Produção orgânica de mudas de alface

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PIERRI, L; POLETTO, MR; SEEFELD, S; MÓGOR, A. Desempenho de três cultivares de alface conduzidas em Desempenho de três cultivares de alface conduzidas em plantio direto no sistema orgânico. plantio direto no sistema orgânico. 2010. Horticultura Brasileira 28: S2766-S2771.

Desempenho de três cultivares de alface conduzidas em plantio direto no sistema orgânico. Letícia de Pierri1; Marcos Rodrigo Poletto1; Suzane Seefeld1; Átila Francisco Mógor2 1

Graduandos de Agronomia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, lepierri@ufpr.br, 2 rodrigompoletto@hotmail.com, su_seefeld@yahoo.com.br; Professor Doutor, Universidade Federal do Paraná - Setor de Ciências Agrárias - Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo - Rua dos Funcionários, 1540, CEP 80035-050, Curitiba, PR, atila.mogor@ufpr.br.

RESUMO

ABSTRACT

No presente trabalho objetivou-se avaliar o desempenho produtivo de três cultivares de alface dos grupos mimosa, lisa e romana conduzidas em plantio direto sobre a palha, em sucessão a aveia preta, e sistema orgânico, na Área Experimental de Olericultura Orgânica da UFPR, Pinhais-PR. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualisado com sete repetições e vinte plantas por repetição. Concluiu-se que as cultivares dos três grupos apresentaram desempenho satisfatório, sendo que para as variáveis massa fresca e diâmetro de caule as diferenças observadas não foram significativas. A alface lisa apresentou maior número de folhas enquanto a romana apresentou maior média de massa seca e de altura das plantas.

Performance of three lettuce cultivars conducted on no-tillage through organic system. This research sought to evaluate the productive performance of three lettuce cultivars of the groups mimosa, lisa and romana conducted on no-tillage upon straw, after black oat crop, and through organic system, in the Experimental Area of Organic Olericulture of the UFPR, Pinhais-PR. The experiment was carried out on completely randomized design with seven repetitions and twenty plants for repetition. Was concluded that the cultivars of the three groups showed sactisfatory performance and to the variables fresh weight and diameter stem the differences noticed doesn’t significants. The lisa group showed the bigger number of leaves while the romana group showed the better average of dry weight and plant height.

Palavras-chave: Lactuca sativa L., competição, cobertura vegetal, produção orgânica.

Keywords: Lactuca sativa L., competition, mulching, organic production.

São notáveis os benefícios que a cobertura vegetal promove ao solo: melhorando sua estrutura, controlando naturalmente plantas invasoras, retendo umidade, ciclando nutrientes, entre outras características (MÜLLER, 1991). Assim, o sistema de plantio direto na palha vem sendo muito empregado na agricultura com a finalidade de alcançar esses resultados, principalmente quando se trata das culturas de maior interesse econômico. Neste contexto, a utilização da cobertura de solo no cultivo da alface tem se mostrado fator determinante no aumento da produção e na qualidade do produto (ANDRADE JÚNIOR et al., 2005). Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010

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Desempenho de três cultivares de alface conduzidas em plantio direto no sistema orgânico.

De acordo com os princípios da agricultura orgânica, cada fazenda, sítio, propriedade ou unidade agrícola deve ser, tanto quanto possível, um organismo onde as diferentes atividades se complementem e se apóiem mutuamente. O ponto-chave para tal agricultura é o uso de uma adubação que vivifique o solo, elevando-o e/ou mantendo-o na condição de organismo vivo e fértil (IBD, 2009). Assim, a otimização dos recursos naturais da propriedade, como a produção de hortaliças em sucessão a espécies produtoras de biomassa, é uma forte vertente desse processo produtivo (MÓGOR & CÂMARA, 2009). Com base nisso, no presente trabalho o objetivo foi avaliar o desempenho produtivo de cultivares de alface dos grupos mimosa, romana e lisa, em plantio direto na palha de aveia preta conduzidas em sistema orgânico. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi conduzido na Área Experimental de Olericultura Orgânica da Universidade Federal do Paraná, localizado na Fazenda Experimental do Cangüiri (latitude 25º 23’ 25" S e longitude 49º 07’ 30" W), município de Pinhais, Paraná. O clima da região é classificado como Cfb, segundo Koppen e apresenta Latossolo Vermelho-Amarelo Álico, de textura argilosa e relevo suave ondulado (EMBRAPA, 2007). A análise química do solo da camada de 0 a 15 cm indicou os seguintes valores médios: pH (CaCl )= 6,1; pH SMP= 6,4; +3 2+ 2+ + 2 Al = 0; H+Al= 3,7 Cmolc/dm³; Ca = 7,2 Cmolc/dm³; Mg = 3,4 Cmolc/dm³; K = 1,44 Cmolc/ dm³; P= 158,4 mg/dm³; C= 37,4 g/dm³; Boro= 0,98 mg/dm³; V%= 76 e CTC= 15,74 Cmolc/dm³. O experimento foi conduzido a campo entre os dias 11 de setembro e 17 de novembro de 2009, sendo utilizadas três cultivares de alface para a comparação de desempenho em solo coberto com palhada de aveia preta (Avena strigosa), sendo elas a alface mimosa (Agristar, Topseed Garden – cultivar Mimosa Salad Bowl TS), lisa (Agristar, Topseed Premium – cultivar Regina 500) e romana (Isla – cultivar Romana Branca de Paris). Para o plantio da aveia, que antecedeu a cultura da alface no inverno anterior, foi realizada adubação de 400 kg de termofosfato e 25 toneladas de composto orgânico produzido na própria estação experimental, por hectare. A cultura da alface, no entanto, não recebeu adubação direta, contando somente com o residual deixado pela aveia. As mudas dos grupos romana, lisa e mimosa foram produzidas em cultivo protegido com semeadura em 17 de agosto de 2009 em bandejas de poliestireno expandido com 288 células, sendo utilizado como substrato ® 75% de Plantmax HT e 25% do composto orgânico Pró-vaso. Antes do transplantio das mudas, a aveia foi rolada, promovendo sua total senescência e proporcionando uma boa cobertura de palha no solo. No dia do transplante, realizado em 11 de setembro de 2009, o canteiro foi previamente marcado usando-se um marcador de plantio manual, com um espaçamento de 20 cm entre covas, tanto na linha como na entrelinha. O experimento contou com sete repetições, com vinte plantas por repetição, organizado em delineamento inteiramente casualizado, totalizando uma população de 420 plantas. Para a determinação da massa fresca, massa seca, número de folhas, altura e diâmetro de caule, três plantas foram coletadas por parcela no dia 17 de novembro de 2009, tendo completado 60 dias de ciclo. Os valores obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de nível de probabilidade, através do aplicativo Assistat. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Quando comparadas em sistema de plantio direto na palha, as variedades de alface mimosa, lisa e romana não apresentaram diferença estatística para as características massa fresca e diâmetro do caule. Porém, para as variáveis número de folhas, massa seca e altura de planta, os resultados mostraram-se diferentes estatisticamente tanto ao nível de 5% quanto ao nível de 1% de probabilidade, resultados esses que podem ser observados na Tabela 1. Em relação à massa fresca, nota-se que as três cultivares avaliadas possuíram o mesmo teor de água na parte aérea, concordando com os resultados obtidos por DouradoNeto et al. (2001) que encontraram, para as cultivares mimosa e regina, teores de água na parte aérea apresentando diferença estatística não significativa. Contudo, podemos comparar a produtividade média alcançada em relação ao sistema de cultivo convencional e por hidroponia. Camargo et al. (2004), ao estudarem as cultivares Vera e Verônica sob dois espaçamentos utilizando fertilizantes minerais, relataram produtividades médias de 303,10 g/planta (20x20 cm) e 263,34 g/planta (20x30cm), para a cultivar Vera, e 236,15 g/planta (20x20 cm) e 302,29 g/planta (20x30 cm) para a cultivar Verônica. No mesmo sentido, Luz et al. (2010), comparando o desempenho agronômico das variedades Mimosa (Salad Bowl) e Romana (Romana Balão) sob diferentes concentrações de nutrientes associadas a diferentes posições das plantas nos canais de cultivo, em sistema de hidroponia NFT, obtiveram os seguintes valores médios de massa fresca: 184,32 g/planta (posição inicial), 203,33 g/planta (posição intermediária) e 207,25 g/planta (posição final), para a variedade mimosa, e 247,22 g/planta (posição inicial), 249,16 g/planta (posição intermediária) e 269,99 g/planta (posição final) para a variedade Romana. Assim, podemos verificar que as massas frescas médias aqui observadas, em plantio direto na palha em cultivo orgânico, de 377,62 g/planta (lisa), 354,10 g/planta (romana) e 333,84 g/planta (mimosa) apresentaram valores superiores aos relatados pelos demais autores, remetendo aos benefícios já citados anteriormente a respeito da cobertura com palha de aveia. Para a variável massa seca, a cultivar romana apresentou média superior às demais, sendo que as alfaces mimosa e lisa não diferiram estatisticamente entre si. Esses resultados indicam que, apesar de apresentarem o mesmo teor de água, a variedade romana mostrouse superior às demais em relação ao acúmulo de massa seca. Luz et al. (2010) também avaliaram os teores de massa seca para a variedade Romana, encontrando 12,31 g/planta a 13,54 g/planta. Quanto ao número de folhas, a alface lisa (cultivar Regina) sobressaiu-se, apresentando média de 59 folhas por planta, enquanto que os grupos romana e mimosa apresentaram, respectivamente, 42 e 33 folhas por planta. Isso deve-se a características intrínsecas das cultivares, resultado também encontrado por Bonnecarrère et al. (2001), que obtiveram uma média de 34,4 folhas para a Regina, enquanto que a mimosa apresentou 18,9 folhas. Nogueira Filho (1999) também observou, em estudo de cultivares de alface no inverno, que a cultivar Regina apresentou maior número de folhas. A alface romana também foi a que apresentou maior altura de planta, com uma média de 29,46 cm, compatível com o informe técnico da empresa de sementes Isla, que indicava uma altura média das plantas de 20 a 30 cm. A altura da alface lisa também correspondeu ao esperado. A diferença observada pode ser explicada pela característica genética das cultivares em relação ao tamanho médio das plantas.


No presente trabalho, portanto, a alface romana apresentou maior teor de matéria seca acumulada e maior porte quando comparada às alfaces mimosa e lisa. A lisa apresentou maior número de folhas, enquanto os diâmetros de caule e as massas frescas observados não apresentaram diferença significativa, indicando que todas apresentaram os mesmos teores de água na parte aérea; porém, pôde-se observar um desempenho superior em relação à produtividade das três cultivares analisadas, em plantio direto na palha de aveia, quando comparadas, através da literatura, com os sistemas de cultivo convencional e hidropônico. REFERÊNCIAS AGRISTAR DO BRASIL. Catálogo técnico variedade Mimosa Salad Bowl TS. Disponível em http://www.agristar.com.br/descrtg/alface-mimosasaladbowl.htm. Acessado em 07 de dezembro de 2009. AGRISTAR DO BRASIL. Catálogo técnico cultivar Regina 500. Disponível em http://www. agristar.com.br/descrtp/alface-regina500.htm. Acessado em 07 de dezembro de 2009. ANDRADE JÚNIOR, VC; YURI, JE; NUNES, UR; PIMENTA, FL; MATOS, CSM; FLORIO, FCA; MADEIRA, DM. 2005. Emprego de tipos de cobertura de canteiro no cultivo da alface. Horticultura Brasileira, Brasília, v.23, n.4, p.899-903. BONNECARRÈRE, RAG; MANFRON, PA; MARIANI, OA; SANTOS, OS; SCHMIDT, D. 2001. Desempenho de soluções nutritivas e cultivares de alface em hidroponia. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 19, n.2. CAMARGO, MS; CAMPOS, LZO; JUNIOR, WHC; LIMA, AA; MELLO, SC; MIRANDA, EG. 2004. Competição das cultivares de alface Vera e Verônica em dois espaçamentos. Horticultura Brasileira, Brasília, vol. 22, n.2. DOURADO-NETO, D; MANFRON, PA; OHSE, S.; SANTOS, OS. 2001. Qualidade de cultivares de alface produzidos em hidroponia. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 58, n.1. EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 2007. Mapa de Solos do Estado do Paraná, Levantamento de solos, Série Documentos 96 – 2007. IBD, INSTITUTO BIODINÂMICO. 2009. Diretrizes e Legislação. Disponível em http:// www.ibd.com.br/Downloads/DirLeg/Diretrizes/Diretriz_IBD_Organico_17aEdicao.pdf. Acessado em 16 de Abril de 2010. ISLA SEMENTES, Catálogo técnico variedade Romana Branca de Paris. Disponível em http://isla.com.br/cgi-bin/detalhe.cgi?id=44. Acessado em 07 em dezembro de 2009. LUZ, JMQ; FAGUNDES, NS; SILVA, MAD. 2010. Produção hidropônica de alface dos tipos mimosa e romana em diferentes concentrações de solução nutritiva. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 26, n.2, p. 195-201. MÓGOR, AF; CÂMARA, FLA. 2009. Cobertura do solo, produção de biomassa e teores de Mn e Zn de alface no sistema orgânico. Acta Scientiarum, Maringá, v. 31, n. 4, p. 621-626.


Desempenho de três cultivares de alface conduzidas em plantio direto no sistema orgânico.

MÜLLER, AG. 1981. Comportamento térmico do solo e do ar em alface para diferentes tipos de combertura do solo. In: MÓGOR, AF; CÂMARA, FLA. 2007. Produção de alface no sistema orgânico em sucessão a aveia preta, sobre a palha, e diferentes coberturas do solo. Revista Scientia Agraria, v. 8, n. 3, p. 239-245. NOGUEIRA FILHO, H. 1999. Cultivares de alface e formas de sustentação das plantas em cultivo hidropônico. Santa Maria: UFSM, 60 p. (Tese mestrado).

Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010

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Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010

8,11

Massa Fresca (g)

59 a 377,62 n.s. 42 b 354,10 n.s. 33 c 333,84 n.s. 14,15 12,21 6,03 8,49

Nº de Folhas 14,21 b 16,74 a 13,33 b

Massa Seca (g)

22,88 c 29,46 a 26,53 b

Altura da Planta (cm)

2,6 n.s. 2,4 n.s. 2,6 n.s.

Diâmetro do Caule (cm)

Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; n.s: não significativo (Means followed by the same small letter in the column do not differ significantly, according to Tukey’s test p<0.05; n.s: not significant).

*

LISA Romana Mimosa C.V. (%)

Variedades

Tabela 1. Médias de sete repetições: número de folhas, massa fresca (g), massa seca (g), altura de planta (cm) e diâmetro do caule (cm) das variedades lisa, romana e mimosa conduzidas sobre palha de aveia preta em sistema orgânico (Averages of seven repetitions: number of leaves, fresh weight (g), dry weight (g), plant height (cm) and diameter stem (cm) of the varieties lisa, romana and mimosa conducted on straw of black oat through organic system). UFPR, Pinhais – PR, 2009.

Desempenho de três cultivares de alface conduzidas em plantio direto no sistema orgânico.

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