AURÉLIO ALVES
![](https://assets.isu.pub/document-structure/221222203616-54f746da176ba2d3fff57a92b8068303/v1/3c9c890c568f2f420a3514bacc3d458a.jpeg)
![](https://assets.isu.pub/document-structure/221222203616-54f746da176ba2d3fff57a92b8068303/v1/1aa62728687170b558dd6466dca605f5.jpeg)
No Ceará, entre as cadeias econômicas que o plano de longo prazo Ceará 2050 elegeu como sendo prioritária no Estado está a Economia do Conhecimento, como uma delas. A economia do conhecimento junta várias estruturas tradicionais, como a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), a Educação, o Design, a Cultura e outras áreas que se integram. “Ela é importante para a gente reverter uma questão de geração de riquezas no Estado, nós temos condições muito interessantes para poder fazer isso e é uma economia que no mundo inteiro gera muita riqueza “, conta o secretário Executivo de Comércio, Serviço e Inovação do Governo do Estado do Ceara Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Julio Cavalcante, na matéria que abre esse caderno especial.
A doutora em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (UFRJ) e professora do IFCE, Ana Carênina de Albuquerque Ximenes, diz que a Economia do Conhecimento tem a ver com uma transformação contínua em direção a atividades mais intensivas em conhecimento, ao invés de uma mudança radical e ruptura de economias e sociedades. “Refere-se a uma economia emergente, nos quais a produtividade e o crescimento são menos baseados na abundância de recursos naturais do que na capacidade e competências das pessoas e dos atores de produção, e de criar novos conhecimentos e ideias e incorporá-los em equipamentos e pessoas”, explica.
Para aprofundar na questão da educação, entrevistamos Eliana Estrela, que é doutora em Educação e secretária da Educação do Estado Ceará. Ela fala do modelo colaborativo, aplicado nas escolas cearenses, que é uma das chaves do sucesso dos resultados alcançados pelo Ceará e que é possível replicar em qualquer lugar no país. Eliane admite que a educação no Estado enfrenta muitos desafios e que a pandemia da Covid-19 exigiu ainda mais dos gestores e professores da rede pública.
Boa leitura.
Adryana Joca
Assim como a Economia do Mar é um hypercluster, a Economia do Conhecimento também é, pois junta várias estruturas tradicionais como a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), a Educação, o Design, a Cultura e outras áreas que se integram.
No Ceará, a Economia do Conhecimento está entre as cadeias econômicas que o Governo do Estado elegeu como prioritárias para o desenvolvimento integrado. Ela integra o Ceará 2050, um plano estratégico de longo prazo.
“Ela é importante para a gente reverter uma questão de geração e riquezas no Estado. Nós temos condições muito interessantes para poder fazer isso e é uma economia que no mundo inteiro gera muita riqueza”, informa o secretário Executivo de Comércio, Serviço e Inovação do Ceará, Júlio Cavalcante. Um exemplo de um grande centro urbano citado pelo secretário é Nova York, nos Estados Unidos, que vive muito da arte e da cultura, área ampla da economia.
Em 2022, apesar do impacto geral para muitas áreas relacionadas à Economia do Conhecimento, Cavalcante avalia que o setor já tem tido recuperação e avançado bastante. Já a área da Tecnologia da Informação, que também faz parte do segmento, teve um grande destaque, pois ela foi o motor do comércio eletrônico e a forma de fazer com que a rotina do dia a dia continuasse. Do mesmo modo, o setor de logística também cresceu no período.
O Ceará, apesar de estar no semiárido, o que dificulta algumas gerações de riqueza, descobriu na Economia do Conhecimento uma saída para produzir recursos econômicos. “Temos uma Educação que é nacionalmente reconhecida, desde o ensino fundamental; a conectividade, que é um outro fator importante, pois estamos conectados com o mundo pelo cabos submarinos e somos o segundo maior entroncamento de cabos; e temos a conectividade em terra também”, detalha Cavalcante.
O secretário complementa que temos mais 140 mil km de fibra ótica, volume que alcança todos os municípios do Estado e avança para as regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Somando-se a isso, ainda temos o Ensino Médio cada vez melhor, com 133 escolas profissionalizantes de alto nível do Governo Estadual; o Instituto Federal do Ceará (IFCE), que começa com a formação técnica com 33 campis de alto nível de conteúdo e praticidade de aplicação e as universidades do Estado, interiorizadas de excelente qualidade seja estadual, federal ou privada. Além disso, há mais de 15 instituições que trabalham com inovação e conhecimento.
A meta é trabalhar com 100 mil jovens nos próximos cinco anos para capacitá-los em relação a educação, tecnologias e conhecimentos em diferentes áreas, mas que eles possam ter uma formação para ter uma ocupação ou trabalho. As escolas profissionalizantes do Estado têm 109 cursos só na área de computação. Esse ano já foram qualificados mais de 5 mil jovens, na tecnologia da Amazon. Para o ano que vem, os professores estão qualificados para ensinar as tecnologias da Dell e da Google e para capacitações de 5G e redes da Huawei. “Estamos gerando demandas importantes e atraindo empresas para virem ao Ceará colocarem centros de desenvolvimento de software, por exemplo”, cita Cavalcante.
Os gargalos do setor são mais externos do que internos, na opinião do secretário executivo da Sedet. “Temos a economia em recuperação, as transições políticas que temos que ir controlando os processos todos para não dar nenhum gap na economia para manter a demanda existente. Do ponto de vista mundial também temos que ficar de olho. Mas na área de tecnologia temos uma grande oportunidade no Ceará”, analisa o executivo.
O Ceará tem que continuar colocando recursos na Educação e continuar apoiando os programas de informática e tecnologia. Precisamos
manter a união com todas as instituições e contar com as parcerias da indústria e comércio para avançar no caminho comum.
“Vamos fortalecer as ações que já estão projetadas e estão funcionando com sucesso. Temos muitos bons exemplos além de tecnologia na arte, na gastronomia, na cultura e no artesanato e a questão do turismo”, finaliza Cavalcante.
O conhecimento de uma forma ou de outra, sobretudo nomeado como “prático”, sempre esteve no centro do debate econômico, e as inovações, ou seja, novas ideias incorporadas em produtos, processos e organizações têm tradicionalmente alimentado o desenvolvimento econômico, segundo a doutora em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (UFRJ) e professora do IFCE, Ana Carênina de Albuquerque Ximenes.
Para ela, a Economia do Conhecimento tem a ver com uma transformação contínua em direção a atividades mais intensivas em conhecimento, ao invés de uma mudança radical e ruptura de economias e sociedades. “Refere-se a uma economia emergente, nos quais a produtividade e o crescimento são menos baseados na abundância de recursos naturais do que na capacidade e competências das pessoas e dos atores de produção, e de criar novos conhecimentos e ideias e incorporá-los em equipamentos e pessoas”, explica.
Sendo assim, cada vez mais o desenvolvimento das economias nacionais e regionais depende da geração, disseminação e aplicação de novos conhecimentos e inovações, principalmente envolvendo ciência e tecnologia.
No Ceará, o IFCE se apresenta como um ator local da oferta de ensino, pesquisa e extensão, alinhada a saberes científicos, tecnológicos e criativos da Educação Profissional e Técnica (EPT). Seus cursos estão destinados nas áreas de conhecimento que englobam Engenharias e Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs).
O Polo de Inovação IFCE, inaugurado em 2015, chegou com esse propósito de atender às demandas por pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) das cadeias produtivas, além de formação em EPT para os setores econômicos.
Ana Carênina destaca nesse viés a criação e expansão do IFCE, que fez parte de uma política pública que intencionou ocupar locais inatingíveis historicamente pela oferta de educação profissional e técnica de qualidade. Principalmente para as classes sociais mais baixas, com aumento da oferta de ensino técnico e superior; criação de campi em territórios desassistidos de educação profissional e técnica; aumento do potencial das capacidades substantivas para as populações locais de baixa renda; desenvolvimento sistematizados de inovações por meio da criação dos polos de inovação/ Eembrapii; e a indução de novas dinâmicas econômicas nos territórios de implantação dos novos campi. No total, o Polo de Inovação IFCE tem 120 projetos desenvolvidos em parceria com empresas, movimentando cerca de R$ 120 milhões; 240 propriedades intelectuais registradas ou solicitadas; 1.000 alunos participando de projetos desenvolvidos em parceria com empresas; e, em 2020, ocupou a 6ª posição no ranking do INPI que mais registra programas de computador no Brasil.
A performance do desenvolvimento e oferta de conhecimento do IFCE se traduz no registro de projetos de pesquisa, de acordo com a classificação da Capes, com maior ênfase nas áreas de Ciência da Computação, Engenharias IV (Elétrica e Biomédica), Engenharias I (Transportes, Construção Civil, Hidráulica, Meio Ambiente, Estruturas, Urbana e Geotecnia) e Agrárias I (Agroecologia, Ciência do Solo, Ciências Florestais, Engenharia Agrícola, Experimentação, Extensão Rural, Fitotecnia, Melhoramento e Recursos Genéticos, Microbiologia Agrícola, Proteção de Plantas).
A professora do IFCE, Ana Carênina, ainda traz para reflexão que se por um lado, o incentivo à criação de conhecimento e à inovação passou a ser recomendado pelos organismos internacionais, os mesmos agentes continuaram a preconizar a atuação do Estado com um papel compensador ou de correção das falhas de mercado por meio de criação de instituições apropriadas, sobretudo em países do Norte global.
“Na maioria dos países em desenvolvimento, em especial o Brasil, a política tecnológica e de inovação se fundamenta na ideia de que o Estado é prioritariamente um agente auxiliar no processo de acepção dos programas, cuja direção é feita pelo mercado”, analisa.
Mas, para ela, é inegável que a crise aguda da pandemia acelerou vários processos da Economia do Conhecimento, com base no capitalismo informacional, especialmente o uso e potencial das tecnologias digitais, na proclamada Indústria 4.0.
No entanto, a disseminação “virtuosa” dessas tecnologias se depara com fatores limitantes, tais como o poder controlador das big tech, com subordinação aos mandamentos da financeirização global, que tem acarretado aos regimes democráticos e demandam urgência de regulamentação.
Entre as temáticas da Economia do Conhecimento está uma área bem conhecida por todos, a Cultura. Mas de que forma elas estão relacionadas? Tanto a cultura como o próprio meio ambiente são dois ativos indispensáveis na área do conhecimento, tornando-se verdadeiras trações do desenvolvimento.
“Enquanto nosso País se debate em uma imensa bolha cheia de nada, recorrer à natureza e à cultura nos dá chão, alicerce, prumo. Pois são nelas que residem os conhecimentos, os sistemas e fluxos, a serem entendidos, compartilhados e valorizados”, analisa Luis Carlos Sabadia, atual gestor do Museu da Indústria e presidente da Câmara Setorial de Desenvolvimento Econômico da Cultura.
Na visão de Sabadia, a cultura e as artes nos salvaram na pandemia, para aqueles que puderam pagar pelos livros, músicas e filmes. Para os que não tiveram como pagar, restou aguardar pelo acesso público e gratuito, que não veio do Governo Federal. “Veio do Governo Estadual e, também, por iniciativa do Legislativo, com as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo. O setor escapou em 2022 pela sua própria força intrínseca”, afirma o gestor.
Este ano, Sabadia acredita que avançamos um pouco na compreensão da economia da cultura como parte do processo de desenvolvimento econômico. “Sentamos à mesa, falta sermos enxergados, entendidos, muito caminho pela frente”, alerta.
O gargalo continua sendo a necessidade de pesquisas. “Necessitamos conhecer mais o setor para que possamos planejar e avançar em bases mais sólidas”, defende.
A curto, médio e longo prazo ele acredita que “Está bonito para chover! Viva Gilmar de Carvalho. A expectativa é de uma volta do reconhecer, valorizar, no curto prazo; e planejar e executar a médio e longo prazo a área cultural de forma sistêmica com governo federal, estados e municípios”, finaliza.
Em um país com dimensões continentais e um mercado relevante é importante ser competitivo, mesmo que sejamos descritos como uma economia em desenvolvimento e exportadora de commodities é preciso estar atento que isto não é limitação e nem motivo para inércia.
Em um mercado global um “delay” pode ser razão para ser passado para trás, assim é preciso inovar e não se deixar afetar por gracejos como “...lá vem, querendo inovar…”. Quando afirmamos isto é por ser comum observar certa incredulidade. Para explicar isso vamos evocar o contexto da Copa do Mundo e a afirmar que essa incredulidade pode ser um misto de desconhecimento e, conforme Nelson Rodrigues, “complexo do vira-lata”.
Criada a situação, é necessário saber quando mudar, apesar das inaptidões técnicas, limitações organizacionais ou até mesmo descrédito ao conhecimento é preciso compreender que precisamos obter os conhecimentos necessários para gerar valor para nosso cliente, assim inovar o que segundo o Manual de Oslo.
“...a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas” (OCDE, 2005).
Por isso, inovar não se limita a um produto e nem precisa ser inédito, mas precisa gerar retorno para os negócios e clientes, sendo um imperativo, independente da organização, cultura e momento, pois inovar significa mudar e estas podem ocorrer de forma planejada ou por necessidade, quando planejada é acompanhada por uma estratégia, mas também pode ser necessárias diante de um “sinistro”, por exemplo, a pandemia de Covid-19.
Essa última acelerou tendências, por exemplo, a da digitalização dos negócios, levando à transformação digital milhões de negócios. Sendo encarado por muitas empresas como uma situação de mudar ou morrer, mas qual ensinamento queremos evidenciar com a pandemia? É a importância do conhecimento, este pode fazer com que as mudanças aconteçam seguindo uma racionalidade e coibindo a negação, incredulidade ou a “síndrome do vira-lata”. O conhecimento permite que a transformação aconteça sem maiores traumas e pode gerar competitividade, porém este “pode” é por ser efetivo à medida que gera valor percebido pelo cliente.
Esta discussão pode ser fomentada por uma contínua análise sobre quais seriam os drivers de desenvolvimento da economia, se durante as “revoluções industriais” a padronização e aumento contínuo da produtividade foi alvo a seguir surge a necessidade de novos diferenciais, ou seja, “novas economias”, assim saltamos para o que Drucker (1969) caracteriza como a “era do conhecimento”. No entanto, novos conhecimentos não geram, necessariamente, novos negócios ou mais competitivos, por não obrigatoriamente levar à inovação.
Essa não obrigatoriedade é o que, segundo Goldratt (1984) em seu clássico “A meta” nos empresta para caracterizar como um “gargalo” a ser focalizado. Surgindo diversas discussões sobre até que ponto investir na geração de conhecimento implica em desenvolvimento econômico. Diante disto apresenta-se a “evolução acelerada” das tecnologias da informação e comunicação (TICs) nestas últimas décadas, de tal forma influenciando naquilo que passa a ser conhecido por Castells (1996) como “economia informacional”.
Essa nova era associa conhecimento e tecnologias expandindo as possibilidades de inovar à medida em que aproxima atores antes distantes dos ecossistemas de inovação, respondendo ao gargalo ao abrir para uma produção do conhecimento que excede e conecta diferentes atores e plataformas, não dependendo mais, exclusivamente, da proximidade física dos atores.
Essa nova economia acelera as relações entre redes que podem estar distantes, mas conectadas com o uso das TICs, o que acelera o desenvolvimento das inovações e contribui com o “boom” das startups, somado a uma série de inovações associadas a este modelo de negócio.
Por fim, o movimento da “economia informacional” ajudou a difundir que a inovação não se restringe ao protagonismo de um dos atores (universidades, estado e empresas), mas sim que é produto de um movimento interdependente desses que estão cada vez mais integrados, colaborativos e sensíveis às mudanças, o que os tornam capazes de desenvolver relações “coopetitivas” para tornarem-se prósperas mais rapidamente. Desta forma, conhecimento é poder - se utilizado com estratégia.
Azevedo, Economista, professor, consultor e doutorando em Administração, apresenta experiências que partem das esferas pública e privada com atração de investimentos, gestão da inovação nas MPEs e consultoria empresarial para a realização de diagnóstico empresarial, definição de estratégias, análise de operações e implantação da cultura de inovação. Impulsionado pela mudança e movido por experimentos, busca inovar continuamente suas práticas.
A EDUCAÇÃO CEARENSE há tempos desbancou alguns dos estados mais ricos do Brasil. Os resultados das escolas públicas do Estado chamam a atenção do País e se tornaram uma referência de metodologia aplicada à educação básica
Os últimos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básico (Saeb) e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados em 2022, mantêm o Ceará em destaque. Das 100 melhores escolas brasileiras, 87 estão em território cearense. Para a secretária da Educação do Estado do Ceará, Eliana Estrela, esse resultado precisa ser lido numa trajetória que envolve “dedicação e compromisso” assumidos por toda a cadeia que compõe a educação no Estado: dos governadores aos profissionais da educação até os prefeitos municipais.
Segundo Eliana Estrela, que é doutora em Educação, o modelo colaborativo, aplicado nas escolas cearenses, é uma das chaves do sucesso dos resultados alcançados pelo Ceará e que é possível replicar em qualquer lugar no País. Eliana admite que a educação no Estado enfrenta muitos desafios e que a pandemia da Covid-19 exigiu ainda mais dos gestores e professores da rede pública. Com escolas fechadas para conter a expansão do vírus, a pasta lançou mão de uma série de medidas para mitigar o forte impacto da pandemia na comunidade da educação, sem contar com um direcionamento claro por parte do Ministério da Educação (MEC).
Às vésperas da mudança de governos estadual e federal, Eliana Estrela espera que o MEC reassuma suas funções de oferecer diretrizes às secretarias estaduais e deseja que projeto educacional do Ceará tenha continuidade. “Que esse novo governo esteja de mãos dadas em prol de nossas crianças e jovens”, ressalta a secretária, acrescentando que, no Ceará, deseja que o projeto educacional tenha continuidade “nos seus avanços e conquistas”.
O POVO - Os resultados do SAEB e do IDEB de 2022 mais uma vez colocaram as escolas cearenses em um patamar muito bom, mesmo levando em conta a pandemia. A que a senhora atribui esse resultado?
Eliana Estrela - Então, há uma colaboração entre a educação do Ceará com todos os municípios. Desde que a gente começa a ter a rede toda, não só o Ensino Médio, mas o Fundamental também, a gente começa a garantir os direitos dos nossos jovens e consolidar a educação com esses resultados. É uma caminhada, não foi exatamente agora que teve esse resultado. Isso se atribui à dedicação e compromisso de todos os profissionais da educação, professoras, professores, gestores e diretores, sem esquecer dos compromissos dos prefeitos, do governador (Camilo Santana) e da (atual) governadora Izolda Cela.
Todo mundo se fortalece e olha para o aprendizado da criança. Mesmo com a pandemia, nós estamos com aulas presenciais, mas ainda assim, em nenhum momento, nós deixamos de dar essa
contribuição às crianças e aos nossos jovens. É uma educação consolidada e que vem se consolidando.
OP - A evasão escolar é um dos principais problemas para os gestores públicos da área da educação no País. Como o Ceará vem trabalhando para fazer frente a essa demanda?
Eliana Estrela – São várias as ações. Primeiro, é importante colocar a escola de tempo integral. Na escola de tempo integral, como o aluno fica o dia todo, temos mais facilidade de estar realmente atrás desses jovens, com um ritmo mais flexível, aberto, em que ele realmente tenha condições de escolher algumas disciplinas para que a escola seja mais atrativa e ele passe mais tempo na escola. Mas não é só mais tempo, é o currículo, é essa convicção de o jovem estar em contato com outros, com os professores, com os laboratórios. Portanto, essa é uma ação importante de não abandono.
A outra é a busca ativa. O programa de busca ativa seleciona novos estudantes que recebem uma bolsa para que eles convençam os colegas a não abandonar, para que eles consigam fazer esses colegas de fato ficarem na escola participando, fazendo suas atividades, seus exercícios.
E tem também o Professor Diretor de Turma, que é um projeto importante do Ceará. Nós o tínhamos já faz algum tempo e, este ano, nós universalizamos. Porque havia (diretor de turma) em todas as escolas, mas não em todas as turmas. Com a pandemia, nós sentimos a necessidade de universalizar. Então hoje, nós temos em todas as turmas e todas as escolas. São três grandes frentes que vêm exatamente para combater essa evasão.
OP- Agora, sobre as mudanças dos parâmetros curriculares, com a chegada da BNCC e a acomodação desse novo currículo nas escolas públicas: quais são os principais desafios para a implementação da nova BNCC na educação básica do Ceará?
Eliana Estrela - Na realidade, nós já tínhamos uma caminhada exatamente por conta das escolas de tempo integral. Nelas, nós temos tempo maior de carga horária, então nós já vínhamos trabalhando dessa forma, com itinerários formativos, olhando mais para o flexível, fazendo com que esses alunos olhassem e se envolvessem também para o mundo do trabalho.
Com a chegada da BNCC, nós, claro, estamos também aplicando em algumas outras escolas, mas a maioria já estava bem alinhada. Então, nós estamos continuando com esse trabalho e fazendo com que as outras escolas também se aliem a essa BNCC.
A BNCC hoje tem muitos desafios, mas também muitas conquistas. Ampliação da carga horária, esses itinerários formativos, o olhar para o mundo do trabalho, para novas tecnologias. Tudo isso já está implementado. Os nossos alunos já recebem, quando ingressam no primeiro ano do Ensino Médio, um tablet, equipamento que também facilita muito a continuidade dos seus estudos em casa. Até para ampliar seu conhecimento e exatamente contribuir com essa carga horária ampliada. Então, de forma mais pontual mesmo à BNCC, é a questão da formação do professor, ouvir os professores de forma que possamos chegar mais junto, apesar de que nós termos construído as diretrizes a partir do Ensino Médio. Nós já temos aí uma série de ações, mas precisamos avançar.
OP - Uma das mudanças interessantes da BNCC é a questão do cuidado com as emoções, para além do conhecimento cognitivo. Como essas questões voltadas para o emocional são levadas em conta na educação básica do Ceará?
Eliana Estrela - Nós temos uma parceria importante com o Instituto Ayrton Senna, que desenvolve a competência socioemocional, então existe um acompanhamento (nas escolas). Todas as nossas escolas fazem esse trabalho envolvendo as competências socioemocionais. Além disso, há tempos, o Professor Diretor de Turma também atua muito fortemente nessa frente, porque tem um vínculo muito forte com nossos estudantes, fazendo acompanhamento deles, de saber por que o aluno não foi pra aula, se está bem, se está com problema… Eles fazem um trabalho muito próximo.
Também temos psicólogos nas Creds (Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação) que atendem às escolas. No pós-pandemia, inclusive, nós ampliamos o número de psicólogos e implantamos também os assistentes sociais. Então, hoje nós temos uma equipe interdisciplinar nas Creds para fazer um trabalho educacional, junto com o Professor Diretor de Turma, que é fundamental nesse processo. OP - O Ceará se transformou no modelo de educação para o País. Guardadas as especificidades do Estado, como esse modelo – ou partes dele - pode ser replicado em qualquer unidade da federação? Eliana Estrela - Nós recebemos sempre outros estados que vêm fazer essa troca de experiência, conhecer nossa organização. Uma das coisas que a gente percebe que traz resultado é a colaboração. A colaboração no nosso estado está cada vez mais fortalecida. Quando os outros estados percebem a forma como é feita, eles ficam encantados e veem a possibilidade de avançar, porque no regime de colaboração, nós respeitamos a autonomia dos municípios, mas colaboramos com a educação dos municípios por meio de uma pactuação. Então, independente de política partidária, todos os prefeitos se juntam ao Governo do Estado na educação. Tem a questão do ICMS que é garantido, e uma colaboração mais próxima da Secretaria da Educação do Estado, que tem a responsabilidade maior com o ensino médio, mas também de olhar para as escolas primárias até o nono ano do ensino fundamental.
Esse nível de colaboração cada vez mais fortalecido garante a escola na idade certa e aprendendo. É uma política que tem plena condição de ser replicada em todos os estados.
OP - Nós vivemos em um mundo em transformação constante, precisando preparar crianças e jovens que vão chegar no mercado de trabalho em cinco, dez, 15 anos. Como educadora e como secretária, o que é importante a escola observar nesse mundo em constante mudança? E como essa questão é levada paras escolas públicas do Ceará?
Eliana Estrela - Essa pergunta é bem interessante. Ela faz uma reflexão que se fundamenta muito no que a gente vive hoje e na perspectiva de colocar isso em 10 anos. Exatamente como nós estamos agora, recebendo crianças no ensino fundamental, elas estão se preparando ali na alfabetização, e concordando que vão para o Ensino Médio e o ingresso na universidade. Uma das apostas importantes que nós temos aqui é o Novo Ensino Médio, pois acreditamos que esse jovem precisa estar focado na universidade, precisa dar continuidade aos seus estudos procurando um curso na universidade que mais lhe atrai e tenha a ver com o que ele pensa.
A outra questão são as escolas de educação profissional do Estado. Esse público está cada vez mais inovando, voltado para novas tecnologias, para programação. Então, são cursos atuais que nós precisamos oferecer. Realmente, esse avanço, essa revolução, nos cursos que o mercado de trabalho está demandando.
OP - O que a senhora espera para a educação do Brasil para os próximos anos? Nós estamos vivendo agora mudança de governo, mas como educadora, o que a senhora desejaria que se encaminhasse na educação brasileira e cearense?
Eliana Estrela - Eu espero que o Brasil retome a educação como prioridade. Não tivemos ações fortes do Governo Federal para a educação. Espero que agora, com o novo governo, a gente possa se fortalecer novamente e olhar mais ainda para essa questão das escolas de tempo integral, das escolas de ensino profissional que olha para o mercado de trabalho, e fortalecimento das nossas universidades, que seja um governo que realmente venha agregar e dar suporte aos estados.
Em relação ao Ceará, que seja um projeto de continuidade, porque é um projeto que vem dando certo, que tem desafios, mas estamos certos de que nós vamos avançar. Desejo que tenhamos um projeto consolidado, olhando o que está bom para avançar cada vez mais e melhorar, claro, sempre melhorar. E que seja fortalecido pelo Governo Federal.
Esperamos ter essa orientação maior do MEC porque, em quatro anos, nós andamos quase sozinhos. Foi preciso um esforço do governo do Ceará para dar continuidade ao projeto da educação. Que esse novo governo esteja de mãos dadas em prol das nossas crianças, nossos jovens e nossa educação que transforma e constrói uma vida mais rica e mais justa. Espero que realmente esse governo olhe para a educação básica. O Ceará, claro, que tenha continuidade nos seus avanços e suas conquistas.
“EUEliana Estrela, secretária da Educação do Ceará