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Importância da sensibilidade e do carinho na educação
nas, mas o que digo é que temos de ensinar aos rapazes para se porem no lugar do outro, para perderem a sua parte mais violenta”.
Tiago Jesus
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Javier Urra foi o orador internacional na sessão que decorreu no período da manhã do VI Fórum Abrigo, usando a sua intervenção para explicar a forma como se educa os meninos a preocuparem-se apenas com eles e as meninas a olharem para os outros. O psicólogo, em declarações a O SETUBALENSE, após a sua intervenção no evento, exemplificou como é possível alterar este paradigma através da educação.
“Os homens são educados para saberem lidar com eles mesmos, enquanto as mulheres são educadas para lidar com os outros. Para se poder alterar este paradigma, uma das soluções poderia ser educar um menino como se fosse uma menina”, referiu, passando a explicar esta questão. “Como é que educamos as meninas? Pela sensibilidade, pelo cuidado, pelo carinho. Obviamente que não temos de fazer dos meninos meni -
EFEITO DO CONFLITO NAS CRIANÇAS Pacheco Pereira garante que guerra “muda tudo” no futuro dos mais novos
Tiago Jesus
O psicólogo explicou como a questão da violência nos homens se trata de uma questão cultural, que pode ser alterada através da educação. “A pergunta é se se trata de uma violência intrínseca ou cultural. Por exemplo, em Espanha os homens matam 55 mulheres por ano, considerado como violência de género. No México, que tem o dobro da população, matam-se 2500. Isto porque é uma sociedade muito mais machista e é desde pequeno que se tem de educar, de modo que se possa alterar esta cultura que alguns países têm”, referiu, tentando exemplificar como se pode resolver esta questão. “A meu ver, para se resolver esta situação não temos de olhar para as que funcionam mal, mas sim para as que funcionam bem. Essas famílias também têm problemas sociais e económicos, mas ainda assim funcionam bem. É esse fenómeno que temos de estudar e perceber como se pode aplicar a mesma receita nas famílias que não funcionam bem”.
Quanto à problemática das redes sociais, Javier Urra afirmou que a questão não está nas redes sociais em si, mas na forma como se vive além delas. “As redes sociais permitem muita coisa, mas também permitem que nos foquemos muito em nós. As crianças podem estar nas redes sociais, mas têm de sair e conviver com as outras crianças. É importante educá-los a estar em convívio com a natureza, a ajudar os outros que têm mais dificuldades. Isso sim faz com que eles sejam sociais e carinhosos e boas pessoas”.
“As crianças e o Mundo – Que caminhos? Que metas?” foi o tema do VI Fórum Abrigo, que trouxe ao Cinema Teatro Joaquim D’Almeida, no Montijo, a ministra Ana Mendes Godinho e a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, além de um conjunto de académicos, investigadores e políticos, para reflexão sobre o futuro dos jovens em risco (ver pág.8).
O professor Pacheco Pereira foi um dos oradores na sessão matinal do VI Fórum Abrigo, explicando na sua apresentação a relação entre o contexto histórico com aquilo que poderá ser o futuro dos mais pequenos em Portugal. O historiador, em declarações a O SETUBALENSE após o encontro, explicou como o conflito existente entre a Rússia e a Ucrânia pode alterar o crescimento dos mais jovens, reforçando que “muda tudo”.
“Muda primeiro porque a noção de risco colectivo é muito maior, muda porque a própria construção gráfica da vida provavelmente incluirá coisas que não foram relevantes no meu tempo, por exemplo, pode implicar serviço militar, pode implicar uma atitude diferente em relação às questões de defesa e segurança”, referiu, acrescentando. “Muda tudo, muda a economia, muda a sociedade e muda a visão do mundo”.
Relativamente à temática das redes sociais e à forma como os mais novos são expostos nas mesmas, maior parte das vezes sem saberem, Pacheco Pereira explica que as crianças não vão ter liberdade quando precisarem de a assumir. “A sua [crianças] presença constantes nas redes sociais altera a percepção de privacidade, porque elas vão perceber a uma determinada altura que isso lhes tira liberdade, ou seja, que a exposição e a violação da privacidade lhes tiram liberdade e quando precisarem de a assumir na sua vida vão ter menos”, finalizou.
“As crianças e o Mundo – Que caminhos? Que metas?” foi o tema do VI Fórum Abrigo, que trouxe ao Cinema Teatro Joaquim D’Almeida, no Montijo, a ministra Ana Mendes Godinho e a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, além de um conjunto de académicos, investigadores e políticos, para reflexão sobre o futuro dos jovens em risco (ver pág.8).