João Nicolau leva o caixeiro-viajante que canta a Locarno [PT]

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João Nicolau leva o caixeiro-viajante que canta a Locarno publico.pt/2019/08/11/culturaipsilon/noticia/joao-nicolau-leva-caixeiroviajante-canta-locarno-1883031 Jorge Mourinha em Locarno

João Nicolau odeia carros. “Odeio carros, é um suplício filmá-los”, diz enquanto enrola um cigarro. Mas fez um filme que se passa, literalmente, na estrada, dentro de um carro... “Porque o carro e as viagens de auto-estrada, as viagens longas que fazemos sozinhos, são momentos em que nos abandonamos, não temos ninguém para interagir. O carro é como estar na cama a ler, o momento em que estamos abandonados a pensar noutra coisa. E eu queria observar um personagem nesta situação. Um homem numa situação desprovida de artifício.” Essa personagem é o “herói” de Technoboss, terceira longa-metragem de ficção de Nicolau (Lisboa, 1975), que tem hoje estreia mundial na secção competitiva do Festival de Locarno. Luís Rovisco, responsável comercial de uma firma de equipamentos de segurança, é “um tipo que está mortinho pela reforma, que está bem consigo próprio, que se diverte a trabalhar...” Um homem que podia ser um português-modelo, desenrascado, auto-suficiente, boa onda, mas que “é um fim de qualquer coisa,” como explica o realizador. “Mesmo a profissão dele, que formalmente se chama representante comercial, mas que antes chamávamos de caixeiros-viajantes, é algo que já está algo em desuso, porque se enviam catálogos pela net, as coisas estão empresarialmente cada vez mais concentradas em grandes grupos…” Eis, então, o ponto de partida de Technoboss, que pega numa personagem aparentemente banal para a celebrar, sem saudosismos mas com truculência, num filme que é tudo menos banal. Não é exactamente uma surpresa vindo de João Nicolau, cujas

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