Bianka Silva, Lucas Gomes Gonçalves, Wesley Militão Fernandes Mendes, Marcio Renan de Souza Gonçalves
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PALCO VIDA&ARTE
Analista de Operações: Alexandra
Editora de conteúdo do caderno: Paula
Letícia do Vale, Lucas Casemiro e Paula Lima | Design: Natasha Lima
índice Palco para a literatura
Promover atividades de valorização, formação, qualificação, ampliação e democratização da cultura cearense é o desejo primordial do projeto Palco Vida & Arte. Com coordenação geral de Valéria Xavier, a iniciativa entende a arte como vetor fundamental para o desenvolvimento social e humano.
Nesta quinta edição, o “Palco Vida & Arte: Letras e Livros” coloca a literatura cearense sob os holofotes e celebra os escritores do Estado com a realização de uma série de lives e programas de TV sobre a produção literária cearense e os desafios do setor. Além disso, está sendo promovido o I Prêmio Literário Demócrito Rocha, com o objetivo de valorizar a produção de obras temáticas sobre a cultura do Ceará.
“Entendo o Palco Vida & Arte como uma relevante plataforma para a valorização e promoção de artistas cearenses, tanto de artistas já consolidados quanto de talentos emergentes. À medida que valoriza e dá visibilidade à diversidade e à riqueza das expressões artísticas regionais, o projeto contribui para o fortalecimento da identidade cultural do Estado”, avalia Valéria.
Sempre fomentando a cultura ao longo dos anos, o projeto já realizou shows, mostras de fotografia, visitas guiadas em museus, contações de história, concurso de artes visuais e integração da população com áreas verdes de Fortaleza.
Agora com foco na literatura cearense, a coordenadora geral do Palco Vida & Arte aponta a cena local rica, diversificada e cheia de grandes escritores e obras marcantes. Para Valéria, a literatura contemporânea do Ceará vive um momento excelente, com autores ganhado cada vez mais destaque nacional.
“o palco vida&arte contribui para o fortalecimento da identidade cultural do Estado”
Internacional de Paraty (Flip). Outros destaques são Mailson Furtado, vencedor do Prêmio Jabuti 2018, e Stênio Gardel, vencedor do National Book Awards, dos EUA. Somos berço de José de Alencar, Rachel de Queiroz e Patativa do Assaré, então, abrir espaço no Palco Vida&Arte para autores cearenses é uma alegria imensa”, destaca.
Nesse sentido, as premiações do Palco Vida & Arte incentivam a excelência artística ao reconhecer o talento e o esforço dos participantes. Motivando os artistas e atraindo a atenção de empresários do setor cultural e do público em geral, o projeto desempenha um papel crucial na formação de plateias e no acesso à cultura, além de colaborar para o desenvolvimento sustentável do setor cultural cearense.
A tradição e o novo poesia cearense prosa de ficção
ensaio social caminhos da escrita criativa como formar um leitor
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“Um exemplo é a Socorro Acioli que, em 2023, emplacou o livro mais vendido da mais importante feira literária do País, a Festa Literária
“O que pudemos constatar nas obras inscritas no I Prêmio Literário Demócrito Rocha é o grande momento que vive a literatura do Ceará e a maturidade de seus autores. As obras vencedoras nos convidam a uma jornada por várias facetas da cultura cearense. Convidamos os leitores a mergulharem nesse universo junto conosco”, propõe Valéria.
a literatura é um bom negócio?
tradição e o novo
Primeira edição do Prêmio Literário
Demócrito Rocha celebra as narrativas nordestinas, quilombolas, indígenas e ciganas e utiliza a literatura como resistência popular
Texto: Letícia do Vale leticiadovale@opovodigital.com
Concebido para contemplar a cultura popular cearense dentro da literatura e valorizar as vozes desse povo, o Prêmio Literário
Demócrito Rocha estreia sua primeira edição. O concurso tem curadoria e organização das Edições Demócrito Rocha (EDR), selo editorial da Fundação Demócrito Rocha (FDR), e compõe o projeto Palco Vida & Arte: Letras e Livros.
A premiação conta com três categorias: poesia, prosa e ensaio social, além dos critérios principais de domínio técnico-literário, inserção no eixo temático de cultura popular cearense e contribuição social.
Após passar pela curadoria da gerente da EDR, Lia Leite, e do escritor Atilio Bergamini, foram escolhidas 30 obras para serem julgadas pelos respectivos jurados de cada categoria. O vencedor de cada gênero receberá R$ 3.000 em direitos autorais, além da publicação de um livro com a obra vencedora com tiragem de 1.000 exemplares e um audiobook.
“O Prêmio foi pensado para abrir espaço para as narrativas da oralidade e das tradições nordestinas, quilombolas, indígenas e ciganas. Essas tradições vão se perdendo se não tivermos um registro escrito. A priori, elas são passadas de geração em geração, mas nem sempre isso acontece, porque há muitos processos de avanço de culturas hegemônicas sobre culturas populares. Quando trazemos essa valorização,
va geração jovem que se dedica à tradição enquanto movimento de resistência. Dessa forma, um dos objetivos do Prêmio é contemplar esses trabalhos que trazem para o presente uma memória e valorizam os saberes populares.
“Dentro dos movimentos de mercado, acabamos comprando ideias que são trazidas de fora e esquecemos nossa própria riqueza, mas esses jovens escritores e escritoras não. Eles dialogam com a própria terra e estão com um repertório muito forte de cultura que se articula com as tradições do Nordeste, do Ceará”, indica.
Com repercussão e demanda positivas, a expectativa é de que o concurso siga para novas edições. Lia revela que a iniciativa teve uma ampla procura de escritores não só de Fortaleza, mas de todo o Estado.
“Nós conseguimos interiorizar o movimento da literatura cearense, o que vai levar visibilidade e fomento para a cultura nas regiões onde esses artistas foram contemplados. A cena literária cearense está bem pulsante, e esperamos que nas próximas edições do Prêmio esteja ainda mais”, compartilha.
Pensamos em como integrar a comunidade no espaço da leitura”
Conheça a editora EDR
Literatura, cultura e memória. Esses são os pilares das Edições Demócrito Rocha (EDR), segundo a gerente da instituição, Lia Leite. Com um catálogo de cerca de 500 títulos e gêneros para todos os gostos e idades, a editora foi pensada como um movimento de excelência literária e resistência cultural, integrando o novo e a tradição.
Nesse sentido, o Prêmio Literário Demócrito Rocha reflete os valores e o direcionamento no mercado editorial da EDR, ampliando o trabalho de quase 40 anos realizado pela instituição. Com a missão de olhar para dentro do Ceará, identificar as riquezas do Estado e valorizá-las, a editora segue dando voz tanto a autores renomados quanto
“Aquele que se conhece muito bem, conhece o mundo muito bem também. É por isso que tantos escritores da EDR acabam sendo escritores no Brasil inteiro, e até no mundo. Pensamos em como integrar a comunidade no espaço da leitura, para a leitura não ser um movimento individual, mas ser um movimento comunitário. Pensamos no nosso
Demócrito Rocha Fundador do Jornal O POVO, o jornalista, poeta e político Demócrito Rocha nasceu em Caravelas, Bahia, em 14 de abril de 1888, e faleceu em Fortaleza, Ceará, em 29 de novembro de 1943.
Quem foi
oesia
cearense
Brilhando, historicamente, por meio do cordel, poesia cearense alça novos voos e exibe pluralidade estética em obras inscritas no I Prêmio Literário Demócrito Rocha
Texto: Letícia do Vale leticiadovale@opovodigital.com
A difícil missão de julgar obras de poesia inscritas na primeira edição do Prêmio Literário Demócrito Rocha ficou com o escritor e produtor cultural Mailson Furtado e o historiador e também escritor Dercio Braúna. Donos de carreiras consolidadas na literatura cearense, os especialistas destacaram a variedade e pulsação da cena local.
“O Ceará sempre foi pioneiro na literatura brasileira. Hoje, vivemos um cenário muito plural no Estado. Uma das grandes frentes segue sendo a literatura popular, a inventividade única que o Cordel nos traz, mas também há outras perspectivas de gêneros, como textos mais acadêmicos, com alguns experimentalismos contemporâneos, concretos, pós-concretos. Temos pluralidade tanto nas perspectivas estéticas quanto nas perspectivas temáticas”, destaca Mailson.
De acordo com ele, a literatura cearense se diferencia ao agregar perspectivas de outros lugares do País e do mundo ao olhar sertanejo, mas segue encontrando dificuldade para uma ampla distribuição das obras.
“Temos livrarias pontuais, algumas em Fortaleza, algumas na região de Sobral e outras no Cariri, e para por aí. Como os livros circulam? A internet deu uma melhorada nisso, mas ela é um negócio meio fluido, que não registra direito as coisas. Esse prêmio, inclusive, traz uma questão muito interessante porque possibilita a entrada em uma editora, quebrando um pouquinho dessa dificuldade de chegar ao mercado”, indica.
Dercio Braúna também considera as possibilidades de circulação para a literatura cearense restritas. Assim, o Prêmio seria uma oportunidade de levar aos holofotes trabalhos de autores cearenses e conectá-los com o público. Outra adversidade no fazer poético apontada pelo escritor é a crescente aceleração da vida.
“Vivemos nesse tempo em que tudo são números, seguidores, engajamento, vendas… E a poesia é o contrário disso. Dentro da literatura, a poesia é a menos utilitária. Pensando que vivemos nesse tempo tão veloz, em que tudo é pensado para ser útil e prático, a poesia se coloca como o contrário e, talvez até por isso, ela consegue ser lugar de resistência”, reflete.
Vivemos nesse tempo em que tudo são números, seguidores, engajamento, vendas… E a poesia é o contrário disso
vencedores do i prêmio literário demócrito rocha
Categoria Poesia
1º lugar:
Cícero Émerson do Nascimento Cardoso - Romanceiro Juazeirense em dupla jornada
2º lugar: Fabiana Guimarães - Encruzilhadas
3º lugar:
Valéria Correia Lourenço - Cacimbar
A obra Romanceiro Juazeirense em dupla jornada foi publicada pelas Edições Demócrito Rocha e já está à venda
Os desafios de avaliar arte
Assim como a diversa cena poética local, o conjunto de obras inscritas na primeira edição do Prêmio Literário Demócrito Rocha Prêmio ostentou múltiplas configurações. Mesmo com a ajuda de critérios predefinidos pela competição (domínio técnico-literário, inserção no eixo temático de cultura popular cearense e contribuição social), a tarefa enfrentada pelos jurados não foi nada fácil.
“Houve textos que optaram por um caminho mais comum, como a poética mais próxima do cordel, que já é comumente associada à cultura popular. Mas houve outros textos muito bons que não trilharam esse caminho. O desafio do júri era fazer a mensuração entre esses textos que você vê que está caminhando dentro
da cultura popular e outros que buscaram outros caminhos estéticos. Foi bem interessante. O que marca o que se produz aqui hoje é justamente isso, a diversidade”, conta Dercio.
Para Mailson, os critérios estabelecidos pelo Prêmio auxiliaram a julgar as obras de maneira mais objetiva e com um olhar voltado para um propósito específico. Em um campo tão subjetivo quanto a arte, ele esclarece que os padrões propostos servem à finalidade da premiação, mas não diminuem a qualidade das obras não selecionadas. “É muito complicado negar as outras obras que porventura não ganharão. Elas têm possibilidades literárias, dizem coisas importantes, mas é um outro olhar”, explica.
rosa de ficção
O papel do Ceará na literatura e as definições de qualidade de uma obra de ficção
Texto: Lucas Casemiro
lucascasemiro@opovo.com.br
O que qualifica um autor como "bom" no universo da literatura ficcional? A resposta pode não ser simples, mas para Carlos Vazconcelos, escritor, professor e produtor cultural, é a estética que faz a diferença. "Eu acho que um texto deve sobreviver principalmente por ser literatura. E aí depois vêm outras questões", afirma Vazconcelos, um dos jurados da primeira edição do Prêmio Literário Demócrito Rocha.
no concurso, os dois analisaram quatro obras finalistas da categoria de prosa de ficção. Para os jurados, a literatura de qualidade transcende o que é dito e se destaca pela profundidade da construção linguística e pelo diálogo constante entre a ficção e a realidade social.
Critérios como a construção dos personagens, o desenvolvimento de um enredo e a verossimilhança são elementos que pesam na avaliação. “A elaboração da verossimilhança, chamada aquela coisa que não é a realidade, mas é uma representação da realidade, é algo fundamental”, explica Carlos Vazconcelos.
É que o papel da literatura vai além da história contada, envolvendo também o “como” se conta. “Muitas vezes, a literatura não é o que dizer, mas é o como dizer. A maneira como o autor nos conta seduz muito mais, porque é uma história bem contada, sem estilo nenhum”, explica o escritor. Essa liberdade, que não se prende a fórmulas, e a escrita com ênfase na intenção de fazer literatura, por vezes, pode superar a importância do tema.
Mas sendo a literatura uma experiência pessoal, não se pode qualificá-la como “boa” ou “ruim” de forma definitiva. Apesar disso, Regina Ribeiro concorda que um cri-
tério é essencial para a construção de qualidade: “uma boa construção de linguagem”. Desse modo, a literatura eficaz é aquela que consegue criar um universo ficcional tão real que permite ao leitor sair desse espaço com uma nova perspectiva sobre o mundo. E isso impacta.
Reside aí a provocação do concurso literário em promover, além da divulgação de textos de qualidade, aspectos transversais às questões sociais contemporâneas.
A prosa de ficção é capaz de mostrar realidades, por vezes fantásticas, que moldam experiências diversas, ao passo que universais, e estimula o altruísmo. “Eu falo isso de forma muito pessoal. A prosa de ficção me mostra pessoas que vivem experiências muito diferentes das minhas e eu me sinto solidária com essas experiências, de homens e de mulheres, transitando pelos mais diversos estados, seja de gênero, seja identitário, seja racial, seja de qualquer matiz”, afirma a jurada.
vencedores do i prêmio literário
demócrito rocha
Categoria Prosa de ficção
1º lugar: Lúcio Flávio GondimPara quem tem filha fêmea
2º lugar: Monique CordeiroTerramar
3º lugar: Émerson RodriguesFortalezenses
A obra Para quem tem filha fêmea foi publicada pelas Edições Demócrito Rocha e já está à venda
Prosa de ficção
A prosa de ficção é capaz de mostrar realidades, por vezes fantásticas
É uma forma de narrativa escrita que cria histórias imaginárias, personagens, enredos e cenários, com o objetivo de entreter, provocar reflexões ou transmitir ideias e emoções. A prosa de ficção é caracterizada pela invenção de eventos, pessoas e situações, mesmo que, em alguns casos, se inspire na realidade ou inclua elementos autobiográficos.
Cenário atual e novas tendências
A literatura regionalista clássica dos anos 1930, frequentemente marcada por descrições de sol, seca, pobreza e questões locais do Nordeste brasileiro, já não é mais parâmetro para definir a escrita que nasce do Ceará ou que versa sobre ele.
Uma nova abordagem considera a universalidade da experiência humana, sem limitações de estereótipos. Nesse sentido, há uma nova geração de autores cearenses que têm alcançado um público nacional e até internacional. Eles ajudaram a ampliar o olhar do leitor para temas humanos e contemporâneos, como incertezas, angústias e dores, que ressoam além das fronteiras geográficas.
Isso confere à literatura produzida no Ceará uma relevância que transcende a região, permitindo que ela dialogue com leitores em outros contextos e culturas. Regina Ribeiro vê avanço nessa tendência, uma vez que liberta a literatura produzida no Ceará de "rótulos". “Eles (autores) estão no Ceará, eles estão em Fortaleza, eles estão no Nordeste do Brasil, mas eles estão tratando de temas humanos, que são mais uma vez universais”, reforça.
Uma característica contemporânea interessante, segundo Carlos Vazconcelos, é a tendência de misturar ficção com realidade. Essa hibridização se tornou uma marca em várias obras recentes, gerando novas formas de contar histórias e construir narrativas. Exemplos, sobretudo femininos, ganham destaque, como Ana Miranda, Socorro Acioli e Tércia Montenegro.
Mas Vazconcelos lança uma provocação. “A literatura cearense é um braço da literatura brasileira”, enfatiza. “Realmente é uma literatura de muito valor. É uma literatura que já tem grande reconhecimento, que sempre foi muito atuante”, afirma, defendendo que por isso deve ser entendida como nacional.
“Você chega numa livraria e precisa ter uma prateleira de autor cearense para poder reconhecê-los. Enquanto que o cearense deveria estar ali entre todos, os nacionais. Isso só acontece quando o autor é lançado por uma livraria grande. Quando são autores lançados aqui, ficam uma prateleira à parte”, resume.
nsaio social
Gênero atua como ferramenta de reflexão e intervenção nos debates contemporâneos
Texto: Lucas Casemiro lucascasemiro@opovo.com.br
O ensaio social, gênero que permite a análise aprofundada de temas relevantes e contemporâneos sem a rigidez da formatação acadêmica, é uma das categorias do I Prêmio Literário Demócrito Rocha. O gênero tem desempenhado um papel importante na interpretação da realidade brasileira, com obras fundamentais como Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.
“O ensaio, não apenas no Ceará, mas no Brasil, teve essa função basicamente de pensar o povo, o povo brasileiro, o povo cearense, e mesmo consolidar, porque não, e também de criar um modo de reconhecimento desse mesmo povo enquanto cultura, enquanto identidade. Isso é algo comum ao gênero no Brasil, de maneira geral”, afirma Júlio Bastoni, professor de Literatura Brasileira e coordenador do Programa de Pós-graduação em Letras: Literatura Comparada da Universidade Federal do Ceará (UFC).
“O ensaio também cria o imaginário, para além de retratar apenas. Consolida alguns modos de identificação, ou seja, o que seria esse ser cearense, ou esse ser brasileiro, com suas características específicas”, provoca. Contemporaneamente, “as questões vêm se abrindo”, afirma o professor.
“Esse gênero permite uma discussão mais aprofundada de temas relevantes, indo além do
formato jornalístico, sem perder a conexão com um público mais amplo”, explica Alexandre Barbosa, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Ele participa do Prêmio como jurado, ao lado de Fernanda Muller, docente do curso de Letras e do curso de Pós-graduação em Letras na UFC.
Cenário de mentes proeminentes, o Ceará tem como expoentes do gênero Rodolfo Teófilo, Juvenal Galeno, Raimundo Girão e Gilmar de Carvalho, menciona Fernanda Muller. A jurada afirma que esses e outros autores “contribuíram para construir o grande imaginário discursivo cultural do nosso Estado, com a sua diversidade de matizes advindas dos substratos dos povos que fazem a nossa terra (indígenas, afro-brasileiros, quilombolas, europeus), distribuídos pelo vasto território sertanejo e litorâneo e com características tão diversas, como aquela encontrada na macrorregião do Cariri, por exemplo”.
“Sempre que possível, é preciso premiar ensaios que tratem de temas candentes da América Latina, como o combate intransigente ao machismo e ao racismo, além da valorização da cultura popular”, defende Alexandre Barbosa.
Identidade e tendências
Studart surgem à mente. “O ensaio social é uma tradição relativamente grande que está nesses autores e em outros também, que vão pensar culinários, costumes, fés populares”, explica Júlio Bastoni. Esses escritores mais tradicionais tinham, por vezes, participação na vida política e até mesmo na saúde pública, como Rodolfo Teófilo.
vencedores do i prêmio literário demócrito rocha
A tendência temática percebida entre os ensaios inscritos no prêmio reflete a valorização da cultura popular, uma abordagem que reforça a identidade de uma comunidade. “Entendo como cultura popular aquela que forma ou reforça a identidade de uma comunidade, seja ela uma região, cidade, estado, país ou continente”, explica o jurado. “A temática precisa ter relação com a história, a geografia e a cultura do Ceará”, destaca ele, indicando a importância de uma narrativa enraizada no contexto regional, mas com um olhar universal.
Nos debates contemporâneos, o gênero é capaz de aprofundar discussões importantes de forma acessível e envolvente, alcançando o público com ideias fundamentadas e inspirando novas reflexões. “O ensaio social deve falar ao público e isso é reflexão. É como se o público absorvesse a mensagem. Se vai gerar ação social, se vai ser compartilhado, se vai transformar a vida, isso depende da história de cada uma ou cada um”, explica Alexandre Barbosa.
Mas o ensaio vem se misturando à pesquisa acadêmica, perdendo o teor mais literário, avalia o professor. “Ganhou um ar de pesquisa mesmo, ou seja, de pessoas que vão consultar as fontes de uma maneira mais próxima das práticas acadêmicas contemporâneas, que talvez, inclusive, evite trabalhar com temas com uma identidade nesse sentido mais tradicional”.
Nesse sentido, a tendência é o vínculo a grupos pertencentes a segmentos específicos da sociedade, como culturas indígena e negra, por exemplo, e pensando os modos da cultura desses grupos funcionar: ou seja, nas músicas, nas festas populares e na culinária.
“A mim, parece que o ensaio hoje em dia perdeu aquele teor mais literário que havia até meados do século XX, mais ou menos. E passa a ter um contato com as fontes e com a prática científica, que é muito próximo do que se pratica na universidade, ou algo próximo do que se pratica na universidade, em teses, aceitações, artigos”, afirma.
Categoria Ensaio Social
1º lugar: Thamyres de Souza FernandesComidadeEncanto
2º lugar: Harley de AlmeidaSertão-Mundo,Mundo-Sertão
3º lugar: Francisco José da SilvaCordelnaEducação
A obra ComidadeEncanto foi publicada pelas Edições Demócrito Rocha e já está à venda
caminhos da escrita criativa
Os escritores Jacques Fux e Wilson Junior apontam estratégias e compartilham dicas sobre o exercício de escrever
“No Brasil, cinco anos atrás tinha uma resistência muito grande com o ensino de escrita criativa”, analisa Wilson Junior, escritor cearense, em conversa com a jornalista Isabel Costa. “Enquanto lá nos Estados Unidos, na Europa, você tem informações específicas voltadas para isso. Aqui a gente começou a aceitar um pouco mais isso e estudar um pouco mais para poder os escritores terem ferramentas para facilitar a jornada. Querendo ou não, se você utilizar as ferramentas que outras pessoas utilizaram antes de você, vai ajudar e vai acelerar esses processos de aprendizagem”, completa.
Na entrevista que está disponível no YouTube do O POVO, o escritor mineiro Jacques Fux reflete sobre a relação entre escrever bem e ler muito. “O Amoz Oz, escritor israelense, fala que pra escrever um romance você tem centenas de milhares de decisões a tomar. Um exemplo, se ele colocou o adjetivo azul. Ele quer pensar se o adjetivo fica melhor no começo ou no final da frase. Se é melhor colocar azul celeste, ou azulado, ou azulão. Então, ele vai pensando em centenas de milhares de alternativas. E um autor só consegue entender ou sentir isso a partir de muitos anos de leitura”.
Confira algumas dicas para se tornar um bom escritor:
1 - A questão da inspiração é muito romântica. A grande questão da literatura é a leitura e a prática.
2 - Defina uma estrutura em três álbuns: início, meio e fim
3 - Faça uma boa ficha de personagem:
> Camada periférica: características físicas;
> Camada de entorno: passado e experiências de vida;
> Camada central: aspectos psicológicos da personagem.
4 - Você tem que virar um leitor diferente. Você tem que se tornar um leitor antropofágico. O que é um leitor antropofágico? Aquele cara que lê livro, os clássicos ou livros de autores contemporâneos.
5 - Na verdade a escrita é a reescrita. Você tem que reescrever, reescrever, reescrever.
6 - Um escritor é uma pessoa apaixonada por várias áreas do conhecimento, então quanto mais coisas, interesses, leituras diferentes esse futuro escritor tiver, mais a possibilidade que ele vai ter de criar a partir daquilo.
7 - O melhor professor para quem quer escrever é a leitura, é você estar lendo outras pessoas, outros autores, outros textos.
8 - Dói tomar recusas, silêncios e nãos de editoras e prêmios, mas assim a gente vai ver se nasce um escritor ou não. Porque o escritor é justamente aquele que tem a capacidade de levar nãos o tempo inteiro e continuar.
9 - A construção de um livro, especialmente quando ele vai para o processo editorial, deixa de ser uma coisa solitária, individual, e passa a ser um trabalho coletivo. Há uma visão ainda muito romântica da escrita com esse lugar de que é só seu.
10 - São importantes não só os livros lidos, mas os livros relidos.
Em Pequenashemorragias apresenta 12 histórias explorando as profundezas da memória, os limites da realidade e as marcas deixadas pelos mais diversos tipos de horror. A infância e a perda são revisitadas através de caminhos de sonhos, decepções, desejos e traumas, onde as fronteiras do fantástico parecem sempre borradas pela brutalidade do cotidiano. Desde o primeiro até o último conto, este é um livro que estabelece um universo baseado em suspeitas, com identidade e sanidade repetidamente postas à prova diante de um destino sempre em movimento, impermanente como o título de uma das narrativas. Entre despojos e hemorragias, canções e últimos discos, cada conto deste livro é um ferimento por cicatrizar.
Fernanda Castro narra a história de Amarílis, uma jovem que, com a ajuda de um demônio, embarca em uma jornada para enfrentar o passado, descobrir a própria força e assumir sua verdadeira essência. Mariposa vermelha é uma fantasia apaixonante e empoderadora, permeada por monstros insólitos e corriqueiros, relações intensas e amores imprevisíveis. Assista
Como formar um leitor?
O desafio de ampliar o interesse pela literatura passa antes de mais nada por popularizar o acesso ao livro
“Para nascer um leitor diante de tanta tecnologia, precisamos determinar o direito que é a leitura. Existe o direito à literatura, que deve ser encarado como essencial. Há uma classe que reconhece esse direito como essencial ao desenvolvimento humano, mas para isso é preciso ter acesso. Ter o livro. O livro fazer parte da vida e da história das crianças. Esse é um dos primeiros canais de garantia para que nasça um leitor”, a provocação é de Fabiana Skeff, coordenadora do Eixo de Literatura e Formação do Leitor da Seduc.
Dicas de leitura
A Coleção Vagalume foi uma série literária que marcou mais de uma geração de leitores, fez muita gente se apaixonar pela leitura, e por isso mesmo ela é lembrada até hoje.
Dar a condição do livro chegar até a mão do possível leitor é um desafio que envolve tanto o poder público como as iniciativas privadas e de projetos comunitários. “Ações que podem ser realizadas são os de direito da cidadania literária”, reflete Fabiana. Nessa perspectiva de espalhar livros por todos os lugares, são importantes os projetos que convidam a deixar livros nas praças, no metrô, em diferentes locais públicos é uma forma de encantar algum leitor. É possível em qualquer época da nossa vida ter o livro como um grande companheiro.
A escritora Marília Lovatel aponta que principalmente na adolescência essa relação com a literatura é muito construtiva. “A leitura, acabam por compor um refúgio para aos adolescentes. Como professora e acompanhando os processos de crianças e adolescentes percebo isso. É uma referência muito importante. O livro pode ajudar muito no processo de autoconhecimento”, analisa. Ter o escritor ou um mediador para falar sobre determinada obra, debater, discutir o assunto do livro é outro importante trecho do caminho para formar um leitor. É necessário formar uma grande rede que dinamize a leitura literária, facilite o acesso à história. Os autores, professores, editores, contadores de história. “Esse adulto pode ser conquistado se os mediadores estiverem nos espaços. Os autores irem contar sobre seus livros. Porque não apresentar livros, história, poemas e crônicas em grandes outdoors da cidade? E através da política pública promover momentos para que o livro possa estar presente na cidade”, completa Fabiana.
A série foi criada na década de 1970 pela Editora Ática, e era orientada para o público infanto-juvenil. O primeiro livro publicado foi A Ilha Perdida, de Maria José Dupré, em janeiro de 1973.
Sinopse: A própria autora admitiu: “Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas eu juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! que não tenho coragem de matar uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra.” É verdade. Então, como foi que isso pôde acontecer? É o que Clarice Lispector conta neste livro original e comovente – verdadeiro canto de amor aos animais. O livro traz ilustrações feitas pela neta da autora.
tores e pesquisadores de literatura, uma frase é um bálsamo que assim como uma boa história é capaz de inspirar:
“a literatura sempre teve qualidade no Brasil”. Quem dá o diagnóstico é Eduardo Lacerda, editor da Editora Patuá. “A gente escuta falar em mercado frágil, números de leitores e vendas baixos.
Os olhos cegos dos cavalos loucos, de Ignácio de Loyola Brandão
Editora: Moderna Literatura
Sinopse: O garoto não tinha ideia do que aquilo significava para o avô, que ele tomasse posse das pequenas bolas de vidro que o velho guardava em uma pequena caixa, numa das prateleiras mais altas da sua oficina de marcenaria. Uma bola de vidro pode ser também um olho, um olho cego. Trata-se de uma narrativa belíssima e tocante, em que o narrador dirige a seu avô já falecido seu pedido de perdão, dividindo com ele sua compreensão tardia.
Mas não podemos confundir a qualidade do que é produzido com os índices de leituras. A literatura é um direito, mas muitas pessoas não tem acesso ao livro”, explica ele.
Diante da dicotomia entre índices de leitura e qualidade da literatura temos ainda a escassez de livrarias no País. Há municípios brasileiros que sequer possuem bibliotecas, muito menos livrarias.
“As duas grandes redes de livrarias que fecharam recentemente no Brasil têm muito mais relação com a péssima gestão do negócio, do que com o mercado como um todo. Existem redes novas surgindo já. Claramente temos um mercado muito bom, mas que precisa ser estimulado”, diz Eduardo.
Se faz necessário ampliar o alcance da literatura com todos os recursos e pla-
as redes sociais para autores e para mercado do livro precisa ser mais debatido. Claro que nas redes sociais encontramos de tudo, mas que bom que a gente também tem encontrado literatura”, analisa Mateus Lins, escritor e coordenador da especialização em Escrita Criativa, da Unifor.
Sem rótulos, o Brasil da escrita criativa é amplo e diversificado. “Existe a lenda que poesia não vende. Mas nas pequenas editoras, poesia vende muito bem. Seja em edições pagas ou financiamento coletivo. Paulo Leminski, por exemplo, já vendeu 500 mil exemplares. No mercado, as grandes editoras apostam mais em romances porque sabem que vendem bem, mas o Brasil é um País de muitos poetas”, conta Eduardo. E conclui: “ Quando o ator Antônio Fagundes lê um livro nosso nas redes sociais, o número de pessoas que vai buscar o livro no dia seguinte é enorme. Quando aparece em um livro, um jornal, no cinema, a procura sempre cresce”. Sim, a literatura é um bom negócio e tem muita gente vivendo da própria escrita no Brasil.
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trajetórias marcadas pela constância da violência concebida à existência do gênero feminino. Muito mais que narrativas explícitas e dolorosas, a autora nos oferece personagens com perfis psicológicos desenhados em corpos atravessados pela realidade omissa que nos afoga diariamente.
Você me espera para morrer? de Maria Fernanda Elias Maglio Editora: Patuá
Você me espera para morrer? Esta é a pergunta que está nas entrelinhas do pacto feito entre Ilana, personagem principal, e Aline, sua irmã gêmea, depois de assoprarem uma vela de mentira espetada em um bolo de barro. Muitos anos depois, cada vez mais sozinha e introspectiva, Ilana continua esperando o retorno da irmã que foi embora e nunca mais voltou.
Assista à live do Palco Vida&Arte com Marília Lovatel
Dicas de leitura
Assista à live do Palco Vida&Arte com Eduardo Lacerda e Mateus Lins no YouTube do O POVO
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