CARTAS DA GUERRA_20160426_À Pala de Walsh [pt]

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IndieLisboa 2016: ao ritmo da Liberdade Depois de aquecidas as hostes no dia 24 de Abril com a filmografia “de combate” de Jean-Gabriel Périot, o feriado da Liberdade, após os bonitos festejos até ao Largo do Carmo, teve um simbólico encontro com o IndieLisboa com a exibição de Cartas da Guerra, o filme de Ivo M. Ferreira estreado na última Berlinale baseado nas cartas escritas durante a guerra colonial por António Lobo Antunes para a mulher. Calhou de me sentar ao lado de Manuel Mozos, que, no fim do filme, com os créditos ainda a correr, se exasperou (discretamente) com a luz incandescente dos telemóveis que alguém na fila da frente não conseguiu deixar de ligar… E, depois do admirável preto-e-branco que acabáramos de presenciar, tinha razões para tal irritação.

Jean-Gabriel Périot 2 (vária) A secção Silvestre, este ano com o foco em Jean-Gabriel Périot (já entrevistado pelo À pala de Walsh), prosseguiu, depois do primeiro “tomo” (exibido no sábado, 23), em vésperas do feriado da Liberdade, nem por acaso com documentários, todos eles de curta ou média duração, que, recorrendo ao found footage e a imagens de arquivo, respiram uma dimensão política evidente, como que aquecendo a noite para os festejos do 25 de Abril. Dimensão, essa, ora mais “combativa” ou denunciante e em que a violência, física e psicológica, está sempre perversamente latente (L’Art Délicat de la Matraque, Eût-Elle Été Criminelle…, The Devil, Nijuman No Borei, 21.04.02); ora de pendor mais sociológico, se bem que ainda e sempre “político” – como não reconhecer o político, no que de transformador e criativo ele comporta, num filme como Le Jour a Vaincu La Nuit (“O dia conquistou a noite”), tocante (mas desprovido de artifícios) testemunho de reclusos, homens e mulheres, sobre sonhos aprisionados em quatro paredes de uma cela? “Sonhos”, aqui, que tanto correspondem aos tradicionais desejos de evasão e felicidade (amar alguém, constituir uma família, etc., mas também aqueles que, na sua aparente excentricidade, são, afinal, absolutamente normais, como ser DJ), como, simplesmente, às narrativas e imagens que nos assaltam à noite durante o sono, com o que de belo, estranho ou misterioso sempre comportam, nessa “universalidade

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