7 minute read

p8 e

Setúbal dedica semana à comunidade piscatória p10

OPINIÃO

Advertisement

Viriato Soromenho-Marques

A verdade em tempos difíceis

Aceitei com honra e sentido de responsabilidade o convite de Francisco Alves Rito, jornalista e dinâmico director de O SETUBALENSE, para ocupar o seu lugar numa próxima edição comemorativa da passagem do 166.º Aniversário deste periódico. Um jornal que se confunde com a história da cidade, e que hoje pretende ser um espaço de encontro e diálogo onde se podem trocar notícias, ideias e articular projectos que valorizem o mosaico distrital.

O tema central da edição será o da verdade. Seria difícil encontrar um conceito mais forte e polissémico. Riquíssimo filosoficamente, mas ligado também à própria essência do jornalismo e das lutas cívicas pela liberdade de expressão, precursoras das modernas democracias constitucionais.

A verdade importa por três motivos principais. Primeiro, porque o jornalismo enfrenta hoje a concorrência de muitas outras plataformas e suportes. O jornalismo já se inseriu, como é o caso deste jornal, na corrente da mudança tecnológica, combinando o papel com o digital. Contudo, a diferença reside na fidelidade do jornalismo ao compromisso deontológico de ser fiel à verdade factual e às regras deontológicas que ao longo de muitas décadas fizeram os leitores confiar na imprensa escrita. Os factos não dispensam a interpretação, contudo esta última não deve nem pode substituir-se aos primeiros. É nesse salto mortal que surgem as formas modernas de falsificação e manipulação (fake news, deep fake, etc.), modos bem antigos e perversos de destruir a informação, mas que com a tecnologia digital se aprimoraram no mal a níveis para além do alcance da imaginação do leigo.

A verdade factual importa, também e finalmente, como solo seguro para sermos capazes de um triplo exercício de avaliação das forças e fragilidades, dos riscos e oportunidades que se colocam à cidade e ao distrito

A verdade factual é indispensável, em segundo lugar, pelo período carregado de incertezas em que nos encontramos mergulhados, em todas as escalas, da região ao mundo, passando pelo país e pela Europa. Apesar do sucesso na redução das vítimas, devido ao avanço da vacinação, a pandemia está longe de estar vencida. A desigualdade no acesso às vacinas, a nível mundial, irá garantir a sua continuidade por muito tempo. As consequências sociais e económicas profundas da pandemia, por outro lado, só agora começam a acentuar a sua sombra ameaçadora. Os danos que o terminar das moratórias bancárias irá provocar no emprego e nas empresas dependerão de factores que poderemos influenciar, mas não determinar. Tudo radicará da capacidade, ou não, de se mudarem as regras da zona euro que têm imposto a austeridade como política europeia. Serão mudadas as regras do tratado orçamental, ou pelo menos substancialmente atenuadas? Continuará o BCE a suportar a dívida pública dos Estados, aliviando as respectivas taxas de juro? Será a U.E. capaz de perante os comuns desafios gigantescos - do ambiente e clima à saúde e segurança - assumir uma orientação mais coordenada e solidária, aproximando-se do modelo federal que há décadas tem sido sucessivamente adiado, com custos imensos para a confiança dos europeus na própria ideia de Europa?

A verdade factual importa, também e finalmente, como solo seguro para sermos capazes de um triplo exercício de avaliação das forças e fragilidades, dos riscos e oportunidades que se colocam à cidade e ao distrito. Retrospectivamente, na reinterpretação da história regional onde repousa uma parte, tão importante como esquecida, da nossa cultura e modo de ser colectivo. Analiticamente, na consideração das possibilidades e sinergias que os actores distritais se preparam para dispor no terreno, no interior e para além do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Prospectivamente, na sondagem do nosso futuro colectivo, encarando com coragem as ameaças crescentes da degradação ambiental e climática, preparando desde já as estratégias de resposta que nos permitirão adaptar melhor aos impactos inevitáveis e duros das próximas décadas. Isso implica reformar as infra-estruturas, mudar os hábitos e os valores, equipar os territórios urbanos, rurais e marítimos para evitar disrupções que só por desmazelo e incúria permitiríamos que ocorressem sem adequados meios de mitigação.

Sobre tudo isto se debruçará a nossa edição especial, em Julho próximo. Fica aqui, desde já, o aviso e o convite aos nossos leitores.

Professor catedrático de Filosofia da Universidade de Lisboa

ANUNCIE NO SEU DIÁRIO DA REGIÃO

ALMADA 265 539 691 SETÚBAL 265 520 716 SEIXAL 265 520 716 MONTIJO 212 318 392 MOITA 212 047 599 BARREIRO 212 047 599 PALMELA 265 520 716 ALCOCHETE 212 318 392 OUTROS CONCELHOS 265 520 716

Pesca

ANDRÉ CONCEIÇÃO

MAR E PESCADOR 2021 Setúbal dedica semana à comunidade piscatória

Hoje pela manhã é a romagem ao Memorial aos Pescadores Setubalenses. Desaparecidos. À tarde é lançado um livro e abre uma exposição

Humberto Lameiras

Setúbal está a homenagear as gentes do mar com várias iniciativas. Ontem, domingo, no âmbito do Dia Nacional do Pescador, durante a manhã realizou-se a missa de homenagem aos pescadores, na Igreja de São Sebastião. Mas as cerimónias e eventos dedicados à comunidade piscatória estendem-se até 7 de Junho, integrados no programa da "Semana do Mar e do Pescador 2021".

O concelho dedica assim a este sector que está, em boa medida, na origem do crescimento da economia sadina ao longo dos tempos, um conjunto de eventos que além do Dia Nacional do Pescador, que se assinala hoje, visam a “valorização da ligação de Setúbal ao mar e aos pescadores”, destaca a autarquia em comunicado.

A semana dedicada ao mar e ao pescador termina com um encontro com ostricultores no Mercado do Livramento

Assim, hoje, às 10h30, autarcas e representantes da comunidade local vão rumar ao Cemitério de Nossa Senhora da Piedade, numa cerimónia de deposição de flores no Memorial aos Pescadores Setubalenses Desaparecidos.

Com organização da Câmara Municipal, União das Freguesias de Setúbal e juntas de freguesia de São Sebastião, de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra e do Sado, realiza-se no âmbito do projecto "Setúbal Terra de Peixe", o lançamento do livro “Setúbal, Terra de Pescadores”, da autoria de Patrícia Borges.

O lançamento da obra é também esta segunda-feira, às 14h30, na Casa da Baía, e destaca a tradição gastronómica setubalense, assente na valorização do trabalho das gentes do mar e dos produtos da pesca da região, com texto de Patrícia Borges e fotografia de Nicola Lemonnier. (ver texto ao lado nesta página).

Entre vários contextos, este trabalho “visa a promoção, divulgação e valorização da gastronomia enquanto património cultural, com preocupações assentes na sustentabilidade das actividades económicas directamente relacionadas, a pesca, a restauração e a hotelaria”, avança a autarquia. E acrescenta: “O receituário apresentado pretende ainda ser um legado para auxílio a futuros chefs locais e nacionais”.

Hoje é ainda inaugurada uma mostra fotográfica de Nicola Lemonnier, com relatos visuais da comunidade piscatória sadina inspirados no livro “Setúbal Terra de Pescadores”, patente na Casa da Baía até 7 de Junho.

A terminar a "Semana do Mar e do Pescador", no dia 7, a partir das 15h00, realiza-se um encontro com ostricultores, no auditório do Ninho de Novas Iniciativas Empresariais de Setúbal, no primeiro piso do Mercado do Livramento.

PATRÍCIA BORGES

Tradição gastronómica setubalense e vida dos pescadores locais contadas em livro

O livro “Setúbal, Terra de pescadores”, com texto da professora Patrícia Borges e fotografia de Nicolas Lemonnier, é apresentado hoje, pelas 14h30, na Casa da Baía.

A autora aborda temáticas como: a gastronomia do mar, histórias de vida dos pescadores e a relação da cidade com a comunidade piscatória, e está integrado na “Semana do Mar e do Pescador”, promovida pela Câmara Municipal de Setúbal,

Patrícia Borges, professora adjunta da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria, justifica a relevância do projecto, já que, segundo a mesma, faltava fazer um levantamento e compilação das “receitas do mar”, de forma a enaltecer: “os recursos marinhos de Setúbal e do Sado”, baseando-se em pesquisa bibliográfica e entrevistas.

Os testemunhos e estórias de vida, como a professora explica, foram feitos a: “peixeiros do Mercado do Livramento, pescadores dos cacifos, pessoas na Lota de Setúbal e no Mercado do Rio Azul”.

Destacou ainda a colaboração do fotógrafo Nicolas Lemonnier, com quem tem já uma relação profissional, e que segundo Patrícia Borges, foi importante para a concretização do projecto, já que o mesmo tem, para além de conhecimento técnico sobre a pesca e o mar, uma paixão pela temática, sentimento que envolveu todos os participantes no projecto

O livro é financiado pela Câmara Municipal, que, segundo a professora, mostrou receptividade e disponibilidade em apoiar o projecto, desde o seu início, procurando “reconhecer o trabalho dos pescadores, como forma de agradecimento a tudo o que fizeram por Setúbal”.

This article is from: