8 O SETUBALENSE 15 de Julho de 2022
Montijo LUÍS ROUXINOL TOUREIRO COMEMORA 35 ANOS DE ALTERNATIVA
"Mesmo com as coisas a correrem bem em praça, tive de ir para Espanha e França" O SETUBALENSE
O cavaleiro recorda as dificuldades vividas no início da carreira. Nem a triunfar conseguiu ter oportunidades Mário Rui Sobral “Luís Rouxinol – Querer é Poder” intitula o documentário, da autoria de José Cáceres, que retrata a vida da principal e mais premiada figura de sempre do toureio a cavalo em Portugal. O filme foi ontem apresentado perante centenas de aficionados que lotaram o Cinema Teatro Joaquim d' Almeida, no Montijo, em cerimónia integrada nas comemorações dos 35 anos de alternativa de Luís Rouxinol. Cerca de 24 horas antes de pisar o palco montijense, o toureiro de Pegões, que nasceu a 8 de Agosto de 1968, falou a O SETUBALENSE e debruçou-se sobre o brilhantismo de uma carreira que ainda não terminou. “Tenho o objectivo de chegar aos 40 anos de alternativa no activo e depois retirar-me”, confessa o cavaleiro, que se estreou em praça com apenas 8 anos de idade e que, em 10 de Junho de 1987, viria a tirar a alternativa, na monumental de Santarém, conquistando o troféu da melhor lide diante de João Moura, Joaquim Bastinhas e Rui Salvador. Quando iniciou a carreira esperava chegar a primeira figura do toureio a cavalo? Comecei por mera brincadeira, a acompanhar o meu pai, e depois quando tirei a prova de praticante, em 1986 na Moita, e a alternativa, em 1987 em Santarém, sim. Aí pensei em chegar a ser figura do toureio. Não foi fácil, mas graças a Deus, com muito esforço, trabalho, dedicação e ajuda de alguns amigos e da minha família, consegui. Quando se começa, tem-se esse sonho. As coisas nem sempre são fáceis, é um mundo difícil e é preciso também um pouco de sorte. Na altura em que comecei havia quatro ou cinco grandes
Luís Rouxinol (á esq.) chegou ao Cinema Teatro acompanhado por Nuno Canta
figuras, o que tornou as coisas mais difíceis. E sinto-me feliz por ter atingido esse objectivo. Não é fácil, como dizia, até porque contam muito as dinastias... É bastante mais fácil, quando se tem por detrás o nome de um pai ou de um avô já conhecidos como figura ou figuras do toureio, mas é sempre preciso ter valor para se conseguir. Porém, nesses casos, há sempre muitas oportunidades, coisa que eu não tive. Sente que teve de trabalhar a dobrar para alcançar este patamar? Verdade. Mesmo com as coisas a correrem bem em praça – como aconteceu quando tirei a alternativa em 1987, o que me levava a pensar que iria ter oportunidades – não foi fácil. Fui o triunfador naquela tarde, pensei que as portas se iriam abrir e começar a ter boas corridas, bons cartéis, mas foi difícil. Tive de ir dois
ou três anos para Espanha e França. Ainda andei cinco ou seis anos a marcar passo, mas consegui... Satisfeito com este documentário? O meu filho mostrou-me um pouco, não tive oportunidade de ver tudo. Mas pelo pouco que vi está espectacular. Há que dar os parabéns ao José Cáceres, que fez um grande trabalho. Dos vários momentos que viveu em praça, quais os mais marcantes, aqueles que lhe vêm de imediato à memória? O mais marcante foi sem dúvida o dia da minha alternativa, pela corrida que foi, com o cartel que teve, e em que consegui triunfar. Depois, alguns dos troféus importantes que conquistei ao longo da carreira, como os três galardões de triunfador na praça do Campo Pequeno – penso que eu e o Pablo [Hermoso de Mendoza] somos os únicos com estes três
galardões. E outro momento marcante foi a alternativa do meu filho [Luís Rouxinol Jr.]. Ele ter seguido as minhas pisadas foi algo que, há meia-dúzia de anos, eu nem esperava, mas concretizou-se. E sempre o apoiei, desde que ele disse que queria ser toureiro. É o toureiro mais premiado de sempre em Portugal... Penso que sim. Sou dos toureiros com mais troféus, tanto a nível de corridas como de finais de temporadas. Claro que é motivo de orgulho. É o reconhecimento do trabalho que fazemos em casa, durante as semanas, durante os Invernos... depois no decorrer das temporadas conseguirmos esses objectivos é bastante importante, é motivação maior para trabalhar todos os dias. Quais os cavalos que mais o cativaram? Tive três ou quatro importantes ao longo da minha carreira. O
Universo, que fez campanha comigo em amador, praticante e também no dia da minha alternativa; o Mustang, que toureou comigo 10 temporadas, mas demorou a conquistar muitos troféus; o Disparate, um cavalo de guerra, com ferro João Branco Núncio, durante 9 ou 10 anos; e até há dois ou três anos tive o melhor que passou cá por casa, uma égua luso-arábe, chamada Viajante. Toureou 10 temporadas e penso que foi o animal que me proporcionou fazer o toureio que mais gosto. A continuidade do toureio a cavalo na família está garantida. Luís Rouxinol Jr. pode beneficiar do caminho que o pai desbravou. Augura-lhe futuro idêntico ou considera que ele pode ir mais longe do que o pai? O que mais queria é que ele fosse mais longe do que eu. Está num bom momento. Penso que tem sido o cavaleiro que mais tem evoluído, com os poucos anos de alternativa que tem. Tem tido uma evolução espectacular, não é normal em tão poucos anos. Se tudo lhe correr bem, se não houver nenhum azar e Deus ajudar, penso que dentro de dois ou três anos poderá ser uma figura importante no panorama taurino. A afición vai poder continuar a apreciar a arte de Luís Rouxinol por muito mais tempo ou já tem pensada uma data para a despedida? Enquanto me sentir bem e o público gostar de ver o Luís Rouxinol... Gostava de me retirar num bom momento da carreira, não quero andar a arrastar-me em praça. Gostava de chegar aos 40 anos de alternativa sempre no activo, talvez reduzindo o número de corridas de temporada para temporada, dando oportunidade ao meu filho, e depois retirar-me. Sempre com o Montijo, Pegões, ao peito. Claro que sim. Tenho grande orgulho nisso. É a minha terra e penso que temos no Montijo uma das melhores ou a melhor praça de toiros de Portugal.