Ceará sustentável
ESPECIAL / RECONHECIDO POR PRÁTICAS
SUSTENTÁVEIS, O CEARÁ SEGUE EMPENHADO
EM CRIAR UM FUTURO VERDE E DESPONTA COMO POTÊNCIA NO BRASIL. INICIATIVAS PÚBLICAS E PRIVADAS CRIAM UM CENÁRIO DE OTIMISMO
PARA INVESTIMENTOS
Ceará: terra de luz e inovação
O Ceará tem se destacado em iniciativas de promoção à sustentabilidade ambiental. O Estado conquistou o 1º lugar no Nordeste e o 12º no Brasil na categoria Sustentabilidade Ambiental do Ranking de Competitividade dos Estados 2023, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CPL) e divulgado em março deste ano. Outras iniciativas na área, como o programa Selo Município Verde e o pacto Ceará Sustentável, criadas pelo próprio Estado, mostram que o Ceará segue empenhado nessa agenda e que o futuro é verde.
Nas páginas a seguir, você vai conhecer outras iniciativas de investimento social, inovação e tecnologia que estão redefinindo relações e gerando impacto positivo em diversos setores. A ampliação do conceito de ESG (ambiental, social e governança) incentiva o mercado local ao passo em que iniciativas promovem o reconhecimento de empresas que inves-
tem no setor. Em novembro, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) certificou quatro novas indústrias com o Selo ESG-Fiec, aumentando para 23 o número de empresas reconhecidas pelo comprometimento com práticas sustentáveis no Estado.
Ainda, o governador Elmano de Freitas (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin recentemente firmaram um Acordo de Cooperação Técnica que integra o Estado ao Sistema Nacional de Economia de Impacto (Simpacto). Uma colaboração que fortalece tanto a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpato) quanto a Política Pública de Economia.
Nesse sentido, o território cearense vivencia um cenário de muitas potencialidades, como se pode ler nas palavras do economista Célio Fernando Bezerra de Mello, sócio da Astor, BFA e IB, em entrevista ao Raio X. Ele traça uma análise sobre as condições que fazem o Ceará avançar no desenvolvimento econômico sustentável. O aumento do PIB, a economia do Mar, a produção de hidrogênio verde e o investimento em tecnologia são marcadores que trouxeram resultados colhidos no presente, mas também projetados com muito otimismo para o futuro.
Na esteira do desenvolvimento sustentável, o Ceará avança também na transição energética. A solução para questões como a destinação correta de resíduos sólidos urbanos pode estar na produção de biogás e biometano. Com a aprovação da Lei do Combustível do Futuro, o País tem um potencial de explorar mais de 30 milhões de metros cúbicos (m³) por dia de
gás natural até 2030. O Ceará desponta como pioneiro, com produção de 110 mil m³/dia. Os números são da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás).
“É diferente de outros estados, que ainda não estão injetando esse biometano na rede, e que estão fazendo esse transporte do biometano por meio, ainda, de caminhões, como na forma de gás comprimido”, afirma a coordenadora regulatória da entidade, Talyta Viana.
Surfando na onda do progresso sustentável, empresas preparam-se para adentrar novos mercados. Exemplo é a Tecer Terminais, que há 20 anos é braço importante das operações logísticas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp). Agora, ela amplia movimentos e dimensiona como será a demanda por frotas especializadas, visando o mercado de hidrogênio verde.
Outro investimento que deve revolucionar o Porto do Pecém é a Transnordestina, aposta para movimentar uma diversidade de cargas com ênfase no mercado de soja, milho e farinha. “O Pecém deverá dobrar sua capacidade atual”, avalia o diretor comercial da Tecer Terminais, Carlos Alberto Nunes. Adentre esse universo e conheça um Ceará que avança pautado na sustentabilidade!
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O Projeto Raio X escaneia a economia, as inovações e as políticas públicas que fazem do Ceará um estado único e apresenta as perspectivas dos mercados frente ao crescimento da economia nacional. É leitura essencial para empresários em geral, pequenas e médias empresas, executivos financeiros e administrativos, instituições de fomento, administradores de empresas, gestores públicos, economistas e contadores, profissionais que desenvolvem trabalhos na área de inovação em negócios. Especialistas de diversas áreas reúnem-se para revelar um Ceará complexo, dinâmico e repleto de potencial.
4 cadernos especiais nos dias
11/12, 12/12, 13/12 e 14/12
Ceará para o mundo
4 lives
Ceará que cria
Ceará sustentável - entrevista com Talyta Viana, coordenadora regulatória da Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), sobre a transformação energética e os desafios da produção de biogás no Ceará e no Brasil.
Ceará que cria - entrevista com Mariana Figueira, da Fredericas, e Luciana Valente, da Susclo (brechó) e da Susy (Sistema para brechós), sobre as oportunidades e os desafios do processo criativo e de negócios para empreender no setor de confecção no Ceará.
Ceará que cresce - entrevista com o economista Celio Fernando, sobre os indicadores de crescimento do Ceará, os setores com mais oportunidades e os desafios para a consolidação desses crescimentos.
Ceará para o mundo - entrevista com o advogado e mestre em Negócios Internacionais, Rômulo Alexandre, sobre o crescimento do Ceará para fora das fronteiras do Brasil e as oportunidades no atual cenário internacional.
4 Lives sobre o Porto do Pecém
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SUSTENTÁ As práticas como novos caminhos para o futuro
INICIATIVAS/ DO SELO ESG À IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS QUE REDEFINEM PADRÕES DE PRODUÇÃO E CONSUMO, O CEARÁ VEM SE DESTACANDO E INVESTINDO PARA SE CONSOLIDAR COMO UM ESTADO SUSTENTÁVEL
OCeará tem se destacado em práticas sustentáveis, com resultados evidentes ao longo do ano. As iniciativas vêm abrindo caminhos para um futuro de transformação no papel das empresas, onde o lucro vem deixando de ser o único objetivo. Iniciativas de investimento social e inovação estão redefinindo essas relações e criando impacto positivo em diversos setores.
O Estado alcançou, em novembro, um marco no cenário da sustentabilidade empresarial com a certificação de quatro novas indústrias pelo Selo ESG-Fiec. O reconhecimento é promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e destaca o compromisso das empresas com práticas sustentáveis. O Estado soma 23 empresas certificadas, demonstrando liderança em iniciativas que estão redesenhando os padrões da indústria brasileira.
O presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, afirma que o programa do selo ESG-Fiec tem gerado impactos positivos significativos, inclusive entre micro e pequenas empresas, que representam cerca de um terço das certificadas. “Isso me enche de orgulho, especialmente por saber que nós, indústria cearense, estamos dando exemplo para
o resto do País”, afirmou. Ele também destacou que outras federações industriais pelo Brasil já buscam inspiração no modelo cearense.
A gestora do Núcleo ESG-Fiec, Alcileia Farias, diz que a certificação traduz um compromisso com demandas atuais do mercado e da sociedade. “Cada vez mais empresas buscam essa validação, conscientes de que responsabilidade social, compromissos ambientais e gestão ética não são apenas diferenciais, mas requisitos essenciais”, disse.
A popularização do conceito ESG (Ambiental, Social e Governança) está levando empresas privadas e órgãos públicos a reconhecerem a governança como um pilar essencial para a sustentabilidade. O selo evidencia também o esforço de uma empresa para reduzir seus impactos ambientais, promover um mundo mais justo e responsável, e adotar os processos de gestão mais eficientes.
O compromisso das empresas, aliado à colaboração com organizações do terceiro setor e políticas públicas, é fundamental para construir um futuro mais justo e sustentável. No Ceará, a visão de longo prazo e a busca por soluções compartilhadas estão pavimentando o caminho para um modelo de desenvolvimento que beneficia a população.
No Ceará, a visão de longo prazo e a busca por soluções compartilhadas estão pavimentando o caminho para um modelo de desenvolvimento que beneficia a população
ÁVEIS
12. Consumo e produção responsáveis; 13. Ação contra a mudança global do clima; 14. Vida na água; 15. Vida terrestre; 16. Paz, justiça e instituições eficazes; 17. Parcerias e meios de implementação.
Veja a lista com as 23 empresas no Ceará que possuem o selo ESG-Fiec
1. Vulcabras-CE, Calçados e Artigos Esportivos S/A; 2. Cerâmica Brasileira Cerbras Ltda; 3. Alimempro Produtos Processados Ltda; 4. Osasuna Participações Ltda (Jangadeiro Têxtil); 5. BSPAR Incorporações Ltda; 6. Norsa Refrigerantes S/A (Coca-Cola); 7. Qair Brasil Participações S/A; 8. 3E Eficiência Energética Ltda; 9. Intrapack Indústria e Comércio de Plástico Ltda (Intraplast); 10. Multicor - Indústria Têxtil Ltda; 11. Jaguatêxtil Jaguaruana Têxtil Ltda; 12. Durametal Ltda; 13. BCP Construções Ltda; 14. Naturágua Águas Minerais Indústria e Comércio S.A; 15. Benatêxtil Beneficiamento Têxtil Ltda; 16. Maria do Socorro de Castro Santos - Me (Duggê); 17. Arca Plast Indústria e Comércio de Plásticos Ltda; 18. Cinco Quinas Pães e Doces Ltda; 19. Carnaúba do Brasil Ltda; 20. Emape Alimentos da Ibiapaba S/A; 21. Beatriz Textil S/A; 22. Três Corações Alimentos S/A; 23. Aaron Indústria de Rótulos e Etiquetas Adesivas Ltda.
INICIATIVAS LOCAIS
E IMPACTO REGIONAL
No Ceará, iniciativas como a criação da comunidade local para desenvolvimento de lideranças regenerativas destacam o comprometimento do Estado com a agenda ESG. A proposta é capacitar lideranças para desenvolver as habilidades necessárias à construção de um mundo regenerativo. Esse movimento busca integrar os conceitos de ESG e ODS às práticas cotidianas das organizações, promovendo impacto positivo na sociedade e no meio ambiente.
Ao todo, 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) fazem um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Interligados e com metas de ação global para alcançar até o ano de 2030, eles tratam dos principais desafios de desenvolvimento enfrentados pelas pessoas, no Brasil e no mundo.
No âmbito governamental, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) tem liderado a implantação de programas que redefinem padrões de produção e consumo. Entre as iniciativas destacam-se a Estratégia Nacional de Economia de Impacto, a Mobilidade Verde e a Economia Circular. Além disso, a recente criação da Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria reflete o compromisso com a sustentabilidade e a inovação.
O Ceará exemplifica como políticas nacionais podem ser aplicadas com eficiência em contextos locais. Recentemente, o governador Elmano de Freitas (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin firmaram o Acordo de Cooperação Técnica, integrando o Estado ao Sistema Nacional de Economia de Impacto (Simpacto). Essa colaboração fortalece tanto a Estratégia Nacional de Inves-
timentos e Negócios de Impacto (Enimpato) quanto a Política Pública de Economia. Para Michelle Ribeiro, cofundadora da Bem Inovação Social, essa iniciativa reflete o compromisso crescente do Estado com práticas sustentáveis. “O Ceará tem mostrado avanços significativos, criando uma sinergia entre setor público e privado para fomentar negócios de impacto. Essa colaboração é essencial para gerar resultados positivos”, afirma. Outro destaque na região é a Lei Estadual nº 17.671, que institui a Política Estadual de Negócios de Impacto, complementada pelo Decreto nº 36.101, que regulamenta o Comitê Estadual de Negócios de Impacto (Ceni). O comitê tem como função propor e monitorar a implementação de políticas estaduais alinhadas às diretrizes nacionais.
RETROSPECTIVA
SETORES / COMO O CEARÁ TEM DIALOGADO COM O RESTANTE DO MUNDO A PARTIR DE SUAS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS E AMPLIADO ACORDOS E PARCERIAS POTENCIAIS QUE DESENHAM UM FUTURO PROMISSOR
Reconhecimento
O Ceará foi o 1º estado do Nordeste e o 12º do Brasil em Sustentabilidade Ambiental, conforme o Ranking de Competitividade dos Estados 2023, divulgado em março deste ano. Elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CPL), o estudo visa orientar a implementação de políticas públicas focadas no bem-estar social da população brasileira. O ranking compara os 27 estados brasileiros com base em 10 pilares temáticos, sendo a Sustentabilidade Ambiental um dos mais importantes.
No pilar de Sustentabilidade Ambiental, são avaliados 13 indicadores, incluindo emissões de CO2, serviços urbanos, destinação do lixo, tratamento de esgoto, perda de água, reciclagem, coleta seletiva, desmatamento, velocidade do desmatamento, recuperação de áreas degradadas e a preservação dos imóveis nos imóveis rurais.
Certificação de municípios sustentáveis
O programa “Selo Município Verde” premiou 40 municípios cearenses por suas práticas sustentáveis e esforços em conservação ambiental. Essa iniciativa pioneira do Estado valoriza ações de preservação e uso sustentável dos recursos naturais, destacando o Ceará como vanguardista na agenda climática no Brasil.
O Programa Selo Município Verde (PSMV), instituído pela Lei Estadual n.º 13.304/03 e coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), reconhece municípios que desenvolvem políticas ambientais voltadas à conservação e ao uso sustentável dos recursos naturais.
Ceará Sustentável
O Governo do Estado lançou um pacto abrangente para fomentar políticas de sustentabilidade e justiça ambiental, envolvendo diálogo entre a sociedade civil e diversos órgãos governamentais. As ações priorizaram áreas como energias renováveis, convivência com o semiárido e saneamento básico, com o objetivo de alinhar desenvolvimento econômico e proteção ambiental.
O pacto foi realizado por meio do governador Elmano de Freitas (PT) e do vice-presidente Geraldo Alckmin, e trata-se do Acordo de Cooperação Técnica, integrando o Estado ao Sistema Nacional de Economia de Impacto (Simpacto). Essa colaboração fortalece tanto a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpato) quanto a Política Pública de Economia.
Práticas Sustentáveis na Administração Pública
A Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE) foi premiada no 10º Prêmio A3P por iniciativas de contratações públicas sustentáveis, priorizando a aquisição de bens e serviços que reduzem impactos ambientais, como a emissão de gases do efeito estufa e o incentivo à reciclagem.
Desde 2020, o programa Sefaz Solidária Sustentável (3S), liderado pela Coordenadoria Administrativo-Financeira (Coafi) no órgão tributário cearense, promove iniciativas que visam criar um ambiente interno mais sustentável e saudável, beneficiando servidores, colaboradores e contribuintes.
Caminhos para a economia seguir crescendo de FORMA SUSTENTÁVEL
ANÁLISE / O AUMENTO DO PIB, O APROVEITAMENTO DA ECONOMIA DO MAR, O DESENVOLVIMENTO DO HIDROGÊNIO VERDE E A DESBUROCRATIZAÇÃO DE SERVIÇOS SÃO ROTAS DE CRESCIMENTO
OCeará tem mostrado avanços importantes nas últimas décadas, mas ainda enfrenta desafios para continuar seu crescimento de forma sustentável e equitativa. Algumas áreas-chave para o crescimento do Estado incluem o aumento do PIB, o aproveitamento da economia do mar, o desenvolvimento do hidrogênio verde e a desburocratização de serviços. É sobre esses temas que o Raio-X conversa com o economista Célio Fernando Bezerra de Mello, sócio da Astor, BFA e IB.
O POVO - O Ceará vem registrando ao longo dos trimestres deste ano um crescimento muito acima da média nacional. O que está por trás desse desempenho?
Célio Fernando - Eu acho que a gente tem várias variáveis que a gente pode citar. Entre elas, nessa construção, o investimento público. Houve um recorde do investimento público. No Estado do Ceará, mais de R$ 2 bilhões em investimentos. Isso cria o que a gente chama na economia de um multiplicador keynesiano. Quer dizer, ao colocar dinheiro público, você está colocando, seja em salários ou mesmo em investimentos em políticas públicas, isso acaba chegando aos fornecedores e também acaba construindo uma cadeia de consumo. E, além disso, o que é muito importante a gente entender é que esse multiplicador keynesiano, quando eu faço investimento público, acabo tendo mais investimentos privados. Ele é muito forte quando você tem uma propensão marginal maior a consumir.
OP - E o que é preciso para que o Estado siga crescendo?
Célio Fernando - Tem questões que são estruturais a nível Brasil e a gente tem que avançar mais em processos de desburocratização. Tem também questões de tecnologia. E a gente pode falar para o Estado, o governo digital, para a iniciativa de uma forma geral do Brasil, é conectividade com serviços digitais. A gente fala de transformação digital das cadeias produtivas. Nisso, o Brasil tem avançado e o Ceará, em especial, desde a época que teve um cinturão digital, e aí conversamos com o senador Cid (Cid Gomes PDT-CE), ele comentava que o investimento naquela época do cinturão foi de R$ 63 milhões. Em um ano e meio, já teve um repagamento de tudo isso porque, quando você faz investimentos digitais, você tem ganho de produtividade. Isso serve tanto para o setor público, como o privado, quando você coloca computadores, novas tecnologias, você até aumenta custos, mas maximiza riqueza, porque você se torna mais competitivo. Logo, você consegue faturar mais, etc. Essa inovação digital é um berço muito bom que tem ocorrido no Ceará.
A própria transição energética que a gente fala também tem uma base muito forte sobre a transformação digital. Não existe transição energética sem transformação digital. Aspectos do conhecimento são importantes, têm evoluído bem. Está bem distante ainda do mundo mais desenvolvido, mas eu acho que, em relação ao Brasil, os números que nós temos são muito importantes. A mão de obra qualificada está vindo, são 35 institutos federais no Ceará, a Uece (Universidade do Estado do Ceará) faz um grande trabalho na sua expansão, as universidades federais também, nas suas regionais.
OP- Você citou a questão da transição energética. Como está avançando a construção do hub de hidrogênio no Estado?
Célio Fernando - Não necessariamente nós teremos só hidrogênio verde, até porque a lei federal é de hidrogênio de baixo carbono, ou seja, é você ter uma usinagem para hidrogênio que emita o mínimo possível de gases do efeito estufa, e isso tudo é ligado às mudanças climáticas. No Ceará, são quase 40 memorandos nessa cadeia produtiva que levam a quase 100 bilhões de dólares em memorandos. Mas de pré-venda, vamos dizer assim, contratos que já estão funcionando no nosso complexo industrial do Porto Pecém, já assinados, que pagam aluguéis, estão fazendo terraplanagem de grandes empresas de vulto internacional, já são seis, e isso significa quase 30 bilhões de dólares. Ou, no mínimo, algo que chegue a R$ 110 bilhões. O que é mais importante no hidrogênio? É você saber que isso é um destino, um destino importante, que o Ceará tem um grande potencial, como o Nordeste, tem um grande potencial pelas energias renováveis. Então, essa aposta para o esperançar, para pensar no futuro do Ceará, é muito importante. O Ceará é signatário do Race-to-Zero, uma agenda que visa eliminar os gases do efeito estufa até 2050. Do ponto de vista de marcos regulatórios, o Ceará está à frente até do que tem ocorrido do ponto de vista do campo federal. Mas o campo federal está chegando, e não é só hidrogênio verde. Nós vamos falar aqui no Ceará de biomassa, talvez até do coco, da cabaça do coco fazendo isso. E muito desse crescimento ocorre porque o Ceará identificou, em relação ao Brasil, primeiro do que outros, o que a gente chama da Tríplice Hélice, que é um conceito. A Academia se somou à iniciativa privada, com a Federação das Indústrias, e o Governo, e foram para a frente. Tudo isso são somas e que a gente vai vendo que pode sair, desde que a economia política não atrapalhe. Mas eu acho que o investimento privado está tão forte que eu acho que a gente também vai conseguir tudo isso. OP - Qual o potencial da economia do mar?
Célio Fernando - Nós estamos na década dos oceanos. O Ceará foi o primeiro estado no Brasil a construir um decreto em 2021, já em dezembro de 2021, sobre o planejamento espacial marinho. Quer dizer, nós já temos um estudo de planejamento espacial marinho. Foi feito um atlas costeiro e marinho juntamente com a Federação das Indústrias, Sema (Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima) e o Governo do Estado, de uma forma geral, discutindo 150 camadas, que é esse quebramento. Então é Dessal (usina de dessalinização que está sendo construída na Praia do Futuro, em Fortaleza), é onde estão os pescadores, é a questão do turismo náutico. A gente tem que ter um ordenamento de tudo isso.
OP - E qual o nosso maior desafio daqui para frente?
Célio Fernando - Agora, o que nós não resolvemos? É o nosso problema de IDH, de distribuição de renda, desigualdades, que esse caminho que está sendo percorrido, ele tem que se conectar com a justiça social. Por isso que a gente fala de transição energética justa. Isso é o grande desafio. Como criar essas riquezas nos próximos 10, 20 anos, isso vai chegar a um milhão de pessoas que estão abaixo da linha da extrema pobreza e criar uma renda. A gente tem que encontrar os instrumentos adequados de políticas públicas que tratem essa questão, que tirem só a lógica de dar o peixe no assistencialismo e também dê a vara de pescar, porque isso é dignidade, a pessoa tem que ter dignidade, ela vai para o trabalho, ela quer trabalhar, mas você tem que dar condições.
OBrasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, que gera uma enorme quantidade de resíduos orgânicos. De igual modo, também lida com o enorme desafio de dar a destinação correta para os resíduos sólidos urbanos. A solução, nestes dois casos, pode estar na produção de biogás e biometano, fonte que vem ganhando força pelo mundo, dentro de um contexto de transição energética.
Atualmente, a capacidade de produção brasileira é de pouco mais de 600 mil metros cúbicos (m³)/dia, mas pode chegar a 30 milhões m³/dia com a implantação das diretrizes previstas na Lei do Combustível do Futuro, conforme números da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás). Em entrevista ao projeto Raio-X, a coordenadora regulatória da entidade, Talyta Viana, fala sobre o potencial e os desafios para consolidação do setor. Confira:
O POVO - Quais as potencialidades do biogás e por que ele está sendo apontado como importante fonte de combustível?
Talyta Viana - O biogás trata-se de uma mistura de gases que é obtida por meio de um processo químico na ausência de oxigênio. E de onde esse biogás vem? Ele vem a partir de tudo que apodrece, ou seja, ele vem a partir do lixo, daquilo que é resíduo. A gente pode produzir biogás a partir de aterros sanitários, que são provenientes de resíduos urbanos; de resíduos do setor energético; do setor agrícola; de resíduos de proteína animal; além de dejetos animais. Essas são as rotas mais conhecidas do biogás hoje, mas a gente tem a possibilidade de ampliar para outras culturas com desenvolvimento da tecnologia.
OP - Por que o biogás ainda não é tão popular no Brasil como as energias eólica e solar?
Talyta - Apesar do biogás ser uma fonte madura, uma fonte já conhecida e já desenvolvida, essa questão está relacionada, principalmente, às políticas públicas. Se a gente for olhar as fontes solar fotovoltaicas, energia eólica, são fontes que desde o início dos anos 2000 tiveram uma política de incentivos, uma política estruturante para fazer com que esses projetos ganhassem escala e então representassem um aumento na matriz energética. Mas, apesar disso, o biogás tem hoje aproximadamente 1.365 plantas no Brasil. Ele está dentro do grid, ou seja, está dentro do sistema interligado nacional, assim como a eólica solar, mas ele ainda tem um percentual muito pequeno frente a essas outras fontes, mas que vem crescendo. OP - E como é que o mercado está posicionado hoje? É um mercado concentrado em poucas companhias?
Talyta - A ABiogás tem hoje 165 associados e nós temos o objetivo de representar todos os elos da cadeia. Olhando aqui a nível de Brasil, que tem empresas que são multinacionais, nós temos produtores tanto de biogás quanto de equipamento de todos os tamanhos. Sejam dos pequenos produtores que estão localizados na região Sul, principalmente, que geram biogás a partir de resíduos de proteína animal, que é característico daquela região, como também grandes indústrias, quando a gente olha para o setor de sucroenergético no interior de São Paulo. É bem diversificado e tem uma gama muito grande de oportunidades ainda maiores quando a gente pensa no avanço dessas políticas, no avanço da informação, inclusive, das vantagens do biogás para se gerar emprego e renda a partir desse negócio e desse novo mercado.
OP - Como avalia a aprovação da lei do Combustível do Futuro e como esse instrumento pode ajudar no desenvolvimento do setor?
Talyta - O projeto de lei do Combustível do Futuro prevê alguns instrumentos para melhorar e para caminhar rumo à transição energética do País por meio da utilização dos biocombustíveis. Dentro da utilização do biometano, o setor de gás natural, existem alguns programas para o biodiesel, tem também um avanço em termos de transição energética para o setor de aviação, e um deles também
O futuro do biogás e BIOMETANO
ALTERNATIVA / PRODUÇÃO BRASILEIRA DE BIOGÁS PODE CHEGAR A 30 MILHÕES DE M³ POR DIA ATÉ 2030. O CEARÁ SE DESTACA COMO UM PIONEIRO E JÁ CONTA COM UMA PRODUÇÃO DE 110 MIL M³ POR DIA
é para o setor de gás natural, onde todo produtor e importador de gás natural terá o mandado de descarbonizar sua matriz de 1% a 10% a partir de 2027. Então, a gente prevê que o potencial do biometano, principalmente, vai ser potencializado a partir desses projetos nos próximos anos. É uma política muito importante porque dentro dessa política de descarbonização criou-se uma coisa chamada Certificado de Garantia de Origem do Biometano, que vai permitir fazer essa comercialização do biometano, não necessariamente utilizando os gasodutos, que são um gargalo de infraestrutura no País, mas sim esse certificado.
OP - Qual é hoje a participação do biometano na matriz do Brasil?
Talyta - Hoje, dentro do País, o biometano que está autorizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é de cerca de 614 mil metros cúbicos/dia. Para fins de comparação, o Brasil, em 2023, teve uma demanda de cerca de 63 bilhões de metros cúbicos/dia de gás natural. Ou seja, é cerca de 1% dessa demanda. Mas se a gente já for olhar esses projetos que estão na fila para autorização nos próximos anos, são mais 31 projetos. O
Temos a injeção do biometano na rede de gás canalizado do Estado. É diferente de outros estados, que ainda não estão injetando e fazendo o transporte com caminhões
que dá cerca de 2 milhões de metros cúbicos/dia. Nós fizemos um levantamento recente com os nossos associados. Somando essas plantas autorizadas, as que estão aguardando a autorização da ANP e mais os projetos que foram mapeados ou anunciados dessas empresas associadas, até 2032, a gente tem uma expectativa de pelo menos 200 projetos. São 200 projetos que representam 8 milhões de metros cúbicos/dia. Com a aprovação da Lei do Combustível do Futuro, a gente tem um potencial de mais de 30 milhões até 2030 para ser explorado. OP - E como o Ceará se posiciona neste cenário?
Talyta - O Ceará se destaca como um pioneiro, uma produção de 110 mil metros cúbicos por dia. É um grande produtor de biometano, a partir de aterro sanitário na região de Caucaia. E você ainda tem a injeção desse biometano na rede de gás canalizado do Estado. É diferente de outros estados, que ainda não estão injetando esse biometano na rede, e que estão fazendo esse transporte do biometano por meio, ainda, de caminhões, como na forma de gás comprimido.
BRAÇO LOGÍSTICO
DO PECÉM HÁ 20 ANOS
SE PREPARA PARA O FUTURO
INDÚSTRIA / EMPRESA EXECUTA OPERAÇÕES LOGÍSTICAS E VÊ NA PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO E NA TRANSNORDESTINA INÚMERAS POSSIBILIDADES DE CRESCIMENTO DO CEARÁ
Braço importante das operações logísticas executadas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) há 20 anos, a Tecer Terminais se prepara para a produção de hidrogênio verde, amplia movimentos e dimensiona como será a demanda por frotas especializadas. Oferece soluções para o apoio logístico dos mais diversostiposdecargaseexigeatuaçãopersonalizada para os diferentes modais que se conectam ao Porto: marítimo, rodoviário, ferroviário e dutoviário. Terminal multicargas de classe internacional, o Porto do Pecém movimenta granéis sólidos, granéis líquidos, contêineres e cargas em geral. A Tecer Terminais possui uma estrutura de mão de obra portuária de 461 funcionários, com equipamentos modernos, como guindastes com capacidade superior a 100 toneladas e empilhadeiras com capacidade até 45 toneladas, além de conjuntos transportadores. “O Pecém está capacitado para movimentações acima de 36 milhões de toneladas, mas com uma diversidade grande de cargas de granéis e material siderúrgico, tanto para exportação como importação. Está promovendo um serviço de hub para os principais armadores, com o recebimento de navios de classe mundial”, analisa o diretor comercial da Tecer Terminais, Carlos Alberto Nunes. Ele pontua as diferenças operacionais do Cipp e as preparações para os desafios que chegarão, como o Hidrogênio e a Transnordestina. A preparação para a produção de H2V tem como objetivo executar o recebimento de cargas dos projetos de construção das novas indústrias produtoras. E destaca novos equipamentos, como o guindaste de 150 toneladas, híbrido (elétrico e a diesel), e as empilhadeiras de 100 e 130 toneladas para obter maior movimentação dessas cargas.
“Em destaque hoje a gente tem o hub de cargas gerais, fazemos uma movimentação da China para o Brasildecargasgeraisparaasindústriasdasregiões Norte e Nordeste”, afirma Carlos. No setor de siderurgia, Carlos destaca um importante avanço operacional na exportação de placas de aço que variam entre 25 e 35 toneladas: máquinas especializadas com eletroímã.
“Inicialmente,agenteseparavaessasplacas,para manuseio, através de madeiras, para que pudéssemos movimentar através de cabos. Mas nós buscamos novas tecnologias e hoje fazemos por eletroímãs. E também temos equipamentos com eletóímãs para colocar no navio. Mais produtividade e menos risco ao trabalhador portuário”, detalha. Uma das novidades ainda para 2024 é a implementação de uma sala de controle de todas as operações, com sensores e telemetria (ferramenta que coleta informações de veículos em tempo real), para que os dados operacionais sejam trabalhados cada vez de forma mais especializada. “É melhorar a operação em tempo real, sem precisar esperar relatório. Agir no momento exato para corrigir alguma questão, de segurança ou produtividade”, explica. A atuação da Tecer Terminais no Cipp precisa ser econômica e tecnológica, mas também social e ambiental. As ações ESG (ambiental, social e de governança) são essenciais, atualmente, para o bom desempenho de uma empresa. “Através da Aecip (Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém) a gente identificou algumas oportunidades. Hoje somos um dos patrocinadores da orquestra do Pecém, são três anos trabalhando com mais de 250 crianças. É a oportunidade de gerar uma cultura para a nova geração, em música”.
Quanto à produção de hidrogênio, numa perspectiva futura de investimentos e operações, Carlos explica ainda como será a logística de transporte do combustível, um dos maiores desafios quando se fala na produção deste tipo de energia. O Porto de Roterdã, porta de entrada de 60% dos combustíveis que chegam a Europa, tem parceria com o Pecém desde 2018, o que facilita o processo de transição energética.
“Toda essa logística já foi estudada para poder ser realizada a produção do hidrogênio nas grandes indústrias, que vão separar o hidrogênio do oxigênio. Ele vai ser produzido em amônia, NH3, e aí vai ser dutoviário. O Porto já tem um parceiro internacional que vai fazer o recebimento dos navios e colocar essa amônia. E lá no destino vai ser ‘crackeado’, que é o momento em que a amônia volta a ser hidrogênio para colocar no ‘piper’, um tubo que vai interligar até o consumidor final”, detalha. É ligar consumidor, demanda de compra e infraestrutura para que esse modelo tenha êxito. Outro desafio à logística do Porto do Pecém é a Transnordestina, que deve revolucionar o equipamento pela diversidade de cargas que movimentará, com ênfase ao mercado de soja, milho e farinha. De acordo com Carlos, haverá um berço especializado no Porto, a partir de alta produtividade, com inúmeras possibilidades.
“O trem será de padrão mundial, com velocidade muito maior, o que trará o Pecém para ser um dos principais exportadores do agronegócio nos próximos anos. Fora outras possibilidades de negócios, com movimentação de contêineres, siderurgia, combustíveis, granéis… O Pecém deverá dobrar sua capacidade atual”, avalia o diretor comercial da Tecer Terminais.