Entrevista a Francisco Miranda Rodrigues

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ENTREVISTA. NOVO BASTONÁRIO DA ORDEM DOS PSICÓLOGOS

"É DESEJÁVEL QUE O PSICe Esta não é uma profissão qualquer, defende Francisco Miranda Rodrigues, que tem um cadernc

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o novo presidente de uma ordem profissional criada apenas em 2008 e que conta com mais de 19 mil inscritos: a Ordem dos Psicólogos. Francisco Miranda Rodrigues quer desenvolver a consciência corporativa da sua classe profissional e aumentar a identificação com a ordem que a representa. Os riscos psicossociais (danos psicológicos causados no trabalho). a supervisão clínica, o desemprego e a precariedade são alguns dos problemas que afectam o dia-a-dia dos psicólogos e que o bastonário deseja combater.

o Francisco Miranda Rodrigues fez terapia para lidar com grandes mudanças laborais e pessoais - e elogia os resultados

É verdade que também os próprios psicólogos procuram a terapia? Acontece com frequência?

Supervisão

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Acontece. Diria mais: dependendo da actividade do psicólogo é até desejável que recorra a terapia. É importante que exista uma actividade de apoio psicológico da parte de um colega para o desenvolvimento pessoal. É necessário que o psicólogo trabalhe algumas das suas competências e a forma como vive a reali-

dade do seu trabalho, de maneira a prestar um melhor serviço. É o autocuidado, de que falou na sua campanha? A questão do autocuidado e dos riscos psicossociais é importante. Estamos perante uma das actividades [psicólogo) com maior risco e precisamos de encontrar soluções preventivas para que os colegas estejam cada vez mais protegidos. Queremos colocar linhas de orientação para a prática que selam protectoras e preventivas. E queremos criar uma rede de contactos que possa ser utilizada numa situação de aflição.

A Ordem quer definir os requisitos-base para quem presta o serviço de supervisão clínica aos psicólogos. crucial para a sua formação

o A figura do psicólogo do trabalho, tal como existe o médico do trabalho, devia ser uma realidade nesta legislatura"


LOGO FAÇA TERAPIA" de encargos para a defesa da classe que agora representa. PorSusana Nasdmento

No decorrer da sua vida profissional, alguma vez sentiu necessidade de recorrer a terapia? Sim. Como desenvolvimento pessoal e necessidade de apoio face a alterações muito grandes na minha vida profissional e pessoal. Permitiu-me viver de forma melhor e mais equilibrada esse período, melhorando o autoconhecimento, ajudando à tomada de decisão e retomando a sensação de bem-estar.

Quais são os principais riscos psicossociais para os psicólogos? Uma precariedade de muitos anos na profissão como existe, por exemplo. [para os que trabalham) na Educação. com contratos que nem por um ano são, deslocações a custo pessoal e vencimentos nada elevados. Se não tenho condições para exercer de forma estável a minha profissão, se nem sei como vai ser a minha carreira a curto-médio prazo, significa que toda a minha organização familiar fica desorganizada. Como tenho recursos para recorrer a supervisão [parte da formação)? Estes factores não permitem que se evitem algumas repercussões muito negativas de desgaste ou de bum out nestes profissionais. É uma profissão que, pelas suas características, não é possível executar do ponto de vista tarefeiro. As responsabilidades que têm e o tipo de situações com que lidam exigem condições que. nalgumas áreas. não estão a ser asseguradas. É membro da Federação Europeia das Associações de Psicologia Os problemas dos psicólogos em Portugal diferem muito dos problemas dos psicólogos na Europa? Há problemas que existem um pouco por toda a Europa. No campo dos

Da clínica à indústria Um percurso entre a área

dínica e os recursos humanos Cozinhar, viajar, ler, ouvir música e ir ao cinema são os prazeres do novo bastonário. 42 anos. pai de quatro filhos. divorciado. Depois de trabalhar na área clínica e comportamental, foi director de recursos humanos no sector privado durante 11 anos.

problemas psicossociais. os psicólogos estão a trabalhar de forma mais presente e estão mais envolvidos do que estavam há três anos. Têm de estar mais ainda. A figura do psicólogo do trabalho - tal como existe o médico do trabalho - devia ser uma realidade nesta legislatura. Iremos trabalhar para isso. Esperamos ser bem acolhidos junto do Governo nessa matéria.

De que forma tenciona promover e aumentar a empregabilidade dos psicólogos? Através da empregabilidade individual e da empregabilidade de contexto. Na empregabilidade individual temos um projecto pioneiro e gratuito para os membros da Ordem. Os psicólogos têm um acesso a um balanço de competências e depois são encaminhados para um processo de consultoria individual ou de grupo, onde podem desenvolver as competências para iniciarem ou reorientarem a carreira. Na empregabilidade de contexto o objectivo é criar condições para que

"Queremos criar condições para que haja uma maior procura de psicólogos na sociedade portuguesa"

O papel do psicologo é muito abrangente: da psicoterapia ao coaching. da sexologia à presença nas escolas. tribunais e empresas

o "Vamos apresentar um plano nacional de prevenção e combate à depressão, dado o impacto da doença"

haja uma maior procura de psicólogos na sociedade. Passa por um trabalho de influência junto de decisores políticos e de outras organizações. Fizemos recentemente um protocolo com a Direcção-Geral da Educação em que se prevê não só a contratação no início do ano [escolar) do psicólogo, mas também outro tipo de trabalho com condições de garantia de supervisão, facultada pelo Estado. Outra forma de trabalhar o contexto é através de campanhas nos media e nas redes sociais.

Quantos psicólogos estão na Ordem? O número tem crescido? Tem havido crescimento todos os anos. Há uma formação universitária que andará entre os 1.900 a 1.500 alunos formados em Psicologia por ano. Muitos destes tomam-se candidatos à entrada na Ordem e. assim. à realização de um estágio profissional que é obrigatório. Temos, hoje em dia, cerca de 20 mil membros na Ordem. Diria que os portugueses são um povo deprimido? Tem notado algum aumento nos casos de depressão? Os estudos demonstram que sim. Não diria que os portugueses são um povo deprimido. mas que há uma penetração assinalável deste problema. Uma das medidas que nos propomos apresentar no nosso mandato é um plano nacional de prevenção e de combate à depressão perante o impacto desta doença na população portuguesa e perante o contributo que os psicólogos podem dar nesta matéria O Com Bruno Faria Lopes


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