IndieLisboa’16: a beleza e a sombra da guerra e da gravidez espalhafactos.com/2016/04/28/indielisboa16-4/
Ricardo RodriguesAbr 28, 2016 Caminhando para a reta final do IndieLisboa 2016, falamos agora do 7.º e 8.º dias de festival, dois dias recheados do melhor cinema independente nacional e internacional. O Espalha-Factos assistiu não só a sessões de curtas como também a Treblinka, o mais recente filme de Sérgio Tréfaut e Olmo e a Gaivota de Petra Costa e Lea Glob. Talvez as maiores surpresas de um festival de cinema como o IndieLisboa estão mesmo guardadas nas secções competitivas de curtas-metragens. A sessão de competição internacional n.º6 é talvez um exemplo disso mesmo: começando com o belíssimo trabalho de Filipe Abranches em Chatear-me-ia Morrer Tão Joveeeeem… e continuando com a comovente obra de Natalie Beder, Des millions de larmes, ainda Velodrool e Nos Champs se destacaram neste conjunto de cinco curtas que, até agora, foi o mais sólido bloco de filmes destas sessões sempre tão especiais.
1/3
Treblinka – 9/10
O mais recente filme de Sérgo Tréfaut em estreia nacional no IndieLisboa, Treblinka é um belíssimo filme de imagens bem cuidadas e assustadoramente belas ao contrastar com a crueza das histórias aterradoras. Há um sentido eminentemente fatal associado a este filme, um jogo de reflexos e fantasmas escondidos que ainda atormentam o Humanismo e que tão bem captado foi por Tréfaut. É uma longa-metragem bastante curta mas que se coloca a si mesma num patamar de excelência graças à sua fantástica cinematografia e arrepiante trabalho de voz off, contando ainda com uma entrega bastante genuína tanto de Isabel Ruth como Kirill Kashlikov. Um jogo de reflexos que os compreende de uma forma quase surreal, num constante jogo de luzes e sombras à medida que os piores momentos vividos no século XX vão sendo contados em jeito documental. Uma viagem em comboios pela Rússia, Polónia e Ucrânia que parte de uma premissa bastante simples: “ Eu sinto que todos os comboios vão dar a Auschwitz, Dachau e Treblinka“, mas que se constrói num turbilhão de emoções e comoções. Há quase também uma mensagem de inevitabilidade nesta obra, o que deixa a audiência aterrada quanto às perspectivas de um futuro pacífico. Há um silêncio no fechar da cortina e no acender das luzes, há um estado de quase hipnose quando Treblinka acaba e um pesar generalizado quanto à raça humana e à loucura a que a mesma se entrega.
2/3
Olmo e a Gaivota – 8/10
Um filme de Petra Costa e Lea Glob, este Olmo e a Gaivota é um peculiar filme sobre a gravidez e o jogo entre a beleza e as sombras durante este período tão significativo na vida de uma mulher. A premissa de partida é bastante interessante. Temos uma atriz de uma companhia de teatro parisiense que se prepara para viajar para os EUA e o Canadá para apresentar “The Seagull”, mas acontece algo que não estava planeado: ela engravida do seu namorado (também ele ator na mesma companhia). O filme segue assim a vida de uma gravidez de risco – a personagem está já na casa dos 30 anos – e vê-se encurralada sobre si mesma durante meses a fio no seu apartamento, enquanto que o seu companheiro sai e volta e volta a sair. O mais interessante nesta película é a forma como a gravidez é tratada. O público está muito habituado a ver no grande ecrã a beleza do que é ter alguém a crescer dentro do corpo de uma mulher, mas este filme de Costa e Glob mostra-nos antes as inseguranças, as mudanças de humor, as dúvidas e, acima de tudo, a falta de igualdade de género no que toca ao meio profissional e até ao meio familiar. Olivia Corsini, atriz principal, carrega todo este filme às costas e, juntado a uma mais que decente realização e trabalho de atores secundários (como Serge Nicolaï), são estas pessoas que fazem este Olmo e a Gaivota. A entrega de Corsini foi bastante sólida, uma grande performance que transmite tudo o que o argumento tentou também ele transmitir.
3/3