#20 GUIA DE FÉRIAS PROGRAMAÇÃO CULTURAL E DICAS GASTRONÔMICAS PARA O VERÃO
ARTES VISUAIS ARTISTAS DO CARIRI AMPLIAM OLHARES SOBRE AS TRADIÇÕES
CANDICE RANGEL
AGROPECUARISTA DE BREJO SANTO COMPARTILHA DESAFIOS E SUCESSO DAS FAZENDAS RIBEIRÃO
fazenda PAIXÃO POR
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O POVO CARIRI
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editorial EDIÇÃO#20 DEZEMBRO/2021 Capa: Candice Rangel Foto da capa: Allan Bastos
A FÉ QUE NOS MOVE Se tem uma coisa que pode definir a 20ª edição da revista O POVO Cariri, que você tem em mãos, é fé. Aquela emoção que a gente sente por acreditar no invisível, aquele movimento de se unir a Deus, entidades, ancestrais, natureza para conquistar o que faz nosso coração vibrar. Fé é aquilo que nos move. Por mais agnóstico que o leitor possa ser, ele só segue para a próxima linha de um simples texto porque tem vontade de ir. Ter fé é sobre ter vontade. Foi a vontade da galera que você conhece na página 6 que fez essa revista. Empolgação para fazer jornalismo, arte e design. E todas as histórias contadas por eles, em palavras ou formas, invariavelmente falam sobre esse acreditar que ganha todo tipo de narrativa. Candice Rangel, agropecuarista, capa desta edição, define sua fé pela paixão pela fazenda e pelo Cariri. “Estar no Cariri me proporciona ter fé, porque eu digo que a agricultura e a pecuária me ensinaram a ter fé. Você acredita na força da natureza, no invisível, na produção, na energia que vem da terra. Sou apaixonada em ver minha terra produzir”, conta. No Especial Fé, visitamos quatro doutrinas para apresentar as diferentes formas de se conectar com o amor, com o outro e consigo mesmo. A fé é o que move rituais e preces no Vale do Amanhecer, Terreiro das Pretas, Morada da Jurema e na Comunidade Filhos Amados do Céu. E dialogamos com a vontade de pertencer de estrangeiros que fincaram o pé no Cariri vindos da Itália, Síria e Rússia. Eles estão felizes aqui, movimentando negócios e ampliando o intercâmbio cultural da região. Além dessas histórias, tem muito mais coisas boas para ler. Para conhecer, para reunir os amigos, a família, para se encantar. Alguém aí conhece o coletivo feminino Wà, que transforma linhas e tecidos em arte urbana? Sim, a fé que o Cariri desperta na gente é dessas de se emocionar. Que assim seja!
PAULA LIMA _ PAULAGCL@GMAIL.COM Editora. Jornalista e Mestre em Comunicação pela UFC. É editoraexecutiva do estúdio de branded content do O POVO. Mora em Fortaleza, mas foi arrebatada pelo amor ao Cariri desde a primeira vez que visitou as terras de Padre Cícero e deu voltas no cajado da estátua no Horto, em 2018. O amor pela região cresce a cada edição da revista O POVO Cariri. 4
O POVO CARIRI
Fundado em 7 de janeiro de 1928 por Demócrito Rocha GRUPO DE COMUNICAÇÃO O POVO Presidente Institucional & Publisher
Luciana Dummar
Presidente Executivo
João Dummar Neto Diretores-Executivos de Jornalismo Ana Naddaf e Erick Guimarães Diretor de Negócios e Marketing Alexandre Medina Néri Diretora de Gente e Gestão Cecília Eurides Diretor Corporativo Cliff Villar
Gestora Comercial: Ranilce Barbosa Gestora de Projetos: Lela Pinheiro Estratégia e Relacionamento: Gerlaine Sombra Analista de Projetos: Beth Lopes Representante no Cariri: Carlos Henrique
A revista O POVO Cariri é executada pelo LABETA – estúdio de branded content do O POVO Gerente-Geral Gil Dicelli Editora-Executiva Paula Lima Editora-Adjunta Ana Beatriz Caldas Edição Ana Beatriz Caldas e Paula Lima Textos Ana Beatriz Caldas, Emanuelle Lobo, Guilherme Carvalho, Joelton Barboza, Letícia do Vale, Márcio Silvestre, Paula Lima, Sabrina Ribeiro Edição de Arte Marina Mota e Gil Dicelli Projeto Gráfico e Design Marina Mota Tratamento de Imagem Marina Mota A REVISTA O POVO CARIRI É UMA PUBLICAÇÃO DO GRUPO DE COMUNICAÇÃO O POVO Av. Aguanambi, 282 CEP: 60055-402. Fortaleza/CE +55 85 3255 6000 www.opovo.com.br + FALE CONOSCO Representante no Cariri: Carlos Henrique (88 98884.3797) IMPRESSO NA GRÁFICA HALLEY
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QUEM FEZ ESSA EDIÇÃO DA O POVO CARIRI
ANA BEATRIZ CALDAS _ Editora-adjunta. É jornalista e mestre em Comunicação e Culturas Midiáticas (UFPB). Meio cearense, meio pernambucana e com um pé na Paraíba, hoje mora em Fortaleza. Já trabalhou com assessoria, eventos e mídias sociais, mas gosta mesmo é das conversas que surgem de uma boa pauta.
LETÍCIA DO VALE _ Repórter. É jornalista e apaixonada por escrever. Mesmo natural de terras cariocas, chegou em Fortaleza ainda muito nova e se considera cearense de coração. Gosta de ouvir e contar histórias, descobrindo novas culturas, artes e pessoas.
MARINA MOTA_ Designer e cozinheira. Estudou jornalismo, design gráfico e editorial, depois estudou como fazer um fundo de panela. Já trabalhou em jornal, já fez joias, já abriu uma cozinha e um ateliê. Ela acorda uma pessoa diferente todo dia.
GUILHERME CARVALHO_ Repórter. Natural de Juazeiro do Norte, trabalha há quase dois anos na rádio CBN CARIRI, passeando pela áreas da reportagem e produção. Graduando em Jornalismo pela Universidade Federal do Cariri (UFCA), tem experiência, também, em assessoria de imprensa e marketing digital. Possui afinidade com o jornalismo factual e cobertura política.
ALLAN BASTOS_ Fotógrafo. Formado em Administração e Marketing, fez parte da equipe da escola de fotografia do Movimento PróCriança (PE) e deixou como legado o livro “Recife debaixo das pontes”. Passou pela assessoria de imprensa da Fundação Joaquim Nabuco e deu aulas de fotografia em muitas instituições. Estuda Artes Visuais na URCA.
JOELTON BARBOZA _ Repórter. Jornalista e doutorando em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É natural de Exu-PE e atualmente mora em Juazeiro do NorteCE. É fascinado em conhecer e contar histórias, das mais variadas, por isso optou pelo jornalismo. É sonhador e muito pé no chão, típico de um bom capricorniano.
MÁRCIO SILVESTRE_ Repórter. Do teatro ao jornalismo, sempre gostou de construir histórias. É jornalista e ator, graduado pela Universidade Federal do Cariri e pós-graduando em Comunicação e Marketing Político pela Uninabuco. Natural do Crato, se identifica como caririense, e reconhece nesta terra sua força e expressividade.
SABRINA RIBEIRO_ Repórter. É jornalista e pós-graduanda em Marketing Estratégico Digital. Natural de Teresina-PI, mas apaixonada pela Chapada do Araripe e as terras caririenses. Seu hobby é ser fotógrafa, sempre com olhar único para com a natureza. Leonina de sangue arretado, carrega consigo a alma aventureira e o espírito de liberdade.
EMANUELLE LOBO _ Repórter. Filha do Crato, só deixou a região para se formar em Jornalismo, pela Unifor, quando ainda não tinha o curso no Cariri. É especialista em Gestão Financeira e Consultoria Empresarial (URCA) e pósgraduanda em Comunicação e Marketing Político (Uninassau). Gosta de quase tudo e detesta uma injustiça.
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INTERCÂMBIO CULTURAL
ESTRANGEIROS QUE FINCARAM RAÍZES NO CARIRI
JOVENS ARTISTAS AMPLIAM OLHARES SOBRE A CULTURA POPULAR
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BORDADO
COLETIVO WÀ E SUA ARTE SEM FRONTEIRAS
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CAPA
NO COMANDO DAS FAZENDAS RIBEIRÃO, EMPRESÁRIA CANDICE RANGEL FALA SOBRE O AGRONEGÓCIO DO CARIRI 8
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DIVULGAÇÃO
ALLAN BASTOS
33FÉRIAS ESPECIAL
GUIA
FÉ 54
DIVULGAÇÃO
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ROMEIRÃO
ARENA SERÁ INAUGURADA EM 2022
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EDÊNIA GARCIA
NADADORA SE PREPARA PARA OS JOGOS DE PARIS, EM 2024
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MANU RODRIGUES O POVO CARIRI
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Parabéns para o soldadinho-do-araripe! Símbolo da fauna no Cariri cearense, o pássaro soldadinhodo-araripe completou 25 anos neste mês de dezembro. Encontrado por pesquisadores em dezembro de 1996, nas encostas da Chapada do Araripe, a ave, com cerca de 15 centímetros de comprimento e 20 gramas de massa, habita exclusivamente no Interior Sul do Estado, podendo ser encontrado apenas nos municípios de Barbalha, Crato e Missão Velha. O soldadinho tem importância única por ter sido descoberto numa área famosa por revelar fósseis de aves entre as mais antigas do mundo. “É um dos pássaros neotropicais de origem mais recente (11 mil anos), denominado cientificamente de Antilophia bokermanni”, explica o biólogo Weber Girão. Viva!
DIVULGAÇÃO MOSTRA SESC CARIRI
segundo lugar!
notas 10
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FÁBIO NUNES
natureza
educação
Nova escola + NOVO ENSINO MÉDIO O Colégio Evolução se propõe a ser a primeira escola do Cariri que nasce junto com o Novo Ensino Médio. O colégio está alicerçado na filosofia do Evolução Cursos, cuja história já se faz presente na região com a preparação de estudantes para aprovações em vestibulares das principais universidades do País. O diferencial do Colégio Evolução promete ser um sistema de turno integral com assessoria e monitoria personalizada, experiência, segundo eles, pioneira no interior nordestino. Colégio Evolução Rua Antônio Mota Diniz 55 Bairro Santa Tereza Juazeiro do Norte – Ceará Telefones: (88) 3512 8871 /( 88) 99772 7772
CRATO NO RANKING DA CULTURA O Município do Crato ocupa o 2º lugar do ranking das cidades com maior atratividade específica para atividades culturais do País. A pesquisa é feita nos municípios de algumas regiões e leva em consideração os deslocamentos da população em busca de atividades culturais. De acordo com a Agência IBGE Notícias, pela primeira vez, o Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC) traz dados da pesquisa Regiões de Influências das Cidades (Regic) sobre a atratividade das atividades culturais dos municípios. Mas municípios menores, como Balneário Camboriú (SC), Crato (CE), Parintins (AM), Caruaru (PE) ou Caldas Novas (GO) têm as atividades culturais como a principal ou uma das principais motivações para atrair visitantes. “O Crato possui relevantes equipamentos culturais, como museu, teatro, e em breve terá o Centro Cultural do Cariri, equipamento de grande porte. O prefeito Zé Ailton Brasil está investindo na recuperação de espaços e na implantação da Política Municipal de Cultura Viva, que financia os Pontos de Cultura e vai ampliar ainda mais o potencial do município”, destaca o secretário de Cultura do Crato, Amadeu de Freitas.
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29 anos sendo sinônimo de solução no cariri! A nossa história começa em razão da nossa paixão por automóveis. A oficina de refrigeração automotiva iniciou as suas atividades em 1992 em Juazeiro do Norte e logo fomos reconhecidos pela qualidade do serviço prestado. Esse reconhecimento rapidamente rompeu as fronteiras da cidade e do Ceará, razão pela qual atendemos clientes de vários outros municípios e Estados. Amamos o que fazemos e por esta razão realizamos o nosso trabalho com muito zelo e atenção, sempre aprendendo coisas novas. O nosso melhor resultado é a sua satisfação! 88 | 98852.3504
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CONTEÚDO CUSTOMIZADO
TURISMO
Mirante do Caldas Um portal para o patrimônio caririense
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AUGUSTO PESSOA
Inaugurado em novembro, complexo ambiental já recebeu 20 mil pessoas e deve fortalecer turismo e conscientização no Cariri
Desde novembro, cearenses e turistas contam com uma nova possibilidade para se encantar com as belezas da Chapada do Araripe. É que já está em funcionamento o Complexo Ambiental Mirante do Caldas (CAMC), centro de referência cultural e ambiental localizado no distrito de Caldas, em Barbalha, coração do Cariri. O espaço, construído no antigo hotel Bom Jesus, foi reformado para receber os quatro equipamentos que integram o complexo: o teleférico que leva ao mirante, principal atração da casa, o Centro de Interpretação Histórica e Ambiental, o Borboletário do Cariri e a Casa Café. Criado através de uma parceria entre o Instituto Dragão do Mar (IDM) e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), o projeto objetiva promover a tradição caririense e a educação com foco na preservação, além de potencializar o turismo da região. “O teleférico e o café trazem essa dimensão do passeio, do lazer, mas o complexo também é um espaço de conhecimento, pesquisa e ciência”, ressalta Rachel Gadelha, presidente do IDM, ao pontuar a importância do Centro de Interpretação e do Borboletário para estudantes e pesquisadores.
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Conhecer para 14
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no prato
Regionalidade
Só no primeiro mês, o CAMC recebeu cerca de 20 mil visitantes. Para o ano que vem, a meta é ampliar este número e oferecer uma programação formativa com foco na conscientização e qualificação dos moradores do entorno, com oficinas, cursos e atividades artísticas voltadas para a educação ambiental e a preservação da natureza e da cultura do Cariri. “Nossa proposta tem como base três perspectivas: o educar para conhecer, o educar para ressignificar e o educar para conviver. Queremos trabalhar as vocações econômicas da região em consonância com a natureza”, completa Gadelha. Além do potencial turístico, a iniciativa também busca fortalecer a autoestima da região, sendo uma indutora do desenvolvimento local. Esse ponto, segundo Rachel, já pode ser visto na geração direta de 50 empregos para caririenses, mas também na projeção do aquecimento de setores econômicos como hotelaria, comércio, gastronomia, transporte e mercado imobiliário, entre outros. “É um destino turístico que se expande. Por isso a educação ambiental é tão importante: para que façamos isso de uma forma responsável, sustentável e compartilhada com a comunidade”, conclui.
Não só a ciência e a história do Cariri devem encantar quem chega ao Complexo: a gastronomia regional, com insumos locais e receitas cheias de personalidade, também pode ser conferida na cafeteria Casa Café, ponto para reabastecer as energias após os passeios. Com opções de pratinhos regionais como o tradicional baião de dois com torresmo (R$ 12,90), o mungunzá (R$ 10) e o escondidinho de carne de sol (R$ 12,90), além dos croques-monsieur versão Lampião (R$ 15) e Maria Bonita (R$ 16), o cardápio valoriza técnicas, ingredientes e produtores da região. Segundo o gastrônomo Émerson Thomas Pimentel, administrador da Casa Café, o espaço também dá nova roupagem a preparações conhecidas, como o pequi, que no menu virou uma geleia apimentada para ser saboreada com dadinho de tapioca. A cafeteria funciona de terça a domingo, das 9h às 18h.
Outra iniciativa de educação ambiental no Mirante do Caldas é o Borboletário do Cariri, coordenado pelas biólogas Inelda Peixoto e Talitha Alves. Atualmente, o espaço conta com quatro espécies de borboletas que habitam a região da Chapada do Araripe, como a Heliconius Erato, mas deve chegar a até 21 espécies nos próximos meses. A proposta do borboletário é, principalmente, desmistificar questões relacionadas às borboletas e fazer com que a população conheça e respeite esses animais, auxiliando na conservação e também nos estudos sobre a região. “Até hoje, há muitas coisas que as pessoas não sabem - que borboletas
não cegam, que nem toda espécie é uma praga, que é melhor dar preferência a produtos orgânicos e quais agrotóxicos podem e não podem ser utilizados, por exemplo. Nossa proposta é ensinar sobre borboletas do ovo a pupa, passando pela metamorfose, porque só preservamos o que conhecemos”, ressalta Talitha. Além do espaço telado para visitas guiadas, o borboletário possui um centro de pesquisa com laboratório exclusivo para pesquisadores da área. Visitantes podem observar os espécimes das 10h às 15h30, respeitando o ciclo de sono das borboletas, em grupos de até 10 pessoas.
HÉLIO FILHO
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PESSOAS VISITARAM O COMPLEXO SÓ NO PRIMEIRO MÊS DE OPERAÇÃO
FIQUE LIGADO!
Para visitar os equipamentos do Complexo Ambiental Mirante do Caldas, é preciso apresentar passaporte de vacinação completo (duas doses), e usar máscaras de proteção contra a Covid-19. Atualmente, o espaço opera com capacidade reduzida para evitar aglomerações.
Passeio pelas riquezas Atração principal do complexo, o Teleférico de Barbalha tem acesso através da Estação Bom Jesus e recebe até 80 pessoas por hora. Composto por veículos de três lugares, o equipamento leva os visitantes ao Mirante do Caldas, no topo da Chapada do Araripe, em um percurso de cerca de oito minutos e 544 metros de distância. No trajeto, os excursionistas podem observar as belezas da Floresta Nacional do Araripe-Apodi (Flona) e a Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada. Se engana, porém, quem pensa que essa é a única viagem possível no local: o Centro de Interpretação Histórica e Ambiental do complexo traz, em uma exposição permanente, textos, imagens, mapas e infográficos que remontam a décadas de história da região. A curadoria, feita pelo jornalista e fotógrafo Augusto Pessoa, tem como intuito atuar como um “portal” para a Chapada, e também utiliza a tecnologia para fornecer material extra aos visitantes por meio de QR Codes
que levam a um conteúdo multimídia extra sobre os assuntos. De acordo com Augusto, a exposição é dividida em duas partes: a natural, com uma linha de tempo paleontológica e arqueológica, passando também pelas áreas de conservação, e a cultural, que trata das manifestações humanas, como a história dos padres Cícero e Ibiapina, a Festa do Pau da Bandeira e muito mais. “Esse é um momento em que estamos precisando que as pessoas despertem para preservar nosso patrimônio. O Centro de Interpretação chama atenção para isso, e tem como um dos principais objetivos compartilhar esse patrimônio”, explica. O espaço também busca fortalecer a candidatura da região da Chapada do Araripe como Patrimônio Cultural e Natural da Unesco, movimento que une forças a parceiros como Geopark Araripe, Universidade Regional do Cariri (Urca) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
COMPLEXO AMBIENTAL MIRANTE DO CALDAS (CAMC)
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Onde: Rua Daniel Cordeiro das Neves, 01 - Distrito Caldas - Barbalha/CE Quando: De terça a domingo e feriados, das 9h às 18h, mediante agendamento no site (www.mirante.sema.ce.gov.br) Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) / R$ 2,50 (crianças até 14 anos) / Gratuito (para moradores do distrito do Caldas) Mais informações: (88) 98128 1739 / contato.mirantedocaldas@idm.org.br / @mirantedocaldas
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CAPA
é o filé TEXTO: PAULA LIMA FOTOS: ALLAN BASTOS
CANDICE RANGEL, EMPRESÁRIA AGROPECUARISTA, COMANDA AS FAZENDAS RIBEIRÃO, CRIA O PREMIADO GADO NELORE E FAZ PLANOS DE IMPULSIONAR TODO O CARIRI, QUE ELA GARANTE TER AS MELHORES TERRAS DO ESTADO
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CAPA
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CAPA CANDICE RANGEL
é a filha mais nova das cinco do paraibano Cleidson e da cratense Lilian Rangel. Ela conta que foi a única que nasceu em Brejo Santo, no hospital que o pai construiu, e tinha a fazenda como lugar de lazer. Em Fortaleza, exerceu a odontologia por 15 anos, até que a paixão pelo agro falou mais alto e ela assumiu os negócios da família. Foi o pai de Candice que há cerca de 60 anos comprou as terras e começou a investir em pecuária e agricultura. Candice assumiu a fazenda depois de viver a seca de 2011 e 2012, compartilhou a dificuldade, estudou, mudou o manejo e, hoje, segue como referência na criação do gado Nelore na região. As Fazendas Ribeirão têm sede em Brejo Santo, Chapada do Araripe e também na Paraíba. Na longa e tranquila conversa por telefone, Candice, que tem a fala tranquila e a voz suave, diz com convicção que o Cariri tem as melhores terras do Estado. “O Cariri é o filé. São as melhores terras, melhor índice
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pluviométrico. Quem conhece o Cariri, sendo daqui ou não, sabe e tem a mesma opinião.” É na fazenda que Candice diz que recarrega as forças. Une amor e trabalho. “É onde me reenergizo, é onde sinto minha força, é onde vejo minha paixão.” Atuante no setor, Candice é presidente do sindicato rural de Brejo Santo e está no Conselho Consultivo da Nelore Nordeste, a chapa que assume em 2022 é da Federação de Agricultura. Além do olhar para a qualidade genética do gado que cria, ela faz planos para o Cariri. “Estamos em um movimento de aumentar a produção de grãos, existem diferentes projetos, unindo empresas de segmentos diferentes do mesmo setor. Estimulando acesso a maquinário e sementes, que alavanquem a região pelas condições de produzir. Para que atenda, por exemplo, o setor aviário. Que a gente não precise trazer grãos de outros estados e que a gente atenda pelo menos a um setor na nossa região”, revela.
CAPA
agronegócio
O POVO CARIRI - Em linhas gerais, como você descreveria sua origem? Candice Rangel - Nasci em Brejo Santo. Fui morar em Fortaleza com uns dois anos, mas sempre tive contato com o Cariri, porque sempre tive a vivência da fazenda. Não morei, mas sempre tive muito contato. Meu pai é pecuarista e médico, tinha um hospital em Brejo Santo. Participei sempre das atividades dele na fazenda.
OP – Como é sua relação com a região? O que do Cariri vive em você? Candice - Sou a filha mais nova, nós somos cinco. Eu fui a única que nasci em Brejo Santo, embora não tenha morado, desde pequena sinto que a minha energia é da região. É onde me reenergizo, é onde sinto minha força, é onde vejo minha paixão. Me formei em Odontologia em Fortaleza, cliniquei 15 anos, mas sempre tive uma conexão muito forte com o Cariri. Minha paixão e minha energia vêm daqui. De onde vem também todo o amor pelo gado, agricultura, pecuária, pela história do meu pai. Estar no Cariri me proporciona ter fé, porque eu digo que a agricultura e a pecuária me ensinaram a ter fé. Você acredita na força da natureza, no invisível, na produção, na energia que vem da terra. Sou apaixonada em ver minha terra produzir. E de mostrar isso também. Minha personalidade e energia tem tudo a ver com a terra, com o Cariri, com essa história toda. OP – Quando você decidiu assumir os negócios do seu pai? Como foi abandonar a Odontologia? Candice - Eu comecei a me dividir. Ficava no início da semana em Fortaleza e clinicava, no final da semana vinha pra fazenda. Aí eu comecei a perceber que não estava mais feliz no consultório, ficava olhando as horas, não estava me realizando. Então abri mão da odontologia e comecei do zero. Não foi bem do zero, porque já tinha vivência na fazenda, mas a questão da gestão realmente foi do zero. Eu só queria estar na fazenda. Então, decidi tomar um caminho e fazer esse caminho bem feito, o melhor que eu puder, não me senti dividida. Foi quando tomei a decisão e as coisas foram caminhando, dan-
do, graças a Deus, muito certo embora seja muito desafiador. É algo que me preenche muito, que me realiza. E quando a gente vai fazendo o caminho, o caminho vai se abrindo. Não imagino outra profissão pra mim. OP – Você falou que é a mais nova de cinco filhas. É a única que está na fazenda? Candice – Sim, sou a única filha. Todas gostam, mas é como se fosse um lazer para elas. OP – O que despertou em você querer voltar para Brejo Santo? Ver a fazenda além do lazer? Candice – Em 2011, meu pai ainda estava ativo nas atividades da fazenda. Eu comecei a me dividir, foram anos difíceis, também 2012, anos de seca. Eu vivenciei isso com ele. A dificuldade de manter a quantidade de gado foi grande, foi muito desafiador, mas também foi de muito aprendizado. Depois de um tempo eu retornei porque vi que ele (o pai) precisava de alguém lá dentro, ele já estava sem condições, pela idade, de estar gerindo. E aí foi um chamado, mas também foi uma necessidade. OP – Fez jus ao ditado que diz que o olho do dono que engorda o gado. Candice - É a mais pura verdade. (risos) Os funcionários já são muito antigos, já é a quarta geração, é uma segunda família. Isso ajuda bastante. OP – O que foi mais desafiador no começo da gestão da fazenda? Candice – Eu digo sempre que meu desafio sou eu, são as minhas limitações. A gestão é de uma empresa como outra qualquer, tem a dificuldade porque é uma empresa a céu aberto, você depende do clima e de fatores que não dependem de você. Mas digo sempre que meu desafio sou eu. É vencer o que tiver faltando de conhecimento. O desafio de gestão de pessoas. São sempre desafios internos, quando me adapto, me moldo, busco conhecimento, aí eu estou superando tudo o que está externo. Sempre olho muito pra mim, o que eu preciso vencer em mim. Quando eu entrei, mudei o manejo da fazenda, foi uma aposta. Um tiro no escuro. Você faz e só vai colher o fruto depois. O POVO CARIRI
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“ESSA PAIXÃO ESTÁ NO MEU DNA, É GENÉTICA”
CAPA Eu ouvi muito: “se der errado foi ela que mexeu”. Mas quando veio o resultado, vimos que estávamos no caminho certo. O fato do meu pai ter um nome forte na região também me ajudou muito a ter clientela no Ceará, em outros estados. É uma seleção de gado muito premiada, também tem as facilidades. A fazenda já tinha uma estrutura boa. Também convivo com o lado mais fácil. OP – Como começou a história das Fazendas Ribeirão? Candice – Meu pai é paraibano, médico, começou a comprar terras e a construir a estrutura da fazenda. Ele sempre teve um amor muito grande pela agricultura e principalmente pela pecuária. Hoje ele está com 89 anos e se você conversar com ele, o assunto é gado. (risos) Como é que tá o clima, se choveu, se o gado tá gordo. Essa paixão está no meu DNA, é genética, é uma paixão que aprendi com ele. A minha mãe (Lilian) é do Crato, sempre amou a fazenda, mas a gestão sempre foi do meu pai. OP – Hoje, quais os principais produtos da fazenda? Candice – Nós criamos gado Nelore, e ele é dividido em dois tipos. O gado comercial, que é puro, mas não tem o registro, nosso forte são os bezerros. Os compradores compram a cria para recria e engorda. São bezerros que serão criados e engordados para venda futura para abate. E o gado de elite, o Nelore puro que vem com pedigree, vem com registro. É um gado que vai para reprodução. Os compradores compram para reprodução. Somos também produtores de milho para grão e filagem de milho.
Cleidson Rangel, pai de Candice, na juventude, erguendo um dos troféus das Fazendas Ribeirão
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OP – Qual a importância das Fazendas Ribeirão hoje? Candice – A Fazenda é uma referência na região, meu pai foi um dos pioneiros na introdução do Nelore no Cariri. Somos referência em genética, em qualidade, em tecnologia. A gente faz um investimento muito alto em tecnologia, em genética. Os animais são selecionados pelas melhores
habilidades que eles podem trazer. Por exemplo, você produz um bezerro pensando em quanto ele vai produzir de carne, qual a habilidade materna, o que ele vai produzir de leite, qual temperamento, qual a melhor matriz. Hoje existem programas e tecnologias para você selecionar e produzir os melhores animais. Tudo é muito pensado. Temos programas da ABCZ do gado zebu, que são ferramentas que permitem o melhoramento genético. Eu jogo o registro de uma matriz, seleciono quais touros e materiais genéticos que quero usar, esses programas já me dão os índices e o que melhor pode vir com essa combinação. Unimos o genótipo com o fenótipo, vamos combinando essa tecnologia. OP – Vocês têm uma das seleções de Nelore mais premiadas e conhecidas do Nordeste através marca “Cobra”. O que caracteriza esse rebanho? Candice - Meu pai sempre fez seleção genética criteriosa, sempre foi muito apaixonado, nunca mediu esforços para trazer o que tem de melhor para o Cariri. O gado de qualidade une boa genética, bom manejo e a parte de sanidade animal. Não adianta o gado comer bem e não ter boa genética. Ter um rebanho que se adapte às nossas condições, que aguente período com o pasto sem tanta qualidade. Esse olhar que ele sempre teve para a genética repercutiu em seleção premiada. O animal tem os padrões da raça, que é um gado indiano, que tem os padrões definidos de como é a cabeça, orelha, padrão de origem. E tem a qualidade de adaptação ao Nordeste, a rusticidade. Tudo isso refletiu numa seleção premiada, de referência para o Estado. OP – Quem são os principais compradores? Candice – Temos clientes no Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí. É um gado que o cliente compra sabendo que vai se adaptar a uma região climática parecida. É um gado que vai dar o melhor dele. Vai produzir carne dentro das condições adversas do clima ou do pasto. Vai converter em resultado.
CAPA
Premiado, gado Nelore criado no Cariri é vendido para quatro estados
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CAPA OP – Qual a importância da ExpoCrato para os negócios das Fazendas Ribeirão e para a região? Candice – A ExpoCrato é uma das maiores exposições do Ceará. É uma oportunidade de estar sempre no intercâmbio, de fazer novos clientes. Cada produtor leva o que tem de melhor para expor, porque é uma vitrine. É uma feira de grande importância, traz ótimos negócios, ótimas vendas. Tá fazendo falta. A gente espera que se tenha um olhar mais apurado pra feira, há muito olhar para a festa. A gente espera que a feira mesmo tenha mais visibilidade, que atraia novos clientes, novos expositores, que tenha um foco mais especial nos negócios.
que não para, independente de qualquer condição, e que me faz ter mais atenção de enfatizar para as pessoas essa importância. Não faltou nenhum produto no supermercado, sempre com muita qualidade, e isso porque nós não paramos. Algumas vendas foram prejudicadas. A Ceasa com as restrições, alguns produtos da agricultura. Mas de forma geral foi um setor que não parou. Cada vez mais a demanda por alimentos vem da população e a gente produz. Penso que as pessoas poderiam ter esse olhar de mais amorosidade, mais entendimento para o agro. Nós não paramos, não tem sábado, nem domingo, nem feriado. A gente planta um milho, se entrar uma lagarta, ninguém diz “hoje é domingo”.
OP – Como foi enfrentar a pandemia? Candice - A pandemia ressalta ainda mais a importância do agronegócio. É um setor
OP – Quais as reinvindicações do setor? Candice - As necessidades são muitas, de tecnologia, conhecimento, de logística, im-
MANEJO DO GADO “No curral, é feito um ultrassom do sistema reprodutor do animal para ver se tem alguma inflamação, e, se estiver tudo saudável, é induzida uma ovulação. Esse processo é sincronizado. São formados lotes de 200 animais. Ou seja, são 200 fêmeas que estão sendo inseminadas naquele dia, no tempo fixo. Trazemos todas as fêmeas para aquela sincronia. Isso melhora os índices do gado, coloca mais precocidade no rebanho, o produtor tem um ganho. Quando você organiza os animais, faz com que os animais nasçam na época no início de chuva. E isso é importante porque torna mais confortável a amamentação, a fêmea vai comer mais, o bezerro vai desmamar mais pesado. Também adequamos o manejo sanitário. Todos são vacinados e marcados na mesma época.”
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postos. É necessário que a gente tenha políticas que permitam o setor se estruturar melhor, que tenha segurança para produzir mais e melhor. E que haja investimento. Temos um potencial incrível. Vejo que o Cariri tem muito o que crescer, que desbravar. OP – Qual seu objetivo com a fazenda? Candice – Meu sonho é que eu possa ter condições de somar forças para transformar a região. Que o Cariri, eu possa transformar, com a ajuda do meu grupo, dos produtores, das pessoas, para que seja referência, um polo produtor de grão, de pecuária e isso possa impactar a vida das pessoas, que possa trazer mais qualidade de vida. Penso muito no meu negócio, nos benefícios que ele pode me trazer, mas também gosto de pensar na região. Quando um negócio cresce, tudo ao redor se desenvolve.
CAPA
Intercâmbio As Fazendas Ribeirão têm vínculos com as universidades e recebem estagiários para desenvolverem a prática. A principal instituição parceira é o IFCE. Nas Fazendas, os estudantes têm oportunidade de ver o que estudam na sala de aula, acompanham processos de inseminação, vacinação e manejo sanitário. Há também parceria com escolas para reforçar a importância da agricultura e da pecuária para crianças e adolescentes. “Existia a cultura de que se você não estudar vai ficar na zona rural. Hoje, se você não estudar, não fica na zona rural”, reflete Candice. Instagram: @fazendasribeirao
HOJE O MANEJO EVITA ATRITO, NÃO TEM AGRESSÃO
OP – Quais práticas de bem-estar animal vocês utilizam na fazenda? Candice - Fazemos uma prática mais consciente, com mais cuidado. Antigamente, a gente tinha a visão do vaqueiro que doma, que é valente, mas hoje a gente traz para a fazenda a visão que o manejo é o que traz o mínimo de estresse para o animal, e isso se reverte no temperamento, na facilidade do trabalho, na qualidade da carne. A gente procura estar sempre alinhado com as práticas de bem-estar. Hoje a gente entra num curral ou no pasto, os animais da gente deixam a gente se aproximar. Tem períodos e exceções, claro. Mas hoje o manejo evita atrito, não tem agressão.
OP – Pecuária é uma atividade culturalmente masculina. Quais desafios você enfrenta por ser mulher? Candice - Dentro da fazenda, no operacional, eu não senti, até porque eu fui criada com meus funcionários. A dificuldade maior é fora da porteira, quando você viaja. Tem aquele questionamento: cadê o seu marido? Cadê o seu pai? Você começa a perceber, fora da fazenda, que você está só numa reunião, que são poucas mulheres. Nosso Estado ainda precisa que as mulheres ocupem esses espaços, se apropriem do movimento. Isso não me intimida, sempre procuro conhecimento, estar com pessoas melhores do que eu. A gente que é do interior traz muito essa força, a gente não baixa a cabeça. Pelo contrário, isso serve de alavanca para que eu possa aprender mais. Uma das minhas clientes mulheres já me disse que não estava fazendo compra de gado, que tem um homem que compra pra ela porque sempre que ela ia comprar os homens queriam enganá-la. Eu disse: estude bem muito a ponto deles não lhe enganarem! (risos). Nem sempre é fácil, estamos cercadas por uma cultura machista, mas que isso sirva como mola. OP – Além do trabalho, quem é a Candice? O que você gosta de fazer, tem filhos? Candice – Tenho dois filhos. Um casal, um rapaz (Gabriel) de 17 anos e uma menina (Clara) de 13. Pra mim é muito desafiador a maternidade, a mãe que se ausenta, que deixa os filhos e vai à luta. É bacana, é um bom exemplo, mas também é difícil. O que eu gosto de fazer? Eu gosto da fazenda (risos). É uma mistura de trabalho, lazer e paixão. Mas eu também gosto muito de viajar. OP – Seus filhos frequentam a fazenda? Candice – Frequentam sim. Eu sempre brinco que eles vão escolher a profissão que eles quiserem, o Gabriel acabou de passar no vestibular para psicologia, mas que eles são fazendeiros, que eles se lembrem disso (risos). Eu brinco muito aqui em casa, pergunto: o que existe que não é do agronegócio? Não tem nada. É tudo do agro. (risos) Tento trazer tanto a visão de paixão como de negócio. O POVO CARIRI
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NASEF ARABIC G.C ORGÂNICOS
CASA DE SUCOS
CULTURA
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O MUNDO INTEIRO BEM AQUI CONHEÇA HISTÓRIAS DE NEGÓCIOS GASTRONÔMICOS QUE TROUXERAM NOVOS SABORES E CULTURAS AO CRAJUBAR
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CULTURA
RÚSSIA UM RUSSO QUE SE APAIXONOU POR UMA AMAZONENSE E, JUNTOS, SE ENCANTARAM E ABRIRAM UM NEGÓCIO NO CRATO. CONHEÇA A HISTÓRIA DA CASA DOS SUCOS TEXTO: SABRINA RIBEIRO FOTOS: ALLAN BASTOS
CASA DE SUCOS Segunda-feira a sexta-feira: 10h às 21h (Delivery) Sábado e domingo: 16h às 21h (Presencial) Endereço: Rua Senador Pompeu, 397, Centro - Crato Contato: (88) 99967 3999 Instagram: @casadesucoscrato
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SUCOS E ALIMENTAÇÃO NATURAL EM VERSÃO RUSSA E BRASILEIRA
Alexander Kuznetsov, 33, é natural de Moscou, capital da Rússia. Raquel Pinheiro Kuznetsova, 47, nasceu em Manaus, capital do Amazonas. Os dois se conheceram durante o VI de Festival de Música Cordas Ágio, em 2018, no Crato, ao sopé da Chapada do Araripe. Juntos, Alexander e Raquel, além de compartilhar amor, dividem o mesmo desejo de transformar vidas através da alimentação saudável, e por isso, abriram a Casa de Sucos. Encantado pela região do Cariri, Alexander decidiu estabilizar-se no Crato, onde conheceu sua esposa e também viu um ambiente promissor para iniciar seu negócio de alimentação natural. Ele já trabalha há mais de 15 anos com suplementos, tratamentos alternativos e produtos de higiene pessoal artesanal, com experiência em países como Argentina e Índia. “O clima do Cariri é muito agradável. Aqui existe a facilidade de abrir um negócio, de manter e de ganhar dinheiro,
só é preciso trabalhar. Gostei de vários aspectos culturais, familiares, nunca me arrependi de ter vindo, e a cada dia fico mais animado com a região onde estamos morando”, conta Alexander.
SERRA LINDA E AR FRESCO Para ele, a população local muitas vezes não valoriza a região: “é uma cidade pequena e as pessoas dizem não ter muitas oportunidades. Mas eu nasci na capital, em Moscou, em uma cidade muito desenvolvida, com poluição do ar, sonora, já aqui tem uma serra linda, ar fresco a cada dia e de graça”. O russo aponta ainda que muitos moradores não valorizam os alimentos orgânicos. “Aqui as pessoas não valorizam a manga de uma árvore, por exemplo, ficam muitas mangas apodrecendo. Já em Moscou, as pessoas pagam preços caríssimos para comprar uma manga orgânica que é importada daqui. Em Nova York, por exemplo, o quilo do mamão é mais de R$ 200”, completa.
CULTURA
O russo Alexander Kuznetsov e a brasileira Raquel comandam a Casa de Sucos no Crato
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL A Casa de Sucos apresenta uma proposta singular ao disponibilizar um cardápio personalizado, oportunizando a cada cliente uma refeição particular, de acordo com seu estilo de vida e plano alimentar. Com isso, além do menu próprio, o estabelecimento dispõe de tabelas para que o prato seja montado.
CARDÁPIO Lassi - Bebida de origem indiana baseada em iogurte caseiro, frutas integrais e ervas medicinais Suco de milho verde Sucos funcionais - Auxiliam no aumento da resistência e do desempenho Cold brew - A Casa possui quatro versões de cafés extraídos a frio Vitaminas funcionais Remineralizantes e revitalizantes O POVO CARIRI
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CULTURA
ITÁLIA CASAL FORMADO POR UM ITALIANO E UMA BARBALHENSE INVESTE EM PRODUÇÃO ORGÂNICA E PREPARO DA LEGÍTIMA MASSA DA ITÁLIA TEXTO: MÁRCIO SILVESTRE FOTOS: ALLAN BASTOS
G.C ORGÂNICOS Hortifruti orgânico, galinha caipira, ovos e pizzas Contato: (88) 98145 9359 Instagram: @g.c.organico
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> O italiano Gabriele Dumitrache e a barbalhense Cecília se dividem no trabalho no sítio do Crato
CULTURA
AGRICULTURA ORGÂNICA
COM PITADA ITALIANA Sabe o mapa da Itália, país europeu que ocupa uma península no mar Mediterrâneo? Bem no salto daquela bota está a portuária Brindisi. Foi nessa cidade, de pouco mais de 88 mil habitantes, onde nasceu o italiano Gabriele Aurel Dumitrache, 39, que já viveu em vários lugares do mundo, mas escolheu o Cariri por amor. Dois amores, na verdade: a barbalhense Cecília, 53, que ele conheceu na Holanda, e a agricultura familiar orgânica. Eles se apaixonaram quando eram colegas de trabalho na rede de comida italiana Happy Italy, presente em mais de 20 cidades holandesas. Trabalharam nas cidades de Arnhem e Enschede. No restaurante, aprenderam sobre a alimentação orgânica, suas variedades e produção. E decidiram que fariam um movimento contrário à corrente: um êxodo urbano, saindo da Europa para o interior do Ceará, onde colocariam em prática as experiências adquiridas. Cecília e Gabriele chegaram ao Cariri em plena pandemia. E foram morar numa pequena propriedade rural que ela ganhou do pai na Vila São Francisco, no Crato. Para ela, uma volta às origens, depois de ter passado 12 anos longe do Cariri. Para ele, a aventura de viver num outro continente, aprender um novo idioma, e colocar em prática o seu propósito de plantar e colher frutas e verduras produzidas de forma orgânica e viver com tranquilidade. “Eu não penso em abrir restaurante ou qualquer negócio que me faça viver como
escravo daquilo”, diz Gabriele com forte sotaque italiano - mas se esforçando para aprender o português, que vai ser a quinta língua que domina, além da nativa, do holandês, do alemão e do romeno.
NÃO EXISTEM FRONTEIRAS PARA OS SONHOS O choque de cultura não é algo que intimida este casal. Com um estilo de vida camaleônico, Cecília e Gabriele gostam de conhecer o mundo e já precisaram se reinventar muitas vezes. Aqui, o que lhes preocupa é a escassez de água e o cenário político e social do Brasil. Filha de agricultores e apaixonada pelo trabalho com a terra, Cecília está disposta a transpor barreiras e fortalecer sua produção orgânica, baseada no modelo agroflorestal, já presente no Brasil com o trabalho propagado pelo suíço Ernst Götsch através do modelo de agricultura sintrópica. De acordo com estudos da Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o consumo de orgânicos registrou aumento de 30% nas vendas, em 2020, movimentando R$ 5,8 bilhões na economia. O levantamento destaca também o avanço desses produtos no interior do País. Em um cenário político com forte abertura para as práticas que impactam o meio ambiente, investir em orgânico é uma estratégia de negócio promissor. Faz seis meses que o casal começou sua produção no sítio São Francisco, no Crato. Nesse período já fizeram três
colheitas, investiram em maquinário, insumos, aração e parcerias com as entidades agrícolas para consolidarem o negócio e propagarem o consumo de orgânicos. “Nós já colhemos tomates, pimentão, coentro, pepino, quiabo, maxixe e alface, que já tiramos várias vezes, pois é uma planta de ciclo rápido”, explica Gabriele. O escoamento da produção, ainda tímido, tem sido realizado dentro da programação das feiras da agricultura familiar do Crato, e através de entrega em domicílio, mediante encomendas no perfil do Instagram @g.c.organico.
GASTRONOMIA ITALIANA COM PRODUTOS CULTIVADOS NO CARIRI Cecília e Gabriele também trouxeram da Europa um punhado de sementes de tomate cherry, uma variedade de tomate cereja muito difundida na Itália, com um sabor mais adocicado, e um pouco de basílico, uma espécie de manjericão de folha larga, originárias dos continentes Asiático e Africano, e estão produzindo no sítio. Esses ingredientes são utilizados no preparo das pizzas e lasanhas típicas da Itália, feitas pelo pizzaiolo Gabriele Dumitrache, e que têm feito sucesso entre os caririenses. O italiano sente falta de ingredientes, como queijos, mas tem conseguido produzir, com ajuda de Cecília, substituindo insumos e criando uma pizza italiana a la brasileira de dar água na boca. O POVO CARIRI
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SÍRIA IMIGRANTE SÍRIO, FADI NASEF CHEGOU A JUAZEIRO DO NORTE DEPOIS DE UMA TEMPORADA EM SÃO PAULO - E TROUXE PARA O CARIRI SABORES DA CULINÁRIA DO ORIENTE TEXTO: JOELTON BARBOSA FOTOS: ALLAN BASTOS
NASEF ARABIC Aberto todos os dias das 16h às 22h30 Endereço: Av. Dr. Floro Bartolomeu, 262, Centro Juazeiro do Norte
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ESFIRRAS E MASSAS ÁRABES COM DNA SÍRIO Fadi Nasef, 37, tinha uma vida estável na Síria, com um bom apartamento, carro e uma loja. Lá, ele vivia com sua esposa e dois filhos. Porém, tudo isso ficou apenas na lembrança do sírio, que atualmente mora em Juazeiro do Norte com sua mãe. Ele conta, ao mostrar os escombros da sua antiga casa, atingida por bombas, que sente saudade, mas que não tem vontade de retornar ao país de origem. Na trajetória de vinda ao Brasil, fugindo da guerra que assola a Síria, ele passou rapidamente pelo Líbano, com destino à Turquia, onde ficou por quatro meses; depois foi para a Grécia, onde sofreu três deportações, além de ser preso. Só depois veio ao Brasil, em 22 de junho de 2014, e por indicação de um amigo, fixou residência em São Paulo, onde ficou por quatro anos. Quando chegou ao aeroporto, o taxista o levou ao Brás, um centro de compras da cidade, onde ele pôde conhecer outros conterrâneos, além de mesquitas e restaurantes árabes, onde trabalhou. No ano seguinte, em 2015, trouxe a esposa e os filhos, porém sua mãe enfrentou dificuldades e só conseguiu vir em 2018. De acordo com o Relatório Anual da Imigração (2020), de 2011 a 2019 foram registrados, no Brasil, 1.085.673 imigrantes, considerando todos os amparos legais. Do total de imigrantes registrados, 399.372 foram mulheres. Fadi destaca que até então só tinha ouvido falar do
Brasil quando o assunto era futebol. Ele também tem uma irmã que mora nos Estados Unidos e outro irmão que permanece na Síria.
DE SÃO PAULO PARA O CEARÁ Após quatro anos morando em Guarulhos (SP), já separado da esposa e sempre atuando no setor alimentício, o sírio se mudou para Fortaleza (CE) onde começou a trabalhar como chef em um food truck, por dois anos, até chegar a pandemia de Covid-19 e ele ter seu salário reduzido. Assim, Juazeiro do Norte foi o seu próximo destino em busca de melhores condições de vida. Em 1° de maio de 2020, ele veio com a sua mãe. Aqui passou 23 dias desempregado. De religião mulçumana, ele conta que aprendeu a língua portuguesa na prática, fazendo anotações, perguntando e usando aplicativos de tradução. Não foi fácil, ele conta, mas hoje consegue se comunicar com bem mais facilidade, apesar do sotaque carregado. Em seguida começou a trabalhar vendendo massas no iFood e no Cariri Delivery, onde as esfirras e demais comidas árabes são suas especialidades. “Pão árabe deve ter massa fina e não grossa, como a maioria dos locais faz, de forma errada”, destaca Fadi. No Cariri, ele decidiu abrir o restaurante Nasef Arabic, que tem, além da comida, música ambiente típica, fazendo o cliente se sentir imerso na cultura do Oriente Médio.
CULTURA
Fadi Nasef faz o cliente se sentir no Oriente com música e culinária típica
A LEGÍTIMA COMIDA ÁRABE Nasef Arabic funciona na Av. Dr. Floro Bartolomeu, 262, das 16h às 22h30. Os planos para 2022 são de expansão, com inovações no cardápio, como por exemplo, investir em produtos veganos para abarcar uma parcela maior da população, além de mudar de localidade para um ambiente mais espaçoso. O cardápio é diversificado, variando desde o Kebab de kafta normal, ao especial fatiado em seis pedações com pão árabe, carne, tomate, alface, pasta de alho suave, molho especial de tahine com batata frita doce. As porções são variadas, com destaque para a coalhada seca síria, com azeite e pão árabe fatiado. Os beirutes e as esfirras são de dar água na boca, Willamir Oliveira Maciel que o diga. O pesquisador vinculado à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) estava de passagem na rua, sentiu o cheiro da comida e resolveu provar. “Eu gostei muito, está aprovadíssimo. Foi a primeira vez que comi e com certeza vou voltar para provar os outros pratos do cardápio”, disse. O POVO CARIRI
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GUIA DE
FÉRIAS O POVO CARIRI
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FÉRIAS
UM BRINDE à cultura cervejeira!
DU PORTO INOVA COM BREWPUB E FORTALECE A EXPECTATIVA DE TORNAR O CARIRI UM POLO CERVEJEIRO
TEXTO: MÁRCIO SILVESTRE FOTOS: ALLAN BASTOS 34
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O Cariri já é considerado polo em vários setores da economia: calçados, educação, turismo ambiental e religioso. Mas, no que depender do empresário Carlos Porto, 39, o sul do Ceará também será um polo cervejeiro. A região tem ambiente promissor para o mercado da cerveja artesanal: clima quente, oferta de água e consumidores cansados das marcas massificadas. Foi esse cenário que despertou o interesse do empresário, e então, Carlos criou uma fábrica de cerveja artesanal e um brewpub no centro histórico de Barbalha. Carlos Porto foi pioneiro na instalação de uma cervejaria com brewpub, no Cariri. Este é o local onde o consumo de cerveja acontece no mesmo ambiente em que ela é produzida. A Du Porto se estabeleceu em um dos casarões antigos de Barbalha, adaptado para oferecer a experiência de consumir um bom chope, ao lado dos tanques e barris de fabricação. Além do brewpub, a Du Porto tem ampliado parcerias e pontos de vendas em restaurantes e supermercados da região. “O cenário cervejeiro ainda é tímido no Cariri, mas existe um grupo de pessoas que está buscando coisas diferentes. Isso faz com que a gente tenha vontade de criar novidades para esse público. O nosso desafio é trazer as pessoas que não conhecem a cerveja artesanal para dentro do cenário cervejeiro. O percentual de brasileiros que conhece cerveja artesanal ainda é muito pequeno, cerca 1,8% da população”, afirma Porto. Mas uma fábrica de cerveja não é feita do dia para a noite. O empresário conta que estudou o mercado durante três
FÉRIAS
4 ESTILOS DE CERVEJA DA DU PORTO:
O empresário Carlos Porto e o cervejeiro Welton Gadelha tocam a Du porto
Roteiro do chopp A professora universitária Joice Mara, de Quixelô, no centro sul do Ceará, ama cerveja. Barbalha agora faz parte do seu roteiro de visita sempre que vem ao Cariri, mas não é por causa do Caldas, nem das trilhas ecológicas, e sim por causa do chope. “Quando venho visitar os amigos no Cariri, dou um pulo em Barbalha para tomar uma cerveja. Eu adoro as cervejas da Du Porto, são muito saborosas. O ambiente é super agradável, um prédio histórico em Barbalha, sem contar que a gente vê os toneis de cerveja, o que permite que a gente acompanhe o que está sendo produzido”.
anos para finalmente decidir empreender. Além disso, o negócio precisa de um profissional altamente especializado: o mestre cervejeiro. O responsável pelos rótulos da Du Porto é Welton Gadelha, 42, que se apaixonou pelo universo cervejeiro ao experimentar, por curiosidade, uma cerveja importada comprada no supermercado. Ao despertar sua sensibilidade gustativa, ele mergulhou de cabeça nos estudos sobre cerveja artesanal e se formou como tecnólogo em cervejaria pelo Instituto da Cerveja Brasil (ICB). Gadelha veio de Fortaleza para trabalhar na Du Porto desde a criação da fábrica, em maio de 2019. Ele explica que as receitas são desenvolvidas a partir de parâmetros de quatro escolas da cerveja artesanal: belga, alemã, inglesa e americana.
CERVEJA VIVA PERTO DE CASA A expressão cerveja viva é a forma de denominar a bebida fermentada que não passa pelo processo de pasteurização. Ou seja, não é submetida a alta temperatura para eliminar todos os elementos que possam prejudicar a conservação da cerveja, seu transporte e armazenamento por longos períodos. Mas a pasteurização também elimina as leveduras, fazendo com que a cerveja perca a capacidade de expressão e alteração de sabor. Ao escolher trabalhar com uma cerveja viva e fresca, a Du Porto traz ao caririense a oportunidade de ter perto de casa um lugar onde tomar cerveja passa a ser uma experiência de sabores, aromas e sensações. A casa também oferece petiscos para acompanhar o chope.
Premium Lager: tem notas de cereal, grãos e o cítrico, uma cerveja bem leve, para beber no dia a dia, principalmente no nosso clima quente. Rauchbier: feita com malte defumado, que traz um sabor de cereais e um defumado puxando para o bacon, mas é uma cerveja extremamente leve e refrescante. Extra Special Bitter (ESB): dá uma nota floral, noz, caramelo. Russian Imperial Stout (RIS): uma cerveja bem mais encorpada, forte, com teor alcoólico de 11,5%. Ideal para se apreciar devagar, junto com uma sobremesa, ela harmoniza bem com chocolate.
DU PORTO CERVEJARIA Sextas e sábados, das 17h às 23h Endereço: Rua do Vidéo, 24, Centro Barbalha Instagram: @duporto_cervejaria O POVO CARIRI
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Onde o Cariri é
CARIOCA
SEU BOÊMIO CHEGA A LAGOA SECA NO MELHOR ESTILO BOTECO DO RIO DE JANEIRO E AGREGA CULINÁRIA CRIATIVA E ESPAÇO PARA TODOS OS PÚBLICOS
TEXTO: JOELTON BARBOSA
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FOTOS DIVULGAÇÃO
FÉRIAS
O bairro Lagoa Seca, em Juazeiro do Norte, tem se destacado como um polo gastronômico em crescimento. De acordo com o Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Cariri, Jeronimo Freire, há uma estimativa de 70 estabelecimentos que compõem o polo da Lagoa Seca. O bairro reúne locais com diversidade em cozinha, bebida e ambiente. Mas há um tipo de serviço que tem conquistado os consumidores nesta cidade com milhares de universitários e profissionais liberais: o Seu Boêmio, que segue o estilo boteco carioca. Ambientes amplos, com mesas que abrigam famílias inteiras, turmas de amigos, colegas de trabalho. Em pontos estratégicos, estão aparelhos de TV com programação esportiva (destaque para o futebol) e shows de artistas do forró. No cardápio, os petiscos estão entre os pratos mais pedidos, e as bebidas mais consumidas são a cerveja e o chope.
FÉRIAS
SUSHI DE MACAXEIRA A cozinha oferece pratos tradicionais no Cariri, como baião de dois, vários tipos de carnes, salada e também experimentos gastronômicos. Há ainda o famoso rubacão feito com arroz, feijão fradinho, queijo coalho, charque, calabresa, bacon e nata, que serve uma pessoa. Caso queira levar familiares e amigos, uma boa opção é o filé ao gorgonzola, preparado com medalhões de filé grelhados servidos com molho gorgonzola e acompanhado sde batata rústica e arroz cremoso de nata e bacon. O prato serve três pessoas. Um petisco que tem atraído curiosos da culinária é o sushi de macaxeira (foto). “Desenvolvemos um purê de macaxeira para entrar em cena no lugar do arroz oriental, e junto a isso recheios menos comuns de se ver nos sushis, como charque, bacalhau e calabresa. Temos na equipe um sushiman experiente que executa todo o conceito do prato, exatamente como ele foi concebido. Ele é servido em formato hot junto a um delicioso molho sweet chilli com toque de goiabada, desenvolvido especialmente para esse prato em parceria com o chef, assador e amigo Patrick Bender”, explica o chef Thiago Cardoso.
Inaugurado no final de 2021, com a flexibilização das restrições sociais impostas pela pandemia, o Seu Boêmio virou, em pouco tempo, um ponto de encontro badalado. Durante as finais do Campeonato Brasileiro, o lugar bombou. O espaço inova na oferta de um serviço que é quase 24 horas: abre às 6h30, com café da manhã, segue com almoço e jantar e fecha somente às 2h da madrugada. São 120 funcionários trabalhando no local em três turnos. Há inovação também na estrutura, que foi pensada para ser sustentável. “Em relação à energia consumida, 90% dela é gerada através de energia solar, com as placas instaladas no teto. Parte da água utilizada é reaproveitada, além de coleta seletiva, e a madeira usada na arquitetura do ambiente é de reflorestamento”, afirma o gerente Isaac Arnaud.
há música para todos os gostos, desde pop rock, passando pelo sertanejo, MPB e forró. O boteco também é pet friendly, e permite a entrada e circulação livre de animais de estimação. A jornalista Aline Menezes destaca que o Polo Gastronômico da Lagoa Seca tem exigido bares e restaurantes cada vez melhores. Afinal, só cresce a concorrência na área e ganha a preferência o espaço mais moderno, bonito e confortável, com cardápio diversificado e preços acessíveis, além de atendimento impecável. “Nesse sentido, o Seu Boêmio sai na frente. Apesar de inaugurado recentemente, já prova que veio pra ficar e os concorrentes que lutem. É o meu point preferido do Cariri, com cara de capital, mas com o aconchego do interior”, disse.
AMBIENTE SEGURO E ACOLHEDOR O Seu Boêmio atrai muitas famílias por também oferecer espaço para as crianças, sempre seguindo as medidas de segurança contra a Covid-19, como o uso de máscaras e de álcool em gel. No Seu Boêmio há vários lounges para receber familiares e amigos de forma mais privada e confortável. O espaço dispõe de parque para crianças brincarem, sala de jogos e um ambiente arejado, comporta mais de 800 pessoas e
SEU BOÊMIO Aberto das 6h30 às 2h Endereço: Av. Plácido Aderaldo Castelo Lagoa Seca, Juazeiro do Norte Instagram: @seuboemio_
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FÉRIAS
Um lugar para
AMAR
COM JEITO DE CASINHA DO INTERIOR, CASA UCÁ RECEBE VISITANTES COM ACONCHEGO E CELEBRA A ARTE E A EXPRESSIVIDADE DO POVO DO CARIRI
TEXTO: EMANUELLE LOBO FOTOS: ALLAN BASTOS
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Ela é a derradeira casa histórica da movimentada avenida Teodorico Teles, que liga o Centro da cidade do Crato ao bairro São Miguel. É a resistência de um passado e de um modo de viver, em meio aos prédios comerciais e suas arquiteturas óbvias que se estabeleceram no trecho. A casa alaranjada com ocre, cores que fazem referências às pinturas utilizadas pelos indígenas, em especial os Kariris, chama atenção de quem passa. É aquela casinha com alpendre, corredor lateral, janelões na frente, que deixa a brisa do vento entrar nos cômodos. A meia parede do muro da frente possibilita uma conversa com a vizinhança ou observar o movimento da rua mesmo de dentro da casa. É assim, com esse ar bem de interior e cheia da arte e expressividade do povo do Cariri que a Casa Ucá recebe seus visitantes. Tanto aconchego não poderia ter outro nome: Ucá é “amar” na língua Kariri.
FÉRIAS
> Saymon Luna e Têca Sales, proprietários da Casa Ucá, com o artista Rondinele Furtado
O empreendedor e designer Saymon Luna conta que o prédio deu início ao projeto. “A partir dessa casa tudo começa a ser desenhado. Não foi o projeto Casa Ucá. O projeto foi sair para produzir fora de casa. E aí, quando encontrei essa casa, ela deu pra gente a possibilidade de desenhar um espaço de fruição cultural, colaborativo. Por mais que seja um empreendimento privado, ela tem essas características de ter a colaboração, de abrir as portas para outros produtores na loja, e também ser um novo palco para produção musical, audiovisual, teatral da região do Cariri”. O atendimento começa às 14h da terça-feira e segue até domingo, com a abertura da loja, onde são comercializados produtos artesanais em diversas linguagens, bordados, pinturas, cerâmicas e várias delícias com o gosto do Cariri, em forma de bolos, geleias e licores. É um convite para mergulhar na cultura e sabores desta terra.
SABORES DO CARIRI O cardápio da casa reúne petiscos e entradas: caldinhos, escondidinhos, carne de sol com farofa de maracujá, dadinho de tapioca com queijo coalho, sanduíches, coxinha de feijão verde com carne ou caponata, além dos tradicionais cuscuz, tapioca e café coado. O menu possui opções veganas. Os drinks levam nomes indígenas e são releituras de sabores já consagrados, como o Sex on the Beach, que virou o Sex on the Cariri, uma saborosa e refrescante mistura de maracujá, groselha, cachaça branca, licor de maracujá peroba, água e gelo. No fim da tarde, o bar da casa entra em cena. Além da diversidade do cardápio, música com artistas locais e um espaço bem aconchegante para uma boa conversa ou, quem sabe, encontrar o crush. “O nosso principal diferencial é justamente essa pluralidade do espaço, que não é só um bar. As pessoas não vêm só pra beber, as pessoas vêm para apreciar a culinária local, para conhecer a produção
artesanal local, vem pra conversar, para trocar ideia, para apresentar projetos. Aqui é uma casa viva. Um local que aconchega e, assim como nossa casa, ela está em eterna mudança”, comenta Saymon. Esse acolhimento já é sentido e apreciado pelo seu público. “Eu achei interessante a proposta da Casa Ucá, pelo fato de unir o artesanato, uma boa comida regional, uma boa música, pessoas interessantes. A casa é muito convidativa, com um ambiente bastante agradável. E também pelo fato de reforçar cada vez mais a cultura local e a cena alternativa da nossa cidade”, afirmou Robson Teixeira Moura Leite, professor de educação profissional.
CASA UCÁ Terça a domingo, a partir das 14h Endereço: Av. Teodorico Teles, 577, Centro - Crato Instagram: @casa.uca O POVO CARIRI
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FÉRIAS
ALTERNATIVO aos pés da Chapada do Araripe
AO SOM DE REGGAE E MPB DE VÁRIOS ARTISTAS LOCAIS, CAVERNA PETISBAR TEM VISTA PANORÂMICA, ARTE E CULTURA POR TODOS OS LADOS. ALÉM DE BONS DRINKS, CERVEJA GELADA E PETISCOS TEXTO: SABRINA RIBEIRO FOTOS: ALLAN BASTOS
“Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada”, a popular cantiga infantil descreve a ideia do empreendedor Mário Jorge Gomes, proprietário do Caverna Petisbar. Pedalando pelo bairro Grangeiro, o jovem empreendedor encontrou uma moradia abandonada no pé da Chapada, e conseguiu ver, naquele lugar, a possibilidade de concretizar o sonho de reabrir seu bar, fechado durante o primeiro lockdown da pandemia de Covid-19. O negócio começou em uma garagem, em frente ao canal do rio Granjeiro. Para ampliar o ambiente e cativar mais público, o empresário se mudou para o bairro Seminário, onde o Caverna Petisbar funcionou por três anos. Depois de oito meses de lockdown, contas a pagar, aluguel atrasado, Mário então foi obrigado a entregar o local que alegrou as noites de muitos cratenses. Até que encontrou novas paragens. 40
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FÉRIAS
amigos
Através das redes sociais, Mario mobilizou uma campanha para levantar o valor necessário para reformar o espaço. O pequeno texto, compartilhado entre amigos e clientes, falava da esperança em retomar o negócio. A ação arrecadou em menos de 3 horas mais de 800 reais. “Ao todo, consegui arrecadar quase cinco mil reais. O dono do imóvel me deu uma ajuda também na reforma. A casa estava realmente fechada há três anos. Parece que ela estava me esperando. O proprietário queria demolir, disse que não tinha mais interesse em alugar. Comecei com pouco. Comprei uma caixa de cerveja e alguns petiscos”, conta Mário.
Em suas andanças de bicicleta pelo bairro Grangeiro, Mário viu uma casa bem antiga, mas com estrutura comprometida. “Encontrei este lugar, abandonado, uma casa com bastante mato. Na mesma hora eu tive a ideia e em um estalar de dedos eu já vi tudo isso aqui pronto. Procurei saber quem era o dono, entrei em contato com ele que demonstrou interesse em alugar o local”, relembra o empresário, que se articulou para remontar o negócio, mas não tinha capital.
O CAVERNA Fã da história local e da cultura cratense, Mário buscou implantar em seu projeto tudo aquilo que carregava em sua alma. Apostou em um local próximo à natureza. As paredes são pintadas em grafites vivos, com cores alegres e vibrantes, arte de Guto Bitu, artista renomado na região do Cariri. Logo na entrada somos recepcionados por uma mangueira de tamanho
impressionante. Para além da natureza, que se faz presente no lugar, o bar dispõe de jarros em formatos de rostos humanos e filtro de sonhos espalhados em seu entorno, o objeto de origem indígena remete à atração de sonhos positivos, tendo o poder de purificar as energias do lugar. Atualmente, Mário busca parcerias com artistas da região, “no Crato, não tem este estilo de música (MPB e Reggae), aqui é praticamente o único bar que eles tocam”. Na vista deslumbrante do lugar, tem música ao vivo de quinta a sábado.
O cardápio da Carverna Petisbar é enxuto: petiscos, drinks e cervejas
CAVERNA PETISBAR De quarta a sábado, de 17h às 22h Endereço: Av. Alcides Peixoto, 200, bairro Grangeiro - Crato/CE Instagram: @caverna_petisbar O POVO CARIRI
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r a d r o b s n a tr r t O da d ar PASSEAMOS PELA CRIAÇÃO DE ARTISTAS DO CARIRI QUE FAZEM ARTE COM OLHAR AUTORAL E CONTEMPORÂNEO, REVELANDO UMA NOVA IDENTIDADE ESTÉTICA PARA A REGIÃO TEXTO: ANA BEATRIZ CALDAS
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onhecido como um celeiro cultural, o Cariri cearense tem artistas consagrados em linguagens artísticas ditas “tradicionais” ou “populares”, como o artesanato em peças de couro e barro, além de atividades relacionadas ao turismo religioso e à paleontologia, que fortalecem uma economia da memória e a perpetuação das tradições. Mas engana-se quem pensa que apenas desse legado vive o cenário artístico da região: o terreno fértil e plural tem dado origem a um novo rosto da arte caririense, com novas histórias, trajetórias e identidades sendo exploradas nas mais diversas plataformas. O artista visual Charles Lessa - ou “artista artesão”, como se denomina -, 27, é um dos grandes expoentes desse movimento. Sua relação com a arte, explica, “começou da maneira clássica”. Após passar a infância e adolescência desenhando em casa, decidiu prestar vestibular para Artes Visuais na Universidade Regional do Cariri (Urca), onde ampliou seu repertório simbólico, aprimorou a técnica e percebeu que poderia profissionalizar seu talento. Foi através das aulas, mas também das amizades que fez, das exposições que frequentou e de oficinas e eventos que participou (como o Festival Concreto, sediado na Capital), que Charles começou a explorar cada vez mais suportes
como murais, telas, papéis e biscuit e definir traços que se tornariam sua marca - como as cores fortes e a abordagem de temas como infância, expressão de gênero e sexualidade. “Minhas narrativas trazem um pouco da tradição popular, principalmente em relação às cores, à uma paleta muito saturada, e acredito que meu trabalho se encaixa na categoria de arte popular contemporânea, mas faço um uso consciente disso. Ao mesmo tempo que essa é uma visão do outro sobre o meu trabalho, que me classifica, chega um momento em que eu também quero assumir essa identidade”, ressalta. Para o artista, os desenhos que produz são uma possibilidade de se manter em contato com a infância e, mais do que isso, com a criança que não pode ser, a exemplo da série Na Barriga do Monstro, desenvolvida a partir de uma pesquisa feita no Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes, em Fortaleza. “Esse trabalho parte da ideia de pensar uma outra infância a partir da feminilidade que eu não pude ter por ter nascido em um corpo masculinizado. Dentro de todas as burocracias, que existem em todo trabalho, quando estou no ateliê, no meu processo, essa criança está comigo, brincando”, conta.
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ARTE A ARTE COMO FERRAMENTA DE BUSCA PELA ANCESTRALIDADE Já aos seis ou sete anos de idade, a artista visual juazeirense Indja, hoje com 24, começou a desenhar. À medida que crescia, alimentava a conexão com a arte e, perto de prestar vestibular, decidiu que queria cursar Moda ou Design. Depois de conhecer o Centro de Artes do Cariri e aprimorar sua técnica de desenho de croquis, no entanto, decidiu mudar um pouco o percurso que tinha em mente.
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“Como aqui não tinha a faculdade que eu queria fazer, decidi cursar Artes Visuais na Urca. Lá, continuei a desenhar figuras humanas e fui aperfeiçoando o traço, mas depois de dois anos percebi que todas essas figuras eram brancas, e que assim tinha sido a vida inteira. Nesse momento, me questionaram se eu já tinha feito um autorretrato, e então comecei o trabalho que até hoje desenvolvo, de tentar representar pessoas com meus traços, com a minha cor”, explica. Como artista, a decisão não foi fácil: Indja teve que refazer suas pesquisas sobre coloração e criar um repertório de fenótipos que fugissem dos europeus a que estava acostumada. Foram dois anos pesquisando etnias afroindígenas, seus fenótipos, adornos e vestimentas tradicionais, com o intuito de representar personas “com significados mais ancestrais, da África e da cultura afrobrasileira”. Não foi só a trajetória profissional de Indja, porém, que ganhou novos sentidos. Ao se ver mais representada em suas produções, começou a pesquisar sobre culturas indígenas um assunto que até então não lhe causava curiosidade, devido aos apelidos de tom pejorativo que recebia quando criança justamente pelos traços comumente associados aos indígenas, como o cabelo grande, escuro e liso. “A partir dessa pesquisa antropológica fui buscar também a minha existência indígena, e o trabalho começou a se juntar com o significado das minhas raízes, que vêm da etnia Paiacus do Cariri”. Parte desse processo de descoberta da sua e de outras ancestralidades integra a série Raiz, um trabalho que, segundo Indja, não deve ter fim. “Ela se molda dentro do pensamento de representar pessoas que estão no nosso cotidiano, mas são invisibilizadas, sejam originárias da África ou indígenas do Brasil”. O POVO CARIRI
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ARTE RESSIGNIFICANDO O SABER ARTÍSTICO Assim como Charles e Indja, a professora, pesquisadora e artista visual Larissa Rachel Gomes também tem como base de trabalho lembranças de seus anos de formação, como o bordado que aprendeu com a avó. Hoje docente no departamento de Artes Visuais da Urca, ela explica que a revisitação dessas memórias e a utilização de elementos relacionados a elas (como materiais ou plataformas) têm sido valorizadas pela arte contemporânea. “A arte contemporânea vem dando mais espaço para a diversidade e para a multiculturalidade. Passamos a questionar os livros de história da arte, baseados em uma visão eurocêntrica, e nos voltamos cada vez mais para a nossa história, para o nosso lugar”, pontua. No Cariri, esse apreço fez com que houvesse um olhar mais cuidadoso para artistas que eram vistos apenas como populares, mas que “são mestres nas suas artes e trazem a tradição de gerações em seus trabalhos”.
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Ainda que na região, segundo a professora, haja certo descaso com o ensino de arte na educação básica - problema que também encaram outras regiões do País -, o Cariri hoje forma novos alunos e mestres para celebrar tradições e ajudar a construir o que está por vir. Através de ações coletivas, os novos artistas seguem multiplicando saberes e buscando a valorização da cultura local e das múltiplas vivências dos caririenses. Desse modo, a parceria entre universidade e sociedade civil, com apoio e estímulo do poder público, deve ser a chave para que novas tradições e linguagens artísticas, oriundas da descentralização e de um pensamento decolonial sobre a arte, se firmem na história do Cariri. “Temos trabalhado tanto nas instituições de ensino formal quanto nas de ensino não formal, com projetos e estágios, justamente para marcar presença e reforçar o nosso lugar”.
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Exposição digital Mesmo antes da pandemia, as redes sociais já tinham se tornado verdadeiras galerias em que artistas de diversas linguagens expunham seus projetos e processos criativos. Segundo Larissa, além da rua, o Instagram é o local onde mais facilmente se encontram pintores, grafiteiros, escultores e bordadeiros, entre outros, e se tem acesso a um pouco de seus acervos artísticos. Ficou curioso?
10 PERFIS PARA CONHECER E ACOMPANHAR PELO INSTAGRAM: Anália Lobo (@analia__lobo) Bixórdia Laboratório de Criação (@bixordia.lab) Centro de Artes da URCA (@cartesurca) Charles Lessa (@charleslessa__) Eliana Amorim (@elianamorim_art) Indja (@indja_4) Jessyca Santos (@jessycasantosart) Maria Macêdo (@_magianegra) Quebrada Cultural (@quebradaculturalt) Suyane Oliveira (@_soupixo_) O POVO CARIRI
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BORDADO COMO EXPRESSÃO E LUTA GRUPO DE BORDADEIRAS NASCEU NO CRATO EM 2018, ESPALHA O TRABALHO PARA ALÉM DO CARIRI E BUSCA DESELITIZAR A PRODUÇÃO ARTÍSTICA TEXTO: LETÍCIA DO VALE
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O contraste das cores vibrantes com o cinza gasto dos muros chama atenção de quem passa por perto. A textura macia das linhas bordadas no material salta aos olhos, frente à dureza das paredes e portas. A delicadeza do trabalho manual encontra lugar em meio a praticidade do ambiente urbano como se sempre estivesse ali presente, embelezando, impactando, inspirando. Quem transforma esses tecidos e linhas em arte urbana é o Wà Coletivo, atualmente formado por quatro mulheres. Apesar de nascido no Cariri, as ações e obras do grupo seguem suas participantes por onde elas estiverem, espalhando arte por todos os lugares dispostos a aceitá-la. A ideia surgiu em setembro de 2018, quando a professora do curso de Design da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Cleo do Vale, ministrou uma oficina de bordado criativo no SESC Crato, chamada Oficinas
Criativas. A sede criativa das participantes foi maior que a experiência, e ninguém queria parar por ali. Assim, formar um coletivo pareceu a solução perfeita para satisfazer o desejo artístico. Cleo do Vale, Adália Alencar, Jéssyca Santos e Shayná Moura trabalham juntas para criar e ressignificar a prática de técnicas artesanais, comumente reservadas ao ambiente doméstico e íntimo, como resistência em áreas urbanas, normalmente protagonizadas por tintas neutras e o masculino. Instalação de trabalhos nas ruas, realização de oficinas, parcerias com outros artistas e participação de eventos artísticos, como festivais, exposições e bienais, são algumas das ações do coletivo. A principal técnica artística utilizada para produção das obras é a do bordado, mas outros tipos de técnicas também podem ser empregadas.
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> Intervenção fixada no bairro João Cabral (Juazeiro do Norte) em homenagem a Crislaine Guedes, jovem LGBT e brincante do reisado brutalmente assassinada. A arte é de Alana Morais
“Buscamos desempenhar uma função social e ‘deselitizar’ a produção artística, abrindo-a à criação e experimentação coletiva prática e promovendo debates capazes de reaproximar o sujeito e o mundo. Acreditamos na arte para todos, com todos e por todos. Queremos propor outros rumos para as técnicas artesanais têxteis na contemporaneidade, que sejam insubmissas e transgressoras, que se misturem ao discurso engajado politicamente e sejam compreendidas como arte contemporânea no espaço público, em grades, em muros, em prédios abandonados, dividindo espaço com outras expressões como grafites e pichações”, explica Cleo. Para Shayná Moura, uma das participantes, o coletivo é, além de tudo, uma rede de apoio para quem o compõe. É um meio de acolhida para que elas se fortaleçam enquanto mulheres e artistas. A estudante de design na UFCA entrou no grupo a partir da primeira oficina ministrada por Cleo, no Crato. Sendo neta de costureira, Shayná havia aprendido sozinha, na internet, o básico da técnica do bordado, e enxergou na oficina a oportunidade de expandir essa veia artística. “Entrei bordando muito pouco, mas com muita vontade. O bordado, para mim, é uma curiosidade. Eu nasci entre linhas, sempre convivi no meio disso e não tinha me dado conta como esse universo já me permeava”, reflete. No caso de Jessyca Santos, a ilustradora e designer considera sua primeira experiência com arte urbana por meio da oficina ministrada por Cleo um ponto de virada na própria trajetória. Sua história com o bordado começou naquele momento, e, hoje, seu desejo é que o coletivo possa continuar alcançando cada vez mais pessoas. “O coletivo é uma união de afetos e sentimentos. O bordado urbano vem como uma maneira de quebrar esse estigma de que o bordado é feito somente para donas de casa, como antigamente. A partir do momento que você pega algo singelo e expõe na rua, já não é mais nosso, é revolucionário, quebra padrões e estigmas”, indica. O POVO CARIRI
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ADÁLIA ALENCAR
SHAYNA MOURA
ARTE SEM FRONTEIRAS CLEO DO VALE
JESSYCA DOS SANTOS
SIGA O INSTAGRAM DO COLETIVO: @WACOLETIVO 52
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Apesar de ter nascido no Crato, as ações do coletivo não conhecem limites geográficos. Já fazendo parte de quem elas são, parece natural continuar expandindo o alcance da arte do grupo por onde passam. Shayná, por exemplo, vive entre o Natal e o Crato, Jessyca e Adália moram em Juazeiro do Norte e Cleo se encontra no Crato, mas estudou em Portugal de 2018 a agosto de 2021. Shayná explica que as atividades acontecem de acordo com o convite e a disponibilidade de cada artista. Durante sua estadia na Europa, Cleo instalou obras em espaços públicos em Portugal e na Espanha, fez uma exposição individual e participou de uma roda de conversa sobre artivismo na cidade do Porto, participou de duas edições do evento português de arte Guimarães Noc Noc e realizou workshops em várias cidades do norte de Portugal.
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> Obra Wà Coração, desenho de Diana Medina. Abaixo, arte urbana desenvolvida pelo coletivo espalhadas em diferentes grades pelo Cariri, de clubes a bares. Na página ao lado, o coletivo de mulheres reunido
“Busco realizar o que desejo sem me preocupar em me inserir socialmente entre artistas. A arte pública é livre e não depende de instituições para acontecer. Do público em geral eu vejo que o nosso trabalho é bem aceito. As pessoas fazem fotos, compartilham, nos marcam. Isso é bem gratificante”, conta Cleo sobre as ações em Portugal. Para a retomada das atividades no Crato, o coletivo se encontra em processo de planejamento e firma parcerias para dar encaminhamento a ações assim que for possível reunir pessoas de maneira segura. Além das atividades, são criadas obras específicas para ambientes internos destinadas à venda. As peças são produzidas manualmente e apresentam tiragem reduzida, numerada e assinada, sendo fornecido, também, um certificado de autenticidade. Elas podem ser visualizadas no instagram do coletivo, @wacoletivo.
“A ARTE PÚBLICA É LIVRE E NÃO DEPENDE DAS INSTITUIÇÕES PARA ACONTECER” CLEO DO VALE
RESPEITO ÀS RAÍZES A palavra Wà, de pronúncia “uá”, que dá nome ao coletivo, não foi escolhida em vão. Ela significa “caminhar” na língua indígena Kariri, e foi sugerida por uma das participantes, Adália Alencar. As tribos dessa ramificação linguística viviam em processos migratórios, passando pelas margens do Rio São Francisco, o sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte e o Cariri cearense. Elas eram perseguidas e exterminadas, forçando essa movimentação constante. “A escolha do nome vem reafirmar nossa história. O povo Kariri habitou e habita a região do Cariri cearense. É um povo que caminha, vai cruzando os estados, então a palavra caminhar, além de estar muito conectada com o nosso fazer urbano, também remete a esse povo que caminhou, sobreviveu, lutou e luta por resistência”, explica Jessyca. O POVO CARIRI
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O CARIRI É CONHECIDO COMO A TERRA DAS ROMARIAS E DOS RITOS CATÓLICOS QUE GANHARAM FORÇA EM UM AMBIENTE ONDE A PRESENÇA E OS ENSINAMENTOS DO PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA CONDUZIRAM AS TRADIÇÕES RELIGIOSAS. NAS PÁGINAS A SEGUIR, VISITAMOS DIFERENTES CRENÇAS, DOUTRINAS E RELIGIÕES PARA REVELAR QUE NO CARIRI É A FÉ QUE NOS MOVE. O POVO CARIRI
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E A MISSÃO DE TRAZER PAZ PARA A NAÇÃO TEXTO: EMANUELLE LOBO FOTOS: ALLAN BASTOS
TEMPLO NO CRATO, O PATÁRIO DO AMANHECER ATRAI FIÉIS DE TODO O BRASIL E É UM DOS POUCOS DO PAÍS QUE POSSUI A ESTRELA CANDENTE, “A ESTRELA PODE PARAR UMA GUERRA”
“DIARIAMENTE, RECEBEMOS VÁRIAS PESSOAS PARA O ATENDIMENTO NO TEMPLO. SÃO DE TODO TIPO DE RELIGIÃO, EM BUSCA DE UMA ORAÇÃO, CARENTES DE OUVIR UMA PALAVRA, POR CURIOSIDADE, VEM SÓ OLHAR” PABLO HENRY, É DOUTRINADOR E INTEGRANTE DO VALE DO AMANHECER HÁ MAIS DE 30 ANOS 56
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ESPECIAL FÉ > A estrela é colorida de amarelo, para projetar as forças do Sol, e de azul, para a influência da Lua Abraçado pela Chapada do Araripe, no Crato, o Patário do Amanhecer, templo que faz parte do Vale do Amanhecer, está fincado em uma área particular, mas já bastante habitada, a pouco mais de cinco quilômetros do centro da cidade. Ao se distanciar da zona urbana, você é acolhido por uma estrada, já asfaltada para melhorar o acesso dos visitantes vindos de todo o Brasil. Essa avenida entra pela comunidade do Vale e é cercada por grandes árvores preservadas, cantos dos pássaros e o som exuberante da natureza. Ao final da avenida, a grande Estrela Candente recebe os visitantes. De seis pontas, formada por triângulos equiláteros cruzados e invertidos, milimetricamente executada para cumprir com os rituais a que se destina. A estrela é colorida de amarelo, para projetar as forças do Sol, e de azul, para a influência da Lua. É lá onde acontecem um dos mais poderosos momentos da doutrina. Conforme afirmava Tia Neiva, fundadora do Vale, “a estrela pode parar uma guerra”. Nesse espaço é possível desintegrar as energias negativas e promover a elevação dos espíritos, por meio dos trabalhos mediúnicos. Adepto da religião, Pablo Henry, é doutrinador e integrante há mais de 30 anos. Segundo ele, o trabalho da estrela é tão forte, tão específico que necessita de periodicidade. Dentre os mais de 1.000 templos, apenas 10 possuem a Estrela Candente. O templo do Crato é o único que possui uma estrela no Ceará. “É um trabalho voltado para o planeta, para os países em conflito, para o Brasil também, para questões políticas. É um trabalho que envolve a manipulação energética muito forte com o intuito de trazer benefícios, trazer paz para a nação, para o planeta”, explicou Pablo.
creveu um sonho com uma festa cigana e um chamado a participar de um retiro espiritual. A irmã disse que a levaria a um espaço “muito bom”. E assim, ela chegou ao Vale. Depois do estranhamento, o encontro com o seu propósito, ajudar os irmãos e irmãs que lá visitam, sejam neste ou em outro plano, e evoluir com cada experiência. “Eu passei quatro anos como paciente, vindo de 2 em 2 meses, só para passar na estrela. Eu recebi tanta coisa boa daqui que eu olhei, no dia que Jesus me contaminou com o amor dEle, e eu disse: eu estou pronta para servir. A doutrina entrou dentro de mim, você fica tão bem que você quer servir”.
UM VALE PARA TODOS Muitas pessoas vêm ao Templo Patário por algum chamado: curiosidade, uma prece, uma palavra de conforto, uma ajuda espiritual e para pesquisa também, movimentando milhares de pessoas em torno da espiritualidade. “Diariamente, recebemos várias pessoas para o atendimento no Templo. São de todo tipo de religião, em busca de uma oração, carentes de ouvir uma palavra, por curiosidade, vem só olhar. Sem distinção. Esse trabalho abrange muita coisa. Ele sai daqui e vai aonde tem alguém merecedor da graça dessa energia”, afirma Pablo, explicando que dentro da doutrina, o templo cratense hoje é referência em todo o Brasil. Atualmente, são mais de 300 famílias vivendo em torno do Vale do Amanhecer. A maioria são adeptos da doutrina e ajudam na manutenção dos trabalhos, que são diários. “Até um dia desses só tinha o Templo Mãe (em Brasília) e aqui funcionando diariamente. O Crato se projetou para todo o Brasil e conseguiu fortalecer a doutrina”, finaliza.
“ESTOU PRONTA PARA SERVIR” Foi a força da estrela que também atraiu a senhora Lúcia Alves. Ela é de Fortaleza e há quatro anos frequenta e trabalha no Vale do Amanhecer. Ela passou por muitas religiões, até que um dia, em uma visita à irmã, em Juazeiro do Norte, des-
VALE DO AMANHECER Para mais informações: Instagram: @vale_do_amanhecercrato O POVO CARIRI
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FÉ ESPAÇO XAMÂNICO REALIZA RITUAIS E CERIMÔNIAS EM CONEXÃO COM A NATUREZA E REVELA OS SEGREDOS POR TRÁS DO CHÁ AYAHUASCA E DA JUREMA SAGRADA
Morada da Jurema TEM A FÉ NOS PRINCÍPIOS INDÍGENAS TEXTO: SABRINA RIBEIRO FOTOS: ALLAN BASTOS
> Morada da Jurema tem esse nome devido às árvores juremas presentes no lugar 58
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Unidos em volta de uma fogueira, as chamas junto à fumaça se fazem presentes ao centro, onde a fé ganha espaço. Batidas de sons peculiares aos ouvidos de quem busca na natureza e na cultura indígena, um lugar onde possa se encontrar e se pertencer. A Morada da Jurema, nome dado devido às árvores juremas presentes no lugar, localizada em uma zona afastada da cidade do Crato, no interior do Ceará, foi consagrada por Eduardo Cunha, responsável pela organização. Há seis anos, o cenário chamou a atenção de Eduardo, que transformou o lugar com um grupo de participantes, desde a construção de cozinha e banheiros ecológicos, que usam a técnica da permacultura, até sa-
lões onde são realizadas as cerimônias. Antes, o que era roçado de milho e feijão, hoje é a morada de rituais xamânicos que usam como princípios o chá Ayahuasca e a Jurema Sagrada.
O CHÁ AYAHUASCA Para além da Morada da Jurema, o Cariri é berço de instituições de fé fundamentadas a partir da Ayahuasca, como o Santo Daime e a União do Vegetal, mais conhecida como UDV. A Ayahuasca, uma de suas diversas nomenclaturas, consiste em um chá feito a partir da mistura de ervas medicinais encontradas na região amazônica. Muito reverenciada pelos indígenas, a bebida tem papel importante em práticas ritualísticas ligadas aos seus ancestrais.
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> Quando você acende o cachimbo, é como se você estivesse honrando a vida
A REPRESENTAÇÃO DO CACHIMBO De origem norte-americana, segundo Eduardo, o cachimbo simboliza a comunicação com o ser supremo. “Quando você está queimando o tabaco, a fumaça que está subindo para o céu é a sua prece”. Segundo Cunha, a estrutura do objeto carrega o significado da vida, “o fornilho, representa o feminino e o pito representa o masculino, então, quando você acende o cachimbo, é como se você estivesse honrando a vida”. O instrumento tem função essencial e está presente em todas as cerimônias do espaço.
AQUECIMENTO DE PEDRAS COMO RITUAL DE PURIFICAÇÃO O temazcal consiste em uma cerimônia de purificação de corpo, mente e espírito, através do vapor. O ritual acontece em uma espécie de iglu que representa o útero da mãe terra. Para iniciar a prática, pedras são aquecidas em volta de uma fogueira, posteriormente, os participantes entram e iniciam os cantos, enquanto a água escorre pelas pedras, produzindo vapor junto ao perfume de ervas medicinais, promovendo assim, o processo de limpeza e purificação.
A MORADA COMO LUGAR DE TRANSFORMAÇÃO Segundo Bruno Santana, membro do Espaço Xamânico Morada da Jurema há quatro anos, o xamanismo mudou a sua vida. “A medicina nos mostra, com muito mais clareza, como nos conectar com a nossa essência, com a nossa espiritualidade e consequentemente, entender sobre a importância do amor, da caridade, da humildade, da tolerância e de perceber o quanto a vida é muito simples. Podemos ser felizes e gratos pelo que o universo nos proporciona, principalmente por essas medicinas, elas nos mostram que a cura e a nossa força, que muitas vezes procuramos no externo ou em outras pessoas, está dentro de nós”.
“ESSAS MEDICINAS NOS MOSTRAM QUE A CURA E A NOSSA FORÇA, QUE MUITAS VEZES PROCURAMOS NO EXTERNO OU EM OUTRAS PESSOAS, ESTÁ DENTRO DE NÓS”, BRUNO SANTANA, MEMBRO DO ESPAÇO XAMÂNICO MORADA DA JUREMA HÁ QUATRO ANOS
MORADA DA JUREMA As cerimônias são marcadas e divulgadas pelo Instagram do espaço: @moradajurema O POVO CARIRI
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DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
no Terreiro das Pretas
RENOVAÇÃO CATÓLICA TEM NOVOS CONTORNOS AO UNIR REPRESENTAÇÃO E SIMBOLISMO CATÓLICO, EVANGÉLICO, RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E ATÉ WICCA COM CÂNTICO PARA A DEUSA TRÍPLICE
TEXTO: MÁRCIO SILVESTRE FOTOS: ALLAN BASTOS
Tirar a renovação, como é tradicionalmente falado aqui no Cariri, é o ato de se reunir com a família para celebrar, com cânticos e orações, a fé nos Sagrados Corações de Jesus e Maria. No Crato, as gêmeas Verônica e Valéria Carvalho, 64, escolheram a data do aniversário delas, dia 3 de janeiro, para fazer sua renovação, que propaga o diálogo entre religiões e a ancestralidade do povo negro. A celebração sincrética é realizada no sítio Boa Vista, na zona rural do Crato, onde as irmãs moram. O ponto central da renovação é o altar, repleto de elementos religiosos e familiares. A toalha que cobre a mesa foi bordada pela mãe das gêmeas, e o quadro de São Francisco é herança do pai, ambos falecidos. No mesmo altar, as imagens do orixá Nanã, de Nossa Senhora Aparecida, Padre Cícero, Pretos Velhos e da Beata Maria de Araújo estão reunidos em torno de um presépio com a Sagrada Família negra. É uma forma de representatividade e posicionamento político; Valéria e Verônica militam no movimento negro e no movimento de mulheres do Cariri. 60
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“Quando nos mudamos pra cá, decidimos fazer a entronização do Sagrado Coração no dia 3 de janeiro de 2019. Nós decidimos fazer uma renovação inovadora, porque na família existem pessoas de várias denominações, e a gente queria rezar e agradecer juntos. Um momento em que todos participassem”, diz Valéria ao explicar por que a festividade se tornou um momento de diálogo Inter-religioso, unindo representação e simbolismo católico, evangélico, religiões de matriz africana e até Wicca com cântico para a Deusa Tríplice, entoado pelas companheiras da Frente de Mulheres do Cariri.
O BAOBÁ E A ANCESTRALIDADE AFRICANA O sítio Boa Vista fica a cerca de sete quilômetros do centro do Crato. Faz parte da encosta da Chapada do Araripe. A propriedade das irmãs ganhou o nome de Terreiro das Pretas. Segundo elas é um espaço dedicado à propagação da cultura afro-nordestina com um quintal agroecológico cultivado entre espécies nativas e também uma árvore africana: o baobá.
“O baobá para nós é um ancestral que a gente deitou nesse solo sagrado da Boa Vista. Nós o vimos nascer, crescer, florescer, tudo a partir da semente de um fruto que nosso irmão trouxe do Rio de Janeiro”, relembra Verônica. Hoje a árvore plantada pelas irmãs já tem sete anos. A principal característica dessa espécie africana é o tronco grosso por armazenar muita água. Na renovação, há um momento de visita ao baobá. Os participantes são convidados a abraçar a árvore como forma de gratidão à natureza e de celebrar as raízes comuns que todos têm com a África, considerada o continente berço da espécie humana. Verônica Carvalho sintetiza a renovação no Terreiro das Pretas. “As pessoas que rezam tradicionalmente suas renovações, quando chegam aqui, ficam encantadas porque é diferente. Para nós, o ar, o fogo, a terra e a água têm um significado. É diferente a forma que a gente inicia, tem um rito diferente, mas é um rito de celebração, renovação e espiritualidade verdadeira. Porque a gente crê nisso.”
ESPECIAL FÉ
“PARA NÓS, O AR, O FOGO, A TERRA E A ÁGUA TÊM UM SIGNIFICADO. É DIFERENTE A FORMA QUE A GENTE INICIA, TEM UM RITO DIFERENTE, MAS É UM RITO DE CELEBRAÇÃO, RENOVAÇÃO E ESPIRITUALIDADE VERDADEIRA”, VERÔNICA CARVALHO, UMA DAS IDEALIZADORAS DO TERREIRO DAS PRETAS
TERREIRO DAS PRETAS Para mais informações: Whatsapp: (88) 99790-9561 Instagram: @terreirodaspretas
> Terreiro das Pretas é um espaço dedicado à propagação da cultura afro-nordestina com um quintal agroecológico
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> Padre Monteiro arrasta uma legião de fiéis e missionários através de um dos mais influentes movimentos de evangelização do Cariri
CATOLICISMO DE AMOR DA
Comunidade Filhos Amados do Céu PADRE MONTEIRO CONDUZ A COMUNIDADE FILHOS AMADOS DO CÉU COM A FÉ CATÓLICA COMO DOUTRINA E RESGATA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA E DEMAIS VULNERABILIDADES SOCIAIS
TEXTO: GUILHERME CARVALHO FOTOS: ALLAN BASTOS
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Padre Sebastião Monteiro, mais conhecido como Padre Monteiro, é mais um destes fenômenos de fé da Terra do Padre Cícero. Natural de Nova Olinda, o sacerdote é fundador da comunidade Filhos Amados do Céu (FAC), ao lado do casal de missionários Carlos Eduardo Nicolau e Maria Dalvani. Sediada no Crato há 12 anos, a FAC realiza um trabalho de filantropia que carrega a fé católica como doutrina. A comunidade realiza ações de resgate a pessoas em situação de rua e demais vulnerabilidades sociais, atuando em hospitais, presídios e outras localidades de fragilidade comunitária. No Cariri, a FAC tem duas casas de acolhimento para dependentes químicos, uma no limite do Crato e Nova Olinda, e outra em Barbalha. De forma voluntária, a instituição hospeda quase 100 internos que recebem assistência humanitária e passam por terapias espirituais. Composta por mais de 500 colabora-
dores, a comunidade Filhos Amados do Céu já atuou na cidade Aquiraz, na Grande Fortaleza, Trindade, em Pernambuco, e até em Brasília. Movido por um sentimento altruísta aos mais necessitados, Padre Monteiro arrasta uma legião de fiéis e missionários através de um dos mais influentes movimentos de evangelização do Cariri. Com uma fala mansa, porém atenta às complicações sociais, o sacerdote fala sobre o amor ao próximo em tempos turbulentos e a necessidade de lutar pelos mais fragilizados. “Por trás da comunidade, nós temos o carisma. O carisma seria uma filosofia de vida. Nós nascemos com que objetivo? Nós nascemos para quê? Então, nosso carisma é ir ao encontro da vulnerabilidade da vida com o objetivo de devolver a esperança. Então, nossa missão é tocar na vida. Quando a gente traz essa filosofia, entendemos melhor nossa atuação”, conta Padre Monteiro.
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COMUNIDADE FILHOS AMADOS DO CÉU Onde assistir às missas: Centro de evangelização Filhos Amados do Céu, Rua Moacir Gondim Lóssio, 276. Bairro São José, Crato. Todo domingo às 17h. Contato: (88) 9 9924-5862 ou contato@filhosamadosdoceu. com.br Outras informações: filhosamadosdoceu.com.br Instagram: @filhosamadosdoceu
“NOSSA MISSÃO É GERAR NA VIDA DO OUTRO A ESPERANÇA. NASCEMOS ASSIM, SE DEIXARMOS DE FAZER ISSO, NÃO FAZ SENTIDO EXISTIR COMO COMUNIDADE”, PADRE MONTEIRO
O POVO Cariri - Nós vivemos uma época de muita perda e ódio na sociedade. Neste contexto, qual a marca que a comunidade Filhos Amados do Céu deixa para tempos tão turbulentos? Padre Monteiro - A dimensão do amor de Deus. Nós entendemos que a profecia para os últimos tempos é um exercício do amor. A gente olha para a sociedade e percebe uma escuridão muito grande, o coração da humanidade está servido por um sentimento de vingança e ódio. Porém, nós entendemos que há uma cura para tudo isso, que é a dimensão do amor e da solidariedade. É sermos capazes de entender que, dentro desta complexidade que é a humanidade, nós precisamos nos relacionar bem uns com os outros. É preciso que haja esta relação de proximidade e empatia com o outro. É preciso deixar as diferenças e o preconceito de lado, e começar a trabalhar o amor dentro de nós para, assim, conseguir calar o sentimento de raiva e medo. O POVO Cariri - O que o futuro guarda para a comunidade Filhos Amados do Céu? Padre Monteiro - Nós temos uma missão grandiosa porque temos entendido que nosso carisma é uma resposta para o hoje da sociedade. É uma resposta, também, para esse processo de pós-pandemia. Deus nos deu a graça de ir ao encontro do povo como uma mensagem de esperança. Nada está perdido e nós não podemos pontuar isso. Para nós, como comunidade, esta palavra não existe. O que existe é a esperança. Neste sentido, nós podemos contribuir muito com a humanidade, fazendo-a entender que existe esperança a partir do momento em que nós nos decidimos por ela. O POVO CARIRI
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ESPORTE TEXTO: GUILHERME CARVALHO
ARENA ROMEIRÃO TEM PREVISÃO DE SER INAUGURADA EM JANEIRO DE 2022. NOVO ESTÁDIO FORTALECE O FUTEBOL DO CARIRI E TRAZ EXPECTATIVA DE MOVIMENTAR A ECONOMIA DA REGIÃO
NOVA ERA DO 64
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ROME ROM
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MEIRÃO O POVO CARIRI
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ESPORTE A Arena Romeirão, novo nome dado ao Estádio Mauro Sampaio, em Juazeiro do Norte, está gerando a maior expectativa nos apaixonados por bola. A nova Arena, além da estrutura estonteante, traz um novo sentimento: a valorização e fortalecimento do futebol caririense. O antigo Romeirão começou a ser demolido em julho de 2019, quando retroescavadeiras começaram a derrubar as arquibancas do estádio. Por ali, milhares de torcedores assistiram atentos a clássicos do futebol caririense. Além disso, no histórico gramado do Romeirão,
passaram alguns dos maiores nomes do futebol brasileiro: como Roberto Dinamite, Sócrates, Garrincha e até mesmo o Rei Pelé. A reforma do Romeirão é uma obra da Superintendência de Obras Públicas do Estado (SOP). Ao todo, foram investidos cerca de R$ 90 milhões destinados a ampliação das dependências do equipamento. A Arena vai contar com capacidade para 17 mil pessoas e tem, como um dos objetivos, receber competições nacionais e internacionais de futebol, como o Brasileirão e a Copa Sul-Americana.
pontode vista
UMA NOVA MOLA PROPULSORA Ter a oportunidade de contar com o estádio mais moderno do interior do Nordeste coloca Juazeiro do Norte no mapa do Brasil para receber relevantes partidas de futebol e também eventos de outra natureza, como religiosos, culturais e musicais, por exemplo. A Arena Romeirão terá, assim, capacidade de gerar receita e emprego para a região, fazendo valer o alto investimento para o projeto e conclusão da obra. Especificamente no campo esportivo, o Icasa, que garantiu calendário completo na temporada 2022 com participação na Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro da Série D, certamente vai aproveitar muito bem a oportunidade, mas para tanto será preciso que a cidade e o Cariri abracem a ideia e façam da arena um local efetivamente multiuso, dando total conforto e estrutura para os frequentadores. O atual sucesso de Ceará e Fortaleza na Série A do Campeonato Brasileiro - serão os únicos clubes do Nordeste na primeira divisão em 2022, batendo recordes de receita, contratando bons jogadores e chamando atenção do País pelas competentes gestões - serve de estímulo evidente para os times de futebol de Juazeiro e redondezas. Agora, um estádio para 17 mil lugares, extremamente moderno, com gramado excelente e toda estrutura, também é uma mola propulsora com grande potencial e assim precisa ser tratado e administrado.
FERNANDO GRAZIANI É EDITOR-CHEFE DE ESPORTES DO O POVO
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9m0ilhões DE REAIS FORAM INVESTIDOS NA AMPLIAÇÃO DAS DEPENDÊNCIAS DO EQUIPAMENTO
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ESPORTE A Arena vai contar com capacidade para 17 mil pessoas e tem, como um dos objetivos, receber competições nacionais e internacionais de futebol, como o Brasileirão e a Copa Sul-Americana
Localizada na Avenida Castelo Branco, a Arena Romeirão é facilmente vista pelos quatro cantos da Terra do Padre Cícero. Atualmente, a obra está com 90% de conclusão e tem uma área de aproximadamente 47 mil metros quadrados. Além de ser palco para jogos, o estádio deve sediar eventos diversos, como shows, festivais e demais cerimônias culturais e religiosas. O projeto conta com áreas multiuso, equipado com cabines de imprensa, camarotes, praça de alimentação, espaço para museu e estacionamento. Em avanço recente, o gramado da Arena foi completamente instalado. Conforme a Superintendência de Obras Públicas do Estado (SOP), as obras avançam de maneira simultânea em diversas faces do equipamento. Na parte superior do estádio, as obras caminham para a finalização da parte coberta, composta por imponentes armações metálicas. O objetivo desta etapa é interligar todos os setores da cobertura e garantir uma qualidade acústica para a arquibancada e proteção para os torcedores. Além disto, são executadas a obra de drenagem do estacionamento, a instalação das escadas de acesso e serviços de acabamento. Uma das próximas etapas será a instalação das cadeiras nas arquibancadas, que serão do mesmo tipo das que usadas na Arena Castelão, em Fortaleza, segundo a SOP.
A GRANDE ESTREIA A entrega oficial da Arena Romeirão deve acontecer ainda no final de 2021, mas a sua inauguração está prevista para janeiro de 2022. Conforme o Governo do Estado, as
negociações com a CBF para a realização de jogos do cenário nacional em Juazeiro do Norte já foram iniciadas. Além disto, em recente visita a região do Cariri, o governador Camilo Santana (PT) destacou o interesse de receber algum jogo da Seleção Brasileira no novo estádio. Para a temporada de 2022, o Cariri tem dois times que jogarão na série D do Campeonato Brasileiro: o Crato e o Icasa. Ao longo deste ano, o Verdão do Cariri alcançou marcos importante, como: a conquista da Taça Fares Lopes e a consequente vaga na Copa do Brasil. O presidente do Icasa, Francisco França, destaca que o time busca, atualmente, retomar seu protagonismo na região. Segundo ele, os jogos na Arena Castelão serão de grande importância para o fortalecimento do futebol no Cariri. “Uma arena com capacidade para 17 mil pagantes é uma ferramenta importante para o Cariri, que vai ser até uma atração turística. Isso porque ali vão ter lojas, museu e uma série de coisas que irão favorecer nossa região [...]. É uma situação que vai melhorar muito nosso futebol. O Icasa, principalmente, que está na Copa do Brasil, se o clube tiver a oportunidade de jogar lá, e também na série D do Campeonato Brasileiro”, conta França. Já o presidente do Guarani de Juazeiro, Rommel Caldas, endossa a opinião de França. Para ele, as expectativas do Leão do Mercado para o início das atividades da Arena Romeirão são muito positivas. “Até para trazer jogadores para o clube, a Arena vai ajudar. Qual o jogador que não deseja jogar em uma arena desta? Qual o torcedor que não quer ver seu time jogando em uma arena como o Romeirão?”, finaliza. O POVO CARIRI
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EDÊNIA SUCESSO NAS PISCINAS PARATLETA CAMPEÃ MUNDIAL DE NATAÇÃO SE RECONECTOU COM RAÍZES CRATENSES DURANTE AS PARALIMPÍADAS DE TÓQUIO TEXTO: ANA BEATRIZ CALDAS
Quando saiu da escolinha de natação aos sete anos de idade porque o professor do clube se recusava a atender às necessidades específicas que a doença de Charcot-Marie-Tooth exigia, a cratense Edênia Garcia jamais imaginava que, em alguns anos, seria uma das maiores representantes da natação brasileira. Por ter nascido com a síndrome degenerativa que atinge os nervos dos braços e pernas, começou a nadar ainda muito pequena como um tratamento complementar, mas só entendeu a força que o esporte teria em sua vida no início da adolescência. “Nunca tive contato com o esporte em si quando pequena, mas sempre fui uma criança ativa, que brincava muito na rua, na escola, era muito molecona. Não tinha o contato direto com o esporte, mas ia até onde dava”, conta. Ao mudar com a família para Natal (RN) no início da pré-adolescência, conseguiu retornar às piscinas e sentiu que ali podia haver algo a mais. O lugar onde fazia o tratamento, agora, 68
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além do acolhimento adequado, oferecia inspiração - era o centro de treinamento dos atletas que se preparavam para as Olímpiadas de Sydney (2000). “A transição foi muito natural. Vi que tinha algo a oferecer para o esporte e fui subindo e criando oportunidades, agarrando tudo o que aparecia”, lembra. Pouco depois, em 2001, Edênia já integrava a seleção paralímpica brasileira de natação. De lá pra cá, foi campeã mundial cinco vezes, medalha de ouro em dois Jogos Parapan-Americanos e participou de cinco Paralimpíadas: Atenas (2004), Pequim (2008), Londres (2012), Rio (2016) e Tóquio, que teve a competição adiada de 2020 para agosto deste ano, onde nadou na classe S3, uma das que abrange paratletas com limitação físico-motora. Representando o Ceará e o Nordeste em uma das melhores campanhas da história do Brasil, chegou às finais nos 50m costas, sua especialidade, terminando a disputa em 8º lugar.
O resultado que a deixou fora do pódio, no entanto, não foi uma surpresa para Edênia. Assim como muitos atletas, ela enfrentou dificuldades para se preparar nos meses que antecederam a competição, tanto pelas questões relacionadas ao coronavírus quanto pela evolução da neuropatia. “Nem todo atleta foi para Tóquio e conseguiu superar a pandemia. Engordei 8kg, lutei com a balança, perdi alguns movimentos meses atrás e precisei dar uma parada. Foi frustrante, mas sabia que isso ia acontecer, porque não estava treinando bem”, explica. Devido a uma lesão que dificultou os 50m costas, a paratleta do Time São Paulo decidiu que o melhor para sua saúde era abdicar da prova que ainda tinha por fazer - os 100m livre, onde o nado costas poderia lhe colocar em desvantagem, já que a maioria dos atletas opta por nadar crawl. Era hora de voltar para São Caetano do Sul (SP), onde mora e trabalha, para continuar o tratamento - e, quem sabe, tirar alguns merecidos dias de férias.
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GARCIA Representando o Ceará e o Nordeste, Edênia Garcia chegou às finais nos 50m costas, sua especialidade, terminando a disputa em 8º lugar, na Paralimpíada de Tóquio DIVULGAÇÃO
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ESPORTE DA ARQUIBANCADA PARA AS REDES SOCIAIS Mesmo sem conseguir medalha desta vez, após a final que disputou, Edênia teve ainda mais certeza de que tinha tido grandes conquistas em Tóquio: substituindo o público presencial, impedido de assistir às competições no Japão pelos protocolos contra a Covid-19, milhares de fãs chegaram às suas redes sociais mandando mensagens de apoio e carinho. “Eu fiquei muito acanhada no início porque, como eu estava me preparando para nadar, não estava entrando muito nas redes, e aí quando entrei vi muita gente curtindo, mandando força”, conta. E a emoção foi maior quando percebeu que muitos dos milhares de novos seguidores eram seus conterrâneos - e, às vezes, compartilhavam ainda outras semelhanças. “Acabei conhecendo muitas pessoas de lá, porque antes tinha mais contato apenas com meus familiares. Havia muitas pessoas até com a mesma deficiência que eu, o que formou uma grande rede de apoio. Eu mal conseguia responder as mensagens”, celebra, destacando que quer voltar à terra natal em breve, com o avanço da vacinação contra Covid-19. Hoje, no Instagram, os seguidores cratenses ocupam o segundo lugar no ranking do perfil de Edênia, atrás apenas dos paulistanos. Apesar de ainda não conseguir estar tão presente nas redes quanto gostaria, Garcia salienta que o online tem feito a diferença no mundo do esporte, especialmente para os paratletas. “A força das redes sociais nos dá oportunidades de obter outras fontes de renda através da visibilidade, o que é muito importante. Sem falar de toda a parte positiva de criar uma comunidade e ficar mais próximo de quem admira o nosso trabalho, além de poder informar e educar sobre nossas vivências”, afirma.
5X CAMPEÃ MUNDIAL
Equipe brasileira na Paralimpíadas de Tóquio 2021
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> Hoje, no Instagram (@edeniagarciaoficial), os seguidores cratenses ocupam o segundo lugar no ranking do perfil de Edênia, atrás apenas dos paulistanos
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MEDALHAS EM PARALIMPÍADAS
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MEDALHAS CONQUISTADAS EM PARAPAN-AMERICANOS
SER EXEMPLO, MAS SEM CAPACITISMO Compartilhar as vivências com o objetivo de contribuir com discussões sociais relevantes, aliás, é parte inerente da jornada de Edênia fora das piscinas. Entre outras pautas, a atleta levanta o debate sobre capacitismo - preconceito contra pessoas com deficiência - não só na internet, mas também em palestras, e desconstrói a ideia de que todo paratleta é “herói” ou “exemplo de superação”. “Apelar só para a ‘superação’ é ruim porque ele está se destacando pelo que ele fez, pelo que treinou”, ressalta. Mas ser anticapacitista é, também, reconhecer, acompanhar e enaltecer os grandes feitos das pessoas com deficiência. Edênia afirma que é essencial valorizar o trabalho dos atletas paralímpicos que, muitas vezes com dificuldades, conseguiram ir além do esperado para pessoas com deficiência pela sociedade, do “estereótipo de coitadinho”. “Existe uma superação ali também, mas é preciso ver que existe uma pessoa por trás daquela deficiência e também daquele título. Sim, a gente precisa de exemplos, porque aí uma menina que está no Crato como eu estava hoje pode ver que eu superei o estereótipo e buscar o mesmo caminho, mas não podemos resumir tudo à deficiência, a pessoa vem antes”.
“VOCÊ ESTAR VIVO É UM ATO POLÍTICO” Além dos atletas de alto desempenho, há outro motivo pelo qual os brasileiros devem sentir orgulho dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Assim como nas Olimpíadas, a última campanha teve recorde de atletas LGBTQIA+, marco importantíssimo em um meio ainda conservador, em que frequentemente assumir a orientação sexual ou identidade de gênero pode ser sinônimo de passar por muitas situações de preconceito. Justamente para evitar perpetuar esse cenário, Edênia fala com frequência sobre outra questão que a atravessa: ser uma mulher lésbica. Para ela, a
máxima que supõe que esporte e política não se misturam já foi superada há tempos, e falar sobre sua sexualidade sendo uma figura pública contribui para o futuro de outras atletas. “Eu nunca vou negar quem eu sou. Você estar vivo é um ato político, e resistir é um ato político. O que como, visto, tudo é política. A gente luta por inclusão e não há inclusão sem a diversidade sexual”. A nadadora ressalta que, para além de ser exemplo para meninas e meninos com deficiência, também espera que suas falas e o orgulho de ser quem é possam ajudar jovens LGBTQIA+ que não veem representatividade nos espaços. “A gente precisa disso, ou essas meninas e meninos vão passar muitos anos sofrendo por não ter essa representatividade. Sei disso porque comigo foi assim”.
PLANOS PARA O FUTURO Depois de uma folga merecida junto à namorada, Beatriz Ribeiro, e o cachorrinho, Bento - quando voltou a acompanhar a nova temporada de The L Word, uma de suas séries preferidas - e uma reavaliação médica, Edênia já está de volta às piscinas e se prepara para o que deve ser seu último ciclo paralímpico: os jogos de Paris, em 2024. “Digo possivelmente porque nada é cravado na pedra, né, meu povo?”, brinca em um post recente no Instagram. Mesmo que o foco imediato seja a conquista das próximas medalhas, a paratleta já vislumbra outras possibilidades para o futuro - sempre, é claro, se mantendo próxima do esporte. “Quero muito ir para a área de gestão esportiva, trabalhar dentro do Comitê e contribuir a partir do que o esporte me deu”, afirma. Quando está longe das raias, Edênia já atua como presidente do Conselho Fiscal do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), além de conceder palestras sobre motivação. “Quero contribuir para que [os jovens atletas] sonhem muito, mas que também trabalhem duro para correr através dos seus sonhos. Não é conversa de coach: acontece”. O POVO CARIRI
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POR MONIKE FEITOSA @NIKEFEITOSA
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DRA ANA VALÉRIA BRITO
DRA RENATA FÉRRER
ORGULHO CARIRIENSE
SERTÃO CARIRI É MERGULHAR EM TODOS ESSES UNIVERSOS, PLURAIS E DIVERSOS, EXATAMENTE COMO É O NOSSO CARIRI!
Dia após dia, os médicos e profissionais da saúde se firmam nas suas áreas de atuação, atendem pacientes não só do Cariri, mas o Cariri também se tornou referência para estados vizinhos, como Piauí, Pernambuco e Paraíba. Este ano, nossos profissionais foram convidados para representar a região em eventos nacionais, como o Toxin Experts, que levou a médica dra. Renata Férrer como única dermatologista do Cariri para o evento nacional de 2021. Outro orgulho para região é o reconhecimento “Top Doctor 2020/2021” dado à odontóloga Ana Valéria Brito, por ser a que mais tratou pacientes com a tecnologia invisalign na região do Cariri, e assim, ela recebeu a premiação “Diamond’ pela terceira vez seguida.
Medicina e tecnologia Por falar em saúde, owww terrinha abençoada. Quem chega e encontra nossa rede de clínicas e hospitais sabe que está bem assistido! O maior deles fica em Barbalha e é mantido pela Fundação Otília Correia Saraiva, administradora dos Hospitais do Coração e Santo Antônio, referências para tratamentos cardiovasculares e neurológicos, incluindo UTI Adulta e Pediátrica; que assistem cerca de 45 municípios do interior do Ceará e uma população superior a 2 milhões e meio de habitantes. Até o final do primeiro semestre de 2022, o maior complexo hospitalar do Cariri terá uma área para Medicina Nuclear com o aparelho PetScan, moderno aparelho para diagnóstico de alta precisão e único do interior do Ceará que terá convênio com SUS.
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Especialistas Pioneiros Outra clínica em expansão é a Urorim, em Barbalha. O grupo de urologistas e nefrologistas está na expectativa de marcar a reinauguração ainda para o primeiro trimestre de 2022. Hoje, os médicos que integram a clínica atendem em hospitais da região, bem como levam pacientes do Cariri para tratamentos pioneiros da cirurgia robótica em Salvador. Um orgulho para a região termos especialistas competentes como: Dr. Thales Coutinho e Dr. Thiago Coutinho.
Expansão e solidariedade Aproveitando que estamos falando sobre diagnóstico por imagem, a clínica de referência na região do Cariri é a Medimagem! Conhecida não só pela excelência nos resultados dos exames, atendimento personalizado e rapidez na entrega, a Medimagem também é referência em solidariedade. As suas campanhas de incentivo ao diagnóstico precoce são notícia na imprensa cearense todos os anos. “Só no “outubro rosa”, foram doadas 30 mamografias para mulheres carentes e agora em dezembro, implantamos a ‘Árvore do Bem”, adotando mais de 100 cartas, entre as de idosos de abrigos e de crianças com câncer”, explicou dr. Gustavo Saraíva, um dos sócios-diretores. O grupo comprou recentemente a “São José Imagem”, mais antiga da região, que está em processo de reforma e modernização; a previsão de inauguração da nova unidade deve acontecer até fevereiro do próximo ano.
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VACINAD@S GANHANDO O MUNDO!
A retomada do turismo e dos roteiros de viagens está sendo reaquecida. A localização estratégica ajuda muito, já que nosso Aeroporto Regional, mesmo na pandemia, cresceu 150% no primeiro semestre deste ano com relação ao ano passado. Tanto em embarque e desembarque de passageiros como de carga. Por lá, passou o casal caririense com destino à Europa, a advogada Sâmia Barreto e o empresário Ricardo Miotto. Eles fizeram um
tour por Lisboa, Madrid e o exótico Marrocos. “Em todos os aeroportos foram pedidos os nossos testes de Covid-19 e o passaporte de vacina, assim como museus, bares e restaurantes que conhecemos. Como amamos viajar, na pandemia ficamos contando as horas para pegar o primeiro voo e deu tudo certo, graças a Deus estamos de volta ao Cariri e com saúde, já planejando a viagem 2022 com toda família!”
Marrocos Dica de Marrakech! “Marrocos tem uma arquitetura fantástica! Paredes super trabalhadas, esculpidas… diferente de coisas que costumamos ver. A decoração dos lugares é sempre atraente. Um dos restaurantes que me chamou a atenção foi o Comptoir Darna, em Marrakech. Inclusive, nesse restaurante, comemos um ombro de cordeiro sensacional!!!”, conta Sâmia.
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Dica de Madri!
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“Em Madri me surpreendi com o mercado de San Miguel. Lugar muito frequentado por turistas. Lá você pode comprar a taça de vinho e ir passando de box em box degustando as diversas comidas tradicionais da região. Nesse mercado você encontra tudo da comida local, do salgado ao doce. Perfeito para os amantes de frutos do mar e vinho!”, diz Sâmia.
Uma aventura diferente E quem fica no Cariri também pode aproveitar as belezas naturais com inúmeras trilhas na Chapada do Araripe, como Trilha do Picoto e Belmote, algumas com quedas d’água e mirantes paradisíacos. Joares Júnior, fundador da Sou Mais Adventure, criou o projeto “Sou Mais Saúde”, e uma vez por mês leva cerca de 40 pessoas para uma trilha ecológica, com direito a aula de zumba para aquecer a caminhada e roda de conversa. “Nesses encontros, ninguém paga nada e assim eu consigo estimular as pessoas a deixarem o sedentarismo, além de ser um jeito de fazer o caririense conhecer a própria região”, explica o educador físico. Mais informações: instagram: @soumaisadventure
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CASA BOA DE MORAR
Dica de shopping!
O bom caririense que se preza, de nascimento ou de coração, se orgulha de ser do interior, de morar a mais de 500km “da capital”, Fortaleza, digo assim, porque de certa forma estar em Juazeiro do Norte é estar na “capital do Cariri” também. As riquezas do Cariri vão além do boom imobiliário, onde se constrói e vende imóveis, como uma casa financiada num bairro da periferia por 150 mil reais até apartamento e coberturas que passam dos seis dígitos em condomínios fechados, áreas nobres da região. Para a corretora do Cariri, Susana Lucena, “a procura cresceu mais de 100%, principalmente porque desde que teve o lockdown as pessoas desejaram mudar de casa, e aí foi quando nós mais vendemos imóveis espaçosos! A procura foi tanta que criamos o primeiro festival online de imóveis e em uma semana vendemos mais de 2 milhões entre apartamentos, chácaras e casas [líder de vendas as do Condomínio Cidades Kariris], ou seja, o setor imobiliário não desaqueceu”.
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Juazeiro do Norte também é polo para comércio. Segundo a gerente do La Plaza Shopping, Beatria Libório, o empreendimento que foi inaugurado pouco antes da pandemia surpreende a cada mês com a chegada de novos negócios, como neste semestre a inauguração do Parque Infantil Pakaraka, Hambugueria João’s, sorveteria 50 sabores, JR Conceito Moda Masculina e Padoca Cariri. Localizado no coração do bairro Lagoa Seca, o La Plaza Shopping tem ainda a única franquia da Pizza Hut do Cariri!
Polo do saber Outro “boom” é o polo universitário que não para de atrair alunos, educadores e instituições. A chegada de novos cursos de graduação e a implantação e/ ou expansão das faculdades privadas e públicas é frenética. Os cursos de Turismo e Medicina são os mais novos da Universidade Regional do Cariri (Urca) e devem iniciar em 2022; Já no âmbito privado, o mais novo centro universitário da região, a Unijuazeiro é a antiga Faculdade de Juazeiro do Norte, e agora faz parte do conglomerado do Grupo Ser Educacional e está celebrando o aniversário de 18 anos. Para comemorar a maioridade, a novidade é a implantação do primeiro curso de Publicidade e Propaganda (e eu estarei entre os professores).
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MINHA LISTA
Manú Rodrigues
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# DE PORTEIRAS PARA O BRASIL Manú Rodrigues é natural de Porteiras, no Cariri, e ganhou o coração do Brasil representando o Ceará no The Voice Brasil 2021. Com 27 anos e apaixonada por forró, a cantora entrou para o time de Carlinhos Brown.
#4
TEXTO: GUILHERME CARVALHO
UM SONHO DIVIDIR PALCO COM
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MEU MAIOR SONHO É CANTAR NA EUROPA
#9
<3
O ÁLBUM DA SUA VIDA É:
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MASTRUZ COM LEITE AO VIVO - 1997
3 MÚSICAS QUE NÃO PODEM FALTAR EM SEU SHOW:
SONHO A SER REALIZADO
“DE JANEIRO A JANEIRO” Limão com Mel
Levar a cultura nordestina Brasil afora.
“VERDADEIRO AMOR” Banda Magníficos “RAZÕES” Mastruz com Leite
#3 SUA MAIOR INSPIRAÇÃO NA MÚSICA É
Várias…. Rita de Cássia, Elba Ramalho, Solange Almeida, Mara Pavanelly, Walkyria Santos, Adma Andrade, Lucy Alves, Marília Mendonça.
ALCEU VALENÇA
#5
#2
#10 Instagram da cantora: @manurodriguesoficial
#6 TRABALHO É…
Dedicação, respeito e contribuição
#7 MÚSICA É...
Indispensável. É arte e terapia
#8 FAMÍLIA É... Base e fortaleza.
Em 2022, eu vou... INICIAR NOVOS CICLOS E PROJETOS NA MÚSICA. ALÉM DISSO, CONCLUIR MESTRADO E A GRADUAÇÃO.
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