Ceará para o mundo
ESPECIAL / O COMPLEXO DO PECÉM É UM HUB ESTRATÉGICO PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL E UMA DAS PRINCIPAIS ÂNCORAS DE DESENVOLVIMENTO DO CEARÁ. A PARTIR DELE, MAPEAMOS A TRANSFORMAÇÃO NA PAUTA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DO ESTADO NOS ÚLTIMOS ANOS
O Ceará que dialoga com o mundo
Em outubro deste ano, o porto do Pecém bateu recorde no volume de contêineres movimentados em um único mês, com 66.253 TEUs, que é a medida-padrão usada no transporte de contêineres e equivale a 20 pés de comprimento, por 8 pés de largura e 8 de altura. O número é 16,42% acima da última melhor marca registrada, de 56.906 TEUs, alcançada em dezembro de 2023.
No mês anterior, setembro, já havia conquistado o recorde diário com a carga e descarga do MSC Mariagrazia, um navio gigante de 366 metros. A operação movimentou 4.016 contêineres em pouco mais de 48 horas de atracação.
O carro-chefe são as placas de aço, responsáveis por mais de 40% da pauta de exportações cearense. Mas há grande destaque também para itens como calçados, frutas e pescados.
Com mais de 19 mil hectares de área, o Complexo do Pecém, joint venture formada pelo Governo do Ceará e pelo Porto de Roterdã, desponta também como a casa do Hidrogênio Verde (H2V) no Brasil, uma vez que abriga os primeiros projetos do setor no país. Os investimentos estimados ultrapassam US$30 bilhões.
É sobre o Complexo do Pecém que esta segunda edição da série de quatro cadernos sobre o Ceará se desdobra para analisar oque tem sido pauta no comércio internacional do Estado. “Não tem como deixar de falar da implantação do complexo do Pecém, mas, sobretudo, da siderúrgica no Pecém. O Ceará dobrou suas importações e dobrou suas exportações com uma única empresa que é a companhia siderúrgica, a ArcelorMittal, hoje. Mas, depois disso, sem dúvida, há vários setores que foram impactados por uma nova economia que estava aqui, passava na nossa frente, mas pouco ou não suficientemente explorada e eu me refiro à questão da economia azul. O estado do Ceará era um grande produtor, ainda é um grande produtor de lagosta, mas o atum não estava no radar. Hoje, quando você entra no supermercado e compra atum enlatado da Robson Crusoé ou da Costa, o atum é pescado no Ceará. A pesca tem um novo horizonte como perspectiva de mercado. E na energia, é importante lembrar que relações internacionais, negócios internacionais não se dá apenas em comércio exterior, importação e exportação. A atração de investimento de poupança externa é estratégica e você tem o
setor de energias renováveis extremamente impactado pela atração de investimento estrangeiro”, analisa Rômulo Alexandre Soares, mestre em negócios internacionais, especialista em direito internacional e direito do mar e também é sócio da APBV Advogados, cofundador do Ceará Global e do Instituto Winds for Future.
Longe do mar, no Cariri, lançamos olhares sobre o algodão. O projeto Algodão do Ceará apresentou uma variedade de algodão em uma iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Governo do Ceará (SDE), Federação da Agricultura (Faec) e Federação das Indústrias (Fiec), com o apoio da Fertsan, empresa de tecnologia voltada para a agropecuária, e da Embrapa Algodão. O objetivo é resgatar o protagonismo do Estado nesta área a partir da produção de uma pluma de alto valor agregado a partir de cultivares de fibra longa e extralonga desenvolvidas pela Embrapa.
Ainda voltamos aos desdobramentos estratégicos da pauta de importação e exportação de 2024 no Ceará na retrospectiva do ano. Vem conhecer sobre o que a economia no Ceará tem conversado com o mundo.
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O Projeto Raio X escaneia a economia, as inovações e as políticas públicas que fazem do Ceará um estado único e apresenta as perspectivas dos mercados frente ao crescimento da economia nacional. É leitura essencial para empresários em geral, pequenas e médias empresas, executivos financeiros e administrativos, instituições de fomento, administradores de empresas, gestores públicos, economistas e contadores, profissionais que desenvolvem trabalhos na área de inovação em negócios. Especialistas de diversas áreas reúnem-se para revelar um Ceará complexo, dinâmico e repleto de potencial.
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Ceará que cresce
OCearáque crescedebateu o que impulsiona a economia no Estado
4 lives
Ceará sustentável - entrevista com Talyta Viana, coordenadora regulatória da Associação Brasileira de Biogás (Abiogás) sobre a transformação energética e dos desafios da produção de biogás no Ceará e no Brasil
Ceará que cria - entrevista com Mariana Figueira, da Fredericas, e Luciana Valente, da Susclo (brechó) e da Susy (Sistema para brechós), sobre as oportunidades e os desafios do processo criativo e de negócios para empreender no setor de confecção no Ceará.
Ceará que cresce - entrevista com o economista Celio Fernando sobre os indicadores de crescimento do Ceará, os setores com mais oportunidades e os desafios para a consolidação desses crescimento
Ceará para o mundo - entrevista com o advogado e mestre em Negócios Internacionais, Rômulo Alexandre, sobre o crescimento do Ceará para fora das fronteiras do Brasil e as oportunidades no atual cenário internacional
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Dentre os tipos de cargas movimentadas nos contêineres que passam pelo porto do Pecém,há placas solares,peças automotivas,carnes, utensílios domésticos de plásticos e brinquedos
PECÉM principal ponto de conexão do Ceará com o mundo
LOGÍSTICA / COM MAIS DE 19 MIL HECTARES DE ÁREA E INFRAESTRUTURA ROBUSTA, PORTO DO PECÉM DESPONTA TAMBÉM COMO A CASA DO HIDROGÊNIO VERDE (H2V) NO BRASIL
OComplexo do Pecém, localizado no município de São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana de Fortaleza, é um dos principais pontos logísticos do Brasil, consolidando-se como um hub estratégico para o comércio internacional e uma das principais âncoras de desenvolvimento do Ceará.
Para se ter uma ideia, em outubro deste ano, o porto bateu recorde no volume de contêineres movimentados em um único mês, com 66.253 TEUs, que é a medida-padrão usada no transporte de contêineres e equivale a 20 pés de comprimento, por 8 pés de largura e 8 de altura. O número é 16,42% acima da última melhor marca registrada, de 56.906 TEUs, alcançada em dezembro de 2023. No mês anterior, setembro, já havia conquistado o recorde diário com a carga e descarga do MSC Mariagrazia, um navio gigante de 366 metros. A operação movimentou 4.016 contêineres em pouco mais de 48 horas de atracação.
Dentre os tipos de cargas movimentadas nos contêineres, há placas solares, peças automotivas, carnes, utensílios domésticos de plásticos e brinquedos.
Mas o volume transportado é bem maior. Considerando também os graneis sólidos, líquidos e a carga geral, o volume movimentado nos primeiros nove meses deste ano chegou a 13,6 milhões de toneladas. Alta de 9,82% em relação a igual período de 2023, conforme dados consolidados mais recentes da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
O carro-chefe são as placas de aço, responsáveis por mais de 40% da pauta de exportações cearense. Mas há grande destaque também para itens como calçados, frutas e pescados. Com mais de 19 mil hectares de área, o Complexo do Pecém, joint venture formada pelo Governo do Ceará e pelo Porto de Roterdã, desponta também como a casa do Hidrogênio Verde (H2V) no Brasil, uma vez que abriga os
primeiros projetos do setor no País. Os investimentos estimados ultrapassam US$30 bilhões. Já são 41 memorandos de entendimentos assinados, o mais recente deles firmado no dia 22 de novembro com a CGN Brasil Energia (CGNBE), do Grupo CGN, um dos maiores da China, para a colaboração no desenvolvimento de empreendimentos de energia solar e eólica e da cadeia de hidrogênio verde. Destes, sete já geraram pré-contratos para instalação de uma planta industrial na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Porto do Pecém: AES, Cactus, Casa dos Ventos, Fortescue, FRV, Voltalia e Fuella AS. O projeto da Brasil Fortescue Sustainable Industries Ltda é o que está em estágio mais avançado, inclusive, com aval do Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE).
Com R$ 17,5 bilhões em investimento estimado, a planta tem potencial para produzir cerca de 500 toneladas de hidrogênio verde
por dia, com o uso de 1,2 gigawatts de energia renovável, podendo chegar a 2,1 GW em uma possível segunda fase do projeto. Com a conclusão da ferrovia Transnordestina, o futuro do porto promete ser ainda mais promissor. De acordo com o presidente do Complexo do Pecém, Hugo Figueirêdo, a expectativa é de que, com a nova operação, a movimentação de cargas dobre no porto, além de que novas empresas sejam atraídas para a ZPE.
Para abrigar esses grandes projetos, o Porto do Pecém está sendo reestruturado para receber dois novos berços, um no Píer
2 e outro no Terminal de Múltiplas Utilidades (TMUT). A ideia é criar um corredor de utilidades compartilhado para o Hub de Hidrogênio Verde. É nele onde vão circular os dutos de amônia, gás natural, hidrogênio, água e a rede de energia elétrica. Essas obras terão investimento de US$ 135 milhões e tiveram o edital lançado em outubro de 2024. Do montante, US$ 90 milhões vem do Banco Mundial, US$ 35 milhões do CIF (Climate Investment Funds) e contrapartida de US$ 10 milhões da CIPP. A duração prevista da obra é de 40 meses.
PREPARANDO A VITRINE DO FUTURO: AÇO VERDE, BIOCARVÃO, DATA CENTER
E TANCAGEM
Não é apenas a infraestrutura do Complexo do Pecém que está crescendo, há também uma gama de novos produtos e serviços que, nos próximos anos, devem passar a compor oportfólio produzido no Estado.
A ArcelorMittal, por exemplo, já sinalizou a intenção de transitar do uso de carvão para o gás natural e, eventualmente, para o hidrogênio verde (H2V). Erick Torres, CEO da ArcelorMittal Pecém, explica que hoje a empresa, no Ceará, quando observada internamente, possui a capacidade de gerar sua própria energia e ainda fornecer o excedente ao cliente.
“Existe, ainda, a possibilidade de produção de hidrogênio, uma iniciativa que a empresa está explorando, tanto globalmente quanto no Brasil, como uma alternativa para apoiar a descarbonização no setor siderúrgico. A empresa está comprometida e é pioneira nesse caminho, acreditando fortemente na transição energética, com um compromisso de atingir a neutralidade de carbono até 2050”, afirmou Torres, em entrevista ao O POVO em agosto deste ano. Outra frente vem sendo aberta por meio de uma parceria entre a Universidade Estadual do Ceará (Uece) e a termelétrica Energia Pecém, instalada no Complexo do Pecém, para viabilizar formas de produzir biocarvão
a partir da biomassa de coco.
A ideia é que o biocarvão seja utilizado para substituir o carvão mineral nas operações da usina, ajudando a reduzir as emissões de CO₂ em até 45%, contribuindo para uma transição energética mais limpa e sustentável.
O Complexo do Pecém também tem atraído interesse de outros grandes projetos, como o data center da Casa dos Ventos, com um aporte de cerca de R$ 55 bilhões.
A partir de janeiro também começam as obras do novo Terminal de Armazenamento e Distribuição de Combustíveis (tancagem) no Pecém. O espaço deve focar não apenas em produtos convencionais como gasolina e diesel, tal como ocorre hoje no Mucuripe, em Fortaleza, mas também incluir produtos como biocombustíveis e querosene de aviação.
De acordo com o Governo do Estado, as obras devem se estender até agosto de 2027, com a geração de 500 empregos diretos na fase de construção e outros 100 empregos na fase de operação. O investimento total previsto é de R$ 430 milhões, dos quais 343 milhões serão financiados pelo Banco do Nordeste (BNB). A capacidade inicial de armazenamento estimada é de 130 mil m³, com projeção de expansão para 22 mil m³.
Confira quais empresas já assinaram Pré-Contratos para instalação de plantas industriais no hub de H2V do Ceará
1.Fortescue 2.AES Brasil
3. Casa dos Ventos / Comerc Eficiência
4. Cactus Energia Verde
5. FRV
6. Voltalia
7. Fuella AS
Confira quais empresas assinaram Memorandos de Entendimento (MoU) para instalar plantas industriais de hidrogênio verde no Pecém* 1.Enegix Energy 2.White Martins/Linde 3. Qair 4. Fortescue 5.Eneva 6. Diferencial 7. Hytron 8.H2helium 9.Neoenergia 10.Engie
11.Transhydrogen Alliance
12.Total Eren
13. AES Brasil
14. Cactus Energia Verde 15.Casa dos Ventos 16.H2 Green Power
17.Comerc Eficiência
18.Enel Green Power 19.HDF 20.Mitsui 21.ABB 22.Gold Wind 23. Alupar 24. Mingyang Smart Energy 25.Spic 26.Gansu Science & Technology Investment 27.PowerChina
28. Platform Zero (Complexo do Pecém + 13 instituições de cinco países)
29.Green Hydrogen Corridor (Complexo do Pecém, AES Brasil, Casa dos Ventos, Comerc Eficiência, avenbedrijf Rotterdam, Fortescue e DP)
30. Voltalia
31. Lightsource bp
32. EDF Renewables Brasil
33. Go Verde
34. Hitachi Energy Brasil LTDA
35. Grupo Jepri
36. BP Energy
37. Eletrobras
38. Porto de Sines (corredor logístico sustentável)
39. Mercurio Asset (conversão de termelétrica a carvão para gás natural)
40. Vestas (cooperação para ampliação de do processo fabril de equipamentos)
41. CGN Brasil Energia
*Como o memorando de entendimento é o passo inicial, existem casos de empresas com MoU que já avançaram e também assinaram pré-contrato
O PACTO
pelo Pecém
ACORDO / NOVAS OPERAÇÕES COMERCIAIS ESPERADAS PARA O COMPLEXO DO PECÉM DEVEM TRANSFORMAR CENÁRIO E DEMANDAM OLHARES CUIDADOSOS
OPacto pelo Pecém foi uma estratégia que analisou o cenário do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) no Estado, entre 2011 e 2014, coordenada pelo Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). Retomado em agosto de 2023 e com nova agenda de medidas a ser concluída em janeiro do próximo ano, o acordo debate o cenário atual do Complexo e revisita desafios antigos.
Segundo a coordenadora técnica do Pacto pelo Pecém e membro do Conselho de Altos Estudos da Alece, Rosana Garjulli, a chegada de novas operações comerciais, como o hub de hidrogênio verde e atransnordestina,incentivaramarevisãodoPacto.
“Na época, estavam sendo construídas muitas empresas. Então, você tinha uma população flutuante de operários muito grande na região, e existia muita preocupação de como ficaria depois. O que acontece agora é também essa preocupação. Sabe-se que vai ter esse aumento novamente da população, só que agora se está melhor preparado e já estamos nos preocupando em como absorver essa nova situação”, indica.
Outra inquietação é relacionada à capacitação da mão de obra local, para que possa ser absorvida pelas empresas do Porto. “É preciso montar uma estratégia mais casada entre a demanda das empresas e os cursos profissionalizantes ou de nível superior, porque tem questões muito específicas. Então,umadaspropostasqueestásaindoéteruma articulação mais estreita”, revela Rosana. De acordo com a coordenadora, em dez anos o número de empresas instaladas no CIPP saltou de 30 para cerca de 90.
Entenda o Pacto pelo Pecém
O Pacto pelo Pecém é coordenado pelo Altos Estudos e Assuntos Estratégicos, uma instância da mesa diretora da Alece.
Para organizar a estratégia, foi criado um sistema de governança, representado pelo Conselho Gestor Provisório do CIPP. O grupo é formado por representantes do Governo do Estado, da Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (AECIPP), das prefeituras de São Gonçalo e Caucaia, onde está localizado o Complexo, da Alece, da comunidade do entorno e do próprio CIPP. O Conselho conta, ainda, com uma unidade gestora, composta por um representante de cada instância formadora do grupo. Atualmente, de acordo com Rosana, existem cerca de 60 instituições participando ativamente desse processo, entre órgãos públicos e entidades da sociedade civil.
“Essa construção é muito importante, porque, quando chegar no final, para amarrar os compromissos, essas organizações estarão participando desde o primeiro momento da construção do pacto”, destaca.
Revisitando o Pacto
A primeira etapa do processo foi identificar quais setores da sociedade precisariam ser envolvidos para a construção do acordo. Rosana conta que foram realizadas reuniões com cada um desses agentes, com o objetivo de explicar o que seria o Pacto e entender qual a visão desses setores sobre o Complexo, desde aspectos positivos até negativos. O resultado dessa análise foi um documento chamado Visão Compartilhada do CIPP.
Além disso, foram identificados sete novos desafios a serem superados, sendo eles:
Infraestrutura: conjugar ações e apoio para a implantação de prioridades na infraestrutura do que é necessário para o CIPP, como o recebimento da transnordestina e o hub de hidrogênio verde;
Mobilidade: melhorar a acessibilidade para oCIPP, uma vez que qualquer cidadão que precisar ir para o Complexo, mesmo estando nas proximidades, não tem acessibilidade de transporte público;
Habitabilidade: aprimorar as condições de habitabilidade, investindo em atrativos e suporte para a população do entorno, como conjuntos populares, educação e saúde públicas de qualidade, áreas de lazer e demais serviços necessários;
Políticas públicas: ampliar as políticas públicas sociais porque, mesmo já tendo sido ampliadas, ainda existe necessidade de aperfeiçoamento em algumas áreas;
Empregabilidade: promover uma obra qualificada que atenda a demanda das empresas do entorno, priorizando a empregabilidade local e a inclusão social;
Sustentabilidade: implementar e desenvolver um plano de ações ambientais integradas, que promova sinergia entre empresas, comunidades e o poder público, levando em consideração as especificidades das áreas de dunas e o litoral;
Cadeias produtivas: atração, fixação, fortalecimento e inovação das cadeias produtivas locais, apoiando o empreendedorismo e projetos sociais da região.
A partir de cada desafio elencado, foram realizadas oficinas para identificar as principais ações a serem tomadas, sejam de curto, médio ou longo prazo. A expectativa é que essas propostas sejam concluídas em janeiro, para debate e aprovação do Conselho Gestor Provisório do CIPP, formando a Agenda Estratégia CIPP Revisitada.
RETROSPECTIVA
Data Centers
Um mercado que cresce acelerado no Ceará é o da Tecnologia da Informação. Em junho, a Scala Data Centers lançou a pedra fundamental de seu equipamento na Praia do Futuro. Com previsão de ser inaugurado no 1º trimestre de 2025, o espaço terá potência total estimada em 30 MW e investimento de R$ 1 bilhão.
SETORES / COMO O CEARÁ TEM DIALOGADO COM O RESTANTE DO MUNDO A PARTIR DE SUAS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS E AMPLIADO ACORDOS E PARCERIAS POTENCIAIS QUE DESENHAM UM FUTURO PROMISSOR
Indicação geográfica
O Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) reconheceu, no dia 29 de outubro de 2024, a Indicação Geográfica (IG), na espécie Indicação de Procedência (IP), para a Região dos Inhamuns, no Ceará, como produtora de algodão agroecológico.
A região é uma das grandes produtoras de algodão do Brasil, com clima e solo favoráveis ao cultivo, capazes de fortalecer uma cadeia produtiva que movimenta toda a localidade e vem proporcionando o crescimento da atividade.
Acordo MercosulUnião Europeia
Conclusão do acordo Mercosul-União Europeia, após 25 anos de negociação, tem potencial de beneficiar o setor de frutas cearense, conforme mostrou reportagem do O POVO do dia 5 de dezembro, da jornalista Ana Luiza Serrão.
De acordo com o diretor da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, o acordo pode elevar o faturamento em 20% e em 15%, o volume exportado. Segundo ele, as exportações devem alcançar US$ 1,3 bilhão em 2024, 70% disso junto à Europa.
investiu R$ 800 mil em
de Passageiros (Termap) do Mucuripe, em Fortaleza. Pelo contrato, ao longo de 25 anos, serão R$ 4 milhões.
A temporada de cruzeiros 2024/2025, a primeira sob total gestão privada, começou no dia 21 de novembro de 2024 e deve terminar em 26 de abril de 2025, segundo o cronograma da empresa. Ao todo, são esperados 22.188 turistas a partir da atracação de 11 embarcações.
Já em outubro foi a vez da empresa de soluções em infraestrutura digital V.Tal lançar a sua nova marca Tecto, voltada à unidade de negócios de data centers. Na ocasião, anunciou investimentos de R$ 550 milhões para a construção do data center de larga escala Mega Lobster, na Praia do Futuro, em Fortaleza. A expectativa é que as obras sejam concluídas em 2025.
Pescado
O setor de pescado teve um crescimento de 25,1% nas exportações em outubro, segundo dados do Ceará em Comex, produzido pelo Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Ceará (CIN/FIec).
Foram mais de US$ 73,23 milhões em exportações. Estados Unidos, China, e Austrália foram os principais mercados, impulsionados pela demanda por pescados de alta qualidade.
Rochas
O Ceará deve encerrar 2024 com 50 mil toneladas de rochas exportadas via Porto do Pecém. Atualmente, a marca é de 40,192 mil toneladas registradas no dia 2 de outubro, quando o navio MV Jacamar Arrow partiu com 12,146 mil toneladas para o Porto de Livorno, na Itália.
A projeção é de Carlos Rubens Araújo, presidente do Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran-CE), e representa um crescimento de 14,29% sobre as 43,745 mil toneladas movimentadas no ano passado, conforme reportagem do Armando de Oliveira Lima, em 4 de outubro de 2024 no OP+, plataforma de streaming do O POVO.
ALGODÃO
NOVO FIO QUE TECE A COTONICULTURA DO CEARÁ
AGRONEGÓCIO / O ALGODÃO DO CEARÁ, VARIEDADE DE FIBRA LONGA DESENVOLVIDA EM PARCERIA COM A EMBRAPA, PROMETE IMPULSIONAR O SETOR COM PRODUTO DE MAIOR VALOR AGREGADO
OCeará apresentou ao mercado no último dia 7 de dezembro, durante o Encontro de Produtores Rurais do Cariri, o “Algodão do Ceará”, variedade de algodão de fibra longa desenvolvida pela Embrapa Algodão, com características que se adaptam ao modo de produção local e oferecem maior valor agregado.
O produto é fruto do projeto Algodão do Ceará, uma iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Governo do Ceará (SDE), Federação da Agricultura (Faec) e Federação das Indústrias (Fiec), com oapoio da Fertsan, empresa de tecnologia voltada para a agropecuária, e da Embrapa Algodão.
O objetivo é resgatar o protagonismo do Estado nesta área a partir da produção de uma pluma de alto valor agregado a partir de cultivares de fibra longa e extralonga desenvolvidas pela Embrapa.
O Ceará, além de um dos maiores pólos têxteis do País, tem condições favoráveis para esse tipo de produção, como os altos níveis de insolação, que favorecem o desenvolvimento de fibra de alta qualidade e contribui para uma maior sanidade da lavoura, reduzindo o custo com agroquímicos.
A meta é atingir a marca de 10 mil hectares de algodão nas próximas duas safras, de 2025 e 2026. No longo prazo, a ideia é chegar a 100 mil hectares. O cultivo será concentrado inicialmente nas regiões do Cariri e Chapada do Apodi, com previsão de expansão para outras regiões.
A proposta é que este novo produto venha ainda envelopado à indicação geográfica “selo algodão do Ceará”, em razão do diferencial de qualidade de fibra do algodão produzido no Estado.
O Ceará que, na década de 80, chegou a ser o maior produtor do Nordeste e o terceiro do Brasil, viu suas plantações serem devastadas pela praga do bicudo, levando embora a fonte de renda de muitos agricultores.
Nos últimos anos, aos poucos, essa cultura tem retornado para pauta do agronegócio cearense. Hoje, o Estado ocupa a nona colocação nacional e a terceira do Nordeste de maior valor exportado na categoria.
Reportagem do O POVO, do jornalista Samuel Pimentel, mostrou que, em 2023, o Ceará produziu 2,3 mil hectares de algodão, enquanto o atual maior produtor, o Mato Grosso, plantou 1,2 milhão de hectares, o que gerou US$ 31 bilhões em exportações. De acordo com o presidente da Faec, Amílcar Silveira, o foco agora é criar um produto premium, comparável ao algodão egípcio e ao Pima peruano, que são os melhores do mundo.
O cenário está favorável. Impulsionado por uma safra recorde de 3,5 milhões de toneladas, o Brasil se consolidou, em 2024, como o maior exportador de algodão do mundo. Superou, inclusive, pela primeira vez, os Estados Unidos.
Um estudo do Centro Internacional de Negócios da Fiec também mostrou que, entre janeiro e agosto de 2024, o setor têxtil cearense, impulsionado principalmente pelo algodão, registrou US$ 22,88 milhões em exportações, um crescimento de 22% em relação ao ano anterior. O algodão foi o protagonista, sendo responsável por mais de 87% do valor total das exportações têxteis do Estado. O principal destino das exportações têxteis cearenses são Colômbia e o Peru, que mostraram crescimentos expressivos entre janeiro e agosto de 2024. A Colômbia, maior destino, registrou um aumento de 62,4% em valor exportado, enquanto o Peru destacou-se com um crescimento de 94,4% em valor e 118% em volume.
Novas economias que conectam o
CEARÁ COM MUNDO
ENTREVISTA / O CEARÁ TEM DESPERTADO ATENÇÃO INTERNACIONAL POR VÁRIAS DE SUAS POTENCIALIDADES EM ÁREAS COMO TURISMO, ENERGIAS RENOVÁVEIS, PESCA, AGRICULTURA E O HIDROGÊNIO VERDE
Sobre a atenção internacional que o Ceará tem despertado, O POVO conversou com Rômulo Alexandre Soares, mestre em negócios internacionais, especialista em direito internacional e Direito do mar e também sócio da APBV Advogados, cofundador do Ceará Global e do Instituto Winds for Future. Confira a entrevista
O POVO - Quais são as principais áreas e atividades, setores que o Ceará tem despertado a atenção internacional e o interesse de investidores?
Rômulo Alexandre Soares - Você tem uma transformação muito grande na pauta de comércio internacional do estado do Ceará nos últimos anos. Não tem como deixar de falar da implantação do complexo do Pecém, mas, sobretudo, da siderúrgica no Pecém. O Ceará dobrou suas importações e dobrou suas exportações com uma única empresa que é a companhia siderúrgica, a ArcelorMittal, hoje.
Mas, depois disso, sem dúvida, há vários setores que foram impactados por uma nova economia que estava aqui, passava na nossa frente, mas pouco ou não suficientemente explorada e aqui eu me refiro à questão da economia azul. O estado do Ceará era um grande produtor, ainda é um grande produtor de lagosta, mas o atum não estava no radar. Hoje, quando você entra no supermercado e compra atum enlatado da Robson Crusoé ou da Costa, o atum é pescado no Ceará. A pesca tem um novo horizonte como perspectiva de mercado.
E na energia, é importante lembrar que relações internacionais, negócios internacionais não se dá apenas em comércio exterior, importação e exportação. A atração de investimento de poupança externa é estratégica e você tem o setor de energias renováveis extremamente impactado pela atração de investimento estrangeiro.
OP - O turismo é outro importante exemplo…
Rômulo Alexandre - Então, há uma nova economia que há pouco tempo era pouco explorada, ligada, por exemplo, à questão do sol e do vento e na questão do mar. O kitesurf transformou o litoral leste do Estado, novamente, trazendo poupança. O turismo tem essa possibilidade de trazer poupança externa. As relações internacionais do estado do Ceará têm essa dupla contextualização, comércio exterior, importação e exportação, mas também a atração de investimento estrangeiro.
OP - De que forma o porto do Pecém modificou essa estrutura de importação e exportação do Ceará e quais são os fatores que fazem com que essa operação seja tão bem sucedida?
Rômulo Alexandre - O porto do Pecém não é só um porto, é um complexo industrial e portuário. Essa é uma característica importante, porque ele não é somente um ponto de entrada e saída de mercadorias a processamento. A zona de processamento e exportação brasileira com maior visibilidade e desenvolvimento está exatamente no Pecém.
O complexo industrial e portuário do Pecém é um divisor de águas. Eu falei há pouco da siderúrgica, é lá que está instalada a siderúrgica, mas é também onde se planeja o cluster de hidrogênio mais recentemente. As principais empresas estão sendo anunciadas, a sua atividade, pelo menos a produção de hidrogênio, a fonte de matéria-prima, solar ou eólica está fora do Pecém, a matéria-prima para o hidrogênio, para a produção de hidrogênio, mas as plantas de hidrogênio estão pensadas ali no complexo.
Hoje você tem uma série de indústrias ali implantadas, algumas na cadeia de produção da siderurgia, mas também em outras atividades, por exemplo, um grande produtor e exportador de pás e eólicas está no complexo Pecém e outros componentes de aerogeradores para energia eólica também estão no Pecém, então assim, é um complexo industrial e portuário e ele marca uma transformação nessa nova economia do Ceará.
Nós temos, sim, vantagens locacionais que permitem pensar alto em termos de logística, até por questão de transporte de alimentos pelo mundo”
OP - A localização estratégica também favorece o Ceará em que medida?
Rômulo Alexandre - A gente tem algumas vantagens locacionais. A primeira é a nossa posição no Atlântico Sul. Todas as cargas que saem, que atravessam o sul da África, ali no Cabo da Boa Esperança, e vão para a América do Norte, para a costa leste dos Estados Unidos, passam em frente à Fortaleza.
E todas as cargas que vêm da Europa para a América do Sul, passam em frente ao Ceará. Então, o cruzamento dos eixos de ligação da Europa com a América do Sul e da Ásia pela África do Sul para os Estados Unidos, para a costa leste, passam aqui. Isso nos traz uma vantagem, porque o Estado é quase como uma península dentro do Atlântico Sul. O Nordeste do Brasil tem essa facilidade. Isso é uma vantagem competitiva locacional. E as outras estão ligadas à energia. Nós temos qualidade, todo mundo tem vento e todo mundo tem sol, mas em insolação e qualidade de vento, nós estamos numa posição geográfica extremamente privilegiada. Então, nós temos, sim, vantagens locacionais que permitem pensar alto em termos de logística, até por questão de transporte de alimentos pelo mundo. O Brasil é um grande produtor de alimentos. E pelo Porto do Pecém, com a possibilidade quase real já da Transnordestina conectar o Porto do Pecém ao interior do Brasil. E isso nos dá competitividade nas exportações. Sem dúvida.
OP - Você citou a questão do hidrogênio verde. Como é que você analisa esse desenvolvimento do hub? Quais são os seus maiores desafios? E como as empresas internacionais têm visto essa oportunidade no Ceará?
Rômulo Alexandre - É importante a gente entender que o protagonismo do Ceará em energias renováveis não é de agora. O
Estado do Ceará não está falando de hidrogênio porque começou a falar de transição energética agora. Quando a gente olha nos últimos 40 anos, depois que o Virgílio Távora trouxe a energia elétrica de Paulo Afonso, você tem os anos 80, com o Expedito Parente com patentes na área de biodiesel, de biocombustíveis, que hoje está novamente em foco, inclusive, com regulação recente nesse setor. Depois, nos anos 90, os primeiros projetos de eólica foram aqui no Ceará. Depois, nos anos 2000, o primeiro de solar comercial foi aqui. Há dois anos atrás, a EDP produziu a primeira molécula de hidrogênio no complexo do Pecém. Nós temos tradição. As indústrias do mundo estão fazendo negócios aqui no Ceará em energias renováveis.
OP - O Ceará vem assumindo um protagonismo em relação ao hidrogênio verde. O que tem feito a diferença?
Rômulo Alexandre - O Ceará fez algo interessante. O hidrogênio, enfim, a tecnologia, já tem um certo domínio sobre ela, mas para a produção de energia, para a exportação de energia diante do cenário dos últimos anos, o Ceará deu um passo ousado. Há pouco mais de dois anos atrás, eu lembro, no Centro de Eventos, quando ainda no governo Camilo, se reuniram os principais players de energia para discutirem ou para conversarem sobre um roadmap, no que o estado do Ceará poderia se colocar no hidrogênio. Foi o primeiro estado do Brasil a fazer isso. Reuniram os stakeholders para falar sobre essa oportunidade. Isso nos deu uma velocidade de arranque. Óbvio que outros estados acompanharam. Então, você tem aí vários estados do Brasil também se colocando nessa agenda do hidrogênio. Mas nós começamos, primeiro, regulamos algumas coisas, por exemplo, licenciamento ambiental para geração de hidrogênio. Agora, não deixa de ser uma indústria nova, né? Obviamente que existe uma série de passos. E não é só aqui. Eu estive no Canadá há quatro meses atrás e, em Portugal, agora, recentemente, e passam pelo mesmo desafio… como é que eu vou conectar a eólica offshore (no mar), que é um tema sensível? O mundo todo está tentando dar passos. E o que o Ceará está tentando fazer é se colocar, com protagonismo, em um assunto novo. Obviamente, não podemos colocar todos os ovos numa única cesta, porque o Ceará tem outras grandes oportunidades que geram emprego e renda também, mas o hidrogênio é um tema importante, porque é irreversível. Eu estive na reunião do G20 no Rio, e nós precisamos frear as mudanças climáticas. E não existe outra forma de fazer isso, se não for na mudança das fontes de energia consumidas, é necessário que essa energia passe de uma fonte poluente para uma fonte menos poluente. Não dá para fazer a mudança diretamente para o hidrogênio, para uma fonte completamente renovável. Apesar do Brasil estar muito bem nesse avanço.