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Primeiro era preciso tomar a decisão de garantir à data histórica um tratamento editorial do tamanho de sua importância. E ela foi tomada. Depois, fazer uma discussão interna de conteúdo, buscando-se um modelo que, casados texto e arte, fosse capaz de atrair a leitura para um tema já tantas vezes abordado, sob as mais diversas perspectivas. Onde encontrar algo novo a dizer?
O desafio instigante nos fez chegar ao modelo em que o repórter aceita limitar sua intervenção sobre os textos, permitindo uma saudável, e eficientemente administrada, prevalência da primeira pessoa.
A prioridade é ao relato pessoal de quem viveu o ambiente de um front de batalha e hoje ainda está aqui para nos falar sobre o que há de verdade e o que há de mentira. Com a autoridade só permitida pela experiência presencial, em muitos casos.
As histórias valem por elas próprias. Um feliz acaso, até pelo fato de serem poucos os sobreviventes vivendo no Ceará e de nem todos estarem em condições de falar, nos possibilitou encontrar sete personagens e em cada um deles uma abordagem diferente, mas complementar às outras, do que aconteceu naqueles tempos de mundo em ebulição. Uma época em que a guerra não era em tempo real, como na contemporaneidade, outro fator de valorização do conjunto de olhares sobre um mesmo fato que o caderno apresenta.
Espalham-se, página a página, depoimentos diversos entre eles. Divertidos, alguns, inacreditáveis, outros, mas, como ponto comum, todos extraídos de relatos carregados de emoção e reveladores de memórias privilegiadas. De quem assistiu, participou, ajudou a fazer a história.
A sociedade brasileira deve
aos seus “heróis da guerra” um reconhecimento que até hoje não lhes chegou. Era gente que ia à luta disposta a colocar a própria vida em risco para defender um ideal que nem sempre estava claro em suas cabeças, apenas prevalecendo o sentimento de que o País estava em perigo. Abrir espaço para que eles contem suas versões é, mesmo que singela, uma contribuição que se pode oferecer ao resgate cidadão que, de verdade, ainda estamos por fazer. Se, de fato, a faremos.
Até pareceria pouco, não fosse a riqueza do que hoje colocamos à disposição do leitor. Convidoos a verem a II Guerra Mundial na perspectiva de Geraldo, Epaminondas, Cícero, Paulo, Alexandrino, Antonio e Expedito, os olhos e corações que escolhemos para contar, mais uma vez, uma história que precisa ser recontada o quanto for necessário para que nunca mais se repita.
Os alemães estavam tomando vários países, como tomaram a Polônia sem dar um tiro. Era o que a gente sabia no quartel. Os oficiais diziam, né? Aí, bem, quando foi em 40 e pouco, começou a afetar o nosso País. Nesse tempo, não tinha televisão. Era um radiozinho. Isso quem podia. Quem não podia ouvia no rádio dos outros. Fortaleza só era das caixas d’água pra lá. Pra cá, no Montese, tudo era mato.
Itália, Japão e Alemanha. Esses três países formavam o Eixo. Eram unidos para querer tomar o mundo. No mundo, dizem eles também, o Hitler queria uma raça pura. Uma super-raça.
Aí chegou o tempo de a gente ser licenciado no Exército. Sei que tava tudo calmo. Num passou 20 dias, fomos chamados de novo. Disseram: “Tu vai?” “Eu vou”. Eita, agora o pau vai pegar! Seja o que Deus quiser. Fomos para o hospital. Quando chegamos lá, tinha 20 médicos: 10 americanos e 10 brasileiros. Só faltou virar a gente pelo avesso. Oxente, o cara para morrer ainda precisa dessa vigilância danada? Diabo é isso! Nós ficamos no quartel, recebemos nova farda. A farda que nós usávamos não compensava.
Arranjaram um saco para colocar as coisas dentro. Mas rapaz, em vez de dar uma coisinha mais bacana, vai dar um negócio desses? Ficamos um mês e quinze dias esperando embarque.
Vinha o contingente de Manaus, de Belém, do Piauí, do Maranhão. Com o nosso aqui, fazia cinco contingentes. Nós passamos quatro ou cinco dias para chegar a Pernambuco. Quando chegamos, o coronel disse: “Ei turma, nós vamos passar aqui dois ou três dias. O general disse que não desembarcasse ninguém, mas eu vou passar pela ordem do general. Vocês vão ficar na terra, brincando, nada de alteração. Brincando, se divertindo, se despedindo, se vocês me garantirem que não vai faltar nenhum.
Não vão me prejudicar”.
Aí todo mundo gritou. Passamos dois dias e meio. Ninguém num ia nem comer no navio. Chegou o terceiro dia, voltamos. Deu uma confusão danada. Foi preciso o Choque encostar para embarcar nego a força. Não queri-
am embarcar. Aí foi a confusão. “Bora, embarca, deixa de ser covarde, rapaz! Que brasileiros são vocês?”. Os caras se zangavam com a gente. O Choque botando nego para dentro do navio. Botou um bocado, e o navio se afastou mais ou menos, uns 200 metros do cais do porto. Aí, com pouco mais, era só trazendo gente. Nós saímos para o Rio.
Comé que pode, rapaz? A gente nas forças armadas, e a Marinha não acompanha a gente. Se for bombardeado aqui, nós vamos morrer tudo afogado. E diziam que ia torpedear. E fizeram isso com dois navios brasileiros, não foi? Mas nós seguimos. O navio era tão cheio que eu me deitava no convés. Era até bom, porque lá embaixo era muito calor.
Quando chegamos ao Rio, encostou o navio, deu três viagens carregando a turma para o depósito pessoal na vila militar. Passou um mês e poucos dias. Embarcamos mais ou menos em fevereiro de 1945. Aí nós fomos. Cinco horas da manhã, nós demos adeus ao Corcovado e segui-
No dia 1º de setembro de 1939, às 4h45min, o exército alemão comandado por Adolf Hitler lançou forte ofensiva surpresa contra a Polônia, com o principal objetivo de reconquistar seus territórios perdidos na I Guerra Mundial. As tropas alemãs derrotaram o exército polonês em apenas 30 dias.
O uso dos novos blindados motorizados pela Alemanha, batizados de “Tanques Indomáveis”, marcou uma nova tática de combate na Polônia. A eficácia dos ataques colocou em xeque a velha guerra das trincheiras e vitimou pelo menos 200 mil poloneses em um mês de combates.
Neto de ex-escravos, não conheceu pai e mãe. Foi criado por um fazendeiro na cidade de Iguatu (395 km de Fortaleza). Trabalhou na loja de seu padrinho, empregado num sistema semiescravista, proibido de tomar leite. Foi a Fortaleza como alternativa para escapar das torturas e mal-tratos do ex- patrão. Apenas como o ensino médio, sem perspectiva de emprego, alistou-se no Exército.
Quando voltou da Itália, por ser ex-reservista, foi confundido, algu- mas vezes como criminoso. Sem emprego fixo, viveu por quase um ano com trabalhos esporádicos e informais. Passou para a Polícia Militar, onde se aposentou. Na PM, teve a oportunidade de enfrentar a “III Guerra Mundial”: no Interior do Ceará, duelou com cangaceiros e pistoleiros. Nas batalhas, sentiu a morte bem próxima. Muito mais arriscado do que a guerra, diz.
Foi o principal ataque sofrido pelos Estados Unidos na América do Norte. A base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, foi bombardeada pelo Japão em dezembro de 1941. Morreram 2.403 militares e 68 civis, mas os porta-aviões não foram atingidos. Acabou sendo o estopim para a entrada dos EUA na guerra.
Sob a doutrina racista do III Reich, cerca de 7,5 milhões de pessoas morreram em campos de concentração na Europa. Na 2ª Guerra Mundial, estima-se que entre 5,1 e 6 milhões de judeus tenham sido mortos, o que representava cerca de 60% da população judaica na Europa. Também foram mortos homossexuais, ciganos e eslavos.
s nazistas haviam espalhado um boato pela Itália. Do outro lado do oceano, em um outro mundo, existiam canibais negros que comiam gente, principalmente as criancinhas. Paulo Albano de Lima chegou à cidade de Nápoles (sul da Itália) em agosto de 1944. Na memória dele, cristalizou-se a imagem da miséria. “As italianas, no começo, gritavam: ‘Brasiliano, per favore, non mangiare. Per favore, non mangiare mio bambino’. Mas foi apenas no começo. Elas viram que era mentira. Nós chegamos e conquistamos aquelas cidades”. É a primeira lembrança que guarda de quando pisou no chão estrangeiro.
Após 14 dias de travessia pelo Atlântico, Paulo desembarcou junto com a tripulação do segundo escalão. Miséria também marcava presença entre os tripulantes. Os soldados vinham
basicamente com a roupa do corpo. Em solo, cada um recebeu, da tropa norte-americana, um fardamento novo - de lã para aguentar o frio - e os armamentos. “Depois a gente ia para o depósito, para receber instrução de bala real mesmo”. Comida quente, com direito a feijão, apenas uma vez por mês. “O resto era ração fria”, sublinha. Bastava uma bituca de cigarro cair ao chão e mais um conflito se firmava. Os italianos disputavam a tapa os restos de nicotina deixados em qualquer coxia da rua. Uma carteira de cigarro, ressalta Paulo, custava cerca de mil liras, preço inacessível para a maioria da população.
Em troca de comida, os italianos ofereciam suas mulheres e suas filhas aos soldados. “Algumas não tinham nem seios formados. Chegavam naquelas fazendas, o pai e mãe diziam: ‘Podem escolher quem quiser e levar para cama’. Eu conheci mulher, mas não desse jeito. Era triste. A tris-
Porém,
teza maior do mundo é um país ocupado por outro. A população sofre muito”. Diante daquele cenário, Paulo Albano guardava a certeza de que sua vida estava entregue ao destino. “Minha sorte era aquela, né? Se eu nasci para morrer fora do Brasil, no Exterior, que seja! Se não, eu volto. E eu voltei”, comemora.
O confronto, os tiros, a batalha ainda estavam por vir. O clima de tensão permaneceu por quase todos os nove meses em que esteve na Europa. A batalha inesquecível foi a de Monte Castello. “Nós fomos e fizemos o nosso trabalho. Fizemos uma frente muito forte. Nós ganhamos. Os alemães diziam que o exército que tirasse eles do Monte Castello poderia se considerar o melhor exército do mundo”, gaba-se.
O regimento de guerra, conta o ex-combatente, possuía três linhas de frente. “Quando a primeira estava fracassando, a segunda assumia o lugar. Aí depois vinha a terceiro, assim eu ia. A voz dava o comando e começava o fogo a suceder”.
Na hora do combate, antes de entrar, o medo, claro, surgia. Paulo muniu-se de sua arma favorita e seguiu. A metralhadora “cuspia muita bala em um segundo”. Era bomba, era bala para todos. “Agora, depois que a gente tá no fogo é mesmo que um salão de jogos. Pelo menos para mim, não posso dizer pelos outros, é como se fosse uma brincadeira”.
Na hora do combate, no con-
fronto de fogo, a sensibilidade e a emoção chegam próximo de zero. Os soldados possuem apenas uma determinação: “Se o inimigo tá daquele lado, se ele, de lá, buliu, vai atirando, é bala! Depois, eu não sei se fui eu ou foi outro que atingiu o inimigo. Faz parte. Tem que passar por cima de cadáver, gente ferida, seguir em frente”, rememora. O conflito acirrava-se ainda mais diante de “um frio muito medonho, com gelo em cima da gente”. Os companheiros feridos ou os corpos alheios não eram de responsabilidade dos combatentes. Depois do fogo cerrado, entrava em ação o pelotão de enfermagem, para acudir os feridos. Feita a primeira limpeza, acionava-se o pelotão de sepultamento. Recolhia braços, pernas, restos mortais.
“Não existia amizade. Morrer no combate era uma coisa natural. Muitos me chamam de herói. Heróis foram aqueles que morreram por nós. Lá, era assim, morreu, morreu. Cabou-se e pronto. Os feridos ainda ficavam na esperança de socorrer”. Um combatente, diante da dor dos outros, pouco podia fazer. “Talvez, se tivesse um pano branco por ali, a gente pega o fuzil dele enfiava no chão e botava o pano, para os outros saberem que ali tinha gente ferida. Se tinha munição, você podia levar. O negócio era um terreno sem dono. Quando um vai fracassando, vai recuando. Quem ganha toma terreno. Terminava um combate e já tinha outro na frente”. Mas para o próximo, precisaria convocar mais soldados de reserva.
Na década de 40, trabalhava como eletricista, consertava principalmente muita bomba de geladeira e alguns motores velhos. “Naquela época, tinha muito trabalho”. Antes de ir para Itália, morava com a mãe. O pai já havia falecido. O medo materno de perder o filho não o impediu de partir. A namorada ficou, mas logo seguiu para a Amazônia. Trabalhou no extrato de seringa e, lá, arranjou outro marido.
Mora na Aerolândia. No regresso, por causa da baixa remuneração, não quis seguir carreira militar. Optou pela vida civil, mas por ser ex-combatente, ganhou a remuneração da reforma para cabo e a pensão de segundo tenente. “Naquela época, um militar ganhava uma mixaria. Era uma besteirinha.
Eu saí fora. Disseram: ‘Fique na farda, faça uma curso oficial’. ‘Não, não quero mais farda, já chega’”.
Geraldo de Oliveira nunca
do seu aniversário de 22 anos. No dia 22 de fevereiro de 1945, em vez de bolo, o seu presente foi de pisar, pela primeira vez, numa cidade sitiada. Escalado no quinto escalão, Geraldo não tinha nenhum motivo para comemorar. “Eu vi muita coisa lá. Coisas terríveis. A guerra é a pior palavra no dicionário. E eu presenciei, senti e vi”.
Apesar da lembrança lamentável, Geraldo se considera um cara de sorte. Após se sensibilizar com uma convocação na rádio, quando ainda adolescente, ele se apresentou voluntariamente ao Exército. Quando chegou a vez de partir de verdade, o medo bateu. “Sinceramente, antes de embarcar no navio, eu estava com muito medo. Meu pai colocou a mão no meu ombro e disse: ‘Meu filho, você vai, mas volta’. Aquilo ali me deu a força. Eu fiquei com aquilo na cuca”, conta.
Até hoje, Geraldo considera “mágicas” as palavras paternas. Mas o medo de enfrentar a guerra permaneceu consigo durante os poucos meses em que esteve no Velho Continente. Quando o navio atracou, e ele olhou para fora, engessaram-se as pernas. “Não tive coragem. Queria me esconder para dentro do navio. Mas não, um tenente me empurrou e eu caí de costa no chão italiano. Lá dentro, senti aquele clamor do povo italiano, batendo palma para a gente, mas todos desnutridos”.
Naquele país, ele permane-
ceu no Exército de reserva. Era chamado quando precisava repor equipes. Para ele, todos os seus colegas, assim como o próprio, ao estarem ali, poderiam pagar com a vida a liberdade da pátria. “Defendemos o Brasil com suor, sangue e lágrima”. Mas, nas três vezes em que foi convocado, aconteceram imprevistos que o impediram de seguir para a batalha. As palavras do pai, em breve, se concretizariam.
Primeiro: momentos antes da chamada, perdeu o gatilho do fuzil. Depois, chegou atrasado dois minutos e não pôde acompanhar a tropa. O seu substituto não voltou. O corpo foi enterrado em Pistoia, cemitério onde jazem os pracinhas brasileiros. Na terceira convocação, passou mal e precisou ser levado à enfermaria. “Eu fui predestinado a voltar. Eu não fui para ficar lá com as balas no peito”, acredita.
Na reserva, a rotina guerreira distingue-se um pouco da dos demais. Embora as imagens depositadas na memória pouco mudem. Enquanto não estava em batalha, Geraldo recebia treinamento intensivo. “De manhã e de tarde. Diariamente, sem intervalo, mas o nosso adestramento era dado por nossos superiores. E na realidade, eles não ti-
ci o e enffer er i p prerededess r. r E Eu u nã não o lá á co com m as a acrcrededit i a. a a, , a ro a d dis i ti tinn pooucuco o da Em Embobora a depepoosittaa ria ia p pououco co ua uantnto o nã não o alhha, a G Gee a tr t ei eina na sivivo. o “De De tararde d Di m i int n er erva va ss sso o ad ades es dadado o po por r oreres. s E n na a s nã ã ti i n o
nham conhecimento de guerra. Eles iam como nós, como soldados mesmo”.
Não havia lembrança do pai que livrasse Geraldo do medo. Não era o único. Os superiores procuravam escapar a qualquer custo. “Olha, existia um pacto que ninguém atirava em ambulância. Pois acredita que muitos generais se escondiam dentro das ambulâncias?”
De coragem mesmo era Castelo Branco. “Ele até me convocou para a companhia dele, mas devo admitir: não tive coragem. Tomei conhecimento na mesma semana que quatro foram e não voltaram. Fiquei apavorado. O Brasil não estava preparado para a guerra, mas
se preparou em pouco tempo. Dada a nossa ingenuidade, nós conseguimos vencer a guerra. Não existia estratégia. Você recebia uma missão para ir em tal parte e fazia o percurso”.
Quando Mussolini foi fuzilado, no entanto, tomou uma dose de bravura e decidiu ir ao “evento”. “Peguei uma máquina emprestada e fui lá com muita dificuldade. Cheguei atrasado uma hora. Não vi o corpo, mas vi o moscaral onde estava pendurado o corpo dele”. Mesmo sem ter participado de nenhuma batalha, sem ter enfrentado a sensação de seus perigos, ir para
Estudante secundarista. Estava indo ao colégio, quando ouviu na rádio, os jornalistas João Dummar e Assis Chateaubriand convocarem os filhos da pátria para defender o Brasil. “Tinha um navio que havia sido torpedeado. Deixei de ir para o colégio e segui para o quartel”. Chegou ao quartel e, devido ao porte, foi logo convocado. “Pus em risco a minha vida pela liberdade da pátria. A vida é mesmo uma balança”.
Seguiu carreira militar. Foi para Belém, onde completou os estudos. Voltou para o Ceará e trabalhou nos Correios, por onde se aposentou. Aposentou-se também como segundo tenente do exército, por ter participado da II Guerra Mundial. Nos últimos 20 anos, trabalha como corretor de imóveis, função ainda hoje exercida. “Se não tiver alguém para defender o Brasil, em breve, será uma nova colônia”.
Operação militar conduzida pelos alemães contra as forças russas pela posse da cidade de Stalingrado, na União Soviética. É a maior e mais sangrenta batalha da história, com cerca de 1,5 milhão de mortos e feridos. Ocorreu entre julho de 1942 e fevereiro de 1943. É um dos marcos da derrocada alemã.
A rendição da Itália já era esperada desde julho de 1943, quando a família real italiana defenestrou Benito Mussolini (foto) e apontou o marechal Pietro Badoglio para o cargo de primeiro-ministro das forças peninsulares. A rendição só foi oficializada no dia 3 de setembro, quando o País abandonou o pacto com a Alemanha.
Numa certa manhã de 1944, um fogo estranho chamou a atenção do então pracinha Antônio Soares de Souza, no alojamento do 1º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira (FEB), na Itália. Não eram ataques inimigos, nem simulações da tropa do famoso Regimento Sampaio, como ficou conhecida a divisão de Infantaria do Brasil. O que estava alimentando as chamas eram os cigarros brasileiros enviados para os combatentes. “O Brasil mandou uns ‘cigarros réi’ daqui, cigarro ‘véi’ vagabundo. Aí os americanos queimaram”.
O fumo era uma das principais distrações para quem estava nas trincheiras e nos acampamentos, sem família, sem rádio, sem diversão. Mas, apesar de todo o aperto, não era qualquer rolo com nicotina que agrada-
va aos soldados, não. “Todo dia a gente recebia uma carteira de cigarro e uma caixa de fósforos. Era para todo mundo. Mas ali era cigarro bom, americano!”, brinca o ex-combatente. O chiclete “bom” também tinha de ser americano.
As risadas do ex-combatente ao relatar o episódio contrastam com o cotidiano citado por ele, como “sempre triste”. “A gente não tinha prazer de estar ali. Era aquela tristeza no coração. Tinha a impressão que ia morrer”, conta.
Diante da escassez de divertimentos, qualquer boa lembrança de um momento tão marcante e triste da história é preferível a lembrar e relatar as trágicas mortes que presenciou. Muda de assunto, emudece... Mas não fala sobre quem morreu ao seu lado. A memória é seletiva: faz questão de lembrar com clareza apenas do que o interessa - ou seja, situações inusitadas, narradas como contos literários. Uma de suas comemorações é ter sobrevivido. “Pensei chegar a essa idade toda não”.
Nos sete meses que passou na Itália, o então soldado Antônio, hoje com 88 anos, lembra dos buracos da trincheira, dos pequenos cochilos no chão, coberto com cinco mantas, da comida de conserva e das cartas escritas pelos parentes que
nunca chegavam. “As cartas passavam pela censura. Eram todas abertas. As que eu mandei de lá para cá, eles receberam. Mas eu não recebi as que tinham perguntas, como estava, quantas pessoas morreram...”, lamenta.
A falta de informações da família fez, inclusive, alguns combatentes buscarem suprir suas carências na Itália. “Uns arrumaram foi namorada italiana. Mesmo na época da guerra”. Ele próprio, no entanto, garante não ter se envolvido com ninguém além-mar. No canto da sala, dona Luiza, a esposa, acompanhava a conversa. “Mas teve brasileiro que deixou filho lá. O Gaúcho, por exemplo, deixou filha lá e ela veio conhecer ele aqui no Brasil”. Para os flertes, muitos arriscaram ensaiar a língua italiana “remendada”.
Antes de ir para a Itália, a chegada do cearense ao Rio de Janeiro rendeu o “aperto de mão” do então presidente Getúlio Vargas. Além das famosas cantoras da época, que faziam a alegria dos soldados. “A Carmen Miranda fez foi show para a gente lá. Era uma mulherona, alta...”, disse Antônio, sobre a cantora de 1,54m de altura.
No dia 8 de maio de 1945, a notícia de que a guerra chegara ao fim trouxe novo ânimo ao coração do jovem, que estava entre os 30 homens que saíram do município cearense de Itapipoca. “Foi uma festa medonha.”
Os capacetes utilizados pelos brasileiros na guerra eram de fabricação norteamericana e feitos de aço puro. Mas não eram capazes de deter tiros de fuzil, por exemplo. Em destaque, um capacete destruído por estilhaços de granada que mataram um combatente brasileiro em campos de batalha
Antônio Soares de Souza era agricultor no distrito de Assunção, no Município de Itapipoca, a 138 quilômetros de Fortaleza. A notícia de que iria participar da II Guerra Mundial foi uma triste surpresa para o jovem, na época, com 21 anos. “Fiquei triste porque era todo tempo morrendo gente. O jornal dando, a imprensa, a rádio dando notícia de que morreram tantos soldados. Mas eu, graças a Deus, consegui”.
Na bagagem de volta, nada de recordações de mortos ou feridos - que Antônio fez questão de “esquecer”. Ao invés disso, do período em que permaneceu na Itália, lamenta, sim, a visita que não fez ao papa Pio XII. “Os americanos foram para o Vaticano ver o papa. Mas, na semana que eu ia, chegaram as embarcações para voltar para o Brasil. Na minha vez de ir, tive que vir para casa”.
Antônio voltou a ser agricultor em Itapipoca e casou com Luiza de Souza em 1950. Teve cinco filhos com ela e preferiu se afastar do Exército, mas participa da Associação dos Ex-combatentes. Depois de alguns anos foi para Fortaleza, onde se estabeleceu trabalhando no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Hoje aposentado, mora desde 1969 na Messejana.
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O Brasil mandou uns ‘cigarros réi’ daqui, cigarro ‘véi’ vagabundo”
“Os americanos foram para o Vaticano ver o Papa. Na minha vez de ir, vim para casa”Acervo
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medalhas e homenagens
Pode ser considerado como o “começo do fim” da II Guerra Mundial. No dia 6 de junho de 1944, mais de 155 mil homens dos exércitos dos Estados Unidos, GrãBretanha e Canadá invadiram as praias da Normandia, na França, dando início à libertação europeia do domínio nazista. A batalha deixou 132 mil mortos.
A Batalha de Iwo Jima (Operação Detachment) foi travada entre os Estados Unidos e o Japão entre fevereiro e março de 1945. Como resultado da batalha, os EUA ganharam controle da ilha de Iwo Jima e os campos aéreos localizados no local. Mesmo com a vitória, as tropas norteamericanas perderam 6,8 mil homens nos combates.
Não foi para a Europa na condição de voluntário. Era profissional do Exército, cursou a escola militar. Recebeu a indicação de que ia para guerra quando foi apresentar um regimento em São Paulo, durante uma competição esportiva. Ficou no posto de comunicação da Força Expedicionária Brasileira. Partiu para Itália no primeiro escalão das tropas brasileiras.
Aposentou-se como coronel, após 30 anos de serviço militar. Assu- miu, ao longo de sua trajetória, o cargo de diretor regional do De- partamento Nacional de Teleco- municação. Foi responsável pela fundação da Associação dos Ofici- ais da Reserva e também da As- sociação dos Ex-alunos do Colé- gio Militar. Hoje, profere palestras sobre a II Guerra Mundial.
Alexandrino Lima não voltou naquele dia e deixou sua esposa sem entender o seu sumiço por uma semana. A primeira operação dos brasileiros na II Guerra Mundial precisou de sigilo máximo. A turma de cinco mil militares, componentes do primeiro escalão, partiu para a Europa sem sequer se despedir da família. “O deslocamento do Ceará para o Rio de Janeiro foi feito de trem, com as janelas todas fechadas, as luzes apagadas, no mais absoluto sigilo”, comenta. Sua esposa só teve notícias suas graças ao cunhado, que lhe desvendou o sumiço do marido. Alexandrino, já instalado na Europa, demorou cerca de quatro meses para receber a primeira correspondência. “Estava dependendo da instalação dos correios em Recife (PE). Houve uma demora e a correspondência era feita em códigos, para não comprometer a tropa”.
Além dos códigos, havia a censura, com cortes de palavras indevidas. A partida silenciosa dos brasileiros estava subordinada ao 5º exército norte-americano. No barco, partiram brasileiros e alguns estadunidenses. A tripulação americana era marcada pela imensa desigualdade étnica. Negros e brancos, mesmo soldados, não se misturavam. “Como é possível defender uma democracia levando esse preconceito racial?”, questiona.
Alexandrino teve o privilégio de não precisar entrar em combate. Estava no posto de comunicação. Sua função era fazer circular as ordens entre os soldados. Cada batalhão tinha seu posto de comando com as informações. O telefone ia estendido a fio pela estrada. O mensageiro, a pé ou de viatura, levava as mensagens
aos soldados. “Você me pergunta: matou alguém? Diretamente, não. Mas devo ter matado muita gente, indiretamente”.
Apesar do posto, não escapou de alguns perigos. “Fui montar um fio telefônico, numa ponte que só dava passagem para uma viatura de cada vez. Estava dando muito acidente. Quando eu cheguei numa ponta da ponte, com a telefonia, começou um bombardeio. Eu entrei no mar e só escuto aquele barulhinho de gente afogada. Aí, eu senti meu batismo de fogo”.
Uma das principais dificuldades iniciais do Exército brasileiro, segundo Alexandrino, era a de adaptar as posturas e estruturas militares brasileiras às normas postas pelos Estados Unidos.
Os norte-americanos, lembra Alexandrinho, primavam principalmente pela excelência técnica. “Todos os pelotões eram motorizados. Tudo era motorizado. A seleção de saúde bloqueou muita gente. Tinha gente que pegava doenças venéreas com o propósito de ficar livre. Houve também uma preparação psicológica”.
A tecnologia utilizada pelas tropas da América do Norte era muito mais avançada que a dos militares brasileiros. “Precisei refazer o meu curso, para poder me adaptar ao material. Até o armamento precisou mudar. Não pudemos levar nosso fuzil, tivemos de ser armado lá, para poder padronizar a munição. A nossa estrutura era francesa. Tivemos de nos transformar em americanos. Os manuais eram em inglês. Tinham poucos traduzidos. Foi uma dificuldade. Nos preparamos aos trancos e barrancos”.
(Tiago Coutinho)
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Participou de toda a guerra, sem precisar pisar na Itália.
O Brasil não havia ainda começado a enviar tropas para a Europa, mas a dúvida se entra ou não na guerra existia desde 1942. Epaminondas da Nóbrega trabalhava numa empresa de algodão quando contou para a família o desejo de ir para guerra. A mãe não gostou, mas não se opôs. Ele, o irmão e o seu melhor amigo seguiram para o exército. Epaminondas, enquanto estava no treinamento na Paraíba, não gostava nem de escutar histórias sobre a guerra, mas, caso convocado, iria e não demonstraria medo. O irmão e o amigo partiram para Itália e não voltaram. Ele ficou entre os pracinhas, designados para proteger o litoral nordestino e impedir qualquer invasão alemã.
A memória, por vezes considerada debilitada, o surpreende depois dos primeiros 10 minutos de conversa. “Eu não sei como
eu estou conseguindo conversar com você. Eu não lembro das coisas da guerra. Meu filho, aqui são 92 anos, não são 80”. Com 92 anos, Epaminondas não conseguiu esquecer o começo da história. “Acontece o seguinte: o País convocou a classe (dos reservistas) de 1916 a 23 (ano de nascimento). Aí eu tive que me apresentar. Se você fosse reservista de primeira e de segunda categoria e não se apresentasse, seria considerado desertor. Ia para o conselho de guerra. Na hora em que eu fui chamado, eu me apresentei”. Era a primeira peça do quebracabeça. Aos poucos, os episódios soltos e as palavras quebradas se juntavam, e a narrativa ganhava consistência.
“Eu queria ir para Itália, mas não chegou a minha vez”. O litoral nordestino seria ponto estratégico para um possível ataque das tropas do Eixo. Muitos convocados pelo exército preci-
Os ataques sofridos por navios brasileiros foram noticiados pela Ceará Rádio Clube e revoltou os fortalezenses. Em 18 de agosto de 42, o dia do “Quebra-Quebra”, estabelecimentos comerciais de origens alemãs e italianas foram depredados. Entre eles, a Casa Veneza e a loja A Pernambucana, que acabou incendiada (foto).
Em êxtase, uma multidão invadiu as ruas no dia 8 de maio de 1945 para celebrar a queda do Reich. Cidades americanas, britânicas, francesas e soviéticas foram tomadas por populares embriagados de alegria. Mas o primeiro-ministro da Inglaterra, Winston Churchill, alertava que ainda faltava bater mais um inimigo: o Japão.
Tinha 20 anos quando foi convocado para se apresentar ao Exército. Em Campina Grande (PB), cidade onde nasceu, trabalhava como classificador de algodão, na empresa estadunidense Anderson Clayton. Foi dispensado do trabalho para poder se dedicar ao treinamento de guerra. Era solteiro, morava com a mãe e as irmãs.
saram proteger as terras brasileiras. Mesmo sem ir à guerra, os que ficaram “em casa” receberam treinamento tal qual um combatente. Isolado da família, reservado no quartel, Epaminondas recebia a permissão de visitar os familiares, sem poder revelar estratégias da guerrilha. Passava dois dias em Campina Grande. “Eles me perguntavam sobre os treinamentos, mas eu não podia dizer. Era proibido. Poderia entrar no conselho de guerra”. Em sigilo, os soldados embiocavam no meio dos matos para provocar simulações de batalha. “Na mata, não tinha iluminação, era munida de lamparina. Eletricidade, só no quartel. Em cada barraca, cabiam dois homens. Soldado em treinamento não preparava comida. E o treinamento era com tiro real. Não era festim”, ressalta. Deu pra sentir o clima da guerra. A dimensão aumentou, no entanto, quando deu o primeiro tiro de metralhadora. “A sensação não foi pequena. Você estar pegando a metralhadora... Tinha o giro, o ponto fixo, o atirador... Atirava no treinamento, para poder mirar. Havia o local certo. Eu era atirador. Eu gostava de atirar”. Depois do treinamento, hora de partir para a batalha. Com as barracas armadas no litoral, principalmente em Fernando de Noronha e Natal, as equipes ficavam em posição de guerra, observando qualquer comportamento suspeito. “Se chegasse algum submarino alemão, a ordem era atirar! Eles não podiam ficar no litoral. Se eles desembarcassem, a ordem era proteger a cidade. Não podia deixar os alemães dominarem a cidade. Aquelas praias eram muito visadas. A guerra é uma coisa, meu filho. Só com o treinamento, dava mais ou menos para saber. Ali não entrava ninguém. Fosse na mata ou na praia, era sempre com a metralhadora em mãos”. (Tiago Coutinho)
tiros por minutos. Era a velocidade de disparo que a metralhadora, conduzida por Epaminondas, conseguia atingir durante a guerra.
Depois da guerra, voltou a trabalhar com a profissão de classificador de algodão. Na década de 70, a convite de uma outra empresa, foi morar no Ceará, para coordenar o processo de algodão na colheita para a pluma. Aqui, durante 13 anos, viveu em Itapajé (142 km de Fortaleza), até se mudar para Fortaleza. Mora hoje com a esposa e o filho no Montese.
“Eu queria ir para Itália, mas não chegou a minha vez”
Eu não sei como eu estou conseguindo conversar com você. Meu filho, aqui são 92 anos, não são 80.
Na mata, não tinha iluminação, era munida de lamparina. E o treinamento era com tiro real. Não era festimpa Epa e gue d
O Japão, último País do Eixo a assinar a rendição, sofreu um forte ataque dos EUA, que despejou bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagazaki (6 e 9 de agosto). A ação, julgada desnecessária até pelos aliados, deixou mais de 200 mil mortos.
As cidades sofrem até hoje as consequências do ataque.
Setenta anos após o fim dos combates, não existe um número exato sobre a quantidade de militares e civis mortos. Porém, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas morreram em todo o planeta. Foram mobilizados cerca de 100 milhões de militares. Na Europa, pelo menos 11 milhões de pessoas terminaram a guerra como refugiados.
Terceiro Jorge
dias de treinamento pelos quais Expedito Terceiro Jorge precisou passar logo após sua chegada à Itália, em 1945
soube do início de uma guerra na Europa numa noite de setembro de 1939. Morava em Catunda (216 km de Fortaleza). Na época, o hoje Município ainda era distrito de Santa Quitéria. Seus conterrâneos só recebiam informações sobre o Brasil e o mundo depois de o sol se por, quando havia eletricidade e podia-se ouvir rádio. As famílias se juntavam em praça pública para ouvir as frequências sonoras. Era a diversão existente.
Quando escutou sobre a guerra, ainda menino de 15 anos, sonhou alto e disse à mãe que a guerra só iria acabar depois que ele fosse lá para a Europa dar seu ponto final. Era de brincadeira; mas, lembrando o pensa-
mento do publicitário nazista Joseph Goebbels, uma história de tanto se repetir acaba se tornando realidade. Com Expedito, a projeção de participar da guerra virou realidade.
O conflito já tinha explodido há três anos. No intervalo, Expedito, filho de agricultor, trabalhava na enxada e conseguiu concluir os estudos primários. “Não tinha mais condições de continuar os estudos. Meu horizonte, naquela cidade, morreu. Eu tinha que sair de lá de qualquer jeito”. A opção era seguir para Fortaleza, a Capital. Os familiares permitiram que ele fosse embora. “Cheguei aqui. Uma tia minha, que era muito boa comigo, me acolheu, mas eu olhei para um lado, para
eu não era. Eu não tinha profissão nenhuma. Meu projeto era estudar. Meu grande teste foi entrar no exército”, relembra.
Não demorou oito meses de sua chegada a Fortaleza, estava na Itália. Partiu no quinto escalão - o último dos brasileiros a seguir para a Europa. Mas não foi tão simples assim. Quando houve a convocação, na ultima hora, Expedito sobrou. “Imediatamente falei com o comandante. Se houvesse alguma vaga, me colocasse em primeiro lugar. Duas horas depois, chamaram dois soldados. E eu fui”. Quando chegou lá, depois de 14 dias de viagem, a batalha de Monte Castello terminara um dia antes. “Cheguei no dia 22 de fevereiro, os soldados todos alegres e já aliviados. O perigoso era o Monte Castello, onde morreu muita gente. A guerra já estava quase ganha. E realmente fui para a Europa terminá-la”. Mesmo assim, não teve moleza. Estavam previstas mais duas batalhas: Montese e Zocca. Expedito recebeu instrução de guerrilheiro por seis semanas. “Eu fiquei no trei-
treinamento. Não recebeu nenhuma convocação de batalha. Ficou no depósito pessoal. No quartel, estava em linha de frente. Ficava sempre acampado em barraca, preparado para a qualquer momento agir, mas em uma situação sem muitos perigos. Sem precisar ir aos combates e sendo um dos poucos com instrução, ele acabou por ganhar uma nova atribuição: escrevia e lia cartas. “A maioria dos ex-combatentes era analfabeto de pai e mãe. Chegava pra mim e dizia: ‘Responde a essa carta’. Alguns tinham namoradas, mas muitos eram familiares. Eu já tinha a fórmula pronta. Era só mudar o nome”.
Nas missivas, não se podia falar em ferimentos, precisava sempre dizer que “estava tudo bem”. As cartas demoravam cerca de três ou quatro meses para serem respondidas. Mal deu tempo receber muitas respostas. “Foi curto meu período na guerra. Cheguei lá no dia 22 de fevereiro, e a guerra terminou no dia 8 de maio.
Só deu tempo acabar a guerra, mesmo”, brinca. (Tiago Coutinho)
Nasceu em Catunda (216 km de Fortaleza). Na época, o lugarejo ainda era distrito de Santa Quitéria. Após concluir o correspondente, hoje, ao Ensino Fundamental, viajou para Fortaleza para dar continuidade aos estudos. Não conseguiu emprego que permitisse conciliar trabalho e estudo. A solução foi o Exército. Com menos de oito meses de estada na Capital, partia para guerra.
Depois que voltou da guerra, com o dinheiro ganho, estabeleceu uma mercearia. O negócio, porém, não prosperou e ele decidiu estudar novamente. Em 1949, concluiu o ginasial no Liceu do Ceará. Em 1952, retornou à escola como professor de Matemática. Trabalhou também na Faculdade Católica, do antigo Colégio Cearense e no colégio da Polícia Militar, onde se aposentou.
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DOMINGO02 DE SETEMBRO DE 2009