Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 13
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Número 89
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dezembro de 2012
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Belo Horizonte / MG
Distribuição gratuita
Trânsito perigoso Famílias sofrem cada vez mais cedo com a imprudência nas ruas. Jovens são as principais vítimas Págs. 08 e 09
Ronaldo Fraga Das ruas brasileiras para a passarela Pág. 11
Política Declaração do prefeito da capital mineira repercurtiu negativamente entre os belo horizontinos nas redes sociais Pág. 03
Foto: Divulgação
Foto: Movimento fora Lacerda
Grafitismo Na batalha contra a descriminação, gravite ensina a “arte nos muros” para as crianças
Págs. 14 e 15
Foto: Helena Tonelli
02 • Opinião
Editor e diagramador da página: Túlio Kaizer - 6º Período
Belo Horizonte, dezembro de 2012
O Ponto
Faltou público para ver o show TÚLIO KAIZER 6º PERÍODO O Brasileirão 2012 nos reservou grandes emoções e surpresas até a última rodada. Luta para não cair na Série B de 2013, briga acirrada pelo vice-campeonato, que leva diretamente para a segunda fase da Libertadores e um intenso troca-troca de posições a cada gol que saía no último domingo de futebol brasileiro. O Fluminense, campeão da temporada, tentou estragar a festa. Venceu com três rodadas de antecedência e fez o campeonato perder um pouco a magia. Mas, Atlético-MG e Grêmio trataram de dar bastante emoção para a última rodada. Cada um em seu clássico regional, brigando pela fase de grupos da maior competição do continente. O Grêmio tinha a vantagem em um jogo especial. Com um ponto a mais que o time mineiro, o tricolor gaúcho jogaria pela última vez no Estádio Olímpico, palco de 58 anos de jogos do clube. O resultado não foi o esperado, pois o empate em 0 a 0 tirou da equipe a vaga direta para a fase de grupos da Libertadores. Mas os mais de 46 mil pagantes choraram emocionados com a despedida do estádio, mostrando que o amor no futebol emociona mais que os resultados. Totalmente alheio a isso, o Atlético recebeu o Cruzeiro no Independência, com mais de 21 mil pessoas quebrando o recorde da nova Arena de BH. Apenas os atleticanos estavam presentes no estádio e puderam ver uma cena que vai ficar marcada na história. O Galo bateu o rival por 3 a 2 e precisava que o Grêmio não
vencesse. Como o jogo do alvinegro terminou antes, os jogadores ficaram no centro do gramado esperando por mais de sete minutos a partida do Sul terminar. Com a informação do 0 a 0, os atletas foram em direção à torcida comemorar a suada classificação. Enquanto isso, o campeão jogava para pouco mais de 5 mil pessoas em um clássico histórico. Como explicar essa situação? Os jogadores do Flu fizeram uma grande campanha e no final jogaram para um público decepcionante. A rodada dos clássicos reservou ainda uma emoção especial para a torcida do Náutico. Mais de 20 mil pessoas viram o alvirrubro derrubar o Sport, seu grande rival, para a segunda divisão do Brasileirão. A vitória por 1 a 0 fechou o “caixão” do Leão da Ilha do Retiro, que lutou com forças, mas não conseguiu escapar. Podemos ver acima que a última rodada teve bastante emoção e mesmo assim, com grandes clássicos, a média de público não foi tão boa. Isso mostra a cara do Brasileirão, que foi emocionante, mas perdeu em participação do povo no país do futebol. A média de público do campeonato foi de 13.004 pessoas por jogo. Contando que estádios cabem mais e outros menos pessoas, a média por ocupação analisando todos os estádios, foi de 42%. Isso mesmo. Menos da metade em ocupação. Como podemos nos chamar de país do futebol? Com 25.222, o Corinthians teve a melhor média de público do campeonato. Já o Atlético, que teve o futebol que encantou o país em 2012, teve a maior média de ocupação do seu estádio, com 79% dos lugares ocupa-
Times G-12
Times G-8
pagantes
18.981 pagantes
Média de ocupação por estádio
79%
de ocupação
A cidade já está com babá
o ponto Coordenação Editorial Profª. Ana Paola Amorim (Jornalismo Impresso) Professores orientadores Profª. Dunya Azevedo (Planejamento Gráfico)
Média de público pagante
25.222
dos em toda a competição. Entre as equipes fora do G12, a maior média foi do Bahia, com 18.981 pessoas por jogo. Já o Náutico teve 64% de ocupação no seu estádio durante a competição, perdendo apenas para o Galo. As torcidas do Nordeste, por sinal, foram um show à parte. Em média de ocupação, as três equipes da região ficaram no “top 5”. Os intrusos foram Atlético-MG e Corinthians. Já a decepção ficou por conta da torcida carioca. Cansamos de ver o Engenhão vazio. Um estádio que cabe mais de 45 mil pessoas viu, na maioria dos jogos que sediou, público menor que 10 mil pessoas. Temos que pensar fórmulas de levar o povo novamente para os estádios. Durante muitos anos, o público participou ativamente do futebol brasileiro. Domingo, quatro da tarde, era certeza de casa cheia. Hoje temos jogos aos sábados, às nove da noite, ou domingo, às seis e meia. É ir na contramão de um bom público colocar horários absurdos para os jogos. Além disso, a violência das torcidas organizadas e os preços abusivos em alguns estádios afastam o “povão”, amante do futebol, dos jogos. Com isso, o Brasileirão perde a graça. Poderíamos ver os estádios cheios, pois as equipes são boas, trazem grandes nomes, conhecidos fora do país, para que o campeonato seja mais atrativo. Mas é preciso pensar um algo a mais para que o Brasil volte a ser o país do futebol. Pelo menos nas arquibancadas.
64%
de ocupação
Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: opontofumec@gmail.com Presidente do Conselho Curador Prof. Tiago Fantini Magalhães Reitor da Universidade Fumec Prof. Eduardo Martins de Lima Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi
Erramos
Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho
Edição 88 - novembro 2012
Diretor Administrativo e Financeiro/FCH Prof. Fernando de Melo Nogueira
Página de opinião, referente ao texto “Como tirar pipoca da boca de criança”, foi realizada pelas seguintes alunas: Maria Aldeci, Helena Tonelli Chaves, Larissa Coelho e Karoline de Alencar. No expediente, faltou a referência à professora Raquel Utsch, que coordenou a edição anterior. Na matéria “Shopping animal”, pág. 6, o nome correto de uma das repórteres participantes é Camila Nielsen.
Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Monitores de Jornalismo Impresso Diego Duarte e Túlio Kaizer Monitores da Redação Modelo Júlia Falconi e Laís Seixas Monitores de Produção Gráfica Lorene Assis Tiragem desta edição: 2.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo
Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento
Comportamento • 03
Editor e diagramador da página: Júlia Toledo e Laís Seixas - 4º Período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2012
A gafe que bombou na web Minutos depois de o prefeito de Belo Horizonte usar a expressão ‘‘babá de cidadão’’ para justificar a falha da prefeitura na prevenção de acidentes causados por chuvas, internautas criativos postaram inúmeras críticas bem humoradas e irônicas a Márcio Lacerda JÚLIA TOLEDO LAÍS SEIXAS 4º PERÍODO Quase cinco minutos depois de um depoimento dado pelo prefeito Márcio Lacerda, em uma coletiva de imprensa, várias brincadeiras e zombarias com o administrador de Belo Horizonte foram parar nas redes sociais. O estrago ficou registrado por todos os lados, em vídeos no youtube com vlogers se manifestando sobre a declaração polêmica, além de posts irônicos em várias redes sociais. Aconteceu de novo, no mês de novembro. As chuvas causaram tragédias na vida dos belohorizontinos, deixando a cidade devastada e em estado de alerta. A afirmação do prefeito, que associou os habitantes da capital mineira a crianças, dizendo que ele deveria ser um pouco mais “Babá de Cidadão”, foi feita na tarde da sexta-feira (16), no mesmo local onde uma pessoa morreu na quinta-feira (15). Por
causa da forte chuva, um moto- que a chuva em BH em um dia rista foi arrastado de dentro do em novembro foi cerca de 70% seu veículo para o córrego “Res- acima do esperado para o mês. saca”, no bairro Castelo, região O comerciante Carlos Alberto da Pampulha. Márcio Lacerda Falconi, 47 anos, há mais de 20 atribuiu ao “fenômeno meteoro- no ramo, já enfrentou quedas lógico” os problemas ocorridos nas vendas proporcionais às na cidade. Segundo ele, choveu chuvas, mas nunca foi atingido e em duas horas sofreu problemas quase a metade com o comércio do esperado para como no dia das todo o mês de enchentes. Após novembro. o retorno para a As medidas capital, sede de para aliviar transseu trabalho, viu tornos após os a declaração do temporais ainda prefeito e se mosnão foram tomatrou indignado. Helder Viana das. Procurado ‘‘A declaração do para falar sobre os atuais pro- prefeito foi inoportuna perante blemas da capital mineira, o a exposição e dificuldades que atual prefeito de Belo Horizonte, os cidadãos atingidos estão pasMárcio Lacerda (PSB), falou em sando’’, declara Falconi. uma coletiva que as enchentes Até mesmo o marco histósão algo normal e servem como rico localizado na Praça Sete um alerta para medidas serem de Setembro virou piada nas tomadas na próxima vez que mãos dos usuários do facebook. ocorrerem. “É a vida, né, acon- O ‘‘pirulito’’, como muitos o chatece”, declara o prefeito. Pesqui- mam, virou de fato uma charge sas de meteorologistas apontam com um pirulito ilustrando a
‘‘Eu fui pessoalmente prejudicado por ele, minha família inteira foi atingida pelas enchentes’’
‘‘infantilidade’’ da cidade, ou cidadãos, como o próprio prefeito disse. O professor de inglês Helder Viana, 25 anos, morador de uma das áreas de risco, disse que as enchentes afetaram a ele e a sua familia pessoalmente, mas que a culpa não é unicamente do prefeito, os cidadãos devem colaborar com a prevenção desses alagamentos, não poluindo o espaço público. ‘‘De que adianta conscientizar, trabalhar, fazer obras, se os ignorantes sujam tudo o que veem pela frente?’’. A dimensão que uma simples declaração tomou foi de fato inesperada, segundo o professor, os internautas passaram a zombar, com charges da ‘‘Super Nany’’ e rosto de Lacerda e, pedir a cabeça do prefeito. ‘‘Márcio Lacerda é um dos poucos - se não o único - prefeitos de BH que conseguiram tamanha desaprovação que mobilizasse uma campanha popular pedindo a sua cabeça’’, completa. O prefeito foi procurado para
falar sobre o depoimento, mas não quis se pronunciar.
“Realmente é uma coisa de se indignar porque nós não precisamos de babá e sim de um bom prefeito que faça as obras e cumpra as leis”.
“Acho que ele se expressou com a mesma inabilidade de sempre, mas acaba por estar correto. O cidadão tem que fazer a parte dele e entender que o Estado é um orgão e tem de se inserir como parte desse organismo”. Helder Viana, professor
Pedido de Desculpas Nem Marcio Lacerda poderia imaginar a repercussão que tomaria a sua frase dita em entrevista coletiva. A pressão veio de todas as partes. As redes sociais se mobilizaram e, antes que o prefeito pudesse explicar qualquer coisa, surgiram várias “brincadeirinhas”, colocando fotomontagens de Lacerda com uniforme de babá. Até dentro da câmara o prefeito virou motivo de chacota. Vereadores e deputados tentaram entregar um avental ao vice de Márcio. Todos os ligados ao prefeito receberam as criticas e brincadeiras, mas não se pronunciaram por uma semana. Sete dias depois de chamar a população de criança, Lacerda assumiu ter errado em sua declaração. “Foi uma expressão infeliz que eu usei e as pessoas se sentiram ofendidas e eu até peço desculpa”, disse o prefeito.
Após toda a repercussão polêmica do depoimento de Lacerda, foi anunciada no site oficial da prefeitura que as medidas preventivas às tragédias das enchentes, serão instaladas sirenes e alto-falantes como alerta, além das placas de alerta às chuvas, que informarão aos que estiverem nas áreas sobre as possibilidades de alagamentos. A prefeitura concluiu apenas uma das sete obras anunciadas para prevenção de enchentes na capital mineira. Quatro intervenções estão previstas para serem finalizadas em 2013 e outras duas ainda não têm um prazo estipulado para sair dos papéis. Ainda não existem recursos previstos para tentar solucionar o problema das proximi-
dades da Avenida Cristiano Machado. A via é um dos pontos mais vulneráveis de Belo Horizonte durante períodos chuvosos, no mês de dezembro. Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), estão sendo estudadas novas soluções para a redondeza da via Cristiano Machado, mas ainda não há uma previsão para o ínicio de novas obras. A PBH e a Defesa Civil Municipal vão começar a trabalhar em um plano de contingência para agir em casos de chuvas fortes e conseguir evacuar as áreas de alagamentos mais rapidamente. Uma das propostas, de acordo com o prefeito, é aumentar o policiamento nos 85 pontos de riscos de Belo Horizonte.
Fotos: Júlia Toledo e Laís Seixas
Deu em tempestade? Sirenes
“A campanha de Márcio quis mostrar seu lado humano, mas o que ele mostra para a população é justamente o contrário, ao menosprezar os nossos posicionamentos” Anna Tereza Clementino, estudante de Jornalismo
Guilherme Vale, estudante de Jornalismo
04 •Saúde
Editor e diagramador da página: Júlia
Belo Horizonte, dezembro de 2012
BH tem cerca de 30 mil animais abandonados O aumento constante de animais nas ruas da capital mineira é um problema de saúde pública Foto: Karla Reis
Abandonado, cão procura alimento no meio do lixo KARLA REIS BRUNA RODRIGUES XAVIER ELOÁ MAGALHÃES 2º PERÍODO Os números são significativos. Segundo o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Secretaria Municipal de Saude, Belo Horizonte conta aproximadamente com 285.000 cães e 45.000 gatos domiciliados, contabilizados pelo censo animal realizado em 2011. Desse total, cerca de 10%,ou seja 33 mil animais acabam nas ruas. É um dado preocupante, visto que estes animais podem disseminar para a população doenças, como a raiva e a leishimaniose, que são graves problemas de saúde pública. O CCZ desenvolve políticas em várias frentes para evitar o abandono e doenças transmitidas por animais. As ações são apoiadas pela sociedade civil organizada nas campanhas de adoção, incentivo à posse responsável, palestras e esterilização de animais. Em 2011 foram realizadas 14.203 cirurgias de esterilização de cães e gatos e até agosto deste ano, 11.526 animais já passaram pelo procedimento. Além disso, a SMSA promove também a adoção dos que foram abandonados nas rua. As ONG’s ajudam o CCZ na localização de famílias que queiram adotar esses animais. Antes de serem adotados, os cães e gatos passam por uma avaliação clínica, fazem exame de leishmaniose, cirurgia de esterilização e tomam a vacina contra raiva. Os animais também recebem um microchip de identificação. Porém, apenas o trabalho realizado pela PBH não é suficiente para dar conta do enorme número de animais abandonados nas ruas da capital.
Defensores Anônimos os gastos com procedimentos, medicaMuitos voluntários desenvolvem um mentos e as diárias para abrigá-los até trabalho solitário, recolhendo e cui- que encontrar uma adoção, ficam por dando de animais abandonados e violen- minha conta”, conta Jussara. tados, como é o caso de Giovana Fraga, A psicóloga relata que para conseque, por meio do site “Projeto Animais guir encontrar um lar para estes anide Rua” (www.projetoanimaisderuabh. mais, manda e-mails para seus amigos, e com), procura acolher e facilitar a adoção estes, por sua vez repassam a mensagem, de cães e gatos encontrados em situação ampliando assim a rede de apoiadores de abandono. “Hoje temos em nossa casa desta causa. cerca de 40 felinos, 20 caninos e mais No projeto “Animais de Rua”, um site duas mamães, uma com sete filhotes e a foi criado e é utilizado para divulgar as outra com quatro. Faladoções. “As adoções tam recursos, eu e meu acontecem por intermarido fazemos esse médio do site, mas trabalho, sem recurso tirando os filhotes, a governamental, estagrande maioria não mos sempre precium lar, pois já são sando de doações, velhinhos ou aleijados. Giovana Fraga, veterinária como ração, produtos Estes acabam ficando de limpeza, cobertocomigo, sendo tratados res, medicamentos com amor e respeito entre outros. Temos, até o fim dos seus dias”, inclusive, um mini bloco cirúrgico mon- desabafa Giovana. tado, mais ainda não conseguimos veteA veterinária Eliza Silveira acaba de rinários que possam nos ajudar’’, declara adotar a pitbull Bellinha, que por dois Giovana. anos e meio morou em uma clínica veteAssim como ela, a psicóloga Jussara rinária localizada no Sion. A cadela foi Vianna se diz sensibilizada e não resiste encaminhada por uma cliente do estabeao se deparar com algum animal peram- lecimento, que a encontrou abandonada, bulando pelas ruas. “A minha sensação faminta e em péssimo estado de saúde. quando vejo um animal em situação de Compadecida da situação e consciente risco é de responsabilidade, pois eles são da dificuldade de se conseguir uma adomuito vulneráveis e precisam de nossa ção para animais desta raça, a cliente ajuda. dividiu com a clínica as despesas de BelliPor isso carrego sempre no carro um nha durante todo este tempo até que esta pacote de ração e, quando encontro pudesse ser adotada. A clínica, vizinha da algum pelo caminho, paro e tento atraí-lo. favela Morro do Papagaio, oferece atenDepois levo para veterinários amigos que dimento e castrações a preços reduzidos me ajudam sem cobrar as consultas. Mas aos animais da comunidade.
“Hoje temos albergados em nossa casa cerca de 40 felinos, 20 caninos e mais duas mamães’’
O Po
Saúde• 05
a Falconi e Rafaela Borges - 4º Período
onto
Belo Horizonte, dezembro de 2012
Média anual de animais abandonados
Ilustração: Daniel Washington
285 mil cães domesticados
45 mil gatos domesticados
33 mil abandonados nas ruas Foto: Bruna Rodrigues
Nina, ganhou um novo lar após ser acolhida na Clinica PETZOO
ONG conta com voluntários Uma outra parcela de voluntários doa seu trabalho em ONGs que se empenham em defender e cuidar de animais abandonados, além de prover a orientação e a educação da população, buscando formar guardiões responsáveis. Uma delas, a Associação Bichos Gerais (ABG) é uma ONG sem fins lucrativos oficializada desde 2001 e afiliada a WSPA (World Society for the Protection of Animals), da qual fazem parte veterinários, ecólogos, engenheiros, advogados, empresários, professores e pessoas comuns. A ONG tem, como objetivo, prestar serviços às comunidades carentes através de assistência médica veterinária gratuita a seus cães, gatos e demais animais domésticos, incluindo consulta, vacinas, medicações e procedimentos cirúrgicos, principalmente cirurgias para esterilização. Trata-se de uma organização auto-sustentável, cujos recursos para as atividades assistenciais aos animais carentes e animais selvagens vítimas do tráfico vêm de uma clínica veterinária criada com o objetivo de gerar tais recursos. Dentre as atividades desenvolvidas por ela estão o projeto NAV ( Núcleo de Atendimento Veterinário), na Vila Bispo Maura, em Ribeirão das Neves, onde sequer há rede de esgoto. O projeto oferece, além do atendimento gratuito, atividades sobre educação ambiental e campanhas sobre a guarda responsável. Há ainda o projeto do Centro de Conservação da Fauna, voltado para atendimento a animais silvestres vítimas do tráfico, cativeiro clandestino ou acidentes em rodovias,
que são encaminhados pelo IBAMA e Polícia Ambiental e que pretende abrigar milhares de animais. O objetivo do projeto é se tornar referência mundial em produção de conhecimento científico com fins de preservação das espécies. Por fim, o ProjetoFélix, criado em 2002, promove controle e monitoramento da população de felinos residentes no Parque Municipal de Belo Horizonte, através da castração e acompanhamento médico veterinário dos adultos e retirada de filhotes recém abandonados. Foram realizadas cirurgias gratuitas em mais de quatrocentos animais e centenas de outros encaminhados para adoção. A discussão é ampla e democrática, atingindo não só os defensores como também aqueles que não gostam ou não podem ter animais em casa, tanto que dentro do Conselho Municipal de Saúde de BH está constituída a Comissão Interinstitucional de Saúde Humana na sua Relação com os Animais, que é o espaço para discussão dos temas afins envolvendo o poder público e a sociedade civil organizada (ONGs, coletivos ou munícipes) Para adotar um animal recolhido pelo CCZ, o interessado deve comparecer à unidade (Rua Edna Quintel, 173 - São Bernardo). Se o animal for filhote, é necessário aguardar que o animal seja desmamado. O prazo pode ser de até 45 dias. Os interessados podem ligar para 3277-7411 ou para 3277-7413.
Conheça a Lei Brasileira Além Constituição Federal de 1988 que aborda seu tema no seu artigo 225, a principal lei que protege os animais é a Lei Federal 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, com destaque para o artigo 32: Art. 32 - Praticar ato de abuso, maustratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. A pena será de 3 meses a 1 ano de prisão e multa, aumentada de 1/6 a 1/3 se ocorrer a morte do animal. A UNESCO em assembleia no dia 27 de janeiro de 1978 proclamou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da qual destacamos: 1 - Todos os animais têm o mesmo direito à vida. 2 - Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem. 3 - Nenhum animal deve ser maltratado. 4 - Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat. 5 - O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca ser abandonado. 6 - Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor. 7 - Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida. 8 - A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais. 9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei. 10 - O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.
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Cidades• 07
Editor e diagramador da página: Diego Duarte - 6˚ Período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2012
Paixão pela
7ª Arte
Em contraposição ao cinema comercial, adeptos do movimento cineclubista reúnem-se na capital mineira para apreciar e discutir bons filmes CAROLINA DUARTE IARA ARAÚJO 2º PERÍODO Originado na França durante os anos 20, os cineclubes nasceram com o intuito de discutir e refletir sobre o cinema. No dicionário Aurélio da língua portuguesa, o termo é definido como “associação que reúne apreciadores de cinema para fins de estudo, debates e para exibição de filmes selecionados”. A partir desse propósito, um movimento ganhou força no mundo, chegando também ao Brasil, tendo sido considerado uma das principais expressões do movimento cultural brasileiro dos anos 50 e 60. O cineclubismo influenciou várias gerações de pensadores cinematográficos, além de ter também contribuído para o surgimento do Cinema Novo. Constituído por pessoas interessadas na arte, o movimento acabou por propiciar um novo formato de exibição e apreciação do cinema. Nos espaços (cineclubes) onde ocorriam as reuniões, além da exibição de filmes de qualidade, trocava-se informações e debatiam-se os principais problemas do cinema nacional, como a política de distribuição de filmes, a produção cinematográfica, o ensino de cinema e até a cria-
ção de uma entidade nacional que congregasse todos os cineclubes, vindo a culminar, nos anos 50, no Conselho Nacional de Cineclubes. Aprimorada ao longo de diversas gerações, a prática difunde um cinema diferente e abrangente, oferecendo oportunidades, a um público amplo e diverso, de apreciar e discutir bons filmes. Apaixonado por cinema, o professor do Centro Universitário UNA, Ataídes Braga, que leciona as disciplinas Cinematografia e Análise Crítica do Cinema Brasileiro, é um fiel membro do cineclubismo. Atualmente exercendo também a crítica, ele conta que a sua trajetória – que o levou a diretor do Cineclube Humberto Mauro, o mais antigo da capital mineira, inaugurado em 1978 –, teve início a partir de um interesse pessoal pelo cinema, manifestado quando era ainda adolescente. “Minha primeira vocação é a literatura, depois vem o cinema”, define. “Quando vim de Ouro Preto estudar cinema em Belo Horizonte, comecei a procurar por esses cineclubes, a fim de participar das discussões que promoviam e acabei descobrindo e me apaixonando pela prática. Paralelamente, o contato com escritores famosos, entre eles Carlos Drummond de
Andrade, fez crescer ainda mais esse interesse, até que, nos anos 90, ao decidir resgatar o Cineclube Humberto Mauro, acabei vindo fazer parte da diretoria. Desde então, meu interesse passou a ser proporcional à minha participação e engajamento”, declara o professor. De acordo com Ataídes, algumas características distinguem os cineclubes de qualquer outro cinema, principalmente o comercial: o fato de eles não possuírem fins lucrativos, terem uma estrutura democrática e um
“Os cineclubes não servem apenas para discutir filmes, eles contribuem para mudar consciências e também com a formação de novas ideias e opiniões” Ataídes Braga, professor compromisso cultural e ético. “Os cineclubes não servem apenas para discutir filmes, eles produzem fatos novos, contribuem para mudar consciências e também com a formação de novas ideias e opiniões, interferindo, desta
forma, na sociedade. É neste aspecto, em especial, que reside a sua grande importância”, esclarece. Braga admite ser um pouco mais difícil, hoje em dia, encontrar pessoas que se reúnam presencialmente para discutir filmes, em razão, entre outros fatores, da falta de condições financeiras e estruturais que muitos cineclubes
enfrentam. Mas o movimento ainda vive, segundo ele, com boa parte dessas reuniões e discussões ocorrendo pela internet. “Em Belo Horizonte, onde a relação das pessoas com a também chamada 7ª arte adquiriu uma dimensão grandiosa, o movimento tem significado e grande importância, sendo capaz de produzir e modificar a cultura local e desta forma trazer mudanças positivas à sociedade”, finaliza.
Onde ir em Belo Horizonte O Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), considerado um dos cineclubes mais antigos e tradicionais do Brasil, continua sendo a referência em Belo Horizonte. Além de exibir filmes aos sábados, promove ainda cursos de cinema e debates. Já recebeu, desde a sua criação, inúmeros frequentadores, entre intelectuais, críticos e estudiosos, além de pessoas ligadas à literatura e à música.
Outra opção é o Cine Humberto Mauro, um dos poucos que ainda mantêm esta tradição na capital mineira, promovendo reuniões, mostras e debates. Há também o Cine UFMG, funcionando no campus da Universidade Federal de Minas Gerais, localizado na região da Pampulha. E também o mais recente espaço disponibilizado à comunidade, o Cento e Quatro.
08 • Comportamento
Editor e diagramador da página
Belo Horizonte, dezembro de 2012
O Po
PARE PARA PENSAR
Impunidade no trânsito faz jovens e adultos questionarem sobre os reais motivos e as melhores soluções para diminuir o número de mortes causados pela bebida.
Júlia Almeida Helena Tonelli Chaves Bruna Marta 1º e 2º perîodo
Foto: Arquivo Pessoal
“Acho muito importante que alguém se lembre de nós, a família, que muitas vezes sofre de forma silenciosa”. Foi com muita gentileza e palavras doces que Ana Cristina Pimentel recebeu nossas perguntas. A designer de interiores é mãe de Fábio Pimentel Fraiha, 20, vítima de um acidente de carro na Avenida Nossa Senhora do Carmo, em setembro deste ano. Meses depois, é impossível não se emocionar com as palavras de Ana Pimentel, lembrando que a dor de perder alguém tão jovem não tem cura, mesmo que o tempo passe. Quando voltava para casa de uma festa, o carro de Fábio foi atingido por outro veículo que estava acima de 140km/h em um trecho onde a velocidade máxima permitida é 60 Km/h. O jovem morreu no local, deixando amigos e familiares desamparados.
Ana Cristina: sofrimento silencioso DOR SEM FIM Hoje, Ana Cristina está reconstruindo sua vida, mas o sofrimento e a saudade estão em cada uma de suas palavras. A morte de Fábio de uma maneira tão violenta foi capaz de abalar as crenças dessa mãe, vítimada por um trânsito irresponsavelmente veloz, pouco fiscalizado e punido.
Ana Cristina conta que Fábio nasceu e cresceu em um ambiente de muito carinho e amor. “Acho que isto foi um fator determinante na formação do seu caráter e da sua personalidade. Ele era muito carinhoso com todos”, conta a mãe da vitima. Fábio era considerado carismático e irreverente e, como todo jovem, não dava muito ouvidos para os conselhos dos pais, mas não os desrespeitavam. Ana Cristina afirma: “nunca tive problemas em relação ao seu comportamento.” Ao saber do acidente, Ana Cristina diz que no primeiro momento não acreditou no que a contaram. Só depois é que se deu conta. “O chão se abre, o ar te falta e o mundo some à sua frente sem que você perceba. Você já está no chão, literalmente. Quando dei por mim, eu estava estirada no chão do meu quarto. A dor é tão intensa e tão grande, que a gente não sabe onde começa ou onde termina”, desabafa a mãe que perdeu o filho adolescente injustamente. Quando questionada sobre qual seria a solução para redução de atitudes irresponsáveis no trânsito, diz que “primeiramente as pessoas deveriam pensar que isso pode acontecer com qualquer um, a qualquer momento. Partindo daí, tomar atitudes, lutar por mudanças nas leis, que são obsoletas e pedir mais rigor nas punições”. Ana diz que os jovens podem mudar o mundo, e que juntos devem pensar em fazer o bem maior, e o bem de todos. Ao fim, arrisca um um conselho: “Sonhem com uma sociedade mais justa, com menos violência e, principalmente, vão à luta!” PETIÇÃO NO FOI ACIDENTE Além da família, o acidente de Fábio afetou muitos outros jovens, seus amigos, que ainda sofrem a perda de um companheiro tão jovem. Bernardo Junqueria, 20 anos, estudante de engenharia civil na Universidade Fumec, era muito ligado ao Fábio e diz que “perder um amigo assim é a pior coisa do mundo”. Ele e os amigos deram um passo importante ao aderir ao movimento “Não Foi Acidente”, encontrando ali uma forma de canalizar a dor e transformá-la em protesto. Eles tentam salvar outras vidas e impedir que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento.
“Procuramos alertar os amigos e conhecidos a evitarem pegar o volante após beber, mas sabemos que nem todos vão mudar seu comportamento. Esse desejo vem de dentro e a minha parte eu estou fazendo. Espero que os outros também façam as deles”, concluiu Bernardo. O movimento “Não Foi Acidente” visa, por meio de uma petição, mudar as leis no Brasil e garantir que não haja impunidade. Foi criado por Rafael Baltresca, após ter sua mãe e irmã mortas em um atropelamento em setembro de 2011. O acidente aconteceu em São Paulo, e foi comprovado que o motorista estava embriagado. “Tantas e tantas mortes acontecem por pessoas embriagadas que, na hora da alegria, da bebedeira, não entregam a chave do carro para um amigo, não voltam de taxi, não colocam a mão na consciência e pensam na consequência”, afirma Rafael. De acordo com o site do movimento, “hoje, a pessoa que bebe, dirige e mata, é indiciada por homicídio culposo (sem intenção de matar). Neste caso, se o atropelador for réu primário, pode pegar de dois a quatro anos de prisão”. Porém, há brechas na lei, que, na avaliação do movimento, muitas vezes abre portas para a impunidade. “Segundo a Constituição brasileira, até 4 anos de prisão a pena pode ser convertida em serviços para a comunidade”. O Projeto de Lei por eles apresentado propõe, em caso de homicídio, aumentar a pena para 5 a 9 anos de reclusão, quando comprovada a embriaguez do motorista, e aumentar a pena também para quem for pego dirigindo embriagado, mesmo que não haja vítimas. Alice Mendes, de 22 anos, estuda direito na faculdade Milton Campos. Para ela, aumentar a pena para quem provoca mortes no trânsito – crime qualificado como homicídio de dolo eventual, onde se assume o risco de matar - é uma questão delicada. Ela explica que, no Brasil, a pena tem três funções principais: a repressiva, a preventiva e a de ressocialização. Aumentar as penas máximas de cada crime iria prejudicar essa terceira função. Contudo, Mendes acredita que esses conceitos deveriam ser revistos uma vez que as punições aplicadas no país são leves em vários casos. Para a estudante, todas as penas deveriam ser aumentadas proporcionalmente.
Comportamento • 09
a: Joanna Del Papa - 4º Período
onto
Belo Horizonte, dezembro de 2012 O Projeto de Lei para aumentar a pena para quem dirigir alcoolizado divide opiniões. Enquanto 740.324 pessoas já assinaram a petição, muitas, como Guilherme de Matos, 36, pensam em outras soluções. “Acho que é preciso, primeiramente, alterar o ensino nas auto escolas. Hoje, muitos motoristas saem de lá habilitados, ainda que despreparados para as diversas situações que enfrentamos num trânsito, principalmente de cidades como Belo Horizonte” opina. “Tem de ensinar a ter mais consciência de que tudo que se faz, não só no trânsito, tem consequências”, observa. Sobre o aumento da pena, ele se diz contra “a pena já existe e é proporcional a de outros crimes, aqui no Brasil. Mas é necessário fiscalizar mais e garantir o cumprimento da lei, caso contrário as pessoas vão continuar bebendo e dirigindo”. A medida também não é considerada suficiente pela cientista social Maria Cristina Leite Peixoto. Na sua opinião, o que falta para acabar com a direção irresponsável é o aumento da fiscalização e não o aumento das penas. Para ela, já existem leis suficientes combatendo as infrações no trânsito, mas a impunidade ainda existe por causa da deficiência na fiscalização e aplicabilidade das leis. “Essa chance pequena de ser pego encoraja os jovens a continuar praticando imprudências no trânsito”, ressalta Peixoto. A cientista acredita que efetivar a fiscalização e a punição desses delitos é a melhor maneira de diminuir o número de infratores nas ruas, principalmente os jovens. De acordo com as pequisas publicadas pelo movimento “Não foi acidente”, o Brasil registra hoje uma média de 40 mil acidentes de trânsito por ano, 40% deles provocados pelo
diariamente, nas refeições, sem exageros”, compara o professor. Segundo ele, esse costume é perigoso para os jovens, uma vez que promove o conceito de celebração associado ao consumo de bebidas alcoólicas. Beber torna-se um fator importante para a aceitação nos grupos, principalmente masculinos. Muitas vezes ainda sob efeito do álcool, a hora de voltar para casa torna-se um risco para aqueles que vão dirgir. Com tantos fatores envolvidos na segurança ao volante, a atitude do motorista assume papel fundamental na busca por um trânsito menos violento. O estudante Edgar Guzman, 23, analisa a questão de embriaguez e direção. “Muitas vezes o cara bebe porque pensa que dirige bem, e que se não fizer muitas besteiras ao volante, não se envolverá em acidentes. Mas esquece que o álcool afeta nossa atenção e nosso reflexo, coisas que são cruciais o tempo inteiro no trânsito”, comenta.
ingestão de bebibas alcoolicas. Os números, embora impressionantes, são apenas registros de uma guerra travada pelas cidades brasileiras todos os dias. A conscientização é muitas vezes apenas a primeira etapa de um processo que parte do indivíduo para a sociedade. IRRESPONSABILIDADE PATOLÓGICA Mas por que jovens ao volante ainda são irresponsáveis, mesmo cientes das possíveis conseqüências? O psicólogo clínico e educacional, professor de psicologia da Universidade Fumec, Custódio Silva tem uma resposta. Ele fala sobre o “pensamento mágico”, conceito usado pelos psicólogos que esclarece porque os jovens têm a ilusão de que podem ser imprudentes no trânsito e nada vai lhes acontecer. Para Silva, o jovem adulto passa por uma nova fase de realização na vida, e percebe sua capacidade e múltiplas possibilidades. Com isso, ele cria a ideia de que nada de ruim pode acontecer. “Ele se sente um pouco como um super-herói”, completa. Silva explica que neste momento, o jovem é extremamente narcisista e egocêntrico, não percebe as conseqüências negativas de seus atos. “Só depois que isso o prejudica é que essas características vão sendo quebradas, mesmo assim, aos poucos”, ressalta o professor. Infelizmente, é comum que essa irresponsabilidade ao dirigir provoque a morte de alguém inocente, como a de Fábio. Silva ainda citou o hábito de beber para festejar como característica da cultura brasileira. “O consumo de álcool na França é quatro vezes maior que no Brasil, mas ao contrário do brasileiro, o frânces bebe quase
OLHO VIVO É preciso lembrar que a bebida alcóolica não é a única responsável por acidentes. Ao dirigir, deve-se evitar atitudes como falar ao celular e andar acima do limite de velocidade, e ainda, sempre utilizar cinto de segurança. O relato de Ana Cristina é, acima de tudo, um voto de confiança. É o retrato de muitas famílias brasileiras, mineiras, belorizontinas que, apesar de tudo, acreditam na justiça e, principalmente, acreditam no ser humano. Encarar essas verdades como um luta conjunta e chamar a responsabilidade para si é um ato de compaixão. É um exercício de cidadania, de humanidade. Foto: Joanna Del Papa e Helena Tonelli
Entre as causas de acidentes no trânsito, estão a combinação do consumo de bebidas alcoólicas e o volante
“A dor da gente não sai no jornal” Já dizia o verso da canção “Notícia de Jornal”, de Chico Buarque. Ainda que a entrevista de Ana Cristina Pimentel fosse transcrita, letra por letra, a reportagem não seria capaz de traduzir todo o sentimento contido em suas palavras. Não, a dor de uma mãe que perdeu o filho, de apenas 20 anos, não sai no jornal. Entramos em contato com Ana sem ter certeza de qual seria sua reação, pois sabemos como deve ser doloroso falar sobre o assunto com pessoas estranhas. Mesmo assim, recebemos uma resposta gentil: “Acho muito importante que alguém se lembre de nós, a família, que muitas vezes sofre de forma silenciosa”, disse. Isso provocou uma reflexão sobre o assunto. Quando o caso envolve o falecimento de um filho, é comum que a mídia só dê voz às famílias, e principalmente às mães, se pessoas famosas estiverem envolvidas, ou se o crime for extremamente chocante e raro. Mesmo assim, quando a mãe é realmente ouvida, há uma tendência que banaliza sua dor, transformando a tristeza em espetáculo. É como representar todas as famílias do Brasil que perdem seus parentes de maneira igualmente dolorosa todos os dias? Será que existe um meio termo? Será possível para o jornalismo retratar o sofrimento dessas mulheres de uma maneira justa, sem invadir sua privacidade e vulgarizar o assunto? É o que esperamos conseguir fazer enquanto exercermos essa profissão.
10 • Acontece na Fumec
Editor e diagramador da página: Júlia Falconi e Lais Seixas - 4º Período
Belo Horizonte, dezembro de 2012
O Ponto
A marca de Renato Janine Inspirado em Hobbes, Renato Janine construiu sua carreira e hoje é exemplo em universidades brasileiras LAIS SEIXAS 4º PERIODO O AI5 foi um dos Atos Institucionais mais criticados e temidos da história brasileira e quando foi decretado, em 1964, fez a população temer os poderes extraordinários dados ao Presidente da República. Esse medo fez com que Renato Janine Ribeiro, que hoje é um filósofo importante para a sociedade brasileira, criasse seu interesse por Thomas Hobes e, a partir de estudos sobre ele, desenvolvesse seu mestrado e doutorado e os maiores trabalhos de sua carreira, como A Marca de Leviatã e Ao leitor sem Medo. Janine é professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, mas sua área na universidade vai muito além das salas de aula. A televisão também já recebeu Janine, que idealizou e apresentou duas séries de programas sobre Ética. Primeiramente apresentados na TV Futura e depois na TV Globo. Mas a marca principal do professor não se fez na mídia; sua principal característica é a atividade acadêmica. A Pesquisa e Extensão formam seu ponto forte. Janine
defende que pesquisas podem ser favoráveis aos alunos e para professores. “Há professores, vocês devem saber, que acham muito bom quando eles podem dedicar um tempo maior para a pesquisa (...) quem é pesquisador, quem tem laboratório, ou faz qualquer outro tipo de pesquisa, de alguma forma se sente incentivado a dar aula e formar alunos de iniciação, formar mestres, formar doutores”, observou Janine. Aconteceu na Fumec A Universidade Fumec recebeu o professor, em outubro, para apresentar uma palestra a todos os alunos e funcionários com o tema “a pesquisa como desafio e diferencial da universidade privada”. O filósofo conta que não esperava tamanha repercussão de sua palestra: o auditório Phoenix, com capacidade para 300 pessoas, estava lotado e o público se espalhou pelo chão e pelas escadas do auditório. Em sua fala, Janine mostrou as diferenças de como a pesquisa se desenvolve no Brasil e em outros países. Na sua opinião, é fundamental desenvolver pesquisa e ensino juntos, como foi feito no Brasil.
O contrário, esperar que o ensino evoluísse para depois desenvolver programas de pesquisa, foi o modelo adotado por outros países. Segundo ele, o modelo brasileiro permite que as duas dimensões da universidade tenham os mesmos níveis de desenvolvimento, o que facilita um processo de interação. Janine ainda apontou o que considera mudanças necessárias para maior crecimento da área de pesquisa e apontou dificuldades. Alguns desses problemas são a pouca publicação e o reduzido apoio financeiro. “O que eu quero dizer é que, cada vez mais, de todo o ponto de vista que se olha, seja custo financeiro, tempo para planejar, seja rendimento, vale a pena juntar forças”, disse o professor. Janine comparou as pesquisas que são desenvolvidas nas unversidades com jogos de apostas, dizendo que “o Instituto de Estudos Avançados tem duas opções, ou aposta em cavalo vencedor ou procura coisa nova” e ainda completou dizendo que, quando um grupo tenta se destacar no ramo das pesquisas, é como “erguer-se sobre ombros de gigantes”.
Produção editorial 78 capítulos de livros 18 livros editados 81 artigos em periódicos especializados 11 trabalhos em anais de eventos 14 prefácios e/ou posfácios além do blog do autor em que o público pode ter acesso a entrevistas, textos e à biografia do filósofo e professor Renato Janine. Orientou 12 dissertações de mestrado e 16 teses de doutorado, além de 1 trabalho de iniciação científica em Filosofia Prêmios Recebeu o prêmio Jabuti de melhor ensaio (2001), a Ordem Nacional do Mérito Científico (1997) e a Ordem de Rio Branco (2009) Foto: Divulgação
Alguns títulos importantes A marca do Leviatã Apresenta uma leitura renovadora e arrojada das ideias de Thomas Hobbes. Analisa a matriz do pensamento hobbesiano e discute seus desdobramentos mais radicais - como a concentração total do Poder nas mãos do soberano e o controle do capitalismo.
A última razão dos reis Volta-se para a sociedade e a política do Antigo Regime, buscando entender em que condições algo de novo se pode gerar na aventura humana. Trata-se aqui de estudar o passado para verificar o quanto ele nos serve e, inversamente, até que ponto continua a nos governar. Por que uma ética aristocrática é a que melhor convém à fortuna?
Ao leitor sem medo Neste livro Janine faz um estudo dos principais textos de Thomas Hobbes, considerando o contexto no qual foram produzidos. Com isso, traz uma rica compreensão da vida política da modernidade. A etiqueta no Antigo Regime Como se explica o surgimento do garfo como talher? O lugar que cada pessoa deve ter à mesa numa cerimônia importante (ou oficial)? O cuidado extremo com a aparência? Como a Europa evoluiu desde a falta de “boas maneiras” ao comportamento cortesão refinado do século XVII, o Século das Luzes e de Luís XIV, o Rei-Sol?
A sociedade contra o social Aqui estão Ayrton Senna, Fernando Collor, o real, as novelas de TV e os políticos corruptos. Eles são trazidos novamente à consideração para que suas motivações profundas se mostrem e suas fragilidades se tornem mais patentes.
A universidade e a vida atual O livro trata da relação entre o mundo universitário e a sociedade. O autor discute o papel da Universidade inserida na vida dos dias de hoje e também como as mudanças sociais e tecnológicas dos últimos anos podem influir nas pesquisas acadêmicas e no ensino universitário.
Perfil • 11
Editor e diagramador da página: Anna Tereza Clementino e Tatiana Campello - 4º Período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2012
Um homem que ama o
Brasil
Ronaldo como ele é
CLARA DAMASCENO JOYCE NUNES CAMILA NIELSEN 1º PERÍODO “Ô Manuel... Nestas andanças por este Brasil, tenho visto e vivido coisas estupendas! Agorinha mesmo minhas retinas beberam a manhã mais linda do Rio Amazonas...” Essa é a abertura do site oficial de Ronaldo Fraga, estilista mineiro, que apresenta o tema de sua mais nova coleção: O turista aprendiz na terra do grão Pará. Ronaldo ficou órfão aos 11 anos, cresceu na capital mineira junto a seus quatro irmãos Roney, Robson, Rosilene e Rodrigo sempre com a ajuda de vizinhos, amigos e familiares. Apesar da infância difícil , ele não abriu mão de sua educação. “Minha infância e adolescência não influenciaram na minha escolha de ser estilista, mas sim na forma como sou estilista”, dissem em entrevista concedida por email ao jornal O PONTO. Carreira Fraga fez inúmeros cursos de desenho e, após um curso de moda no Senac, entrou para a UFMG. Lá, ganhou uma bolsa para estudar na Parsons School of Design, em Nova York, por meio de um concurso com alunos de estilismo feito pela empresa Têxtil Santista, e foi também resultado de todo seu potencial. Depois, morou mais quatro anos em Londres e, junto com seu irmão, abriu uma pequena produção de chapéus, vendidos nas famosas feiras de Camden e Portobello. Voltou ao Brasil aos 28 anos para o já extinto Phytoervas Fashion, com
o desfile chamado de “Eu amo coração de galinha”, coleção que o lançou de vez ao mundo da moda. O evento se tornaria Morumbi Fashion e, por último, São Paulo Fashion Week, no qual Ronaldo estreou em 2001 – mesmo ano em que se casou Ivana e teve seu primeiro filho, Ludovico. Graciliano nasceria dois anos depois. Um ano depois, no último Phytoervas Fashion, com a coleção “Em nome do bispo”, inspirada nas obras do artista Arthur Bispo do Rosário, ganhou o prêmio de estilista revelação. Nesse ano também lançou sua marca própria.
“Minha infância não influenciou na escolha de ser estilista, mas na forma como sou estilista” Projetos e Coleções Após 10 anos consecutivos desfilando para a maior semana de moda do Brasil, Ronaldo decidiu dar uma pausa nos desfiles de janeiro de 2012. “Pulei uma edição por ter muita coisa para fazer mais importante do que desfile, como por exemplo, iniciar um trabalho com Bio jóias na Amazônia”, conta. Em entrevista à Revista TPM, Ronaldo disse que começou a perceber que moda não é só passarela e que havia outros espaços aos quais ele devia passar.
Além de administrar suas lojas (uma em Belo Horizonte e outra em São Paulo), passou a ser o representante do Colegiado de Moda do Ministério da Cultura e faz parte de muitos projetos beneficentes. “Na verdade, são projetos de geração de empregos e renda com reafirmação cultural. Além da continuação do trabalho na Amazônia e o início de um projeto na Ilha de Marajó”, explica o estilista. Ronaldo Fraga possui um estilo único, cada coleção é inspirada por um tema diferente e todos se emocionam ao cruzarem as passarelas das semanas de moda. Zuzu Angel já foi tema, assim como Mário de Andrade. Em uma de suas viagens, Ronaldo buscou inspirações no estado e fez uma coleção de muito sucesso. Mesmo sendo um estilista altamente renomado em todo o mundo da moda, Ronaldo se mantém firme às suas raízes no Brasil. Em visita à loja de BH, que fica localizada no coração da Savassi, pode-se perceber que o ambiente traduz o estilista em cada canto. Cada peça é única e exclusiva e todas têm uma história por trás. Fernanda Takai, Débora Falabela e Marina Silva já foram vistas com modelos de Ronaldo Fraga. Em outubro foi lançada a exposição “Caderno de roupas, memórias e croquis”, que reúne um rico material sobre o trabalho e vida profissional de Fraga. A exposição esteve em Belo Horizonte até o início de dezembro, no Palácio dos Despachos (futura Casa Fiat de Cultura, no circuito Cultural da Praça da Liberdade), na Praça José Mendes Júnior, no bairro de Lourdes. Depois ela seguirá para outras capitais, como São Paulo de Rio de janeiro.
NOME: Ronaldo Moreira Fraga IDADE: 46 anos FILHOS: Ludovico e Graciliano COLEÇÃO: Turista Aprendiz na Terra do Grão Pará PRÊMIO: Trip Transformadores BRASIL: Para entendê-lo é preciso olhá-lo com olhos de poeta MODA: Documento de um tempo SEMANA DE MODA: Fogueira de vaidades PAIXÃO: Combustível para o fazer MEDO: Sempre precisa ser vencido SONHO: Do acesso à cultura e educação para todos os brasileiros SOCIEDADE: Exercício de convivência
Coleções através do tempo Coleção Turista Coleção Eu
Coleção
Coleção Todo
Coleção Rio
Aprendiz
Amo Coração
Quem Matou
Mundo e
São - Velho
na Terra do
de Galinha
Zuzu Angel
Ninguém
Chico
Grão-Pará
(1996)
(2001)
(2005)
(2009)
(2011)
Ilustrações: Croquis - assessoria Ronaldo Fraga
Foto: Divulgação assessoria Ronaldo Fraga
Ronaldo Fraga mostra por meio de suas roupas uma verdadeira poesia que descreve a mistura que forma sua paixão: o Brasil através da moda
12 • Cultura
Editores: Aurélio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da página: Túlio Kaizer - 6º Período
Belo Horizonte, dezembro de 2012
O Ponto
Artes plásticas em BH: antes e depois de
Estudiosos concordam que chegada do artista e apoio de Juscelino foram decisivos para que a capital mineira incorporasse a herança da semana de 22 e entrasse de vez no modernismo
Foto: Reprodução do auto-retrato de Guignard
Bruna Marta 1º período Se Belo Horizonte é uma cidade produtora de movimentos artísticos e não apenas receptora deles, há divergências. Os especialistas mais entusiastas veem nos artistas da contemporaneidade o ânimo necessário para manter a cidade aquecida. Outros, mais desconfiados, acreditam que a movimentação de instituições é pequena e que os incentivos ainda não são suficientes. Entretanto, todos concordam em dois pontos: a influência de Guignard e o pioneirismo de JK. A presença de Alberto da Veiga Guignard, trazido por Juscelino Kubitscheck para a Segunda Semana de Arte Moderna, em 1944, foi um marco para a criação de uma geração de artistas mineiros, responsáveis por um histórico de autenticidade e inovação que, ainda hoje, ecoa nas escolas de Belas Artes, agregando valor ao ensino e motivando os jovens a produzir. O artista plástico e professor da Escola Guignard, Marcos Venuto afirma que a presença de Guignard em Minas Gerais foi fundamental para que o estado passasse a produzir arte moderna belo-horizontina e não apenas recepcionar exposições modernistas. Ele valoriza a importância de Juscelino enquanto fomentador desse projeto, não apenas no âmbito das artes plásticas como também na arquitetura com Oscar Niemeyer e no paisagismo com Burle Marx. “O Guignard veio para Belo Horizonte através de um pedido do Portinari ao Juscelino. Ele não estava bem no Rio e tinha um histórico de problemas com o alcoolismo. Quando Guignard veio, Juscelino quis fundar uma escola. Havia o Parque Municipal, sem o Palácio das Artes que, na época, era apenas um projeto do Niemeyer. Ele começou a lecionar
ali, e Belo Horizonte passou a ter uma visão própria do modernismo”, conta o professor. Os alunos de Guignard ganharam visibilidade tanto por sua inovação quanto pelo caráter autêntico de suas obras. A herança modernista logo se converteu em uma arte e expressão características a cada um de seus criadores. “Alunos como Amílcar de Castro, Yara Tupinambá, Sara Ávila e vários outros artistas começaram a ter uma visão diferenciada da arte, uma lente modernista própria, que é o mais importante. A arte passou a ser mais autóctone aqui”, explica Venuto. Para o artista, o grande aparato intelectual e a maneira pouco ortodoxa de ensinar também foram responsáveis pela evolução de seus alunos. “Os alunos perceberam a formação europeia de seu professor, muito diferente do que se conhecia no Brasil, através dos professores que ele teve fora do país. Guignard vivenciou o modernismo na Europa até o início da segunda guerra, quando ele voltou ao Brasil”. Venuto entende que por causa dessa e outras influências, os alunos de Guignard desenvolveram visões particulares da arte. “O início do pensamento modernista belo-horizontino, que tem entre seus expoentes Amílcar de Castro, na década de 50”, completa. Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, a importância de Alberto da Veiga Guignard é indiscutível. Ele acrescenta que devido ao artista e à administração de Juscelino Kubitscheck, na década de 40, a capital manteve uma cultura artística, mas não o suficiente para se tornar um centro de referência das artes. “Eu acho que o ano de 1944 foi muito importante para o modernismo no Brasil todo e para o reconhecimento do modernismo no país, mas, em Minas Gerais, não fosse a estrela fulgurante de Guignard, acho que tudo teria se passado muito mal, muito
pouco ficou. Belo Horizonte perdeu essa produção”, observa. Marcus Venuto também fala de uma outra figura importante para as artes plásticas em Belo Horizonte, Franz Weissmann, escultor brasileiro nascido na Aústria e que lecionou na Escola do Parque (mais tarde Escola Guignard) a convite de Guignard. “Era o início de um pensamento geométrico com muitas repostas em Belo Horizonte. Tanto que podemos ver trabalhos da Sara Ávila próximos do onírico de Guignard e mais geométricos como o Weissmann. As esculturas do Amílcar também têm essa proximidade”, relata. Para o professor, apenas no período posterior a década de 40 é que Belo Horizonte entra na rota da produção modernista junto com o Rio de Janeiro e São Paulo.” Ambos atribuem grande valor ao projeto modernista idealizado por JK, principalmente por conta do impacto da Segunda Semana de Arte Moderna de 1944 na capital mineira. “Quando o Guignard veio para Minas Gerais, as coisas começaram a mudar um pouco e a cidade passou a ter um olhar sobre o modernismo embora com muito atraso. Na realidade, a consolidação, a acolhida da ideia do modernismo em Minas passa, necessariamente, por Juscelino”, conclui. Mas a cidade é tão importante para o artista quanto o artista é para a cidade. Marcos Venuto lembra também a importância da relação de Guignard com o estado. “É importante ver como o Guignard assimilou Minas e como Minas assimilou o Guignard. E como ele mudou, principalmente através do contato pessoal com as famílias daqui”, explica. A pesquisa pictórica realizada nas cidades históricas de Minas, como Ouro Preto, provocou mudanças inclusive em sua pintura, tornando-a mais rarefeita, mais leve.
Cultura • 13
Editores: Aurélio Silva e Ana Paola Amorim - Diagramador da página: Túlio Kaizer - 6º Período
O Ponto
Belo Horizonte, dezembro de 2012
Antes dos anos 1940
A prosa moderna nas ruas Há exatos 90 anos, a semana de arte moderna 1922 inaugurava o pensamento modernista no Brasil, destacando-se não só por sua vasta produção artística e cultural como também por sua oposição aos cânones acadêmicos no contexto sociopolítico do país. Os modernistas reivindicavam uma identidade nacional vinculada aos valores próprios do território brasileiro e encontravam inspiração na cultura regional do país e na expressão popular. Além disso, buscavam atualizar constantemente sua pesquisa estética em nome de uma produção verdadeiramente nacional. Em 1924, motivados por essa necessidade de inovação, os paulistas partiram em caravana encontrando nas cidades coloniais mineiras a resposta para sua busca. O grupo passou por Belo Horizonte e pelo interior do estado. Entre os integrantes estavam Mario de Andrade, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade que se hospedaram nas cidades históricas e ressaltaram a importância do Barroco mineiro, estimulando publicações modernistas em Minas Gerais. Nos anos 20, a capital era uma cidade dividida. Por um lado, os bares da Rua da Bahia recepcionavam escritores adeptos ao modernismo como Carlos Drummond de Andrade,
Pedro Nava e João Alphonsus, responsáveis pelo contato mantido com os paulistas. A produção dos literatos mineiros dividia-se em duas principais publicações locais: “A revista”, dos escritores do Diário de Minas, liderados por Drummond, e o suplemento literário “Leite Criolo”, criada por João Dornas Filho, Guilhermino César e Aquiles Vivacqua, com uma abordagem nacionalista mais extremista. Por outro, a cidade ainda era muito tradicionalista e o desenvolvimento da literatura não se estendia as Artes Plásticas, que permaneciam estagnadas, ligadas ao tradicionalismo da academia. Artistas como Zina Aita e Pedro Nava (que além de memorialista, era desenhista com viés moderno) eram exceções. A exposição de Zina, realizada em ainda em 1920, é considerada precursora do modernismo plástico em Minas Gerais. Os anos 30 recepcionaram um grande evento das Artes Plásticas em Belo Horizonte. Em 1936, o Salão Bar Brasil, a primeira coletiva de arte moderna da cidade, foi realizada em um bar, mais precisamente no subsolo do antigo Cine Brasil, ambiente até então pouco comum para uma exposição. Sua abertura contou com a presença de autoridades repre-
sentantes do Governo do Estado e do prefeito Otacílio Negrão de Lima, favorável a popularização das artes plásticas. Coordenado por Delpino Junior, participaram do Salão artistas mineiros conhecidos como Genesco Murta, Jeanne Milde, Julius Kaukal, Érico de Paula e Monsã e artistas novos como Fernando Pierucetti, Alceu Pena, Elza Coelho entre outros. O evento foi a primeira manifestação coletiva do modernismo em Minas e visava questionar o academicismo de Aníbal de Mattos e a institucionalização das artes. O antigo jornal Folha de Minas descreve o caráter social da exposição que contava com retratos sociais pouco comuns as artes tracionais. “A pintura, em nossos dias, perdeu o colorido aristocrático de ser entendida, somente, por uma “elite“. Ajustou-se a inteligência contemporânea, popularizando-se. Os pintores vão buscar seus motivos no turbilhão da vida e as cenas fixadas dão ao expectador a sensação de quem revê coisa conhecida. Na verdade, o personagem da vida vê-se transplantado para os quadros de realidade, quadros de flagrantes da rua. A função do pintor foi, então, a de registrar a cena. É uma espécie de fotografia à mão”.
A capital contemporânea houve produção, ora maior, ora menor”, explica. Venuto fala ainda sobre “tradição de pensar e ensinar a arte, deixada por Guignard e presente ainda hoje” e o papel da Escola Guignard na formação destes jovens profissionais. O artista afirma que há hoje em Belo Horizonte iniciativas para a valorização do tema em Belo Horizonte, como o Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim e o complexo de Museus na Praça da Liberdade e ressalta também o papel importante da nova geração de artistas urbanos em Belo Horizonte. Para Venuto, a reabertura de antigos espaços como o CentoeQuatro e o Sesc Palladium e a ocupação e criação de galerias no centro da cidade, como as do edifício Maletta, possibilitaram a visibilidade maior destes artistas e o retorno da capital ao centro dos movimentos contemporâneos, embora ainda pouco valorizados pela mídia local.
Em contrapartida, o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, acredita que ainda há um longo caminho a percorrer antes de a cidade tornar-se efetivamente um centro de referência artística e cultural. “Belo Horizonte poderia ter se tornado um centro de radiação, o que não aconteceu. Hoje, existe uma carência, uma sede de conhecimento, de visão. Eu acho que não só a Casa Fiat, mas outras instituições estão desempenhando este papel, o que possibilitará o resgate desta potencialidade cultural de Minas Gerais”, disse. Ambos são otimistas em relação aos movimentos da cidade em direção às artes e a cultura e concordam que é preciso colocar a capital na rota dos grandes eventos de arte do país, além de valorizar a produção local, promovendo e divulgando o trabalho de novos artistas.
Após os anos 1940
O modernismo aconteceu em meio a uma Belo Horizonte provinciana. Enquanto Drummond e Pedro Nava bebiam e falavam de poesia moderna nos bares da Rua da Bahia, as artes plásticas continuavam arraigadas a diversos conceitos tradicionais da academia. Guignard foi o sopro da liberdade destes artistas. A cidade hoje já não escuta os ecos da arte modernista, mas mantém muito de seu caráter livre, questionador e criativo. “Belo Horizonte já é uma cidade contemporânea”, afirma Marcos Venuto, sobre a produção artística belo-horizontina. Para ele, a cidade mineira, embora carente de instituições voltadas para as artes plásticas, sempre foi berço de grandes artistas. O professor acredita que a produção mineira através das últimas décadas não perde em nada para os grandes centros, São Paulo e Rio de Janeiro. “Não houve marasmo, porque sempre
Fotos: Reprodução das obras de Guignard
14 • Cidades
Editor e diagramador da pági
Belo Horizonte, dezembro de 2012
O Po
do protesto à socialização Grafite, stencil e sticker se firmam como manifestações artísticas, ganham espaços de exposição e se incorporam em projetos sociais KAROLINE DE ALENCAR LETÍCIA ARANTES MARIA ALDECI 2ºPERÍODO
“As pessoas estão assimilando melhor a arte de rua. Quando os cidadãos se deparam com os espaços grafitados de Belo Horizonte, elas sabem apreciar e diferenciar o artista do vândalo”
como em outras artes. Esse muro que grafitamos com os meninos da comunidade, busca retratar os acontecimentos aqui no bairro. Desenhamos os varais de roupas dos moradores, o cachorro sem dono que circula na rua. As crianças pediram pra representar os sacos de lixo que as pessoas deixavam na beira da calçada e o parquinho que construímos”. O grafiteiro ainda ressalta que o projeto, além de ser um estímulo para as crianças, também contribuiu para o sentimento de respeito um pelo outro, além da melhora no trato familiar e nos estudos. Com entusiasmo, o garoto Lucas Souza, 10 anos, um dos destaques da turma, conta como foi a experiência. “O professor Fred nos ensinou que era importante estudar antes de ir pintar nos muros. Minha mãe ficou feliz com meu aprendizado e eu grato por ela ter me inscrito. A nossa relação melhorou,” conta. O também aluno, Abraão Dias, 12 anos, também aprovou a nova atividade. Ele também já sonha em se tornar um grande profissional na arte de grafitar. “Eu gostei tanto que me vejo grafitando em Belo Horizonte e até em outras cidades quando eu crescer. Vou querer me formar em arte. E depois que coloquei isto na cabeça, me dedico melhor à escola e minhas notas já aumentaram.” Com 17 anos de experiência com o grafite, Negro F diz que percebeu uma mudança na sociedade durante a passagem dos anos. “As pessoas estão assimilando melhor a arte de rua. Quando os cidadãos se deparam com os espaços grafitados de Belo Horizonte e outros meios urbanos, elas sabem apreciar e diferenciar o artista do vândalo. É uma arte do cotidiano local, há uma identificação, é a linguagem própria do grafite”, destacou o artista.
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O grafite é um dos principais representantes da modalidade de arte urbana; é a arte de desenhar com spray. Mas há também o sticker (utilização de etiquetas/cartazes adesivos), o stencil (técnica usada para aplicar ilustrações por meio da perfuração de papéis ou acetato) e a pichação que é a prática de escrever ou rabiscar em muros. Esta é uma forma que, na maioria das vezes, é feita em locais sem prévia autorização; por isso é geralmente associada ao vandalismo. A grande diferença é que a intervenção feita pelo grafiteiro pode ser realizada somente com a autorização do proprietário em caso de bem privado. No caso de bem público, também é necessária a liberação pelos órgãos responsáveis. Na sua essência, o grafite é uma força de expressão como qualquer outra arte e por isso, deve ser respeitado. Essa arte vem ganhando cada vez mais espaço e o Brasil possui a lei 12.408/2011, que regulamenta essa prática. A arte de rua fala da realidade, por isso é quase impossível não abordar os conflitos sociais. Não dá para ignorar um movimento cultural e político que parte da coletividade. Ele se torna legítimo e, justamente porque expressa uma demanda da sociedade, é que vemos um esforço da máquina pública e do setor privado de contribuir em prol desse tipo de manifestação. Talvez por isso, uma das principais mineradoras do Brasil, preocupada com o perigo de acidentes de um dos seus terminais de transporte de minério, convidou a comunidade do entorno a participar de uma ação preventiva.
A iniciativa da mineradora partiu buscou criar uma sensibilização artística da necessidade de esclarecimento aos na comunidade. O professor do projeto, designer grámoradores sobre o porquê da instalação de um muro na divisa de suas instala- fico, grafiteiro e educador social Freções. A intenção não foi segregar e sim derico Eustáquio, ou Negro F, como é proteger, pois, pelo Terminal Ferroviário conhecido no meio artístico, confirma Olhos D’Água (TOD) é transportado o que antes de a lei ser sancionada pela minério extraído de morros vizinhos, e presidenta Dilma, o grafite viveu por um essa atividade poderia colocar em risco a bom tempo na ilegalidade. “A lei foi uma população local. O objetivo da empresa conquista, um reconhecimento de uma era acabar com a imagem negativa que arte que vem sendo praticada desde a década de 60. Vale ressaltar que essa práhavia sido criada pelo muro. tica é conhecida desde Foi com a ajuda a pré-história, só que da ONG Atividade na época foi utilizada Cultural, que surcom outras intenções, giu a ideia de serem ressalta.” ensinadas técnicas Negro F afirma que o de grafite às crianenvolvimento da comuças do bairro Olhos nidade foi fundamenD’Água. A minetal para o sucesso do radora arcou com projeto, já que o grafite todos os custos do ajudou as pessoas a se projeto denomimobilizarem em prol de nado Grafitod, que uma causa coletiva. Os permitiu às crian40 garotos que passaram ças da comunidade pelo projeto se empeparticipar de aulas nharam e desenvolvede grafite, a fim de tornar o ambiente Negro F, professor e grafiteiro ram bem as suas tarefas. Segundo ele, os jovens mais agradável e melhoraram seu desemseguro. Com o reaproveitamento de batentes de trilhos, penho na escola e o comportamento em o “antigo” muro é agora o maior painel casa. Houve uma maior interação com iconográfico grafitado da grande BH, a comunidade do bairro. Exemplo disso foi o antigo depósito de lixo ter se transmedindo 420 metros. Também foi feito todo um trabalho de formado numa linda praça, com o muro conscientização, diferenciando arte de estampando a realidade melhorada. vandalismo, colocando por terra a ideia “Todos os tipos de arte no meio urbano de o grafite ser uma arte marginalizada, têm o objetivo de transmitir uma mensada periferia. Segundo Rômulo Silva, da gem de quem a está praticando. Seja um ONG Atitude Cultural, coordenador do protesto relacionado ao contexto políprojeto Graffiti, é impossível ignorar a tico ou socioeconômico por parte de um importância da responsabilidade social e pichador ou a representação da realidade ambiental na gestão de grandes empre- de um local através do grafite e estêncil. É sas. No caso da mineradora, o projeto algo subjetivo expresso na prática, assim
Fotos: Mar
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Grafite realizado pelas crianças
Participantes do projeto Grafitod
Professor do projeto, designer gráfico, grafiteiro e educador social Frederico Eustáquio, o Negro F
Cidades • 15
ina: Diego Duarte - 6˚ Período
Belo Horizonte, dezembro de 2012
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Muro grafitado pelos participantes do projeto no bairro Olhos D`Àgua. Atividade contribuiu para a integração da comunidade A arte além das ruas O grafite não fica restrito às comunidades carentes. Em Belo Horizonte, museus tradicionais, como o Palácio das Artes, incentivam o acesso a esta cultura. Em janeiro de 2011, a galeria Mari’stella Tristão funcionou como um espaço aberto onde qualquer pessoa poderia intervir da maneira como quisesse, assim como é feito nas ruas. Essa exposição, que fez parte do Projeto Verão Arte Contemporânea, recebeu o nome de Graffiti Sem Limite. Tudo que foi produzido em onze dias pelos visitantes foi catalogado. O colégio Marista, na região Centro-Sul da capital mineira, também promoveu, por meio de seus professores e coordenadores, uma oficina com foco pastoral e pedagógico. A Semana Marcelino Champagnat explorou a percepção dos alunos e desenvolveu uma reflexão sobre o assunto abordado. Depois disso, propôs que as crianças
fizessem desenhos, que seriam colocados em votação e os ganhadores seriam reproduzidos num muro interno do colégio. A escola optou pelo grafite por ser uma arte que está presente nas ruas, por ser moderna e real. O espaço escolhido foi o galpão do Maristinha, espaço de encontro e passagem dos alunos. O colégio também convidou um artista para dar orientação sobre o material e a técnica que seria aplicada. Depois disso, foi só as crianças colocarem a mão na massa e se expressarem. “O resultado foi além do esperado. As crianças coloriram o espaço de uma forma que fazia sentido para elas,” disse Lucas Fortunato, assistente pedagógico do Maristinha. O grafite possibilitou um rompimento dos limites entre cultura erudita e popular, propiciada pelo baixo custo do material e tornou acessível a qualquer um com coragem para enfrentar e descobrir o novo.
Fotos: Maria Aldeci e Letícia Arantes
Painéis realizados pelos alunos do colégio Marista, em Belo Horizonte. Crianças conheceram e aprenderem a arte do grafite
Brazucas pelo mundo O Brasil tem dois grandes representantes do grafite. Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS, são consagrados mundialmente. Esses paulistas, desde a infância, foram incentivados pela família a se expressarem por meio dos traços. Seus horizontes se ampliaram quando tinham apenas 12 anos e resolveram ousar e experimentar uma nova técnica que estava surgindo junto com o movimento hip hop dos anos 80. Por o grafite ser uma técnica pouco conhecida na época, eles foram criativos, tiveram que inventar o seu próprio mate-
rial. Improvisaram latas de tintas usando látex, tintas automotivas, guache, adaptaram bicos de frascos de desodorantes e foram grafitar pela cidade. Os desenhos dos OSGEMEOS foram vistos por outro artista de renome mundial, o alemão Loomit, que reconheceu o potencial da dupla e em 2003 levou-os para uma temporada de exposições pela Alemanha. Os seus trabalhos viajaram por diversos países, ganhando uma exposição individual na galeria Luggage Store, em São Francisco- EUA, que reuniu pinturas e esculturas dos artistas.
16 • Cultura
Editor e diagramador da página: Diego Duarte - 6˚Período
Belo Horizonte, dezembro de 2012
O Ponto
“Apenas duas mãos e o sentimento do mundo” Poeta maior que completaria 110 anos segue encantando os amantes da boa poesia FERNANDO CARVALHO LARA COELHO 1º E 2º PERIODO
Itabira: lembrança constante Dentre várias das homenagens feitas nesse dia para o poeta, Itabira contribuiu com uma semana de eventos, em um projeto chamado “Semana Lítero-Drummondiana”. Segundo Marília Ramos, superintendente de Cultura em Itabira, Drummond é fundamental para a cidade, já que ele a leva para o resto do mundo. Mas Ramos observa que as homenagens não se restringem a essa data, pois o poeta é relembrado na cidade o ano inteiro, como o “Drummonzinhos”. “A própria fundação se chama Fundação Cultural Carlos Drummond Andrade”, reforça.
Drummond revive no mundo de várias formas. Na data de seu nascimento, esse ano, além das homenagens feitas nas programações das cidades, pessoas de todos os lugares abasteceram as suas redes sociais com suas obras. Um dos projetos com esse mesmo intuito foi o Declame para Drummond 2012, uma iniciativa de Marina Mara (produtora cultural e poeta) em parceria com outros artistas de varias regiões,inclusive de Portugal. Nesse projeto participaram 110 poetas, que distribuíram poemas de sua autoria em homenagem a ele para serem encontrados “no meio do caminho” de suas cidades.
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra Foto: Lara Coelho
Carlos Drummond de Andrade reuniu as muitas dores de um tempo. Brasileiro, foi capaz de captar o “sentimento do mundo”. É também o poeta de muitas gerações, referência para outros poetas. Essas são apenas algumas das dimensões do artista, destacadas pelos professores Carlos Silva e Luiz Henrique Barbosa, mas que dão ideia da importância do seu legado, que há muito ultrapassou os limites da sua mineira Itabira e do Brasil. O Dia D, de Drummond, celebrado no dia de seu nascimento, 31 de outubro, foi comemorado em várias partes do mundo: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Recife, Brasília, Lisboa e, claro, Itabira. Neste ano, são 110 anos de nascimento, relembrados com poemas, crônicas, artigos, debates, teatros. Conterrâneo de Drummond, Carlos Silva, professor de Literatura no Sistema de Educação Profissional (SEPRO), em Itabira, está entre os que se renderam à obra do poeta. Silva destaca principalmente a capacidade de Drummond traduzir o sentimento de um tempo inteiro. “A maior marca sempre será a enorme capacidade de captar a dor do homem do século XX. Um homem que passou por guerras terríveis, mudanças enormes e por sonhos fantásticos. Teve a capacidade de mostrar desde a solidão (gauche) até a solidariedade que o ser humano é capaz de viver”, comentou. Também professor, Luiz
Henrique Barbosa, com mestrado em Estudos Literários pela UFMG e doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa, pela PUC Minas, chama atenção para a influência direta de Drummond nas obras de diversos artistas, em especial nos poetas que dialogam com os poemas de Drummond, considerado “o poeta maior”. Um exemplo, lembra Barbosa, é a poeta Adélia Prado, de Divinópolis, que escreveu o “Com licença poética”, uma resposta feminina ao “Poema de sete faces”, da fase intimista de Drummond. “Como leitor, sou grato a ele por ter me proporcionado horas de intenso prazer literário.Como professor, sinto-me honrado por poder tentar ensinar o trabalho dele e como gente, uma pessoa que viveu no século XX, agradeço por ele ter me ajudado a entender a minha época”, disse o professor Carlos Silva.
Os Drummonzinhos Em homenagem ao poeta Carlos Drummond Andrade, em outubro de 2001, Itabira implantou um programa chamado “Drummonzinhos”, uma parceria entre a Fundação Cultural Carlos Drummond Andrade e a Secretaria de Ação Social. O programa tem como objetivo capacitar crianças e adolescentes em situação de baixa renda ou risco pessoal e social. Nele é desenvolvido um projeto de orientação que envolve atividades como teatro, expressão cultural e acompanhamento pedagógico para guiar turistas no museu de Território Caminhos Drummondianos, aulas de literatura Drummondiana e declamação. Os alunos, além de ganharem uma bolsa em dinheiro,lanche e transporte para os trabalhos em lugares diversificados,levam também a poesia de Drummond para eventos, participando de diversas apresentações. Poeta Carlos Drummond de Andrade continua vivo na memória
Poema de Sete Faces Calos Drummond Andrade Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida. As casas espiam os homens Que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, Não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: Pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.
Com licença poética Adélia Prado Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos - dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.