens que passam por uma fase onde querem encontrar o seu lugar e se sentirem aceitos nesse lugar. Porém não se pode restringir ao público mais novo. Não há nada mais humano que ter admiração por alguém. Acompanhar um ídolo não é somente vibrar com as suas conquistas e alegrias, mas também sofrer com as tristezas e fracassos da pessoa admirada. A dúvida é: até que ponto esse amor pode ser considerado normal? Para a psicóloga Ana Gomes, o fanatismo não é uma postura saudável, “Mergulhado nele o sujeito torna-se menos racional, desligando-se da realidade.” Ana acredita que outra maneira de manifestação do fanatismo que vem se fortalecendo é através da mídia eletrônica. “Penso que o caráter impessoal das redes sociais tem favorecido a expressão de atitudes fanáticas”. A psicóloga ainda deu dicas de como identificar uma pessoa que esta excedendo seu fanatismo e quais medi-
das devem ser tomadas para quando uma pessoa passa dos limites. “Creio que é quando a situação específica passa a ocupar grande parte da vida da pessoa. Alguém que gradualmente suprime projetos, convívios, trabalho, para se dedicar com exclusividade apenas a uma atividade. Pode ser a religião, jogo, perseguição ao seu ídolo da musica, etc. Psicologicamente pessoas frágeis estão mais propensas a se tornarem fanáticas. Elas podem ter baixas estima e uma liderança surge como um norte. Buscam no ídolo a sensação de pertencimento e de serem especiais.” Ana afirma que nos casos mais graves um processo terapêutico e/ou acompanhamento psiquiátrico podem contribuir para uma vida mental mais equilibrada. Em busca de entender melhor como é ser fã, conversamos com a estudante de jornalismo Amanda Magalhães, 20 anos, admiradora da banda Nx Zero e da atriz e cantora, Mariana Rios. Ela conta como foi no início ”Antes eu chorava e fazia escândalo quando via todos eles, e eles não sabiam exatamente como agir. Agora todos nós amadurecemos, o tempo passou e a relação mudou. Alguns dos meninos do Nx Zero já me chamam pelo nome, já conversam de igual para igual. A Mariana se tornou uma amiga, sempre que posso vejo ela e ela retribui todo o
Amanda Magalhães com a atriz e cantora Mariana Rios muitos aprendizados “Aprendi a viajar sozinha, me virar sem meus pais e, um dos maiores benefícios que o “ser fã” me trouxe, foi o fato de eu ter me tornado sonhadora. Baseio todos os meus sonhos e vontades, até hoje, nas minhas histórias com meus ídolos, e realizo muitos deles pelo simples fato de acreditar e correr atrás”. E, apesar de tudo, a sensação de alegria que um artista traz para um fã é indiscutível. “Conhecer um ídolo é uma sensação incrível, você está ali frente à frente, abraçando, uma pessoa que você suspirava quando via na TV ou escutava o CD. A cada encontro é uma sensação nova.” Outro fanatismo muito comum é por um times de fute-
bol, como é o caso do estudante Rafael Diniz, de 20 anos, torcedor do Cruzeiro Esporte Clube. Rafael nos conta de onde veio sua paixão pelo time, “Meu avô e meu pai são Cruzeirenses, iam muito ao Mineirão. Essa paixão pelo Cruzeiro foi herdada. Quando nasci sai do hospital com uma camisa com os dizeres “Papai já nasci Cruzeiro”. A medida em que fui crescendo meu pai me levava ao Mineirão o que fez com que a minha admiração aumentasse”. Para Rafael, seu fanatismo extrapola, mas não de uma maneira exagerada, ele afirma que sofre alteração no humor dependendo do resultado e nos conta que troca coisas de sua vida pessoal para assistir um jogo de seu time “Um exemplo
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Fotos: Arquivo Pessoal
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O torcedor Rafael Diniz conta que a paixão pelo Cruzeiro vem de berço
“Ser fã é um sentimento muito gostoso!(...) A cada encontro é uma sensaçao nova” - Amanda Magalhães de Danielle com seus amigos, se apegou completamente a menina, “O jeitinho dela, o carisma, ela como pessoa, isso tudo me levou a perceber que ela não seria só mais uma ali. Na época, eu passava por uns problemas e com ela eu consegui me distrair totalmente e lidar de outra forma. Ela fez toda a diferença para mim e
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vem fazendo até hoje. Não me arrependo de nada.” A estudante confessa extrapolar um pouco no fanatismo, mas nada que prejudique sua vida pessoal “Eu tenho senso e sei dividir a minha dedicação à ela e as minhas responsabilidades pessoais. Considero saudável porque nunca me atrapalhou em nada. Tudo o que já fiz, faço ou pretendo fazer por ela, estão dentro dos meus limites. Mas ela me faz bem, então não me importo de extrapolar um pouquinho.” Quanto as loucuras, a estudante nos contou que correu atrás de um produtor de eventos para que ele levasse para Vitória ES a peça “NÃO SÃO SÓ SEIS SEGUNDOS” onde Danielle atua com seu amigo Lucas Rangel, fazendo com que assim seu sonho de conhecer a youtuber seja realizado. Foto: Arquivo Pessoal
é que não vou a um aniversário, porque tem um jogo no dia, ou saio a tempo para assistir à partida”. Mas a derrota não é aceita na esportiva sempre, “Como qualquer torcedor fico muito triste, mas quando se trata de uma final ou de um clássico fico até sem conversar com as pessoas”. O futebol é uma caixinha de surpresas, ao mesmo tempo que seu time traz alegrias ele pode trazer decepções, mas a emoção de vê-lo em campo move essa paixão, “Ver meu time jogando é a alegria da minha semana, conto os dias para chegar um dia de jogo, principalmente em BH, reúno com meus amigos e vamos todos para o Mineirão, não perco um jogo! Para mim é o melhor dia”, conclui o estudante. Uma outra febre que vem causando efeito nos jovens são os vídeos no YouTube, foi através deles que a estudante Júlia Diniz conheceu Danielle Dias, de quem é fã há mais de um ano. Júlia nos conta que desde a primeira vez que começou a assistir os vídeos
Coisa de adolescente? Há quem se engane quando acha que só os jovens de hoje em dia que fazem loucuras pelos seus ídolos, como é o caso da Fabiana Bruno, monitora escolar, 35 anos, que é fã da banda Molejo. No ano de 1993, quando tinha 13 anos, a banda foi na cidade de Nova Lima fazer um show e Fabiana percebeu que não poderia perder a oportunidade de conhece-los. Sua loucura de fã foi mais que especial com a participação de seu pai. “Eu queria muito conhecê-los e meu pai tinha uma carteirinha falsa de policial, então pedi a ele que usasse a carteirinha, afirmando que era segurança da produção do evento, ele conseguiu passar e eu entrei. Peguei o autografo do Andrezinho e de todo grupo, só não tenho fotos, porque nessa época eu ainda não tinha uma câmera fotográfica e meu pai me tirou rápido de lá antes que descobrissem que era mentira, mas valeu muito a pena”.
Júlia Dniz procurou produtor para receber Danielle Dias em sua cidade e conheceu sua ídola.
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Editoras e diagramadoras da página: Camilla Quirino e Samara Reis
O Ponto
CONFINADOS PELA FÉ
Candidatos sabatistas, ou seja, que guardam os sábados somente para práticas religiosas, ficam trancafiados durante seis horas antes do início do Exame Nacional do Ensino Médio
O Ministério da Educação realiza todos os anos o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, sempre durante a tarde, em um final de semana, ou seja, um sábado e um domingo consecutivos. Para cerca de 90.000 estudantes sabatistas, que fazem a prova, o dia de sábado é reservado exclusivamente para a prática religiosa, o que significa que só trabalham ou estudam após o pôr do sol. Esta restrição alcança fiéis de denominações adventistas e judeus, por exemplo. Assim como os outros candidatos, os sabatistas devem chegar entre 12h e 13h, e aguardar até o pôr do sol para começar a prova. Sendo assim, eles só podem iniciar o exame ás 19h, e durante o tempo de espera devem ficar dentro da sala, sem contato com o mundo exterior, para que não tenham informações sobre a prova feita pelas estudantes no horario normal. A jovem Rebeca Rochael, de 18 anos, fez a prova por três anos consecutivos (2013, 2014 e 2015) e conta que esse tempo de espera é uma sensação de agonia ‘‘a espera é ruim, só aumenta ainda mais o nervosismo”. Em Belo Horizonte as provas para os sabatistas são aplicadas no Colégio Marista Dom Silvério, localizado no bairro São Pedro, Zona Sul da capital. Rebeca conta que a partir do momento que entram para a sala, as 13h, os candidatos geralmente não podem conversar e não tem contato com nenhum livro, equipamento eletrônico ou com alguém do lado de fora, para evitar cola. Jhonathan Silva, de 21 anos, confirma o relato da jovem e diz que alguns examinadores não deixam se quer conversar enquanto esperam. ‘‘Nós dormimos, lanchamos, dormimos de novo, oramos e somos leais ao dia santo, o sábado.” Na sala de Jhonathan, a examinadora à serviço do ENEM, impediu que os sabatistas conversassem, enquanto eles escutavam conversas vindas de outras salas. “Na minha sala a examinadora deixou bem claro que não queria estar ali durante todo o sábado, que não tinha necessidade de estarmos ali gastando o tempo dela”. Segundo o jovem, a exa-
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minadora chegou à ameaçar os candidatos que reclamavam da medida severa. Além disso o jovem sente uma desvantagem na situação dos sabatistas: “A experiência é muito ruim, pois quando termina o tempo de prova dos outros, você ainda está confinado, esperando o pôr do sol. Enquanto os outros já estão em casa descansando para o domingo.” Campanhas online encorajam o ENEM a ser realizado em algum outro dia da semana. Rebeca destaca um outro fato curioso sobre essa situação, que virou motivo de vídeo no youtube: “Existem pessoas que não conhecem tal procedimento e acabam marcando a opção de sabatista e ao chegar lá, eles nem sabem que terão que aguardar até as 19h para fazer a prova.”
‘‘A espera é ruim, só aumenta ainda mais o nervosismo”.
Rebeca Rochael
A falta de conhecimento e o engano de alguns candidatos não sabatistas foi tema de um vídeo da famosa youtuber Jout Jout. No vídeo (https://www. youtube.com/watch?v=So2G2rnLDw)ela explica como isso acontece e ironiza as possíveis situações que podem acontecer decorrentes desse fato, como a mãe se preocupar pelo filho não ter chegado no horário normal, como os candidatos, e chamar a polícia, a pessoa não levar lanche o suficiente para todo o tempo. Crença e fé Os sabatistas acreditam que no sétimo dia Deus descansou da criação do mundo, então para eles é um dia de descanso. As religiões sabatistas são: adventistas do sétimo dia, judeus religiosos nãocristãos, judeus cristãos, etc. Esses creem que o chamado período sabático – do pôr do sol da sexta até o pôr do sol do sábado – deve ser utilizado para reflexão e comunhão com Deus. Diferente do cristianismo, que utiliza do domingo como dia santo. Muitos alunos utilizam do tempo de espera entre o fechamento do portão até início da prova para orar, e se distraem com suas preces.
Foto: Leon Elias
Amanda Magalhães Jackeline Oliveira 4º período / 3º período
Estudantes sabatistas esperaram até o pôr-do-sol para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio. Em sua maioria adventistas, os canditados que vêem o sábado como um dia sagrado, guardam o sétimo dia da semana para práticas religiosas e celebrações. Devido a esse motivo as provas começam a ser aplicadas às 19h.
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Cultura • 13
Editor e diagramador da página: Isadora Marques Cardoso de Oliveira
O Ponto
Belo Horizonte,fevereiro de 2016
COMIDA SOBRE RODAS O crescimento e popularização dos food trucks, e a oportunidade de bom negócio para jovens empreendedores. Larissa Coelho e Raquel Barakat 8º período
sofisticado. Queremos que as pessoas comam com as mãos, mas, sem se sentirem “ogras””. A partir de várias pesquisas, o grupo escolheu como foco o público jovem e apreciadores de cervejas artesanais. A variação de locais para a venda com a presença deste público-alvo, para eles, soa como um bom desafio. Além disso, com o curso de gastronomia, eles têm a possibilidade de aprender a gerir e administrar os negócios. Em uma pesquisa realizada com participação de mil e quinhentas pessoas, quando perguntados como planejavam gastar algum dinheiro extra que recebessem, 28% das pessoas responderam “comendo fora de casa” e, em um leque de opções oferecidas, como restaurantes, bares, padarias, lanchonetes, carrinhos de lanches, as food trucks representaram maior crescimento e aceitação do público. Para a montagem de uma food truck, o investidor pode desembolsar de 50 a 70 mil reais. Alguns modelos podem ser mais caros, dependendo da
tecnologia utilizada e modelo de veículo escolhido. É preciso lembrar que os veículos devem atender a alguns requisitos e cumprir rigorosos procedimentos, como licença da ANVISA municipal e estadual, DETRAN e DENATRAN, Prefeitura, INMETRO, registro de empresa e inspeção do corpo de bombeiros. A partir da grande aceitação do público pelas food trucks, eventos vêm sendo criados em praças quase que semanalmente, a fim de espalhar ainda mais essa novidade. Famílias, jovens, idosos, casais de namorados: o público é diversificado e os elogios são enormes. Em um destes eventos, montados no bairro Belvedere, região centro sul da capital, era possível encontrar doces, pipocas “gourmetizadas”, churrascos para os paladares mais nobres e exigentes e a boa e velha coxinha, campeã de vendas na maioria dos eventos. O educador físico, Igor Garces, 29 anos, aproveitou o sábado ensolarado para levar
a mãe e um amigo, recém-chegado de São Paulo: “A comida está maravilhosa. São várias as opções, inclusive opções para não escapar da dieta. Mas, no fim de semana, uma escapadinha não faz mal”. Igor saiu com uma “crepioca” (crepe feito com farinha de tapioca), tendência atual para quem opta por uma alimentação mais saudável, mas prometeu fazer uma paradinha para a sobremesa no caminhão de churros. O espaço é tão diversificado, que até apreciadores de vinhos têm seu lugar. “É diferente sair de casa e tomar um vinho ao ar livre. Belo Horizonte precisa explorar mais esse tipo de evento, e a organização está impecável”, relata o engenheiro Alberto Costa, morador do próprio bairro. Hoje, os eventos de food truck apostam na proposta de comer bem fora de casa, sem pagar muito por isso. E variedade é o que não vai faltar se o seu programa de fim de semana for este. Vale arriscar e conferir as delícias da comida de rua, ou comidas sobre rodas.
Fotos: Reprodução www.casandoembh.com.br
Na saída de uma festa ou na correria do dia a dia, quem nunca optou por aquela comidinha rápida, seja nos famosos carrinhos de cachorro quente ou trailers de sanduíches? Em meados de 2008, ainda nos Estados Unidos, surgiram as coloridas e sofisticadas food trucks, que chegaram ao Brasil em 2012, e ganharam espaço na capital e nos grandes centros do país. Com a onda da “gourmetização”, você pode encontrar de sanduíches sofisticados a comidas mais elaboradas. Por ser um empreendimento com investimento relativamente baixo, você pode notar a presença de jovens por trás do caminhão de comida. É o pontapé inicial para entrar no ramo gastronômico, ganhando espaço, visibilidade e independência financeira. É o caso de Vinícius Galvão, Jady Soares e Dimitri Morais, todos estudantes do Senac Minas, com faixas etárias entre 22 e 27 anos. Eles con-
tam que, durante o curso, sentiram a necessidade de um projeto que emocionasse e desse aquela empolgação na rotina. Resolveram criar um grupo e, a partir de várias conversas, surgiu a ideia da “Beerking – Cervejaria Food Truck”, em fase de desenvolvimento. “Sempre nos reunimos com os outros alunos pra tomar aquela boa gelada. Assim, quando o Dimitri cogitou a ideia de uma food truck, sugeri cervejas artesanais e tira-gostos harmonizados com cervejas. Os professores nos incentivaram muito”, conta Vinícius Galvão. Como diferencial de outras food trucks, eles pretendem elaborar pratos com pães e queijos que agradam o paladar do grupo, e utilizar marcas de cervejas mineiras. “As cervejas artesanais são as protagonistas do food truck, queremos apresentar a nossos clientes cervejas feitas em nossa cidade e região, que possuem qualidades incríveis. Para acompanhar a cerveja, queríamos comidas bem elaboradas, ricas em sabor, mas também não queríamos algo muito
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14 • Comportamento
Editores e diagramadores da página: Danielle Dias, Rodrigo Oliveira e Camilla Quirino
Belo Horizonte, fevereiro de 2016
O Ponto
Uma nova forma de vender Mentes criativas que ganham dinheiro com publicidade na internet Anna Carolina Deroma Isadora Marques Joana Spadinger 3º Período / 4º Período Com 64 milhões de usuários só no Brasil, a internet se tornou uma das mídias mais influentes no país, ultrapassando a soma das audiências dos jornais impressos e revistas, ficando atrás somente da TV aberta. Estudos realizados mostram que o crescimento da publicidade digital em 2015 foi estimado para 15%, um investimento estimado em R$9,5
bilhões, um número bem acima do que foi projetado para o ano de 2014. O mercado digital vem chamando a atenção de grandes empresários pelo seu custobeneficio, velocidade e praticidade, em comparação aos outros meios de publicidade. A internet oferece maior flexibilidade aos seus investidores e mais criatividade; o baixo custo também é outro fator que valoriza este mercado. Um anúncio feito na internet fica disponível 24 horas por dia, independentemente do horário em que o usuário esteja conectado, e não
Lucas Rangel utiliza as redes sociais para fazer propaganda
possui um limite de duração, diferentemente de anúncios direcionados para rádio e TV. Além das inúmeras vantagens de investir em mídias digitais, existem outras formas de divulgações virtuais; uma delas são os influencers, ou “influenciadores”, pessoas que compartilham suas rotinas e possuem um grande volume de seguidores em suas redes sociais, e através disso, conseguem atingir um alto número de visualizações em um pequeno espaço de tempo. “Influenciadores são aqueles que decidiram se abrir para o mundo, compartilham sua vida e incluem pessoas de todos os tipos num relacionamento por meio das redes sociais e outros canais”- relato feito por Erick Mafra via Instagram. Erick Mafra tem 19 anos, mora em São Paulo, é um blogueiro considerado influenciador. Opinião Uma das web celebridades mais cobiçadas pelos empresários na atualidade é Lucas Rangel, mineiro de 19 anos. Com uma média de 2 milhões de visualizações em cada vídeo postado no Youtube, e cerca de 1,7 milhão de seguidores no Instagram, ele é um formador de opinião, e esta atividade é a atual profissão do jovem. O patrocínio de diversas marcas famosas com contratos bem
Foto: Arquivo Pessoal
O youtuber é considerado uma das mentes criativas do Brasil remunerados busca em Lucas uma maneira de divulgar o seu produto de forma descontraída. “Eu acho muito interessante como a publicidade se reinventou na internet, os influenciadores conseguem levar o produto, o objetivo da marca até o cliente de uma forma mais clara, sem ser pesada no merchandising, eu me torno um intermediário entre as empresas e seus consumidores”, disse Lucas. A mídia digital veio para ficar, e nela haverá um lugar ao sol para quem ousar apostar em algo novo e acessível.
“Eu acho muito interessante como a publicidade se reinventou na internet”
Lucas Rangel
Com 1,7 milhão de seguidores no Instagram, o viner belorizontino surfa na onda da monetização por meio da ampla influência das redes sociais no Brasil e a força do patrocínio de marcas importantes do mercado
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Cultura • 15
Editor e diagramador da página: Marcos Fam e Rafael Diniz
O Ponto
Belo Horizonte, fevereiro de 2016
A energia cosmopolita de Berlim pós-guerras Foto: Lucas Chalub e Thomaz Bergo
Exposição no CCBB conta como a cidade se reergueu após catástrofes bélicas e a queda do muro.
Quadros retratam os escombros e a destruição durante as guerras mundiais na Alemanha. Lucas Chalub Thomaz Bergo 2º período O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), localizado na Praça da Liberdade, recebeu a exposição Zeitgeist – a Arte da nova Berlim. A mostra contou com pinturas de artistas renomados, fotografias, vídeos e instalações com o objetivo de explorar o lado cultural de uma cidade que já sofreu várias catástrofes em sua história. A exposição foi dividida em seis temas: “tempo que corre e tempo estagnado”; “a ruína como categoria estética”; “eterna construção e demolição”; “o vazio e o provisório”; “hedonismo cruel”; “novos mapas e os outros modernos”. Esta divisão temática colaborou para que a mostra fosse bastante dinâmica e interativa, de modo que o público pudesse desfrutar intensamente da real identidade da capital alemã. Mesmo após sofrer destruião quase total das duas grandes guerras, especialmente da segunda, e ter ficado violentamente dividida em duas partes por quase meio século - separando famílias, amigos e ideais, a cidade sustenta a sua posição de ícone mundial da cultura. Na exposição, a energia cosmopolita da cidade foi explorada por dezenas de artistas, como Christian Jankowski, Julius von Bismarck, Julian Charrière e Thomas Rentmeister. Muitas dessas características puderam ser comprovadas pelo título que o evento recebeu, Zeitgeist. O termo, na língua alemã,
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significa “espírito de uma época”, e a ideia era aproximar o público do que foi deixado e perdido após os massacrantes acontecimentos históricos. Através da visão de vários artistas, a mostra contou com a apresentação do velho e o novo, mostrando como Berlim possui uma aura cultural e artística escondida entre as ruínas deixadas pelas guerras. Foi a primeira vez que a exposição veio ao Brasil e, para a jornalista Priscila Armani, é de extrema importância que uma exposição desta magnitude seja recebida na capital mineira: “A cidade de Belo Horizonte vem progredindo com o tempo no quesito cultural, pois agora temos uma grande quantidade de espaços voltados para exposições. Os produtores culturais locais estão percebendo a importância que essas exibições trazem para a cidade.” Priscila, que já visitou Berlim, fez também algumas críticas: “Nossa cidade deveria aproveitar mais o seu potencial histórico. A cidade de Berlim, é recheada de museus que contam passo a passo a construção de sua história. É incrível ver crianças e adolescentes se interessando por suas origens e histórias”. Seguindo a temática, a equipe de O PONTO, ao visitar a exposição, se deparou com a dentista Ângela Maria e sua sobrinha Rafaela, de oito anos, que também apreciavam as obras: “Eu trouxe minha sobrinha porque eu e a mãe dela sempre fomos acostumadas a frequentar teatros, desde a nossa infância. É fundamental que as crianças participem dos eventos culturais desde cedo,
para desenvolver os lados intelectual e sensorial e, além disso, a Rafa adora cultura. Nós sempre a levamos a eventos culturais”. Ângela também comentou sobre a experiência que viverá no próximo mês. Como estudou a língua germânica durante a faculdade, decidiu passar as férias na Alemanha. “Esse foi um dos motivos pelos quais eu me interessei em me envolver um pouco mais com a cultura desse povo. Com tudo que pude ver e sentir aqui, com certeza fará com que eu chegue lá com outra visão”. Já para o estudante de arquitetura Tarcísio Azevedo de Almeida, a mostra teve uma relação direta com sua futura profissão: “É engraçado, pois a exposição traz uma visão contemporânea de algo que já aconteceu e ainda existe, por isso tem esse contraste com a arquitetura da cidade e o que é renovado”. Azevedo comentou também como vê a recepção da população à exposição: “Eu acho que o estilo deve ser construído durante a vida, e essa ideia de percorrer uma exposição faz parte do ‘construir o entendimento’. Quando se traz uma exposição de assuntos tão extremos, isso ajuda a envolver o ser e o material”. Zeitgeist – a Arte da nova Berlim esteve aberta ao público no CCBB entre 21 de outubro até 11 de janeiro de 2016, de quarta a segunda-feira, das 9h às 21h. A exposição, que em muitos momentos mostrou a dor dos alemães, explicou muito da cultura de um povo que se construiu por meio da desconstrução.
Quadros retratam as ruínas pós-guerra em Berlim.
Vielas típicas de Berlim que dão acesso ao subúrbio.
Parte de muro que retrata as duas guerras na Alemanha.
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16 • Esportes
Editor e diagramador da página: Breno Galante
Belo Horizonte, fevereiro de 2016
O Ponto Foto: Arquivo pessoal
Assessor tem que torcer pelo time Para Cassio Arreguy o assessor pode ser torcedor mas tem que ter equilibrio e profissionalismo acima de tudo Breno Galante 4º Período
Cassio Arreguy é jornalista e trabalha como assessor de imprensa do Clube Atlético Mineiro desde abril de 2004. Em entrevista a O Ponto, ele revela os bastidores da cobertura de imprensa do clube e diz que a passagem de Ronaldinho Gaúcho pelo Galo atraiu a mídia do mundo inteiro
Quais são suas principais funções como assessor de imprensa do Atlético ? A assessoria de imprensa serve como o elo entre a mídia e a instituição. No caso do clube é um trabalho até mais complicado , porque o número de veículos de comunicação , número de repórteres, o acesso da imprensa, as demandas de imprensa, são inúmeras. Não só as locais como também a de fora de Minas Gerais e do Brasil. E é o tempo inteiro muita gente querendo saber notícias de todos os tipos,não somente de futebol. O Atlético é uma instituição muito grande, são muitas informações ,
muitos setores, você tem muitas áreas para trabalhar as informações para levar para o público através desses veículos. É um trabalho que só tem aumentado porque nesse tempo que eu estou aqui não só cresceu o número de órgãos de comunicação como houve uma grande entrada de sites e de blogs, assim como o advento das médias sociais que causaram uma demanda maior do que a que tínhamos há coisa de 10 anos atrás. Então nosso trabalho é pegar essas informações que o clube tem e que as pessoas procuram, e trabalhar essas informações para passar da melhor maneira. Além de atender a imprensa naquilo que ela tem de demanda e ao mesmo tempo zelar pela imagem da instituição.
Quais são as maiores dificuldades que você vê nesse meio ? São várias dificuldades. Há uma dificuldade interna de conscientizar dentro do próprio clube a importância do nosso trabalho, a importância das informações serem direcionadas para o nosso setor para que a gente distribua
essas informações para conter vazamentos. Conter conversas saindo de vários setores sem um tratamento adequado. Além do relacionamento com a imprensa que requer um equilíbrio da nossa parte e bom senso. A gente tem que ter um conhecimento da demanda da imprensa, um conhecimento do funcionamento da imprensa, dos seus horários e suas necessidades. É um meio muito passional e a imprensa não consegue se manter longe dessa passionalidade. Então a gente tem repórteres e veículos que às vezes tendem a colocar as informações de uma maneira que nem sempre é a correta , dentro do que acham, pensam e o coração manda. A gente tem que fazer esse meio de campo para que as informações cheguem corretamente sempre zelando pela boa imagem do clube e sem que cause algum desgaste.
Existe alguma caso especial que te marcou nesses 11 anos de Atlético? Aqui dentro do clube a gente vê muitas coisas que nos surpreendem e surpreenderiam muito
Cassio Arreguy o lado da Libertadores da América de 2013
Foto: Arquivo pessoal
mais quem está do lado de fora. É essa questão dos relacionamentos dos jogadores, das comissões técnicas, questão de diretoria. A gente se envolve muito nesse dia a dia na questão dos resultados. A gente sofre muito quando o time não vai bem . Isso muitas vezes atrapalha até o nosso dia a dia na relação com as pessoas porque a gente absorve muitas coisas. A gente vê muita coisa aqui dentro, coisas boas e coisas ruins. Principalmente as boas que mereciam que o público soubesse, questão de ações que são feitas, questão de dificuldades de relacionamentos. A gente brinca que o torcedor e a imprensa não ficam sabendo de 10 % das coisas que acontecem aqui. E não é porque há uma blidangem em relação a isso não . É porque aqui como em qualquer setor da sociedade, em qualquer empresa, acontecem várias coisas que são inerentes ao comportamento humano. E a gente presencia muita coisa que pode refletir dentro do campo que o torcedor e a imprensa não tem noção .
E a passagem de Ronaldinho Gaúcho no Atlético?
O assessor ao lado de Ronaldinho, o maior craque da recente história do clube
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O Ronaldinho Gaucho talvez tenha sido o fato mais importante que eu vivi no Atlético. Porque pela primeira vez a gente teve dentro do Atlético um astro com a grandeza do Ronaldinho, porque ele não é simplesmente um grande jogador ou um craque, ele é uma personalidade. Ele trouxe para o Atlético uma demanda de mídia do mundo inteiro.Quando ele se apresentou no clube nós já havíamos recebido ligações de imprensa de vários países, e as matérias que foram feitas internamente
pela TV Galo e pelos nossos órgãos oficiais foram lidas e vistas por mais de 100 países mundo a fora. O nosso trabalho mais do que dobrou com a presença dele aqui . E muitas vezes ficamos assustados com o comportamento da torcida em relação a ele quanto da postura da imprensa de um modo geral . E o nome do Atlético que já era uma marca forte se tornou mundialmente conhecida com ele.
É um pre-requisito no Atlético o assessor de imprensa ser torcedor do time ? Não é um pré-requisito mas eu acho que para trabalhar dentro do clube o ideal é que você torça para o time. Mas que você seja um torcedor moderado, porque você não pode vir trabalhar aqui com excesso de paixão e uma ausência de equilíbrio, que é aquilo que se exige de um jornalista em geral . Porque a gente lida com muita informação de bastidor que a gente tem que trabalhar isso de maneira muito discreta, muito silenciosa. A gente tem que ter uma noção do que pode divulgar e como soltar a informação. Não podemos nos deixar encantar pelo fato de estar aqui dentro. Não podemos ter um comportamento de tietagem, não podemos ficar tirando foto, pedindo camisa. Não podemos ter um comportamento que o torcedor tem e gostaria de ter. Temos que ter um distanciamento necessário para que possamos fazer nosso trabalho sem tanta pacionalidade porque para o jornalista o equilíbrio é fundamental.
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