Estudo de caso Porto Morretes

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Série: Estudo de Casos

Porto Morretes

Realização

Apoio

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Centro de Inteligência em Orgânicos Série: Estudo de Casos

Marlon Ibrahim Marques e Fernando Campos, Te c p a r C e r t .

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Histórico da cachaça no Brasil A história da cachaça, tradicional bebida brasileira, confunde-se com a própria história do Brasil. Sua produção surgiu logo no início do período colonial, quando a produção açucareira era a base da economia do Brasil Colônia, cuja matéria-prima era obtida em latifúndios de monocultivo de cana-deaçúcar. A "cagassa" ou "cachassa" era um caldo azedo com espuma feculenta oriundo da destilação mal realizada do caldo de cana. (Meira, 2013).1 Os primeiros alambiques surgiram no Brasil em conjunto com os engenhos de açúcar do nordeste, entre os séculos XVI e XVII, porém logo se espalharam para as outras regiões. A cachaça rapidamente atingiu sucesso no Brasil Colônia, sendo inclusive utilizada como moeda de troca no comércio de escravos. Entretanto, ao passo que o consumo da cachaça aumentava, a demanda pelo vinho português diminuía, e tal situação trouxe bastante incômodo à coroa portuguesa. Para então proteger seus interesses, Portugal impôs altas taxas de impostos sobre o produto brasileiro. (Meira, 2013). No entanto, essa decisão da metrópole apenas contribuiu para fortalecer o espírito de resistência à condição de colônia explorada por Portugal. A cachaça tornou-se símbolo de patriotismo e marcou presença nas mudanças ocorridas nos cinco séculos de história do Brasil, sendo utilizada como bebida oficial nos brindes de momentos importantes, permanecendo até hoje como sinônimo de brasilidade (SEBRAE, 2012).

1. Meira, E. D. (2013). A História de um Patrimônio Cultural: A Cachaça Morretiana. Universidade da Região de Joinville. Retrievedfrom: univille.edu.br/community/mestradopcs/VirtualDisk.html? action=readFile&file=DISSERTACAO_ETI_FINAL_DA_FINAL_DA_FINAL.pdf&current=/Dissertacoes

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Contexto Com a intenção de manter a cachaça tradicional como bebida originalmente brasileira, foi promulgada em 14 de julho de 1994 a Lei n.º 8.918 (posteriormente regulamentada pelo Decreto n.º 6.871, de 04 de junho de 2009), onde é definido:

“Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar, com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro”. O decreto, que também dispõe sobre a padronização, classificação, registro, inspeção, produção e fiscalização de bebidas, ainda define: “Aguardente de cana é a bebida com graduação alcoólica de trinta e oito a cinquenta e quatro por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida de destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos em sacarose”.

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Cachaça Porto Morretes Existem, em termos de produção, dois tipos de cachaça produzidos no Brasil. Um tipo é produzido em Coluna de Destilação em aço inox, de forma contínua, em volumes grandes. É chamado, no mercado, de Cachaça Industrial. O outro é produzido em alambiques de cobre, em regime de bateladas e em volumes menores, se comparado à industrial. Este é chamado no mercado de Artesanal. A cachaça da Porto Morretes é destilada em alambiques de cobre, sendo assim, é artesanal, porém é comercializada, entre outros, nos modelos Premium e Extra Premium. A "Cachaça Premium" é uma classificação específica do MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 13, DE 29 DE JUNHO DE 2005, que entre outras coisas diz o seguinte: 2.2.9. Cachaça Premium: é a bebida definida no item 2.1.2 que contém 100% (cem por cento) de Cachaça ou Aguardente de cana envelhecidas em recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxima de 700 (setecentos) litros, por um período não inferior a 1 (um) ano. E também define o que é uma cachaça Extra Premium: 2.2.11. Cachaça Extra Premium: é a bebida definida no item 2.2.9. envelhecida por um período não inferior a 3 (três) anos. No Brasil, as cachaças industriais são produzidas por grandes empresas e o cultivo da cana-de-açúcar é realizado em grandes áreas. Já a cachaça artesanal é produzida por agricultores familiares, utilizando mão de obra familiar, ou por pequenos produtores em reduzidas parcelas de terra; a destilação e a fermentação são feitas de forma natural. Estima-se que, no território brasileiro, existam por volta de 40 mil produtores de cachaça artesanal.2

2. h#p://www.clubedoalambique.com.br/voce-­‐sabia/a-­‐diferenca-­‐entre-­‐a-­‐cachaca-­‐industrial-­‐e-­‐a-­‐cachaca-­‐artesanal

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No caso da cachaça orgânica, do plantio ao processo industrial, não podem ser utilizados substâncias agrotóxicas, adubos químicos solúveis ou derivados do petróleo. Ademais, a produção deve ser ambientalmente sustentável. Para que a bebida seja considerada “orgânica” deve possuir a certificação de conformidade, como estipulado na Lei 10831 de 23 de dezembro de 2003.

Diferenciação entre “Cachaça” e “Cachaça envelhecida É considerada cachaça envelhecida a bebida que contém, no mínimo, 50% de aguardente de cana envelhecida por período não inferior a um ano, podendo ser adicionado caramelo para a correção da cor. O maior desafio atualmente é que a cachaça seja mundialmente reconhecida como produto típico e exclusivo do Brasil e que seu nome seja reservado somente para a aguardente de cana brasileira. Dessa forma, ações setoriais

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estratégicas poderão ser mais bem focadas e de maior impacto, valorizando o produto nacional no exterior. Segundo o SEBRAE (2012), o Brasil possui mais de 40 mil produtores de cachaça que são responsáveis por cerca de 4 mil marcas existentes da bebida. O IBRAC (Instituto Brasileiro da Cachaça) estima que a capacidade instalada no Brasil seja de 1,2 bilhão de litros, sendo que 99% destas empresas são de pequenos e/ou microempresários. A produção brasileira de cachaça se divide em: 70% de coluna ou industrial, e 30% de alambique ou artesanal. Entre 2006 e 2011, o volume de vendas de cachaça apresentou um decréscimo anual de 4,6%. Em relação à exportação, o volume de cachaça comercializado no mercado externo é insignificante, representando em 2011 menos de 1% do total produzido. E muito embora a exportação de cachaça tenha decaído 11,7% entre 2008-2011, o valor comercializado, neste mesmo período, cresceu, atingindo em 2011 um preço médio de US$ 1,7/litro, enquanto que em 2006, o preço médio praticado era de US$ 1,5/litro. (SEBRAE, 2012).3 De acordo com indicadores do IBRAC, a produção atual de cachaça no Brasil é de aproximadamente 800 milhões de litros por ano.3

3. h#p://economia.ig.com.br/empresas/industria/2014-­‐09-­‐14/dia-­‐nacional-­‐da-­‐cachaca-­‐producao-­‐atual-­‐e-­‐

de-­‐800-­‐milhoes-­‐de-­‐litros-­‐por-­‐ano.html

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No território nacional, a bebida é produzida por 12 mil empresas, número que, estima-se, chega a 15 mil quando levadas em conta as associações regionais. Trata-se de um setor que emprega muita mão de obra. Mais de 4 mil marcas da bebida são comercializadas oficialmente hoje em dia, segundo o IBGE, e os maiores produtores estão nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraíba, Ceará e Pernambuco. Entre os estados que mais consomem cachaça estão São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará, Bahia e Minas Gerais. As duas razões apontadas para esse crescimento são a melhor posição competitiva do produto no mercado internacional, alcançada devido aos processos de padronização, qualificação e certificação de origem, e a mudança de foco nas exportações de cachaças mais populares para as premiuns. (SEBRAE, 2012) No que se refere à cachaça artesanal, o volume produzido em 2011 foi igual a 360 milhões de litros, representando uma queda de 14,3% quando comparado ao ano de 2006. (SEBRAE, 2012) Além disso, de acordo com Verdi (2006), as exportações de cachaça artesanal não alcançaram nem 2% do volume total produzido em 2006. Entretanto, segundo o mesmo estudo, a cachaça artesanal é vendida a US$3,50/litro no mercado externo, valor 480% maior que o da cachaça industrial.

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Em 2013 a bebida foi exportada para 59 países e o Brasil faturou com as vendas para o exterior USD 16,59 milhões, número 10,71% superior ao do ano anterior.4 O Brasil exportou 9,21 milhões de litros de cachaça.

País

Percentagem consumida do volume exportado

Alemanha

17,69%

Estados Unidos

11,43%

Portugal

9,18%

França

9,12%

Paraguai

7,07%

Itália

6,26%

A cachaça orgânica, neste contexto, possui grande potencial para comércio no mercado externo, pois concede um importante fator de especificidade ao produto.

4. h%p://exame.abril.com.br/economia/no4cias/alemanha-­‐e-­‐a-­‐maior-­‐consumidora-­‐de-­‐cachaca-­‐do-­‐brasil

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A Morretiana Morretes, situada no litoral do Paraná, trata-se de uma cidade que possui uma relação única e antiga com a cachaça, sendo que a produção e o consumo da bebida estão ligados por séculos ao cotidiano da mesma. Além de toda importância histórica para o desenvolvimento do Paraná, sendo um dos primeiros núcleos populacionais do estado, fundado em 1733, Morretes apresenta uma vasta riqueza natural, reconhecida inclusive pela UNESCO que, em 1991, tombou a região que compreende a Serra do Mar como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Inicialmente, em meados do século XIX, Morretes se destacava principalmente pelo cultivo de erva-mate, que encontrava terras férteis e clima favorável para seu desenvolvimento. Paralelamente, os canaviais também foram aumentando e, sempre comuns ao lado dos engenhos de açúcar, estavam os alambiques de aguardente para aproveitamento da cana. Com a expansão das atividades portuárias de Paranaguá, as plantações de cana-de-açúcar e a produção de cachaça foram intensificadas. Em 1976 foi instalado em Morretes o segundo engenho de açúcar estatal do Brasil. A produção e o comércio da aguardente morretiana foi alavancada ainda mais com a abertura do caminho de Cubatão (entre Morretes e Paranaguá) e a estrada da Graciosa (entre Antonina e Curitiba), que proporcionaram um maior fluxo de mercadorias. 10


Até meados do século XIX, a cachaça foi atividade secundária, embora sempre presente na economia de Morretes. Porém, essa situação começou a se modificar em 1872, com a chegada dos imigrantes italianos. Sendo que, já em 1878, começou a funcionar na Colônia Nova Itália o Engenho Central, produzindo açúcar e aguardente. Após 40 anos, em 1918, existiam em Morretes cerca de 60 engenhos de aguardente. Atualmente, Morretes conta com 12 engenhos em atividade que apresentam fluxo contínuo de produção. Ponto que conta a favor da cachaça morretiana é a relação intrínseca com a culinária da região. O famoso barreado de Morretes é servido com alguns acompanhamentos, entre eles, a cachaça. E é justamente com a expansão comercial e turística de Morretes e a valorização de sua gastronomia típica, que a cachaça morretiana tem ganhado relevância econômica e turística e se tornado importante patrimônio cultural. Até meados do século XIX, a cachaça foi atividade secundária, embora sempre presente na economia de Morretes. Porém, essa situação começou a se modificar em 1872, com a chegada dos imigrantes italianos. Sendo que, já em 1878, começou a funcionar na Colônia Nova Itália o Engenho Central, produzindo açúcar e aguardente. Após 40 anos, em 1918, existiam em Morretes cerca de 60 engenhos de aguardente. Atualmente, Morretes conta com 12 engenhos em atividade que apresentam fluxo contínuo de produção. Ponto que conta a favor da cachaça morretiana é a relação intrínseca com a culinária da região. O famoso barreado de Morretes é servido com alguns acompanhamentos, entre eles, a cachaça. E é justamente com a expansão comercial e turística de Morretes e a valorização de sua gastronomia típica, que a cachaça morretiana tem ganhado relevância econômica e turística e se tornado importante patrimônio cultural.

5. Esta seção foi baseada em Meira, 2013

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Fundação e Modelo Fundada em 2004 por Fulgêncio Torres, atualmente presidente da empresa, a Porto Morretes tem hoje dois sócios: o professor Agenor Maccari da UFPR (Universidade Federal do Paraná), e o Ex jogador de futebol Mozart Santos, que jogou dentre outros times, no Flamengo, Palmeiras, Coritiba, Spartak de Moscou e Seleção Brasileira. A empresa une a tradição dos antigos engenhos com a arte e a moderna tecnologia de produção de cachaça. Desde sua fundação, o modelo de produção, feita em canaviais próprios, foi orgânico. Entretanto, a comercialização de cachaça orgânica, certificada pela Ecocert, só começou um ano depois, em 2005.

Valores, Relacionamento e Atividades Embora possua o maior alambique da cidade, a Porto Morretes se propõe a entregar aos seus consumidores um produto de base artesanal. Além disso, a diligência em todas as etapas do processo de produção garante alta qualidade a essa morretiana. A cultura de inovação,

que

busca

desenvolver e melhorar o portfolio de produtos, assegura às cachaças da empresa as peculiares associadas ao Brasil e seu povo: diversidade e regionalismo. Porém, essa imagem da Porto Morretes com os clientes no exterior, basicamente Estados Unidos e Canadá, não surgiu por acaso. A construção desse relacionamento com os clientes foi planejada desde a sua criação, quando foi definido o foco na exportação.

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Ao direcionar esforços e recursos para a exportação, a Porto Morretes se diferencia das outras empresas do setor. Enquanto no cenário nacional de cachaça artesanal apenas 2% do volume produzido é exportado, a Porto Morretes destina cerca de 60% da sua produção de cachaça para consumidores dos Estados Unidos e Canadá. Essa estratégia comercial é certamente um dos fatores de sucesso da empresa. Embora não haja no mercado de bebidas dos países desenvolvidos o mesmo preconceito em relação à cachaça como ainda existe no mercado nacional, estes países possuem maiores exigências de qualidade. Os clientes estadunidenses e canadenses, por exemplo, estão acostumados a consumir produtos como whisky, vodka e rum. Portanto, para competir de igual para igual com esses produtos e satisfazer o gosto de um público que até então conhecia muito pouco a cachaça, foi necessário desenvolver um produto de classe mundial que atendesse esses padrões de qualidade. Um ponto a favor para a Porto Morretes e outras fabricantes de cachaça é a disposição do mercado externo em experimentar produtos típicos do Brasil. 13


Além de Estados Unidos e Canadá, que consomem 60% da produção de cachaça da Porto Morretes, os principais mercados nacionais são os estados do Paraná, representando 70% da vendas nacionais, Santa Catarina e São Paulo, representando juntos os 30% restantes. Nesse contexto, uma importante decisão dos sócios fundadores da Porto Morretes foi investir na produção orgânica de cachaça, incrustando ainda mais em seus produtos atributos de regionalismo e responsabilidade socioambiental. A certificação para a produção e processamento orgânico foi o passo seguinte para destacar a empresa das demais produtoras de cachaça. No entanto, tirar do papel o novo negócio de cachaças orgânicas não foi tão simples quanto se imaginava. Fabricar esse produto envolve duas atividades distintas e bastante complexas. De um lado há o plantio da cana-de-açúcar que deve ser cultivada no sistema orgânico de produção, isto é, com métodos e práticas agrícolas diferentes do convencional já conhecido e estabelecido. E por outro lado, a fabricação propriamente dita da cachaça, ou seja, o processamento da cana-de-açúcar no alambique que deve ser realizada sobre rígido controle de qualidade para atingir o padrão Premium da bebida. Portanto, recursos financeiros e tempo foram investidos nessa etapa para garantir o sucesso do empreendimento.

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Ainda hoje, a Porto Morretes busca aprimorar os processos tanto de plantio orgânico da canad e - a ç ú c a r, q u a n t o d e fabricação da cachaça. Na busca de tecnologias inovadoras que melhorem a produtividade e qualidade de seu produto, a empresa desde o início conta com uma parceira de peso: a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tanto que a UFPR possui experimentos com cana-de-açúcar nas áreas de produção da empresa e atualmente existe uma tese de doutorado e duas dissertações de mestrado sendo apoiadas pela empresa para desenvolver e aprimorar a produção de cachaça. Provavelmente não há outros alambiques que trabalhem tão próximos com universidade e pesquisadores. Uma dificuldade da qual a Porto Morretes não conseguiu escapar, pois é comum a praticamente todo empreendedor do Brasil, foi a burocracia enfrentada para a abertura e implantação do negócio. Além disso, conseguir os registros do produto junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) foi bastante trabalhoso. Ao todo, foi necessário um ano para regularizar todo o empreendimento e o produto antes de realizar a primeira venda, em 2004. A empresa possui no município de Morretes uma área de 25 hectares de plantio de cana-de-açúcar orgânica. Através de um alambique moderno e com as mais recentes tecnologias de fabricação, a Porto Morretes produz anualmente cerca de 70 a 80 mil litros de cachaça. Em média é necessária uma tonelada de canade-açúcar para produzir 90 litros de cachaça.

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A Porto Morretes tem ainda outro parceiro importante, um importador nos USA, que realiza a importação da cachaça orgânica para a América do Norte.

Produtos A empresa usa a marca Novo Fogo e embalagens especificas para o mercado dos USA, seu principal mercado hoje em dia. A marca Novo Fogo é uma associação entre a Porto Morretes e uma empresa americana. Nos USA, são comercializadas, atualmente, a Novo Fogo Barrel Aged, 2 anos envelhecida em barris de carvalho; Novo Fogo Silver, um ano de repouso, e serão lançadas ainda este ano, a Novo Fogo envelhecida um ano em carvalho e a Novo Fogo com acabamento em Araribá.

Mercado Entre as concorrentes da Porto Morretes estão as cachaças orgânicas Weber Haus, Engenho Terra Vermelha e Gabriela. Além delas, há também as cachaças Premium e convencionais, como Ypioca e Ypioca Orgânica. Os mercados atendidos por essas empresas são basicamente os mesmos, o que as diferencia é estratégia de apresentação e comercialização.

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Processo de produção A cana-de-açúcar, uma vez colhida, é levada para a moenda para a extração do caldo, que filtrado, segue para a dorna de decantação para separar as impurezas. Após essa fase, o caldo segue para o processo de fermentação com a utilização da levedura Saccharomyces Cerevisae ou outros materiais, como o farelo de arroz. Este processo é concluído em aproximadamente 24 horas. O produto da fermentação, denominado vinho, é retirado por gravidade das dornas de fermentação e conduzido diretamente para a destilação nos alambiques. O álcool inicial, chamado de cabeça, e o álcool final, chamado de calda, não são aproveitados durante a destilação. Utiliza-se para a comercialização somente o álcool do meio da destilação, chamado de corpo ou coração, e que compreende cerca de 80% do material destilado. Após retirado, o álcool é padronizado para que seu teor alcoólico se estabeleça entre 38% e 48%. A partir desse momento, a cachaça já pode ser engarrafada ou ir para tonéis de madeira para envelhecimento. A cachaça envelhecida tem sabor e aroma mais agradáveis do que a cachaça recém destilada, o que lhe agrega maior valor. Os dois principais resíduos gerados no processo de fabricação da cachaça, o bagaço da cana (gerada pela extração do caldo) e o vinhoto (subproduto da destilação) são aproveitados pela Porto Morretes. Metade do bagaço da cana é

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queimado na caldeira para geração de energia e a outra metade é misturada com o vinhoto para produzir o adubo utilizado nos canaviais orgânicos.

Desafios e oportunidades Os planos da Porto Morretes para os próximos anos são, em termos

de

qualidade: igualar o produto ao que existe de melhor em destilados no mundo e competir com as grandes empresas que dominam

o

comércio de destilados em escala global. Dentro de dois anos, a Porto Morretes planeja expandir as vendas para o mercado europeu. Mas, tomando as devidas precauções para não comprometer a qualidade dos produtos na futura expansão, pois desejam manter a proposta de valor e conceito de produção orgânica artesanal. O grande desafio é a falta de capital para o crescimento da empresa. A Porto Morretes já ampliou o alambique para suprir a demanda que possui mensalmente. Contudo, se a tendência atual persistir, será necessário expandir

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os outros setores de processamento e, provavelmente, incorporar mais um alambique em sua área de produção. No total, a Porto Morretes possui área igual a 22Ha para o cultivo de cana-deaçúcar, desses, 15Ha estão em produção e mais 20 disponíveis para plantio, os quais serão usados a partir de 2016. Todo o plantio, manejo e corte são manuais. Outro plano para ser concretizado num prazo maior é transformar o próprio alambique em um centro de visitação e de referência em agricultura orgânica. O objetivo principal será mostrar ao público em geral como é possível obter alta produtividade agrícola sem a utilização de insumos químicos através do manejo orgânico. Essa ideia esteve presente desde o início do negócio, quando ainda buscavam um local, para instalar o empreendimento, que apresentasse beleza cênica, proximidade a cursos d’água e pudesse servir para fins turísticos. A cachaça Premium é o único segmento que vem crescendo dentro do setor de cachaças, pois o desejo do brasileiro de experimentar produtos diferentes e com maior qualidade cresceu com o aumento da renda da população nos últimos anos. A Porto Morretes é beneficiada por esse processo.

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Impostos O

peso

dos

impostos

no

mercado doméstico inviabiliza

a

produção dos p e q u e n o s . Segundo Fulgêncio Torres, fundador e presidente da Porto Morretes, o ICMS próprio é de 12% mais o ICMS Substituto que é cerca de 18%. No total, são 30% de ICMS. Normalmente a comercialização é feita com prazos de pagamento superiores ao prazo que existe para recolhimento dos impostos. "Criou-se uma situação absurda de um pequeno produtor ter que recolher o ICMS de um grande varejista com o próprio capital.

Todos sabemos que capital é o bem mais

escasso para os pequenos produtores", explica Fulgêncio. Após a introdução da substituição tributária, há inúmeros relatos de produtores que não estão conseguindo honrar seus pagamentos. No plano Federal, o IBRAC tem se mobilizado para conseguir que os produtores de cachaça também possam ser classificados como Simples, o que diminuiria a complexidade de controlar e recolher os impostos, como PIS/COFINS, CSSL e IPI. Hoje, um produtor de cachaça pode apenas optar pelo Lucro Presumido ou Lucro Real.

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Certificação Atualmente a Porto Morretes é c e r t i f i c a d a p e l a E C O C E RT e m produção orgânica e também em comércio justo (Fair Trade), sendo a primeira empresa certificada pela ECOCERT para comércio justo no Brasil. A certificação de um produto orgânico não compreende apenas a parte técnica da produção, considerase o respeito tanto à legislação trabalhista quanto a ambiental”.

Prêmios Em 2012, na edição brasileira do Concurso Mundial de Bruxelas, a Porto Morretes participou com três cachaças e ganhou três medalhas, inclusive a de ouro com a Cachaça Tradição. O Concurso Mundial de Bruxelas é um concurso internacional, bastante respeitado, para vinhos e destilados.

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Indicadores Fulgêncio Torres: Fundador e presidente da Porto Morretes Número de funcionários: 13 (Trabalho no campo e no setor administrativo); Faturamento: Não divulgado Produtividade: 80 mil litros/ano Hectares de cana em produção: 15Ha estão em produção e mais 20, de área disponível para plantio, começarão a ser usados em 2016. Meta de crescimento para os próximos cinco anos: 30%

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Fontes de Pesquisa: Instituto Brasileiro da Cachaça: http://www.ibraccachacas.org/index.php/o-ibrac Meira, E. D. (2013). A História de um Patrimônio Cultural: A Cachaça Morretiana. Universidade da Região de Joinville. Retrieved from http://univille.edu.br/community/mestradopcs/VirtualDisk.html? action=readFile&file=DISSERTACAO_ETI_FINAL_DA_FINAL_DA_FINAL.pdf&current=/ Dissertacoes SEBRAE. (2012). Cachaça Artesanal (p. 84). Brasília, Brasil. Retrieved from http:// bis.sebrae.com.br/GestorRepositorio/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/ 444c2683e8debad2d7f38f49e848f449/$File/4248.pdf Verdi, A. R. (2006). Dinâmicas e perspectivas do mercado da cachaça. Informações Econômicas, 36(2), 93–98. Retrieved from http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/ seto2-0206_Mercado_cachaca_000fjd7g4i802wyiv809gkz519nsp8ki.pdf

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O Centro de Inteligência em Orgânicos - CI Orgânicos - e um projeto realizado pela Sociedade Nacional de Agricultura, SNA e conta com o apoio do Sebrae. Seu objetivo principal e contribuir para o fortalecimento da cadeia produtiva de alimentos e produtos orgânicos no Brasil por meio da integração e difusão de informações e conhecimentos. www.ciorganicos.com.br Informações e contato: Sociedade Nacional de Agricultura Presidente: Antonio Mello Alvarenga Av. General Justo 171/7 andar 20021-130 Rio de Janeiro, Brasil +55(21) 3231 6350 email: sna@sna.agr.br Coordenação, organização e revisão: Sylvia Wachsner Maria Chan Marlon Ibrahim Marques Fernando Campos Fernanda Froes Fotografias: Sylvia Wachsner e divulgação Porto Morretes

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